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LAEI

Laboratório Aberto de Experimentação Interdisciplinar

Propriedade Intelectual, Direito de Autor e Direito Conexos:


Uma introdução

2018-2019 - 2º Semestre

António Machuco
O Statute of Anne (1710) foi a primeira lei de copyright.
http://www.copyrighthistory.org/cam/tools/request/showRepresentati
on?id=representation_uk_1710&pagenumber=1_1&show=all
É uma «lei destinada a encorajar a educação encouragement of
learning, ao dar o direito das cópias dos livros impressos aos
autores e editores dessas cópias (....), encorajando os homens
educados a compor e escrever livros úteis (...). O autor de qualquer
livro já impresso, ou o livreiro, tem o direito exclusivo de imprimir
esse livro pelo prazo de 21 anos. O autor de um livro ainda não
impresso, ou ainda não composto tem a liberdade de imprimir e
reimprimir esse livro pelo prazo de 14 anos.»

Fundamentos da lei:
➢Difusão do saber
➢Crítica aos monopólios

A lei respeita apenas a reprodução mecânica de obras


Donaldson vs Becket (1774)

▪ Copyright é um mero privilégio, não um direito natural

▪ É um monopólio temporário
Estados Unidos

O Congresso terá o poder (…) de promover o progresso das ciências e das


artes ao assegurar por tempos limitados a autores e inventores o direito
exclusivo dos respectivos textos e descobertas ...» (art. 1, secção 8).
O Código de 1927

o prazo temporal de duração dos privilégios “tem impedido o reconhecimento da


propriedade intelectua” (itálico no original). Uso, então ainda relativamente raro,
da expressão ‘propriedade intelectual”,

A propriedade literária deve “ser colocada nas mesmas condições jurídicas da


propriedade material”.

o verdadeiro princípio filosoficamente correcto e justamente remuneratório dos


autores “é o ‘princípio da perpetuidade” transmissível aos herdeiros, tal como ele ficou
estabelecido no Art. 15.0 §1..
O Código de 1966

Procura-se se “a mais equilibrada harmonização dos vários interesses em jogo neste


fundamental sector da vida nacional”

Abandona-se o princípio de perpetuidade, estabelecendo-se uma protecção apenas


temporária, com a duração de 50 anos post mortem (Art. 25.0), acompanhada por
um regime de transição para as obras que detivessem a perpetuidade conferida
pela lei de 1927, caso em que as obras apenas cairiam no domínio público em 1991.
São igualmente contemplados os direitos morais (Art. 55.0), que são distinguidos
dos direitos económicos ou patrimoniais.
Fundamentos da propriedade intelectual
Naturalmente,em modo aberto, a informação não gera uma
apropriação exclusiva

I.e., tecnicamente, a informação é:

▪ Não-exclusiva: tornada pública, dificilmente a


informação pode ser tornada não-pública. Ela é então
colectivamente apropriável por todos de modo não-rival

▪ Não-rival : o consumo de informação em nada faz diminuir a


quantidade dela disponível. Ela tem externalidades positivas
com custo marginal tendendo para zero
Exemplo do valor acrescentado pela propriedade intelectual
Bens físicos versus informação. Propriedades objectivas
Bens físicos
➢Bens rivais
➢Bens exclusivos
➢O input é diferente do output
➢Bens ‘termodinâmicos’
➢Externalidades negativas

Informação
➢Bem não-rival
➢Não-exclusivos
➢A natureza do output é a mesma que a do input
➢Conservam-se e multiplicam-se
➢Externalidades positivas
Leis de propriedade intelectual

• Equilíbrio entre incentivo à criação e acesso/e transformação


pública

• Equilíbrio entre eficácia estática e eficácia dinâmica


De acordo com as durações limitadas e as exceções,
o ciclo natural da informação é:

Res communis (non-rival) → res nullius (action of the law) → res


publicae (abertas ao todos por ação da lei) (C. Rose)

A lei cria um duplo artifício: protege e desprotege (domínio


público)
Direitos económicos versus direitos morais
Direitos económicos → informação não rival e não exclusiva

Direitos morais → baseados na ideia de que um autor exprime a sua


personalidade através de uma obra original

Traduzidos no princípio inalienável, irrenunciável e imprescritível


segundo o qual ‘o autor goza durante toda a vida do direito de
reivindicar a paternidade da obra e de assegurar a genuinidade e
integridade desta, opondo-se à sua destruição, a toda e qualquer
mutilação, deformação ou outra modificação da mesma e, de um
modo geral, a todo e qualquer acto que a desvirtue e possa afectar a
honra e reputação do autor’ (Art 56.0 do Código Português)
Tipos de Direitos Morais

• O Direito de Atribuição

• O Direito de Integridade

• O Direito de Publicação

• O Direito de Retirada
Principais princípios do copyright e do direito de autor

➢ Apenas as expressões, e não as ideias, são protegidas

➢ Existem muitas exceções, usos públicos legítimos

➢ Os prazos de proteção não são perpétuos

https://www.spautores.pt/assets_live/165/codigododireitodeautorcd
adclei162008.pdf
copyright\codigododireitodeautorcdadclei162008.pdf
Artigo 75 , 2 — São lícitas, sem o consentimento do autor, as seguintes utilizações da obra:
a) A reprodução, para fins exclusivamente privados, em papel ou suporte similar, realizada
através de qualquer tipo de técnica fotográfica ou processo com resultados semelhantes, com
excepção das partituras, bem como a reprodução em qualquer meio realizada por pessoa
singular para uso privado e sem fins comerciais directos ou indirectos;
e) A reprodução, no todo ou em parte, de uma obra que tenha sido previamente tornada
acessível ao público, desde que tal reprodução seja realizada por uma biblioteca pública, um
arquivo público, um museu público, um centro de documentação não comercial ou uma
instituição científica ou de ensino, e que essa reprodução e o respectivo número de exemplares
se não destinem ao público,
f) A reprodução, distribuição e disponibilização pública para fins de ensino e educação, de
partes de uma obra publicada, contando que se destinem exclusivamente aos objectivos do
ensino nesses estabelecimentos aos objectivos do ensino nesses estabelecimentos e não
tenham por objectivo a obtenção de uma vantagem económica ou comercial, directa ou
indirecta;
o) A comunicação ou colocação à disposição de público, para efeitos de investigação ou
estudos pessoais, a membros individuais do público por terminais destinados para o efeito nas
instalações de bibliotecas, museus, arquivos públicos e escolas, de obras protegidas não
sujeitas a condições de compra ou licenciamento, e que integrem as suas colecções ou acervos
de bens;
4 — Os modos de exercício das utilizações previstas nos números anteriores, não devem atingir
a exploração normal da obra, nem causar prejuízo injustificado dos interesses legítimos do
autor.
5 — É nula toda e qualquer cláusula contratual que vise eliminar ou impedir o exercício normal
pelos beneficiários das utilizações enunciadas nos nºs 1, 2 e 3 deste artigo, sem prejuízo…
A extensão dos prazos e âmbito da lei; a perda do equilíbrio

➢ Em Inglaterra o Statute of Anne estipulou a proteção em 14 anos.


Depois, a lei de 1842 colocou-a pela vida do autor mais 7 anos, ou um
total de 42. Depois, aumentou para 50 anos após a morte do autor.

➢ Movimento similar em França e Portugal, com a passagem da


proteção durante a vida do autor mais 5 anos (França) para 30 anos.
Em Portugal, em 1851, foi estabelecida em 50 anos pos morten, e
depois passou para 70 anos

➢ O problema dos efeitos retroativos. A lei do ‘Mickey Mouse’


Convenção de Berna
O seu Artigo 2.6 estipula que as obras “gozam de protecção em todos os
países da União (de Berna)”

o princípio de não discriminação contra os autores estrangeiros, isto é, um


país deve conceder aos autores dos outros países da União dos mesmos
direitos de protecção que concede aos seus cidadãos (Artigo 5).

A Convenção estabelece prazos mínimos de protecção, como a protecção das


obras durante a vida do autor mais 50 anos após a sua morte (Artigo 7). Cf,
também Artigo 20
Os direitos são mandatários, as excepções permissivas

O Artigo 2.-bis trata das exclusões (discurso políticos, debates judiciários) e o


Artigo 10 enuncia diversos usos lícitos (citações de jornais, compilações).

copyright\Berna.pdf
O processo que conduziu a TRIPS
➢ Lobby de indústrias
➢ Processo no âmbito dos acordos de livre comércio

“A propriedade intelectual é o único tipo de protecionismo actualmente defendido


por Washington porque não é na realidade protecionismo. Ao invés, está no
coração de um sistema de comércio aberto, e as empresas que apoiam o reforço do
sistema de comércio e se opõem ao protecionismo são as mesmas que devem
apoiar uma melhor protecção da propreidade intelectual” (Harvey Bale. In Sell,
2003: 52).

“Existe um amplo acordo bipartidário de que a protecção da propriedade intelectual em


todo o mundo é o factor criticamente importante para expandir o comércio em produtos
de alta tecnologia. A Administração está comprometida com o reforço dessa protecção
como um componente integral do nosso apoio ao comércio e indústria norte-americana”
(In Sell, 2003: 82).
TRIPS
copyright\27-trips.pdf
TRIPS estipula o princípio não discriminatório de tratamento nacional
(Artigo 3)

Fundamental:
“Com relação à protecção da propriedade intelectual, toda vantagem,
favorecimento, privilégio ou imunidade que um Membro conceda aos
nacionais de qualquer outro país será outorgada imediata e
incondicionalmente aos nacionais de todos os demais Membros” (Art. 4.º).

O Artigo 9 estipula que TRIPS incorpora o articulado da Convenção de


Berna, como, por exemplo, a protecção mínima de 50 anos post mortem
(Artigo 12). O Artigo 10 estende o copyright aos programas de computador,
um tipo de protecção ausente em Berna. O sistema de copyright global foi
definitivamente aprovado num acordo posterior (1996) a TRIPS, o tratado
WIPO, o qual passou a proibir as medidas de neutralização tecnológica, isto
é, os actos que desprotegem as obras dos sistemas de Digital Rights
Management (Artigos 11-12).
A Directiva Europeia de 2001

copyright\Directiva 2001.pdf
Nova Directiva em discussão: Proposta de DIRETIVA DO PARLAMENTO
EUROPEU E DO CONSELHO relativa aos direitos de autor no mercado único
digital

Artigo 11.º Proteção de publicações de imprensa no que diz respeito a


utilizações digitais
1. Os Estados-Membros devem conferir aos editores de publicações de
imprensa os direitos previstos no artigo 2.º e no artigo 3.º, n.º 2, da
Diretiva 2001/29/CE relativos à utilização digital das suas publicações
de imprensa.
Utilizações de conteúdos protegidos por serviços em linha
Artigo 13.º Utilização de conteúdos protegidos por prestadores de serviços da sociedade da
informação que armazenam e permitem o acesso a grandes quantidades de obras e outro
material protegido carregados pelos seus utilizadores
1. Os prestadores de serviços da sociedade da informação que armazenam e facultam ao
público acesso a grandes quantidades de obras ou outro material protegido carregados
pelos seus utilizadores devem, em cooperação com os titulares de direitos, adotar medidas
que assegurem o funcionamento dos acordos celebrados com os titulares de direitos
relativos à utilização das suas obras ou outro material protegido ou que impeçam a
colocação à disposição nos seus serviços de obras ou outro material protegido identificados
pelos titulares de direitos através da cooperação com os prestadores de serviços. Essas
medidas, tais como o uso de tecnologias efetivas de reconhecimento de conteúdos, devem
ser adequadas e proporcionadas. Os prestadores de serviços devem facultar aos titulares de
direitos informações adequadas sobre o funcionamento e a implantação das medidas, bem
como, se for caso disso, sobre o reconhecimento e a utilização das obras e outro material
protegido.
Permissão para usar seu nome, foto do perfil e informações sobre suas ações com
anúncios e conteúdo patrocinado: Você nos concede permissão para usar seu
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ou relacionados a anúncios, ofertas e outros conteúdos patrocinados que exibimos
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pessoas que têm a sua permissão para ver as ações que você houver realizado no
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recursos adicionais para melhorá-lo, aprimorá-lo e desenvolvê-lo ainda mais.
Livros físicos versus livros eletrónicos
Num livro físico, um consumidor:

▪ compra o livro;

▪ torna-se seu proprietário;

▪ dá a utilização que quiser ao exemplar comprado;

▪ por exemplo, pode emprestá-lo, oferecê-lo, vendê-lo ou reproduzi-lo


(para uso privado/não comercial);

▪ excepto devido a causas naturais, roubo ou às acções acabadas de


mencionar, o leitor não é desapossado do livro.
Hoje, os e-books não são vendidos, mas sim licenciados

Na sua interpretação da Directiva Europeia do Copyright, os


editores sustentam que os livros eletrónicos são “comunicados
ao público”, em vez de serem distribuidos, e que a comunicação
ao público é um serviço e que o princípio do esgotamento não
se aplica aos serviços

A lei diz:
“Os Estados-Membros devem prever a favor dos autores o
direito exclusivo de autorizar ou proibir qualquer comunicação
ao público das suas obras, por fio ou sem fio, incluindo a sua
colocação à disposição do público por forma a torná-las
acessíveis a qualquer pessoa a partir do local e no momento por
ela escolhido.” Information Society Directive , 2001, 3(1)
Use of Kindle Content.

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Content an unlimited number of times, solely on the Kindle or a
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(http://www.amazon.com/gp/help/customer/display.html?nodeId=2
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transferable license to view, use and/or play a single copy of the
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that you retain all trademark, copyright and other proprietary notices
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sales, leasing, renting, distribution, redistribution, modification,
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posting, transmitting, or publication by you, directly or indirectly, of the
Site or any Materials (as defined below) contained therein, except
pursuant to the express limited grant of rights hereunder, is strictly
prohibited”(Simon & Shuster Licence Agreement, disponível em:
http://www.simonandschuster.com/
about/terms_of_use_popup?TB_iframe=true&height=430&width=440)
O princípio fundamental de esgotamento após a primeira
venda
No caso dos Estados Unidos, o princípio está codificado na secção 109(a) do
Copyright Act de 1976: ‘the owner of a particular copy or phonorecord
lawfully made under this title, or any person authorized by such owner, is
entitled, without the authority of the copyright owner, to sell or otherwise
dispose of the possession of that copy or phonorecord.

“O direito de autor sobre a obra como coisa incorpórea é independente


do direito de propriedade sobre as coisas materiais que sirvam de suporte
à sua fixação ou comunicação” (Art. 10.0 §1 do Código Português).
Licenças e doutrina da primeira venda (princípio do esgotamento)
nos Estados Unidos

As licenças não conferem direitos de propriedade, pelo que o princípio não


se aplica às obras digitais.(Reis, 2014:182 e referências aí citadas).
Um caso recente importante foi Vernor v. Autodesk, Inc, em que um tribunal
de círculo sustentou que quando a utilização é feita em termos de licenças,
não de propriedade, não existe realmente venda pelo que o princípio de
esgotamento não se aplica.
O princípio do esgotamento na CE
‘Directiva do copyright’ estabelece:
‘A protecção do direito de autor nos termos da presente directiva inclui o direito
exclusivo de controlar a distribuição de uma obra incorporada num produto
tangível. A primeira venda na Comunidade do original de uma obra ou das suas
cópias pelo titular do direito, ou com o seu consentimento, esgota o direito de
controlar a revenda de tal objecto na Comunidade’( Directiva 2001/29/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de Maio de 2001 O.J. (L 167) 28)

‘Os actos de disposição lícitos, mediante a primeira venda ou por outro meio de
transferência de propriedade, esgotam o direito de distribuição do original ou de
cópias, enquanto exemplares tangíveis, de uma obra na União Europeia.’ (Art. 68º,
5 do Código português)

‘’Directiva do Software’ estabelece:


A primeira comercialização na Comunidade de uma cópia de um programa efectuada
pelo titular dos direitos ou realizada com o seu consentimento extinguirá o direito de
distribuição na Comunidade dessa mesma cópia, com excepção do direito de controlar
a locação ulterior do programa ou de uma sua cópia’ (Directiva 2009/24/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Abril de 20091 O.J L 111/16, Artigo 4(2))
Union Europeia

“ A protecção do direito de autor nos termos da presente directiva inclui o direito


exclusivo de controlar a distribuição de uma obra incorporada num produto tangível. A
primeira venda na Comunidade do original de uma obra ou das suas cópias pelo titular
do direito, ou com o seu consentimento, esgota o direito de controlar a revenda de tal
objecto na Comunidade.” Copyright Directive, Preâmbulo (28)
“A questão do esgotamento não é pertinente no caso dos serviços, em especial dos
serviços em linha. Tal vale igualmente para as cópias físicas de uma obra ou de outro
material efectuadas por um utilizador de tal serviço com o consentimento do titular do
direito. Por conseguinte, o mesmo vale para o aluguer e o comodato do original e
cópias de obras ou outros materiais, que, pela sua natureza, são serviços. Ao contrário
do que acontece com os CD-ROM ou os CDI, em que a propriedade intelectual está
incorporada num suporte material, isto é, uma mercadoria, cada serviço em linha
constitui de facto um acto que deverá ser sujeito a autorização quando tal estiver
previsto pelo direito de autor ou direitos conexos..” (29)

MAS
“O direito de distribuição não se esgota, na Comunidade, relativamente ao original ou
às cópias de uma obra, excepto quando a primeira venda ou qualquer outra forma de
primeira transferência da propriedade desse objecto, na Comunidade, seja realizada
pelo titular do direito ou com o seu consentimento.” Artigo 4(2)
União Europeia

UsedSoft GmbH v. Oracle International Corp (2012) → o o esgotamento


aplica-se a software baixado da Internet
➢ O ECJ rejeitou a que a doutrina da primeira venda possa ser contornada
através da elaboração de um contrato como uma licença perpétua em vez
de uma venda porque isso anularia a efetividade da doutrina da primeira
venda

➢ O ECJ sustentou que o termo ‘venda’ é geralmente entendido como ‘um


acordo através do qual uma pessoa, contra pagamento, transfere para
outra os seus direitos de propriedade de um bem tangível ou intangível
que lhe pertence”

➢ Portanto, o ECJ sustentou que a doutrina da primeira venda também se aplica a


cópias intangíveis obtidas da Internet, assim dando origem à ‘First- Download
Doctrine’ (Lukas Feiler)
Ulteriores decisões baseadas em UsedSoft GmbH v. Oracle International
Corp.

▪ um tribunal alemão decidiu que o tipo de acórdão em UsedSoft GmbH


v. Oracle não se aplica aos livros electrónicos
(http://www.publishersweekly.com/pw/by-topic/digital/retailing/article/56916-german-court-nixes-selling-used-e-books.html#path/pw/by-
topic/digital/retailing/article/56916-german-court-nixes-selling-used-e-books.html

▪ Em sentido contrário, um tribunal holandês permitiu que um sítio de


revenda de livros electrónicos continuasse a operar
http://www.computerworld.co.nz/article/550527/dutch_courts_lets_ebook_reseller_stay_online/)

▪ o Tribunal Europeu de Justiça decidiu em Setembro de 2014 que a


digitalização, sem autorização dos detentores de direitos, de livros por
uma biblioteca alemã foi legal
(http://www.peacepalacelibrary.nl/2014/09/european-court-of-justice-libraries-may-digitise-books-and-make-them-available-at-e-reading-points-without-authors-
permission/
Novos projetos abertos e novas formas de propriedade
intelectual
Digital Public Library of America

https://dp.la/

Europeana → implementado em 2008


http://www.europeana.eu/portal/

https://www.europeana.eu/portal/en/rights.html

https://pro.europeana.eu/page/available-rights-statements

Europeana condições para os contributos de utilizadores: Creative


Commons Attribution ShareAlike license
GPL (General Public License) Cf. http://www.fsf.org/

Cláusulas:
1.Liberdade de executar e copiar qualquer programa
2. Liberdade de modificar qualquer programa
3. Liberdade de redistribuir o programa acompanhado do código-fonte

Cláusula Fundamental:
4. O programa modificado tem de continuar a garantir que as liberdades de
(1), (2) e (3) se propaguem

(Qualquer software que use software GPL tem de ser licenciado em


termos de GPL)
A existência de uma exterioridade que exerce uma espécie de violência.
GPL contém a violência no duplo sentido do verbo ‘conter’
Tipos de licenças Creative Commons
Licenças Atribuição Integridade Share-alike
Atribuição - CC BY Sim Não Nåo
Atribuição- Partilha nos termos da Sim Não Sim
mesma licença CC BY-SA
Atribuição- Proibição de realização de Sim Sim Não
Obras Derivadas - CC BY-ND
Atribuição-Uso Não-Comercial - CC Sim Não Não
BY-NC
Atribuição-Uso Não-Comercial- Sim Não Sim
Partilha nos termos da mesma licença
-CC BY-NC-SA
Atribuição-Uso Não-Comercial- Sim Sim Não
Proibição de realização de Obras
Derivadas - CC BY-NC-ND
Dedicação Universal ao Domínio Prescinde de Não
Público -CC0 1.0 todos os
direitos
conferidos
pela lei do
copyright
Wikipedia → Plataforma aberta ao nível dos conteúdos

Condições

➢ A existência de uma plataforma aberta de distribuição


➢ A modularidade do projecto
➢ A existência de uma conjunto aleatório de motivações
➢ A existência de uma plataforma aberta ao nível dos conteúdos
Design de Moda
A lei francesa da propriedade intelectual (Artigo L112-2 – 14.º) confere a
mesma proteção ao vestuário da moda que concede a outras “obras do
espírito”, como a literatura ou a música.

Na Comunidade Europeia Os designs originais recebem 3 anos de proteção


automática, e 5, renováveis, se registados

o Código do Direito de Autor português é completamente omisso em relação a


quaisquer direitos intelectuais conferidos ao design de moda.

Nos Estados Unidos os designs de moda não gozam de qualquer proteção


dada pelo copyright, podendo ser livremente apropriados e/ou copiados.
A razão é serem meramente funcionais. Logo, não são originais
A moda é arte prática subalterna

A renovação pemanente do ciclo da moda


Chanel: “a criatividade é a arte de esconder as fontes”. Para Tom Ford, para quem
essa frase revela a “essência da criação em moda”

Estilistas famosos nunca se mostraram particularmente preocupados com a inexistência


de copyright na moda. Chanel afirmava que “no que respeita à imitação de vestuário, eu
pergunto aos meus colegas: eles podem copiar-nos livremente no estrangeiro? Sim.
Fazem-no? Sim. É absurdo existirem patentes de vestuário. Significa admitir que deixaram
de ter ideias”

Tom Ford → a criação na moda é uma apropriação, a qual é ela própria a norma na
moda.
sS existissem leis de copyright aplicáveis ao vestuário, então não existiria moda. Se a
cópia e a cópia transformadora não existissem, então “não existiria moda” (Ford,
2004: 52).
Culinária
1. Três princípios básicos orientam a nossa culinária: excelência, abertura e integridade.
2. A nossa culinária valoriza a tradição, assenta nela, e, juntamente com a tradição, faz parte da evolução
contínua da nossa arte.
As tradições culinárias do mundo são invenções coletivas e cumulativas, uma herança criada por
centenas de gerações de cozinheiros. A tradição é a base que todos os cozinheiros que aspiram à
excelência devem conhecer e dominar. A nossa abordagem aberta assenta no melhor que a tradição tem
para oferecer.
Como acontece com tudo na vida, a nossa arte evolui, tal como sucede desde que o homem inventou o
fogo. Nós abraçamos esse processo natural de evolução e aspiramos a influenciá-lo. Respeitamos a nossa
rica história e, ao mesmo tempo, tentamos desempenhar um pequeno papel na história do amanhã.
3. Nós adotamos a inovação – novos ingredientes, técnicas, aparelhos, informações e ideias – sempre
que ela pode contribuir realmente para a nossa culinária.
Nós não buscamos a novidade pela novidade. Podemos usar espessantes modernos, substitutos de
açúcar, enzimas, nitrogénio líquido, vácuos, desidratação e outros meios não tradicionais, mas estes não
definem a nossa culinária. São apenas algumas das muitas ferramentas que temos a sorte de ter à
disposição quando nos esforçamos para fazer pratos deliciosos e estimuladores do apetite. (…)
4. Acreditamos que a culinária pode afetar profundamente as pessoas e que um espírito de colaboração
e de partilha é essencial para o verdadeiro progresso no desenvolvimento dessa capacidade.
O ato de comer envolve todos os sentidos assim como a mente. Preparar e servir comida pode, portanto,
ser a mais complexa e abrangente das artes performativas. Para explorar todo o potencial expressivo da
comida colaboramos com cientistas, desde químicos a psicólogos, artesãos e artistas (de todas as áreas
das artes do espectáculo), arquitectos, designers, engenheiros industriais. Acreditamos também na
importância da colaboração e generosidade entre os cozinheiros: uma disposição para compartilhar
ideias e informações, juntamente com o pleno reconhecimento daqueles que inventam novas técnicas e
pratos

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