Você está na página 1de 13

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA

FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO


MARANHÃO

Justiça Gratuita

TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA – PESSOA COM DEFICIÊNCIA

PEDRO DE ALMEIDA DO NASCIMETO, brasileiro, inscrito no CPF sob


o nº 648.796.403-44, residente e domiciliado na TV Saraiva, nº 314, Bairro
Aparecida, Chapadinha-MA, CEP 65.500-000, por seus advogados abaixo assinados,
legalmente constituídos conforme instrumento de outorga em anexo (doc.01), com
escritório profissional na xxxxxx, endereço eletrônico xxxxxxx onde recebe
intimações e avisos de praxe, vem à presença de Vossa Excelência, propor a presente:
AÇÃO DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL À PESSOA COM
DEFICIÊNCIA
em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS,
pessoa jurídica de direito público interno, entidade autárquica inscrita no CNPJ nº.
29.979.036/0074-04, com sede na Avenida dos Holandeses, Quadra 31, n.º 32,
Calhau, Gerência Executiva São Luís- MA, ante as razões de fato e de direito a seguir
expostas:

I- PRELIMINARMENTE:
A) DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

O requerente declara para os devidos fins ser pobre na forma da lei, uma vez
que seu sustento é de baixa renda, motivo pelo qual não tem como arcar com custas e
demais despesas processuais.

Diante disso, requer o autor que lhe seja deferido o benefício da justiça
gratuita, não lhe sendo cobradas as custas processuais, tendo em vista que não dispõe
de meios para custear a presente demanda sem prejuízo da própria sobrevivência, em
conformidade com o disposto no Novo Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios têm direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição
inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou
em recurso.
§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos
que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de
gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural.
§ 4o A assistência do requerente por advogado particular não impede a
concessão de gratuidade da justiça.

B)DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO:


O autor declara optar pela realização da audiência prévia de conciliação, nos
termos do art. 319, VII do NCPC.

C) DA AUTENTICIDADE DOS DOCUMENTOS COLACIONADOS À PEÇA


PREFACIAL
A advogada que esta subscreve, declara serem autênticas as cópias reprográficas
dos documentos anexos à peça prefacial, nos moldes do artigo 425, inciso IV, do Novo
Código de Processo Civil.

Com isso, requer seja acolhida a declaração de autenticidade dosdocumentos


colacionados à inicial.

D) PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO PESSOA COM DEFICIÊNCIA


Conforme se verifica na documentação em anexo, a parte requerida é pessoa
com deficiência, tendo assegurado direito à prioridade na tramitação processual, nos
termos do art. 9º, VII, da Lei nº 13.146/15 – Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).

II. DOS FATOS:


A parte autora, menor, devidamente representada por sua genitora, requereu em
21/06/2021 (DER), junto à Autarquia Previdenciária, a concessão de Benefício
Assistencial à Pessoa com Deficiência.

A análise social foi farovável, porém o benefício foi negado por entender o INSS
que a Requerente NÃO ATENDE AO CRITÉRIO DE DEFICIÊNCIA PARA O
ACESSO AO BPC-LOAS.
Entretanto, os atestados e laudos médicos carreados nos autos demonstram o
estado de impedimento a longo prazo da parte Autora, em decorrência de VISÃO
MONOCULAR, devido a Cegueira do olho esquerdo, que ocasionou outros problemas
de saúde ao longo do tempo.

Ainda, analisando os documentos acostados nos autos, observa-se que o Autor


vive em situação de risco e vulnerabilidade social, eis que não possui renda, vivendo da
ajuda de amigos e familiares, demonstrando, assim, o estado de dificuldade em que se
encontram.

Dessa forma, como fazem prova os documentos anexados com a presente ação
judicial, bem como os demais a serem produzidos no decorrer do processo, a Parte
Autora faz jus ao benefício previdenciário indeferido, razão pela qual busca o Poder
Judiciário para ver seu direito reconhecido.

Síntese sobre as condições pessoais da parte Autora:

CID 10: H 54.4


1. Doença/enfermidade
CID-10: H17
Possui impedimentos a longo prazo que impedem de
2. Limitações decorrentes da
desenvolver atividades do dia a dia e inserção plena na
moléstia
sociedade.

Dados sobre o requerimento administrativo:

1. Número do benefício 87/709.401.758-9

2. Data do requerimento .21/06/2021

Não atende ao critério de deficiência para acesso ao BPC-


3. Razão do indeferimento
LOAS.

Consciente da possibilidade assegurada pelo ordenamento jurídico pátrio, bem


como pelas decisões de nossos Tribunais, recorre, agora, à tutela judicial para ver seus
direitos concedidos de forma correta e necessária, para que seja garantida a Justiça.

Analisando os documentos acostados aos autos, observa-se que as


documentações necessárias para comprovar os requisitos de concessão do benefício
foram inseridas no processo administrativo: CAD ÚNICO, DOC FAMILIAR,
LAUDOS, DOCUMENTAÇÃO MÉDICA.

O requerente vive em situação de risco e vulnerabilidade social.


Ora, após longos debates nas searas judiciais, com o advento da Lei nº 14.126,
DE 22 DE MARÇO DE 2021, a pessoa com visão monocular foi considerada pessoa
com deficiência sensorial para todos os fins. Logo, houve equívoco da autarquia
previdenciária em negar o benefício solicitado.
Para fins de correção do equívoco, e sobretudo, para que seja assegurado ao
demandante, renda mínima, capaz de suprir suas necessidades básicas, o autor propôs
esta ação, a qual será processada conforme os mandamentos legais e, ao final, requer
que seja julgada procedente, para fins de implementação do benefício a que faz jus.

Eis a síntese dos fatos.

III. DO DIREITO:

Nos termos do art. 1º, da Carta Magna, a República Federativa do Brasil


constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como uns dos seus fundamentos
a cidadania e a dignidade da pessoa humana.

O seu art. 3º também firmou como objetivos fundamentais republicanos: a


construção de uma sociedade solidária; a garantia do desenvolvimento nacional;
erradicação da pobreza e marginalização, reduzindo as desigualdades sociais e
regionais; bem como a promoção do bem de todos, sem qualquer discriminação.

O art. 6º da mesma Constituição ainda destacou a assistência aos


desamparados como um dos Direitos Sociais. E adiante, o art. 203 instituiu o
benefício assistencial à pessoa portadora de deficiência como garantia de um salário
mínimo de benefício mensal quando comprovada a impossibilidade deste prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Conforme se observa no laudo médico em anexo, o Autor apresenta cegueira
monocular (CID 10 - H54.4), problema que o impede de desenvolver com dignidade
sua vida plena em sociedade.

A pretensão do Autor vem amparada no art. 203, inciso V, da Constituição


Federal de 1988, na Lei 8.742/93 e demais normas aplicáveis. Tais normas dispõem que
para fazer jus ao Benefício Assistencial, o Requerente deve estar incapacitado para o
trabalho ou ser pessoa com mais de 65 anos de idade, além de comprovar a
impossibilidade de ter seu sustento provido pelo seu núcleo familiar.

No que se refere ao quesito de deficiência para acesso ao benefício em comento,


faz-se mister traçar alguns comentários acerca das significativas alterações legislativas e
hermenêuticas acerca do tema.

Analisando a redação original do § 2º do art. 20 da LOAS, observa-se que houve


drásticas mudanças com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº
13.146/15):

REDAÇÃO ORIGINAL:
2º Para efeitos de concessão deste benefício, a pessoa portadora de
deficiência é aquela incapacitada para o trabalho e para a vida
independente.

NOVA REDAÇÃO:
2o- Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada,
considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
A partir daí, contata-se a superação do conceito anterior de deficiência, calcado
na (in)capacidade laborativa, e passa-se a adotar o critério da (des)igualdade de
oportunidades. Ou seja, com o advento da nova legislação, pessoa com deficiência é
aquela que, em virtude de impedimentos e barreiras, não possui as mesmas condições de
participar da vida em sociedade que as demais pessoas.

Logo, não mais se conceitua a deficiência que enseja o acesso ao BPC-LOAS


como aquela que incapacita a pessoa para a vida independente e para o trabalho, mas
sim aquela que se constitui em algum tipo de impedimento, que, em interação com
uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas.
Neste sentido, percebe-se que o legislador foi minucioso ao estabelecer no art.
3º, inciso IV do referido diploma, a conceituação das diferentes espécies de barreiras
que podem atravancar a participação em igualdade de condições da pessoa com
deficiência, veja-se:

Art. 3o Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:


IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento
que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o
gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à
liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à
informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros,
classificadas em:
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos
e privados abertos ao público ou de uso coletivo;
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e
privados;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de
transportes;
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave,
obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a
expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por
intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação;
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou
prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade
de condições e oportunidades com as demais pessoas;
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da
pessoa com deficiência às tecnologias;

Logo, não mais se conceitua a deficiência que enseja o acesso ao BPC-LOAS


como aquele que incapacite a pessoa para a vida independente e para o trabalho, e
sim aquele que possui algum tipo de impedimento, que, em interação com uma
ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade,
em igualdade de condições com as demais pessoas. Em momento algum a norma
condiciona o recebimento do benefício à demonstração da incapacidade para o
trabalho!

De fato, não se pode confundir deficiência (artigo 20, § 2º da LOAS) com


incapacidade laborativa, exigindo, para a configuração do direito, a demonstração da
“invalidez de longo prazo”. Isto, pois a consequência prática deste equívoco é a
denegação do benefício assistencial a um número expressivo de pessoas que têm
deficiência e vivem em condições de absoluta penúria e segregação social,
comprometendo as condições materiais básicas para seu sustento.

A TNU explicitou tal entendimento por ocasião da reforma da Súmula nº 48:

Para fins de concessão do benefício assistencial de prestação continuada,


o conceito de pessoa com deficiência, que não se confunde
necessariamente com situação de incapacidade laborativa, exige a
configuração de impedimento de longo prazo com duração mínima de 2
(dois) anos, a ser aferido no caso concreto, desde o início do impedimento
até a data prevista para a sua cessação “. (grifado)

Nesse sentido, cumpre salientar que o novo conceito de pessoa com deficiência
foi primeiramente estabelecido pelo art. 1º da Convenção Internacional sobre os
Direitos da Pessoa com Deficiência, constitucionalizado pelo Brasil ao seguir o rito do
art. 5º, §3º da Constituição Federal (incorporado em nosso ordenamento jurídico
com força de EMENDA CONSTITUCIONAL), com a consequente promulgação do
Decreto nº 6.949/09.

Diante disto, a recente mudança de paradigma na conceituação da pessoa com


deficiência possui força de Emenda Constitucional, com aplicação imediata, de
maneira que todo o ordenamento infraconstitucional conflitante com o novo conceito
deve ser assistido como incompatível em termos de compatibilidade constitucional.

Atentando ao preâmbulo da Convenção Internacional sobre os Direitos das


Pessoas com Deficiência, no item ‘e’ deparamo-nos com a seguinte definição de
deficiência:

e)Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução e


que a deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e as
barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva
participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades
com as demais pessoas.

A partir da conjugação deste critério com o disposto no artigo 2º do Estatuto


da Pessoa com Deficiência, que trouxe contribuição à redação dada pelo artigo 1º do
Pacto de Nova Iorque, conclui-se que uma pessoa pode ter deficiência e, ainda
assim, ser capaz de trabalhar e de manter uma vida independente. Se esta pessoa
for economicamente miserável, lhe assiste direito ao Benefício Assistencial,
conforme previsão do artigo 203, V da CF/88.
Definição semelhante também é dada pelo art. 4º, inciso I, do Dec.
3.298/99, o qual considera como pessoa portadora de deficiência aquela com
alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo, acarretando o
comprometimento da função física, o que ocorre com a autora.

Por sua vez, o art. 3º, I, do mesmo diploma define a deficiência como “toda
perda ou anormalidade [...] que gere incapacidade para o desempenho de atividade,
dentro do padrão considerado normal para o ser humano”, sendo ela permanente
quando insuscetível de recuperação ou alteração, apesar de novos tratamentos.

Aplica-se ainda, cumulativamente aos artigos acima evidenciados, a Súmula


nº 29, editada pela TNU dos Juizados Especiais Federais, bem como o Enunciado nº
30, da Advocacia Geral da União – AGU:

Súmula 29, da TNU: Para efeitos do art. 20, § 2º, da Lei 8.742, de
1993, a incapacidade para a vida independente não só é aquela que impede
as atividades mais elementares da pessoa, mas também a impossibilita de
prover ao próprio sustento.

Enunciado 30, da AGU: A incapacidade para prover a própria subsistência por


meio do trabalho é suficiente para a caracterização da incapacidade para a vida
independente, conforme estabelecido no art. 203, V, da Constituição Federal, e art.
20, II, da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

NESTE SENTIDO, COLACIONAMOS ABAIXO IMPORTANTE JULGADO


DE CASO SEMELHANTE AO DO REQUERENTE, ONDE O BPC/LOAS FOI
CONCEDIDO PELO TRF-5ª REGIÃO:

PREVIDENCIÁRIO. AMPARO SOCIAL. REQUISITOS.


OBSERVÂNCIA. 1. [...] 2. No caso concreto, infere-se da prova pericial que
o recorrente, em razão da perda do globo ocular esquerdo, apresenta
limitações que não se coadunam com o exercício da profissão de pedreiro (a
visão monocular, como é cediço, restringe bastante a sensação
tridimensional), sendo certo que, por contar ele com quase cinqüenta anos,
dificilmente será reinserido no mercado de trabalho, isso na remota hipótese
de vir a se qualificar para o desempenho de outra espécie de labor.
3. Impõe-se, destarte, o reconhecimento da incapacidade do demandante
para o trabalho e para a vida independente, tendo o próprio INSS
reconhecido que o apelante não possui meios de prover a própria
manutenção ou tê-la provida por sua família. Por conseguinte, neste caso,
diante das especificidades acima relatadas, devida é a concessão do amparo
assistencial. 4. Apelo provido. (TRF-5 - AC: 417118 PB 0001218-
80.2004.4.05.8202)
Diante de todo o exposto, é imperativo concluir a condição de pessoa com
deficiência do Autor uma vez que a mesma possui cegueira que obstrui sua
participação plena e efetiva na sociedade. Ademais, sua condição de vulnerabilidade
socioeconômica agrava ainda mais sua situação, pois impede o acesso ao
tratamento adequado de suas patologias.

Aliás, o simples fato de estar acometido de tão grave patologia, conforme


diagnóstico dos médicos que acompanham seu estado de saúde, já demonstra os
obstáculos que a Autora enfrentará, não sendo crível presumir que ele possa
competir em igualdade de condições com as demais pessoas na busca por emprego!

Quanto ao estado de miserabilidade da Demandante, sem sombra de dúvidas


será confirmado pela avaliação social que a mesma não tem condições de ter uma
vida normal sem a devida assistência profissional.

DA VISÃO MONOCULAR

Consonante a isto, e regido pelas constantes mudanças legislativas a fim de


inserir as diversas situações sociais, lhes garantindo direitos, ressalta-se a recente Lei
14.126/2021, que estabelece:

“Art. 1º Fica a visão monocular classificada como deficiência


sensorial, do tipo visual, para todos os efeitos legais.”

Desta forma claramente incluída no rol das variedades de deficiências elencadas


no artigo 20, § 2º, da LOAS, bem como definidas no Decreto nº 6.214/07, art. 16, § 5º,
II. As quais, somadas ou não, impedem a longo prazo o ser humano de participar plena
e efetivamente na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Portanto, comprava-se que a deficiência do autor, de caráter sensorial -além da


deficiência física - atende aos critérios para recebimento do Benefício requerido!

A jurisprudência dos Tribunais já vinha sedimentando o entendimento de


considerar que a visão monocular como deficiência, o que ensejou a fixação por meio
de enunciado de súmula 377, do EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
“O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às
vagas reservadas aos deficientes.”
Destaca-se, ainda, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça anterior à Lei
nº 14.126/2021, esboçado a título de exemplo no RECURSO ESPECIAL Nº 1.553.931 -
PR (2015/0223319-0), que não diferencia pessoas com cegueira mono ou binocular para
fins de isenção do imposto de renda.

Para corroborar com todo o entendimento esposado, trago à baila, excerto da


jurisprudência do TRF da 1ª Região:
“PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.
CEGUEIRA MONOCULAR. NÚCLEO FAMILIAR BENEFICIÁRIO DO
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA. 1. Trata-se de agravo de instrumento
interposto pela parte autora contra decisão proferida pelo Juízo da Comarca
de Pedra Azul, que indeferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela. 2.
Informa a Agravante que teve indeferido o Benefício de Prestação
Continuada LOAS -, a despeito de ser portador de cegueira monocular,
sendo seu grau de instrução inapto ao ingresso no mercado de trabalho em
função outra que não a anteriormente exercida de pedreiro. Afirma, também,
que reside com sua esposa e duas filhas, sendo o núcleo familiar beneficiado
pelo Programa Bolsa-Família, o que denota a existência de miserabilidade
apta ao deferimento do benefício, a fim de manter-se de forma minimamente
digna. 3. Da vulnerabilidade social - No caso concreto, o INSS indeferiu o
BPC, na seara administrativa, por não vislumbrar o impedimento de longo
prazo do Agravante, razão pela qual prescindível tecer maiores
considerações acerca da miserabilidade do grupo familiar beneficiário do
Programa Bolsa-Família, programa este que possui o objetivo de auxiliar
famílias que estão em situação de pobreza e de extrema pobreza, com o
pagamento de um valor em dinheiro de acordo com sua classe de salário. 4.
Do impedimento de longo prazo - Embora a prova pericial seja
hodiernamente imprescindível em casos deste jaez, do exame dos fólios
eletrônicos se extrai, indubitavelmente, que o Agravante é portador de
cegueira monocular (olho esquerdo impraticável eviscerado), o que, no
caso concreto, inviabiliza o exercício de atividade laboral, eis que levando-
se em conta que o Agravante desenvolve atividade campesina e braçal, é
certo que a aludida cegueira o impedirá de exercer com afinco seu labor, o
que redundará na efetiva e inegável dificuldade de sustento próprio e
familiar. 5. Outrossim, é de se levar em conta que a cegueira monocular é
considerada patologia do SUS e que, dentro desse panorama, se enquadra o
Agravante no conceito hodierno de deficiente físico. Assim, deve-se
considerar a incapacidade do Agravante de longo prazo, mormente levando
em consideração suas características pessoais e o impacto da deficiência na
atividade que o possibilitava o sustento. 6. Agravo de instrumento provido
para, ratificando a liminar deferida, determinar ao INSS que conceda, em
favor do Agravante, o BPC. (TRF 1 - Processo nº 1019502-
10.2018.4.01.0000, Relator DES. WILSON ALVES DE SOUZA, Órgão
julgador: Primeira Turma, Data do Julgamento: 07/04/2020, Data da
Publicação: 07/04/2020).”

PORTANTO, tendo em vista que o autor preenche todos os requisitos para a


concessão do benefício assistencial requerido, requer à Vossa Excelência a
PROCEDÊNCIA do pedido autoral para condenar o INSTITUTO NACIONAL DO
SEGURO SOCIAL - INSS a conceder o Benefício de Prestação Continuada em caráter
definitivo, bem como as parcelas devidas desde a data do requerimento administrativo.

DISPENSA DE PROVA DE MISERABILIDADE

Em, 21 de Fevereiro de 2019, a TNU fixou a seguinte tese no Tema 177. Para os
requerimentos administrativos formulados a partir de 07 de novembro de 2016 (Decreto
n. 8.805/16), em que o indeferimento do Benefício da Prestação Continuada pelo INSS
ocorrer em virtude do não reconhecimento da deficiência, é desnecessária a produção
em juízo da prova da miserabilidade, salvo nos casos de impugnação específica e
fundamentada da autarquia previdenciária ou decurso de prazo superior a 2 (dois) anos
do indeferimento administrativo;

IV. DA TUTELA DE URGÊNCIA:

Desde logo, registre-se cuidar-se a pretensão autoral de requerimento com


natureza alimentar, a qual, com base na comprovação dos pressupostos dos arts. 294 e
300 do CPC, pretende obter provimento favorável já em primeira instância, por meio de
pedido de tutela de urgência.
O Código de Processo Civil de 2015 mantém a possibilidade do pedido de tutela
de urgência como espécie de “antecipação dos efeitos da tutela” ligada a pedido que
envolve a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo, sendo aqui requerida aquela de natureza satisfativa.
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo. [...]
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou
após justificação prévia.”
Na presente situação, além da evidente existência de teses jurisprudenciais e
inúmeros dispositivos legais que corroboram com o pleito autoral, tudo o quanto
relatado está devidamente comprovado por robusta documentação, vez que fora
acostados: (a) Laudos e Exames médicos, atestando o quadro clínico grave e incurável;
b) cópia do comunicado de decisão negativa do INSS; c) Declaração de
Hipossuficiência constatando o seu estado de miserabilidade d) CAD
O perigo de dano é evidenciado pelo fato de Autor se encontrar deficiente visual
(cegueira monocular), como também em estado de miserabilidade, por não mais
conseguir trabalhar e consequentemente não obter renda para se sustentar, passando
necessidades, sendo plenamente válido o requerimento do BPC/LOAS.
Isto posto, pugna pela concessão da tutela de urgência em caráter de medida
liminar inaudita altera pars, pela condenação da Ré a conceder-lhe o benefício
previdenciário pretendido, no prazo máximo de 30 dias.

Desde logo, registre-se

V. DOS PEDIDOS:

Face ao exposto, requer a Vossa Excelência:

a) O recebimento e o deferimento da presente peça inaugural, bem como o deferimento da


Gratuidade da Justiça, por ser a Autora pobre na acepção legal do termo;

b) Que seja deferida TUTELA DE URGÊNCIA EM CARÁTER LIMINAR, no sentido


de obrigar a Ré a conceder o benefício previdenciário - BPC/LOAS;

c) A citação do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, para, querendo, apresentar


defesa, no prazo legal, sob pena de revelia;

d) A não realização de audiência de conciliação ou de mediação, pelas razões acima


expostas

e) A produção de todos os meios de prova, principalmente a documental e a pericial,


caso não seja dispensada. Com relação à última, REQUER seja observada a
Resolução nº 1.488/98 e o Parecer nº 10/2012 do Conselho Federal de Medicina;

f) Seja recebida e processada a presente ação, confirmando-se a tutela de urgência


em favor da autora, caso deferida, e condenado o INSS a conceder o benefício
assistencial aqui requerido em caráter definitivo, bem como a pagar as parcelas
vencidas desde DER, monetariamente corrigidas desde o respectivo vencimento e
acrescidas de juros legais moratórios, ambos incidentes até a data do efetivo
pagamento;
g) Em caso de recurso, ao pagamento de custas e honorários advocatícios, eis que
cabíveis em segundo grau de jurisdição, com fulcro no art. 55 da lei 9.099/95 c/c art.
1º da Lei 10.259/01.

Dá-se à causa o valor de R$ 27.654,00 (vinte e sete mil e seiscentos e


cinquenta e quatro reais), renunciando desde já a eventuais valores que excedam a
60 (sessenta)

Nesses termos, Pede deferimento.

Chapadinha-MA, 11 de maio de 2023.

Séfora Luciana G. De Almeida


OAB/MA 16.265

Você também pode gostar