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PR-PA-00045612/2023

MINUTA

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA DA REPÚBLICA - PARA/CASTANHAL
GABINETE DE PROCURADOR DA REPÚBLICA

MEMÓRIA DE REUNIÃO

Assinatura digital conjunta, primeira assinatura em 18/09/2023 18:05. Para verificar a autenticidade acesse
Nº 91/2023

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1. Aos catorze dias de setembro de 2023, com início às 12h39min e fim às
13h54min, na sede da Procuradoria da República do Pará, o Procurador da República Sadi
Flores Machado, titular do 13º Ofício, no interesse das populações tradicionais atingidas
pela Norsk Hydro, reuni-se com Ademar Ribeiro (representante da APOVO), Paulo Feitosa
(do Instituto dos Ribeirinho do Pará), Maria do Socorro (representante da Cainquiama),
Risonilde Cardoso da Silva (enfermeira vinculada à Cainquiama) e Elidiane Cardim
(membra do comitê de execução do Termo de Ajustamento de Conduta - TAC em face da
HYDRO).

2. Inicialmente, os participantes identificaram-se, passando o Procurador da


República Sadi Flores Machado a expor a atuação do gabinete do 13º Ofício e da
Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), destacando a atuação do MPF na
defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis, colocando-se à disposição para atuar
no interesse das populações, valorizando cada informação e demanda que tais associações
tragam a este Parquet. Ademais, frisou que o MPF reconhece a violação de direitos de tais
populações e reiterou que está a disposição para a resolução salutar dessas demandas.

3. Ao ter a fala, Paulo Feitosa destacou que já foram atingidos por 29 desastres
ambientais, mas veio tratar do caso emblemático que envolve a HYDRO e destacou que foi
firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e que está sendo conduzido
pelos signatários do termo, como MPF, MPPA, Estado do Para por meio de suas Secretarias,
mas estão irresignados, pois sentem que as deliberações dessas reuniões só estão valorizando
as empresas e não a sociedade civil. Destacou, ademais, que não foi feito nesses 5 (cinco)
anos nenhum estudo a respeito do potencial lesivo da atuação da HYDRO e os danos que
causaram aos indivíduos da região, fato que impede a indenização das famílias atingidas.
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Continuamente, frisou que a sociedade civil participa de um conselho, mas não há direito a
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voto e nem ao veto, ou seja, é uma participação meramente formal, apenas para justificar os
atos do TAC. Fato este reforçado pela Sra. Elidiane, que destacou ainda que as auditorias
antropológica e epidemiológica, demografica, etnologica não foram concluidas, deixando,
portanto, as comunidades sem assistência e atendimento. Destacou, ademais, que os prazos do
TAC estão expirando, alguns já foram até renovados, mas o TAC não teve suas cláusulas
resolvidas.

4. Em resposta, o Procurador da República informou que, segundo seu


entendimento, a execução do TAC deve ser dinâmica e conforme à realidade atual, sob pena
de algumas das cláusulas se revelarem obsoletas.

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5. Diante disso, Paulo Feitosa reiterou que a sociedade civil não está sendo

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beneficiada, mas apenas as empresas. No mesmo sentido, o Sr. Ademar Ribeiro reportou que
até hoje não foi feito nada para beneficiar a sociedade civil, que continua sem reparação, sem
recursos e sem assistência médica. Afirmou, além disso, que deve ser feito algo que possa
pressionar o poder público para defender os interesses da comunidade, pois as empresas
sempre saem em vantagens, mesmo sendo multadas em milhões.

6. Ademar Ribeiro ainda destacou a atuação essencial do Ministério Público


Federal, já que por mais que eles se esforcem é preciso que o MPF atue conjuntamente para
poder resolver a questão. Sem isso, a luta da comunidade, segundo ele, não terá sucesso.

7. À frente, Elidiane Cardim disse que os valores das multas e do TAC estão
depositados em um fundo estadual, denominado de Fundo Estadual de Meio
Ambiente (FEMA), mas nesses 5 (cinco) anos não foram repassados para a
comunidade. Suscitou, ainda, o Projeto da agua de São Francisco que possui previsão de
implantação de R$ 8 milhões, que terá como objetivo fornecer água para determinadas
comunidades, mas sua execução também não está apropriada. Além disso, destacou que
a HYDRO pagou a multa e os valores estão sob gestão da Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), mas não vem atuando de forma célere. Elidiane
Cardim destacou que faz parte da comissão, mas apenas sabe dos valores que compõe o
fundo, mas não chega nada à comunidade.

8. Paulo Feitosa disse que as multas deveriam ser direcionadas aos projetos
sociais e as indenizações seriam para outro fundo. Na época foi depositada R$ 250 milhões,

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mas houve aditivos. A respeito do estudo etnográfico, frisou que eles dividiram o rio em dois,
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mas apenas uma das margem recebeu a indenização emergencial. Ademais, o MPF contratou
um especialista para fazer o estudo etnográfico, mas por influência da HYDRO, o técnico só
visitou as comunidade quilombola, deixando de fora diversas comunidades, como as
ribeirinhas. A HYDRO exigiu que apenas os quilombolas deveriam ser objeto do estudo.
Assim, como o técnico não visitou as demais comunidades, os ribeirinhos não foram
contemplados pelo. Ademais, destacou que o técnico foi escolhido pelo MPF, mas pago pela
HYDRO, que exigiu, coimo dito anteriormente, que fossem contemplados apenas os
quilombolas. Afirmou que teve uma conversa com o antigo titular do gabinete 13, na qual
reportou essas questões.

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9. Além disso, o Paulo Feitosa afirmou que deseja que os ribeirinhos também
sejam beneficiados pelos estudos para que possam receber as indenizações necessárias.

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10. Diante disso, o Procurador da República explicou a atuação do Nupovos e
da PRDC, especialmente sobre o eixo transversal de atuação a respeito do tema empresas e
direitos humanos.

11. Ao ter novamente a fala, Elidiane Cardim disse que a HYDRO tentou
contratar uma empresa que possuía relações empresariais com a própria HYDRO, mas não
obteve sucesso em razão da atuação do MPF. O Sr. Paulo Feitosa falou que há dois recursos
no caso da HYDRO, o valor da multa que deverá ser aplicado em projetos sociais, o outro
recurso é um termo de compromisso da ALUNORTE com o Estado do Pará e tem R$164
milhões, esses recursos deverão aplicados para ações estruturantes e para projetos sociais.
Assim questionaram à PGE quem iria administrar tais recursos, mas os valores continuam
parados. Destacou que alguns valores foram aplicados em certos projetos, como um de
reciclagem, mas não funcionam. Mas, frisou que a escola técnica construída tem ajudado a
população.

12. Diante disso, Paulo Feitosa realizou reuniões com as comunidades para
escutar as suas respectivas demandas, que resultaram em 21 (vinte e um) pontos prioritários,
para poder destinar os recursos aos pontos mais essenciais. Os projetos foram apresentados,
mas estão realizando outros para apresentações futuras, um dos quais será entregue a esta
Procuradoria no prazo de duas semanas. Frisou que os projetos custarão cerca de R$80
milhões de reais e o valor restante ficará a cargo da Prefeitura de Barcarena (a soma total
chega a R$184 milhões).

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13. Após a fala, o Procurador da República aconselhou que programas de
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capacitação da sociedade civil a respeito da fiscalização do orçamento público, especialmente
no tocante à execução de tais recursos.

14. De posse da fala, Paulo Feitosa afirmou que o prefeito de Barcarena está
ciente da proposta dos projetos da comunidades, assim, destacou que deve ser feita uma
recomendação do MPF a respeito da questão. À frente, reportou que o transbordo da
HYDRO atingiu determinada área agrícola, contaminando o solo e inviabilizando a
agricultura. Um dos projetos tem como ideia a construção de agrovila e agroindústria para as
120 famílias que foram atingidas pela contaminação. Ademais, a cultura da pesca está sendo

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mitigada, fato que precisa um projeto de fomento

15. Novamente com a fala, o Procurador da República destacou que Belém está

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no centro do debate ambiental, em razão da COP 30 e da discussão sobre as mudanças
climáticas, já que houve uma certa diáspora ambiental. Assim deve ser feito um argumento
para conciliar a diáspora dessas populações e sua relação intrínseca com as mudanças
climáticas.

16. Paulo Feitosa destacou a necessidade do ecoturismo, para trazer pessoas para
conhecer essas áreas, principalmente durante a COP 30.

17. O Procurador da República salientou que a União possui um considerável


estoque de terras públicas pendentes de destinação adequada. Adiante, Elidiane Cardim
destacou que houve uma ocupação em uma área, mas logo houve houve decisão judicial com
reintegração em razão de se tratar de área de proteção ambiental, contudo no local, anos
depois, foi utilizado para o deposito de resíduos. Ademais, sublinhou que várias áreas que
eram de proteção ambiental foram invadidas e desmatadas, mas por empresas. Destacou que a
HYDRO apenas trouxe mazelas, como o alto índice de pessoas com câncer em Abaetetuba e
Barcarena devido a contaminação/dano/ impacto ao contaminar o solo, o ar e agua dessas
áreas.

18. Em sua fala, Maria do Socorro destacou entender que se configura um


genocídio decorrente de sucessivos crimes ambientais perpetrados por ação e omissão do
Estado e das empresas. Salientou sua preocupação com as futuras gerações devido aos crimes
ambientais. Além disso, disse que está provado que há contaminação das populações pelos
grande projetos sem observar qualquer medida para manter a saúde da comunidade, pois não
foram tomadas providências para proteger essas populações. Reportou o caso de seu marido,
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que não teve o atendimento apropriado, fato que ocasionou seu óbito. Pontuou que é um
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absurdo que as empresas imponham seus interesses no TAC. Frisou que entende inadmissível
que os agentes que representam as empresas que cometeram ilicitudes criminosos sentem à
mesa e decidam como o TAC é executado. Ademais, as terras das comunidades estão sendo
usurpadas por terceiros com apoio da municipalidade. Frisou que a Prefeitura de Barcarena
está regularizando terras para a HYDRO.

19. Diante da sensível fala, o Procurador da República informou que a temática


da saúde conta com previsão de atividades e vistorias a serem realizadas pelo Núcleo de
Cidadania da PR/PA (NUCID), para visita em Barcarena. Ademais, convidaram o Ministério

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Público do Estado para a visita, além de levar tais questões ao Ministério dos Direitos
Humanos e Saúde.

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20. Ademar Ribeiro salientou que há mais de 05 (cinco) mil desapropriados da
barragem da Tucuruí, diante disso foi solicitado à ELETRONORTE a lista de pessoas
desapropriados, mas foi negado o acesso. As informações são importantes, pois não houve
indenização para população, mas a ELETRONORTE diz que já indenizou. Desse modo,
a APOVO quer acesso aos documentos.

21. Diante das informações, o Procurador da República destacou ser importante


acionar a Defensoria Pública da União (DPU) no tocante às demandas individuais, para o
devido encaminhamento, sem prejuízo da atuação do MPF no tocante às demandas coletivas.

22. Encerrou-se, assim, o ato, lavrando-se o presente registro a partir da memória


de reunião lavrada pelo A analista do MPF André Luiz Silva da Cruz e pelo estagiário de pós-
gradução Lucas Vinicio Reis da Silva.

SADI FLORES MACHADO

PROCURADOR DA REPÚBLICA
PROCURADOR REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

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Assinatura/Certificação do documento PR-PA-00045612/2023 ATA nº 91-2023

Signatário(a): SADI FLORES MACHADO


Data e Hora: 18/09/2023 18:05:19
Assinado com login e senha

Signatário(a): ANDRE LUIZ SILVA DA CRUZ


Data e Hora: 19/09/2023 14:26:55
Assinado com login e senha

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