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PROPRIEDADE INTELECTUAL
FICHA 03
REF. 05
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA COMPLETA:
ASCENSÃO, José de Oliveira. O direito intelectual em metamorfose. Revista de direito autoral,
São Paulo, v. 2, n. 4, p.3-24, fev. 2006.
TIPO DE FICHAMENTO:
Citação
1
TEXTO DA FICHA:
“Desenha-se então a construção dum direito de autor centrado na obra como bem imaterial.
De começo, a noção era tosca e restrita às manifestações literárias. Atingiu a sua maturidade
com a doutrina germânica do direito de autor como emanação da criatividade individual (...).”
(p. 2).
“Chega-se deste modo à visão deste direito como entidade liberta do lastro corpóreo de suas
eventuais concretizações (...).”. (p. 2).
“A evolução não é tão nítida no sistema de copyright. Este não assenta no criador, mas no
objecto; e tem como núcleo um direito de reprodução, o que apela mais para a
materialidade.”(p. 2).
“Houve uma consciência muito nítida que a atribuição de direitos exclusivos implicava uma
restrição da liberdade dos outros. O fundamento foi encontrado numa razão de interesse
público: as restrições deveriam ser temporárias, e justificavam-se por a atribuição dos
direitos, recompensando o autor, estimular a criatividade. Passado o período normal de
protecção, dar-se-ia a queda no domínio público.” (p. 3).
“Os limites do direito de autor não são tomados como excepções, mas como a via da
satisfação simultânea de interesses individuais e da comunidade. (...) eles impedem as
conseqüências mais nefastas da monopolização e permitem as formas de desfrute social
compatíveis com o exclusivo atribuído.” (p. 3).
“Nos Estados Unidos da América há desde logo a disposição constitucional que prevê a
atribuição aos autores de direitos limitados sobre as suas obras para promover o incremento
das ciências e das artes. Isto leva a negar em geral qualquer tipo de direito natural do autor e
a encontrar um fundamento primário de interesse público.”(p. 3).
“O direito de autor representa uma recompensa ao autor, pelo contributo trazido, e com isto
um incentivo à criação (...).” (p. 4).
2
“Isto implica também que a criatividade represente o requisito essencial para que a obra seja
protegida.” (p. 4).
“Na ordem jurídica francesa (...). Afirmou-se um direito moral, contraposto ao direito
patrimonial. Esse direito seria perpétuo. (...) No pólo oposto estão as ordens jurídicas anglo-
americanas. (...) Outra abordagem é a da lei alemã e dos países germânicos em geral. (...) Há
um único direito de autor, que contém faculdades simultaneamente pessoais e patrimoniais.”
(p. 5).
“O direito de autor encetara já a caminhada para ser o protector das indústrias de copyright,
muito mais que da criação pessoal que trouxesse contributo à cultura.” (p. 6)
“Vemos assim o campo que inicialmente era exclusivo dos direitos autorais, atribuídos e
justificados pela eminente dignidade da criação intelectual, acabar por ser invadido por
entidades empresariais, que estão afastadas por natureza de toda a actuação pessoal.” (p. 7).
“(...) o Direito Intelectual passa a ser utilizado, não apenas para o estímulo à criação com que
foi inicialmente justificado, mas também para outorgar protecção a empresas, que hoje se
designam genericamente como empresas de copyright.” (p. 7).
“É uma anomalia que um programa de computador seja protegido até 70 anos após a morte
do seu criador, quando o que se pretende é a tutela da empresa para quem reverteu.” (p. 10).
“Os direitos intelectuais passam a ser regulados num Acordo sobre os Aspectos da
Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio (1994), conhecido pelas iniciais APDIC
ou TRIPS.” (p. 11).
3
“Agora, porque os países não podem deixar de participar do comércio mundial, são forçados a
aceitar as regras disciplinadoras dos direitos intelectuais.” (p. 11).
“(...) o fomento da cultura é sempre entendido como o fomento das indústrias culturais, ou
de copyright.” (p. 11).
“Com o ADPIC a exclusão passa a ser explícita. (...) exclui-se expressamente o art. 6 bis, que
respeita justamente aos direitos pessoais do autor.” (p. 12).
“Há que tirar deste facto as lições devidas. Há que procurar uma integração normal de
faculdades pessoais e patrimoniais no seio de um único direito de autor, temporalmente
limitado, que torne a categoria aceitável no plano internacional.” (p. 13).
“Anotamos que o direito de autor ganhou a sua plenitude com a libertação em relação ao
suporte material em que a obra porventura encarnasse. O direito de autor afirma-se na
pujança da sua realidade puramente imaterial.” (p. 13).
“Através da OMC, os próprios países são sujeitos a processos de in- fracção, que tornam difícil
fugirem à introdução das regras sobre direitos intelectuais a que estão vinculados.” (p. 15).
4
“Tudo isto revela que se caminha para uma protecção de conteúdos empresariais
incorpóreos, que engloba mas ultrapassa a protecção dos bens intelectuais.” (p. 16).
“O Direito Autoral é invocado sempre que surgem conteúdos imateriais que são objecto de
exploração comercial, ou podem sê-lo. O seu âmbito vai incessantemente se expandindo, ao
mesmo tempo que se torna afinal indiferente que o conteúdo em causa seja uma obra
intelectual ou uma realidade de outra ordem.” (p. 17).
“O interesse público era até hoje assegurado pelo Estado nacional. Mas, com a globalização,
esse domínio escapa-lhe em larga medida das mãos.” (p. 19).
“É clara, dissemos atrás, a prevalência actual dos interesses privados. A expansão das zonas
reservadas faz-se sob o impulso de interesses privados, e não para serviço de interesses
públicos que se configurem.” (p. 19).
“O Direito de Autor fundado na criatividade está sem dúvida em crise. É absorvido por uma
vaga mais vasta de protecção de realidades intangíveis que sejam úteis ao funcionamento do
sistema, independentemente do mérito e até da criatividade dessas produções.” (p. 20).
“Captado o novo paradigma da primazia da inovação, como apreciar que o Direito de Autor
seja chamado a desempenhar a função de protecção de investimentos?” (p. 22).