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Felipe Gregório dos Santos Silva

OAB/MG 189.877

ILUSTRÍSSIMA SENHORA PRESIDENTE DA SESSÃO DA CHAMADA


PÚBLICA DO EDITAL Nº 01/2024 – DAS CAIXAS ESCOLARES
ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE BARROSO/MG.

Cooperativa de Agricultura Familiar e Região, pessoa jurídica


de direito privado, inscrita no CNPJ nº 20.774.118/0001-84, com sede junto
à Rua Estevão Cândido, s/n, Bairro Matador, em Lima Duarte/MG,
representada por sua Presidente, Sra. Edileia Alves Machado, brasileira,
divorciada, filha de Francisco Alves Filho e Maria Aparecida Machado Alves,
nascida em 05/09/1975, portadora da identidade SSPM/MG 8961713, CPF
028.282.496-03, residente e domiciliada na Rua Eliseu Meloti, nº 31, Bairro
Cruzeiro, Lima Duarte/MG vem, por meio de seus procuradores, conforme
procuração em anexo, interpor

RECURSO ADMINISTRATIVO

face a decisão de habilitação/seleção para fornecimento de


gêneros alimentícios das Caixas Escolares Estaduais do Município de
Barroso/MG.

Preliminarmente.

Da tempestividade.

O presente recurso é tempestivo, tendo em vista estar sendo


interposto dentro do prazo legal, conforme regimento do edital.

Dos fundamentos.

Fora realizado o processo de seleção dos fornecedores para o


suprimento de oferta de demanda de alimentos relacionados ao projeto
da agricultura familiar, no último dia 22 de janeiro de 2024.

Realizado o pregão e presentes os interessados, as propostas


foram analisadas, de modo que 12 (doze) fornecedores foram
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selecionados, dentre eles a Associação de Defesa e Associação de


Desenvolvimento Ecológico-Ambiental de São Tiago e Região, em caráter
residual, tendo em vista a preferencia preenchida pelos produtores locais.

No que toca à esta recorrente, conforme ata em anexo, o critério


desclassificatório fora em razão da localização geográfica, tendo sido
preteria em relação à Associação de Desenvolvimento Ecologico-Ambental
de São Tiago e Região.

Acontece que a seleção da referida entidade viola as normas


legais, tendo em vista esta se constituir, na espécie, como associação, de
modo que, por força de Lei, não poderia possuir fins lucrativos.

As associações são organizações sem fins lucrativos e entidades


de direito privado que reúnem pessoas em favor de um bem comum em
prol do bem estar, do social, da cultura, política, filantropia ou realização
de processos produtivos de bens e/ou serviços coletivos.

Urge esclarecer, que, uma vez participando o procedimento


público, sua participação contraria as disposições legais, considerando
haver uma verdadeira confusão entre a finalidade a que se destina a
referida associação na prática e aquilo predisposto em Lei.

Ora, qual seria a razão da instituição de associação e sua


permissão para a participação de procedimento licitatórios sendo que não
poderia haver qualquer finalidade lucrativa?

Veja que quando a associação participa, de certa maneira, do


procedimento licitatório está a realizar atividades financeiras, sendo que o
seu papel, na verdade, deveria ser o de auxiliar os agricultores associados,
porquanto a finalidade dos agricultores da agricultura familiar é
exatamente o subsídio de si próprio por assim o serem.

Não se pode perder de vista, ainda, que a mesma é composta de


associados, que na verdade, são produtores, pelo que também produzem,
o que portanto, geraria lucro para os mesmos.
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Ora, ainda que se discuta sobre a associação, vencedora da


chamada pública, atuar de modo a facilitar a vida dos associados, não teria
outra função, senão a estimular o negócio gerado pela atividade dos
associados: a venda dos produtos que produzem.

DA CONDIÇÃO DE OSC/OSCIP.

É sabido que a OSCIP é uma qualificação jurídica atribuída a


diferentes tipos de entidades privadas atuando em áreas típicas do setor
público com interesse social, que podem ser financiadas pelo Estado ou
pela iniciativa privada sem fins lucrativos. Ou seja, as entidades típicas do
terceiro setor.

A OSCIP está prevista no ordenamento jurídico brasileiro como


forma de facilitar parcerias e convênios com todos os níveis de governo e
órgãos públicos (federal, estadual e municipal) e permite que doações
realizadas por empresas possam ser descontadas no imposto de renda

Há que se esclarecer, aliás, que embora não tenha a qualificação


de uma OSC (Organização da Sociedade Civil), a associação recorrida
possui parceria com o Governo do Estado por meio de convênio, eis
que na condição de uma associação, a mesma, no documento em
anexo, em 2021, recebeu verba no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta
mil reais).

Aliás, destaca-se que do documento da verba recebida, o portal


da transparência do Estado qualifica a associação como OSC – vejamos:
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Desta maneira, não é justo que seja favorecida, enquanto


condição de OSC, gozando de recebimento de convênios com o Estado
e ainda possa participar de pregões públicos para concorrer à
fornecimento para o Estados e Municípios.

Do precedente firmado no acórdão 746/2014.

Presidente, no que toca à questão específica de uma associação


poder licitar, a matéria foi levada à apreciação do Tribunal de Contas da
União que destacou a possibilidade de uma associação poder concorrer
em procedimentos licitatório.

Faz-se mister esclarecer, no entanto, a ressalva ementada no


acórdão quando a entidade do terceiro setor se enquadra na
qualificação jurídica de uma OSCIP - Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público.

Na apreciação da matéria em questão, o Tribunal de Contas


Firmou precedente no sentido de ser “vedado às Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, atuando nessa condição,
participarem de processos licitatórios promovidos pela Administração
Pública Federal”;

Vejamos a ementa:

REPRESENTAÇÃO. GRUPO DE TRABALHO CRIADO PARA AVALIAR A


LEGALIDADE DA PARTICIPAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE
CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO - OSCIP EM CERTAMES DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL. DESVIRTUAMENTO DA
FORMA DE RELACIONAMENTO COM PODER PÚBLICO PREVISTA
NA LEI N. 9.790/1999. QUEBRA DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
IMPOSSIBILIDADE. CIÊNCIA AOS ÓRGÃOS E ENTIDADES DA
ADMINISTRAÇÃO. 1. Às Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público, atuando nessa condição, é vedado participar de
certames da Administração Pública Federal, porquanto tal agir
implica ofensa à Lei n. 9.790/1999, que dispõe ser o Termo de
Parceria o meio adequado de relacionamento entre elas e o Poder
Público. 2. A participação de OSCIP em torneios licitatórios da
Administração Pública consubstancia quebra do princípio da isonomia,
eis que tais entidades possuem benesses fiscais, a elas concedidas para
atuarem mediante o estabelecimento de Termo de Parceria.
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Na decisão, o nobre Ministro Relator destaca que:

A atuação de uma OSCIP volta-se, portanto, para o atendimento do


interesse público, mediante serviços de cunho social, e não para o
fornecimento de bens e serviços para a administração pública. Sua
área de atuação é incompatível, no meu entendimento, com os
serviços de que nos fala o artigo 6º, inciso II, e artigo 13 da Lei
8.666/1993.’ Com espeque na abordagem teleológica, de real
propósito da criação das OSCIP, seu contexto e objetivos, explicitados
na publicação do Ministério da Justiça com vistas a divulgar a Lei
9.790/1999, compartilhamos das impressões do Exmo. Ministro Marcos
Vilaça, no sentido de incompatibilidade entre a atuação de entidades
dessa natureza e a prestação de serviços por meio de contratos
administrativos com o Poder Público nos moldes atuais. (grifei).

Ilustre Presidente, embora a matéria seja relacionada à


administração pública federal, deve ser aplicado o princípio da simetria à
decisão advinda do TCU, porquanto destina-se a evitar a aquilo que se
busca: favorecimento ilícito com a administração pública.

Veja: o Princípio da Simetria determina que há de existir uma


relação de paralelismo entre as disposições constitucionais destinadas à
União e os demais entes federativos.

No que toca ao precedente, o STF enfrentou exaustivamente


situações em que Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais
possuíam disposições que não encontravam amparo na própria
Constituição Federal que, por sua vez, apenas solucionava a questão em
âmbito federal.

Diante da ausência de postulado normativo com regras


específicas aos Estados, o STF entendeu que a CRFB, apesar de silente,
poderia limitar-se a oferecer NORMAS-PRINCÍPIOS a serem interpretadas
pelo Supremo.

“(…)ao chamado princípio ou regra da simetria, que é construção


pretoriana tendente a garantir, quanto aos aspectos reputados
substanciais, homogeneidade na disciplina normativa da
separação, independência e harmonia dos poderes, nos três planos
federativos. Seu fundamento mais direto está no art. 25 da CF e no art.
11 de seu ADCT, que determinam aos Estados-membros a observância
dos princípios da Constituição da República. Se a garantia de simetria
no traçado normativo das linhas essenciais dos entes da federação,
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mediante revelação dos princípios sensíveis que moldam a


tripartição de poderes e o pacto federativo, deveras protege o
esquema jurídico-constitucional concebido pelo poder
constituinte, é preciso guardar, em sua formulação conceitual e
aplicação prática, particular cuidado com os riscos de
descaracterização da própria estrutura federativa que lhe é
inerente.” (ADI 4.298 MC, voto do rel. min. Cezar Peluso, j. 7-10-2009,
P, DJE de 27-11-2009.) = ADI 1.521, rel. min. Ricardo Lewandowski, j.
19-6-2013, P, DJE de 13-8-2013.

Desta maneira, portanto, a decisão do Tribunal deve ser


estendidas às demais entidades.

Dos pedidos.

Ante ao exposto, requer:

1 – Seja ADMITIDO O PRESENTE RECURSO.

2 – No mérito seja dado PROVIMENTO AO RECURSO, a fim de


que seja declarada inabilitada a Associação de Defesa e Associação de
Desenvolvimento Ecológico-Ambiental de São Tiago e Região em razão da
impossibilidade de licitar com a administração Pública.

3 – Seja DECLARADA A RECORRENTE COMO VENCEDORA em


substituição à Associação de Defesa e Associação de Desenvolvimento
Ecológico-Ambiental de São Tiago e Região, a fim de serem fornecidos
alimentos residuais a ela outrora destinados.

Termos em que
Espera provimento.

Lima Duarte/MG, 26 de janeiro 2024.

Felipe Gregório dos Santos Silva


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FELIPE Assinado de forma


digital por FELIPE
GREGORIO GREGORIO DOS
DOS SANTOS SANTOS
SILVA:1130910 SILVA:11309103690
Dados: 2024.01.26
3690 20:05:42 -03'00'

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