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Resenha crítica do Livro: O que é a Indústria Cultural

O Autor:

José Teixeira Coelho, nascido em 1944, em Bauru, São Paulo, possui graduação
em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e Universidade
Guarulhos (1971), mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São
Paulo (1976) e doutorado em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela
Universidade de São Paulo (1981), pós-doutorado na University of Maryland, EUA
(2002). Atualmente é professor titular da Universidade de São Paulo, aposentado.

O livro:

Inserido na coleção “Primeiros Passos” o livro O que é Indústria Cultural, escrito


por Teixeira Coelho, teve sua primeira edição publicada em 1989, pela editora
Brasiliense. O autor busca com sua obra abordar algumas questões que surgem quando
fala-se em produção de cultura – que pressupõe, assim a existência de uma indústria
cultural. Essa indústria é um bem ou um mal? Qual seria sua verdadeira função? Esses
questionamento, assim como a análise da cultura sob o ponto de vista de um produto a
ser consumido, estão entre os temas discutidos por Coelho.

Introdução

Ao fazer a introdução do livro, Coelho lança algumas questões que nortearão o


trabalho à respeito da Indústria Cultural, aponta que as discussões em torno da indústria
acabam por vezes com um teor reducionista, se ela é boa ou má para o desenvolvimento
das capacidades do ser, não desconsiderando a importância de tais questões, porém o
autor propõe uma análise mais aprofundada na estrutura dessa indústria, tentando sanar
no decorrer do livro a questão: o que fazer com essa industria?

Indústria Cultural, Cultura Industrial


Neste capitulo, Teixeira dedica-se em pontuar a relação existente entre indústria
cultural, meios de comunicação de massa e cultura de massa, onde aponta que o
surgimento dos veículos de imprensa, no século XV feito por Gutenberg, não marcou
necessariamente o surgimento de uma cultura de massa, pois mesmo com a veiculação e
reprodução ilimitada dos textos da época, tais materiais eram restritos a elite letrada.
Segundo o autor, o surgimento da cultura de massa está ligado a revolução industrial
ocorrida no século XVIII, tendo se estabelecido de fato na segunda metade do século
XIX, onde passa-se a observar uma economia baseada no consumo, a cultura nesse
contexto é esvaziada de toda sua expressão, crítica, conhecimento, ela é somente mais
uma coisa, produzida em larga escala, e trocada por dinheiro, conseqüência do sistema
capitalista monopolista.

Com intuito de aprofundar a discussão sobre os fenômenos que cercam a


indústria cultural, Coelho recorre a algumas definições propostas por Dwight
MacDonald, que expõe três formas de manifestação cultural: a cultura superior, que de
acordo com o autor são todos os produtos canonizados pela crítica erudita, geralmente
direcionados a classe dominante, a cultura média, também chamada de midicult ,que
remete aos valores pequenos burgueses, e a cultura de massa, masscult, onde a
princípio, seria facilmente identificada pelos produtos veiculados pelos meios de
comunicação de massa (TV, Cinema, Radio), contudo há uma problemática nesta
classificação, pois um produto rotulado como masscult, também pode ser explorado por
esses meios, ocupando assim essas duas categorias. Tais percepções acerca da
dificuldade na distinção dessas formas culturais, ganha contornos mais acentuados
quando relacionados as classe sociais, pois de acordo com Coelho há uma grande
problemática quando se tenta defender, por exemplo, a tese de que os produtos da
cultura superior são de fruição exclusiva da classe dominante, ora, por mais que um
produto seja direcionado a um público alvo especifico, essas criações estão em
constante movimento, ”atravessam as classes sociais com uma intensidade e uma
freqüência maiores do que se costuma pensar” Coelho (1998, p.9). O autor ainda pontua
alguns movimentos que ao logo da história deslocaram-se de uma categoria inferior para
outra superior, como o Jazz, originário das favelas negras e dos bordeis, e que hoje é
considerado como um estilo elevado.

Ainda sobre a distinção entre essas três categorias, Coelho recorre novamente a
MacDonald, que sugere a distinção entre os níveis culturais não pela censura contra a
cultura de massa e a indústria cultural, mas sim pela reprovação dessa mesma indústria,
como por exemplo, a midcult, por explorar as propostas originárias da cultura superior e
as apresentar de uma maneira que o público acredite estar consumindo produtos de
grande valor cultural. Segundo o autor, a masscult, diante deste processo, seria mais
autentica, pois não carrega a preoucpção de ter suas criações vinculadas a cultura
superior, seria ela mesma capaz de produzir sua própria cultura superior. Nesse
contexto, a midcult seria o verdadeiro subproduto da indústria cultural.

Coelho aborda a relação entre cultura de massa e cultura popular, colocadas


algumas vezes em oposição, porém, pontua o autor, que uma necessariamente não
precisaria excluir a outra, mas sim estabelecer uma correlação. A cultura popular,
(valores tradicionais de um povo), é encarada, em sua maioria, como repleta de todas as
verdades e valores positivos, produzida pelo povo e para o povo, porém, apesar de sua
importância no que tange a fixação e ao auto reconhecimento dos sujeitos dentro do
grupo, ela não se auto questiona, dessa forma, sua união com a cultura pop trariam a ela
mais dinamismo. Ao pensar mais sobre essa relação, Coelho exemplifica:

Com que horror foram recebidas as primeiras imagens de uma garrafa de


coca -cola ou de um posto de gasolina pintadas ali onde antes figuravam
apenas os "grandes temas" da arte! Foi fácil esquecer, então, que se
Rembrandt pintava um grupo de comerciantes ao redor de uma mesa num
ambiente claro-escuro era porque aquela era a realidade de sua época — cuja
contrapartida atual será, por exemplo, um grupo de mecânicos e frentistas
reunidos num posto de gasolina ao redor de um caminhão Ford. Negar esta
visão e a cultura dela decorrente é querer amputar a vida contemporânea de
parte importante de seus momentos significativos. E querer continuar preso
aos modelos do passado. Sob este aspecto, é perfeitamente possível pensar
numa aliança entre a própria cultura popular e os veículos da cultura pop, que
são os da indústria cultural. (COELHO, p.11, 1998)

Alienação e Revelação na Indústria Cultural

Ao retomar a discussão sobre as funções da Indústria Cultural, o autor expõe


dois quadros: o primeiro retrata os opositores a indústria, tendo seus principais nomes
Adorno e Horckeimer, que a atribuem a alienação do sujeito através dos meios de
comunicação de massa, pois utilizam-se da manobra da diversão, encarada como
inimiga mortal do pensamento por esses teóricos, para tranforma-lo em um joguete,
facilmente manipulado pela falsa sensação de prazer. Outro ponto levantado pelos
críticos da indústria cultural é a fabricação de produtos cuja finalidade é serem trocados
por dinheiro, promovendo assim a deturpação e a degradação do gosto popular, além de
reforçarem constantemente as normas sociais vigentes, sem despertar o questionamento
por parte do espectador, o deslocando assim para uma posição passiva na sociedade.

Já em contraposição a esses argumentos, os defensores da indústria cultural


enxergam nela um caminho facilitador do desenvolvimento humano, usando como
exemplo as crianças, que atualmente dominam muito mais cedo a linguagem, graças a
veículos com a televisão. Ou ainda, a unificação que a indústria pode proporcionar entre
as classes sociais.

Coelho destaca que essas duas posições são válidas, ressaltando que é
importante identificar os reais poderes dessa indústria, tanto para o lado negativo como
para o positivo. O autor propõe uma substituição do termo “cultura de massa” por
“cultura industrial” ou ainda “cultura industrializada”, por conta da dificuldade em se
determinar o conceito de massa, já que mesmo o termo sendo atribuído ao povo, seria
uma definição errônea, pois massa é uma entidade inexistente, “que, de todo modo, ela
não existe mesmo porque não é da massa, pois não é feita pela massa: haveria apenas
uma cultura para a massa” Coelho(1998, p.13).

Ao investigar de que modo operam os meios da indústria cultural, o autor sugere


duas alternativas a serem seguidas: a primeira, ligada à natureza do veículo de
comunicação, pode ser analisada a luz dos apontamentos de Karl Marx, onde diz que
todo produto traz em si os vestígios do sistema que os criou, desta forma todos os
veículos dessa indústria, independente de seu conteúdo, carregam as marcas do
capitalismo de organização, que teve sua ascensão no final do século XIX, período este
onde surgiu a indústria cultural, como visto anteriormente. Sendo assim, independente
do conteúdo da mensagem divulgada, elas possuem gravadas em si os traços da
ideologia capitalista e conseqüentemente os traços de alienação e reificação.

Isto significa que (de acordo com esta análise levada às últimas
conseqüências} façam oque fizerem, digam o que disserem, os veículos da
indústria cultural somente podem produzir a alienação. Mesmo que o
conteúdo de suas mensagens possa ser classificado como libertário.
(COELHO, p.17, 1998)

Outra análise proposta por Coelho, acerca dos modos de operação dos meios,
está embasada nas teorias de Marshall McLuhan, de que o “o meio é a mensagem”, ou
seja, ele não se atém ao conteúdo que está sendo veiculado, mas sim direciona sua
atenção para os meios utilizados nessa difusão. Para tal, o foco não é somente nos meios
de comunicação de massa, mas também no carro, na roupa, na casa, no dinheiro, pois de
acordo com o autor, a mensagem transmitida por cada um desses, seria a maneira pela
qual ocorre a modificação de determinada sociedade, bem como os padrões das relações
sociais, como ocorre com qualquer outra tecnologia. McLuhan considera um erro o
julgamento do conteúdo desses meios como bom ou mau, pois tal processo sempre
acarretará na hostilidade da opinião contrária.

Ao questionar qual a relação entre essa perspectiva e o problema da alienação


através dos meios "clássicos" da indústria cultural, Coelho utiliza como exemplo a TV,
um dos meios mais relevantes no campo da comunicação em massa, para tecer uma
análise sobre esse ponto de vista. Dentro desse cenário, e de acordo com o contexto da
época, para McLuhan a TV seria considerada como um meio “frio, já que possuía baixa
definição, quando comparada a um meio “quente” como o cinema e o rádio. Para ele, os
meios “quentes” promoviam uma baixa participação do espectador, diferente dos “frios,
que seriam de “alta” participação por fornecerem menos dados aos receptores e
exigirem uma maior interação, no sentido de tentar recompor a mensagem inicialmente
enviada. Para os que enxergavam a indústria cultural de maneira positiva, a TV
contribuía para a revelação do espectador, já que em decorrência da sua natureza
técnica, exigia uma maior participação da audiência, formando assim um público ativo,
diferente do que ocorre no processo de alienação.
Coelho chama atenção para alguns pontos da análise de Mcluhan acerca da TV,
começa discorrendo sobre “participação” do espectador, que neste caso, de acordo com
o autor, deveria ser entendida com “complementação”, em seguida pontua o recorte
temporal, já que o livro de Mcluhan foi escrito na década de 60, e que neste período era
relevante definir a TV como um meio de baixa de definição, visto a tecnologia da
época, e por fim Coelho aponta que mesmo que o mundo todo adote os mesmos valores,
a mesma ideologia, graças às “multinacionais da cultura”, isso não significa que todos
têm uma participação ativa nesse processo.
Assim, se faz necessário pensar: qual o sentido básico da TV que permanece
independente da mensagem transmitida? Coelho faz essa abordagem, partindo da
concepção que McLuhan tem da imprensa no século XVI, onde as mensagens
difundidas estimulariam o individualismo e o nacionalismo, e que no primeiro momento
pode-se vir a pensar que ela é coletivizante, por não permitir um ponto de vista privado
sobre as coisas, mas também por outro lado, não há ponto de vista produzido pelo
grupo, apenas a visão de quem detém a TV, e mesmo com o envolvimento, não existe
uma relação afetiva do meio com o receptor, pelo fato do individuo estar incorporado a
massa e ser considerado com parte do público espectador.
Em relação ao nacionalismo, segundo Coelho,o que a TV produz seria o
chamado universalismo, por conseguir ir além, dos outros meios de imprensa e
homogeneizar as nações. Seguindo essa analise, a TV seria de fato um instrumento de
alienação, pois é unidirecional e unívoco, pois a informação por ela veiculada, segue
somente um sentido, da fonte para o receptor, sem retorno algum, de acordo com
Coelho “Com isso, na verdade não há informação mas formação. Nem isto, mas
conformação”(p.23).
Outra forma apresentada por Coelho, para saber como se configura o sistema dos
veículos da indústria cultural, propõe um estudo do modo como se produzem os
significados transmitidos por eles, usando como instrumento da análise a semiótica, que
configura-se como o estudo dos processos de significação presente em todas as
atividades relativas ao ser humano e por isso também nos veículos da Indústria Cultural.
Signo é tudo que representa ou refere-se a idéia de algo, possuindo uma relação entre o
referente, objeto que é representado, e o interpretante, que seria a imagem mental ou
simplesmente o significado formando na mente da pessoa receptora de um signo.

Antes de Coelho prosseguir sua análise de como se produzem os significados


dos meios na Indústria Cultural, ele expõe três diferentes tipos de signos, usando as
definições propostas por Charles S. Peirce, onde o primeiro seria o ícone, que possui
uma analogia com o objeto representado, o segundo o índice, que se refere ao objeto
sem ser semelhante a ele, é um signo efêmero, que depende da duração de vida de seu
referente, bem como necessita que a pessoa para que entenda seu significado conheça o
objeto representado, e por fim o símbolo, signo que representa seu objeto em virtude de
uma convenção, um acordo.

Ao retomar o raciocínio para a questão da alienação/revelação na indústria


cultural, relacionando com a questão dos significados, Coelho diz que na maioria vezes
os signos não se apresentam de forma pura e simples, bem como a consciência formada
por meio deles, ou seja, para classificar os tipos de consciência pode - se dizer que a
icônica operaria com o sentir, por meio do pensamento analógico que o signo “ícone”
proporciona, fornecendo para pessoa uma imagem física real de determinado assunto,
não precisando de nenhuma operação lógica complexa para a formação do significado.
Ao passo que a consciência indicial careceria do individuo algum esforço físico ou
mental, mesmo que não muito elaborado, no processo de recepção desse signo,
conseguindo revelar somente aquilo que outrora já foi conhecido, diferente da
consciência icônica, que descortinaria algo novo. Por fim, a consciência simbólica, que
precisa de uma operação altamente lógica, pois é consciência que transcende as
sensações, a verificação daquilo que existe ou existiu, para descobrir o que deve vir a
existir.

A partir dessas colocações, Coelho aponta que os problemas que envolvem os


produtos da indústria cultural não são encontrados na sua estrutura ou conteúdo e sim
no modo como as mensagens são transmitidas, em decorrência de seus meios operarem
por meio dos índices, e conseqüentemente desenvolverem consciências também
indiciais, assim, o conteúdo acaba sendo rápido, efêmero, sem tempo para intuição nem
sentimento das coisas, não há revelação, apenas constatação, que segundo o autor
funciona como uma espécie de mola para o processo de alienação, pois não interessa
mais sentir, intuir ou argumentar, resta apenas o operar.

Coelho diz ainda que é errôneo afirmar que a industria cultural é o universo do
ícone, pelo fato pelos meios de comunicação estarem frequentemente ligados a imagem

Na verdade, o que temos nesses veículos da indústria cultural realmente são


ícones, porém ícones sufocados numa operação indicial com os signos. Os
ícones existem superficialmente, mas o modo pelo qual são dispostos é
indicial, formando-se no indivíduo receptor uma consciência sob a forma de
mosaico, composta por retalhos de coisas vistas rapidamente, numa tela onde
se multiplicam e se sucedem imagens desconexas a impedir, para esse
indivíduo, uma visão totalizante de si e de seu mundo, provocando, dessa
forma, o processo de alienação. (COELHO, 1998, p. 31-32)

Todo esse processo descrito por Coelho abrange tanto os meios de comunicação
de massa como também o cotidiano, sem que as pessoas se dêem conta, porém há uma
ressalva quanto às crianças, que de acordo com autor, aquelas ainda não submetidas às
ações da indústria cultural, conseguem escapar dessa regra, pois tem a capacidade de
pensar de forma icônica, sentindo e intuindo os significados, questionando de modo
espontâneo o meio em que vivem. Porém, essa aptidão tende a regredir à medida que
essa criança cresce e vai sendo sujeitada as aparas impostas pela sociedade em geral,
sendo educada ao conformismo e adentrando no esquema que serve a indústria cultural,
o indicial.
Ao tentar elucidar uma solução pra o problema da alienação, Coelho, diz que
nada indica que os meios de comunicação necessariamente tenham que usar os signos
indiciais para fazer a transmissão de seu conteúdo, o que possibilitaria a adoção da
prática icônica ou simbólica pela indústria cultural, de modo a ter-se nessa prática um
instrumento de libertação do sujeito. Porém, a solução efetiva se daria na junção de
inúmeros elementos (como o conteúdo, o meio e a forma de operação) de caráter
revelador dentro dessa indústria.

Indústria Cultural no Brasil

Teixeira Coelho expande suas considerações acerca da indústria cultural para o


Brasil, onde se utiliza de aspectos quantitativos e qualitativos, retirados de uma pesquisa
datada no ano de 1988 para observar o andamento da indústria no país.

O autor pode concluir que o numero de aparelhos de radio não dobrou entre os
anos de 1980 e 1988, porém houve a duplicação da quantidade de receptores de
aparelhos de TV, o que poderia ser um bom indicativo, se as concessões não fossem
feitas de acordo com critérios atendem mais a interesses individuais e de grupos de
poder, do que a interesses da coletividade.

Com relação ao mercado de edição de livros, o autor aponta que não costumam
incluir muitos dados referentes ao setor, o que já se torna um indicativo sobre seu papel
na indústria cultural brasileira. As publicações mensais e semanais de revistam mostram
os mesmos número de dez anos atrás (cerca de cem mil). Quanto as verbas para
publicidade para as diferentes esferas da indústria, a TV consome quase 60% das verbas
existentes, restando 18% para os jornais, 15% para as revisas e apenas 7% para as
rádios, que dos grandes veículos é que menos recebe investimentos do setor privado, de
acordo com esse levantamento. Torna-se primordial fazermos um adendo diante desses
dados, para não nos esquecermos de levar em consideração a época que tal pesquisa foi
efetuada, bem como a análise de seus dados pelo autor. É inegável que se fossemos
investigar tais números atualmente, bem como a destinação de tais verbas, o cenário
seria outro, visto a inclusão e ampla utilização das novas ferramentas comunicacionais.

Já no que tange ao teatro e cinema, Coelho identifica uma semelhança ao setor


editorial de livros. Há uma presença marcante de filmes estrangeiros, principalmente as
norte-americano, o que segundo ele pode ser encarado como um indicativo de falta de
políticas culturais direcionadas ao cinema nacional. Quanto ao teatro, à pesquisa
constatou no ano de 1988, em São Paulo, um total de 59 salas, numero relativamente
pequeno se comparado a Paris, que possuía no mesmo período 120 salas.
Para Coelho, os meios de comunicação de massa acabam por produzir uma
estrutura cultural que se torna impositivamente comum ao seu número de espectadores,
e é por essa razão que pode falar na existência de uma cultura de massa e de meios de
comunicação de massa existentes no Brasil.
A existência dos poucos veículos independentes, como emissoras de rádio e TV
ditas "educativas", que tentam de alguma forma desviar do modelo de produção cultural
focada no consumo e no comercialismo, para estimularem algum tipo de reflexão
critica, pode ser atribuída a falta de liberdade de movimentação em relação ao governo
que as suporta, ocasionando assim, em comparação as mídias que dominam o setor de
comunicação, o déficit no alcance do grande público, pela falta de respaldo no que se
refere a divulgação e a obtenção de recursos.
O autor salienta que as características da indústria cultural abordadas no decorrer
da obra, são extremamente válidas no cenário brasileiro, porém com algumas ressalvas,
onde a primeira está relacionada a formação de uma cultura homogênea e
massificadora. No Brasil, tal processo não consegue se concretizar em decorrência das
desigualdades encontradas na divisão da renda nacional, o que impede a existência de
uma sociedade de consumo unificada. O que existe é concentração de consumo em
algumas regiões, ao lado de grupos que voltados para o subconsumo e de outros
entregues a luta pela subsistência. Dessa forma, mesmo que a indústria cultural ente
direcionar uma só cultura para toda sua audiência, a disparidade entre o público é tão
significativa que torna-se inevitável que essa cultura apresente variáveis.
Em segundo lugar, estaria o fato da indústria cultural tender para eliminação do
grotesco, ou seja, o lado cômico ou excêntrico, em suas manifestações, já que aspira as
formas consideradas como superiores, porém o que ocorre no Brasil é justamente o
contrário, o grotesco tem a presença bem marcada nas produções.
Outro traço marcante da indústria cultural no Brasil seria a inexistência de um
conflito propriamente dito, entre uma cultura superior e uma cultura de massa, o que
ocasiona o surgimento de uma nova forma cultural heterogênea e pautada em grande
parte no conteúdo e estilo da cultura popular.
Por fim, um último traço da indústria cultural brasileira é a sua ligação com
elementos da cultura estrangeira, o que estaria relacionado somente à distração e ao
divertimento, e a não reflexão sobre o que acontece na vida cotidiana. Coelho também
chama atenção para o fato de que não se pode deixar de reconhecer o poder que tem as
culturas estrangeiras de dissolver elementos da cultura nacional.

Um ponto importante levantado pelo autor é sobre um erro atribuído aos


esquerdistas, que consiste na atribuição aos instrumentos do capitalismo um poder
maior do que ele possui, como por exemplo, acreditar que TV, e outros veículos da
indústria cultural, alienam sempre e completamente todas as pessoas. Tal afirmação,
segundo o autor não poder ser encarada como uma verdade irrefutável, já que qualquer
tipo de generalização no universo da cultura pode ser perigosa.

Perspectivas diante da Indústria Cultural

Embora muitos aspectos da indústria cultural tenham se modificado ao longo de


nove anos1, de acordo com Coelho, alguns pontos ainda permanecem válidos, pois
mesmo com as inovações técnicas, o conteúdo e o modo de operação dos veículos
permanece o mesmo. Assim, se o que foi abordado anteriormente continua válido é
porque as mudanças tecnológicas não foram acompanhadas por alterações sensíveis do
lado do conteúdo ou do modo pelo qual essa indústria produz significados.

Dessa forma, questiona-se como se poderia extrair o melhor para sociedade de


maneira geral como o modelo de indústria cultural que possuímos, e como trasnformar a
maneira passiva pela qual os sujeitos estão habituados a absorver os produtos
originários dessa indústria? O autor acredita que a solução esteja na criação de
condições para que o indivíduo potencialize sua personalidade e tenha as condições
necessárias para reorganizar os meios de comunicação, gerando assim uma espécie de
entidade coletiva, a opinião pública.

Sem essa passagem pelo desenvolvimento do indivíduo, toda opinião pública


não passa de falsa opinião de massa, formada e dirigida em algum lugar
situado fora dela quer este lugar seja o das multinacionais capitalistas, quer o
do Estado onipresente dito socialista.(COELHO, 1993, p. 43).

Nosso autor, recorrendo aos apontamentos do filósofo e sociólogo francês,


Lucien Goldmann, diz que apenas uma transformação cultural não seria suficiente, mas
também uma ação política seria necessária na construção de mudança da sociedade.

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O livro foi escrito pela primeira vez em 1980, sendo revisado e tendo informações atualizadas nove anos
depois.
Mas enquanto essas transformações não ocorrem, as oportunidades devem ser
aproveitadas, já que quadro de total ignorância de seu público não interessa para
indústria, assim vivenciamos certas formas de promoção e disseminação de algum tipo
de saber, e são nessas brechas que se constroem os espaços de ação.

Coelho aponta ainda, que no Brasil essa realidade ainda não havia sido atingida,
pois algumas tentativas de mobilização sofreram prontamente algum tipo de repressão, e
o sistema político comercial ainda não se interessava pela proliferação das TVs à cabo,
por receio da alguns fatores como a liberdade de informação, da produção cultural e
também por medo da concorrência .

Para o autor torna-se indispensável continuar buscando os meios de pôr em


prática ações culturais e também políticas, que tornem os meios de comunicação mais
proveitosos à sociedade, e que essa, por sua vez, tenha a capacidade de influir
decisivamente sobre a produção e o uso desses meios.

Os apontamentos feitos por Teixeira Coelho no livro “O que é a Indústria


Cultural” traz um panorama bastante amplo sobre o assunto, partindo das definições e
do contexto histórico no qual surgiu o termo, o autor aborda de maneira clara, conceitos
que facilitam o entendimento acerca da construção e da veiculação dos produtos
culturais disseminados pela indústria, e como estes processos interferem na dinâmica da
nossa sociedade, como por exemplo, a tão citada alienação do sujeito através dos meios
de comunicação de massa.
Ao nos debruçarmos sobre o conceito de alienação, descrito por Coelho como o
processo em que o individuo ocupa uma posição passiva no recebimento das mensagens
veiculadas pelos meios de comunicação, não articulando seu pensamento sobre o que se
está e COMO se está consumindo esse tipo de produção, buscando somente uma “falsa
sensação” de prazer, podemos traçar um paralelo com a teoria hipodérmica, abordada
por Mauro Wolf, no livro “Teorias da Comunicação”, onde é exposto que quando um
estímulo, como por exemplo uma mensagem radiofônica, entra no individuo sem que
este ofereça qualquer tipo de resistência, da mesma maneira que uma agulha de seringa
penetra na pele humano, tal conceito é denominado de teoria hipodérmica, e para este
processo é fundmaental que se tenha o enteimento do conceito de massa, pois para os
líderes da corrente, a massa era vista como um consjunto de indivíduos compeltamente
isolados de suas referencias, agindo somente em nome de sua própria satisfação.

Um ponto a ser destacado na escrita de Coelho é que ele consegue expor e


delimitar com bastante cautela, tanto os aspectos positivos, quanto negativos da
indústria cultural, ambos muito bem embasados por inúmeros conceitos, o que deixa pra
nós leitores o devido espaço para desenvolvermos nossas considerações.

Após a leitura, percebe-se que essa área de estudo está em constante processo de
mutação, pois está diretamente ligada as trasnformações da nossa soceida, bem como
atrelada ao desenvolvimento das novas ecnologias de infromaçoe e comunicação.
Assim,Teixeira Coleho, dentro de seu contexto e seu recorte temporal, tenta traçar
algumas soluções para os problemas relacionados a industria cultural.

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