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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINOVAFAPI

BACHAREL EM DIREITO
DIREITO DE EMPRESA – FALÊNCIA, RECUPERAÇÃO E TÍTULOS DE
CRÉDITO 8º PERÍODO
ALUNO: Ray Wemerson Lima Costa

TERESINA-PI, 01 DE MAIO DE 2023


Localidade
Brasil
Autoridade
Superior Tribunal de Justiça. 2ª Seção
Título
REsp 164389 / MG
Data
13/08/2003
Ementa
PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA FORMULADO PELA FAZENDA
PÚBLICA COM BASE EM CRÉDITO FISCAL. ILEGITIMIDADE. FALTA DE
INTERESSE. DOUTRINA. RECURSO DESACOLHIDO. I - Sem embargo dos
respeitáveis fundamentos em sentido contrário, a Segunda Seção decidiu adotar
o entendimento de que a Fazenda Pública não tem legitimidade, e nem interesse
de agir, para requerer a falência do devedor fiscal. II - Na linha da legislação
tributária e da doutrina especializada, a cobrança do tributo é atividade vinculada,
devendo o fisco utilizar-se do instrumento afetado pela lei à satisfação do crédito
tributário, a execução fiscal, que goza de especificidades e privilégios, não lhe
sendo facultado pleitear a falência do devedor com base em tais créditos.
Decisão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, prosseguindo no julgamento, após o
voto vista do Ministro Carlos Alberto Menezes Direito acompanhando o voto do
Ministro Relator, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal
de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por
maioria, vencidos os Ministros Ruy Rosado de Aguiar e Antônio de Pádua
Ribeiro, conhecer do recurso; também, por maioria, vencidos os Ministros
Relator e Carlos Alberto Menezes Direito, negar-lhe provimento. Na preliminar,
foram votos vencedores os Ministros Relator, Sálvio de Figueiredo Teixeira,
Cesar Asfor Rocha, Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito, Aldir
Passarinho Junior e Nancy Andrighi. No mérito, foram votos vencedores os
Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Cesar Asfor Rocha, Ari Pargendler, Aldir
Passarinho Junior e Nancy Andrighi. Não participou do julgamento o Ministro
Fernando Gonçalves (art. 162, § 2º, do RISTJ). Ausente, justificadamente, o
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. Presidiu a Sessão Ministro Barros Monteiro.
A falência é um instituto jurídico fundamental para promover a proteção do crédito
e os interesses que circundam a atividade comercial, como o objetivo de
maximizar os bens do ativo do devedor falido e promover o empreendedorismo,
com sua reabilitação à atividade econômica, conforme art. 75 da Lei nº 11.101.
Em face de sua importância, mostra-se fundamental a análise dos legitimados
para sua requisição.
Em um primeiro momento, a leitura rápida do art. 97, IV, que permite a
legitimidade de qualquer credor para o requerimento da falência, poderia deixar
entender que não há impedimento para o Fisco atuar nessa questão. Contudo,
por meio de uma análise mais cuidadosa é possível concluir que tal
posicionamento não merece prosperar.
O Fisco já possui a seu dispor a Execução Fiscal como meio processual eficiente
para pleitear o adimplemento de seus créditos tributários, o que faz com que não
exista efetivamente interesse de agir e legitimidade para o requerimento da
falência pelo ente público. Além disso, tal possibilidade implicaria em ofensa direta
ao princípio da impessoalidade, basilar da atuação da Administração Pública,
pois a requisição de falência em face de alguns devedores empresários e não de
outros, com base em critérios subjetivos, se converteria em tratamento não
igualitário, em detrimento do interesse público, sendo mais consentâneo a esta
sua restrição de uso aos particulares, que atuam em maior interação com o
empresário, sob normas privadas e em paridade de meios.
Em virtude de sua importante função social, ao crédito tributário são previstos
diversos privilégios e preferências, os quais não podem ser ignorados sob o risco
de ferir o próprio interesse público. Além de que, mesmo se frustrada a execução
e seguida de busca de amparo dentro do processo falimentar, não é possível
subverter a ordem de preferência legal para o pagamento dos créditos tributários,
que ocupam a terceira posição no art. 83 da Lei 11.101.
Desse modo, carece de fundamentação jurídica a decisão da Primeira Câmara
Reservada de Direito Empresarial do TJSP, que, na contramão do entendimento
majoritário, reconheceu a legitimidade do Fisco, merecendo ser reformada.
Importante considerar ainda que não é benéfico às empresas a ampliação
demasiada dos legitimados ativos para a falência tendo em vista que esta deve
ser uma saída extrema, usada como última ratio, quando ineficazes os meios de
recuperação judicial ou extrajudicial, tendo em vista o princípio da recuperação
das empresas. Por essas razões, o entendimento de que não há legitimidade da
Fazenda Pública para o requerimento da falência coaduna-se com os princípios
e as finalidades do ordenamento jurídico em geral e o regime falimentar em
particular.
Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial pela divergência,
negando lhe provimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Amador Paes de Curso de falência e recuperação de empresa —


27. ed. rev. e ampl. — São Paulo: Saraiva, 2013.
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm. Acesso em: 25/02/
2021.
BRASIL. Lei que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência
do empresário e da sociedade empresária. 2005. Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm
Acesso em: 25/02/ 2021.

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