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INCISO XXVIII - DIREITOS AUTORAIS SOBRE OBRAS COMO FUNCIONAM OS DIREITOS AUTORAIS EM OBRAS

COLETIVAS COLETIVAS NA PRÁTICA?


O artigo 5º, em seu inciso XXVIII, afirma que: Essa pergunta pode ser respondida por meio da consolidação desse inciso
que é feita mediante a Lei de Direitos Autorais (9.610/98). Ela determina
“são assegurados, nos termos da lei:
que para que a proteção das participações individuais ocorra, o nome do
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à colaborador deve ser mencionado na obra sempre que este participe dela.
reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades Além disso, o inciso em questão busca facilitar a verificação dos lucros
desportivas; recebidos pela possível utilização ilegal de uma obra em que o indivíduo
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que faça parte. 
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às Além disso, quando falamos sobre o direito à imagem e voz, há também
respectivas representações sindicais e associativas.” algumas questões que precisam ser consideradas, como a necessidade de
Como citado anteriormente, este inciso garante a proteção ao direito autoral obtenção de autorização para utilizar fotos ou áudios. Esse requisito é
e o uso não autorizado de imagem e voz em participações individuais criado a partir do Código Civil nos artigos 11 e 20, o qual estabelece que a
em obras coletivas, além de possibilitar, por meios constitucionais, que utilização de imagens e a voz de pessoas específicas tem proteção
esse participante fiscalize os ganhos com a obra em questão. assegurada, ainda que em obra coletiva.

Uma obra coletiva é um tipo de produção que envolva mais de um sujeito


em sua criação. Um bom exemplo seria uma peça de teatro. INCISO XXIX – DIREITO A PROPRIEDADE INTELECTUAL
Dessa maneira, cada indivíduo que participa desse processo de criação deve O artigo 5º, em seu inciso XXIX, afirma que:
ter a garantia de proteção aos seus direitos autorais e de imagem ou voz.
“a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário
Para mais, o inciso em questão determina também que os sujeitos que
para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à
participam de produções coletivas têm o direito de fiscalizar a utilização de
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
sua produção, imagem ou voz.
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
DIREITO DE ARENA: Direito a participação financeira em obra coletiva tecnológico e econômico do País;”
que dela participam, abrange inclusive a atividade desportiva. Assim, as
A propriedade industrial é pertencente a um tópico maior do
pessoas que participam da realização desse tipo de obra, tem o direito
conhecimento jurídico chamado de propriedade intelectual, que, por sua
constitucional de receber remuneração por essa participação na sua exata
vez, é o direito que escritores, artistas, cientistas – entre outros – possuem
medida e proporção.
de obter privilégios por sua autoria durante um determinado período de
A IMPORTÂNCIA DO INCISO XXVIII tempo. Entretanto, a subdivisão em questão tem seu foco de interesse
Dentre as diversas contribuições que o inciso XXVIII dispõe, estão: voltado para a atividade empresarial e dedica-se à proteção de invenções
que devem necessariamente respeitar as seguintes características: serem
- O controle que o indivíduo passa a ter sobre sua própria imagem e voz; novas, não serem óbvias ou evidentes para o estágio atual de
- O reconhecimento de pessoas que concedem sua participação em alguma desenvolvimento industrial do país e, por fim, possuírem alguma
produção. aplicação na área industrial. 
Caso a criação em questão se enquadre nas características descritas, o seu também a produzam. Assim, o proprietário industrial garante o
proprietário será assegurado de privilégios temporários sobre o produto, recebimento de uma remuneração, denominada  “royalties”.
tais como, a exclusividade de fabricação, comercialização, transferência Nesse cenário, vale frisar uma diferenciação importante entre a patente e
da posse, importação e uso. Vale ressaltar que esses privilégios não são o registro: uma patente é o título que formaliza a proteção da invenção de e
vitalícios, ou seja, ao término do prazo estabelecido, a invenção se tornará do modelo de utilidade. Já o registro é o título que formaliza a proteção do
de domínio público para que possa ser livremente explorada, garantindo, desenho industrial e da marca.
dessa maneira, o desenvolvimento industrial, tecnológico e econômico do
Brasil, como descrito no inciso XXIX do artigo 5° da Constituição Federal. Há diversas ações nesse sentido: Não há uma cópia idêntica, mas sua
identificação se assemelha a ouro produto mundialmente conhecido. É o
Nesse contexto, cabe compreender também o que é domínio público. Esse caso do João Andante.
conceito, amplamente utilizado no assunto que estamos tratando, é
uma condição jurídica em que uma criação não possui o elemento de INCISO XXX – DIREITO A HERANÇA
propriedade. Assim sendo, esta não dispõe de restrições de uso a qualquer O presente inciso, do artigo 5º, assegura que:
um que queira utilizá-la. 
“Art. 5º, XXX, CF – é garantido o direito de herança;”
MAS QUAL A IMPORTÂNCIA DO DIREITO À PROPRIEDADE
INDUSTRIAL? O conceito presente nesse trecho da Constituição é consequência direta
do direito de propriedade, descrito no inciso XXII deste mesmo artigo, e
O direito à propriedade industrial é essencial para a difusão tecnológica e garante que, em caso de falecimento, os bens deixados pelo sujeito que veio
para o desenvolvimento econômico, afinal, esse conjunto de princípios a falecer sejam transmitidos aos seus respectivos herdeiros, sejam
reguladores – das proteções às criações intelectuais – garante a exploração eles necessários – filhos, descendentes, ascendentes ou cônjuge –
exclusiva por parte de seus criadores, a fim de proteger e incentivar esse ou facultativos – aqueles nomeados pelo falecido em testamento.
desenvolvimento tecnológico. Interessante, não é mesmo?
Para que possamos prosseguir, é necessário elucidar o significado de alguns
Além disso, por ser um país de intensa atividade empresarial – segundo o conceitos que serão fundamentais para a compreensão do texto. Vamos lá?
“Global Entrepreneurship Monitor” -, o Brasil foi um dos primeiros países a
ter uma lei de patentes e um dos únicos a conceder prazos de duração da  Ascendente: esse conceito refere-se aos antecessores e antepassados
patente de acordo com a qualidade da invenção. de alguém, ou seja, de quem se descende. A título de exemplo,
podemos citar avós e pais;
AFINAL, COMO FUNCIONA O DIREITO À PROPRIEDADE
INDUSTRIAL NA PRÁTICA?  Descendente: diz respeito aos sucessores de alguém, isto é,
indivíduos que descendem de nós. Exemplos de descendentes
Uma patente formaliza a proteção da invenção de e do modelo de utilidade. são filhos e netos;
Já o registro formaliza a proteção do desenho industrial e da marca.
 De cujus: palavra em latim, comumente utilizada no meio jurídico,
O inciso em questão não entra em detalhes sobre a propriedade industrial. para referir-se ao falecido, cujos bens estão registrados em um
Sendo assim, foi criada uma legislação específica que regulamenta essa inventário.
questão de maneira singular, por meio da Lei n° 9.279/1996 – LPI. A
finalidade dessa regulamentação é a de garantir a exclusividade da Vale ressaltar que, apesar do direito à herança abranger testamentários, ele é
exploração da propriedade industrial, possibilitando ao inventor produzir destinado preferencialmente aos sucessores do de cujus. Isso porque,
a invenção sozinho ou licenciar o uso ao permitir que outras empresas mesmo que seja papel do Código Civil determinar como se dá a sucessão e
o exercício do direito de herança, tem-se que nenhuma lei civil poderá
deixar de legitimar a transmissão de bens – se existentes – aos herdeiros testamentários. “Art. 1.784, Código Civil – Aberta a sucessão, a herança
diretos. É nesse sentido que o Código Civil determina, por intermédio do transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
artigo 1.857 no parágrafo 1°, que, necessariamente, pelo menos 1/2 do Assim sendo, o artigo 1.784 estabelece que, automaticamente após a morte
patrimônio em questão (a “legítima”) deve ser destinado a herdeiros do titular do patrimônio, ocorre a transmissão dos bens aos seus herdeiros
necessários. Assim sendo, denomina-se essa parcela da herança de parte legítimos e testamentários, se houverem. 
legítima.
Embora seja automática, tal transmissão, porém, não se dá de modo
E se o falecido não tiver herdeiros? individualizado – o que ocorrerá apenas no momento da partilha dos
Em caso de o falecido não ter herdeiros necessários ou facultativos, a sua bens – mas sim de modo universal, por meio do que chamamos de espólio,
propriedade será transmitida ao poder público que irá direcionar os isto é, a figura jurídica utilizada para operacionalização do patrimônio,
respectivos bens à comunidade em que estes estão situados, conforme enquanto universalidade de bens. Por meio do espólio, que é a
estabelecido pelo artigo 1.844 do Código Civil. É importante frisar que essa representação da totalidade dos patrimônios disponíveis para a transmissão,
não é a regra geral, a atitude em questão será tomada apenas na ausência de todos aqueles que têm direito a herança do de cujus, juntamente, passam a
qualquer tipo de herdeiro, ou seja, em casos específicos. ser titulares dos direitos do falecido. Esses bens, em um momento posterior,
serão devidamente divididos entre as partes que incluem os herdeiros
A RELEVÂNCIA DO DIREITO DE HERANÇA
legítimos e, se for o caso, testamentários.  
A garantia descrita nesse capítulo da série Artigo 5º se relaciona com o
INCISO XXXI – SUCESSÃO DE BENS DE ESTRANGEIROS
princípio de autonomia da vontade privada, sendo concordante com o
inciso XXII, referente a propriedade, dos direitos fundamentais. Entretanto, O presente inciso dispõe que:
como pode-se analisar a partir do que foi discutido até então, essa “Art. 5º, XXXI, CF  – a sucessão de bens de estrangeiros situados no País
autonomia é restringida devido ao limite legal sobre o qual o testador pode será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
dispor de direitos – tópico mencionado anteriormente. Pode-se justificar brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do ‘de
essa limitação, a partir da preservação da noção histórica de família como cujus’”
seio da sociedade, como local em que a pessoa nasce, vive e mantém
relações que devem ser preservadas mesmo depois do falecimento.  O trecho da constituição citado acima assegura que a sucessão de bens que
estão no Brasil e que pertencem a estrangeiros será regulada pela lei
Para mais, cria-se uma noção de perpetuidade do patrimônio construído brasileira. Essa condição pode ser revogada apenas nos casos em que a
pelo de cujus ao estabelecer que no mínimo de 50% deste será destinado aos legislação do falecido seja mais vantajosa ao cônjuge ou filhos brasileiros. 
seus ascendentes e descendentes. Nesse sentido, é interessante analisar que
o direito de herança também tem papel importante na circulação de bens, Nesse sentido, a intenção do constituinte que decretou tal inciso
visto que, ao falecer, o de cujus  pode transferir a posse de suas propriedades era favorecer os herdeiros, à medida que, não só o direito de
a herdeiros necessários, testamentários ou, em casos excepcionais, à propriedade fosse garantido, mas também, a dignidade da pessoa
sociedade.   humana. Isso porque algumas legislações estrangeiras são mais rígidas e
apresentam empecilhos para o recebimento de heranças em alguns casos.
O INCISO XXX NA PRÁTICA Um exemplo disso está em situações que o filho do falecido é de outro
O artigo 1.784 estabelece que, automaticamente após a morte do titular do casamento: na legislação brasileira não há restrições para que este receba
patrimônio, ocorre a transmissão dos bens aos seus herdeiros legítimos e sua parte da herança, entretanto, em leis mais rígidas como a Sharia –
conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão – não seria permitido que “Art. 227, § 6°, CF  – É dever da família, da sociedade e do Estado
este filho recebesse sua parte da herança.  assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
Nesse contexto, o inciso XXXI do artigo 5° garante que a legislação
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
reguladora do direito sucessório deste filho seja a brasileira, evitando que
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
cenários internos de diferentes países afetem direitos fundamentais
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
garantidos pela Constituição Brasileira.
opressão.”
O INCISO XXXI NA PRÁTICA
Nesse sentido, assegurar que os bens sigam o regime brasileiro de sucessões
O presente inciso, na prática, serve como garantia à preservação do direito e não outro possível regime que, em princípio, poderia ser utilizado, ratifica
de herança. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF) possui que os herdeiros sejam tratados igualmente, sem quaisquer distinções. 
jurisprudência, de modo a estabelecer que casais homoafetivos tenham esse
Por conseguinte, dar garantias acerca do direito à propriedade, de maneira a
direito assegurado normalmente. 
garantir uma sucessão isonômica da herança de falecido estrangeiro
Isso porque, segundo a jurisprudência do STF, o cônjuge é considerado um também é assegurar a dignidade humana na medida em que se detém
herdeiro necessário e, assim, aplica-se a lei brasileira em detrimento de leis preconceitos dos mais diversos. 
em que o casamento homoafetivo não seja reconhecido ou que não incluam
Para além disso, tem-se a proteção à família e à igualdade entre os irmãos: o
essas formas de família em sua legislação reguladora do direito sucessório.
respectivo inciso busca aplicar a lei brasileira por esta ser favorável às
Além disso, há também jurisprudência no contexto de filhos adotivos. diferentes composições familiares e pelo Brasil possuir uma constituição
Segundo o STF, estes também são considerados herdeiros necessários e, que é considerada uma Constituição Cidadã, a qual traz diversas garantias.
dessa maneira, têm direito de herança assegurado. Assim sendo, no contexto Logo, se utilizaria a lei mais favorável ao herdeiro no sentido de que seria a
de sucessão de bens de estrangeiros, a legislação será aplicada em vantagem legislação – sob à qual estão situados os bens ou à qual estaria submetido o
do herdeiro em questão, seja ele filho adotivo ou biológico. falecido estrangeiro – mais favorável ao herdeiro, no sentido de promover
Todavia, vale ressaltar que, caso o falecido estrangeiro não possua garantias e igualdade.
herdeiros, o processo de sucessão se inicia submetido à lei de domicílio do
falecido, pois, neste caso, perde-se o caráter de aplicação da lei mais
favorável ao herdeiro e, por conseguinte, não há mais obrigação de
aplicação da lei brasileira. 
A IMPORTÂNCIA DESTA GARANTIA
Segundo o STF, filhos adotivos são considerados herdeiros necessários e,
dessa maneira, têm direito de herança assegurado. O direito de herança deve
ser sempre observado dentro de um conjunto maior de direitos, sejam eles a
igualdade entre os filhos – prevista no art. 227, § 6°, da Constituição
Federal -, a dignidade da pessoa humana – com o direito de família e
sua moderna concepção ligada à socioafetividade – e, sobretudo, com o
direito de propriedade e sua função social:

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