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AO JUÍZO ____ ª VARA FEDERAL DA SEÇÃ O JUDICIÁ RIA DO ESTADO DO AMAPÁ

X, solteira, desempregada, inscrito (a) no CPF sob nº 000000, portador (a) do RG 111111
DPTC, residente e domiciliado (a) na Rua Cinco, Bloco 03, Ap 311, Bairro Beirol, CEP
222222,cidade de Macapá /AP, Brasil, vem, mui respeitosamente, por intermédio de seus
Advogados e Procuradores, mandato junto, endereço profissional à Rua Leopoldo Machado,
nº 3333333, Sala 02, Bairro Centro, Macapá /AP, CEP 444444, onde poderã o receber
intimaçõ es, vem à ilustre presença de V. Exa., apresentar à presente:
AÇÃ O CONDENATÓ RIA À CONCESSÃ O DE AMPARO ASSISTENCIAL À PESSOA COM
DEFICIÊ NCIA C/C TUTELA DE URGÊ NCIA ANTECIPADA
Em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, autarquia federal, inscrita
sob CNPJ n.º 0000000, sem e-mail, com sede à Rua Leopoldo Machado, nº 11111, Bairro
Centro, Macapá /AP, CEP 5555555, devendo ser citada/intimada, por intermédio de sua
Procuradoria situada à Avenida FAB, nº 1212121212, Bairro Centro, Macapá /AP, CEP
5555555, pelos motivos de fato e de direito seguir expostos:
I - DOS FATOS
A Autora tem 49 (quarenta e nove) anos de idade e foi diagnosticada com Fenda do palato
duro com fenda do palato mole, CID 10 – Q35, conforme comprova os laudos médicos em
apenso, além de nã o possuir fonte de renda.
No dia 21/12/2021 (DER), requereu junto à agencia de Previdência Social a concessã o do
Benefício de Prestaçã o Continuada da Assistência Social a pessoa Portadora de Deficiência,
no qual restou indeferido, sob fundamento de: “Vínculo aberto – exercício de atividade
remunerada – renda bruta de trabalho no CADÚ NICO”.
Contudo, como fazem prova os documentos anexados com a presente açã o judicial, a Parte
Autora faz jus ao benefício previdenciá rio que foi indevidamente negado, motivo pelo qual
busca pelo Poder Judiciá rio o reconhecimento do seu direito.
Do mesmo modo, é de bom alvitre salientar, que a Requerente reside com seu ú nico filho,
com uma renda mensal no valor de R$ 24,00 (vinte e quatro reais), nã o possuindo qualquer
outra fonte de renda, de acordo com documentos anexados. A autora declara que a
composiçã o do seu nú cleo familiar é igual à do CadÚ nico.
Sendo assim, a Requerente busca o reconhecimento do seu direito, nã o sendo justo o
indeferimento do benefício, mesmo diante de tamanha deficiência e estado de
miserabilidade.
II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
II.I – DA PREVISÃ O LEGAL DO BENEFÍCIO
Nos termos do artigo 1º da Carta Magna, a Repú blica Federativa do Brasil constitui-se em
Estado Democrá tico de Direito e tem como um dos seus fundamentos a cidadania e a
dignidade da pessoa humana. O seu artigo 3º também firmou como objetivos fundamentais
republicanos: a construçã o de uma sociedade solidá ria; a garantia do desenvolvimento
nacional; erradicaçã o de pobreza e marginalizaçã o, reduzindo as desigualdades sociais e
regionais; bem como a promoçã o do bem de todos, sem qualquer discriminaçã o.
O artigo 6º da mesma Constituiçã o ainda destacou a assistência aos desamparados como
um dos direitos sociais. E adiante, o art. 203 instituiu o benefício assistencial à pessoa
portadora de deficiência como garantia de um salá rio mínimo de benefício mensal quando
comprovada a impossibilidade deste prover à pró pria manutençã o ou de tê-la provida por
sua família, conforme dispuser na lei.
Ademais, a Lei nº 8.742/93 em seu artigo 20 dispõ e sobre a organizaçã o da assistência
social, além de outras providências. Vejamos:
Art. 20. O benefício de prestaçã o continuada é a garantia de um salá rio-mínimo mensal à
pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem
nã o possuir meios de prover a pró pria manutençã o nem de tê-la provida por sua família.
(Redaçã o dada pela Lei nº 12.435, de 2011) (Vide Lei nº 13.985, de 2020)
No mesmo dispositivo, no § 2º há ainda a definiçã o do que vem a ser considerado como
pessoa com deficiência. Observa-se:
§ 2º. Para efeito de concessã o do benefício de prestaçã o continuada, considera-se pessoa
com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interaçã o com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participaçã o plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiçõ es com as demais
pessoas. (Redaçã o dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Definiçã o semelhante também é dada pelo artigo 2º, § 2º e artigo 3º, inciso IV da Lei nº
13.146/15:
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interaçã o com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participaçã o plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condiçõ es com as demais pessoas.
(...)
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliaçã o da deficiência. (Vide Lei nº
13.846, de 2019) (Vide Lei nº 14.126, de 2021)
Art. 3º. (...)
IV - barreiras: qualquer entrave, obstá culo, atitude ou comportamento que limite ou
impeça a participaçã o social da pessoa, bem como o gozo, a fruiçã o e o exercício de seus
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressã o, à comunicaçã o, ao
acesso à informaçã o, à compreensã o, à circulaçã o com segurança, entre outros,
classificadas em:
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços pú blicos e privados abertos
ao pú blico ou de uso coletivo;
b) barreiras arquitetô nicas: as existentes nos edifícios pú blicos e privados;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes;
d) barreiras nas comunicaçõ es e na informaçã o: qualquer entrave, obstá culo, atitude ou
comportamento que dificulte ou impossibilite a expressã o ou o recebimento de mensagens
e de informaçõ es por intermédio de sistemas de comunicaçã o e de tecnologia da
informaçã o;
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a
participaçã o social da pessoa com deficiência em igualdade de condiçõ es e oportunidades
com as demais pessoas;
f) barreiras tecnoló gicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência
à s tecnologias;
Logo, nã o mais se conceitua a deficiência que enseja o acesso ao BPC/LOAS como aquele
que incapacite a pessoa para a vida independente e o trabalho, e sim aquele que possui
algum tipo de impedimento, que, em interaçã o com uma ou mais barreiras, pode obstruir
sua participaçã o plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condiçõ es com as demais
pessoas.
Aplica-se ainda cumulativamente aos artigos acima evidenciados a Sú mula nº 48 da TNU:
SÚMULA 48 TNU: Para fins de concessã o do benefício assistencial de prestaçã o
continuada, o conceito de pessoa com deficiência, que nã o se confunde necessariamente
com situaçã o de incapacidade laborativa, exige a configuraçã o de impedimento de longo
prazo com duraçã o mínima de 2 (dois) anos, a ser aferido no caso concreto, desde o início
do impedimento até a data prevista para a sua cessaçã o.
Atentando ao preâ mbulo da Convençã o Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, no item ‘e’ deparamo-nos com a seguinte definiçã o de deficiência:
e) Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução e que a deficiência
resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes
e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na
sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
A partir da conjugaçã o deste critério com o disposto no artigo 2º do Estatuto da Pessoa com
Deficiência, que trouxe contribuiçã o à redaçã o dada pelo artigo 1º do Pacto de Nova Iorque,
conclui-se que uma pessoa PODE TER DEFICIÊ NCIA E, AINDA ASSIM, SER CAPAZ DE
TRABALHAR E DE MANTER UMA VIDA INDEPENDENTE. Se esta pessoa vivendo estado
de pobreza (“miserabilidade”), lhe assiste direito ao Benefício Assistencial, conforme
previsão do artigo 203, V da CF/88.
O Decreto nº 6.214/07, que regulamento o benefício de prestaçã o continuada, estabelece
os parâ metros a serem utilizados para a avaliaçã o do “requisito de deficiência”, perceba-se:
Art. 16. A concessão do benefício à pessoa com deficiência ficará sujeita à avaliação
da deficiência e do grau de impedimento, com base nos princípios da Classificaçã o
Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saú de – CIF, estabelecida pela Resoluçã o
da Organizaçã o Mundial da Saú de no 54.21, aprovada pela 54a Assembleia Mundial da
Saú de, em 22 de maio de 2001. (Redaçã o dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)
[…]
§ 2o A avaliação social considerará os fatores ambientais, sociais e pessoais, a
avaliação médica considerará as deficiências nas funções e nas estruturas do corpo,
e ambas considerarão a limitação do desempenho de atividades e a restrição da
participação social, segundo suas especificidades. (Redaçã o dada pelo Decreto nº 7.617,
de 2011)
§ 5o A avaliaçã o da deficiência e do grau de impedimento tem por objetivo: (Incluído pelo
Decreto nº 7.617, de 2011)
I – comprovar a existência de impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial; e (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)
II – aferir o grau de restrição para a participação plena e efetiva da pessoa com
deficiência na sociedade, decorrente da interação dos impedimentos a que se refere
o inciso I com barreiras diversas. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)
§ 6o O benefício poderá ser concedido nos casos em que nã o seja possível prever a duraçã o
dos impedimentos a que se refere o inciso I do § 5o, mas exista a possibilidade de que se
estendam por longo prazo. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011) (grifos acrescidos)
A Turma Nacional de Uniformizaçã o já decidiu que para a concessã o do benefício
assistencial devem ser observados os princípios da Classificaçã o Internacional de
Funcionalidades, Incapacidade e Saú de (CIF):
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃ O – PREVIDENCIÁ RIO – ASSISTÊ NCIA SOCIAL –
CONCESSÃ O DE BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃ O CONTINUADA (LOAS) – INCAPACIDADE
PARCIAL E DEFINITIVA – PORTADORA DE LÚ PUS ERITEMATOSO SISTÊ MICO – DOENÇA
AUTO IMUNE – NECESSIDADE DE AVERIGUAR AS CONDIÇÕ ES SOCIAIS PARA CONCLUSÃ O
DA (IN) CAPACIDADE – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. Trata-se de
agravo contra inadmissã o de incidente de uniformizaçã o nacional, suscitado pela parte
autora, em face de acó rdã o de Turma Recursal do Juizado Especial Federal da Seçã o
Judiciá ria de Pernambuco. Inadmitido o incidente pela Turma de origem, foi requerida,
tempestivamente, a submissã o da admissibilidade à Presidência desta Turma Nacional nos
termos do art. 7º, VI do RI/TNU. A matéria ventilada e a ser verificada no presente caso é a
possibilidade de se conceder o benefício assistencial previsto na Lei Orgâ nica da
Assistência Social em casos de incapacidade parcial e definitiva, considerando as condiçõ es
pessoais e só cio-econô micas do beneficiá rio. A parte autora encontra-se com 35 anos, é
portadora de lú pus eritematoso sistêmico, uma doença auto imune, tem o ensino
fundamental incompleto, é lavadeira sem nunca ter trabalhado com carteira assinada e,
atualmente, quando sente poucas dores, faz pequenos serviços como tal. Depende, para a
sobrevivência, da pensã o alimentícia dos dois filhos menores e do Bolsa Família. O
“prognó stico é pessimista para a cura”. Ainda de acordo com o perito, “no momento a
pericianda é portadora de incapacidade parcial definitiva. Pode exercer atividades que nã o
exijam longas caminhadas, exposiçã o ao sol e elevaçã o de peso. Levando em consideraçã o o
relativo nível de escolaridade, necessita de programa de reabilitaçã o profissional”. Nã o
houve perícia social nem realizaçã o de audiência para a colheita de provas testemunhais.
Na contestaçã o, o INSS se manifesta pela improcedência do pedido declinado na exordial,
pois “sendo a parte autora apenas parcialmente incapaz, resta descaracterizado um dos
requisitos do amparo assistencial”. A Sentença de improcedência de 1º grau foi mantida
pela Turma Recursal, sob o argumento de que a parte autora nã o se enquadra no conceito
legal de pessoa portadora de deficiência para efeitos da obtençã o de benefício assistencial:
“…entendo que a incapacidade parcial da autora nã o a afasta do mercado de trabalho, eis
que existem atividades que podem ser por ela exercidas”, segundo o Magistrado
sentenciante. Sustenta o Recorrente que “a patologia da autora é suficiente para torná -la
incapaz de prover seu sustento dignamente”. Foram apresentadas as contrarrazõ es pela
inadmissã o. É o relató rio. […] Ao adentrar no mérito, imperioso perquirir, em um primeiro
instante, o que seja incapacidade no habitat da legislaçã o. Efetivando o estudo pelo critério
da interpretaçã o sistemá tica, conclui-se que a incapacidade nã o pode ser avaliada
exclusivamente à luz da metodologia científica. Fatores pessoais e sociais devem ser
levados em consideraçã o, outrossim. Há que se perscrutar, considerando que a
incapacidade laborativa impossibilita, impreterivelmente, a mantença de uma vida
independente, se há a possibilidade real de reinserçã o do trabalhador no mercado de
trabalho, no caso concreto. Deve ser balizada, para tanto, a ocupaçã o efetivamente
disponível para o autor, levando-se em conta, além da doença que lhe acometeu, a idade, o
grau de instruçã o, bem como, a época e local em que vive. Como se trata do benefício da Lei
Orgâ nica da Assistência Social, vejamos o que a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993,
estabelece: Art. 20. O benefício de prestaçã o continuada é a garantia de um salá rio-mínimo
mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que
comprovem nã o possuir meios de prover a pró pria manutençã o nem de tê-la provida por
sua família. § 2o Para efeito de concessã o deste benefício, considera-se pessoa com
deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interaçã o com diversas barreiras, podem obstruir sua
participaçã o plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiçõ es com as demais
pessoas. § 3o Considera-se incapaz de prover a manutençã o da pessoa com deficiência ou
idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salá rio-
mínimo A Lei n. 7.853/88, que dispõ e sobre a Política Nacional para Integraçã o da Pessoa
Portadora de Deficiência, foi regulamentada pelo Decreto n. 3.298, que prescreve: Art. 3o
Para os efeitos deste Decreto, considera-se: III – incapacidade – uma reduçã o efetiva e
acentuada da capacidade de integraçã o social, com necessidade de equipamentos,
adaptaçõ es, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa
receber ou transmitir informaçõ es necessá rias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho
de funçã o ou atividade a ser exercida. Art. 4o É considerada pessoa portadora de
deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I – deficiência física – alteraçã o
completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da funçã o física, apresentando-se sob a forma de paraplegia,
paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputaçã o ou ausência de membro, paralisia cerebral,
nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades
estéticas e as que nã o produzam dificuldades para o desempenho de funçõ es; (Grifos
nossos) No que concerne à definiçã o de incapacidade para se fazer jus ao benefício em
questã o, o Decreto nº. 6.214, de 26/09/07, ao regulamentá -lo, firma, no seus artigos 4º e
16, o que é incapacidade e o grau a ser considerado, in verbis: Art. 4o Para os fins do
reconhecimento do direito ao benefício, considera-se: III – incapacidade: fenô meno
multidimensional que abrange limitaçã o do desempenho de atividade e restriçã o da
participaçã o, com reduçã o efetiva e acentuada da capacidade de inclusã o social, em
correspondência à interaçã o entre a pessoa com deficiência e seu ambiente físico e social;
…. Art. 16. A concessã o do benefício à pessoa com deficiência ficará sujeita à avaliaçã o da
deficiência e do grau de incapacidade, com base nos princípios da Classificaçã o
Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saú de – CIF, estabelecida pela Resoluçã o
da Organizaçã o Mundial da Saú de no 54.21, aprovada pela 54ª Assembléia Mundial da
Saú de, em 22 de maio de 2001. § 1o A avaliaçã o da deficiência e do grau de incapacidade
será composta de avaliaçã o médica e social. § 2o A avaliaçã o médica da deficiência e do
grau de incapacidade considerará as deficiências nas funçõ es e nas estruturas do corpo, e a
avaliaçã o social considerará os fatores ambientais, sociais e pessoais, e ambas considerarã o
a limitaçã o do desempenho de atividades e a restriçã o da participaçã o social, segundo suas
especificidades; (Grifos nossos) O entendimento perfilhado por esta Corte, outrossim, é no
sentido de que o magistrado, ao analisar as provas dos autos sobre as quais formará sua
convicçã o, e deparando-se com laudos que atestem incapacidade parcial, deve levar em
consideraçã o as condiçõ es pessoais da parte requerente para a concessã o de benefício
assistencial. Malgrado nã o ser a incapacidade total e definitiva, pode ser considerada como
tal quando assim o permitirem as circunstâ ncias só cio-econô micas do beneficiá rio, ou na
medida em que este nã o possuir condiçõ es financeiras de custear tratamento especializado,
ou, mesmo, se sua reinserçã o no seu ambiente de trabalho restar impossibilitado. […].
(TNU, PEDILEF 05344825220094058300, Relator JUIZ FEDERAL WILSON JOSÉ WITZEL,
DOU 23/01/2015 PÁ GINAS 68/160).
Agora, dado o quadro da doença comprovado pelos laudos médicos, resta claro que a
Autora está impossibilitada de trabalhar e consequentemente nã o tem como conseguir
renda para o pró prio sustento.
A autora encontra-se desempregada atualmente, nã o possuindo fonte de renda. Sendo
assim, é concluso que a situaçã o da Requerente vai ao encontro dos ideais constitucionais e
infraconstitucionais no tocante aos desamparados. Declara que a composiçã o do seu nú cleo
familiar é igual à do CadÚ nico conforme já exposto na exordial.
É imperioso ressaltar que muitos debates surgiram com relaçã o à possibilidade, também,
da exclusã o de outro benefício destinado à Pessoa com Deficiência ou ainda o benefício
previdenciá rio no valor de um salá rio mínimo, tal como aposentadoria, uma vez que o risco
social era o mesmo (pela identidade de valor pago aos benefícios), nã o havendo
justificativa para tratar de forma desiguais situaçõ es de idêntica vulnerabilidade.
Com base no princípio da isonomia, as decisõ es judiciais têm sido no sentido de estender
essa exclusã o de renda quando se trata de benefício previdenciá rio de valor mínimo. O STF,
ao julgar o RE 567.985/MT, acabou por definir também esta questã o e houve pacificaçã o do
entendimento no sentido de que todo e qualquer benefício no valor de um salá rio mínimo
deve ser excluído do cá lculo da renda familiar.
A Advocacia-Geral da Uniã o regulamentou a questã o com a ediçã o da Instruçã o Normativa
nº 2/2014, liberando os Procuradores Federais de contestar ou recorrer nas situaçõ es
onde o debate seja atinente à percepçã o de benefício no valor de 01 (um) salá rio mínimo
por outro ente do grupo familiar.
Por sua vez a TNU aduz na Sú mula 11 que:
A RENDA MENSAL, PER CAPITA, FAMILIAR, SUPERIOR A ¼ (UM QUARTO) DO SALÁ RIO
MÍNIMO NÃ O IMPEDE A CONCESSÃ O DO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL PREVISTO NO ART.
20, § 3º DA LEI Nº. 8.742 DE 1993, DESDE QUE COMPROVADA, POR OUTROS MEIOS, A
MISERABILIDADE DO POSTULANTE.
Ademais, é de bom alvitre salientar, que a Requerente reside com seu ú nico filho, com uma
renda mensal no valor de R$ 24,00 (vinte e quatro reais), nã o possuindo qualquer outra
fonte de renda, de acordo com documentos anexados. A autora declara que a composiçã o
do seu nú cleo familiar é igual à do CadÚ nico.
III - DA JUSTIÇA GRATUITA
A Autora nã o possui condiçõ es de arcar com as custas do processo sem prejuízo de seu
pró prio sustento, tal como de sua família, fazendo jus aos benefícios da justiça gratuita, com
base no art. 98, § 1º e incisos seguintes do Có digo de Processo Civil.
Art. 98 A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos
para pagar as custas, as despesas processuais e os honorá rios advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.
§ 1º A gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais;
II - os selos postais;
III - as despesas com publicaçã o na imprensa oficial, dispensando-se a publicaçã o em
outros meios;
IV - a indenizaçã o devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador
salá rio integral, como se em serviço estivesse;
V - as despesas com a realizaçã o de exame de có digo genético - DNA e de outros exames
considerados essenciais;
VI - os honorá rios do advogado e do perito e a remuneraçã o do intérprete ou do tradutor
nomeado para apresentaçã o de versã o em português de documento redigido em língua
estrangeira;
VII - o custo com a elaboraçã o de memó ria de cá lculo, quando exigida para instauraçã o da
execuçã o;
VIII - os depó sitos previstos em lei para interposiçã o de recurso, para propositura de açã o e
para a prá tica de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do
contraditó rio;
IX - os emolumentos devidos a notá rios ou registradores em decorrência da prá tica de
registro, averbaçã o ou qualquer outro ato notarial necessá rio à efetivaçã o de decisã o
judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício tenha sido concedido.
Para tal benefício a parte Autora junta a Declaraçã o de Hipossuficiência, a qual demonstra a
inviabilidade de pagamento das custas judiciais sem comprometer sua subsistência,
conforme clara redaçã o do art. 99, § 3º do diploma processualista cível:
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petiçã o inicial, na
contestaçã o, na petiçã o para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 3º Presume-se verdadeira a alegaçã o de insuficiência deduzida exclusivamente por
pessoa natural.
Ademais, a assistência de advogado particular nã o pode ser parâ metro ao indeferimento do
pedido:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA. CONCESSÃ O DO
BENEFÍCIO. HIPOSSUFICIÊ NCIA. COMPROVAÇÃ O DA INCAPACIDADE FINANCEIRA.
REQUISITOS PRESENTES.
1. Incumbe ao Magistrado aferir os elementos do caso concreto para conceder o benefício
da gratuidade de justiça aos cidadã os que dele efetivamente necessitem para acessar o
Poder Judiciá rio, observada a presunçã o relativa da declaraçã o de hipossuficiência.
2. Segundo o § 4º do art. 99 do CPC, nã o há impedimento para a concessã o do benefício de
gratuidade de Justiça o fato de as partes estarem sob a assistência de advogado particular.
3. O pagamento inicial de valor relevante, relativo ao contrato de compra e venda objeto da
demanda, nã o é, por si só , suficiente para comprovar que a parte possua remuneraçã o
elevada ou situaçã o financeira abastada.
4. No caso dos autos, extrai-se que há dados capazes de demonstrar que o Agravante, nã o
dispõ e, no momento, de condiçõ es de arcar com as despesas do processo sem desfalcar a
sua pró pria subsistência.
5. Recurso conhecido e provido.
(TJ-DF 07139888520178070000 DF 0713988-85.2017.8.07.0000, Relator: GISLENE
PINHEIRO, 7ª Turma Cível, Data de Publicaçã o: Publicado no DJE : 29/01/2018)
Assim, considerando a demonstraçã o inequívoca da necessidade da parte Autora, tem-se
por comprovada sua miserabilidade, fazendo jus ao benefício.
Cabe destacar que o a lei nã o exige atestada miserabilidade da parte Autora, sendo
suficiente a “insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e
honorá rios advocatícios”, nos termos do art. 98 do CPC.
A Constituiçã o Federal também consagra a garantia de amplo acesso à jurisdiçã o no art.
5º, incisos XXXV e LXXIV, que tratam dos direitos à inafastabilidade da jurisdiçã o e à
assistência judiciá ria integral aos necessitados.
Art. 5º Todos sã o iguais perante a lei, sem distinçã o de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXV - a lei nã o excluirá da apreciaçã o do Poder Judiciá rio lesã o ou ameaça a direito.
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos.
Portanto, é dever do Estado prestar assistência judiciá ria aos que precisam, e nã o uma
mera faculdade, concedendo o benefício da gratuidade a quem nã o tiver recursos para
atender à s despesas processuais, como no caso em tela.
Desse modo, requer que a concessã o a Autora dos benefícios da Justiça Gratuita, por ser
medida de justiça e preceitos constitucionais, nos termos do art. 98, § 1º e incisos do CPC
e do art. 5º, XXXV e LXXIV da Constituiçã o Federal de 1988, haja vista que esta nã o tem
como suportar as custas judiciais sem o prejuízo de seu sustento e de sua família;
IV - DA AUDIÊ NCIA DE MEDIAÇÃ O OU CONCILIAÇÃ O
Considerando a necessidade de aná lise detalhada de provas no presente feito, a Autora vem
manifestar, em cumprimento ao art. 319, inciso VII, do CPC/2015, que nã o há interesse na
realizaçã o de audiência de conciliaçã o ou mediaçã o, haja vista a iminente ineficá cia do
procedimento e a necessidade de que ambas as partes dispensem a sua realizaçã o,
conforme previsto no art. 334, § 4º, inciso I, do CPC/2015.
V – DA TUTELA DE URGÊ NCIA ANTECIPADA
A Lei 13.105/15 ( CPC) dispõ e sobre o tema nos art. 294 e seguintes. O art. 300 elenca os
requisitos para que seja conceda a Antecipaçã o de Tutela, o fumus boni iuris (fumaça do
bom direito) e o periculum in mora (perigo da demora).
A probabilidade do direito, no presente caso, resta comprovada diante de toda a prova
documental acostada aos autos. O perigo da demora, por sua vez, mostra-se evidente diante
do quadro de miserabilidade/vulnerabilidade social e econô mica da requerente,
necessitando da verba de cará ter alimentar.
É que um provimento jurisdicional tardio implicará em maiores prejuízos à parte autora
visto que, sofre com a sua enfermidade e com diversas barreiras, bem como pela sua
situaçã o econô mica, uma vez que é patrona da família.
Destarte, evidenciados os requisitos autorizadores da concessã o da tutela de urgência
antecipada, requer-se a condenaçã o do INSS a proceder à imediata implantaçã o do
benefício e que esta seja confirmada desde já em sentença.
V - DOS PEDIDOS
ANTE O EXPOSTO, requer:
a) O recebimento e o deferimento da presente petiçã o inicial;
b) A concessã o a Autora dos benefícios da Justiça Gratuita, por ser medida de justiça e
preceitos constitucionais, nos termos do art. 98, § 1º e incisos do CPC e do art. 5º, XXXV e
LXXIV da Constituiçã o Federal de 1988, haja vista que esta nã o tem como suportar as
custas judiciais sem o prejuízo de seu sustento e de sua família;
c) A concessã o da Tutela de Urgência Antecipada, requerendo a condenaçã o do INSS a
proceder à imediata implantaçã o do benefício e que esta seja confirmada desde já em
sentença;
d) A citaçã o da Autarquia Previdenciá ria, por meio de seu representante legal, para que,
querendo, apresente defesa;
e) Desde já , que nã o há interesse na realizaçã o de audiência de conciliaçã o ou mediaçã o,
haja vista a iminente ineficá cia do procedimento e a necessidade de que ambas as partes
dispensem a sua realizaçã o, conforme previsto no art. 334, § 4º, inciso I, do CPC/2015;
f) O proferimento de sentença de total procedência, condenando o INSS à implantaçã o do
Benefício à Pessoa com Deficiência em favor do Requerente, desde a DER (21/12/2021) -
(Sú mula 22 da TNU), acrescidos de juros e correçã o monetá ria;
g) Caso a parte Ré recorra da decisã o, que sejam acrescidos honorá rios sucumbenciais no
importe de 20% (vinte por cento), nos termos do art. 85 do CPC;
Protesta provar o alegado por todos os meios provas, sejam elas, documental, pericial,
testemunhal.
Pelo princípio da eventualidade, desde já , prequestiona-se eventuais violaçõ es a toda
matéria Constitucional e Legislaçã o Federal desta peça para efeito de recurso.
Dá -se à causa o valor de .....
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Macapá /AP, 23 de Maio de 2022.
Joyce Marinheiro - OAB/CE 43.691

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