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ACÓRDÃO
Documento: 1402692 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/06/2015 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.166.054 - RN (2009/0222532-0)
RECORRENTE : BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB
ADVOGADO : AIONA ROSADO CASCUDO RODRIGUES ROMANO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS DEVEDORES DAS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS DO SERIDÓ ADIFIS
ADVOGADO : GUILHERME SANTOS FERREIRA DA SILVA
RELATÓRIO
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.166.054 - RN (2009/0222532-0)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB
ADVOGADO : AIONA ROSADO CASCUDO RODRIGUES ROMANO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS DEVEDORES DAS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS DO SERIDÓ ADIFIS
ADVOGADO : GUILHERME SANTOS FERREIRA DA SILVA
EMENTA
DIREITO COLETIVO E DIREITO DO CONSUMIDOR. ASSOCIAÇÃO.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RENEGOCIAÇÃO DE DÉBITOS ORIUNDOS DE
CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR.
1. "As Turmas que compõem a Seção de Direito Privado não discrepam
sobre a legitimidade ativa de associação civil de defesa do consumidor,
preenchidos os requisitos legais, para ajuizar ação civil pública com o fim
de declarar a nulidade de cláusulas do contrato e pedir a restituição de
importâncias indevidamente cobradas" (REsp 313.364/SP, Rel. Ministro
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado
em 27/11/2001, DJ 06/05/2002, p. 287).
VOTO
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preceitos legais.
3. Ademais, no tocante ao pleito de preservação do direito constitucional de
ação, ao fundamento de que estaria impedido de promover execução extrajudicial e, portanto,
frustrado de reaver os créditos concedidos aos mutuários, verifica-se a falta de interesse
recursal na espécie.
Isso porque, se depreende que a pretensão almejada já foi deferida pelo
acórdão recorrido - modificando a sentença no ponto - justamente ao permitir a inclusão dos
nomes dos associados inadimplentes nos cadastros de restrição, a efetivação de protesto,
bem como a execução dos títulos oriundos dos contratos de crédito rurais:
Contudo, deve ser provido o recurso no que tange à possibilidade de
inclusão dos nomes dos associados inadimplentes nos cadastros dos
órgãos de proteção ao crédito, bem como quanto à efetivação de protesto e
execução dos títulos oriundos dos contratos de crédito rurais, conforme bem
apontado pelo parquet às fls. 882/883.
(fl. 981)
MÉRITO
Pretende o Banco demandado, ora recorrente, a reforma da sentença que
julgou procedente, em parte, a Ação Civil Pública em epígrafe, sob a
alegação de que, in casu, as disposições constantes do Código de Defesa
do Consumidor não devem incidir, enfatizando, ainda, o descabimento da
ação ante à inexistência de direito difuso, coletivo ou individual homogêneo,
observadas as disposições contidas na Lei nº 7.347/85, afirmando que,
quanto à renegociação das dívidas oriundas do crédito rural, aplicou
corretamente as determinações contidas na Lei nº 4.829/65; Decreto-Lei nº
167/67; Lei nº 8.171/91; Lei nº 8.427/92; Lei nº 8.880/94; Lei nº 9.138/95;
Lei nº 10.177/2001 e Lei nº 10.193/01, pugnando, ainda, pela reforma do
julgamento que determinou a retirada dos nomes dos associados da autora
dos cadastros dos órgãos de proteção ao crédito, observada a recente
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, ressaltando que a parte
demandante não efetuou, como devido, o depósito do valor tido como
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incontroverso referente à dívida contraída pelos seus associados.
Passando à análise da incidência das disposições constantes das
Leis nº 10.696/03 e Lei nº 10.177/2001 quanto à renegociação das
dívidas, bem como quanto à incidência das taxas fixas de juros nos
contratos de cédulas de crédito rural firmados pelos associados da
autora junto ao Banco recorrente, entendo que andou bem o
Magistrado a quo ao determinar a aplicação das mesmas aos
contratos em epígrafe, conforme se observa às fls. 830/846, ocasião
em que ressalvou os requisitos legais nelas constantes para fins de
incidência da apontada legislação.
Nesse passo, é de bom alvitre registrar que os artigos 1º e 7ª da citada Lei
nº 10.696/03, com as alterações da Lei nº 10.823/03, estabelecem:
"Art. 1° Ficam autorizados a repactuação e o alongamento de dívidas
oriundas de operações de crédito rural contratadas ao abrigo do Programa
Especial de Crédito para a Reforma Agrária – Procera, cujos mutuários
estejam adimplentes com suas obrigações ou as regularizem até 31 de maio
de 2004, observadas as seguintes condições:
(destaquei)
"Art. 7° Fica autorizada a renegociação de dívidas oriundas de operações
de crédito rural contratadas por agricultores familiares, mini e pequenos
produtores e de suas cooperativas e associações, no valor total
originalmente financiado de até R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais) em
uma ou mais operações do mesmo beneficiário, cujos mutuários estejam
adimplentes com suas obrigações ou as regularizem até 31 de maio de
2004, observadas as seguintes características e condições:"
(destaquei)
Nessa linha, constata-se que os bancos só têm obrigação de
proceder à renegociação da dívida rural se preenchidos os
requisitos exigidos pela Lei, devendo serem avaliadas, caso a caso,
as situações de inadimplência em que se encontram os associados
da recorrida quanto à regularização do prazo legal mencionado no
dispositivo legal acima citado.
Nesse sentido já decidiu a 3ª Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de
Justiça, verbis:
[...]
Vale lembrar, também, que a frustração da safra em face de
alterações climáticas não constitui um fato impeditivo da execução,
visto ser um evento previsível, cujo risco de ocorrer é naturalmente
assumido por quem se propõe a exercer as atividades
agropecuárias na região.
Quanto aos encargos financeiros cobrados, necessária a aplicação
do artigo 1º da Lei nº 10.177/01, que dispõe:
[...]
Ora, o texto da Lei é claro ao mencionar que os encargos financeiros
ali normatizados só atingem os acordos pactuados a partir de 14 de
janeiro de 2000, pelo que, também com relação a tais encargos,
deverão ser averiguadas as respectivas datas dos contratos
celebrados por cada associado.
Ultrapassada tal questão, e passando à análise da legalidade das
cláusulas contratuais do contrato de Cédula de Crédito Rural firmado
entre os associados da autora e o Banco demandado, ora
recorrente, ressalte-se que, diferentemente do afirmado nas razões
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do apelo, no tocante à incidência do Código de Defesa do
Consumidor ao presente caso, o Superior Tribunal de Justiça já
pacificou o entendimento da sua aplicação às relações de consumo
que envolvam instituições financeiras, senão vejamos o que dispõe
a Súmula nº 297:
"Súmula 297 do STJ. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às
instituições financeiras”.
Ao julgar improcedente a ADI nº 2591 (“ADI dos Bancos”), em 07.06.06, o
STF dirimiu eventuais controvérsias acerca da matéria e pacificou
definitivamente o entendimento de que se aplica o Código de Defesa do
Consumidor aos contratos firmados por instituições financeiras.
Ante à sujeição das atividades bancárias ao CDC, é perfeitamente possível
ao Judiciário rever as cláusulas contratuais consideradas abusivas ou que
coloquem o consumidor em situação amplamente desfavorável, nos termos
dos artigos 39, V, e 51, IV, daquele diploma legal.
Ademais, o princípio do pacta sunt servanda (obrigatoriedade dos
contratos), de ordem genérica, cede à incidência da norma específica
prevista no art. 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, o qual
estabelece que é direito do consumidor "a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão
em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas".
Vejamos, por oportuno, decisão desta Corte acerca do tema:
[...]
Ultrapassada tal questão, e passando à análise da impossibilidade
de cumulação da comissão de permanência com os demais encargos
de ordem financeira, conforme bem ressaltado pelo Magistrado às
fls. 844, devem incidir, "in casu", o disposto nas Súmulas nº 30 e 296
do Superior Tribunal de Justiça, que assim estabelecem:
"Súmula 30 do STJ: A comissão de permanência e a correção de
permanência são inacumuláveis.
________
Súmula 296 do STJ: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a
comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à
taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada
ao percentual contratado."
Por oportuno, quanto à revisão das cláusulas contratuais em questão,
sobreleva trazer à baila os seguintes precedentes desta Corte de Justiça:
[...]
Ressalte-se, ainda, que o Decreto-Lei nº 167/67, que regula o
contrato em questão, prevê, para o caso de inadimplemento, tão
somente, a incidência de multa e juros moratórios, restando, dessa
forma, vedada a incidência de Comissão de Permanência no caso
dos autos.
Para corroborar com tal entendimento, colaciono o seguinte aresto abaixo:
[...]
Noutro pórtico, também deve ser mantido o decisum quanto à
redução da multa moratória para o percentual de 2% (dois por
cento), observado, para tanto, o disposto no artigo 52, § 1º, do
Código de Defesa do Consumidor.
Registre-se que, com relação aos juros moratórios, entendo que o
julgamento proferido na ação principal também não merece reparo
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neste ponto, vez que observado o disposto no parágrafo único do
artigo 5º do Decreto Lei nº 167/67.
Contudo, deve ser provido o recurso no que tange à possibilidade
de inclusão dos nomes dos associados inadimplentes nos cadastros
dos órgãos de proteção ao crédito, bem como quanto à efetivação
de protesto e execução dos títulos oriundos dos contratos de
crédito rurais, conforme bem apontado pelo parquel às fi s. 882/883.
Nesse passo, urge ressaltar a recente jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça quanto à possibilidade de retirada dos nomes do devedores dos
cadastros de proteção ao crédito, destacando-se que, segundo o
entendimento dominante daquele Tribunal Superior, a simples discussão
judicial da dívida não se consubstancia em requisito suficiente à ensejar a
retirada dos nomes dos devedores nos supracitados bancos de dados.
Para tanto, faz-se necessário a concomitância de 3 (três) requisitos
necessários à tal retirada, quais sejam; que exista ação ajuizada pelo
devedor cujo objeto é a discussão acerca da integralidade ou parcialidade
do quantum debeatur; a aparência do bom direito com relação à ilegalidade
do apontado débito; bem como que o devedor proceda ao necessário
depósito da parte incontroversa do valor devido, ou, caso contrário, efetue
a prestação de caução arbitrada pelo Magistrado a quo, requisitos estes
que, ressalte-se, não restaram efetivamente comprovados no feito em
testilha.
Nessa linha de raciocínio, sobreleva trazer à colação o seguinte os
seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça:
(fls. 968-983)
O acórdou completou:
I – DA PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM SUSCITADA
PELO RECORRENTE
Suscita, preliminarmente, o Banco do Nordeste do Brasil S/A, a ilegitimidade
ativa ad causam da Associação apelada, afirmando, para tanto, que a
mesma não possui legitimidade para representar seus associados em juízo,
visto que o seu respectivo Estatuto, constantes às fls. 28/33 dos autos,
caracteriza-se por ser omisso neste ponto.
Contudo, entendo não assistir razão ao apelante, vez que o
mencionado Estatuto é expresso quanto à possibilidade de
representação em juízo, por parte da Associação recorrente, de
seus associados, conforme se observa nos artigos 4 e 26, IV, onde
resta definido que compete à Associação recorrente o ajuizamento
de ação judiciária ou qualquer outra representação em nome da
Entidade ou no seu próprio, desde que em benefício do quadro
social.
Neste pórtico, observado o artigo 5º da Lei nº 7.347/85, rejeito a preliminar
de ilegitimidade ativa ora suscitada.
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nos últimos 3 (três) anos por uma prolongada estiagem, inclusive com a declaração de
calamidade pública pelo Governo do Estado, circunstância que poderia ensejar reavaliação
dos contratos do produtor rural desta região, em virtude de motivos alheios a sua vontade e
diligência.
De fato, como sabido, "a ação civil poderá ter por objeto a condenação em
dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer" (art. 3° da Lei n. 7.347/1985),
tendo o CDC estendido essa possibilidade para permitir também que seja "declarada a
nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste Código ou de qualquer forma
não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações" (§ 4° do art. 51).
Nessa linha de intelecção, penso que a presente ação civil pública delimitou o
objeto da pretensão, tanto com especificação da providência jurisdicional (objeto imediato)
como com a delimitação do bem pretendido (objeto mediato), havendo nexo de logicidade
entre o pedido e a causa de pedir para fins de delimitação de sua pretensão.
É que, conforme já assinalado pelo STJ, "apesar de existir certo teor de
nebulosidade na petição inicial, é possível identificar, da narração dos fatos e da sua
conclusão, as partes, a causa de pedir e o pedido. É mister a aplicação ao caso em tela do
brocardo jurídico que preceitua “da mihi factum, dabo tibi jus” (dê-me os fatos, que lhe darei o
direito). Não podem os demandados serem prejudicados por ter o nobre causídico
peticionado ao Poder Judiciário de maneira deficiente, ademais quando se sabe que a
pretensão dos autores é por deveras conhecida e envereda a seu favor, como no caso em
apreço"(REsp 470.106/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
01/04/2003, DJ 12/05/2003).
Realmente, a doutrina processualista adverte quanto ao pedido que:
A primeira hipótese de inépcia da petição inicial é a ausência de pedido ou
de causa de pedir. Havendo pedido, ainda que irregular, como, por
exemplo, no caso de o autor deduzir pedido genérico quando a lei não
autoriza, não ocorre a inépcia, pois esta só se verifica quando houver
ausência de pedido ou de causa de pedir. Estes dois elementos da ação
devem estar presentes na petição inicial para que seja considerada apta. A
causa de pedir próxima são os fundamentos de fato do pedido, e a remota,
os .fundamentos jurídicos. O pedido é o objeto da ação, isto é, a própria
pretensão deduzida em juízo.
(NERY JÚNIOR, Nelson, Código de processo civil comentado e legislação
extravagante. São Paulo: RT, 2012, pág. 674).
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especialização do princípio da instrumentalidade das formas (art.
154 do CPC). Excertos de doutrina especializada.
[...]
15. Recurso especial não provido.
(REsp 1177453/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 30/09/2010)
Ressalte-se, para logo, que a distinção entre essas categorias de direitos não é
de interesse meramente acadêmico. Antes, a própria legislação prevê consequências bem
distintas a cada espécie de interesses e direitos levados a juízo, como o alcance da coisa
julgada (art. 103 do CDC) e a legitimidade para a propositura da ação ou execução (arts. 82 e
98 do CDC).
Na verdade, por vezes a confusão entre direitos individuais homogêneos,
coletivos e difusos decorre de fatores e circunstâncias variadas.
Assim, se é verdadeiro que um determinado direito não pertence, a um só
tempo, a mais de uma categoria, isso não implica dizer que, no mesmo cenário fático ou
jurídico conflituoso, violações simultâneas de direitos de mais de uma espécie não possam
ocorrer.
Nelson Nery Júnior pondera:
O mesmo fato pode dar ensejo à pretensão difusa, coletiva e individual. O
acidente com o Bateau Mouche IV, que teve lugar no Rio de Janeiro no final
de 1988, poderia abrir oportunidade para a propositura de ação individual
por uma das vítimas do evento pelo prejuízo que sofreu (direito individual),
ação de indenização em favor de todas as vítimas ajuizadas por entidade
associativa (direito individual homogêneo), ação de obrigação de fazer
movida por associação de empresas de turismo que têm interesse na
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manutenção da boa imagem desse setor da economia (direito coletivo), bem
como ação ajuizada pelo Ministério Público, em favor da vida e segurança
das pessoas, para que seja interditada a embarcação a fim de se evitarem
novos acidentes (direito difuso).
(Princípios do processo na constituição federal. São Paulo: RT, 2009,
p.196)
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8. Resta saber se há incidência do Código de Defesa do Consumidor no caso
em tela, haja vista que se está a falar de concessão de financiamento de crédito por meio de
cédula de crédito rural.
Em verdade, é torrencial a jurisprudência do STJ reconhecendo a subsunção
da relação jurídica ao diploma consumerista:
CIVIL. CONTRATO BANCÁRIO. EXECUÇÃO. CÉDULA RURAL. CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. INCIDÊNCIA. SÚMULA N. 297/STJ. MULTA
MORATÓRIA.
REDUÇÃO PARA 2%. SÚMULA N. 285 e 7/STJ.
I. Nos termos da Súmula 297/STJ, aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor às instituições financeiras.
II. A jurisprudência desta Corte tem admitido a incidência da Lei nº
8.078/90 também aos contratos de cédula de crédito rural.
Precedentes: AgR-REsp n. 292.571/MG, Rel. Min. Castro Filho, DJ
06.05.2002 p. 286; REsp n. 337.957/RS, de minha relatoria, DJ 10.02.2003
p. 214; REsp n. 586.634/MT, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ
17.12.2004 p. 531; AgRg no RESP 671866/SP, Rel.
Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 09.05.2005 p. 402; AgRg no AG
431239/GO, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ 01.02.2005 p.
538.
III. Redução da multa moratória para 2% (Súmula n. 285/STJ).
IV. Agravo improvido.
(AgRg no REsp 794.526/MA, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
QUARTA TURMA, julgado em 16/03/2006, DJ 24/04/2006, p. 409)
____________________________
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA A
INADMISSÃO DE RECURSO ESPECIAL. CRÉDITO CEDIDO À UNIÃO.
EXECUÇÃO FISCAL. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR. INCIDÊNCIA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. JUROS
DE MORA. MULTA MORATÓRIA. PRECEDENTES DO STJ. TAXA SELIC.
SUBSTITUIÇÃO DA CDA. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO.
FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO NÃO IMPUGNADOS. VERBETE N. 283 DA
SÚMULA DO STF. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
(AgRg no Ag 1379282/PR, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA
TURMA, julgado em 26/06/2012, DJe 07/08/2012)
____________________________
PROCESSUAL CIVIL - EXECUÇÃO FISCAL - CRÉDITO RURAL CEDIDO
PELO BANCO DO BRASIL À UNIÃO - VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC -
INEXISTÊNCIA - APLICABILIDADE DA SÚMULA 596/STF E DO ART. 14 DA
LEI 4.829/65 - SÚMULA 211/STJ - INCIDÊNCIA DO CDC - POSSIBILIDADE -
INSTITUIÇÃO DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - DESCABIMENTO -
ILEGITIMIDADE DA COBRANÇA DE MULTA MORATÓRIA DE 10% -
INCIDÊNCIA DA LEI 9.298/96.
1. Não há violação do art. 535 do CPC quando Tribunal de origem analisa
adequa e suficientemente a controvérsia levada à sua apreciação.
2. Descabe a esta Corte emitir juízo de valor sobre questão que não foi
prequestionada na instância de origem, apesar da oposição de embargos
de declaração. Incidência da Súmula 211/STJ.
3. A jurisprudência do STJ tem admitido a incidência da Lei 8.078/90
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aos contratos de cédula de crédito rural.
4. Nos contratos bancários, não é possível a cobrança cumulada da
comissão de permanência e juros remuneratórios, correção monetária e
juros e multa moratória, nos termos do entendimento proferido no
julgamento do AgRg no Ag 593408/RS.
5. Legítima a cobrança da multa de 10% apenas no caso de inadimplemento
das obrigações firmadas antes da vigência da Lei 9.298/96, que modificou o
Código de Defesa do Consumidor.
6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1127805/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
julgado em 06/10/2009, DJe 19/10/2009)
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destine ao desenvolvimento da atividade rural, há, em regra, presunção de vulnerabilidade do
contratante produtor, equiparando-o ao consumidor stricto sensu, dando-se prevalência à
destinação fática para fins de qualificação do consumidor.
Cláudia Lima Marques, ao analisar a caracterização do consumidor nos
contratos bancários e de financiamento, leciona que:
A jurisprudência do STJ, porém, ensina que, na complexidade da prestação
múltipla bancária e na abstração do crédito, há uma espécie de presunção
de vulnerabilidade dos clientes bancários (pessoas físicas) e aceita uma
fácil prova da vulnerabilidade concreta dos clientes profissionais (pessoas
jurídicas, se pequenos comerciantes, firmas individuais, taxistas,
empresários de porte médio etc.), como se a destinação final importante
aqui fosse sempre a fática. Grandes quantidades financiadas, ainda mais se
internacionais e em contratação não massificada ficam excluidas do campo
de aplicação do CDC.
[...]
Em resumo, para caracterizar estes contratos como contratos de consumo
ou não, o fator decisivo não é a existência de uma lei especial (por exemplo,
Lei de Mercado de Capitais) que regule o contrato bancário, nem a
definição direta da atividade do fornecedor do art. 3°, § 2°, in fine - decisiva
é a presença de um consumidor ou de um profissional-vulnerável, que
possa também ser equiparado ao consumidor, em matéria de proteção
contratual. No caso do consumidor não profissional prevalece, em todos os
contratos bancários, a presunção de sua vulnerabilidade (art. 4°, I, do
CDC). O STJ aceitou esta presunção, assim como o uso do art. 29 do CDC
para as equiparações em caso de vulnerabilidade do
consumidor-profissional.
A maioria dos contratos bancários é concluída através da utilização de
condições gerais dos contratos e de contratos de adesão. Esses métodos
de contratação de massa, como observamos na experiência alemã, servem
como indício de vulnerabilidade do cocontratante. Mesmo sendo um
advogado o cocontratante, mesmo sendo um comerciante ou agricultor, a
vulnerabilidade fática estará quase sempre presente, dependendo da
jurisprudência a aplicação extensiva ou não, no caso concreto, das normas
tutelares do CDC. Como esta aplicação "analógica" tende a tornar-se a
regra, como aconteceu na Alemanha, a melhor solução será os bancos
adaptarem todos os seus contratos-formulários, contratos de adesão e
condições gerais de serviços aos patamares de equilíbrio e de boa-fé
instituídos pelo CDC. Esta solução é também a mais econômica, pois evita a
preocupação em determinar se o cocontratante é ou não um consumidor, e
baseia-se na realidade fática de superioridade econômica e técnica que
possuem os bancos em relação à maioria dos seus clientes, superioridade
esta que facilmente terá como reflexo a aceitação da vulnerabilidade e da
hipossuficiência de seu cocontratante.
(Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações
contratuais. São Paulo: RT, 2011, p. 549-550 e 558-559)
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Código de Defesa do Consumidor. Destinatário final: conceito. Compra de
adubo. Prescrição. Lucros cessantes.
1. A expressão "destinatário final", constante da parte final do art. 2º
do Código de Defesa do Consumidor, alcança o produtor agrícola
que compra adubo para o preparo do plantio, à medida que o bem
adquirido foi utilizado pelo profissional, encerrando-se a cadeia
produtiva respectiva, não sendo objeto de transformação ou
beneficiamento.
2. Estando o contrato submetido ao Código de Defesa do Consumidor a
prescrição é de cinco anos.
3. Deixando o Acórdão recorrido para a liquidação por artigos a
condenação por lucros cessantes, não há prequestionamento dos artigos
284 e 462 do Código de Processo Civil, e 1.059 e 1.060 do Código Civil,
que não podem ser superiores ao valor indicado na inicial.
4. Recurso especial não conhecido.
(REsp 208.793/MT, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 18/11/1999, DJ 01/08/2000, p. 264)
_________________________
CONTRATOS BANCÁRIOS – CONTRATO DE REPASSE DE EMPRÉSTIMO
EXTERNO PARA COMPRA DE COLHEITADEIRA – AGRICULTOR –
DESTINATÁRIO FINAL – INCIDÊNCIA – CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR – COMPROVAÇÃO – CAPTAÇÃO DE RECURSOS –
MATÉRIA DE PROVA – PREQUESTIONAMENTO – AUSÊNCIA.
I – O agricultor que adquire bem móvel com a finalidade de utilizá-lo
em sua atividade produtiva, deve ser considerado destinatário final,
para os fins do artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor.
II – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às relações
jurídicas originadas dos pactos firmados entre os agentes
econômicos, as instituições financeiras e os usuários de seus
produtos e serviços.
III – Afirmado pelo acórdão recorrido que não ficou provada a captação de
recursos externos, rever esse entendimento encontra óbice no enunciado
n.º 7 da Súmula desta Corte.
IV – Ausente o prequestionamento da questão federal suscitada, é inviável
o recurso especial (Súmulas 282 e 356/STF).
Recurso especial não conhecido, com ressalvas quanto à terminologia.
(REsp 445.854/MS, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 02/12/2003, DJ 19/12/2003, p. 453)
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RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. MULTA MORATÓRIA.
1.- Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos
firmados entre instituições financeiras e agricultor, pessoa física,
ainda que para viabilizar o seu trabalho como produtor rural.
2.- A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pacificou o
entendimento de que a redução da multa moratória para 2% (dois por
cento) ao ano, tal como definida na Lei n° 9.298, de 01.08.1996, somente é
possível nos contratos celebrados após sua vigência, o que ocorre no caso
em exame.
3.- O agravo não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão
do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos.
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4.- Agravo Regimental improvido.
(AgRg no REsp 1329839/MA, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 18/09/2012)
_____________________________
CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INCIDENCIA.
RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR.
- E DE CONSUMO A RELAÇÃO ENTRE O VENDEDOR DE MAQUINA
AGRICOLA E A COMPRADORA QUE A DESTINA A SUA ATIVIDADE NO
CAMPO.
- PELO VICIO DE QUALIDADE DO PRODUTO RESPONDEM
SOLIDARIAMENTE O FABRICANTE E O REVENDEDOR (ART. 18 DO CDC).
(REsp 142.042/RS, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA
TURMA, julgado em 11/11/1997, DJ 19/12/1997, p. 67510)
Por fim, mister registrar que a sentença, mantida pelo acórdão, acrescentou
que o pleito seria procedente mesmo em se afastando a incidência do CDC, em razão da
boa-fé objetiva, verbis:
Ressalte-se que qualquer pacto que afronte a previsão de juros
remuneratórios e moratórios contida no artigo 50 do Decreto-lei 167/1967,
deverá ser reduzida aos seus termos. Tal redução será efetuada com
suporte no Código de Defesa do Consumidor, inclusive ex officio, posto que
a possibilidade de revisão das cláusulas abusivas é norma de ordem
pública. Mesmo que não fosse aplicável o Código do Consumidor aos
contratos bancários (como de fato é aplicável, art. 3°, § 2°), a possibilidade
de tal revisão adviria da cláusula geral da boa-fé objetiva, princípio
subjacente a todo o nosso ordenamento civilista.
Argumento não rebatido pelo recorrente, o que atrai a incidência da Súm. 283
do STF, segundo a qual "é inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida
assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles".
9. Com relação aos encargos definidos pelo acórdão, a instituição financeira só
recorre quanto à comissão de permanência, aventando que o acórdão teria sido omisso em
deixar de reconhecer a ausência de cumulação.
Portanto, conformou-se com relação à incidência das Leis n. 10.177/2001 e
10.696/2003, e com o que ficou definido relacionado às limitações dos encargos (juros, multa,
correção) nos contratos de crédito rural celebrados entre os associados da recorrida e o
banco, havendo preclusão da matéria.
No ponto efetivamente impugnado, o acórdão decidiu que:
Ultrapassada tal questão, e passando à análise da impossibilidade de
cumulação da comissão de permanência com os demais encargos de ordem
financeira, conforme bem ressaltado pelo Magistrado às fls. 844, devem
incidir, 'in casu", o disposto nas Súmulas n° 30 e 296 do Superior Tribunal
de Justiça, que assim estabelecem:
"Súmula 30 do STJ- A comissão de permanência e a correção de
permanência são inacumuláveis.
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Súmula 296 do STJ: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a
comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à
taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada
ao percentual contratado. "
Por oportuno, quanto à revisão das cláusulas contratuais em questão,
sobreleva trazer à baila os seguintes precedentes desta Corte de Justiça:
[...]
Ressalte-se, ainda, que o Decreto-Lei n° 167/67, que regula o contrato em
questão, prevê, para o caso de inadimplemento, tão somente, a incidência
de multa e juros moratórios, restando, dessa forma, vedada a incidência de
Comissão de Permanência no caso dos autos.
Para corroborar com tal entendimento, colaciono o seguinte aresto abaixo:
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS ALPINO BIGONHA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB
ADVOGADO : AIONA ROSADO CASCUDO RODRIGUES ROMANO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS DEVEDORES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO
SERIDÓ ADIFIS
ADVOGADO : GUILHERME SANTOS FERREIRA DA SILVA
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Títulos de Crédito - Cédula de Crédito Rural
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente), Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos
Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Marco Buzzi.
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