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AO JUÍZO DA ___ª VARA DE CÍVEL DE FORTALEZA-CE.

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO

MAURÍCIO FERREIRA BARBOSA, brasileiro, estado civil, profissão,


portador do RG n° 00175020593, inscrito no CPF sob o n° 03536180710, residente e
domiciliado à Rua D, n° 184, Bairro Messejana, CEP 60840405, Fortaleza, CE, contato (85)
992587641, vem, com o devido acatamento, por intermédio do Defensor Público que esta
subscreve, perante Vossa Excelência, interpor a presente AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTENCIA DE DÉBITO, em face de L DA S ANDRADE, como nome fantasia
CRECHE TIA LAIZ, inscrito no CNPJ 27.847.434/0001-88, com sede em Rua José Hipólito,
n° 489, Bairro Messejana, CEP 60871170 brasileira, alicerçado nos fundamentos de fato e de
Direito que passa a discorrer para, ao final, postular:

DA JUSTIÇA GRATUITA E DAS PRERROGATIVAS DA DEFENSORIA PÚBLICA

Inicialmente a parte autora declara-se pobre na forma da lei, tendo em vista não
ter condições de arcar com as custas e demais despesas processuais sem prejuízo do sustento
próprio ou de sua família, razão pela qual comparece assistido pela Defensoria Pública do
Estado do Ceará, autorizada a atuar por força dos artigos 1º e 4º inc. IIII da Lei Complementar
Federal nº 80/94.
Assim, requer preliminarmente os benefícios da gratuidade judiciária, tendo
em vista enquadrar-se na situação legal prevista para sua concessão (artigo 98 caput e §1º, §5º

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Avenida Washington Soares, 1321, bloco “Z”, Edson Queiroz, Fortaleza-CE. CEP 60.811-905
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do CPC/15)1 bem como a observância das prerrogativas processuais do defensor público ao
final assinado, sobretudo (I) a intimação pessoal e (II) prazos processuais em dobro, tudo em
conformidade com o artigo 128 da Lei Complementar Federal nº. 80/1994.2

DO E-MAIL DO PETICIONÁRIO

No que se refere ao e-mail do Defensor Público signatário, requer que as


intimações pessoais do membro permaneçam sendo encaminhadas ao Portal E-SAJ do Defensor
Público atuante na unidade jurisdicional respectiva.

DA AUSÊNCIA DE DEMANDAS REPETITIVAS

À luz do que dispõe o art. 976 do Código de Processo Civil, vale asseverar que o
caso em tela não se trata de demanda repetitiva, tampouco configura risco de ofensa à isonomia
ou à segurança jurídica.

DA OPÇÃO PELA NÃO REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU


DE MEDIAÇÃO:

1
CPC/15. Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei. § 1o A gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais; II - os selos postais; III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a publicação em
outros meios; IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário integral, como se em serviço
estivesse; V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de outros exames considerados essenciais; VI
- os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do tradutor nomeado para apresentação de versão em português de
documento redigido em língua estrangeira; VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes
ao exercício da ampla defesa e do contraditório; IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da prática de registro,
averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício
tenha sido concedido.(….) § 5o A gratuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a todos os atos processuais, ou consistir na redução
percentual de despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso do procedimento.
2
L.C.F nº 80/94. Art. 128. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que a lei local estabelecer:
I - receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, contando-se-lhe em dobro todos os prazos;

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O Requerente, em razão do quanto disposto no artigo 319, inciso VII do CPC,
opta pela realização de audiência de conciliação ou mediação. DO REGISTRO DE
AUTUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA.

O PEDIDO DE INTIMAÇÃO PESSOAL DA AUTORA, PRERROGATIVA DA


DEFENSORIA PÚBLICA:

Vale ressaltar que a representante dos autores deverá ser intimada pessoalmente,
quando o ato processual depender de providência ou informação que somente por ele possa ser
realizado ou prestado, em virtude de não se encontrar assistido por advogado, mas sim por
Defensor(a) Público(a) Estadual (cf. artigo 334, §3º c/c artigo 186, §2º do CPC/153).

DA QUALIFICAÇÃO DA PARTE CONTRÁRIA - §2º DO ART. 319 DO CPC

A parte autora não possui todas as informações aptas a qualificação plena do


requerido. Destarte, não há infringência ao inciso II do Art. 319 do CPC, posto ser admissível a
despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, a citação do réu.

DOS FATOS

No dia 21/11/2023 o Sr. Maurício, ora Requerente, compareceu à instituição


de ensino Creche Escola Tia Laiz, Requerida, a fim de matricular o seu filho Pery (doc.
anexo).

3
CPC/15. Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o
juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos
20 (vinte) dias de antecedência. (…) § 3o A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado. Art. 186. A Defensoria
Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais. (…) § 2o A requerimento da Defensoria Pública, o juiz
determinará a intimação pessoal da parte patrocinada quando o ato processual depender de providência ou informação que somente por ela
possa ser realizada ou prestada.

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Na oportunidade, o Requerente assinou um contrato de adesão de prestação de
serviços educacionais junto à Requerida pactuando com a cobrança de 12 parcelas de
mensalidade no valor de 600 (seiscentos reais) mais uma taxa de matrícula no valor de R$ 250
(duzentos e cinquenta reais). No ano seguinte, o Sr. Maurício decidiu por não renovar a matrícula
de seu filho Pery na mesma instituição de ensino, inserindo Pery em outra creche.

Ocorre que, ao comparar o contrato pactuado com a nova creche escolhida com
o assinado à época da Tia Laiz, o Requerido tomou ciência da abusividade em relação à cobrança
indevida cobrança da taxa de matrícula, no valor de R$ 250 (duzentos e cinquenta reais),
cobrados de forma avulsa no ato da matrícula, restando claro que tal cobrança resultaria em uma
13ª parcela a ser paga.

Buscando esclarecimentos acerca do valor cobrado, Sr. Maurício, compareceu à


sede da Requerida para indagar a questão e saiu de lá frustrado ante a recusa da Requerida de
proceder á devolução da taxa de matrícula. No entender da Requerida, a cobrança seria sim
devida com o fito de assegurar a vaga do aluno e tal valor seria relativo à “TAXA DE RESERVA
DE MATRÍCULA”, que estaria assegurada por lei.

Irresignado e seguro de seu direito, o Requerente socorreu-se junto ao PROCON,


tendo sido designada audiência de conciliação. A Requerida comparecer no dia e hora
designados, no entanto as partes não chegaram a um acordo.

Conforme se vê no termo de audiência, a Requerida alegou que a cobrança de


matrícula foi feita da forma correta e ainda defendeu que a empresa efetuou restituição ao
Requerente, mediante desconto nas 12 (doze) parcelas decorrentes do contrato de prestação de
serviço, de vez que o valor a ser pago pela mensalidade seria de R$ 600,00 (seiscentos reais),
mas que, por meio desses ditos “descontos” o Requerente apenas pagava a bagatela de
R$ 390,00 (trezentos e noventa) mensais.

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Diante de todas as possíveis oportunidades de resolução do conflito frustradas, o
Requerente não viu outra maneira senão pleitear judicialmente o seu direito para que enfim seja
feita a justiça.

DA EQUIVOCADA ALEGAÇÃO DE DESCONTO

A primeira questão que releva esclarecer diz à falácia alegada pela Requerida, de
que teria conferido descontos ao Requente, correspondentes à devolução da taxa de matrícula.
O Requerente, ao escolher a instituição de ensino para o seu filho Pery, buscou
primou pela escolha de uma instituição de ensino que atendesse a 03 (três) requisitos, a saber:
(i) a qualidade da escola, (ii) a proximidade da casa do Requerente e o (iii) preço acessível a seu
apertado orçamento. Nesse sentido, levando em consideração o último critério, o Sr. Maurício
recebeu um folheto de divulgação da escola que informava acerca dos serviços e dos preços
decorrentes de cada um.

Como V. Exa. pode verificar, no folheto de divulgação consta a informação de


que o valor a ser pago seria de R$ 390,00 (trezentos e noventa reais) mensais, valore
efetivamente pago por todo o período – 12 (doze) meses.

A tese da Requerida de que valor da mensalidade seria de R$600,00 (seiscentos


reais) e que o Requerente seria beneficiado com um desconto não procede com a verdade e
evidencia a má-fé da Requerida.
Veja-se os termos do folheto, verbis:

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Ante os fatos, outra via não restou ao Requerente senão a propositura da presente
ação.

DO DIREITO

 DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


O Código de Defesa do Consumidor prevê em seu artigo 6º, inciso VIII, que
diante da hipossuficiência do consumidor frente ao fornecedor/prestador de serviço, sua defesa
deve ser facilitada com a inversão do ônus da prova.

O inciso comentado amolda-se perfeitamente ao princípio da igualdade material,


na medida em que trata desigualmente os desiguais, desigualdade essa reconhecida pela própria
lei.” (Código civil anotado e legislação extravagante. 2 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais,
2003, p. 914).

Considerando, sobretudo, a hipossuficiência técnica e econômica do Requerente,


encontram-se caracterizados os requisitos do art. 6º, VIII, do CDC para se impor a inversão do
ônus probatório e, por conseguinte, promover o equilíbrio contratual entre os litigantes. Assim,

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requer-se a inversão do ônus da prova, principalmente para que a Requerida prove que a
existência do débito e negativação são devidas.

 DA MANIFESTA ABUSIVIDADE NA COBRANÇA DA 13ª


PARCELA:
Inicialmente, cumpre ressaltar que a taxa de matrícula ou a “reserva de vaga” é
um costume bastante utilizado pelas Instituições de Ensino no Brasil e essa prática não configura
ato abusivo ou ilegal, mas, para ser cobrada, precisa seguir determinados critérios definidos por
lei.

Nesse sentido, a Lei 9.870/99 trata das anuidades escolares e é essa legislação
que utilizaremos para pautar o raciocínio do presente imbróglio jurídico.

A mencionada lei, em seu artigo 1º, § 5º estabelece que é possível a cobrança de


matrícula desde que o valor pago seja descontado da anuidade e isso significa que a referida
taxa de matrícula deve ser descontada do valor da anuidade escolar. Senão, vejamos a letra da
lei:

Art. 1o O valor das anuidades ou das semestralidades escolares do ensino pré-escolar,


fundamental, médio e superior, será contratado, nos termos desta Lei, no ato da
matrícula ou da sua renovação, entre o estabelecimento de ensino e o aluno, o pai do
aluno ou o responsável.
(...)
§ 5o O valor total, anual ou semestral, apurado na forma dos parágrafos precedentes
terá vigência por um ano e será dividido em doze ou seis parcelas mensais iguais,
facultada a apresentação de planos de pagamento alternativos, desde que não excedam
ao valor total anual ou semestral apurado na forma dos parágrafos anteriores. (Vide
Medida Provisória nº 1.930, de 1999) (Renumerado pela Medida Provisória nº 2.173-
24, de 2001)

Baseado no que delimita a lei, pode-se depreender da redação acima que a


referida taxa de matrícula pode ser cobrada, porém, deve ser descontada do valor da anuidade

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escolar, sob risco de configurar valor extra que não esteja contemplado no valor total, o que é
visivelmente proibido.

Nesse sentido, a instituição de ensino que cobra anuidade escolar em desacordo


com a legislação específica incorre em abusividade da cobrança da denominada “1ª cota da
anuidade”, além das 12 mensalidades. Ao que se extrai do contexto probatório, a cobrança da
anuidade escolar na hipótese é feita através do plano de pagamento da “1ª cota da anuidade”,
além de 12 parcelas iguais de janeiro a dezembro do ano letivo, cujo somatório é exatamente o
valor total da anuidade previsto para aquele ano, fora a taxa, restando claro que não foi diluída
o valor da referida taxa, resultando em uma cobrança extra da 13ª parcela.

 DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E VANTAGEM MANIFESTAMENTE


EXCESSIVA:

Consoante o que foi exposto até o momento, já é possível perceber a má-fé da


Requerida em diversos aspectos. Aqui vale mencionar que a Requerida cobra taxa extra de
mensalidade e, como já clarificado anteriormente, tal conduta é abusiva.

Nesse sentido, a recusar a restituição do valor pago a título de matrícula quando


já solicitado e comprovada a ilicitude da ação, configura enriquecimento sem causa. Senão,
vejamos o que positiva o Código Civil sobre esse tema:

art. 884, caput :


Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir
o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.

A seu turno, o Código de Defesa do Consumidor determina em seu art. 39, verbis:

“É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços (...) exigir do consumidor vantagem


manifestamente excessiva(inciso V).”

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Nesse sentido, o Requerente pleiteia a devolução do valor pago indevidamente
sob pena de configuração de enriquecimento ilícito.

 DO CONTRATO DE ADESÃO

Conforme mencionado em sede de narrativa dos fatos, a Requerente utiliza-se de


um CONTRATO DE ADESÃO para pactuar a prestação de serviços com seus clientes. Porém,
cabe salientar que, apesar da liberdade contratual que não exige formalidades no contexto
brasileiro, o contrato de adesão não é bem recepcionado pelo Código de Defesa do Consumidor
pelos motivos a seguir expostos.

Por meio do contrato de adesão, o prestador de serviços coloca-se em disparidade


de armas com o consumidor, vez que estipula as cláusulas contratuais unilateralmente sem a sua
anuência e opinião do contratante e oferece apenas a possibilidade de contratar ou deixar de
contratar, colocando o consumidor em posição de hipossuficiência. Senão, vejamos o que
positiva o CDC sobre o assunto:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos
ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo.

Nesse sentido, é possível observar que a cláusula contratual que limita a


matrícula da criança apenas mediante o pagamento da indevida taxa de matrícula configura-se
como abusiva, vez que o autor não pôde opinar na situação e sentiu-se constrangido ao
pagamento da taxa e consequente assinatura do contrato que previa a indevida taxa caso
desejasse ter o seu filho matriculado na escola.

 DA COBRANÇA INDEVIDA E DA RESTITUIÇÃO EM DOBRO

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Apesar da lide versar sobre a restituição de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta
reais) pagos de forma indevida, é importante ressaltar que o montante pode ser encarado por
muitos como um valor ínfimo, pequeno. Contudo, para o Requerente, representa significativa
perda na medida em que ele se sentiu ofendido com a cobrança a ponto de ter pleiteado
presencialmente – sem sucesso - ter se socorrido ao PROCON, novamente sem sucesso e por
fim, teve de recorrer à justiça para reaver o valor pago indevidamente.

Nesse sentido, é sabido que dentro da seara do Direito do Consumidor, os


pagamentos feitos a maior de forma indevida devem tem direito à repetição do indébito pelo
dobro do valor, situação esta que se encaixa com o presente caso. Senão, vejamos o que positiva
o artigo 42 do CDC, verbis:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a


ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição


do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

Além disso, a jurisprudência, em caso análogo, já se manifestou em sentido que


confirma a cobrança do indébito em dobro nos casos em que há o pagamento de quantia
indevida. Senão, vejamos o posicionamento da 2ª Câmara civel do TJ-MS:

E M E N T A – AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE COBRANÇA INDEVIDA COM


REPETIÇÃO DE INDÉBITO CUMULADA COM DANOS MORAIS – INSTITUIÇÃO
DE ENSINO – FINANCIAMENTO ESTUDANTIL - FIES – COBRANÇA A MAIOR
POR PARTE DA INSTITUIÇÃO –COMPROVAÇÃO– RESTITUIÇÃO EM DOBRO –
POSSIBILIDADE – ILICITUDE DO ATO – ART 42 DO CDC - SENTENÇA
MANTIDA – RECURSO NÃO PROVIDO 1.
Restando comprovado que a instituição de ensino realizou cobrança indevida, deve
ser mantida a condenação de restituição em dobro do valor pago a maior, com fulcro
no que dispõe o art. 42, do Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078, de
11/09/1990). 2. Apelação conhecida e não provida, com majoração dos honorários de
sucumbência.

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(TJ-MS - AC: 08349962220168120001 MS 0834996-22.2016.8.12.0001, Relator:
Des. Paulo Alberto de Oliveira, Data de Julgamento: 06/06/2018, 2a Câmara Cível,
Data de Publicação: 07/06/2018) - grifo nosso.

Portanto, é nítido que da mesma forma que uma cobrança indevida gera a
possibilidade do ressarcimento em dobro, é correto entender que a cobrança que fizeram ao
Requerente como condição para a inscrição e matrícula do filho, sendo ela indevida, e não tendo
o Recorrente sucesso administrativamente, forçando-se a buscar o seu direito por via judicial, é
nítido que, por analogia, o Requerente também terá o direito ao ressarcimento em dobro.
 O OBJETO DA AÇÃO:

Veja, Excelência, não se requer devolução dos valores pagos a título de


mensalidade. O curso foi completado, o aluno estudou por um ano na instituição de ensino
Requerida e nitidamente o Requerente não se opôs em momento algum a pagar o inteiro valor
da mensalidade de todos os meses cursados. Portanto, não se está questionando de maneira
alguma o valor pago a título de mensalidade.

O que se questiona e requer devolução é quanto à cobrança indevida da taxa de


matrícula cobrada de forma individual, avulsa, figurando como um 13º mês a ser pago.

DOS PEDIDOS

Assim com fundamento no artigo 6º, inciso VIII e artigo 54; 229 do Código de
Defesa do Consumidor; além da Lei 9.870/99, artigo 1, §5 e demais dispositivos legais
correlatos, requer a Vossa Excelência:

1) o recebimento da inicial com a qualificação apresentada (cf. artigo 319, inciso II, e
§2º e 3º do CPC/154);

4
CPC/15. Art. 319. A petição inicial indicará: (II) os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão,
o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a
residência do autor e do réu; (…) § 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for

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2) a citação do Requerido através de registro postal para comparecer à audiência de
conciliação/instrução e apresentar contestação em prazo razoável fixado pelo juiz
(artigo 5º “caput”, §1º e §2º do artigo 5º da Lei nº 5.478/685);
3) o deferimento da gratuidade judiciária integral para todos os atos processuais (cf.
artigo 98 caput e §1º,§5º do CPC/156);
4) a citação da Requerida através de registro postal para apresentar contestação em
prazo razoável fixado pelo juiz (artigo 5º “caput”, §1º e §2º do artigo 5º da Lei nº
5.478/687);
5) a procedência do pedido para o fim de condenar a Requerida à restituição em dobro
do valor pago indevidamente a título de taxa de matrícula, com fundamento no artigo 42
do CDC.
6) A inversão do ônus da prova, conforme exposto e provado, obedecendo o artigo 6°,
VIII do CDC.
7) condenação do promovido ao pagamento de honorários advocatícios a serem fixados
entre 10% e 20% sobre o valor da condenação/proveito econômico obtido OU sendo
este valor irrisório, arbitrados por este juízo em valor obtido através de apreciação
equitativa (cf. artigo 85, §2º e §8º do CPC/158) que deverão ser recolhidos em favor do

possível a citação do réu. § 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de
tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.
5
Lei nº 5.478/68. Art. 5º O escrivão, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá ao devedor a segunda via da petição ou do termo,
juntamente com a cópia do despacho do juiz, e a comunicação do dia e hora da realização da audiência de conciliação e julgamento. § 1º. Na
designação da audiência, o juiz fixará o prazo razoável que possibilite ao réu a contestação da ação proposta e a eventualidade de citação por
edital.§ 2º. A comunicação, que será feita mediante registro postal isento de taxas e com aviso de recebimento, importa em citação, para todos
os efeitos legais. (…) § 6º. O autor será notificado da data e hora da audiência no ato de recebimento da petição, ou da lavratura do termo.
6
CPC/15. Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei. § 1o A gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais; II - os selos postais; III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a publicação em
outros meios; IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário integral, como se em serviço
estivesse; V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de outros exames considerados essenciais; VI - os honorários
do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do tradutor nomeado para apresentação de versão em português de documento redigido
em língua estrangeira; VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para instauração da execução; VIII - os depósitos
previstos em lei para interposição de recurso, para propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes ao exercício da
ampla defesa e do contraditório; IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da prática de registro, averbação ou
qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício tenha sido
concedido.(….) § 5o A gratuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a todos os atos processuais, ou consistir na redução percentual
de despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso do procedimento.
7
Lei nº 5.478/68. Art. 5º O escrivão, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá ao devedor a segunda via da petição ou do termo,
juntamente com a cópia do despacho do juiz, e a comunicação do dia e hora da realização da audiência de conciliação e julgamento. § 1º. Na
designação da audiência, o juiz fixará o prazo razoável que possibilite ao réu a contestação da ação proposta e a eventualidade de citação por
edital.§ 2º. A comunicação, que será feita mediante registro postal isento de taxas e com aviso de recebimento, importa em citação, para todos
os efeitos legais. (…) § 6º. O autor será notificado da data e hora da audiência no ato de recebimento da petição, ou da lavratura do termo.
8
CPC/15. Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. (…) § 2o Os honorários serão
fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. (…) § 8o Nas causas

DEFENSORIA PÚBLICA GERAL DO ESTADO DO CEARÁ


Núcleo de Atendimento Conveniado a UNIFOR – Universidade de Fortaleza
Avenida Washington Soares, 1321, bloco “Z”, Edson Queiroz, Fortaleza-CE. CEP 60.811-905
Fone:(085) 3477-3000 / FAX (085) 3477-3055. www.defensoria.ce.def.br e www.unifor.br
FAADEP - Fundo de Reaparelhamento da Defensoria Pública do Estado do Ceará
(Caixa Econômica Federal, Conta nº 0919.006.71003-8).

8) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidas em direito,


notadamente depoimento pessoal das partes, oitiva de testemunhas e juntada
posterior de documentos.

Atribui à causa o valor9 de R$ 500,00 (quinhentos reais).

Termos em pede e espera deferimento.


Fortaleza/CE, 11 de April de 2023.

DEFENSOR PÚBLICO ESTADUAL

em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos
honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2o.
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CPC/15. Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: (…) III - na ação de alimentos, a soma
de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor;

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