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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA
__ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE MANAUS/AM.

MÉVIO ALVES DE LIMA, brasileiro, solteiro, designer, RG nº


123415-3 SSP/AM, CPF nº 292.381.922-09 (Doc. 02), domiciliado
em Manaus/AM e residente na Rua Brasil, nº 9123, Bairro
Compensa, CEP 69.029-999, Manaus/AM (Doc. 03), endereço
eletrônico (e-mail) mevinho_dsg@gmail.com, por intermédio de
seu advogado o Dr. XXXXXXXX, OAB/AM nº X.XXX, procuração
anexa (Doc. 01), com escritório jurídico na Rua XXXXXX, nº XX,
Bairro XXXX, CEP. 69XXX-XXX, na cidade de Manaus/AM – e-mail:
xxxxx@xxxxx.adv.br – Tel.: (92) 0000-0000, onde recebe
intimações, vem à presença de V. Exa. com fundamento do art.
927 do Código Civil, propor:

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS


em face de TÍCIO REYES MUÑOZ, espanhol residente no Brasil,
casado, empresário, RNE V565371-S, CPF nº 994.884.294-00,
domiciliado em Manaus/AM e residente na Av. dos
Expedicionários, nº 8371, Bairro São Jorge, CEP 69.098-999,
Manaus/AM, endereço eletrônico desconhecido pelas razões de
fato e de direito a seguir expostas.

1. DOS FATOS
O Autor caminhava pela rua 24 de maio, no município de
Manaus/AM, em companhia do Sr. Caio Cabral de Lima, quando
às 10:25 do dia 20/03/2020, o Réu dirigiu ao Autor palavras
ofensivas à honra dele ao chamá-lo de “macaco”.
O Autor questionou a atitude do Réu que tentou justificar o
ato em razão de o Autor ter esbarrado no Réu em meio à calçada
da via pública.
Em seguida, o Réu evadiu-se do local ao tomar a direção de
um veículo automotor de placa ABC 98Z4, marca Porche, modelo
718 Cayman.
Notoriamente, o Réu é pessoa de grande capacidade
econômica, empresário de sucesso e que ostenta vida de grande
luxo nas redes sociais (Doc. 07).
Os fatos foram registrados por uma câmera de segurança
instalada na casa nº 2943 e cedidas gentilmente pelo proprietário,
desde já requer autorização para entrega das filmagens via DVD
no balcão da vara desse Juízo.
O Réu foi ouvido pela autoridade policial competente (Doc.
06), oportunidade em que não demonstrou qualquer
arrependimento.
O Autor buscou a reparação dos danos sofridos, cobrando-
lhe R$ 15.000,00 (quinze mil reais). Porém, o Réu se recusou a
indenizá-lo.
Assim, não tendo outro caminho senão o Judicial, mesmo
sem condições para arcar com as despesas processuais (Doc. 04 e
05), o Autor vem ao Judiciário requerer a devida tutela
jurisdicional como medida de direito em razão dos fundamentos
jurídicos a seguir expostos.

2. DO DIREITO
2.1. PRELIMINARMENTE
2.1.1. DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA
JUSTIÇA
Conforme expressa o art. 1º da Lei nº 1.060/1950 e o caput
do art. 98 c/c art. 99, caput e §§ 2º a 4º do Código de Processo
Civil, terá direito à concessão da gratuidade da Justiça toda aquela
pessoa que não tiver condições econômicas para arcar com as
custas e as demais despesas processuais sem prejuízo do próprio
sustento e de sua família. Sendo presumível a condição de
hipossuficiência econômica das pessoas naturais que assim
declarem, não sendo afastada tal presunção nem pela assistência
de advogado particular e não podendo, maxima data venia, a
Estado-Juiz deixar de conceder o benefício fiscal senão mediante
provas em sentido contrário constante dos autos:
Lei nº 1.060/1950
Art. 1º. Os poderes públicos federal e estadual, independente da
colaboração que possam receber dos municípios e da Ordem dos
Advogados do Brasil, - OAB, concederão assistência judiciária aos
necessitados nos termos da presente Lei. (Redação dada pela Lei
nº 7.510, de 1986)
Código de Processo Civil
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira,
com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.
[...]
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na
petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de
terceiro no processo ou em recurso.
[...]
§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos
autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais
para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o
pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento
dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural.
§ 4º A assistência do requerente por advogado particular não
impede a concessão de gratuidade da justiça.
[...]

Como já exposto na narrativa fática, o Autor encontra-se na


condição de hipossuficiência econômica, conforme declara (Doc.
04). Dessa forma, não tem condições financeiras para suportar as
despesas com o pagamento das custas e demais despesas
processuais sem prejuízo da própria subsistência e do sustendo de
sua família.
E para melhor demonstração da condição econômica
periclitante do Autor, requer a juntada de cópia de extratos
bancários da conta corrente do Autor dos últimos três meses (Doc.
05), mesmo que desnecessária em razão da presunção legal que
beneficia o Autor em função da declaração que ele fez.
Assim, demonstrado o preenchimento dos requisitos legais,
o Autor faz jus à concessão do benefício da gratuidade da Justiça.
Sobre a presunção da veracidade da alegação de
insuficiência apresentada pelo Autor pessoa natural, a doutrina de
Cassio Scarpinella Bueno é contundente e precisa:
Quando o pedido for formulado por pessoa natural, presume-se
verdadeira a alegação de insuficiência de recursos. Caberá à
parte contrária afastar a presunção criada pelo § 3º do art. 99,
exercitando o contraditório nos termos do art. 100. (BUENO,
Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: volume
único. – 4. ed. –São Paulo: Saraiva Educação, 2018).

No mesmo sentido está o entendimento pacificado pelo


Superior Tribunal de Justiça:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
GRATUIDADE DE JUSTIÇA. INSUFICIÊNCIA SUPERVENIENTE DE
RECURSOS.
1. A declaração de pobreza que tenha por finalidade o benefício
da assistência judiciária gratuita pode ser requerida a qualquer
tempo.
2. Na hipótese, não havendo indícios de ausência dos
pressupostos legais para a concessão da gratuidade, presume-
se verdadeira a alegação de hipossuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural (art. 99, § 3º, do CPC/2015).
3. Embargos de declaração acolhidos para deferir a gratuidade
de justiça requerida.
(STJ. EDcl nos EDcl no AgInt no AREsp 963510 / RJ. Rel. Min.
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA. 3ª Turma. Julgado em
12/11/2018. Publicado em DJe 16/11/2018) (Grifado).

Assim, demonstrado o preenchimento dos requisitos legais


para a concessão da gratuidade da Justiça ao Autor, bem como,
demonstrado que o pedido está alinhado ao ensinamentos da boa
doutrina e da pacificada jurisprudência, há falar na necessária
concessão da gratuidade da Justiça como medida de direito para
o acesso à Justiça, o que requererá ao final.
2.2. DO MÉRITO
2.2.1. DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR POR DANOS MORAIS
Nos termos do art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, o
direito à honra das pessoas é inviolável e é assegurada o direito
de indenização por aquele que causa dano moral em razão dessa
violação:
Art. 5º [...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;

E segundo dispõe o caput do art. 927 c/c art. 186 c/c caput
do art. 944 do Código Civil, toda pessoa que realiza uma ação
voluntária de maneira culposa e com isso viola o direito de outrem
e causa a esse outro algum dano, mesmo que moral, tem a
obrigação de reparar o dano causado, devendo o valor da
indenização ser adequado à extensão do dano sofrido:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187 ), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
[...]
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Nesse sentido, como já exposto na narrativa fática, o Réu


agiu de maneira ilícita ao violar o direito à honra do Autor quando
o chamou de “macaco”, uma conduta extremamente reprovável,
especialmente sendo realizada pelo Réu que é uma pessoal de
grande capacidade econômica, causando ao Autor forte abalo
emocional em razão da raça e em razão da condição econômica
dele, o que levou ao dano moral que o Autor estima no valor de
R$ 15.000,00 (quinze mil reais).
Desse modo, uma vez presentes os requisitos para a
responsabilização do Réu por danos morais, conforme art. 5º,
inciso X, da CF/88 e art. 927, caput c/c art. 186 do Código Civil, tem
lugar a condenação do Réu.
E a fixação do valor em R$ 15.000,00 (quinze mil reais) se
demonstra adequada aos ditames do art. 944 , caput, do Código
Civil, em razão de o Réu ser um empresário de grande fortuna e a
conduta ser extremamente reprovável, estando assim adequada
à metodologia bifásica de fixação.
Nesse sentido está a doutrina de Pablo Stolze Gagliano,
Rodolfo Pamplona Filho que afirma que o dano moral deve ser
fixado com relação ao que sofreu a vítima e o valor que é capaz de
compensar a vítima.
Aliás, para encontrarmos uma espécie de “equivalência” entre a
dor sofrida e a indenização respectiva, deveríamos substituir,
como faz Zulmira Pires de Lima, a expressão “dor” por “conjunto
de sensações dolorosas” e a palavra “dinheiro” por “conjunto de
sensações agradáveis que ele pode proporcionar”, de tal modo
que nos lembrássemos que o valor monetário somente tem
interesse para o homem na medida em que lhe serve para a
aquisição de coisas que de algum modo geram prazer. Sendo
assim, “quando avaliamos um dano moral em dinheiro, fazemo-
lo porque é o dinheiro o intermediário de todas as trocas; mas,
no fundo, não há senão uma equivalência entre a dor que se
recebeu com o dano e o prazer que o dinheiro pode nos
proporcionar” (GAGLIANO, Pablo Stolze et PAMPLONA FILHO,
Rodolfo. Novo curso de direito civil, v. 3: responsabilidade civil.
– 15. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017).

Os referidos doutrinadores apontam que para a fixação do


dano moral o Superior Tribunal de Justiça tem aplicado a
metodologia bifásica em que a condenação do Réu deve levar em
consideração a gravidade do ato e as condições pessoais do
ofendido e do ofensor:
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO
POR DANOS MORAIS. INJÚRIA RACIAL. CRITÉRIOS VALORATIVOS
PARA O ARBITRAMENTO. MÉTODO BIFÁSICO.
1. Ação de compensação por danos morais ajuizada em 2013, de
que foi extraído o presente recurso especial, interposto em
23/09/2016 e concluso ao Gabinete em 28/04/2017. Julgamento
pelo CPC/15.
2. O propósito recursal é decidir sobre os critérios valorativos
para o arbitramento da compensação do dano moral por injúria
racial.
3. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e
fundamentado o acórdão recorrido, de modo a esgotar a
prestação jurisdicional, não há que se falar em negativa de
prestação jurisdicional.
4. As Turmas da Seção de Direito Privado têm adotado o método
bifásico como parâmetro para valorar a compensação dos danos
morais.
5. No particular, o Tribunal de origem levou em conta a
gravidade do fato em si, a jurisprudência local acerca da matéria,
tendo em vista o interesse jurídico lesado, bem como as
condições pessoais da ofendida e do ofensor, de modo a arbitrar
a quantia considerada razoável, diante das circunstâncias
concretas, para compensar o dano moral suportado pela
recorrida.
6. Assim sopesadas as peculiaridades dos autos, o valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais), arbitrado no acórdão recorrido para
compensar o dano moral, não se mostra exorbitante.
7. A falta de similitude fática, requisito indispensável à
demonstração da divergência, inviabiliza a análise do dissídio.
8. Recurso especial desprovido.
(STJ. REsp 1669680 / RS. Rel. Min. NANCY ANDRIGHI. 3ª Turma.
Julgado em 20/06/2017. Publicado em DJe 22/06/2017).

Nesse sentido, convém destacar que o valor firmado no


acórdão não serve de parâmetro para a presente demanda, uma
vez que claramente a jurisprudência fixa a necessidade de análise
do caso em concreto. E no presente caso, tratava-se de pessoas
com condições pessoais distintas das do Autor e do Réu.
Assim, uma vez presentes os requisitos para a
responsabilização do Réu por danos morais, conforme art. 5º,
inciso X, da CF/88 e art. 927, caput c/c art. 186 do Código Civil, tem
lugar a condenação do Réu ao pagamento de R$ 15.000,00 (quinze
mil reais), conforme determina o art. 944, caput, do Código Civil,
e à luz da boa doutrina e da pacificada jurisprudência, o que
requererá ao final.

3. DOS PEDIDOS
Pelo exposto, requer que V. Exa. se digne de:
a) conceder ao Autor o benefício da gratuidade da Justiça.
b) determinar a citação epistolar do Réu para querendo
manifestar-se sobre o interesse na realização de audiência de
conciliação, comparecer à audiência de conciliação para o caso de
não cancelamento da audiência a ser designada por esse MM.
Juízo e/ou querendo, apresentar defesa no prazo legal.
c) no mérito, deferir integralmente o pedido para condenar
o Réu ao pagamento de indenização por danos morais no valor de
R$ 15.000,00 (quinze mil reais).
d) condenar o Réu ao pagamento de honorários de
sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC, os quais sugere a
fixação em 20% do valor da causa e ao pagamento das despesas
processuais.
Manifesta o interesse na realização de audiência de
conciliação.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em
direito admitidos, em especial pela juntada de documentos e
oitiva de testemunha.
Por fim, requer que todas as intimações sejam feitas em
nome do Dr. XXXXXXXXX, OAB/AM nº XXXX, com escritório
jurídico na Rua XXXXXX, nº XX, Bairro XXXX, CEP. 69XXX-XXX, na
cidade de Manaus/AM – e-mail: xxxxx@xxxxx.adv.br – Tel.: (92)
0000-0000, sob pena de nulidade.
Dá-se à causa, o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para
todos os efeitos.
Termos em que
Pede e espera deferimento.

Manaus/AM, XXXXXXXXXXXX

XXXXXXXXXX
OAB/AM X.XXX

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