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ABDR
No tocante aos livros “para o estudante carente, que muitas vezes não pode comprar
todos os livros necessários”, a própria maneira como é elaborada a situação no documento já
aponta os pressupostos da ABDR. Ora, pensar sobre o estudante que não pode comprar todos
os livros necessários é pressupor que os livros devem ser comprados, não havendo outras
possibilidades que não estejam sob controle da associação em questão. Neste contexto, as
doações são uma forma de as editoras controlarem a própria pobreza de livros e se
promoverem, como empresas providas de responsabilidade social frente a uma assimetria na
distribuição dos livros, gerada pelas mesmas editoras. A atualização e qualidade da bilioteca
das escolas públicas, mencionadas no documento, tangenciam o problema que diz respeito
aos modos de incentivar a produção intelectual. Tendo isto em vista, a indagação de Ortellado
se torna oportuna: somente o financiamento é a alternativa para se apoiar a produção
intelectual, ainda que este processo tenda ao monopolismo?
A solução da ABDR, portanto, assume as assimetrias criadas pelas editoras, principais
responsáveis pela mercantilização dos livros, e as perpetua, uma vez que lança a
responsabilidade para as instituições públicas, dentre as quais, as escolas e suas respectivas
bibliotecas, que devem, segundo o texto, ter exemplares em número suficiente para atender a
todos os alunos. Noata-se, consequentemente, que a aquisição de um maior número de
exemplares de livros por parte das bibliotecas das escolas públicas tende a beneficiar as
mesmas editoras que, graças aos direitos autorais, detém o domínio privado sobre boa parte
do conteúdo didático lido no ensino básico. As bibliotecas e seus bibliotecários, por sua vez, se
tornam tal como os professores, mediadores da ideologia neoliberal implicada nas
argumentações da ABDR, ou, nas palavras do documento, “aliados na luta contra a pirataria
editorial”. Trata-se da tentativa de fiscalização das ténicas de reprodução de textos impressos
como, por exemplo, o uso das fotocopiadoras, uma vez que a fiscalização da leitura de textos
em formato pdf, na internet, por exemplo, ainda é mais dificultosa para estas associações.
A luta contra “pasta do professor”, por sua vez, explicita a repressão anunciada nas
primeiras linhas deste documento, a saber, sobe a fiscalização e repressão da reprodução
ilegal das obras dos associados à Associação Brasileira dos Direitos Reprográficos. Trata-se de
uma ofensiva frente a uma situação na qual as editoras não costumam ter respaldo dos
envolvidos, sobretudo dos estudantes universitários. Vale salientar que, em alguns casos,
muitos professores acadêmicos são os próprios autores dos textos indicados como leitura
obrigatória nos cursos por eles ministrados e, algumas vezes, eles incentivam tal repressão,
intimando funcionários das copiadoras alocadas nas Universidades a inserir avisos sobre as
possíveis sanções promovidas com a existência das leis de direitos autorais. Nestes casos,
muitas vezes as cópias de alguns livros não são realizadas pelas copiadoras aliadas aos
autores. Um exemplo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP se deu
com o professor emérito José Luiz Fiorin que, supostamente, impediu a copiadora do prédio de
Letras a copiar quaisquer trechos dos dois volumes do livro “Elementos de linguística”,
publicado pela editora Contexto.
Após reclamação dos alunos e divulgação do fato pela internet, o professor supracitado
manifestou-se contrário à ação das copiadoras e disse que, como autor, não havia promovido
tal repressão. O imbróglio desdobrou-se com a desfiliação da editora contexto da ABDR.
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