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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.166.054 - RN (2009/0222532-0)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


RECORRENTE : BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB
ADVOGADO : AIONA ROSADO CASCUDO RODRIGUES ROMANO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS DEVEDORES DAS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS DO SERIDÓ ADIFIS
ADVOGADO : GUILHERME SANTOS FERREIRA DA SILVA
EMENTA
DIREITO COLETIVO E DIREITO DO CONSUMIDOR. ASSOCIAÇÃO.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RENEGOCIAÇÃO DE DÉBITOS ORIUNDOS DE
CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR.
1. "As Turmas que compõem a Seção de Direito Privado não discrepam
sobre a legitimidade ativa de associação civil de defesa do consumidor,
preenchidos os requisitos legais, para ajuizar ação civil pública com o fim
de declarar a nulidade de cláusulas do contrato e pedir a restituição de
importâncias indevidamente cobradas" (REsp 313.364/SP, Rel. Ministro
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado
em 27/11/2001, DJ 06/05/2002, p. 287).

2. A Carta Magna (art. 5°, XXI) trouxe apreciável normativo de estímulo às


ações coletivas ao estabelecer que as entidades associativas detêm
legitimidade para representar judicial e extrajudicialmente seus filiados,
sendo que, no tocante a legitimação, "[...] um limite de atuação fica desde
logo patenteado: o objeto material da demanda deve ficar circunscrito aos
direitos e interesses desses filiados. Um outro limite é imposto pelo
interesse de agir da instituição legitimada: sua atuação deve guardar
relação com seus fins institucionais" (ZAVASCKI, Teori Albino. Processo
coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo:
RT, 2014, p. 162).
3. Chegar à conclusão diversa quanto à existência de previsão estatutária
que autorizasse a representação dos associados, bem como o
cumprimento das finalidades institucionais compatíveis, demandaria o
reexame do contexto fático-probatório dos autos e das cláusulas do
contrato social, o que encontra óbice nas Súmulas n. 5 e 7 do STJ.
4. No tocante ao objeto, a presente ação civil pública bem delimitou a sua
pretensão, tanto com especificação da providência jurisdicional (objeto
imediato) como com a delimitação do bem pretendido (objeto mediato),
havendo nexo de logicidade entre o pedido e a causa de pedir para fins de
delimitação de sua pretensão, não havendo falar em inépcia da inicial.
5. Tratando-se de ações de massa, deve-se conferir primazia ao princípio
do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito do processo coletivo,
haja vista que o aplicador da lei deve ter em conta que a solução do litígio,
de uma só vez, resolverá conflitos que envolvem uma gama de indivíduos,
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quando, para isso, apenas se fizer necessário uma releitura de elementos
processuais, especialmente para afastar eventual invalidade que esteja
em detrimento do direito em si.
6. É torrencial a jurisprudência do STJ reconhecendo a incidência do
Código do Consumidor nos contratos de cédula de crédito rural.
7. O próprio CDC estabelece (art. 52) que a outorga de crédito ou
concessão de financiamento caracteriza típica relação de consumo entre
quem concede e quem o recebe, pois o produto fornecido é o dinheiro ou
crédito, bem juridicamente consumível.
7. A norma que institucionaliza o crédito rural (Lei n. 4.829/1965)
estabelece como um dos objetivos específicos do crédito rural (art. 3°) é o
de "possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais,
notadamente pequenos e médios" (inciso III) e o de "incentivar a
introdução de métodos racionais de produção, visando ao aumento da
produtividade e à melhoria do padrão de vida das populações rurais, e à
adequada defesa do solo" (inciso IV).
8. Dessarte, mesmo que o financiamento por meio de cédula de crédito
rural se destine ao desenvolvimento da atividade rural, há, em regra,
presunção de vulnerabilidade do contratante produtor, equiparando-o ao
consumidor stricto sensu, dando-se prevalência à destinação fática para
fins de qualificação do consumidor. Precedentes.
9. Conforme jurisprudência consolidada no STJ, "nas cédulas de crédito
rural, comercial e industrial, não se admite a cobrança de comissão de
permanência. Precedentes" (AgRg no AREsp 129.689/RS, Rel. Ministro
ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
03/04/2014, DJe 11/04/2014).
10. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da QUARTA TURMA do


Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a
seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente), Maria Isabel Gallotti e Antonio
Carlos Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Marco Buzzi.
Brasília (DF), 28 de abril de 2015(Data do Julgamento)

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MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.166.054 - RN (2009/0222532-0)
RECORRENTE : BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB
ADVOGADO : AIONA ROSADO CASCUDO RODRIGUES ROMANO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS DEVEDORES DAS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS DO SERIDÓ ADIFIS
ADVOGADO : GUILHERME SANTOS FERREIRA DA SILVA

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

1. Associação dos Devedores de Instituições Financeiras do Seridó (Adifis)


ajuizou ação civil pública em face de Banco do Nordeste do Brasil S/A. visando à
renegociação dos débitos de seus associados advindos de operações de crédito rural com
recursos lastreados em fundo de financiamento, ao fundamento de que legislação posterior
previu direito subjetivo do produtor rural à prorrogação dos vencimentos e modificação de
encargos para manutenção da equação econômico-financeira do contrato de mútuo rural,
situação jurídica que vem sendo desrespeitada pela instituição financeira.
Aponta que, sem a verificação prévia das condições de exigibilidade das
cédulas rurais, não é possível a inclusão do nome do produtor nos órgãos de proteção ao
crédito, bem como fica inviabilizada a propositura de ação judicial de cobrança ou execução,
notadamente pela prolongada estiagem que afetou o Estado do Rio Grande do Norte.
O magistrado de piso julgou parcialmente procedente os pedidos para
reconhecer a incidência, nos contratos firmados pelos associados com a instituição
financeira, das Leis n. 10.177/2001 e 10.696/2003, sendo observados, em qualquer caso, os
requisitos para renegociação previstos nos referidos dispositivos legais e, ainda, para
reconhecer como indevidos os juros de mora superiores a 1% (um por cento) ao ano e multa
superior a 2% (dois por cento), afastando, ainda, a incidência de comissão de permanência e
reconhecendo a impossibilidade de negativação e protesto dos devedores. Ao final, ressaltou
que "tais regras devem incidir, individualmente, em cada contrato celebrado com os
associados da demandante, que ostentem tal condição até a presente data" (fls. 900-916).
Interposta apelação, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte
conheceu e deu parcial provimento ao recurso, modificando a sentença apenas quanto aos
requisitos para a inclusão dos nomes dos associados inadimplentes nos cadastros de
devedores, nos termos da seguinte ementa:
EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO CÍVEL - JUÍZO DE
ADMISSIBILIDADE RECURSAL POSITIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C
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PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - PRELIMINARES DE
ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM, DE AUSÊNCIA DE INTERESSE
PROCESSUAL, DE INÉPCIA DA EXORDIAL E DE NULIDADE DO
JULGAMENTO A QUO REJEITADAS - MÉRITO - CONTRATO DE CÉDULA
DE CRÉDITO RURAL - NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA ÀS DISPOSIÇÕES
CONSTANTES DAS LEIS N° 10.177/2001 E N° 10.696/2003 QUANTO AOS
REQUISITOS LEGAIS NECESSÁRIOS À RENEGOCIAÇÃO DAS DÍVIDAS,
BEM COMO QUANTO À INCIDÊNCIA DOS ENCARGOS FINANCEIROS -
CONTRATO DE ADESÃO - INCIDÊNCIA DOS ARTIGOS 3°, § 2°, 39, V, e 51,
IV, TODOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - DECLARAÇÃO
DE NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS QUANTO À MULTA
MORATÓRIA E À IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA COM DEMAIS ENCARGOS FINANCEIROS - INCIDÊNCIA
DAS SÚMULAS 30 DO STJ E 121 DO STF, BEM COMO DO DECRETO LEI
N° 167/67 - POSSIBILIDADE DE INSCRIÇÃO DOS NOMES DOS
DEVEDORES INADIMPLENTES NOS CADASTROS DO ÓRGÃOS DE
PROTEÇÃO AO CREDITO - PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA E DESTA CORTE - CONHECIMENTO E PROVIMENTO PARCIAL
DO RECURSO.
I - Em se tratando de operações de crédito rural, é de ser mantido o
julgamento a quo que determinou a incidência das disposições constantes
das Leis n° 10. 177/2001 e n° 10.696/2003, observados os requisitos legais
necessários à renegociação das dívidas, bem como quanto à incidência dos
encargos financeiros.
II - Restando caracterizado um contrato de adesão, deve ser mantido o
julgamento hostilizado que determinou a revisão de cláusulas contratuais
consideradas abusivas quanto à comissão de permanência e multa
moratória, observado o disposto nos artigos 39, V e 51, IV, ambos do
Código de Defesa do Consumidor, bem como os precedentes do Superior
Tribunal de Justiça e desta Corte.
III. - No tocante à retirada da inscrição dos nomes dos devedores nos
cadastros restritivos de crédito, e sustação de protesto, faz-se necessário
que a dívida originária do débito esteja sendo discutida em Juízo, que a
controvérsia seja pautada na aparência do bom direito e na jurisprudência
consolidada do STF ou STJ e, ainda, que tenha havido o depósito do valor
referente à parte tida por incontroversa, requisitos estes que não restaram
evidenciados no caso em testilha.
IV - Conhecimento e provimento parcial do recurso.
(fls. 968-983)

Opostos aclaratórios, foram rejeitados (fls. 996-999).


Irresignado, o Banco interpõe recurso especial com fulcro nas alíneas "a" e "c"
do permissivo constitucional, por negativa de vigência aos arts. 267, IV, 286, 535, II, 585, § 1°,
do CPC, art. 5°, II, da Lei n. 7.347/1985, art. 2° da Lei n. 8.078/1990, art. 5°, XXXV, da
Constituição Federal.
Aponta que o acórdão foi omisso e que há inépcia da inicial, uma vez que o
pedido aduzido foi genérico, violando a exigência do CPC que exige a indicação - de forma
minudente e específica deste -, tais como, delimitação da operações celebradas ou não
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renegociadas, instrumentos de crédito, situação da dívida, dentre outros.
Sustenta a ausência de pressuposto processual de constituição e
desenvolvimento regular do processo, haja vista que a recorrida não preencheu o requisito
legal da pertinência temática, porquanto "não trouxe aos autos o ato constitutivo que pudesse
demonstrar que as suas finalidades institucionais são compatíveis e adequadas com a
defesa do interesse que pretende seja tutelado em juízo", notadamente o de defender o
interesse de seus associados em juízo. Há, ainda, ilegitimidade ativa, uma vez que o estatuto
seria omisso acerca da possibilidade de a Associação representar em juízo seus
associados.
Afirma, quanto ao mérito, que inexiste direito difuso, coletivo ou individual
homogêneo na espécie, uma vez que os contratos firmados têm elementos peculiares e
bastante próprios que exigem solução individualizada, não unívoca e uniforme, não havendo
falar em origem comum.
Alega que o banco jamais se recusou a renegociar dívidas de crédito rural, até
por ser ente pertencente à Administração Pública Indireta, responsável por mais de 70% da
concessão de crédito rural em sua área e que segue estritamente as leis, sendo que, na
hipótese, em nenhum momento se provou "que os associados que porventura não tiveram as
dívidas renegociadas preenchiam os requisitos previstos em lei para tanto".
Assevera ser inaplicável o CDC às operações de financiamento, haja vista que
os associados não podem ser tidos como destinatários finais.
Defende que o pedido do sindicato para determinar a abstenção no ajuizamento
e suspensão de execução judicial de título privaria a instituição financeira de seu direito
constitucional de ação.
Por fim, aponta que inocorre a cumulação de comissão de permanência com
outros encargos.
Contrarrazões às fls. 1.032-1.041.
O recurso recebeu crivo de admissibilidade positivo na origem (fls.
1.043-1.052).
É o relatório.

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ADVOGADO : AIONA ROSADO CASCUDO RODRIGUES ROMANO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS DEVEDORES DAS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS DO SERIDÓ ADIFIS
ADVOGADO : GUILHERME SANTOS FERREIRA DA SILVA
EMENTA
DIREITO COLETIVO E DIREITO DO CONSUMIDOR. ASSOCIAÇÃO.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RENEGOCIAÇÃO DE DÉBITOS ORIUNDOS DE
CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR.
1. "As Turmas que compõem a Seção de Direito Privado não discrepam
sobre a legitimidade ativa de associação civil de defesa do consumidor,
preenchidos os requisitos legais, para ajuizar ação civil pública com o fim
de declarar a nulidade de cláusulas do contrato e pedir a restituição de
importâncias indevidamente cobradas" (REsp 313.364/SP, Rel. Ministro
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado
em 27/11/2001, DJ 06/05/2002, p. 287).

2. A Carta Magna (art. 5°, XXI) trouxe apreciável normativo de estímulo às


ações coletivas ao estabelecer que as entidades associativas detêm
legitimidade para representar judicial e extrajudicialmente seus filiados,
sendo que, no tocante a legitimação, "[...] um limite de atuação fica desde
logo patenteado: o objeto material da demanda deve ficar circunscrito aos
direitos e interesses desses filiados. Um outro limite é imposto pelo
interesse de agir da instituição legitimada: sua atuação deve guardar
relação com seus fins institucionais" (ZAVASCKI, Teori Albino. Processo
coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo:
RT, 2014, p. 162).
3. Chegar à conclusão diversa quanto à existência de previsão estatutária
que autorizasse a representação dos associados, bem como o
cumprimento das finalidades institucionais compatíveis, demandaria o
reexame do contexto fático-probatório dos autos e das cláusulas do
contrato social, o que encontra óbice nas Súmulas n. 5 e 7 do STJ.
4. No tocante ao objeto, a presente ação civil pública bem delimitou a sua
pretensão, tanto com especificação da providência jurisdicional (objeto
imediato) como com a delimitação do bem pretendido (objeto mediato),
havendo nexo de logicidade entre o pedido e a causa de pedir para fins de
delimitação de sua pretensão, não havendo falar em inépcia da inicial.
5. Tratando-se de ações de massa, deve-se conferir primazia ao princípio
do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito do processo coletivo,
haja vista que o aplicador da lei deve ter em conta que a solução do litígio,
de uma só vez, resolverá conflitos que envolvem uma gama de indivíduos,
quando, para isso, apenas se fizer necessário uma releitura de elementos
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processuais, especialmente para afastar eventual invalidade que esteja
em detrimento do direito em si.
6. É torrencial a jurisprudência do STJ reconhecendo a incidência do
Código do Consumidor nos contratos de cédula de crédito rural.
7. O próprio CDC estabelece (art. 52) que a outorga de crédito ou
concessão de financiamento caracteriza típica relação de consumo entre
quem concede e quem o recebe, pois o produto fornecido é o dinheiro ou
crédito, bem juridicamente consumível.
7. A norma que institucionaliza o crédito rural (Lei n. 4.829/1965)
estabelece como um dos objetivos específicos do crédito rural (art. 3°) é o
de "possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais,
notadamente pequenos e médios" (inciso III) e o de "incentivar a
introdução de métodos racionais de produção, visando ao aumento da
produtividade e à melhoria do padrão de vida das populações rurais, e à
adequada defesa do solo" (inciso IV).
8. Dessarte, mesmo que o financiamento por meio de cédula de crédito
rural se destine ao desenvolvimento da atividade rural, há, em regra,
presunção de vulnerabilidade do contratante produtor, equiparando-o ao
consumidor stricto sensu, dando-se prevalência à destinação fática para
fins de qualificação do consumidor. Precedentes.
9. Conforme jurisprudência consolidada no STJ, "nas cédulas de crédito
rural, comercial e industrial, não se admite a cobrança de comissão de
permanência. Precedentes" (AgRg no AREsp 129.689/RS, Rel. Ministro
ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
03/04/2014, DJe 11/04/2014).
10. Recurso especial não provido.

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

2. Primeiramente, verifica-se que não há falar em violação ao art. 535 do


Código de Processo Civil, pois o Tribunal a quo dirimiu as questões pertinentes ao litígio,
afigurando-se dispensável que tivesse examinado uma a uma as alegações e fundamentos
expendidos pelas partes.

De fato, basta ao órgão julgador que decline as razões jurídicas que


embasaram a decisão, não sendo exigível que se reporte de modo específico a determinados

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preceitos legais.
3. Ademais, no tocante ao pleito de preservação do direito constitucional de
ação, ao fundamento de que estaria impedido de promover execução extrajudicial e, portanto,
frustrado de reaver os créditos concedidos aos mutuários, verifica-se a falta de interesse
recursal na espécie.
Isso porque, se depreende que a pretensão almejada já foi deferida pelo
acórdão recorrido - modificando a sentença no ponto - justamente ao permitir a inclusão dos
nomes dos associados inadimplentes nos cadastros de restrição, a efetivação de protesto,
bem como a execução dos títulos oriundos dos contratos de crédito rurais:
Contudo, deve ser provido o recurso no que tange à possibilidade de
inclusão dos nomes dos associados inadimplentes nos cadastros dos
órgãos de proteção ao crédito, bem como quanto à efetivação de protesto e
execução dos títulos oriundos dos contratos de crédito rurais, conforme bem
apontado pelo parquet às fls. 882/883.
(fl. 981)

4. No mérito recursal, a controvérsia instaurada consiste em saber sobre a


viabilidade da ação civil pública proposta pela Associação dos Devedores de Instituições
Financeiras do Seridó (Adifis) visando à renegociação dos débitos de seus associados
advindos de operações de crédito rural, notadamente se preenchidas as condições e
pressupostos para ajuizamento da ação, bem como sobre a viabilidade de seu objeto e
eventual incidência do diploma consumerista.

O magistrado de piso e o Tribunal de origem, em menor extensão, após


afastarem diversas preliminares, concederam parcialmente a pretensão, conforme se verifica
da leitura do acórdão recorrido, verbis:

MÉRITO
Pretende o Banco demandado, ora recorrente, a reforma da sentença que
julgou procedente, em parte, a Ação Civil Pública em epígrafe, sob a
alegação de que, in casu, as disposições constantes do Código de Defesa
do Consumidor não devem incidir, enfatizando, ainda, o descabimento da
ação ante à inexistência de direito difuso, coletivo ou individual homogêneo,
observadas as disposições contidas na Lei nº 7.347/85, afirmando que,
quanto à renegociação das dívidas oriundas do crédito rural, aplicou
corretamente as determinações contidas na Lei nº 4.829/65; Decreto-Lei nº
167/67; Lei nº 8.171/91; Lei nº 8.427/92; Lei nº 8.880/94; Lei nº 9.138/95;
Lei nº 10.177/2001 e Lei nº 10.193/01, pugnando, ainda, pela reforma do
julgamento que determinou a retirada dos nomes dos associados da autora
dos cadastros dos órgãos de proteção ao crédito, observada a recente
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, ressaltando que a parte
demandante não efetuou, como devido, o depósito do valor tido como
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incontroverso referente à dívida contraída pelos seus associados.
Passando à análise da incidência das disposições constantes das
Leis nº 10.696/03 e Lei nº 10.177/2001 quanto à renegociação das
dívidas, bem como quanto à incidência das taxas fixas de juros nos
contratos de cédulas de crédito rural firmados pelos associados da
autora junto ao Banco recorrente, entendo que andou bem o
Magistrado a quo ao determinar a aplicação das mesmas aos
contratos em epígrafe, conforme se observa às fls. 830/846, ocasião
em que ressalvou os requisitos legais nelas constantes para fins de
incidência da apontada legislação.
Nesse passo, é de bom alvitre registrar que os artigos 1º e 7ª da citada Lei
nº 10.696/03, com as alterações da Lei nº 10.823/03, estabelecem:
"Art. 1° Ficam autorizados a repactuação e o alongamento de dívidas
oriundas de operações de crédito rural contratadas ao abrigo do Programa
Especial de Crédito para a Reforma Agrária – Procera, cujos mutuários
estejam adimplentes com suas obrigações ou as regularizem até 31 de maio
de 2004, observadas as seguintes condições:
(destaquei)
"Art. 7° Fica autorizada a renegociação de dívidas oriundas de operações
de crédito rural contratadas por agricultores familiares, mini e pequenos
produtores e de suas cooperativas e associações, no valor total
originalmente financiado de até R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais) em
uma ou mais operações do mesmo beneficiário, cujos mutuários estejam
adimplentes com suas obrigações ou as regularizem até 31 de maio de
2004, observadas as seguintes características e condições:"
(destaquei)
Nessa linha, constata-se que os bancos só têm obrigação de
proceder à renegociação da dívida rural se preenchidos os
requisitos exigidos pela Lei, devendo serem avaliadas, caso a caso,
as situações de inadimplência em que se encontram os associados
da recorrida quanto à regularização do prazo legal mencionado no
dispositivo legal acima citado.
Nesse sentido já decidiu a 3ª Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de
Justiça, verbis:
[...]
Vale lembrar, também, que a frustração da safra em face de
alterações climáticas não constitui um fato impeditivo da execução,
visto ser um evento previsível, cujo risco de ocorrer é naturalmente
assumido por quem se propõe a exercer as atividades
agropecuárias na região.
Quanto aos encargos financeiros cobrados, necessária a aplicação
do artigo 1º da Lei nº 10.177/01, que dispõe:
[...]
Ora, o texto da Lei é claro ao mencionar que os encargos financeiros
ali normatizados só atingem os acordos pactuados a partir de 14 de
janeiro de 2000, pelo que, também com relação a tais encargos,
deverão ser averiguadas as respectivas datas dos contratos
celebrados por cada associado.
Ultrapassada tal questão, e passando à análise da legalidade das
cláusulas contratuais do contrato de Cédula de Crédito Rural firmado
entre os associados da autora e o Banco demandado, ora
recorrente, ressalte-se que, diferentemente do afirmado nas razões
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do apelo, no tocante à incidência do Código de Defesa do
Consumidor ao presente caso, o Superior Tribunal de Justiça já
pacificou o entendimento da sua aplicação às relações de consumo
que envolvam instituições financeiras, senão vejamos o que dispõe
a Súmula nº 297:
"Súmula 297 do STJ. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às
instituições financeiras”.
Ao julgar improcedente a ADI nº 2591 (“ADI dos Bancos”), em 07.06.06, o
STF dirimiu eventuais controvérsias acerca da matéria e pacificou
definitivamente o entendimento de que se aplica o Código de Defesa do
Consumidor aos contratos firmados por instituições financeiras.
Ante à sujeição das atividades bancárias ao CDC, é perfeitamente possível
ao Judiciário rever as cláusulas contratuais consideradas abusivas ou que
coloquem o consumidor em situação amplamente desfavorável, nos termos
dos artigos 39, V, e 51, IV, daquele diploma legal.
Ademais, o princípio do pacta sunt servanda (obrigatoriedade dos
contratos), de ordem genérica, cede à incidência da norma específica
prevista no art. 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, o qual
estabelece que é direito do consumidor "a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão
em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas".
Vejamos, por oportuno, decisão desta Corte acerca do tema:
[...]
Ultrapassada tal questão, e passando à análise da impossibilidade
de cumulação da comissão de permanência com os demais encargos
de ordem financeira, conforme bem ressaltado pelo Magistrado às
fls. 844, devem incidir, "in casu", o disposto nas Súmulas nº 30 e 296
do Superior Tribunal de Justiça, que assim estabelecem:
"Súmula 30 do STJ: A comissão de permanência e a correção de
permanência são inacumuláveis.
________
Súmula 296 do STJ: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a
comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à
taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada
ao percentual contratado."
Por oportuno, quanto à revisão das cláusulas contratuais em questão,
sobreleva trazer à baila os seguintes precedentes desta Corte de Justiça:
[...]
Ressalte-se, ainda, que o Decreto-Lei nº 167/67, que regula o
contrato em questão, prevê, para o caso de inadimplemento, tão
somente, a incidência de multa e juros moratórios, restando, dessa
forma, vedada a incidência de Comissão de Permanência no caso
dos autos.
Para corroborar com tal entendimento, colaciono o seguinte aresto abaixo:
[...]
Noutro pórtico, também deve ser mantido o decisum quanto à
redução da multa moratória para o percentual de 2% (dois por
cento), observado, para tanto, o disposto no artigo 52, § 1º, do
Código de Defesa do Consumidor.
Registre-se que, com relação aos juros moratórios, entendo que o
julgamento proferido na ação principal também não merece reparo
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Superior Tribunal de Justiça
neste ponto, vez que observado o disposto no parágrafo único do
artigo 5º do Decreto Lei nº 167/67.
Contudo, deve ser provido o recurso no que tange à possibilidade
de inclusão dos nomes dos associados inadimplentes nos cadastros
dos órgãos de proteção ao crédito, bem como quanto à efetivação
de protesto e execução dos títulos oriundos dos contratos de
crédito rurais, conforme bem apontado pelo parquel às fi s. 882/883.
Nesse passo, urge ressaltar a recente jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça quanto à possibilidade de retirada dos nomes do devedores dos
cadastros de proteção ao crédito, destacando-se que, segundo o
entendimento dominante daquele Tribunal Superior, a simples discussão
judicial da dívida não se consubstancia em requisito suficiente à ensejar a
retirada dos nomes dos devedores nos supracitados bancos de dados.
Para tanto, faz-se necessário a concomitância de 3 (três) requisitos
necessários à tal retirada, quais sejam; que exista ação ajuizada pelo
devedor cujo objeto é a discussão acerca da integralidade ou parcialidade
do quantum debeatur; a aparência do bom direito com relação à ilegalidade
do apontado débito; bem como que o devedor proceda ao necessário
depósito da parte incontroversa do valor devido, ou, caso contrário, efetue
a prestação de caução arbitrada pelo Magistrado a quo, requisitos estes
que, ressalte-se, não restaram efetivamente comprovados no feito em
testilha.
Nessa linha de raciocínio, sobreleva trazer à colação o seguinte os
seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça:
(fls. 968-983)

5. Inicialmente, sustenta o recorrente que não foi satisfeito o requisito da


pertinência temática, uma vez que não há nos autos "ato constitutivo que pudesse
demonstrar que as suas finalidades institucionais são compatíveis e adequadas com a
defesa do interesse que pretende seja tutelado em juízo". Falta, também, a pertinência
subjetiva para a ação, uma vez que o estatuto da associação é omisso acerca da
possibilidade de a entidade recorrida representar em juízo seus associados.
Porém, como sabido, a Carta Magna (art. 5°, XXI) trouxe apreciável normativo
de estímulo às ações coletivas ao estabelecer que as entidades associativas detêm
legitimidade para representar judicial e extrajudicialmente seus filiados, sendo que, no tocante
à legitimação, "[...] um limite de atuação fica desde logo patenteado: o objeto material da
demanda deve ficar circunscrito aos direitos e interesses desses filiados. Um outro limite é
imposto pelo interesse de agir da instituição legitimada: sua atuação deve guardar relação
com seus fins institucionais" (ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos
coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo: RT, 2014, p. 162).
No ponto, a sentença destacou que:
Da leitura do art. 4° do Estatuto da associação demandante se vê: "A
Associação dos Devedores de Instituições Financeiras do Seridó, terá como
objetivo básico congregar os devedores de instituições financeiras no
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Superior Tribunal de Justiça
Estado do Rio Grande do Norte prestando assessoria jurídica e contábil aos
consumidores, pessoa Jisica ou jurdica, lesados pela cobrança abusiva das
altas taxas de juros, multas e encargos cobrados pelos bancos financeiras e
operadoras de cartões de crédito. " (sic fl. 28)
Forçoso é o reconhecimento de que, dentre os objetivos da associação
demandante, senão o único, está o de intervir, em nome dos seus
associados, nas relações travadas, na condição de consumidores, com
Instituições financeiras, trazendo-lhes assessoria contábil e jurídica.
Em relação a esta, não há como se negar a possibilidade de, no
exercício de tal assessoria, a demandante, devidamente autorizada,
ingressar em Juízo, em nome de seus membros em demandas que
guardem pertinência com os seus objetivos, dentre os quais,
discussão de taxas de juros, multas e encargos cobrados aos
associados em razão de contratos firmados com instituições
financeiras.
[...]
Quanto à autorização expressa dos associados há, nos presentes
autos, extensa documentação onde consta autorização expressa,
firmada por todos os associados da ADIFIS, para que sejam
representados em Juízo pela mesma, de forma que entendo que tal
requisito encontra-se devidamente suprido.
(fls. 905/906)

O acórdou completou:
I – DA PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM SUSCITADA
PELO RECORRENTE
Suscita, preliminarmente, o Banco do Nordeste do Brasil S/A, a ilegitimidade
ativa ad causam da Associação apelada, afirmando, para tanto, que a
mesma não possui legitimidade para representar seus associados em juízo,
visto que o seu respectivo Estatuto, constantes às fls. 28/33 dos autos,
caracteriza-se por ser omisso neste ponto.
Contudo, entendo não assistir razão ao apelante, vez que o
mencionado Estatuto é expresso quanto à possibilidade de
representação em juízo, por parte da Associação recorrente, de
seus associados, conforme se observa nos artigos 4 e 26, IV, onde
resta definido que compete à Associação recorrente o ajuizamento
de ação judiciária ou qualquer outra representação em nome da
Entidade ou no seu próprio, desde que em benefício do quadro
social.
Neste pórtico, observado o artigo 5º da Lei nº 7.347/85, rejeito a preliminar
de ilegitimidade ativa ora suscitada.

Dessarte, chegar à conclusão diversa quanto à existência de previsão


estatutária que autorizasse a representação dos associados, bem como o cumprimento das
finalidades institucionais compatíveis, demandaria o reexame do contexto fático-probatório
dos autos e das cláusulas do contrato social, o que encontra óbice nas Súmulas n. 5 e 7 do
STJ.
Nesse sentido:
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Superior Tribunal de Justiça
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO
AMBIENTE. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. ILEGITIMIDADE ATIVA.
COMPETÊNCIA. REPARTIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE O MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL. DISTINÇÃO ENTRE COMPETÊNCIA E
LEGITIMAÇÃO ATIVA. ASSOCIAÇÃO DE MORADORES. LEGITIMIDADE.
SÚMULA 05/STJ.
[...]
4. A análise da denominada Representatividade Adequada
(Adequacy of Representation) inerente às class actions equivale a
aferir os objetivos estatutários, o que esbarraria na Súmula 05/STJ.
[...]
6. Recurso Especial interposto pela Associação de Moradores e Amigos do
Jardim Botânico não conhecido e recurso apresentado pelo Ministério
Público do Estado do Rio de Janeiro desprovido.
(REsp 876.936/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
21/10/2008, DJe 13/11/2008)

6. Com relação à generalidade do pedido, o recorrente aventa a inépcia da


inicial, porque o pleito não teria sido minudente e específico, deixando de apontar,
individualmente, as operações que já foram ou não renegociadas com base em lei, acabando
por ficar impedido de defender os seus direitos.
Verifica-se que o pedido foi postulado nos seguintes termos:

64.1 Seja deferida liminarmente, na forma do art. 273, I do CPC, uma


antecipação de tutela, para que o banco réu se abstenha de incluir os
produtores rurais especificamente associados à autora, conforme relação
anexa, nos cadastros de SPC, SERASA e CADIN, relativamente às
operações de crédito rural pactuadas, até decisão final, determinando ainda
a exclusão imediata daqueles associados já inscritos; e que se abstenha
também de promover protesto ou execução dos títulos oriundos de crédito
rural firmados com os associados da autora, sem que previamente seja
procedida urna prévia e conjunta vistoria ou inspeção técnica no imóvel ou
empreendimento rural de cada devedor, visando garantir o direito de
prorrogação e alongamento do débito, se certificado a perda de receita em
face do estado de calamidade pública;
64.2 A notificação do ilustre representante do Ministério Público para ofertar
parecer de estilo no prazo legal;
64.3 A citação do banco réu, por seu representante legal, para querendo,
contestar a presente ação no prazo legal;
64.4 Seja julgado procedente a presente ação civil pública, para condenar o
banco réu a fazer o recálculo e a renegociação dos débitos oriundos de
operações de crédito rural aplicando-se:
a) para os contratos anteriores à publicação da Lei n° 9.138, de
29/11/1995, a disposição legal contida no art. 16, IV, §2° da Lei n° 8.880, de
27/05/1994, e posteriormente, a incidência de taxas fixas de juros, na forma
da Lei n° 9.138/95 e suas alterações posteriores;
b) para os contratos posteriores à publicação da Lei n° 9.138, de
29/11/1995, a incidência de taxas fixas de juros, sem atualização monetária,
na forma do art. 1° da Lei n° 10.177, de 12/01/2001;
c) o reenquadramento das operações de crédito rural e a recomposição dos
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débitos, segundo as taxas fixas de juros respectivas e os critérios - de mini,
pequeno, médio e grande produtor rural, suas cooperativas e associações -
adotados pelo Banco Central do Brasil, Receita Federal ou INCRA, o que for
mais favorável ao produtor rural;
d) o expurgo de todo e qualquer encargo de inadimplemento, porventura
incluído no saldo devedor, no caso da inexistência de prévia vistoria e
inspeção técnica do banco réu, para atestar a capacidade de pagamento do
produtor rural no período da estiagem prolongada e/ou o desvio na
aplicação dos recursos do financiamento;
e) o expurgo, do saldo devedor, daquelas parcelas de financiamento que
porventura não tenham sido liberadas para o empreendimento;
f) a limitação da aplicação da taxa de juros do financiamento ao tempo de
vigência do contrato.

Quanto à questão, o acórdão assentou que:


III – DA PRELIMINAR DE INÉPCIA DA PEÇA PREAMBULAR SUSCITADA
PELO APELANTE
Argui, preliminarmente, o recorrente, a inépcia da petição inicial, aduzindo,
para tanto, que o pedido constante da peça preambular caracteriza-se por
ser de ordem genérica, afrontando, desta feita, o disposto no artigo 286 do
Código de Processo Civil.
Contudo, ao contrário do apontado nas razões do recurso, observo que a
peça preambular esclarece, de modo claro e preciso, o objeto da lide em
epígrafe, ressaltando-se, para tanto, o disposto nos itens 64.1 e 64.4 da
petição da ação civil pública em comento.
Noutro pórtico, mister se faz salientar, conforme bem apontado no parecer
ministerial constante às fls. 878, que os artigos 95 e 97 da Lei nº 8.078/90
possibilitam a condenação de caráter genérico, bem como a liquidação
individual da sentença em se tratando de Ação Civil Pública.
Portanto, observados os fatos e fundamentos jurídicos acima expostos, bem
como o disposto no artigo 282 do Código de Processo Civil, rejeito a
preliminar de inépcia da petição inicial ora suscitada.

Constata-se, portanto, que o objeto da ação foi suficientemente claro e preciso.


Ao que se depreende dos autos, em sua causa de pedir, a associação alega
que a instituição financeira tem dificultado o mutuário na efetiva renegociação do débito
advindo de operações de crédito rural, com recursos lastreados no FNE e legislações
especiais, notadamente porque não informa adequadamente os critérios de enquadramento
de cada devedor (familiar, mini, pequeno, médio ou grande produtor rural), de prorrogação,
recomposição e alongamento da dívida, não realizando nenhum procedimento prévio de
análise de capacidade de produção, de receita, de pagamento da atividade financiada, além
das distorções na forma de atualização monetária e capitalização dos juros nas operações
de crédito rural existentes.
Salienta a ocorrência de fato específico, pois a região do Seridó fora afetada

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nos últimos 3 (três) anos por uma prolongada estiagem, inclusive com a declaração de
calamidade pública pelo Governo do Estado, circunstância que poderia ensejar reavaliação
dos contratos do produtor rural desta região, em virtude de motivos alheios a sua vontade e
diligência.
De fato, como sabido, "a ação civil poderá ter por objeto a condenação em
dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer" (art. 3° da Lei n. 7.347/1985),
tendo o CDC estendido essa possibilidade para permitir também que seja "declarada a
nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste Código ou de qualquer forma
não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações" (§ 4° do art. 51).
Nessa linha de intelecção, penso que a presente ação civil pública delimitou o
objeto da pretensão, tanto com especificação da providência jurisdicional (objeto imediato)
como com a delimitação do bem pretendido (objeto mediato), havendo nexo de logicidade
entre o pedido e a causa de pedir para fins de delimitação de sua pretensão.
É que, conforme já assinalado pelo STJ, "apesar de existir certo teor de
nebulosidade na petição inicial, é possível identificar, da narração dos fatos e da sua
conclusão, as partes, a causa de pedir e o pedido. É mister a aplicação ao caso em tela do
brocardo jurídico que preceitua “da mihi factum, dabo tibi jus” (dê-me os fatos, que lhe darei o
direito). Não podem os demandados serem prejudicados por ter o nobre causídico
peticionado ao Poder Judiciário de maneira deficiente, ademais quando se sabe que a
pretensão dos autores é por deveras conhecida e envereda a seu favor, como no caso em
apreço"(REsp 470.106/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
01/04/2003, DJ 12/05/2003).
Realmente, a doutrina processualista adverte quanto ao pedido que:
A primeira hipótese de inépcia da petição inicial é a ausência de pedido ou
de causa de pedir. Havendo pedido, ainda que irregular, como, por
exemplo, no caso de o autor deduzir pedido genérico quando a lei não
autoriza, não ocorre a inépcia, pois esta só se verifica quando houver
ausência de pedido ou de causa de pedir. Estes dois elementos da ação
devem estar presentes na petição inicial para que seja considerada apta. A
causa de pedir próxima são os fundamentos de fato do pedido, e a remota,
os .fundamentos jurídicos. O pedido é o objeto da ação, isto é, a própria
pretensão deduzida em juízo.
(NERY JÚNIOR, Nelson, Código de processo civil comentado e legislação
extravagante. São Paulo: RT, 2012, pág. 674).

Não se pode olvidar que em razão do disposto na inicial e posterior fase


instrutória, o magistrado e o Tribunal não se mostraram impedidos de entregar a prestação
jurisdicional.
Ademais, em se tratando de ações de massa, deve-se conferir primazia ao
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Superior Tribunal de Justiça
princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito do processo coletivo, haja vista
que o aplicador da lei deve ter em conta que a solução do litígio, de uma só vez, resolverá
conflitos que envolvem uma gama de indivíduos, quando, para isso, apenas se fizer
necessário uma releitura de elementos processuais, especialmente para afastar eventual
invalidade que esteja em detrimento do direito em si.
É que "o princípio em comento, subdividido em duas funções, apresenta íntima
relação com as premissas do formalismo-valorativo de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira: o
processo não é fim em si mesmo, está voltado para a obtenção da justiça material e de
pacificação social, sendo que seus institutos, na atual quadra da história de nosso
desenvolvimento jurídico, deverão ser conformados pelas máximas estabelecidas pela
Constituição Federal" (DIDIER JR, Fredie. Curso de processo civil: processo coletivo, vol. IV,
Salvador: Juspodivm, 2013, p. 121).
Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MICROSSISTEMA DE TUTELA
DE DIREITOS COLETIVOS (EM SENTIDO LATO). ILEGITIMIDADE ATIVA.
APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DOS ARTS. 9º DA LEI N. 4.717/65 e 5º, § 3º,
DA LEI N. 7.347/85. POSSIBILIDADE. ABERTURA PARA INGRESSO DE
OUTRO LEGITIMADOS PARA OCUPAR O PÓLO ATIVO DA DEMANDA.
EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. MEDIDA DE ULTIMA RATIO.
OBSERVAÇÃO COMPULSÓRIA DAS REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE
COMPETÊNCIA ABSOLUTA.
[...]
5. De acordo com a leitura sistemática e teleológica das Leis de Ação
Popular e Ação Civil Pública, fica evidente que o reconhecimento da
ilegitimidade ativa para o feito jamais poderia conduzir à pura e
simples extinção do processo sem resolução de mérito.
6. Isto porque, segundo os arts. 9º da Lei n. 4.717/65 e 5º, § 3º, da Lei n.
7.347/85, compete ao magistrado condutor do feito, em caso de desistência
infundada, abrir oportunidade para que outros interessados assumam o
pólo ativo da demanda.
7. Embora as referidas normas digam respeito aos casos em que parte
originalmente legítima opta por não continuar com o processo, sua lógica é
perfeitamente compatível com os casos em que faleça legitimidade a priori
ao autor. Dois os motivos que levam a esta assertiva.
8. Em primeiro lugar, colacione-se um motivo dogmático evidente,
que diz respeito ao valor essencialmente social que impregna
demandas como a presente, a fazer com que o Poder Judiciário
deva se esmerar em, sempre que possível, ser condescendente na
análise de aspectos relativos ao conhecimento das ações, deixando
de lado o apego ao formalismo.
9. Normas específicas do microssistema em comento e indicativas
do que a doutrina contemporânea convencionou chamar de
princípio da primazia do conhecimento do mérito do processo
coletivo é o próprio art. 5º, § 4º, da Lei n. 7.347/85, que é

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especialização do princípio da instrumentalidade das formas (art.
154 do CPC). Excertos de doutrina especializada.
[...]
15. Recurso especial não provido.
(REsp 1177453/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 30/09/2010)

7. Com relação à aventada inexistência de direito difuso, coletivo ou individual


homogêneo, não vejo como afastar a natureza transindividual da ação.
Como se sabe, o diploma consumerista expõe as diversas categorias de
direitos tuteláveis pela via coletiva:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas
poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária
por uma relação jurídica base;
II - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos
os decorrentes de origem comum.

Ressalte-se, para logo, que a distinção entre essas categorias de direitos não é
de interesse meramente acadêmico. Antes, a própria legislação prevê consequências bem
distintas a cada espécie de interesses e direitos levados a juízo, como o alcance da coisa
julgada (art. 103 do CDC) e a legitimidade para a propositura da ação ou execução (arts. 82 e
98 do CDC).
Na verdade, por vezes a confusão entre direitos individuais homogêneos,
coletivos e difusos decorre de fatores e circunstâncias variadas.
Assim, se é verdadeiro que um determinado direito não pertence, a um só
tempo, a mais de uma categoria, isso não implica dizer que, no mesmo cenário fático ou
jurídico conflituoso, violações simultâneas de direitos de mais de uma espécie não possam
ocorrer.
Nelson Nery Júnior pondera:
O mesmo fato pode dar ensejo à pretensão difusa, coletiva e individual. O
acidente com o Bateau Mouche IV, que teve lugar no Rio de Janeiro no final
de 1988, poderia abrir oportunidade para a propositura de ação individual
por uma das vítimas do evento pelo prejuízo que sofreu (direito individual),
ação de indenização em favor de todas as vítimas ajuizadas por entidade
associativa (direito individual homogêneo), ação de obrigação de fazer
movida por associação de empresas de turismo que têm interesse na
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manutenção da boa imagem desse setor da economia (direito coletivo), bem
como ação ajuizada pelo Ministério Público, em favor da vida e segurança
das pessoas, para que seja interditada a embarcação a fim de se evitarem
novos acidentes (direito difuso).
(Princípios do processo na constituição federal. São Paulo: RT, 2009,
p.196)

Deveras, "os interesses individuais homogêneos caracterizam-se por sua


divisibilidade plena, na medida em que, além de serem os seus sujeitos determinados, não
existe, por regra, qualquer vínculo jurídico ou relação jurídica-base ligando-os, sendo que, em
realidade, a conexão entre eles decorre de uma origem comum, como, por exemplo, o dano
causado à saúde individual de determinados indivíduos, em decorrência da emissão de
poluentes no ar por uma indústria. Diante disso, é perfeitamente identificável o prejuízo
individual de cada qual, podendo-se dividir (cindir) o interesse, efetivando-se a prestação
jurisdicional de maneira correlacionada ao dano particular" (LENZA, Pedro. Teoria geral da
ação civil pública. São Paulo: RT, 2008, p. 73).
Nessa ordem de ideias, em diversos casos similares, o STJ reconheceu a
legitimidade da associação e a existência de direitos individuais homogêneos, senão
vejamos:
PROCESSO CIVIL. AÇÃO COLETIVA. ASSOCIAÇÃO CIVIL. LEGITIMIDADE
ATIVA CONFIGURADA. IDENTIFICAÇÃO DOS SUBSTITUÍDOS.
DESNECESSIDADE. DEVOLUÇÃO DO PRAZO RECURSAL. JUSTA CAUSA.
POSSIBILIDADE.
- A ação coletiva é o instrumento adequado para a defesa dos
interesses individuais homogêneos dos consumidores.
Precedentes.
- Independentemente de autorização especial ou da apresentação
de relação nominal de associados, as associações civis,
constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos pelo
CDC, gozam de legitimidade ativa para a propositura de ação
coletiva.
- É regular a devolução do prazo quando, cessado o impedimento, a parte
prejudicada demonstra a existência de justa causa no qüinqüídio e, no
prazo legal, interpõe o Recurso. Na ausência de fixação judicial sobre a
restituição do prazo, é aplicável o disposto no art. 185 do CPC.
- A prerrogativa assegurada ao Ministério Público de ter vista dos autos
exige que lhe seja assegurada a possibilidade de compulsar o feito durante
o prazo que a lei lhe concede, para que possa, assim, exercer o
contraditório, a ampla defesa, seu papel de 'custos legis' e, em última
análise, a própria pretensão recursal. A remessa dos autos à primeira
instância, durante o prazo assegurado ao MP para a interposição do
Especial, frustra tal prerrogativa e, nesse sentido, deve ser considerada
justa causa para a devolução do prazo.
Recurso Especial Provido.
(REsp 805.277/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 23/09/2008, DJe 08/10/2008)
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Superior Tribunal de Justiça
___________________________
PROCESSO CIVIL – RECURSO ESPECIAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA –
LEGITIMIDADE ATIVA – ASSOCIAÇÃO – COBRANÇA DE TAXA DE
OCUPAÇÃO SOBRE BENFEITORIAS – IMÓVEIS SITUADOS EM TERRENOS
DE MARINHA – CONCESSÃO DE LIMINAR SEM A OITIVA DO PODER
PÚBLICO – ART. 2º DA LEI 8.437/92.
1. Não cabe ao STJ, em sede de recurso especial, examinar possível
violação a dispositivos constitucionais.
2. A relação jurídica decorrente do contrato administrativo de enfiteuse
sobre imóveis situados em terrenos de marinha, regulada pelo Decreto-lei
9.760/46, não se enquadra no conceito de relação de consumo, o que
afasta a incidência do Código de Defesa do Consumidor.
3. As associações têm legitimidade ativa para propor ação civil
pública visando a proteção de direitos e interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos, como substituta processual –
legitimação extraordinária, mesmo que não se trate de relação de
consumo.
4.A concessão de liminar contra o poder público, quando não esgote o
objeto da ação é admitida, na interpretação do art. 1º, § 3º, da Lei
8.437/92.
5. É nula a liminar concedida contra pessoa jurídica de direito público sem a
observância da sua oitiva prévia (art. 2º da Lei 8.437/92). Precedentes do
STJ.
6. Recurso especial parcialmente conhecido e, no mérito, parcialmente
provido.
(REsp 667.939/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
julgado em 20/03/2007, DJ 13/08/2007, p. 355)
_____________________________
Ação civil pública. Legitimidade ativa de associação de defesa dos
consumidores. Consórcio de automóveis. Precedentes da Corte.
1. As Turmas que compõem a Seção de Direito Privado não
discrepam sobre a legitimidade ativa de associação civil de defesa
do consumidor, preenchidos os requisitos legais, para ajuizar ação
civil pública com o fim de declarar a nulidade de cláusulas do
contrato e pedir a restituição de importâncias indevidamente
cobradas.
2. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 313.364/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2001, DJ 06/05/2002, p. 287)
_________________________
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Associação civil. Legitimidade ativa. Consórcio.
A associação civil instituída para a defesa de consumidores tem
legitimidade para promover ação civil pública em defesa de tantos
quantos, sejam ou não seus associados, celebraram contrato de
adesão com a administradora ré, para a declaração da nulidade da
cláusula de exclusão de juros e de correção monetária das parcelas
a serem restituídas ao consorciado desistente. Precedentes. Demais
questões não incluídas na lide.
Recurso não conhecido.
(REsp 302.192/RJ, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA
TURMA, julgado em 10/04/2001, DJ 25/06/2001, p. 193)

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8. Resta saber se há incidência do Código de Defesa do Consumidor no caso
em tela, haja vista que se está a falar de concessão de financiamento de crédito por meio de
cédula de crédito rural.
Em verdade, é torrencial a jurisprudência do STJ reconhecendo a subsunção
da relação jurídica ao diploma consumerista:
CIVIL. CONTRATO BANCÁRIO. EXECUÇÃO. CÉDULA RURAL. CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. INCIDÊNCIA. SÚMULA N. 297/STJ. MULTA
MORATÓRIA.
REDUÇÃO PARA 2%. SÚMULA N. 285 e 7/STJ.
I. Nos termos da Súmula 297/STJ, aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor às instituições financeiras.
II. A jurisprudência desta Corte tem admitido a incidência da Lei nº
8.078/90 também aos contratos de cédula de crédito rural.
Precedentes: AgR-REsp n. 292.571/MG, Rel. Min. Castro Filho, DJ
06.05.2002 p. 286; REsp n. 337.957/RS, de minha relatoria, DJ 10.02.2003
p. 214; REsp n. 586.634/MT, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ
17.12.2004 p. 531; AgRg no RESP 671866/SP, Rel.
Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 09.05.2005 p. 402; AgRg no AG
431239/GO, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ 01.02.2005 p.
538.
III. Redução da multa moratória para 2% (Súmula n. 285/STJ).
IV. Agravo improvido.
(AgRg no REsp 794.526/MA, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
QUARTA TURMA, julgado em 16/03/2006, DJ 24/04/2006, p. 409)
____________________________
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA A
INADMISSÃO DE RECURSO ESPECIAL. CRÉDITO CEDIDO À UNIÃO.
EXECUÇÃO FISCAL. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR. INCIDÊNCIA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. JUROS
DE MORA. MULTA MORATÓRIA. PRECEDENTES DO STJ. TAXA SELIC.
SUBSTITUIÇÃO DA CDA. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO.
FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO NÃO IMPUGNADOS. VERBETE N. 283 DA
SÚMULA DO STF. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
(AgRg no Ag 1379282/PR, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA
TURMA, julgado em 26/06/2012, DJe 07/08/2012)
____________________________
PROCESSUAL CIVIL - EXECUÇÃO FISCAL - CRÉDITO RURAL CEDIDO
PELO BANCO DO BRASIL À UNIÃO - VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC -
INEXISTÊNCIA - APLICABILIDADE DA SÚMULA 596/STF E DO ART. 14 DA
LEI 4.829/65 - SÚMULA 211/STJ - INCIDÊNCIA DO CDC - POSSIBILIDADE -
INSTITUIÇÃO DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - DESCABIMENTO -
ILEGITIMIDADE DA COBRANÇA DE MULTA MORATÓRIA DE 10% -
INCIDÊNCIA DA LEI 9.298/96.
1. Não há violação do art. 535 do CPC quando Tribunal de origem analisa
adequa e suficientemente a controvérsia levada à sua apreciação.
2. Descabe a esta Corte emitir juízo de valor sobre questão que não foi
prequestionada na instância de origem, apesar da oposição de embargos
de declaração. Incidência da Súmula 211/STJ.
3. A jurisprudência do STJ tem admitido a incidência da Lei 8.078/90
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Superior Tribunal de Justiça
aos contratos de cédula de crédito rural.
4. Nos contratos bancários, não é possível a cobrança cumulada da
comissão de permanência e juros remuneratórios, correção monetária e
juros e multa moratória, nos termos do entendimento proferido no
julgamento do AgRg no Ag 593408/RS.
5. Legítima a cobrança da multa de 10% apenas no caso de inadimplemento
das obrigações firmadas antes da vigência da Lei 9.298/96, que modificou o
Código de Defesa do Consumidor.
6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1127805/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
julgado em 06/10/2009, DJe 19/10/2009)

Ademais, o próprio CDC estabelece (art. 52) que a outorga de crédito ou


concessão de financiamento caracteriza típica relação de consumo entre quem concede e
quem o recebe:
Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de
crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor
deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

Isso porque o produto fornecido é o dinheiro ou crédito, bem juridicamente


consumível.
Não é à toa que o STJ já afirmou que o "o Código de Defesa do Consumidor
(Lei 8.078/90) é aplicável sobre todos os contratos de financiamento bancário firmados entre
as instituições financeiras e seus clientes" (REsp 334.175/RS, Rel. Ministro CESAR ASFOR
ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 27/11/2001, DJ 18/03/2002, p. 260).
Nessa linha de intelecção, referido posicionamento também deve abarcar a
relação de produtos e serviços bancários para fins de caracterização do consumidor,
notadamente em se tratando de cédula de crédito rural.
Isso porque o financiamento rural é feito justamente "com o intuito de promover
as atividades do homem do campo, em regra carecedor de recursos para desenvolver,
de modo compensador, as suas atividades" (MARTINS, Fran. Títulos de crédito. Rio de
janeiro: Forense, 2008, p. 467).
A própria norma que institucionaliza o crédito rural (Lei n. 4.829/1965)
estabelece como um dos objetivos específicos do crédito rural (art. 3°) o de "possibilitar o
fortalecimento econômico dos produtores rurais, notadamente pequenos e médios" (inciso III)
e o de "incentivar a introdução de métodos racionais de produção, visando ao aumento da
produtividade e à melhoria do padrão de vida das populações rurais, e à adequada defesa do
solo" (inciso IV).
Dessarte, mesmo que o financiamento por meio de cédula de crédito rural se

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destine ao desenvolvimento da atividade rural, há, em regra, presunção de vulnerabilidade do
contratante produtor, equiparando-o ao consumidor stricto sensu, dando-se prevalência à
destinação fática para fins de qualificação do consumidor.
Cláudia Lima Marques, ao analisar a caracterização do consumidor nos
contratos bancários e de financiamento, leciona que:
A jurisprudência do STJ, porém, ensina que, na complexidade da prestação
múltipla bancária e na abstração do crédito, há uma espécie de presunção
de vulnerabilidade dos clientes bancários (pessoas físicas) e aceita uma
fácil prova da vulnerabilidade concreta dos clientes profissionais (pessoas
jurídicas, se pequenos comerciantes, firmas individuais, taxistas,
empresários de porte médio etc.), como se a destinação final importante
aqui fosse sempre a fática. Grandes quantidades financiadas, ainda mais se
internacionais e em contratação não massificada ficam excluidas do campo
de aplicação do CDC.
[...]
Em resumo, para caracterizar estes contratos como contratos de consumo
ou não, o fator decisivo não é a existência de uma lei especial (por exemplo,
Lei de Mercado de Capitais) que regule o contrato bancário, nem a
definição direta da atividade do fornecedor do art. 3°, § 2°, in fine - decisiva
é a presença de um consumidor ou de um profissional-vulnerável, que
possa também ser equiparado ao consumidor, em matéria de proteção
contratual. No caso do consumidor não profissional prevalece, em todos os
contratos bancários, a presunção de sua vulnerabilidade (art. 4°, I, do
CDC). O STJ aceitou esta presunção, assim como o uso do art. 29 do CDC
para as equiparações em caso de vulnerabilidade do
consumidor-profissional.
A maioria dos contratos bancários é concluída através da utilização de
condições gerais dos contratos e de contratos de adesão. Esses métodos
de contratação de massa, como observamos na experiência alemã, servem
como indício de vulnerabilidade do cocontratante. Mesmo sendo um
advogado o cocontratante, mesmo sendo um comerciante ou agricultor, a
vulnerabilidade fática estará quase sempre presente, dependendo da
jurisprudência a aplicação extensiva ou não, no caso concreto, das normas
tutelares do CDC. Como esta aplicação "analógica" tende a tornar-se a
regra, como aconteceu na Alemanha, a melhor solução será os bancos
adaptarem todos os seus contratos-formulários, contratos de adesão e
condições gerais de serviços aos patamares de equilíbrio e de boa-fé
instituídos pelo CDC. Esta solução é também a mais econômica, pois evita a
preocupação em determinar se o cocontratante é ou não um consumidor, e
baseia-se na realidade fática de superioridade econômica e técnica que
possuem os bancos em relação à maioria dos seus clientes, superioridade
esta que facilmente terá como reflexo a aceitação da vulnerabilidade e da
hipossuficiência de seu cocontratante.
(Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações
contratuais. São Paulo: RT, 2011, p. 549-550 e 558-559)

A jurisprudência da Casa considera os agricultores como vulneráveis e


equiparados a consumidores nos mais diversos precedentes:

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Superior Tribunal de Justiça
Código de Defesa do Consumidor. Destinatário final: conceito. Compra de
adubo. Prescrição. Lucros cessantes.
1. A expressão "destinatário final", constante da parte final do art. 2º
do Código de Defesa do Consumidor, alcança o produtor agrícola
que compra adubo para o preparo do plantio, à medida que o bem
adquirido foi utilizado pelo profissional, encerrando-se a cadeia
produtiva respectiva, não sendo objeto de transformação ou
beneficiamento.
2. Estando o contrato submetido ao Código de Defesa do Consumidor a
prescrição é de cinco anos.
3. Deixando o Acórdão recorrido para a liquidação por artigos a
condenação por lucros cessantes, não há prequestionamento dos artigos
284 e 462 do Código de Processo Civil, e 1.059 e 1.060 do Código Civil,
que não podem ser superiores ao valor indicado na inicial.
4. Recurso especial não conhecido.
(REsp 208.793/MT, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 18/11/1999, DJ 01/08/2000, p. 264)
_________________________
CONTRATOS BANCÁRIOS – CONTRATO DE REPASSE DE EMPRÉSTIMO
EXTERNO PARA COMPRA DE COLHEITADEIRA – AGRICULTOR –
DESTINATÁRIO FINAL – INCIDÊNCIA – CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR – COMPROVAÇÃO – CAPTAÇÃO DE RECURSOS –
MATÉRIA DE PROVA – PREQUESTIONAMENTO – AUSÊNCIA.
I – O agricultor que adquire bem móvel com a finalidade de utilizá-lo
em sua atividade produtiva, deve ser considerado destinatário final,
para os fins do artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor.
II – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às relações
jurídicas originadas dos pactos firmados entre os agentes
econômicos, as instituições financeiras e os usuários de seus
produtos e serviços.
III – Afirmado pelo acórdão recorrido que não ficou provada a captação de
recursos externos, rever esse entendimento encontra óbice no enunciado
n.º 7 da Súmula desta Corte.
IV – Ausente o prequestionamento da questão federal suscitada, é inviável
o recurso especial (Súmulas 282 e 356/STF).
Recurso especial não conhecido, com ressalvas quanto à terminologia.
(REsp 445.854/MS, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 02/12/2003, DJ 19/12/2003, p. 453)
______________________________
RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. MULTA MORATÓRIA.
1.- Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos
firmados entre instituições financeiras e agricultor, pessoa física,
ainda que para viabilizar o seu trabalho como produtor rural.
2.- A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pacificou o
entendimento de que a redução da multa moratória para 2% (dois por
cento) ao ano, tal como definida na Lei n° 9.298, de 01.08.1996, somente é
possível nos contratos celebrados após sua vigência, o que ocorre no caso
em exame.
3.- O agravo não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão
do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos.
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Superior Tribunal de Justiça
4.- Agravo Regimental improvido.
(AgRg no REsp 1329839/MA, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 18/09/2012)
_____________________________
CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INCIDENCIA.
RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR.
- E DE CONSUMO A RELAÇÃO ENTRE O VENDEDOR DE MAQUINA
AGRICOLA E A COMPRADORA QUE A DESTINA A SUA ATIVIDADE NO
CAMPO.
- PELO VICIO DE QUALIDADE DO PRODUTO RESPONDEM
SOLIDARIAMENTE O FABRICANTE E O REVENDEDOR (ART. 18 DO CDC).
(REsp 142.042/RS, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA
TURMA, julgado em 11/11/1997, DJ 19/12/1997, p. 67510)

Por fim, mister registrar que a sentença, mantida pelo acórdão, acrescentou
que o pleito seria procedente mesmo em se afastando a incidência do CDC, em razão da
boa-fé objetiva, verbis:
Ressalte-se que qualquer pacto que afronte a previsão de juros
remuneratórios e moratórios contida no artigo 50 do Decreto-lei 167/1967,
deverá ser reduzida aos seus termos. Tal redução será efetuada com
suporte no Código de Defesa do Consumidor, inclusive ex officio, posto que
a possibilidade de revisão das cláusulas abusivas é norma de ordem
pública. Mesmo que não fosse aplicável o Código do Consumidor aos
contratos bancários (como de fato é aplicável, art. 3°, § 2°), a possibilidade
de tal revisão adviria da cláusula geral da boa-fé objetiva, princípio
subjacente a todo o nosso ordenamento civilista.

Argumento não rebatido pelo recorrente, o que atrai a incidência da Súm. 283
do STF, segundo a qual "é inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida
assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles".
9. Com relação aos encargos definidos pelo acórdão, a instituição financeira só
recorre quanto à comissão de permanência, aventando que o acórdão teria sido omisso em
deixar de reconhecer a ausência de cumulação.
Portanto, conformou-se com relação à incidência das Leis n. 10.177/2001 e
10.696/2003, e com o que ficou definido relacionado às limitações dos encargos (juros, multa,
correção) nos contratos de crédito rural celebrados entre os associados da recorrida e o
banco, havendo preclusão da matéria.
No ponto efetivamente impugnado, o acórdão decidiu que:
Ultrapassada tal questão, e passando à análise da impossibilidade de
cumulação da comissão de permanência com os demais encargos de ordem
financeira, conforme bem ressaltado pelo Magistrado às fls. 844, devem
incidir, 'in casu", o disposto nas Súmulas n° 30 e 296 do Superior Tribunal
de Justiça, que assim estabelecem:
"Súmula 30 do STJ- A comissão de permanência e a correção de
permanência são inacumuláveis.
Documento: 1402692 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/06/2015 Página 25 de 4
Superior Tribunal de Justiça
Súmula 296 do STJ: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a
comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à
taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada
ao percentual contratado. "
Por oportuno, quanto à revisão das cláusulas contratuais em questão,
sobreleva trazer à baila os seguintes precedentes desta Corte de Justiça:
[...]
Ressalte-se, ainda, que o Decreto-Lei n° 167/67, que regula o contrato em
questão, prevê, para o caso de inadimplemento, tão somente, a incidência
de multa e juros moratórios, restando, dessa forma, vedada a incidência de
Comissão de Permanência no caso dos autos.
Para corroborar com tal entendimento, colaciono o seguinte aresto abaixo:

Dessarte, verifica-se que corroborou com a jurisprudência consolidada no STJ


que entende que "nas cédulas de crédito rural, comercial e industrial, não se admite a
cobrança de comissão de permanência. Precedentes" (AgRg no AREsp 129.689/RS, Rel.
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 03/04/2014, DJe
11/04/2014).
10. Por fim, é de destacar que, apesar da sentença e do acórdão
reconhecerem a incidência das Leis n. 10.177/2001 e 10.696/2003 e, por conseguinte, o
direito subjetivo ao alongamento da dívida e/ou abatimentos proporcionais, restringiu a
aplicação para aqueles que, individualmente, a depender do contrato entabulado,
vierem a comprovar o preenchimento dos requisitos legais, nos termos das orientações
delineadas nos referidos julgados.
Penso que não há, portanto, o que modificar no julgado.
11. Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2009/0222532-0 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.166.054 / RN

Números Origem: 20080100500 20080100500000200

PAUTA: 28/04/2015 JULGADO: 28/04/2015

Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS ALPINO BIGONHA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB
ADVOGADO : AIONA ROSADO CASCUDO RODRIGUES ROMANO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS DEVEDORES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO
SERIDÓ ADIFIS
ADVOGADO : GUILHERME SANTOS FERREIRA DA SILVA

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Títulos de Crédito - Cédula de Crédito Rural

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente), Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos
Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Marco Buzzi.

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