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EXMO. SR. DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...

VARA CÍVEL DA
COMARCA DE SANHARÓ – PE.

BERNARDINO CANDIDO DA SILVA,


brasileiro, casado, aposentado, natural de Sanharó/PE,
portador da Carteira de Identidade nº 13.999.458 SSP/PE e
CPF nº 562.056.434-72, residente e domiciliado à Rua Josefa
Lopes Torres, n° 11, Padre Nova, Sanharó/PE, por seus
advogados infra-assinados constituídos por instrumento
procuratório anexo (doc. 01), com endereço indicado no
timbre desta vestibular para fins do Art. 39, I do Código de
Processo Civil, vêm respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, com fulcro nos artigos 282 e segs. do CPC, art. 5º,
inciso X, da Constituição Federal, art. 186 Código Civil e art.
6º, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor promover a
presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO


CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS,

em face de
BANCO BRADESCO FINANCIAMENTO,
pessoa jurídica de direito privado, CNPJ nº ...... , com
domicílio à Pça. Getúlio Vargas – Centro – Pesqueira/PE, pelos
fatos e fundamentos abaixo aduzidos:

DOS FATOS

O requerente teve descontado no valor


da sua aposentadoria até a presente data, 6 parcelas no valor
de R$ 63,56 (sessenta e três reais e cinquenta e seis centavos)
correspondente a empréstimo consignado no valor total de R$
1.930,74 (um mil, novecentos e trinta reais e setenta e quatro
centavos), divididas em 60 (sessenta) meses, sem que
autorizasse ou solicitasse tal operação, conforme consta em
consulta realizada no INSS (doc. 06 e 07).

Vê-se que o referido empréstimo por


consignação fora lançado com o número de contrato
587337397 e teve por marco inicial o dia 07/12/2011 (doc.
06), no entanto, não houve qualquer assinatura ou autorização
expressa do idoso.

Tal contrato fora ‘criado’ pelo banco,


em seu próprio benefício, já que inexistiu a contratação por
parte do requerente, como deveria ser, para que válido fosse.

De acordo com informações dadas ao


idoso, quando esse buscara explicações acerca do desconto
efetuado diretamente no valor da sua aposentadoria, o
atendente do banco requerido afirmara simplesmente que
uma terceira pessoa contratara em nome do idoso. No
entanto, não lhe fora apresentado quaisquer documentos
assinado por essa ‘suposta’ terceira pessoa.

Não há, portanto, qualquer


comprovante da operação, ou seja, inexiste elemento que
permita concluir a adesão do requerente ao contrato
mediante declaração de vontade válida, resultando assim, em
negócio jurídico inexistente e nulo no plano jurídico.

Na tentativa de solucionar o impasse,


até a propositura desta ação procurou todos os meios
administrativos na tentativa de parar de pagar o débito
descontado em seu benefício de aposentadoria, mas não
alcançou êxito, de modo que não vu outra saída para a
demanda, vez que já foram descontados os valores acima
referidos.

DOS FUNDAMENTOS

PRELIMINARES

O Requerente pleiteia os benefícios da


JUSTIÇA GRATUITA, assegurada pela Lei 1060/50, tendo em
vista não poder arcar com as despesas processuais.
Nos termos do artigo 4º do referido
diploma legal é suficiente a afirmação de que não possui
condições de arcar com custas e honorários, sem prejuízo
próprio e de sua família, para a obtenção do benefício
pleiteado, pelo que nos bastamos do texto da lei, in verbis:

Art. 4º A parte gozará dos benefícios


da assistência judiciária, mediante
simples afirmação, na própria petição
inicial, de que não está em condições
de pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo
próprio ou de sua família.

            Sendo assim, nos termos da lei,


apresentado o pedido de gratuidade há presunção legal que, a
teor do artigo 5º do mesmo diploma analisado, o juiz deve
prontamente deferir o benefício ao seu requerente.

E, diante do pleito, entender de outra


forma seria impedir o acesso à Justiça daqueles que são
desprovidos do mínimo de recursos financeiros para
sobreviver; e sendo garantia maior dos cidadãos no Estado de
Direito, corolário do princípio constitucional da
inafastabilidade da jurisdição, art. 5º, XXXV da Constituição
Federal, necessária se faz tal concessão.

Ainda, em sede preliminar requer, nos


termos do Art. 1211-a do Código de Processo Penal (na
redação dada pela lei 12.008/09) c/c o art. 71 do “Estatuto do
Idoso” (lei 10.741/03), a concessão do benefício da
“prioridade processual” à pessoa maior de 60 (sessenta
anos), previsto nos referidos dispositivos. Em anexo a esta
petição, segue documento atestando a idade do requerente
(doc. 02), cuja juntada aos autos se pleiteia, atendendo ao
disposto nos arts. 1211-B, caput e 71,§1º das respectivas
normas.

É imprescindível o deferimento do
presente benefício, em razão da avançada idade do
requerente que hoje conta com 79 anos de idade.

Não se pode desconsiderar a morosidade


que assola nossa justiça e suas consequências para aqueles
que aguardam solução para suas pretensões. E em se tratando
de pessoa na derradeira idade é essencial o trâmite prioritário
da demanda, para que a tutela jurisdicional não esteja fadada
a ineficácia.
Requer-se a Vossa Excelência que seja
determinada à secretaria da Vara a devida identificação dos
autos e a tomada das demais providências cabíveis para
assegurar, além da prioridade na tramitação processual,
também a concernente à execução dos atos e diligências
relativos a este feito.

Do Objeto da Ação

Esta ação tem por objetivo obter


provimento jurisdicional que declare a inexistência do
contrato nº 587337397, que indevidamente vincula o idoso
Bernardino Candido da Silva ao empréstimo consignado no
valor total de R$ 1.930,74, sendo que até a presente data,
foram descontadas 6 (seis) parcelas de R$ 63,56.
E ante a inexistência de negócio jurídico
válido, objetiva-se a devolução em dobro dos valores cobrados
indevidamente e a condenação do requerido ao pagamento de
indenização por danos morais.
Da Nulidade do Negócio Jurídico

Antes mesmo de falar em requisitos de


validade ou de eficácia dos negócios jurídicos, a doutrina
civilista trata dos requisitos de existência. São os seguintes: “a
declaração de vontade, a finalidade negocial e a idoneidade
do objeto”.1

Carlos Roberto Gonçalves esclarece que


“a vontade é pressuposto básico do negócio jurídico e é
imprescindível que se exteriorize. Do ponto de vista do
direito, somente a vontade que se exterioriza é considerada
suficiente para compor suporte fático de negócio jurídico”. 2

No caso dos autos, como se vê, não há


nem mesmo vontade, já que essa foi tolhida totalmente. O
contrato, assim, é inexistente, razão pela qual deve tal fato
ser declarado por sentença judicial.

Para o Estatuto do Idoso é obrigação do


Estado e da sociedade assegurar à pessoa idosa a liberdade, o
respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de
direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na
Constituição e nas leis (art. 10, caput).

De fato, não se pode entender que no


Estado Democrático de Direito, se tolere a histórica conivência
desrespeitosa a direitos fundamentais da pessoa idosa. Se é
objetivo da República construir uma “sociedade solidária”
(art. 3º, CF/88) não se pode escusar esse tipo de prática
atentatória aos ideais da República.
1
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. I. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 306.
2
Idem, p. 306.
Da Repetição do Indébito

Com a advento da Lei nº 8.078/90


adotou o direito brasileiro o princípio da vulnerabilidade do
consumidor (art. 4º, I), verdadeira “espinha dorsal” do sistema
protetivo e princípio sobre o qual se assenta toda a linha
filosófica do movimento que culminou com a edição do Código
de Defesa do Consumidor.

Não há, portanto, outra forma de


encarar atualmente as relações entre consumidor e
fornecedor sem se atentar para o fato de que o consumidor é
a parte mais fraca das relações de consumo.

É, dito de outro modo, a parte que se


apresenta frágil e impotente diante do poder econômico,
técnico e até mesmo político do fornecedor. Pautado por este
princípio é que o Código de Defesa do Consumidor definiu
como direitos básicos do consumidor o direito “à
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos” (art. 6º, VI).

Além da disposição genérica acima


citada, para casos especiais, em atenção a singular
vulnerabilidade do consumidor a Lei nº 8.078/90 previu a
obrigação de devolução em dobro do valor cobrado
indevidamente, acrescido de correção e juros legais. A regra
consta literalmente no parágrafo único do art. 42 do Código:
“O consumidor cobrado em quantia
indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do
que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável”.

Na verdade, o art. 42 do Código de


Defesa do Consumidor, objetiva equilibrar as forças do jogo
econômico. Ou o fornecedor acerca-se de todas as garantias
ao determinara cobrança de consumidor ou, como é corrente
no mundo todo, será apenado pela devolução do dobro do que
recebeu.

Diante da inexistência do contrato, por


óbvio não poderiam ter sido descontado do benefício
previdenciário do idoso os valores correspondentes ao
empréstimo narrado. Tais valores, assim, foram efetivamente
cobrados pelo requerido, e o foram indevidamente porque não
há nenhum contrato que autorizasse a cobrança.

Dos Danos Morais

Não basta, como é óbvio, a mera


devolução em dobro dos valores cobrados, obrigação que na
verdade é  pena imposta pelo ordenamento civil ao fornecedor
que extrapola os limites da cobrança.

Na situação configurada nos autos, é


preciso reparar integralmente os danos causados aos
consumidores e, sob este aspecto, vale lembrar que o art. 6º,
VI, do Código de Defesa do Consumidor, garante o direito
básico do consumidor de obter “efetiva prevenção e reparação
de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos”.

O valor da indenização a ser pleiteada,


também por esses motivos, deve levar em conta o desvalor da
conduta, a extensão do dano e o poder aquisitivo do
requerido.

Deve-se, em suma, condenar também o


requerido ao pagamento de indenização pelos danos morais
causados pelo transtorno que o idoso foi submetido ao ter
debitado na sua aposentadoria, empréstimo não autorizado,
sem justificativa idônea para tanto.

A jurisprudência tem abonado a tese de


que a indenização por danos morais independe da devolução
em dobro do valor cobrado abusivamente, já que as causas são
diferentes: na devolução em dobro aplica-se pena e ocorre
parcialmente o ressarcimento do dano material causado; na
indenização por danos morais, protege-se outra esfera de
direitos, os direitos extrapatrimoniais, que devem igualmente
ser tutelados.

Os precedentes abaixo colacionados


amoldam-se ao caso dos autos. Vejamos in verbis:

RELAÇÃO DE CONSUMO. CONTRATAÇÃO


DO SERVIÇO DEINTERNET DE ALTA
VELOCIDADE - ADSL. FALHA NO SERVIÇO.
DANOS MORAIS E MATERIAIS. PRELIMINAR
DE NULIDADE DASENTENÇA AFASTADA.
1. Tendo em vista a violação da
fornecedora do serviço ao dever de
informação e a configuração da falha na
sua execução, impõe-se o dever de
indenizar, forte do artigo 14 DO CDC. 2.
O pagamento por serviço não prestado
merece ser integralmente ressarcido,
sob pena de enriquecimento ilícito, o
que é vedado no ordenamento jurídico.
Admite-se na hipótese, ainda, a
restituição do montante em dobro, nos
termos do artigo 42, parágrafo único, do
Código de Defesa do Consumidor. 3.
Danos morais que se aplicam visando ao
caráter dúplice do instituto, qual seja,
compensatório, pela desconsideração à
pessoa do consumidor, cobrado por
serviço não usufruído, e dissuasória,
evitando, assim, que conduta futura
semelhante seja novamente praticada.
Verba indenizatória que merece,
todavia, ser minorada, devendo ser
proporcional à lesão sofrida sem
representar enriquecimento indevido da
parte. Recurso parcialmente provido.3

DANO MORAL. APOSENTADO. DESCONTO


INDEVIDO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.
CONTRATO INEXISTENTE. O DESCONTO
CONSIGNADO EM PAGAMENTO DE
APOSENTADO JUNTO AO INSS LEVADO A
EFEITO POR INSTITUIÇÃOBANCÁRIA, SEM
A AUTORIZAÇÃO DAQUELE E SEM
CONTRATODE EMPRÉSTIMO QUE LHE DÊ
3
Recurso cível nº 71001122886. Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais. Relator: Ricardo
Torres Hermann, julgado em 26/04/2007.
SUPORTE, CAUSA GRANDEABALO
EMOCIONAL, ANGÚSTIA E APREENSÃO AO
LESADO, VINDO A JUSTIFICAR A FIXAÇÃO
DA REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS EM
VALOR MAIS ELEVADO.4

Dos Pedidos

Diante do exposto REQUER:

a) o recebimento, registro e autuação


da presente ação;
b) o deferimento das preliminares
ventiladas, quais sejam, beneficio da Justiça Gratuita e
Prioridade Processual;
c) a citação da requerida para,
querendo, apresentar a defesa que entender pertinente;
d) a produção de todos os meios de
prova admitidos, notadamente a prova testemunhal e o
depoimento pessoal do idoso;
e) a declaração da inexistência do
contrato nº 587337397 do Banco Bradesco Financiamento;
f) a condenação do Banco Bradesco
Financiamento,
f1) à devolução em dobro dos valores
cobrados indevidamente, no valor total
de R$.......;
f2) ao pagamento de indenização por
danos morais.
f) a condenação do requerido em
custas, despesas processuais e honorários advocatícios.

4
20060810055 700 ACJ, Relator Carlos Pires Soares Neto, Segunda Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 04/03/2008, DJ 26/03/2008 P. 180. (Valor da
condenação mantido em R$ 5.000,00).
Dá-se à causa o valor de R$
1.000,00 (Um Mil Reais), para efeitos fiscais.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Pesqueira, 01 de Junho de 2012.

Alexandre De Almeida e Silva


OAB/PE 17.915

Michelle Jully Holanda Batista Maia


OAB/PE 32.637

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