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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA CARMEN LÚCIA, EMINENTE

RELATORA DO HABEAS CORPUS Nº 206.092/DF

URGENTE – RISCO DE PERECIMENTO DO DIREITO

WILLIAM DE ARAUJO FALCOMER DOS SANTOS, advogado


inscrito na OAB/DF sob o nº 20.253 e AMANDA LEITE DE FARIAS PONTE, advogada
inscrita na OAB/DF 64.433, ambos com endereço profissional situado no SIA, Quadra 04-C,
Bloco “E”, Lotes 46/47, Sobreloja, Brasília/DF, CEP: 71.200-050, Fones: (61) 3045-2490 /
(61) 3045-2470, vêm respeitosamente à digna presença de Vossa Excelência, em favor do
paciente MARCONNY NUNES RIBEIRO ALBERNAZ DE FARIA, após tomar ciência
de decisão liminar retro proferida, bem como das informações prestadas pela d. Autoridade
Coatora, expor e requerer o que segue.

Incialmente cumpre informar que o Paciente não foi formalmente intimado


para comparecimento perante a emérita Comissão Parlamentar de Inquérito, sendo certo que o
patrono subscritor tomou conhecimento da notificação após o retorno de viagem previamente
programada e devidamente informada à I. Comissão Parlamentar, no dia 31/08/2021 – 23
horas, através de e-mail encaminhado pela Secretaria da CPI.

O patrono, na qualidade de representante legal do paciente, nunca deixou de


prestar esclarecimentos perante a CPI, fato comprovado pelos e-mails enviados aos cuidados
da Secretaria (docs. Anexos).

No que toca a discussão quanto a validade ou não do atestado médico


emitido em favor do paciente, vale ressaltar que, desde o retorno da viagem previamente
programada, o patrono teve dificuldades de contatar seu cliente, sendo que o atestado médico
foi apresentado a esta Defesa como a justificativa.

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Na data de ontem - 01/09/2021 – após a apresentação das justificativas do
paciente, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito entrou em contato com o diretor
do Hospital Sírio Libanês Brasília cobrando explicações, sobrevindo informações de que o
médico responsável teria revogado o atestado. A questão médica e técnica carece de dilação
probatória, sendo que em contato com o paciente foi reafirmada a impossibilidade médica do
comparecimento.

De toda sorte, reitera-se que não houve comunicação formal de


quaisquer dos fatos narrados, se tratando de informações divulgadas pela imprensa e
carentes de comprovação quanto o teor e veracidade.

Informa ainda que, apesar de ter sido formulado pedido expresso de


fornecimento de acesso e cópias por parte da Comissão Parlamentar de Inquérito
relacionadas a Nota Técnica do MPF/Pará e demais documento contidos em sua posse
que justificaram a convocação do Paciente, a Secretaria da CPI/PANDEMIA nada se
manifestou, sendo silente ao pedido formulado por esta Defesa, mesmo tendo utilizado
parte dessas provas em rede nacional, ao vivo, na sessão do dia 26/08/2021 (vídeo já
juntado aos autos).

Desse modo, imperiosa a manifestação dessa c. Corte Suprema em relação


as seguintes questões, arguidas ainda em sede liminar no bojo do writ:

(i) necessidade de reconhecimento da condição de investigado do paciente,


que, em que pese ter sido convocado como testemunha pela emérita Comissão Parlamentar de
Inquérito, em verdade, está sendo investigado pela CPI/PANDEMIA por irregularidades
em negociações relacionadas ao Governo Federal e a empresa Precisa Medicamentos;

(ii) necessidade de autorização para que o acusado não compareça perante a


Comissão Parlamentar de Inquérito, uma vez que ostenta a condição de investigado, o que
impede a exigência do compromisso de dizer a verdade (art. 203 do CPP) e lhe garante,
ainda, o direito ao silenciado (art. 186 do CPP) e à assistência de advogado (art. 185, §5º
do CPP);

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(iii) necessidade de observância por parte da Comissão Parlamentar de
Inquérito em relação ao art. 15, caput c/c parágrafo único e inciso I, da Lei de Abuso de
Autoridade, que veda o prosseguimento do interrogatório nos casos em que o depoente
decidir exercer o seu direito ao silêncio, não podendo a autoridade que preside o
depoimento continuar consignando as perguntas;

(iv) seja disponibilizado previamente o acesso e cópias à Defesa da Nota


Técnica do MPF/Pará e demais documentos, vídeos e mídias, utilizados para justificar a
convocação do paciente.

Em que pese nas informações prestadas pela d. Autoridade Coatora (peça


52) haver uma tentativa arbitrária e ilegal de caracterizar o paciente como testemunha, - de
modo a afastar os seus direitos constitucionalmente previstos -, pelo próprio conteúdo da
convocação, somado aos acontecimentos noticiados em rede nacional de televisão, se pode
inferir que o paciente é de fato investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito e
pelo MPF (Operação Hospedeiro).

Os elementos que estão amparando a justificativa de convocação do


paciente perante a CPI da Pandemia são todos advindos de investigação do Ministério Público
Federal do Pará, senão vejamos:

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Em outras oitivas semelhantes os I. Senadores, no curso ou imediatamente
após o depoimento de testemunhas, aprovaram requerimentos de alteração do status do
depoente, testemunhas se tornaram investigados com a utilização de informações prestadas
em seu desfavor.

Desse modo, a determinação de comparecimento do paciente perante a


CPI/PANDEMIA na condição de testemunha poderá causar graves violações aos
direitos mais elementares do paciente, notadamente ao direito da não autoincriminação
e o direito ao silêncio, que compreende Defesa técnica e autodefesa.

Pelo exposto, requer que seja garantido o acesso à Defesa do paciente a


todos os documentos colhidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito, especialmente a Nota
Técnica nº. 613/2021/NAE-PA/ PARÁ, que ensejou a convocação do paciente para prestar
esclarecimentos, sob pena de violação direta aos princípios do contraditório e da ampla
defesa, de modo que fique suspenso o comparecimento do paciente até o fornecimento
dos referidos documentos.

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Outrossim, diante dos fatos narrados, uma vez que o paciente ostenta a
condição de investigado, requer a convolação da compulsoriedade de comparecimento do
paciente perante à Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI/PANDEMIA, em faculdade,
tendo em vista que o imputado não é legalmente obrigado a participar do ato, além da
observância da inexigência do compromisso de dizer a verdade (art. 203 do CPP), o
direito ao silenciado (art. 186 do CPP) e à assistência de advogado (art. 185, §5º do
CPP).

Por fim, levando em consideração que o Estado Democrático de Direito e


o exercício do devido processo legal, requer, caso o paciente seja submetido à
comparecimento perante a Comissão Parlamentar de Inquérito, que conste
expressamente que, caso queira utilizar o seu direito constitucional ao silêncio, e invocar
o art. 15, caput c/c parágrafo único e inciso I, da Lei de Abuso de Autoridade1, que os
Senadores responsáveis por conduzir o depoimento sejam obrigados/compelidos a não
dar continuidade ao interrogatório, ou continuar consignando perguntas, uma vez que
tal conduta ensejaria a prática do delito previsto na Lei nº. 13.869/2019.

Nesses termos, pede deferimento.

Brasília/DF, 02 de setembro de 2021.

WILLIAM DE ARAÚJO FALCOMER DOS SANTOS


OAB/DF 20.235

AMANDA LEITE DE FARIAS PONTE


OAB/DF 64.433

1
Art. 15. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, prossegue com o interrogatório I - de
pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio;

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