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Gostaria de comentar sobre a Operação Acolhida, uma medida tomada ainda no governo

de Michel Temer, que se iniciou em abril de 2018, e foi continuada por Jair Bolsonaro. A
Operação é feita pelo Ministério da Defesa, por agências da ONU e mais de 100 entidades
da sociedade civil. Oferece apoio emergencial aos refugiados e migrantes venezuelanos
que entram no Brasil pela fronteira com Roraima. Se organiza em três eixos:

1. Ordenamento da fronteira – documentação, vacinação e operação controle do Exército


Brasileiro;

2. acolhimento – oferta de abrigo, alimentação e atenção à saúde;

3) interiorização – deslocamento voluntário de venezuelanos de RR para outras Unidades


da Federação, com objetivo de inclusão socioeconômica.

Fonte: Operação Acolhida. Governo do Brasil. Disponível em:


[https://www.gov.br/acolhida/historico/]. Acesso em: 18 out. 2020.

Lendo algumas reportagens a respeito, gostaria de fazer alguns comentários sobre a


Operação Acolhida que constatei:

1. Assim como diz MENEZES et. al. (2019) no artigo “Política migratória no Brasil de Jair
Bolsonaro: ‘Perigo estrangeiro’ e retorno à ideologia de segurança nacional”:

“Na falta de um plano de governo com diretrizes migratórias adequadas para lidar com o
problema, e diante do quadro emergencial, o recém-empossado presidente definiu pela
continuidade por um ano, até o final de 2019”. (p. 312)

A prorrogação do programa foi anunciada no dia 17/01/2020, uma das primeiras medidas de
Bolsonaro, sendo que o orçamento previsto era até o final de março de 2019.

Representantes da sociedade civil envolvidos com a questão migratória em Roraima


estavam apreensivos que o programa terminasse, devido à instabilidade política do período
eleitoral e da saída do Brasil do Pacto Global para a Migração. A notícia foi tomada como
um grande alívio.

Camila Asano (coordenadora da ONG Conectas Direitos Humanos) disse que essa medida
é um compromisso assumido pelo novo governo.

Fonte: Programa de acolhida a venezuelanos em RR é prorrogado; sociedade civil expressa alívio e


expectativa. Migra Mundo. Disponível em:
[https://www.migramundo.com/programa-de-acolhida-a-venezuelanos-em-rr-e-prorrogado-sociedade-
civil-expressa-alivio-e-expectativa/]. Acesso em: 18 out. 2020.
2. O período de prorrogação, a início, foi de 12 meses, mas não havia sido definido. No
entanto, em 16/01/2020, o comando da Operação Acolhida foi passado do General de
Divisão do Exército Brasileiro Eduardo Pazuello para o General Antônio de Manoel Barros.

Ainda nesse evento, estiveram presentes alguns representantes e presidentes de empresas


do setor aéreo (Gol, Latam, Azul, Infraero, FRAPORT, BH Airport, Viracopos Airport, GRU
Airport e Associação Brasileira de Empresas Aéreas), que firmaram uma cooperação que
estabelece a gratuidade do transporte aéreo, no Brasil, de imigrantes e solicitantes de
refúgio de solicitantes da Operação Acolhida. (1)

Em reportagem da Agência Brasil de Comunicação de 14/09/2020, afirma-se que, mesmo


com a pandemia do novo coronavírus, a Operação segue em funcionamento. Que desde o
início de 2020, mais de 13,9 mil estrangeiros foram contemplados por ela. (2)

Os fatos acima levam a crer na continuidade da Operação Acolhida.

Fontes:

(1) Passagem de Comando da Operação Acolhida. Força Aérea Brasileira. Disponível em:
[https://www.fab.mil.br/noticias/mostra/35269/EVENTO%20-%20Passagem%20de%20Comando%20
da%20Opera%C3%A7%C3%A3o%20Acolhida]. Acesso em: 18 out. 2020.

(2) Operação Acolhida recebeu 1,3 mil venezuelanos no país em agosto. Radioagência Nacional.
Disponível em:
[https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/direitos-humanos/audio/2020-09/operacao-ac
olhida-recebeu-13-mil-venezuelanos-no-pais-em-agosto]. Acesso em: 18 out. 2020.

3. O Ministério Público Federal anunciou em 12/10/2020 que enviará uma força-tarefa para
acompanhar o trabalho de realocação dos migrantes venezuelanos atendidos pelo
programa. A intenção é garantir que todos os direitos estejam sendo respeitados.

Em setembro deste ano, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão solicitou


informações sobre uma previsão de redução de orçamento para (apenas) 25% do atual, em
2021. Apesar de haver suspeitas de que o programa se encerre no fim do próximo ano, o
general Antonio Barros informa que não, que “encontra-se em estudo uma transição da
coordenação das atividades com o propósito de garantir sua continuidade”. (1) O MPF
ordenou essas informações no dia 16/10/2020, com prazo de 10 dias de resposta. (2)

O procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, afirma:

“O encerramento de uma política de Acolhida à população migrante pressupõe o início de


outra apta a substituir de maneira satisfatória e a aprimorar a anterior.” (1)

Essa preocupação do MPF também é devida à ordem de despejo comunicada há um mês,


em 17/09/2020, pela Operação Acolhida em Boa Vista, da ocupação espontânea de
Ka´Ubanoko, onde vivem cerca de 850 migrantes venezuelanos, indígenas e não-indígenas,
um grupo de quatro etnias diferentes. A data limite da desocupação total do espaço é até 28
de outubro. (3)

A comunidade é a única ocupação autogerida por migrantes em Roraima. Deram-lhes a


alternativa de realocação a abrigos geridos pelo próprio Exército, mas, como bem aponta a
página do MST, esses abrigos “já se encontram superlotados e com perigo de
contaminação em massa de COVID-19.” (3) E são nos abrigos onde é o feito o trabalho de
interiorização das famílias, que são enviadas para trabalhar em diversos estados do Brasil.
(4)

Alguns moradores da comunidade já viveram nos abrigos e dizem ser uma experiência que
não gostariam de vivenciar novamente, por ser um local sem privacidade, com condições de
moradia insalubres, um espaço que limita a prática dos costumes tradicionais desses povos.
(4)

Fontes:

(1) Força-tarefa do Ministério Público Federal vai fiscalizar realocação de venezuelanos pelo Exército
na Operação Acolhida. Estadão. Disponível em:
[https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/forca-tarefa-do-ministerio-publico-federal-vai-fisc
alizar-realocacao-de-venezuelanos-pelo-exercito-na-operacao-acolhida/] Acesso em: 18 out. 2020

(2) MPF questiona redução de orçamento e fim da Operação Acolhida em 2021. Roraima Em
Tempo. Disponível em:
[https://www.roraimaemtempo.com/ultimas-noticias/mpf-questiona-reducao-de-orcamento-e-fim-da-op
eracao-acolhida-em-2021,374723.jhtml] Acesso em: 18 out. 2020.

(3) Comunidade de migrantes venezuelanos e indígenas sofre ameaça de despejo. Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra. Disponível em:
[https://mst.org.br/2020/09/23/comunidade-de-migrantes-venezuelanos-e-indigenas-sofre-ameaca-de
-despejo/]. Acesso em 18 out. 2020.

(4) Operação elogiada por Bolsonaro na ONU despeja venezuelanos em Boa Vista (RR). Brasil de
Fato. Disponível em:
[https://www.brasildefato.com.br/2020/10/04/operacao-elogiada-por-bolsonaro-na-onu-despeja-venez
uelanos-em-boa-vista-rr] Acesso em: 18 out. 2020.

4. O governo de Jair Bolsonaro tem se movimento para que a Operação Acolhida ganhe o
Nobel da Paz em 2021. Integrantes das Forças Armadas e do Palácio do Planalto estão
trabalhando para fortalecer a candidatura do programa.

A ajuda para fortalecer a campanha foi pedida inclusive para Mike Pompeo, Secretário de
Estado dos Estados Unidos, quando este visitou a Operação Acolhida em Boa Vista, em
setembro deste ano.

Fonte: Tocada pelo Exército, campanha quer dar Nobel da Paz para Bolsonaro em 2021. IG.
Disponível em:
[https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2020-10-10/tocada-pelo-exercito-campanha-quer-dar-
nobel-da-paz-para-bolsonaro-em-2021.html]. Acesso em: 18 out. 2020.

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