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1 AUTORIA
Três pontos são e sempre foram essenciais para a compreensão de autoria: a autoridade,
a autenticidade e a legitimidade. Como em um jogo de lógica, um discurso autoral e
autêntico pode vir a ser legitimado, quando evaluado por outrem; ainda, a autoria
precisa de uma autorização para dizer, para ser a fonte do dizer; e a legitimidade do que
se diz vem do reconhecimento consensual de uma comunidade ou sociedade.
Dentro desse contexto, é relevante discutir a questão dos direitos morais e patrimoniais
do autor, que são cruciais na maneira em que se produz e se põe em circulação a obra,
atribuindo-a valor. Pode-se entender um autor como um indivíduo criador de um
trabalho original, o que lhe garante proteção legal de propriedade intelectual – “direitos
do autor” ou copyright. Porém, desde a década de 1990, softwares abertos como o
Creative Commons e o Wikipedia colocam em pauta justamente os direitos autorais.
Iniciativas como o CC “libertam os autores da lógica do copyright, de modo que passem
a administrar as relações entre cadeias criativas, produtivas e de recepção.” (Ibid, p. 43).
É bastante interessante observar, hoje em dia, como muitas produções baseiam-se em
licenças que, de certa forma, cedem a autoridade e a autenticidade da obra dentro de
espaços amplos como a internet, onde tais ideias são difusas e dão margem ao plágio.
Abrir o conteúdo ao uso público é uma maneira de legitimidade, por exemplo, no que
tange a produção de materiais didáticos com o compartilhamento de unidades didáticas
a fim de facilitar o trabalho de um docente e contribuir para a criação coletiva, de
diversos autores que se encontram em qualquer parte do planeta. Por mais que haja um
nome atrelado ao conteúdo de licença aberta, é de senso comum que poderá cair ao
anonimato quem o produziu, mas seu uso ainda assim mantém-se considerável.
2 EDIÇÃO
Pode-se pensar em três significados correntes para “edição”, que correspondem a três
palavras diferentes do inglês (edition, publishing, editing): (1) o termo refere-se ao
objeto publicado, muitas vezes vindo atrelado a uma característica, tal qual “primeira
edição”, “edição comentada”, etc. – em inglês, edition; (2) como sinônimo de
“publicação”, mas também designa o mercado ou o campo da publicação – em inglês,
publishing; (3) o processo de editar, que pode ser uma prática diferente da publicação,
como a edição de vídeos, por exemplo – em inglês, editing.
Apesar de línguas latinas como o português, o espanhol e o francês não possuírem esses
três vocábulos ingleses, “edição” abraça a todas as acepções mencionadas acima. Assim
como quando se diz da “edição de livros infantis”, fala-se tanto do processo editorial, da
publicação, como do nicho de mercado. Uma “edição póstuma” abarca as três ideias
também. Ainda, uma “edição cartonera” inclui o livro cartonero, com sua qualidade de
ter uma capa feita de papelão; a publicação de livros desse tipo; a prática de fazer livros
cartoneros – o processo de coletar o papelão, higienizá-lo, cortá-lo, fazê-lo
transformar-se em capa de livro, pintá-lo e costurá-lo ao miolo de folhas.
Por sua vez, “edição”, “editar” e “editor” não são exclusivos do universo dos livros. Diz
também respeito a uma série de funções, ferramentas, atribuições, processos de
trabalho, tais como a edição/o editor de texto, arte, imagem, vídeo, som, etc. No geral, o
“objetivo primordial é preparar certos materiais ‘brutos’ (nas editoras, os chamados
‘originais’) para circular publicamente.” (MUNIZ JR., 2020a, p. 69) Todas essas
materialidades são editáveis, isto é, são manipuláveis segundo certos critérios (clareza,
legibilidade, equilíbrio…); com uma quantidade imensa de procedimentos (tradução,
decupagem, finalização…) que podem ser subdivisões ou etapas do “editar”; tudo isso
coordenado pela figura de um/a “editor/a”.
3 EDIÇÃO INDEPENDENTE
Em Independientes, ¿de qué? (2016), Hernán López Winne e Víctor Malumián definem
o editor independente de acordo com os seguintes critérios: (1) mercado – o editor
independente deve pensar seu catálogo de forma que seja coerente ao seu conteúdo e
não às modas temáticas que atravessam o mercado editorial; (2) a autonomia nas
decisões de suas publicações; (3) aporte de capital – uma editora independente não
pode ser parte de um grupo econômico ou tomar decisões por pressão de acionistas, as
publicações não podem estar reduzidas apenas ao lucro; (4) agente cultural – o editor
independente almeja ser um agente de mudança, aporte e sustento da cultura; (5)
profissionalismo. (MALUMIÁN; WINNE, 206, p. 5-13)
Por fim, uma edição independente é uma forma de autonomia intelectual e financeira.
Busca por “maneiras alternativas de produção e circulação dos objetos” (RIBEIRO,
2020, p. 76) e pela liberdade na “escolha de temas, autores/as e abordagens pouco
comuns nas editoras do dito mainstream.” (MUNIZ JR., 2020b, 76).
BIBLIOGRAFIA
SALGADO, Luciana Salazar. Autoria. In: RIBEIRO, Ana Elisa; CABRAL, Cleber
Araújo (org.). Tarefas da edição: pequena mediapédia. Belo Horizonte: Impressões de
Minas, 2020. p. 40-44.
MUNIZ JR., José de Souza. Edição. In: RIBEIRO, Ana Elisa; CABRAL, Cleber Araújo
(org.). Tarefas da edição: pequena mediapédia. Belo Horizonte: Impressões de Minas,
2020a. p. 68-72.
______. Edição independente. In: RIBEIRO, Ana Elisa; CABRAL, Cleber Araújo
(org.). Tarefas da edição: pequena mediapédia. Belo Horizonte: Impressões de Minas,
2020b. p. 73-76.