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UMA BREVE HISTÓRIA DA PROPRIEDADE INTELECTUAL ATÉ O TRIPS

Diego Gomes Ferreira Leite1

RESUMO
O presente trabalho propôs-se a traçar um breve resumo da evolução histórica das proteções
internacionais da propriedade intelectual até o advento da OMC e do Acordo TRIPS.
Para tanto perpassou-se pelos principais diplomas e tratados de proteção da propriedade
intelectual do mundo. Após, Por fim, fez-se uma análise de cunho um tanto crítico dos
sistemas de proteção na atualidade.

Palavras-chave: Propriedade Intelectual, evolução histórica, Acordo de Berna, Acordo de


Paris, TRIPS, OMPI, OMC.

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Bacharel em Direito pela UFRJ, membro da OAB/RJ, especialista em Direito Público pela UVA e Auditor
Interno no BNDES.
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1) INTRODUÇÃO
Apesar de a propriedade intelectual ser tão antiga quanto a própria humanidade, seus
sistemas de proteção internacional são deveras recentes. Por ser um elemento deveras
relacionado com inúmeros outros ramos do conhecimento, com reverberação no campo das
ciências sociais, econômicas, da ética, da predominância geopolítica, a dinâmica histórica da
propriedade intelectual acompanha as fases da evolução humana, e por isso é rica e dinâmica.
Sua história acompanha o próprio caminhar do pensamento humano e de sua evolução social,
transmutando-se na mesma medida das transformações sociais e dos direitos.
Nesse contexto, importante lição é aprendida com o prof. Cláudio Lins de Vasconcelos:

“(...) o ordenamento jurídico interno da maioria dos Estados há muito oferece certo grau de
proteção aos direitos de PI, embora a magnitude dessa proteção tenha sofrido importantes
variações ao longo da história, a depender, entre outros aspectos, do estágio de
industrialização de cada país” (VASCONCELOS, 2010, pág. 13)

Na doutrina, é possível acharmos a menção de que a semente da proteção a propriedade


intelectual reside no Iluminismo Europeu, em que pese tal fato ser mais ou menos consenso
na doutrina, suas raízes remetem-nos a um momento ainda mais remoto. Assim, para alguns
autores, as origens da apropriação privada do conhecimento remontam ao Código de
Hamurábi (c.1750 a.c.). Em seu bojo, o códice histórico conferia ao artesão-mestre o direito
de impedir que um artesão-aprendiz, a quem tivera passado seu conhecimento ou técnica,
retornasse à família sem sua devida permissão. Se nada houvesse sido transmitido, tal direito
inexistiria. É possível notar, portanto, o gérmen de uma proteção ao direito do autor.
(VASCONCELOS, 2010, pág 22)
E Contudo, a pedra de toque histórica da propriedade intelectual foi a invenção da
prensa de tipos móveis, de Johannes Gutenberg (em 1440). Esse fabuloso invento permitiu
que obras literárias pudessem ser produzidas em massa, o que acirrou sobremaneira os
debates sobre os direitos dos autores e dos reprodutores. Não por outra razão, parece ser
consenso na doutrina especializada, que o surgimento da imprensa fora o fermento necessário
ao surgimento do direito autoral.
Não obstante, a primeira norma protetiva à propriedade intelectual de que se tem
conhecimento é a famigerada Lei de Patentes de Veneza, de 1474. Tal lei, aprovada pelo
senado veneziano permitia que os duques concedessem aos inventores de qualquer coisa o
direito exclusivo de produzir sua invenção durante um certo período de tempo (BERMUDEZ
et. al., 2000, p. 52). Outras regulamentações semelhantes foram surgindo ao redor do mundo
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conhecido na época, no entanto a proteção à propriedade intelectual, nos moldes atuais –


definida como monopólio concedido pelo Estado a um inventor mediante o atendimento de
certos requisitos–, teve início efetivamente na Inglaterra, durante o período da Revolução
Industrial (entre os anos de 1740 e 1830).
A doutrina cita a rainha inglesa Maria Tudor (1516-1558) como a responsável pelo
surgimento do sistema de Copyright, pois em um acordo firmado entre a realeza britânica e
uma associação de editores, ela criou a Stationers´Company. Esta se tornou uma “super-
associação de editores formada, por ordem real, a partir da fusão das duas principais
associações de editores da Inglaterra: a Brotherhood of Manuscript Producers e a
Brotherhood of the Craft of Writers of Text-Letters” (VASCONCELOS, pág31, 2010).

2) O DIREITO INTERNACIONAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL E SEUS


PRINCIPAIS TRATADOS
Segundo Peter Drahos (DRAHOS, 1999, pág.3), a história do Direito Internacional da
Propriedade Intelectual é dividida em três períodos: i) Período Territorial; ii) Período
Internacional, e iii) Período Global.
O Período Territorial é entendido como sendo a fase em que houve acordos bilaterais
que antecederam as convenções de Paris e Berna. Tal período fora fortemente marcado por
negociações pontuais e específicas de parâmetros protetivos, caso a caso, prevalecendo
fortemente o princípio da territorialidade em um primeiro momento, e posteriormente o
princípio do tratamento nacional.
O Período Internacional ocorre quando surge, de fato, um sistema de proteção de caráter
internacional, que é exatamente entre as convenções de Paris e de Berna. Como principal
característica desse período, houve o estabelecimento de um foro de cooperação multilateral
entre países para a promoção dos direitos de PI internacionalmente, contudo isso não
significou o abandono dos princípios da territorialidade e do tratamento nacional e tampouco
reduziu o grau de autonomia dos Estados quanto às formas de implementação desses direitos
(VASCONCELOS, 2010, pág.43).
Em 1883, alguns dos países que possuíam no bojo de seu ordenamento interno algum
tipo de proteção à propriedade intelectual (entre eles o Brasil) reuniram-se para firmar o
primeiro instrumento internacional regulador da propriedade intelectual: a Convenção da
União de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP).
Com a promulgação da CUP, deu-se a criação de uma propriedade industrial, que seria
uma subespécie da propriedade intelectual, resguardada internacionalmente. Todavia, ainda se
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carecia de uma proteção a nível global aos direitos do autor, que seria uma outra sorte de
propriedade intelectiva.
Destarte, em 1886, liderados pelos países europeus, diversas nações se reuniram em
Berna, Suíça, para proporem uma regulamentação mínima, não mais pontual, mas
internacional, para a proteção das obras literárias, artísticas e científicas e de seus autores.
Nascia, assim, a primeira norma universal sobre o assunto: a Convenção de Berna para a
Proteção das Obras Literárias e Artísticas. Tal Convenção tornou-se o embrião de todas as
legislações nacionais a partir daí existentes.
Foi durante esse período que ocorrera a unificação da gestão das convenções de Paris e
de Berna, que fora concentrada em uma única organização: o Bureaux Internationaux Réunis
pour la Protection de la Propriété Intellectuelle (BIRPI). Tal organização, mais tarde, fora
substituída pela OMPI (WIPO).
Em 14 de Julho de 1967, é firmada a Convenção de Estocolmo, a qual transforma o
BIRPI na Organização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI, que posteriormente, em
1974, vem a tornar-se um Organismo Especializado da ONU. Conforme leciona Maristela
Basso (BASSO, 2002, p. 17), a OMPI vem para unificar os conceitos, abolindo a tradicional
divisão existente no modelo tradicional que separava os direitos dos autores e dos inventores
em duas categorias, quais sejam: direitos do autor (e direitos conexos) e direitos da
propriedade industrial. Com sua criação, os Estados concedem à OMPI a administração dos
acordos multilaterais sobre a propriedade intelectual, incluindo as Convenções de Paris e de
Berna. Tais convenções deixam, assim, de ser administradas e regulamentadas pelos BIRPI e
passam a ser geridas por aquela organização, e também dos tratados internacionais de
propriedade intelectual.
Seu processo decisório se baseia no princípio da igualdade de votos entre os Estados-
membros. Em sua estrutura inexiste órgão ou mecanismo com competência para verificar o
cumprimento das normas que se encontram sob a sua guarda. Ainda, nela não há um sistema
de sanção oponível aos Estados inadimplentes. A OMPI continua se ocupando da
harmonização legislativa do direito de propriedade intelectual e busca sempre estimular as
atividades criativas. A OMPI exercia o papel de principal centro internacional de promoção
dos direitos de propriedade intelectual (papel esse que foi reforçado pelo sistema do TRIPS).
O chamado período global inicia-se com a celebração do acordo TRIPS (Trade-Related
Aspects of Intellectual Property Rights) , que será tratado mais detidamente a seguir.
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3) O ACORDO TRIPS
Em julho de 1944, os governos de 45 países aliados reuniram-se na cidade norte-
americana de Bretton Woods, no estado de New Hampshire. O objetivo de tal concerto de
nações era definir os parâmetros que iriam reger a economia mundial após a Segunda Guerra
Mundial. O sistema financeiro que surgira do que ficou conhecido como o “Acordo de Bretton
Woods” fora amplamente favorável aos Estados Unidos, que dali em diante passou a ter o
controle de fato de boa parte da economia mundial, bem como de todo o seu sistema de
distribuição de capitais.
O acordo ainda previa a não menos importante criação de instituições financeiras
mundiais que se encarregariam de dar o sustento necessário ao modelo que estava sendo
criado, que seriam: "Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento", mais tarde
renomeado para Banco Mundial, que funciona até hoje e se destina a fornecer capitais para
políticas e projetos de desenvolvimento no mundo todo. Além disso, fora criado o Fundo
Monetário Internacional – FMI, responsável pela valorização da moeda; e a Organização
Internacional do Comércio – OIC, incumbida de regulamentar o comércio a nível mundial
(IES, 2003, p. 22). Os dois primeiros organismos entram em funcionamento, no entanto, a
terceira perna, a OIC, não fora aprovada pelo congresso norte-americano, sub a alegação, por
parte de seus congressistas, de que os Estados Unidos poderiam se tornar muito dependentes
daquela organização.
Todavia, a ideia de se criar um organismo internacional que regulamentasse o comércio
não fora deixada de lado. Assim, em 1947 os países mais poderosos do comércio
internacional decidem pela criação do General Agreement on Tariffs and Trade – GATT, um
acordo que reuniu normas tarifárias, instituído com o desiderato de eliminar barreiras
comerciais e abolir as práticas protecionistas. Tal acordo teve por objetivo secundário
regulamentar, ainda que de forma provisória, a criação da OIC, de modo a estabilizar as
relações comerciais mundiais.
O GATT introduzira o sistema de rodadas (“rounds” em inglês), reuniões periódicas
para discutir assuntos que fossem trazidos a baila, sendo que, ao final, um novo acordo seria
firmado. Dentre todas elas, talvez a mais importante para a propriedade intelectual tenha sido
a Rodada do Uruguai, lançada em 1986 em Punta del Este. Nela, os países desenvolvidos
buscaram, desde o início, uma maior proteção aos direitos de propriedade intelectual, o que
terminou gerando uma longa peleja entre aqueles e os países em desenvolvimento.
Após anos de intensa discussão, em Dezembro de 1991 é apresentado pelos membros do
GATT um pré-projeto de regulamentação da propriedade intelectual no âmbito de tal acordo,
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o qual, após alguns ajustes, é definitivamente aprovado em Abril de 1994, durante o último
encontro da Rodada Uruguai, também conhecida como GATT 94. Tal instrumento, além de
aprovar tal projeto, criou a Organização Mundial do Comércio – OMC, que veio a incorporar
as normas do GATT, incluindo aquela sobre proteção da propriedade intelectiva.
Assim, em abril de 1994, após tantas discussões e estudos, encerrou-se a Rodada
Uruguai no âmbito do Acordo Geral de Tarifas e Comércio – GATT. As resoluções aprovadas
entraram em vigor a partir de janeiro de 1995, e levaram onze anos para serem integralmente
implementadas (BERMUDEZ, 2000, p. 56).
O instrumento regulatório da proteção à propriedade intelectiva recebe então o nome de
Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights - TRIPS, o qual passa a ser o principal
acordo comercial do mundo, tomando o lugar de outros importantes instrumentos como as
Convenções de Paris e de Berna, reguladas pela OMPI.

4) A OMC E O TRIPS
O TRIPS não veio para mitigar ou mesmo acabar com as Convenções de Paris e de
Berna e tampouco com a OMPI e suas normatizações, na verdade, sua ideia-força é
complementá-las. Em que pese o debate doutrinário que surgira a época, a respeito do papel
da OMPI (WIPO) e da OMC (WTO) no sistema de proteção internacional a PI, “a
comunidade internacional parecer ter concluído que as complementariedades entre os
subsistemas da OMPI e OMC eram relevantes o suficiente para justificar a sua co-
existência” (VASCONCELOS, 2010, pg 72). Tanto é assim que, em Dezembro de 1995, fora
celebrado, em Genebra (Suíça) o chamado “Acordo Entre a OMPI e a OMC” com o objetivo
de constituir uma relação de apoio recíproco entre as instituições. Desse modo, pode-se dizer
que a OMPI atua como um fórum para debates sobre novas regras globais, enquanto a OMC
passou a ter um papel de cunho mais coativo. Em síntese, a OMC tem por função primordial a
gestão do TRIPS, atualmente o acordo mais importante sobre propriedade intelectual do
mundo.
Segundo enunciado de seu próprio texto, as matérias abrangidas pelo TRIPS
compreendem: direito marcário, direitos do autor e conexos, indicações geográficas, desenhos
industriais, patentes, topografias de circuitos integrados, proteção de informação confidencial
e controle de práticas de concorrência desleal em contratos de licença. Suas obrigações, em
verdade, representam uma cláusula mínima 2, noutros termos, poderão seus membros prover,

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Nas palavras de Cláudio Lins de Vasconcelos “acordo de parâmetros mínimos” (VASCONCELOS, 2010, pg
74).
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em sua legislação nacional, proteção maior do que a exigida em tal acordo, contudo, nunca
inferior.
Ademais, suas disposições devem ser incorporadas na legislação de cada Estado
membro. A rigor, o TRIPS produz duas sortes de efeitos para seus signatários: externos e
internos. Os efeitos internos referem-se a entrada em vigor no direito nacional de cada
membro e a sua plena eficácia. Já efeitos externos referem-se às obrigações assumidas junto a
OMC e aos seus membros.
O TRIPS trouxe, em seu bojo, oito princípios fundamentais a serem seguidos por seus
membros, quais sejam: compromisso único (single undertaking); tratamento nacional; nação
mais favorecida; esgotamento internacional dos direitos; transparência; cooperação mútua
internacional; interação entre os tratados internacionais sobre o tema; e interpretação
evolutiva. Além disso, ele trouxe medidas de aplicação obrigatória (enforcement), que devem
ser previamente aceitas por quaisquer de seus signatários. Outra inovação trazida pelo TRIPS
foi a tentativa de promover uma padronização dos dispositivos legais que tratam do tema da
propriedade intelectual entre seus signatários.
Outra novidade importante é o Sistema de Solução de Controvérsias instaurado pelo
TRIPS. Já no GATT de 1947 existia um sistema de soluções de controvérsias, detalhado nos
incisos XXII e XXIII desse diploma. Contudo, o sistema atual do TRIPS foi concebido com a
ideia-força de conferir maior segurança e previsibilidade às novas disciplinas adotadas na
Rodada Uruguai. Esse novo sistema veio precisar com detalhes as regras e procedimentos que
deverão ser aplicados para solucionar as divergências que surjam entre os Membros, com
etapas e prazos pré-definidos. Esse sistema, também, inverteu a regra do consenso, necessária
na época do GATT para a instalação dos Grupos Especiais e para a adoção das
recomendações. Desse modo a constituição de um Grupo Especial só poderá ser obstada se
houver consenso de todos os membros, inclusive o demandante.
A maneira autônoma de atuação, a adoção da sistemática das recomendações, bem
como, a frequente utilização do sistema pelos membros, contribuíram para conferir ao
mecanismo seu caráter jurisdicional atual. A consistência e tecnicidade das decisões
prolatadas permitiram que o sistema se consolidasse como uma das mais efetivas jurisdições
internacionais existentes.
Um exemplo emblemático de julgado desse sistema é o caso “Embraer-Bombardier”. A
disputa entre Embraer e Bombardier iniciou-se em 1996, quando a empresa canadense
questionara junto à OMC sobre a licitude dos subsídios concedidos à Embraer. Em resposta, o
Brasil iniciou disputa contra o Canadá em razão dos subsídios concedidos pela Província de
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Quebec à Bombardier. O Brasil, assim, terminou por equilibrar a disputa, uma vez que obteve
autorização para retaliar o Canadá em montante semelhante àquele que havia sido obtido pelo
governo canadense contra o Brasil. Isso levou ambos os países à mesa de negociação, o que
resultou, em 2007, na revisão das regras de crédito de exportação de aeronaves no âmbito da
OCDE3.

5) CONCLUSÃO
A OMPI é, desde 1974, uma agência especializada da ONU, mas foi criada em 1967
com o intuito de promover a proteção dos direitos de propriedade intelectual a nível global,
por meio da colaboração entre estados e entidades internacionais. Além disso, ela busca
garantir a eficiência administrativa das Convenções de Paris e Berna.
A OMC foi criada em 1994, durante a última fase da Rodada do Uruguai do GATT, o
que ocorrera na cidade de Marrakech. Essa instituição tem por diretriz primordial a proteção e
a administração do Acordo TRIPS. Sob a égide desse Acordo, ocorrera um considerável
incremento a inovação tecnológica e a propagação da tecnologia na busca contínua pelo
desenvolvimento global.
De fato, uma eficiente regulamentação da proteção à propriedade intelectual sempre foi
a pedra de toque da busca do sonhado desenvolvimento econômico, eis que sua ausência
tornaria inviável o incremento tecnológico.
Ao contrário do que ocorre no microssistema da OMC, a OMPI se baseia no princípio
da igualdade de votos entre os Estados-membros. Nesta, inexistem órgão ou mecanismo com
competência para verificar o cumprimento das normas que se encontram sob a sua guarda.
Ademais, não há um sistema de sanção oponível aos Estados que descumprirem seus acordos.
Assim, a OMPI continua tendo por foco a busca da adequação legislativa do direito de
propriedade intelectual. A missão da OMPI é “liderar o desenvolvimento de um sistema
internacional de PI balanceado e eficiente, que possibilite a inovação e a criatividade em
benefício de todos4”. Contudo, com a introdução da OMC e do TRIPS, em meados dos anos
1990, a posição da OMPI enquanto uma proeminente agência focada em propriedade
intelectual começou a ruir. Os países desenvolvidos, que sempre buscaram expandir a
proteção da propriedade intelectual a um nível global, viram a OMPI imersa em preocupações
dos países em desenvolvimento, o que acarretou a procura destes por um novo palco para
buscar uma expansão dessa proteção. Ainda que a adoção do TRIPS não tenha sido imune a

3
Disponível em http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_ecocom/InfoDisputas-Brasil-OMC.pdf.
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Traduzido pelo autor com base em: “www.wipo.int/about-wipo/en/.
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críticas, seu surgimento terminou por deixar a OMPI buscando seu lugar nesse cenário
multilateral de proteção a propriedade intelectual
Destarte, muito embora o Acordo TRIPS seja severamente criticado por boa parte da
doutrina, ele parece ser um instrumento uniformizador e dialeticamente justo, na medida em
que seus princípios e processos buscam uma aplicação de maneira isonômica, e possuindo
mecanismos que possibilitam a evolução do sistema de uso da força-econômica (power-
based) para o sistema de regras coercitivas (rules-based).
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REFERÊNCIAS

BASSO, Maristela. Os Fundamentos Atuais do Direito Internacional da Propriedade


Intelectual. Brasília: Revista CEJ, n. 21, abr./jun. 2003.

DAVID e HALBERT, Matthew David & Debora Halbert. Owning the world of ideas.
Londres: ed. Sage, 2015.

VASCONCELOS, Cláudio Lins de. Mídia e Propriedade Intelectual- A crônica de um


modelo em transformação. Rio de Janeiro: ed. Lumen Iuris, 2010.

DRAHOS, Peter. The univesality of intelectual property rights: Origins and Development.
Genebra: WIPO, 1999
(http://www.wipo.int/edocs/mdocs/tk/en/wipo_unhchr_ip_pnl_98/
wipo_unhchr_ip_pnl_98_1.pdf)

FURTADO, Lucas Rocha. Sistema de Propriedade Industrial no Direito Brasileiro. Brasília:


Brasília Jurídica, 1996.

BERMUDEZ, Jorge Antonio Zepeda [et al.]. O acordo TRIPS da OMC e a produção
patentária no Brasil: mudanças recentes e implicações para a produção local e o acesso da
população aos medicamentos. Rio de Janeiro: Fiocruz/ENSP, 2000.

MOYSE, Pierre-Emmanuel. La nature du droit d’auteur: droit de propriété ou monopole?


Revue de Droit de McGill / McGill Law Journal, v.43, p. 507-564, 1998.

IES – Instituto de Estudos Socioambientais. Acordo TRIPS: acordo sobre aspectos dos
direitos de propriedade intelectual. Brasília: INESC, 2003. Disponível em:
<http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_ecocom/InfoDisputas-Brasil-OMC.pdf>

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