Você está na página 1de 110

ANATOMIA DA PROVA

PERÍCIA
MÉDICA
PREVIDENCIÁRIA

1ª EDIÇÃO

VINÍCIUS NUNES SILVA


Vinícius Nunes Silva

PERÍCIA MÉDICA PREVIDENCIÁRIA


Anatomia da Prova

1° edição
2023

Obra completa e atualizada

1
2
AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que


es�veram ao meu lado durante a jornada de crescimento profissional que
repercu�u na criação deste livro. Em primeiro lugar, minha gra�dão vai para aos
meus pais, Marta e Osvaldo, por terem me transmi�do desde cedo a importância
do estudo e por terem sido firmes em meus cas�gos infan�s, situações que foram
per�nentes e me ensinaram a valorizar o conhecimento. Agradeço minha esposa,
que sempre esteve presente e me incen�vou desde o início, compar�lhando cada
passo da minha jornada com seu apoio incondicional.

De forma alguma posso me esquecer dos meus avôs maternos, Odilon e Joana,
que desempenharam um papel fundamental em minha vida. Meu avô, apesar de
não ter �do a oportunidade de estudar formalmente, possui uma sabedoria
imensa que transcende os limites dos livros acadêmicos. Suas palavras e ideias
filosóficas eram profundas e enriquecedoras, deixando uma marca indelével em
minha jornada. Sou imensamente grato por seu apoio constante e por ter me
proporcionado a oportunidade de buscar a educação e os estudos que ele não
teve.

Minha avó, por sua vez, é uma pessoa que carrega consigo uma determinação
incrível e uma força de vontade inabalável. Em virtude de sua notável
perseverança, minha avó também desempenhou uma função crucial na
sociedade, exercendo o papel professora por vários anos. Sua dedicação em sala
de aula e seu compromisso com o aprendizado deixaram marcas profundas em
muitos alunos, incluindo eu. Mesmo após sua aposentadoria, suas orientações,
conselhos e apoio constante foram faróis em momentos de dúvida e dificuldade,
moldando minha trajetória acadêmica.

Além disso, gostaria de expressar minha profunda gra�dão às minhas duas �as
avós, Elizabeth e Helena. Elas es�veram presentes em minha infância e foram
protagonistas fundamentais em meu crescimento tanto como homem quanto
como profissional. Sua presença constante, sabedoria e amor incondicional foram
essenciais para que eu me tornasse a pessoa que sou hoje. Agradeço por todas
as conversas enriquecedoras, pelos conselhos valiosos e pela inspiração que elas
me proporcionaram.

3
Não posso deixar de agradecer também aos meus pacientes e periciados, que
confiaram em mim e me permi�ram aprender com suas condições e experiências.
Através do contato direto com eles, pude aliar os conhecimentos teóricos com a
prá�ca clínica, o que é fundamental em minha profissão. Agradeço por terem me
ensinado a importância da empa�a e da dedicação no cuidado com a saúde.

Por fim, não poderia encerrar meus agradecimentos sem mencionar o


personagem mais importante do universo: Deus. Agradeço a Ele pelas dádivas
que recebi ao longo dessa caminhada, mas também pelas dificuldades que
enfrentei. Foi dessas dificuldades que adquiri a resiliência e construí meu caráter.
A espiritualidade desempenhou um papel fundamental em meu crescimento
pessoal e sou grato por Sua presença constante em minha vida.

A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a concre�zação deste


livro, meu mais profundo agradecimento. Seu apoio e confiança foram
fundamentais para que eu chegasse até aqui. Que nossos caminhos con�nuem
se cruzando e que possamos seguir em busca do conhecimento.

4
PREFÁCIO

Ao longo da minha carreira como médico, deparei-me com inúmeras situações


em que a medicina e o direito se entrelaçaram de maneira complexa e
desafiadora. Uma dessas áreas fascinantes é a perícia médica previdenciária, na
qual a exper�se médica é crucial para a avaliação de incapacidades e
determinação de bene�cios previdenciários.

Este livro foi concebido para servir como um guia abrangente e prá�co para
médicos, advogados, juízes, segurados e demais envolvidos no contexto da
perícia médica previdenciária. Através da minha experiência pessoal como
médico perito e estudioso da matéria, espero fornecer uma base sólida de
conhecimento e orientações claras para lidar com os desafios desse campo.

Nas páginas a seguir, exploraremos os fundamentos essenciais da perícia médica


previdenciária, desde os princípios básicos até as complexidades que envolvem a
avaliação de incapacidades e a concessão de bene�cios. Abordarei temas como
os aspectos legais relevantes, os critérios médicos u�lizados para avaliar a
capacidade laboral, os diferentes �pos de bene�cios previdenciários e os
procedimentos e documentação necessários para um processo de perícia médica
adequado.

Além disso, discu�rei casos prá�cos e situações comuns encontradas nessa área,
destacando os postos-chave e as melhores prá�cas a serem seguidas. É
importante ressaltar que este livro apesar de não subs�tuir a consulta às leis e
regulamentos específicos de cada país ou sistema previdenciário, busca fornecer
uma visão abrangente e prá�ca para auxiliar os leitores em sua compreensão e
atuação nesse campo mul�disciplinar.

Espero que esta obra seja uma fonte valiosa de informações e orientações para
todos aqueles que desejam aprofundar seu conhecimento sobre perícia médica
previdenciária. Acredito firmemente que a interseção entre a medicina e o direito
pode ser melhor compreendida e abordada quando profissionais de ambas as
áreas se unem em busca de um sistema previdenciário mais justo e eficiente.

Agradeço a todos os colegas médicos, advogados e especialistas que contribuíram


com seus conhecimentos e experiências para a realização deste projeto. Desejo
que este livro seja uma ferramenta ú�l e inspiradora, capacitando os leitores a

5
lidar com os desafios e oportunidades que surgem na perícia médica
previdenciária.

Vinícius Nunes Silva


Autor da Obra e Médico Perito

6
SUMÁRIO

PARTE 1: FUNDAMENTOS DE PERÍCIA MÉDICA ..................................... 17


CAPÍTULO 1: PERÍCIA MÉDICO LEGAL .................................................... 19
1. INTRODUÇÃO ............................................................................. 19
2. TIPOS DE PERÍCIA........................................................................ 19
3. ESPECIALIDADE DO MÉDICO PERITO .......................................... 20
4. ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PERITO ................................................. 21
5. IMPORTÂNCIA DA PROVA ........................................................... 22
6. PRESENÇA DO ADVOGADO NA PERÍCIA MÉDICA ........................ 22
CAPÍTULO 2: PERÍCIA PREVIDENCIÁRIA................................................. 25
1. A IMPORTÂNCIA DA PERÍCIA PREVIDENCIÁRIA ........................... 25
2. O VALOR INESTIMÁVEL DO TRABALHO ....................................... 26
CAPÍTULO 3: PERITO JUDICIAL ............................................................... 29
1. NOMEAÇÃO DO PERITO JUDICIAL............................................... 29
2. QUEM PODE SER PERITO JUDICIAL ............................................. 30
3. PERITO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL ............................................. 30
4. CÓDIGO DE CONDUTA DO PERITO .............................................. 31
5. CONDIÇÕES DE IMPEDIMENTO DO PERITO ................................ 34
6. CONDIÇÕES DE SUSPEIÇÃO DO PERITO ...................................... 35
7. TRÂMITE BUROCRÁTICO PERICIAL .............................................. 35
CAPÍTULO 4: ASSISTENTE TÉCNICO ........................................................ 41
1. FUNÇÃO DO ASSISTENTE TÉCNICO ............................................. 41
2. FUNDAMENTO JURÍDICO ............................................................ 41
3. INCLUSÃO DO AT NO PROCESSO ................................................. 41

7
4. PRAZO DE ENTREGA DO PARECER .............................................. 42
5. HONORÁRIOS DO AT ................................................................... 42
6. IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO DO AT ........................................... 43
7. NÚMERO DE ASSISTENTES TÉCNICOS ......................................... 43
8. RELEVÂNCIA JURÍDICA DO PARECER ........................................... 44
9. ACONSELHAMENTO AO EXAMINADO......................................... 44
CAPÍTULO 5: NEXO DE CAUSALIDADE .................................................... 49
1. CONCEITO DO NEXO DE CAUSALIDADE ...................................... 49
2. TEORIAS DA CAUSALIDADE ......................................................... 49
3. NEXO CAUSAL PREVIDENCIÁRIO ................................................. 51
CAPÍTULO 6: QUESITOS MÉDICOS ......................................................... 53
1. CONCEITO E DEFINIÇÃO.............................................................. 53
2. HISTÓRIA DOS QUESITOS ............................................................ 53
3. RESPOSTA AOS QUESITOS ........................................................... 54
4. TIPOS DE RESPOSTA AOS QUESITOS ........................................... 55
5. SUGESTÕES DE FORMULAÇÃO DE QUESITOS ............................. 56
CAPÍTULO 7: DOCUMENTOS MÉDICOS .................................................. 61
1. TIPOS DE DOCUMENTOS ............................................................ 61
2. ATESTADOS ................................................................................. 61
3. PRONTUÁRIO .............................................................................. 63
4. RECEITAS MÉDICAS ..................................................................... 64
5. RELATÓRIOS MÉDICOS ................................................................ 65
CAPÍTULO 8: LAUDO E PARECER MÉDICO LEGAL ................................... 67
1. DIFERENÇA ENTRE LAUDO E PARECER ........................................ 67
2. ESTRUTURA DO LAUDO MÉDICO LEGAL ..................................... 67
3. CONFECÇÃO DO LAUDO ............................................................. 69

8
4. AVALIAÇÃO DA LEGIBILIDADE ..................................................... 70
CAPÍTULO 9: FUNDAMENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA ................................. 73
1. MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS ......................................... 73
2. REVISÕES SISTEMÁTICAS E METANÁLISES................................... 74
3. ESTUDOS DE COORTE ................................................................. 75
4. ESTUDOS CASO-CONTROLE ........................................................ 77
5. RELATO E SÉRIE DE CASOS .......................................................... 78
CAPÍTULO 10: SIMULAÇÃO NA PRÁTICA PERICIAL ................................ 81
1. SIMULAÇÃO E PERÍCIA MÉDICA .................................................. 81
2. SIMULAÇÃO E METASSIMULAÇÃO .............................................. 81
3. AVALIAÇÃO DA SIMULAÇÃO ....................................................... 82
4. SIMULAÇÃO NAS DOENÇAS ORTOPÉDICAS ................................ 83
5. TESTES ORTOPÉDICOS ESPECÍFICOS ............................................ 87
6. SIMULAÇÃO NAS DOENÇAS NEUROPSIQUIÁTRICAS ................... 90
7. TESTES NEUROPSIQUIÁTRICOS ESPECÍFICOS .............................. 91

PARTE 2: PERÍCIA MÉDICA PREVIDENCIÁRIA......................................... 97


CAPÍTULO 11: REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E BENEFÍCIOS
PREVIDENCIÁRIOS ................................................................................. 99
1. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL ................................... 99
2. BENEFÍCIOS E CODIFICAÇÃO PREVIDENCIÁRIA ......................... 100
3. AUXÍLIO-DOENÇA ..................................................................... 101
4. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ ............................................. 103
5. AUXÍLIO-ACIDENTE ................................................................... 105
6. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA ................................. 107
CAPÍTULO 12: CONCEITO E TIPOS DE INCAPACIDADE ......................... 109

9
1. INTRODUÇÃO ........................................................................... 109
2. CONCEITO PREVIDENCIÁRIO DE INCAPACIDADE ....................... 109
3. SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO..................................................... 110
4. INCAPACIDADE PARCIAL............................................................ 111
5. INCAPACIDADE TOTAL ............................................................... 114
6. INCAPACIDADE TEMPORÁRIA ................................................... 115
7. INCAPACIDADE INDEFINIDA ...................................................... 116
8. INCAPACIDADE UNIPROFISSIONAL ........................................... 117
9. INCAPACIDADE MULTIPROFISSIONAL ....................................... 117
CAPÍTULO 13: FIXAÇÃO DAS DATAS TÉCNICAS .................................... 119
1. IMPORTÂNCIA DAS DATAS TÉCNICAS ........................................ 119
2. DATA DO INÍCIO DA DOENÇA (DID) ........................................... 119
3. DATA DO INÍCIO DA INCAPACIDADE (DII) .................................. 120
4. DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO (DCB) ................................. 121
5. IMPLICAÇÕES ADMINISTRATIVAS DA DID e DII ......................... 122
CAPÍTULO 14: CONCLUSÕES MÉDICO PERICIAIS DO INSS ................... 125
1. CONCLUSÃO TIPO C1 ................................................................ 125
2. CONCLUSÃO TIPO C2 ................................................................ 126
3. CONCLUSÃO TIPO C4 ................................................................ 127
CAPÍTULO 15: PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO (PPP) .... 129
1. CONCEITO E IMPORTANCIA ...................................................... 129
2. ESTRUTURA DO PPP.................................................................. 129
3. RESPONSABILIDADE DE EMISSÃO ............................................. 133
4. FONTES DO PERFIL PROFISSIOGRÁFICO .................................... 133
5. ASPECTOS HISTÓRICOS DO PPP ................................................ 134
6. PPP ELETRÔNICO ...................................................................... 135

10
CAPÍTULO 16: NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO PREVIDENCIÁRIO ..... 137
1. FUNDAMENTAÇÃO LEGAL......................................................... 137
2. TIPOS DE NEXOS TÉCNICOS ...................................................... 138
3. IMPORTÂNCIA DO NTEP ........................................................... 138
4. COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO .......................... 139
5. FATOR ACIDENTÁRIO DE PREVENÇÃO ....................................... 139
6. RISCOS AMBIENTAIS DO TRABALHO ......................................... 140
7. LIMITAÇÕES DA NTEP ............................................................... 141
CAPÍTULO 17: REABILITAÇÃO PROFISSIONAL........................................ 143
1. CONCEITO DE REABILITAÇÃO .................................................... 143
2. INDICAÇÕES DA REABILITAÇÃO................................................. 143
3. PÚBLICO-ALVO .......................................................................... 144
4. PROCESSO DE REABILITAÇÃO.................................................... 144
5. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL LABORATIVO ................................. 145
5.1 SITUAÇÃO CLÍNICA .................................................................. 145
5.2 MOROSIDADE TERAPÊUTICA .................................................. 146
5.3 PERFIL ETÁRIO......................................................................... 147
5.4 NÍVEL DE ESCOLARIDADE ........................................................ 147
5.5 EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS ................................................ 148
5.6 MERCADO DE TRABALHO ....................................................... 150
CAPÍTULO 18: BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA .................... 153
1. FUNDAMENTAÇÃO LEGAL......................................................... 153
2. REQUISITOS EXIGIDOS .............................................................. 153
3. CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE .......... 154
4. DISTRIBUIÇÃO ESTATÍSTICA....................................................... 154
5. INSTRUMENTO AMES/BPC ....................................................... 155

11
6. FORMULÁRIO AMES/BPC ......................................................... 156
7. FUNÇÕES DO CORPO ................................................................ 156
8. ATIVIDADES E PARTICIPAÇÃO .................................................... 165
9. FATORES AMBIENTAIS ............................................................... 173
10. CONCLUSÕES DO AMES/BPC ................................................ 178
CAPÍTULO 19: APOSENTADORIA DO DEFICIENTE ................................ 183
1. INTRODUÇÃO ........................................................................... 183
2. TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO ....................................................... 183
3. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO................................................. 183
4. INSTRUMENTO IF-BR ................................................................ 184
5. DOMÍNIOS DO IF-BR ................................................................. 185
6. APLICAÇÃO PRÁTICA DO INSTRUMENTO ...................................... 194

PARTE 3: DOENÇA E INCAPACIDADE LABORAL .................................... 197


CAPÍTULO 20: ANÁLISE DA CAPACIDADE FUNCIONAL......................... 199
1. PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO ................................................... 199
2. AVALIAÇÃO MÉDICO-JURÍDICA ................................................. 199
3. TEORIA TRIDIMENSIONAL DA INCAPACIDADE .......................... 200
3.1 CONCEITO DE RISCO ............................................................... 200
3.2 CONCEITO DE CAPACIDADE .................................................... 201
3.3 CONCEITO DE TOLERÂNCIA..................................................... 202
4. AVALIAÇÃO DAS RESTRIÇÕES .................................................... 203
5. AVALIAÇÃO DAS LIMITAÇÕES .................................................... 205
6. ATIVIDADES FUNDAMENTAIS .................................................... 205
7. DIAGNÓSTICO DA INVALIDEZ .................................................... 206
8. CLASSIFICAÇÃO DAS PROFISSÕES ............................................. 207

12
9. PRESUNÇÃO DA INCAPACIDADE TEMPORÁRIA ......................... 209
10. PRESUNÇÃO DA INCAPACIDADE PERMANENTE .................... 210
CAPÍTULO 21: SÍNDROMES LOMBARES ............................................... 213
1. HÉRNIA DE DISCO ..................................................................... 213
CAPÍTULO 22: DOENÇAS OSTEOMUSCULARES .................................... 225
1. SÍNDROME DO OMBRO IMPACTADO ........................................ 225
2. EPICONDILITE MEDIAL E LATERAL ............................................. 229
3. SÍNDROME DO TÚNEL CUBITAL ................................................ 233
4. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO ............................................ 239
5. TENOSSINOVITE DE QUERVAIN................................................. 244
6. TENOSSINOVITE ESTENOSANTE (DEDO EM GATILHO) .............. 246
CAPÍTULO 23: DOENÇAS CARDIOVASCULARES ................................... 253
1. DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA .......................................... 253
2. HIPERTENSÃO ARTERIAL ........................................................... 258
3. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA......................................................... 261
4. ARRITMIAS CARDÍACAS ............................................................ 267
5. ANEURISMA DE AORTA ............................................................. 271
6. DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA ................................................ 274
CAPÍTULO 24: DOENÇAS PULMONARES .............................................. 281
1. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA ........................... 281
2. ASMA BRÔNQUICA ................................................................... 286
3. DOENÇA PULMONAR RESTRITIVA ............................................. 289
4. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR .......................................... 293
5. CÂNCER DE PULMÃO ................................................................ 297
CAPÍTULO 25: DOENÇAS NEUROLÓGICAS ........................................... 303
1. EPILEPSIA .................................................................................. 303

13
2. ESCLEROSE MÚLTIPLA ............................................................... 306
3. TRAUMATISMO CRANIO ENCEFÁLICO....................................... 309
4. DOENÇAS CÉREBRO VASCULARES ............................................. 314
5. CEFALEIAS PRIMÁRIAS .............................................................. 317
CAPÍTULO 26: DOENÇAS REUMATOLÓGICAS ...................................... 321
1. ARTRITE REUMATOIDE .............................................................. 321
2. LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO ............................................. 325
3. ESPONDILITE ANQUILOSANTE .................................................. 329
4. OSTEOARTRITE.......................................................................... 333
5. OSTEOPOROSE .......................................................................... 338
6. FIBROMIALGIA .......................................................................... 341
CAPÍTULO 27: DOENÇAS GASTROINTESTINAIS.................................... 347
1. DOENÇA DO REFLUXO GASTROINTESTINAL .............................. 347
2. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS .................................. 350
3. DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA .................................................... 354
4. DOENÇA ULCEROSA PEPTICA .................................................... 358
5. SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL ....................................... 361
CAPÍTULO 28: DOENÇAS NEFROUROLÓGICAS..................................... 365
1. NEFROLITÍASE ........................................................................... 365
2. DOENÇA RENAL CRÔNICA ......................................................... 368
3. HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGA ........................................... 371
4. INFECÇÃO DE TRATO URINÁRIO................................................ 373
CAPÍTULO 29: DOENÇAS ENDOCRINOLÓGICAS ................................... 377
1. HIPOTIREOIDISMO .................................................................... 377
2. HIPERTIREOIDISMO .................................................................. 379
3. DIABETES MELLITUS ................................................................. 383

14
4. OBESIDADE ............................................................................... 388
5. SÍNDROME DE CUSHING ........................................................... 391
CAPÍTULO 30: DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS ............................................ 397
1. DEPRESSÃO MAIOR .................................................................. 397
2. TRANSTORNO BIPOLAR ............................................................ 400
3. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ......................... 405
4. ESQUIZOFRENIA........................................................................ 407
5. TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO.................................... 410
LINKS PARA ANEXOS E FORMULÁRIOS ................................................. 415
1. FORMULÁRIO BPC-LOAS ........................................................... 415
2. FORMULÁRIO IF-BR .................................................................. 415

15
CAPÍTULO 1: PERÍCIA MÉDICO LEGAL

1. INTRODUÇÃO
A perícia médica é um procedimento técnico realizado por especialistas em
diversas áreas com o obje�vo de esclarecer fatos e fornecer informações
fundamentadas para a jus�ça. Trata-se de um ato realizado por profissionais da
saúde com conhecimentos especializados na área da medicina.

Existem 5 �pos principais de perícia medica: criminal, trabalhista, securitária,


administra�va, civil e previdenciária. A criminal inves�ga indícios e provas em
casos de crimes; a trabalhista está relacionada a acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais; a securitária foca na análise de seguros e planos de saúde; a
administra�va avalia processos relacionados a administração pública; a civil é
encarregada de conduzir casos de erro médico, danos corporais, funcionais e
esté�cos; e a previdenciária, nosso foco nesse livro, determina a elegibilidade de
bene�cios previdenciários com base nas condições de saúde e capacidade laboral
do requerente.

Em todos esses �pos de perícia médica, a finalidade é fornecer informações


embasadas cien�ficamente e imparciais para subsidiar a tomada de decisões no
âmbito jurídico. Elas contribuem para a busca pela jus�ça e o correto
encaminhamento dos processos legais, considerando as par�cularidades de cada
situação e garan�ndo os direitos das partes envolvidas.

2. TIPOS DE PERÍCIA
Existem dois �pos principais de perícia: a perícia direta e a perícia indireta. A
perícia direta é realizada de forma presencial, com a presença �sica do médico
perito junto à pessoa que está sendo examinada. Nesse �po, o perito realiza
exames �sicos e avaliações clínicas, buscando obter informações precisas sobre o
estado de saúde do indivíduo.

Já a perícia indireta é feita por meio da análise de documentos médicos, como


prontuários, laudos, exames e relatórios já existentes. Nesse caso, o médico avalia
as informações con�das nos documentos para, depois, emi�r um parecer técnico.

18
Ambas as formas de perícia, direta e indireta, são aceitáveis e têm o mesmo valor
legal. A escolha do �po de perícia a ser realizada dependerá das circunstâncias
específicas do caso, como a disponibilidade dos documentos médicos, a
necessidade de exames �sicos ou a complexidade da avaliação.

3. ESPECIALIDADE DO MÉDICO PERITO


Atualmente, no Brasil, existem 55 especialidades médicas registradas e, entre
elas, inclui-se a especialidade de Medicina Legal e Perícias Médicas. Essa
especialidade se concentra no conhecimento relacionado aos diversos �pos de
perícias existentes (criminais, administra�vas, cíveis, trabalhistas, previdenciárias
e securitárias). Dessa forma, assim como um cardiologista é o profissional mais
indicado para tratar uma arritmia cardíaca, um médico perito ou médico legista é
o mais indicado para realizar uma perícia médica.

No entanto, é comum no cenário brasileiro que profissionais do sistema de


jus�ça, como advogados, juízes e promotores, desconheçam essa especialidade
e prefiram contratar profissionais de diferentes áreas para realizar perícias.
Muitas vezes, os juízes acabam indicando peritos com base na doença do
examinado, como chamar um ortopedista para uma perícia que envolve fraturas
de membros. Isso é um equívoco, pois embora o ortopedista possua
conhecimento na inves�gação e tratamento da doença, a perícia médica requer
habilidades específicas que envolvem: avaliação de danos, classificação da
incapacidade e conhecimentos jurídicos.

A a�vidade pericial é metódica, obje�va e direcionada, com um foco totalmente


diferente do atendimento assistencial. Os médicos peritos especializados
compreendem conceitos da medicina pericial vão além do diagnós�co e
tratamento.

Apesar do exercício da a�vidade de médico perito estar aberto a profissionais de


qualquer área médica, ser apenas médico não é suficiente para atuar como perito
judicial. É necessário adquirir os conhecimentos singulares da prá�ca forense, a
fim de desempenhar essa a�vidade de forma adequada e contribuir de maneira
efe�va para a jus�ça.

19
4. ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PERITO
A área de atuação do médico perito apresenta um cenário promissor e em
crescimento no mercado atual. A demanda por profissionais especializados nessa
área tem aumentado significa�vamente, impulsionada pela necessidade de
esclarecer questões médicas em processos judiciais e administra�vos.

No contexto da perícia médica, existem dois �pos principais de peritos: os peritos


oficiais e os assistentes técnicos. Os peritos oficiais são profissionais designados
pelo serviço público para realizarem perícias com imparcialidade e atenderem às
demandas governamentais. Já os assistentes técnicos são os peritos contratados
de forma par�cular por uma das partes do processo.

O mercado do perito oficial é composto por três funções principais: perito federal
do INSS, o médico legista de carreira policial e o perito judicial. Geralmente, o
acesso a essas posições ocorre por meio de concursos públicos, que são
altamente concorridos. A compe��vidade decorre em virtude das oportunidades
oferecidas por essas carreiras, já que garantem estabilidade, remuneração
adequada e uma possibilidade de aposentadoria.

No caso do perito judicial, há também a possibilidade de nomeação direta pelo


juiz responsável pelo caso, não necessariamente por meio de concurso público.
Nesse cenário, o magistrado escolhe um profissional especializado para realizar a
perícia, levando em consideração a sua experiência e conhecimento técnico na
área relacionada ao processo em questão.

Já em relação aos assistentes técnicos, o mercado de trabalho é mais amplo.


Diferentemente do perito oficial, que geralmente está restrito a uma única área,
o assistente técnico tem a flexibilidade de se envolver em uma variedade de casos
(criminal, civil, trabalhista, previdenciária, entre outros). Outra grande vantagem
é a autonomia para determinar seus honorários, o que proporciona uma maior
liberdade na gestão financeira da a�vidade.

Tanto os peritos oficiais quanto os assistentes técnicos são cruciais na busca pela
jus�ça. O direito do contraditório e ampla defesa, a imparcialidade, a é�ca e o
conhecimento técnico são fundamentais para fornecer provas periciais
confiáveis, auxiliando juízes, advogados e demais profissionais do sistema judicial
a tomar decisões embasadas e equita�vas.

20
5. IMPORTÂNCIA DA PROVA
A prova desempenha um papel fundamental no processo judicial, sendo um
elemento que busca demonstrar a auten�cidade e a veracidade dos fatos
apresentados. Seu obje�vo principal é formar a convicção do juiz, fornecendo
elementos para que ele possa tomar uma decisão justa e fundamentada.

No sistema legal, existem três sistemas diferentes de avaliação da prova que são:
1) sistema tarifado, 2) sistema da livre convicção e 3) sistema da persuasão
racional. O sistema tarifado atribui a cada prova um valor certo e preestabelecido,
determinando sua força probatória. O sistema da livre convicção confere ao
magistrado a soberania para julgar de acordo com sua consciência. Por fim, o
sistema da persuasão racional permite ao juiz formar seu convencimento com
base em razões jus�ficadas, mas sem valor pré-estabelecido para cada prova.
Nesse caso, caso o juiz rejeite uma prova, é necessário que ele fundamente os
mo�vos dessa decisão.

No Brasil, adota-se o sistema da persuasão racional, em que o juiz busca formar


seu convencimento baseado em fundamentos lógicos e jus�ficáveis. Isso ressalta
a importância de uma avaliação imparcial da prova, que deve ser conduzida de
forma obje�va e isenta.

Todavia, apesar da imparcialidade ser um princípio fundamental na produção da


prova, deve-se destacar que os assistentes técnicos ainda assim são relevantes
nesse processo. Embora não sejam totalmente imparciais, eles contribuem para
tornar todo o processo mais transparente, trazendo elementos técnicos e
especializados que auxiliam na construção da prova.

6. PRESENÇA DO ADVOGADO NA PERÍCIA MÉDICA


A presença do advogado na perícia médica é um tema que gera posicionamentos
divergentes, tanto por parte do Conselho Regional de Medicina (CRM) quanto da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Existem pontos posi�vos e nega�vos a
serem considerados nessa questão.

De acordo com a OAB, os advogados têm o direito de ingressar livremente em


qualquer edi�cio ou recinto em que funcione repar�ção judicial ou serviço
público, onde precisem atuar em defesa de seus clientes. Essa posição enfa�za a

21
importância do amplo acesso aos espaços onde são realizadas as perícias, visando
garan�r o pleno exercício do direito de defesa.

Por outro lado, o CRM sustenta que a presença do advogado na perícia é uma
autonomia do médico perito e requer a sua anuência. Essa perspec�va é
jus�ficada pela necessidade de privacidade do paciente durante a avaliação
médica.

Diante dessa divergência, surge a questão: o que fazer quando o médico não
deseja a presença do advogado durante a perícia? Como podemos perceber, essa
situação cria um impasse entre o posicionamento da OAB e do CRM. A resposta
a essa pergunta é mais uma questão de bom senso do que de ausência de amparo
legal. Tanto o advogado quanto o médico são auxiliares da jus�ça e seus obje�vos
são auxiliar no esclarecimento dos fatos e na busca pela equidade processual. É
fundamental que não permitam que seus egos pessoais prejudiquem esse
importante trabalho para o sistema jurídico.

Uma possível solução para resolver esse impasse é buscar um diálogo aberto
entre as partes envolvidas, advogado e médico perito, a fim de estabelecer um
entendimento mútuo. O advogado deve explicar sua necessidade de estar
presente para garan�r a defesa do cliente, enquanto o médico perito deve
expressar suas preocupações relacionadas à autonomia técnica e à privacidade
do paciente. Com um diálogo constru�vo, é possível encontrar um equilíbrio que
atenda às necessidades de todos os envolvidos.

22
CAPÍTULO 2: PERÍCIA PREVIDENCIÁRIA

1. A IMPORTÂNCIA DA PERÍCIA PREVIDENCIÁRIA


A imprevisibilidade humana é uma realidade inerente à condição humana. As
pessoas adoecem e, em virtude disso, enfrentam incapacidades temporárias ou
permanentes que podem afetar sua capacidade de trabalho e sua qualidade de
vida. Nesse contexto, o direito deve assegurar a essas pessoas um bene�cio
adequado, proporcionando-lhes suporte financeiro e proteção social. A
Cons�tuição, ao adotar o princípio da dignidade humana, reforça a importância
de garan�r condições dignas e justas para aqueles que enfrentam essas
limitações.

O campo previdenciário envolve uma complexidade de atores, incluindo juízes,


advogados, procuradores e magistrados, que desempenham diferentes papéis na
condução dos processos e na garan�a dos direitos previdenciários. Nesse cenário,
o perito médico assume uma função de destaque, fornecendo embasamento
técnico-cien�fico para auxiliar na compreensão dos aspectos médicos envolvidos
e contribuir para a correta aplicação das leis e normas previdenciárias.

Nos processos judiciais e na concessão de bene�cios por incapacidade, o laudo


médico emi�do pelo perito tem um peso significa�vo na tomada de decisão do
juiz. Embora o juiz não esteja vinculado à prova pericial, a confiança depositada
nesse profissional e em seu conhecimento especializado faz com que sua
argumentação seja amplamente considerada.

Além de ser um mediador entre a medicina e o direito, o perito médico faz


também o papel de intérprete da linguagem médica. A terminologia técnica e os
jargões médicos são de di�cil compreensão para pessoas que não têm formação
na área da saúde. O perito tem o desafio de simplificar e explicar de forma clara
e acessível os aspectos médicos envolvidos nos casos, a fim de garan�r que todas
as partes envolvidas compreendam plenamente os detalhes e as implicações das
questões médicas discu�das.

24
2. O VALOR INESTIMÁVEL DO TRABALHO
O trabalho é um elemento fundamental na vida humana, amplamente
reconhecido por filósofos e psiquiatras como uma dimensão essencial para a
existência e o bem-estar do indivíduo. Vai além de ser apenas uma fonte de
renda, desempenhando um papel significa�vo na iden�dade, propósito e
realização pessoal.

Existem inúmeras formas pelas quais o trabalho pode ser importante para o
indivíduo. Além de fornecer os meios financeiros necessários para sustentar a si
mesmo e à família, o trabalho oferece uma sensação de conquista e autoes�ma.
Ele permite que as pessoas se sintam produ�vas, valorizadas e contribuam
a�vamente para a sociedade.

Ao longo da história, renomados pensadores deixaram suas reflexões sobre a


importância do trabalho, transmi�ndo mensagens marcantes e inspiradoras.
Sigmund Freud, em suas contribuições, enfa�zou que o trabalho tem a grande
função de manter o indivíduo conectado à realidade. É uma forma de oferecer
um lugar seguro dentro da comunidade humana, fornecendo, ao mesmo tempo,
uma base sólida para a existência.

José Ortega y Gasset trouxe uma perspec�va adicional ao ressaltar que “uma vida
desprovida de trabalho é uma negação pior do que a própria morte”. Segundo
ele, viver implica ter algo definido a fazer e uma missão a cumprir. O trabalho,
nessa visão, é fundamental para dar sen�do e propósito à existência. Ele não se
trata apenas de uma a�vidade econômica, mas também uma expressão de nossa
iden�dade e uma forma de contribuição para o mundo ao nosso redor.

O trabalho é central na vida humana, fornecendo não apenas meios de


subsistência, mas também propósito, realização pessoal e conexão com a
comunidade. É uma fonte de iden�dade, desenvolvimento e interação social.
Reconhecer e valorizar a importância do trabalho é promover o bem-estar
individual, construir uma sociedade mais equilibrada e significa�va.

No entanto, existem situações que o trabalho deve ser evitado. Pacientes com
lesões ou doenças graves podem se beneficiar com períodos de afastamento. É
aqui que a perícia médica previdenciária floresce. Através de uma avaliação
cuidadosa e imparcial, os peritos médicos, após minuciosa avaliação, determinam
de forma precisa e justa quais indivíduos realmente necessitam do suporte
oferecido pela previdência social.

25
Dessa forma, a perícia médica previdenciária mantêm o equilíbrio entre o bem-
estar e a jus�ça. Por meio da exper�se médica, os peritos médicos ajudam a
garan�r que aqueles que realmente necessitam de assistência sejam
devidamente amparados, preservando, por outro lado, o bene�cio ines�mável
do trabalho para aqueles indivíduos que possuem condições �sicas para exercer
a sua função na sociedade.

26
CAPÍTULO 3: PERITO JUDICIAL

1. NOMEAÇÃO DO PERITO JUDICIAL


Através da nomeação do perito judicial, busca-se obter um parecer técnico
especializado em determinada área de conhecimento, muitas vezes necessária
para o deslinde de questões jurídicas complexas. Na jus�ça tradicional é comum
que o julgamento envolva a necessidade de compreensão de temas específicos
de outras áreas, tais como engenharia, contabilidade e medicina.

Existem duas formas principais de nomeação do perito judicial. A primeira é por


meio de sorteio, no qual um profissional cadastrado no Tribunal de Jus�ça do
respec�vo estado é selecionado aleatoriamente para atuar no caso. A segunda
forma, mais comum, ocorre quando o juiz nomeia um perito de sua confiança, já
conhecido por ele. Essa escolha baseada na confiança pode ser vista como uma
extensão do trabalho do magistrado, uma vez que o perito selecionado é alguém
cujo conhecimento e imparcialidade o juiz acredita serem adequados para a
análise técnica requerida.

Essa úl�ma forma de nomeação tem pontos posi�vos e nega�vos a serem


considerados. Por um lado, a nomeação por confiança pode agilizar o andamento
do processo, uma vez que o perito já é familiarizado com o trabalho e a
abordagem do juiz. Também proporciona uma maior segurança na qualidade e
precisão do parecer técnico. Por outro lado, essa prá�ca limita as oportunidades
de peritos que não possuem uma relação pessoal com os juízes. Muitas vezes,
outros profissionais mais qualificados e capacitados, não possuem a chance de
demonstrar seus conhecimentos e habilidades, simplesmente porque não
�veram a chance de serem nomeados anteriormente.

A nomeação do perito é formalizada por meio de um despacho emi�do pelo juiz,


que determina a pessoa selecionada para realizar a perícia. O perito é então
in�mado desta nomeação, geralmente por meio de comunicação por e-mail. Em
seguida, ele tem o prazo de 5 dias para apresentar a proposta de honorários ou
prazo de 15 dias para alegar qualquer impedimento ou suspeição que possa
comprometer sua imparcialidade na condução da perícia.

28
2. QUEM PODE SER PERITO JUDICIAL
No âmbito da perícia judicial, qualquer profissional com curso superior pode
atuar como perito, desde que esteja credenciado no seu órgão de classe. No caso
específico da medicina, é possível requisitar qualquer médico para realizar
perícias médicas. Essa abertura permite que diferentes especialidades sejam
envolvidas nos processos judiciais, garan�ndo uma ampla gama de
conhecimentos e exper�se.

É válido ressaltar que não é necessário que o perito atue exclusivamente como
perito judicial. Médicos que trabalham na inicia�va privada, em hospitais, clínicas
ou como servidores públicos também podem exercer essa função. Restringir a
atuação exclusiva dos peritos seria limitar a par�cipação de médicos
credenciados e competentes na análise de causas processuais.

Embora qualquer médico possa atuar como perito judicial, é fundamental que ele
possua conhecimento e experiência. A perícia médica é uma especialidade
credenciada na medicina, assim como várias outras. Portanto, o bom perito é
aquele que possui um entendimento aprofundado dos fundamentos e prá�cas
médico forenses, incluindo a interpretação de exames, diagnós�cos e avaliação
de incapacidade ou danos.

Ter um conhecimento sólido e atualizado garante a qualidade e a precisão dos


pareceres médicos apresentados nos processos judiciais. Isso permite uma
avaliação justa e imparcial, contribuindo para a busca pela verdade e a resolução
adequada dos casos no âmbito jurídico.

3. PERITO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL


A perícia judicial e a perícia extrajudicial são duas modalidades dis�ntas de
avaliação técnica que ocorrem em contextos diferentes. A perícia judicial é
realizada no âmbito do sistema de jus�ça, onde um perito é nomeado pelo juiz
para analisar e emi�r um parecer técnico sobre questões específicas relacionadas
a um processo em curso. Por outro lado, a perícia extrajudicial ocorre fora dos
parâmetros formais do sistema judicial, sendo contratada por advogados ou
partes interessadas para avaliar determinada situação ou caso.

Tomando como exemplo o âmbito previdenciário, no caso da perícia judicial, um


perito médico é nomeado pelo juiz para examinar o segurado e avaliar sua

29
condição de saúde em relação à alegada incapacidade. Esse perito tem a
responsabilidade de emi�r um laudo técnico que subsidiará a decisão do juiz no
processo em questão. Já no caso da perícia extrajudicial, um perito médico é
contratado por um advogado ou uma das partes envolvidas para realizar uma
avaliação médica e emi�r um laudo sobre a doença, lesão ou incapacidade
alegada. Esse laudo extrajudicial servirá para análise da viabilidade do processo
por parte dos advogados e poderá, eventualmente, ser anexado ao processo
como um elemento de prova adicional.

A contratação de peritos extrajudiciais é frequentemente realizada com o


obje�vo de fornecer um embasamento técnico mais completo e esclarecedor.
Muitas vezes, os advogados não detêm o conhecimento detalhado sobre uma
determinada condição de saúde e, portanto, antes de ingressar com o processo,
optam por contratar um perito extrajudicial para emi�r um laudo técnico que
auxilie na análise da viabilidade da ação.

Deve-se ressaltar que a perícia extrajudicial não exclui a possibilidade de ocorrer


uma perícia judicial determinada pelo juiz. Na maioria das vezes, a perícia judicial
é recomendada, pois o laudo do perito extrajudicial, por ter sido contratado por
uma das partes interessadas, pode apresentar certa tendenciosidade em mostrar
apenas os aspectos favoráveis à parte contratante, assemelhando-se aos laudos
elaborados por assistentes técnicos. A perícia judicial, por sua vez, irá garan�r a
imparcialidade e a isenção necessária na análise técnica.

4. CÓDIGO DE CONDUTA DO PERITO


A a�vidade de perícia judicial exige uma conduta é�ca e responsável por parte
dos médicos. Assim como os cristãos seguem a Bíblia, o estado brasileiro baseia-
se na cons�tuição e os médicos aderem ao Código de É�ca Médica, a perícia
também necessita de um código de conduta próprio.

Diante disso, estabeleceremos, nesse livro, um código que seja válido para todos
os médicos peritos, abrangendo, com isso, as áreas previdenciárias. Esse código
de conduta visará consolidar a tradição moral da perícia e transformar os
princípios e costumes em uma doutrina obje�va e clara. Segue os seguintes
postulados:

POSTULADO DA DESVINCULAÇÃO EMOCIONAL: o perito deve se manter imparcial


e não se deixar influenciar por histórias ou relatos emocionantes apresentados

30
pelo periciado. É crucial compreender que a jus�ça só poderá ser
verdadeiramente alcançada se o olhar do perito for pautado no que é
obje�vamente observado e comprovado. Ao se envolver emocionalmente ou se
deixar influenciar por narra�vas, o perito corre o risco de comprometer a
imparcialidade e a precisão de suas conclusões.

POSTULADO DA PRUDÊNCIA NA EXCEPCIONALIDADE: na medicina pericial, o


perito deve adotar uma abordagem equilibrada, considerando tanto os casos
mais comuns como as exceções. Enquanto na medicina clínica é comum seguir o
princípio da Navalha de Occam e buscar explicações mais simples, na perícia
judicial, o perito é frequentemente convocado para avaliar situações
excepcionais. São nelas que os advogados fundamentam suas argumentações.
Logo, o perito deve conduzir a análise mantendo o foco na determinação do nexo
causal e sempre avaliando as exceções com a prudência necessária.

POSTULADO DA INVESTIGAÇÃO ABRANGENTE: Na medicina clínica, os sinais


patognomônicos são indicadores claros de uma condição quando estão
presentes. No entanto, no contexto pericial, esses sinais por si só não são
suficientes. O cerne da perícia reside em reunir um conjunto amplo de elementos
para chegar a uma conclusão. Basear-se separadamente em cada sinal é fazer
uma análise fragmentada, tendenciosa, não contribuindo com a imparcialidade
jurídica.

POSTULADO DO MÉTODO CARTESIANO: a método cartesiano é conhecido por


sua abordagem analí�ca e divisão sistemá�ca de problemas. Ao aplicar essa
metodologia, os peritos são capazes de desmembrar questões complexas em
partes menores, facilitando a organização do pensamento e a compreensão dos
elementos envolvidos. Assim como Descartes buscava resolver problemas por
meio da dúvida metódica, os peritos também devem cul�var uma postura
ques�onadora, examinando minuciosamente cada aspecto para construir uma
análise fundamentada. Essa abordagem sistemá�ca permite agir com rigor
cien�fico, baseando conclusões em evidências concretas e contribuindo para a
busca da verdade.

POSTULADO DO REGISTRO PRECISO: é necessário reconhecer a limitação da


memória humana e adotar uma abordagem responsável em relação aos dados e
informações coletadas durante as perícias. Circunspecto de que a confiança
exclusiva na memória pode comprometer a integridade dos fatos e prejudicar a
busca pela verdade, o perito deve adotar o hábito de registrar me�culosamente
todas as observações relevantes em tempo real. Por meio dessa prá�ca de

31
documentação minuciosa, assegura-se a precisão e a confiabilidade do laudo
final.

POSTULADO DA ATUALIZAÇÃO CONTÍNUA: O médico perito, consciente de que a


competência é o alicerce para o reconhecimento e o respeito no exercício de sua
função, abraça a responsabilidade de manter-se constantemente atualizado. Por
meio de uma obs�nada busca pelo conhecimento, dedicando-se com paixão ao
estudo con�nuo, o especialista eleva seus laudos a um patamar de excelência,
caracterizados pela precisão e pela veracidade que os permeiam.

POSTULADO DO POSICIONAMENTO ASSERTIVO: o exercício da função pericial é


fundamental no esclarecimento especializado de dúvidas médico-jurídicas. É
imprescindível que o perito de forma clara e obje�va, saiba quando dizer sim e
quando dizer não. A asser�vidade é essencial para fornecer ao juiz elementos
sólidos que permitam o exercício da jus�ça. O perito não deve temer se
posicionar, uma vez que no exercício de sua função sempre se respaldará no
conhecimento técnico e cien�fico.

POSTULADO DA CONVICÇÃO IMPESSOAL: o perito deve exercer o seu mister livre


de qualquer crenças, ideologia ou paixões. É impera�vo que ele seja capaz de
despir-se de influências subje�vas que possam comprometer sua obje�vidade na
busca pela verdade. Ele deve analisar os fatos de forma imparcial, realizando uma
análise criteriosa e relacionando-os de maneira precisa para chegar a conclusões
claras e obje�vas.

POSTULADO DA PUREZA MORAL: o médico, no exercício forense, deve pautar sua


conduta pela mais estrita hones�dade, mantendo-se sempre íntegro em suas
ações e decisões. É fundamental que ele seja resiliente diante de propostas
obscuras ou que possam comprometer sua imparcialidade. Sua responsabilidade
é com a busca pela verdade e jus�ça, não se deixando influenciar por interesses
alheios. A hones�dade e a transparência devem ser a base de sua atuação,
assegurando a confiança das partes envolvidas e a credibilidade do seu trabalho
pericial.

POSTULADO DA CONFIDENCIALIDADE RESGUARDADA: em sua atuação o perito


deve primar pela máxima discrição e sigilo, garan�ndo a confidencialidade das
informações ob�das. É fundamental manter em absoluto segredo todos os
dados, documentos e conhecimentos adquiridos, respeitando a privacidade das
partes envolvidas. O compromisso com a confidencialidade assegura a
imparcialidade, a integridade e a confiabilidade do trabalho pericial.

32
5. CONDIÇÕES DE IMPEDIMENTO DO PERITO
Em determinadas circunstâncias, é evidente que o perito judicial se torna
inadequado para posicionar-se em relação a uma causa processual, pois surgem
sinais claros de possíveis conflitos de interesse. Isso acontece em situações claras
de vínculos pessoais, profissionais ou financeiros com uma das partes envolvidas
no processo, o que compromete, sem dúvida, a realização de uma perícia íntegra.

No que se refere aos critérios de impedimento, estabelecidos para assegurar a


imparcialidade e a equidade processual, são consideradas as seguintes
circunstâncias:

• Quando no processo es�ver postulando, como defensor público,


advogado ou membro do ministério público, seu cônjuge ou
companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau.
• quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro,
ou parente consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau de parentesco;
• quando for sócio, membro de direção ou de administração de pessoa
jurídica que seja parte no processo;
• quando for é herdeiro presun�vo, donatário ou empregador de qualquer
uma das partes envolvidas;
• em que figure como parte ins�tuição de ensino com a qual tenha relação
de emprego ou contrato de prestação de serviços;
• em que figure com parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau de parentesco, mesmo que o processo
seja patrocinado por advogado de outro escritório.
• quando promover ação contra a parte ou seu advogado.

Essas são algumas das situações que configuram o impedimento, garan�ndo a


imparcialidade do processo judicial e a preservação dos direitos das partes
envolvidas. É fundamental que esses critérios sejam rigorosamente observados e
aplicados, a fim de assegurar a transparência e a jus�ça em cada etapa do
processo.

33
6. CONDIÇÕES DE SUSPEIÇÃO DO PERITO
Da mesma forma que existem critérios de impedimento, também há critérios de
suspeição que devem ser considerados no âmbito jurídico. O impedimento
representa uma presunção absoluta de parcialidade do perito, sendo essa
incompa�bilidade uma questão inequívoca. Já a suspeição, diferentemente do
impedimento, representa uma presunção rela�va de parcialidade. Essa
presunção é baseada em indícios ou circunstâncias que geram dúvidas razoáveis
que podem interferir na atuação imparcial do profissional.

De acordo com a jus�ça, existem mo�vos primordiais que levam à suspeição,


como quando o perito é:

• amigo ín�mo ou inimigo capital de qualquer das partes;


• devedor ou credor de alguma das partes, de seu cônjuge ou parentes
até o terceiro grau;
• herdeiro presun�vo, donatário ou empregador de uma das partes;
• recebedor de presentes antes ou durante o processo, ou que aconselhe
alguma das partes acerca do objeto da causa, ou forneça meios para
custear as despesas do li�gio;
• interessado no julgamento em favor de uma das partes.

Quando um perito realiza um laudo nessas condições, ele compromete a conduta


é�ca esperada, podendo gerar graves consequências no processo. A sua
imparcialidade pode ser ques�onada, levantando dúvidas sobre a integridade do
laudo e sua obje�vidade na análise dos fatos. Além disso, a suspeição pode
comprometer a confiança das partes envolvidas no processo, prejudicando a
equidade e a jus�ça.

7. TRÂMITE BUROCRÁTICO PERICIAL


7.1 NOMEAÇÃO

No processo de nomeação do perito judicial, cabe ao juiz a responsabilidade de


designar o profissional por meio de um despacho formal inserido no processo. É
imprescindível que o perito esteja devidamente inscrito em um órgão
competente e seja vedada a nomeação de pessoa jurídica para o cargo, uma vez
que a natureza da função é de caráter pessoal e intransferível.

34
Após a nomeação, o perito é devidamente in�mado por meio de um documento
oficial denominado Mandado de In�mação. Esse processo é realizado através de
um oficial de jus�ça, que se dirige ao endereço fornecido pelo profissional. O
oficial de jus�ça tem a missão de entregar o mandato ao perito, que, por sua vez,
deve assinar no verso do documento como prova de ciência da in�mação.
Alterna�vamente, a in�mação pode ocorrer por correio �sico ou eletrônico,
u�lizando-se do aviso de recebimento como comprovante.

Após receber a in�mação, o perito tem o prazo de 5 dias para analisar o encargo
e manifestar sua recusa, caso necessário. É fundamental que a recusa seja
devidamente jus�ficada por mo�vos plausíveis. A apresentação de uma recusa
sem jus�fica�va adequada pode ser interpretada como falta de profissionalismo,
levando o juiz a não nomear o perito para outros processos. Caso o perito não se
manifeste dentro do prazo estabelecido, sua aceitação tácita será presumida,
considerando-se que ele aceitou o encargo.

7.2 PROPOSTA DE HONORÁRIOS

Primeiramente, é preciso realizar uma avaliação para determinar se a jus�ça


gratuita se aplica ao processo em questão. Nos casos em que a jus�ça gratuita é
concedida, já existem valores preestabelecidos para os laudos médicos,
geralmente variando em torno de 20-40% do salário-mínimo.

Situações raras em que a jus�ça não é gratuita, após receber a in�mação de


nomeação, o perito deve elaborar a sua proposta. Para isso o primeiro passo é
realizar um estudo minucioso dos autos. Essa análise criteriosa é fundamental
para elaborar uma proposta de honorários adequada, levando em consideração
todas as informações presentes no processo.

Durante essa fase, o perito deverá ler atentamente a pe�ção inicial tanto do
reclamado quanto do reclamante. Esses documentos representam as versões
apresentadas por cada uma das partes envolvidas e são essenciais para
compreender todos os aspectos relevantes da controvérsia.

Recomenda-se a elaboração da proposta de honorários somente após tomar


conhecimento dos quesitos apresentados pelas partes. Em alguns casos, as partes
podem formular mais de 50 quesitos a serem respondidos. Portanto, é necessário
aguardar a disponibilização desses quesitos no processo para analisar a
complexidade do trabalho e calcular os honorários de forma adequada. Caso os

35
quesitos ainda não estejam nos autos, é interessante aguardar o prazo legal de
15 dias para sua apresentação.

Outro fator que pode influenciar no orçamento da perícia são os processos de


alto valor. Essas situações costumam envolver advogados e assistentes técnicos
renomados, que são remunerados de forma proporcional à complexidade técnica
dos quesitos e ques�onamentos elaborados. Portanto, considerar essa variável
ao calcular os honorários é uma boa estratégia.

Em processos de grande magnitude, os assistentes técnicos empregam todos os


recursos disponíveis para elaborar seus pareceres em relação ao laudo do perito.
Eles analisam minuciosamente o que o perito escreveu, favorecendo as partes
que representam, quando encontram possíveis brechas ou inconsistências.

A proposta de honorários deve ser apresentada por meio de uma pe�ção formal.
Sempre que possível, é recomendado incluir no pedido a solicitação de
adiantamento de honorários, visando assegurar o adequado pagamento pelo
serviço prestado. Por fim, os honorários do perito são integralizados após a
conclusão da perícia, a entrega do laudo ao juiz e às partes envolvidas no
processo.

7.3 QUESITOS E ASSISTENTES TÉCNICOS:

No processo de perícia judicial, é estabelecido um trâmite burocrá�co para a


apresentação dos quesitos e a nomeação dos assistentes técnicos. Após tomar
conhecimento da nomeação do perito no processo, as partes têm o prazo de 5
dias para indicar seus assistentes técnicos e apresentar os quesitos.

O assistente técnico é uma pessoa escolhida pelas partes envolvidas, sendo


contratado especificamente para desempenhar essa função. Ele atua como um
colaborador da parte, trazendo conhecimentos técnicos e auxiliando na
elaboração dos quesitos.

Em casos em que o processo possui um valor mais baixo, é comum que as partes
optem por não contratar assistentes técnicos. No entanto, em processos de maior
vulto, é frequente a contratação desses profissionais, que muitas vezes são
responsáveis pela confecção de quesitos altamente complexos.

36
O perito tem a obrigação de responder a todos os quesitos apresentados. No
entanto, quesitos imper�nentes que envolvem questões de outras áreas, não
devem ser respondidos pois abordam temas fora da exper�se pericial.

7.4 MOMENTO DA PERÍCIA

Inicialmente, o perito judicial é responsável por agendar o dia da perícia, o qual,


geralmente no campo previdenciário, ocorre na ausência de um assistente
técnico (AT), mo�vo já explicado anteriormente. Caso haja a presença de um AT,
é uma obrigação é�ca do perito recepcioná-lo e permi�r que acompanhe o
procedimento pericial.

Durante o exame, o assistente técnico não possui o poder de influenciar


diretamente o trabalho do perito judicial. Ele pode fazer colocações e
observações per�nentes.

No momento da perícia, o perito judicial deve estar totalmente focado e atento,


pois os dados devem ser minuciosamente coletados. Serão eles que,
posteriormente avaliados e discu�dos, formarão a base para a confecção do
laudo pericial.

7.5 CONFECÇÃO DO LAUDO

Após a realização do exame e a coleta minuciosa de todos os dados, é chegada a


hora de iniciar a confecção do laudo pericial, levando em consideração o
postulado do registro preciso. Esse documento não precisa ser realizada no
mesmo dia do exame, podendo ser feita em momento posterior, desde que
dentro de um prazo razoável.

No processo de elaboração do laudo, é necessário ter cuidado para que o


documento seja fundamentado, evitando, no entanto, tornar-se prolixo. Laudos
extensos correm o risco de não serem lidos e compreendidos devidamente. A
linguagem u�lizada deve ser simples e de fácil compreensão para o leigo. O uso
excessivo de termos técnicos foge do obje�vo principal, que é assessorar o juiz e
os advogados. É importante lembrar que se eles já dominassem a área e seus
termos técnicos, a perícia não seria necessária. Cabe, portanto, ao perito médico
fazer a interface entre a medicina e o direito.

37
Uma orientação valiosas aos peritos é o uso do bom senso ao abordar sobre o
tema pericial. É recomendado que foquem principalmente em sua área de
exper�se, evitando emi�r opiniões sobre questões de cunho jurídico. A
apresentação de opiniões nesses aspectos é inapropriada.

Por fim, o laudo deve ser entregue dentro do prazo determinado pelo juiz,
es�pulado em despacho no processo. Em casos em que o juiz não tenha
estabelecido um prazo específico, cabe ao perito entregar o laudo em tempo
razoável. De preferência, busca-se a entrega no menor tempo possível, visando
garan�r a celeridade e eficiência no trabalho prestado.

7.6 ENTREGA DO LAUDO E PARECER

Após concluir a redação do laudo, chega o momento crucial de revisá-lo e


prepará-lo para a entrega. A revisão é sempre necessária, pois um documento
extenso pode conter erros ortográficos e semân�cos que acabam passando
despercebidos. É altamente recomendável que o laudo seja lido pelo menos três
vezes antes de ser assinado.

Atualmente, as assinaturas são eletrônicas, por meio de cer�ficado digital, e


enviados diretamente ao processo. Após a entrega do laudo, as partes envolvidas
têm a oportunidade de se manifestar a respeito e apresentar seus pareceres em
até 10 dias.

O assistente técnico tem o direito de contestar o laudo do perito, total ou


parcialmente. Ao refutar o documento, ele fundamenta suas próprias
considerações da melhor forma possível, buscando invalidar qualquer aspecto
que careça de consistência técnica.

No entanto, apesar das provas apresentadas pelo perito judicial e pelo assistente
técnico, o juiz não está vinculado a nenhuma delas e pode basear-se em outros
elementos probatórios existentes nos autos. Caso o juiz decida rejeitar o laudo e
o parecer, ele deve explicar sa�sfatoriamente, por meio da sentença, os mo�vos
que fundamentam sua convicção.

7.7 ESCLARECIMENTOS DO LAUDO

38
No caso de haver dúvidas ou necessidade de esclarecimentos em relação ao
laudo do perito ou do assistente técnico, a parte interessada tem o direito de
requerer ao juiz que eles sejam in�mados a comparecer em uma audiência,
apresentando previamente as perguntas na forma de quesitos.

A exigência de formulação prévia dos quesitos é um direito do perito, uma vez


que se trata de uma matéria técnica que requer uma análise detalhada. Em
situações em que essas perguntas não foram apresentadas antecipadamente, o
perito pode recusar-se a responder ques�onamentos complexos durante a
audiência.

Na grande maioria dos processos não é comum o perito ser convocado para
comparecer em sessões judiciais, tendo em vista que ele pode responder, por
escrito, os ques�onamentos adicionais. Essa prá�ca é recomendada, pois
proporciona ao perito um ambiente mais favorável para a análise aprofundada
dos aspectos técnicos envolvidos.

39
CAPÍTULO 4: ASSISTENTE TÉCNICO

1. FUNÇÃO DO ASSISTENTE TÉCNICO


O assistente técnico (AT) é uma figura designada pelos lados envolvidas no
processo judicial. Sua função é proporcionar suporte técnico e cien�fico,
representando os interesses da parte que o contratou.

O AT é responsável por auxiliar na análise crí�ca do laudo pericial elaborado pelo


perito oficial, podendo ra�ficá-lo ou apresentar um parecer divergente,
fundamentado em conhecimentos especializados. Sua par�cipação no processo
assegura que todas as questões médicas relevantes sejam abordadas de maneira
precisa, contribuindo para a jus�ça e equidade na resolução do caso.

2. FUNDAMENTO JURÍDICO
O fundamento jurídico primordial para a presença do assistente técnico (AT)
encontra-se no princípio cons�tucional da ampla defesa e do contraditório. Além
dele, existe o Código de Processo Civil, que em seu ar�go 465, estabelece: “as
partes devem, dentro de um prazo de 15 dias contados a par�r da nomeação do
perito: I - ques�onar o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso; II -
indicar um assistente técnico; III - apresentar os quesitos per�nentes”.

Caso não seja nomeado um assistente técnico dentro desses 15 dias, que é um
direito faculta�vo, considera-se que houve desistência desse direito. A
responsabilidade pela contratação do assistente técnico nesse tempo é da parte,
podendo ser feita pessoalmente ou por intermédio do seu advogado. Em muitos
casos, o próprio advogado, após comunicar a necessidade ao cliente, é
encarregado de contratar o assistente técnico apropriado para o caso.

3. INCLUSÃO DO AT NO PROCESSO
É incumbência do advogado de cada parte proceder à inclusão do assistente
técnico no processo. O AT, por sua vez, incumbe apenas encaminhar suas
informações pessoais, sua inscrição no CRM e um resumo de seu currículo ao

40
advogado correspondente. Assim que o advogado obtém acesso a essas
informações, ele as anexa ao processo juntamente com os quesitos.

Embora não seja obrigatório, é recomendável que o assistente técnico apresente


um breve currículo, demonstrando suas qualificações e experiências. Isso
contribui para fornecer ao juiz e às demais partes uma visão clara da sua
competência e exper�se, fortalecendo sua credibilidade no contexto da perícia
judicial.

4. PRAZO DE ENTREGA DO PARECER


O prazo de entrega do parecer do assistente técnico é uma dúvida comum no
contexto da perícia judicial. No an�go Código de Processo Civil de 1973, era
estabelecido que o assistente técnico �nha um prazo de 10 dias para anexar o
parecer médico-legal após as partes tomarem conhecimento do laudo do perito
judicial. No entanto, no novo Código de Processo Civil de 2015, esse prazo agora
é de 15 dias, levando em consideração o ar�go 473, parágrafo 1°.

Caso, por algum mo�vo, o parecer não seja entregue dentro do prazo
estabelecido, ainda é possível incluí-lo nos autos. No entanto, ele será
considerado uma peça informa�va, e caberá ao juiz decidir se irá valorizá-la ou
não em sua análise. Tendo esse impasse em vista, é fundamental a entrega no
tempo determinado, para que o juiz dê a devida atenção a ele, considerando-o
da mesma forma que faz com o laudo do perito judicial.

5. HONORÁRIOS DO AT
Os honorários do Assistente Técnico (AT) dis�nguem-se dos honorários do perito
judicial, pois são pagos pela parte que o contratou. Esses honorários podem variar
com base na reputação, pres�gio e competência do AT.

Trata-se de um mercado peculiar em que o profissional contratado tem o direito


de estabelecer o valor que considerar adequado, de acordo com sua própria
avaliação. No contexto da perícia médica previdenciária, os honorários do AT
costumam ser mais baixos, considerando que esses processos envolvem causas
de menor valor e os pacientes geralmente têm recursos financeiros limitados.

41
6. IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO DO AT
O assistente técnico, diferentemente do perito judicial, não está sujeito aos
critérios de suspeição ou impedimento. Trata-se de um médico de confiança das
partes, designado para auxiliar na análise técnica do caso em questão. Essa
ausência de suspeição por parte do assistente técnico é respaldada pelo código
de processo civil, que estabelece no ar�go 466, parágrafo 1°: “os assistentes
técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento ou
suspeição”.

O obje�vo fundamental do AT é apresentar argumentos técnicos que favoreçam


a parte que o contratou, fornecendo embasamento especializado para a defesa
de seus interesses. Nesse sen�do, é importante ressaltar que, por atuar em
bene�cio de uma das partes envolvidas no processo, não há, nesse contexto, a
presença de conflitos de interesses.

7. NÚMERO DE ASSISTENTES TÉCNICOS


A questão do número de assistentes técnicos em um processo é frequentemente
mo�vo de dúvida. Em geral, é comum que haja um assistente técnico para cada
uma das partes envolvidas, ou seja, um assistente para o autor e outro para o réu,
garan�ndo a equidade e o contraditório.

No contexto de perícias médicas realizadas por empresas especializadas, é


comum que o trabalho de assistência técnica seja conduzido por dois
profissionais. Um médico examinador acompanha a perícia em si, enquanto outro
médico é responsável pela análise minuciosa e elaboração do documento. Nesses
casos, há uma colaboração entre os dois assistentes técnicos, permi�ndo a
realização de um trabalho mais completo e abrangente.

A abordagem de contar com dois assistentes técnicos é legí�ma e respaldada pelo


próprio código de processo civil. O ar�go 475 estabelece que: “em situações de
perícias complexas que abrangem múl�plas áreas de conhecimento
especializado, o juiz pode nomear mais de um perito, e as partes podem indicar
mais de um assistente técnico”. Essa possibilidade visa garan�r a exper�se
necessária para uma análise aprofundada e precisa do caso em questão.

42
8. RELEVÂNCIA JURÍDICA DO PARECER
O parecer emi�do pelo assistente técnico possui relevância jurídica similar ao
laudo elaborado pelo perito judicial. Embora seja comum a percepção de que o
laudo possui maior peso devido à sua imparcialidade, o juiz tende a analisar
ambos de forma equita�va. Quando o parecer está bem fundamentado e
apresenta uma explicação clara, o magistrado pode u�lizar-se dele como base
para sua decisão, desconsiderando de forma parcial ou completa o laudo.

A jurisprudência reforça essa prá�ca, mostrando inúmeros casos em que o


parecer do assistente técnico teve influência na decisão judicial. Isso demonstra
o papel crucial desempenhado pelo AT no processo, ao apresentar de maneira
concisa, obje�va e didá�ca a fundamentação de suas ideias.

Em algumas situações, os laudos dos peritos judiciais podem ser pouco


fundamentados, abrindo uma oportunidade para o assistente técnico apresentar
argumentos favoráveis à parte que o contratou. Nesse contexto, o parecer bem
elaborado e embasado tem um peso significa�vo, em virtude da presença de uma
argumentação sólida.

9. ACONSELHAMENTO AO EXAMINADO
É fundamental que o assistente técnico forneça orientações claras e obje�vas ao
paciente. Neste livro, apresentaremos 5 conselhos que devem ser
compar�lhados com todos os examinados. Seguindo essas dicas o assistente
técnico capacitará o examinado a compreender a importância de cada etapa da
perícia, a forma correta de responder às perguntas e a maneira de apresentar
suas queixas e sintomas.

9.1 FALAR SOBRE O TRABALHO

O primeiro aconselhamento que se deve abordar diz respeito à importância de


falar sobre o trabalho durante a perícia. Especialmente em casos de perícia
previdenciária, estabelecer o nexo causal entre a incapacidade decorrente da
doença e o trabalho desempenhado é indispensável. O paciente deve estar

43
preparado e levar consigo um rascunho contendo as principais a�vidades que
realizava na sua úl�ma ocupação.

Muitas vezes, os pacientes, sem a devida orientação, tendem a focar


exclusivamente na descrição da doença. Isso é um erro, pois é a par�r das
informações sobre as a�vidades laborais que a análise pericial se sustentará.
Sendo assim, o AT deve sempre orientar o paciente a destacar detalhes das
funções específicas, esforços �sicos exigidos, histórico de exposição a substâncias
nocivas, dentre outros aspectos relevantes.

9.2 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

Na preparação para a perícia, o AT orientará o examinado sobre os documentos


necessários. No dia da avaliação, deve-se levar apenas os documentos
indispensáveis, como iden�dade com foto, carteira de trabalho e os documentos
médicos per�nentes.

No que diz respeito aos documentos médicos, registros excessivos e


desnecessários repercu�rá de forma nega�va no processo. A seleção dos
documentos médicos deve ser realizada pelo assistente técnico, levando em
consideração a natureza da doença que causa a incapacidade. Por exemplo, em
caso de doença psiquiátrica, não há necessidade de apresentar exames
ortopédicos, como radiografias ou ressonâncias magné�cas.

É recomendável também que o paciente sempre leve uma cópia do prontuário


médico, não se limitando apenas aos relatórios clínicos. Enquanto o relatório é
um resumo das informações, o prontuário oferece uma visão completa do quadro
clínico.

Outra dica valiosa é levar receitas e prescrições. Conforme abordado no capítulo


20, em casos em que as dores intensas são um fator determinante para a
incapacidade, a apresentação de receitas médicas pode comprovar a frequência
das prescrições e a necessidade con�nua de medicamentos para o alívio da dor.
Essa evidência reforça a condição do paciente e contribui para o convencimento
do perito.

9.3 HONESTIDADE NAS INFORMAÇÕES

44
O paciente deve ser completamente honesto durante o processo de perícia.
Qualquer tenta�va de distorcer ou omi�r informações pode prejudicar a
credibilidade de sua condição e colocar em risco a análise pericial e,
consequentemente, a concessão do bene�cio.

É comum encontrar casos em que pacientes comparecem à perícia u�lizando


órteses, próteses ou bengalas que não fazem parte de sua ro�na diária. Essa
prá�ca é extremamente prejudicial. Os peritos têm acesso a diversas fontes de
informações, incluindo, documentos públicos e mídias sociais, que podem ser
consultadas para verificar a veracidade dos fatos apresentados.

Além disso, os peritos são profissionais especializados, capazes de analisar


cuidadosamente os exames e iden�ficar sinais que indiquem a veracidade ou
falsidade dos sintomas relatados. Existem técnicas avançadas de avaliação de
simulação que são aplicadas durante o processo pericial, as quais serão discu�das
em detalhes no capítulo 10 deste livro.

9.4 RESPOSTAS CONCISAS

Durante a perícia previdenciária, as respostas precisam ser claras e obje�vas,


evitando divagações desnecessárias que possam desviar o foco da análise
pericial. Uma abordagem concisa permite ao perito compreender melhor a
situação e avaliar de forma adequada o impacto da condição de saúde do
examinado em suas a�vidades diárias e capacidade de trabalho.

A obje�vidade na resposta demonstra segurança e transmite confiança ao perito,


indicando que o examinado está ciente dos aspectos relevantes do caso. Ao se
expressar de maneira direta, contribui-se para um processo mais eficiente,
evitando o desperdício de tempo com informações irrelevantes.

9.5 RESPEITO E CORDIALIDADE

A pessoa que vai ser examinada necessita sempre manter uma postura respeitosa
e cortês em relação ao perito e demais profissionais envolvidos. É compreensível
que alguns pacientes possam sen�r frustração e desapontamento devido a
bene�cios negados anteriormente, o que pode levar a expressar sua decepção de
maneira arrogante. No entanto, o perito também é um ser humano e, apesar de

45
ser um profissional capacitado a analisar as condições de forma imparcial,
também é susce�vel a influências emocionais.

Manter uma postura adequada e cordial contribui para um ambiente de diálogo


e cooperação, facilitando a comunicação entre o paciente e o perito. Ao priorizar
a cortesia, o paciente demonstra consideração pelos profissionais que estão
avaliando sua situação, o que refle�rá posi�vamente na análise do caso.

46
CAPÍTULO 10: SIMULAÇÃO NA PRÁTICA PERICIAL

1. SIMULAÇÃO E PERÍCIA MÉDICA


A simulação é um tema delicado e complexo, envolvendo o ato de alegar o que
não é. Em outras palavras, significa apresentar informações enganosas com o
obje�vo de obter um resultado diferente da realidade.

Ao lidar com a simulação em perícia médica, os profissionais da área enfrentam


um dilema entre o seu dever para com a sociedade e o seu dever para com o
paciente. Essa é uma questão confusa que no campo jurídico foi resolvida ao
separar a figura do advogado e do juiz, mas na medicina ainda permanece um
desafio.

Os médicos, muitas vezes, se sentem desconfortáveis ao abordar esse assunto,


tanto por terem um conhecimento incompleto a respeito, como também por se
tratar de um tema subje�vo e de di�cil manejo. A simulação é um ar��cio
complexo que envolve a imitação de sintomas somá�cos ou psíquicos de forma
intencional, o que pode gerar dúvidas e incertezas na avaliação médica.

Na prá�ca, atribuir a alguém a simulação de sintomas exagerados ou fingidos


pode acarretar processos judiciais, como difamação de caráter, e até mesmo
representar um perigo pessoal. Há relatos históricos, como o caso de Brisbane
em 1955, no qual três dos quatro cirurgiões ortopédicos que rotularam um
paciente como simulador foram alvejados, resultando na morte de dois deles.

Diante desse contexto, é fundamental que os médicos sejam cuidadosos ao lidar


com casos suspeitos. É necessário seguir protocolos adequados, realizar uma
avaliação minuciosa e considerar todas as evidências disponíveis antes de fazer
qualquer conclusão. Acusar alguém de simulação é um tema sensível que requer
um equilíbrio entre a defesa da verdade e a proteção dos direitos e bem-estar
dos pacientes.

2. SIMULAÇÃO E METASSIMULAÇÃO
A simulação e a metassimulação são fenômenos que, conceitualmente, possuem
semelhanças e diferenças que precisam ser abordadas. A simulação, conforme já

48
destacado anteriormente, significa fingir ou alegar sintomas ou condições
médicas que não são verdadeiros. É quando uma pessoa deliberadamente
inventa sintomas com o obje�vo de obter bene�cios, como compensação
financeira, afastamento do trabalho ou vantagens legais. Um exemplo prá�co de
simulação seria um indivíduo que alega uma dor forte nas costas para obter
aposentadoria por invalidez, mas na verdade não apresenta nenhum problema
�sico real.

Por outro lado, a metassimulação envolve um comportamento em que a pessoa


exagera ou amplifica sintomas ou condições médicas que já possui. É uma forma
de simulação direcionada a uma condição ou sintoma real. Por exemplo, um
indivíduo que já tem comprovadamente problemas �sicos que geram dor,
exagera a intensidade desse problema durante uma avaliação médica com o
obje�vo de obter um determinado bene�cio no processo legal.

A frequência da simulação e metassimulação em perícias médicas pode variar.


Segundo Alozai e McPherson, a prevalência em populações forenses é de
aproximadamente 17%. Já em outro estudo conduzido pelo Departamento de
Psicologia da Universidade de Nova Orleans revelou que a simulação, em
pacientes com dor crônica que obje�vavam incen�vo financeiro, pode chegar, em
média, a 35% dos casos.

Além da simulação e metassimulação, há também a dissimulação, que ocorre


quando um indivíduo tenta esconder sintomas ou condições reais durante uma
avaliação médica. A pessoa pode minimiza ou nega a gravidade dos sintomas para
evitar um diagnós�co que possa interferir em seus obje�vos ou a�vidades.

3. AVALIAÇÃO DA SIMULAÇÃO
A simulação abrange múl�plas especialidades médicas e envolve diferentes
formas de abordagem e análise. Em diversas áreas, como psiquiatria, neurologia,
ortopedia, o�almologia, otorrinolaringologia, a simulação deve ser objeto de
inves�gação. Cada especialidade possui suas próprias estratégias e instrumentos
de avaliação específicos para iden�ficar a presença de fraude, levando em
consideração as caracterís�cas clínicas e os sintomas predominantes em cada
contexto.

No perícia previdenciária observa-se que as doenças ortopédicas e


neuropsiquiátricas são as mais frequentes associadas a tenta�va de simulações.

49
Isso ocorre, em grande parte, devido ao fato de ambas as condições gerarem
sintomas predominantemente subje�vos.

Na ortopedia, os sintomas mais comuns são relacionados à dor, que pode variar
em intensidade e localização. Já na neuropsiquiatria, sintomas como tristeza,
ansiedade, alucinações e alterações de humor são frequentemente relatados
pelos pacientes. Esses relatos subje�vos são propensos a serem simulados, uma
vez que não podem ser facilmente mensurados ou obje�vamente verificados.

Diante desse cenário, neste capítulo serão abordadas principalmente as


dimensões da simulação relacionadas a patologias ortopédicas e
neuropsiquiátricas. Serão explorados métodos e critérios específicos para avaliar
a presença de simulação nesses contextos, considerando a natureza subje�va dos
sintomas apresentados pelos pacientes.

4. SIMULAÇÃO NAS DOENÇAS ORTOPÉDICAS


As doenças ortopédicas são amplamente conhecidas por serem uma das
principais fontes de simulação no contexto previdenciário. Isso acontece pois os
pacientes frequentemente se baseiam no quadro de dor para jus�ficar a
incapacidade.

Embora a dor seja um sintoma incapacitante para muitas profissões, sua


mensuração obje�va é complexa. Portanto, é necessário recorrer a testes clínicos
que possam fornecer evidências confiáveis de que o paciente está falando a
verdade.

Alguns médicos tendem a confiar em exames de imagem, como ressonância


magné�ca, radiografias ou tomografias, para auxiliar na avaliação. Quando esses
exames revelam anormalidades, muitos presumem que a dor do paciente é
condizente com a realidade. Isso é um erro. U�lizar apenas esses exames como
parâmetro de avaliação não é adequado. Estudos de ressonância magné�ca
revelaram que mais de 50% dos adultos assintomá�cos apresentam
protuberâncias discais, enquanto mais de um quarto possui protrusões e 1% tem
extrusões.

Essas esta�s�cas levantam ques�onamentos sobre a precisão diagnós�ca da


ressonância magné�ca na iden�ficação da relação entre lesões teciduais e
lombalgia. Se mais da metade dos pacientes assintomá�cos apresentam

50
anormalidades na ressonância magné�ca, fica claro que não é confiável usar
esses exames para diagnos�car a simulação.

Diante desse cenário, foram desenvolvidos vários testes e sinais ortopédicos que
podem ser u�lizados nesse processo. Esses testes não são necessariamente 100%
conclusivos para iden�ficar a encenação, mas quando u�lizados em conjunto, sua
força e relevância aumentam consideravelmente. Por isso, um perito que baseia
sua conclusão em apenas um teste pode enfrentar ques�onamentos, porém,
quando a análise é embasada em múl�plos testes, a validade da avaliação se
fortalece.

Um dos conjuntos de sinais mais estudados na literatura e amplamente citados


em avaliações de simulação são os sinais de Waddell. O Dr. Gordon Waddell,
renomado cirurgião ortopédico escocês, dedicou grande parte de sua carreira ao
estudo das dores ortopédicas e reumatológicas. Ele desenvolveu cinco sinais
�sicos para avaliar a dor lombar e a possibilidade de simulação associada, que
podem ser realizados pelo médico sem a necessidade de exames de imagem.
Esses sinais são: 1) sensibilidade, 2) simulação, 3) distração, 4) distúrbio regional
e 5) reação exagerada, e são cole�vamente conhecidos como "Sinais de Waddell".
Um achado de três ou mais dentro das cinco categorias de teste indica
clinicamente dor nas costas não orgânica. Sinais posi�vos isolados devem ser
ignorados

É válido lembrar que esses sinais de Waddell são mais direcionados para a
avaliação de dores lombares, que representam uma das condições ortopédicas
mais comuns associadas à simulação. Em alguma condições, elas também podem
ser u�lizados para outras doenças ortopédicas.

4.1 TESTE DE HIPERSENSIBILIDADE

Quando a dor ou sensibilidade na parte inferior das costas está sendo


experimentada e é de natureza verdadeiramente orgânica, ela será localizada em
uma estrutura esquelé�ca ou neuromuscular par�cular. Considerando essa
premissa, o teste da hipersensibilidade em duas etapas: avaliação da
sensibilidade superficial e avaliação da sensibilidade não anatômica.

Na avaliação da sensibilidade superficial, aplica-se uma leve pressão na pele da


região lombar. Se houver uma resposta exagerada a esse es�mulo em uma área
ampla, indica-se a possibilidade de uma causa não orgânica.

51
Já na avaliação da sensibilidade não anatômica, realiza-se uma pressão mais
profunda em uma área lombar específica. Se a dor estender-se para região
anatomicamente não compa�vel (EX: região torácica, sacro ou pélvica), isso pode
indicar a presença de simulação. Deve-se também considerar a distribuição dos
dermátomos na região.

Os dermátomos representam áreas específicas da pele que são inervadas um


nervo espinhal que pode estar sendo comprimido. Durante o teste, se a dor se
manifestar em uma faixa que não acompanha a distribuição de um dermátomo,
isso também sugere a existência de quadro não anatômico.

4.2 TESTE DA INDUÇÃO

Esse teste é baseado na indução de dor por movimento, levando o paciente a


acreditar que um determinado exame causará dor, quando na realidade não
deveria. Esse procedimento é realizado pelo perito aplicando força em uma parte
do corpo ou movendo-o de uma maneira que não deveria causar dor significa�va
anatomicamente. Se o paciente relatar dor, isso sugere influência não orgânica.

Esse teste é subdividido em dois exames dis�ntos: o exame de carga axial e o


exame rotacional. No exame de carga axial, o profissional aplica suavemente uma
força descendente no crânio do paciente enquanto ele está em pé. Isso
normalmente não deveria resultar em dor lombar. Caso o paciente relate dor, isso
é considerado um resultado posi�vo, indicando simulação. No entanto, cabe
lembrar que, em casos de relato de dores em região cervical, tal achado pode ser
compa�vel com doença orgânica naquela região.

Já o exame rotacional é realizado quando o profissional gira os ombros e a pelve


do paciente no mesmo plano, envolvendo todo o corpo sem torcer as costas.
Como a coluna lombar não está sendo torcida, esse teste não deveria causar dor
nessa região. Portanto, se o paciente relatar dor lombar durante o exame, isso
sugere simulação.

4.3 TESTE DA DISTRAÇÃO

O teste de distração é realizado por meio de observação indireta, onde o clínico


avalia o paciente sem que ele esteja ciente de que está sendo avaliado. Essa

52
abordagem visa verificar se existem diferenças nos sinais de exame �sico
doloroso quando o paciente está distraído e não ciente do teste em andamento.

Durante o exame de distração, é importante observar outras partes do corpo


além da área específica que será examinada. O perito deve observar o paciente
enquanto ele se movimenta pela sala de exame, ao entrar e sair do consultório,
durante a narra�va da história clínica, entre outros momentos. Achados que
estão presentes apenas durante o exame formal e desaparecem em outras
ocasiões, especialmente quando o paciente está distraído, podem indicar um
componente não orgânico.

Um dos principais testes de distração é o teste da elevação da perna que deve ser
feito em dois momentos dis�ntos. Esse teste, inicialmente, é realizado com o
paciente em decúbito dorsal, onde o clínico eleva a perna do paciente em direção
ao teto até cerca de 90 graus. Se o paciente relatar dor durante esse movimento,
é possível indicar uma causa orgânica real, como uma lesão na coluna, para a dor
lombar. Tal achado é conhecido como sinal de Lasegue.

Posteriormente, o teste deve ser repe�do de forma não percep�vel ao paciente,


enquanto ele está sentado, estendendo sem que ele perceba o joelho. Se o
paciente não apresentar dor nessa situação, isso pode sugerir simulação, já que
uma causa orgânica real normalmente resultaria também em dor mesmo durante
a extensão do joelho.

4.4 TESTE DA DESVINCULAÇÃO ANATOMOCLÍNICA

O teste da desvinculação anatomoclínica é u�lizado para iden�ficar a


discrepância entre os achados anatômicos nos exames de imagem e os relatos
clínicos do paciente. Em casos em que há simulação, o paciente apresentará dor
em áreas onde não deveria haver dor, levando em consideração a localização da
lesão anatômica.

Assim como os testes mencionados anteriormente, esse teste é dividido em duas


partes: análise da fraqueza e análise da sensação. N exame de fraqueza o perito
deve procurar fraqueza em músculos que não estejam relacionados à raiz nervosa
supostamente afetada. Por exemplo, se o paciente tem uma lesão na raiz nervosa
L2 (inerva os flexores do quadril), enquanto a raiz L3 (inerva os extensores do
quadril) está intacta, a presença de fraqueza nos músculos flexores e extensores

53
sugere simulação. Tal situação não possui nexo anatomoclínico, pois se apenas L2
está comprome�do, logo, a fraqueza deveria residir somente nos flexores.

O segundo exame é o da sensação que envolve a análise de distúrbios sensoriais,


como diminuição da sensibilidade e parestesias. Fazendo uma analogia com o
exemplo anterior temos que L2 é responsável pela sensibilidade da parte média
da coxa e L3 pela parte distal (próxima ao joelho). Dessa forma, se o paciente não
apresenta lesões em L3 e relata sintomas na região próxima ao joelho isso irá
sugerir simulação.

4.5 TESTE DA REAÇÃO EXAGERADA

No teste da reação exagerada o perito observa a resposta do paciente diante de


es�mulos dolorosos de maneira desproporcional. Essa reação exagerada pode se
manifestar por meio de verbalização intensa, expressão facial, tensão muscular,
tremores e colapso.

Dentre os cinco testes de Waddell, o teste da reação exagerada é considerado o


mais subje�vo. Isso se deve ao fato de que sua interpretação é influenciada pelas
impressões individuais do observador. É importante ter consciência dos falsos
posi�vos que podem ocorrer nesse teste, ou seja, casos em que a resposta
exagerada não indica necessariamente simulação, mas pode ser resultado de
outros fatores, como ansiedade, medo ou experiências prévias de dor intensa.

5. TESTES ORTOPÉDICOS ESPECÍFICOS


Além dos testes de Waddell, existem vários outros testes ortopédicos que podem
ser u�lizados na avaliação de simulação em pacientes com dores ortopédicas,
especialmente as dores lombares. Esses testes complementares podem fornecer
informações adicionais para auxiliar na iden�ficação de possíveis sinais de
simulação. Os principais testes são: teste da Bancada de Burn, teste de McBride,
teste de Kummel, teste de Hover e teste de Mankopf.

5.1 TESTE DE BURN

54
No teste de Burn ou teste da bancada de Burn, o paciente é instruído a ajoelhar-
se em uma almofada sem apoio de braços. Nessa posição, ele deve flexionar os
quadris e os joelhos ao máximo, de modo a ficar na posição de "sentado" sobre
as panturrilhas. Em seguida, o paciente tenta inclinar-se para frente e tocar o chão
com a ponta dos dedos.

No caso de uma simulação, ou seja, quando o paciente está fingindo ou


exagerando os sintomas, um sinal posi�vo ocorre quando ele é incapaz de realizar
a flexão completa ou tocar o chão. Isso significa que ele não consegue alcançar o
obje�vo do teste por falta de comprome�mento intencional em realizar o
movimento.

5.2 TESTE DE MCBRIDE

O teste de McBride é u�lizado para avaliação de dores ciá�cas. Nele o paciente é


instruído a ficar de pé, apoiado contra uma parede, com ambos os pés apoiados
no chão. Em seguida, é solicitado ao paciente que levante e flexione a perna
afetada no quadril e no joelho, enquanto traz o joelho em direção ao peito usando
as mãos. Essa ação tem o efeito de aliviar a tensão no nervo ciá�co, pois remove
o es�ramento do mesmo.

Um teste posi�vo é observado quando a pessoa é incapaz de realizar


corretamente essa manobra ou expressa dor ao realizá-la. Isso indica que o
paciente está simulando ou exagerando os sintomas, pois a ação de levantar a
perna e flexioná-la no quadril e joelho deveria aliviar a tensão no nervo ciá�co, e
não causar dor ou incapacidade de executar o movimento.

55
5.3 TESTE DE KUMMEL

No teste de Kummel, o paciente é solicitado a ficar de pé na posição ver�cal. O


perito então pede ao paciente para mover o pescoço em duas direções dis�ntas:
para a esquerda e para a direita. Durante esse movimento, o médico coloca a mão
no peito do paciente para evitar que a coluna torácica ou lombar se mova.

Um sinal posi�vo é observado quando o paciente relata dor nas costas enquanto
realiza os movimentos de flexão lateral do pescoço. Isso indica que o paciente
está fingindo ou exagerando os sintomas, já que o teste é direcionado apenas à
coluna cervical e não deveria causar dor na região lombar.

5.4 TESTE DE HOVER

O teste de Hover, também conhecido como sinal de Hoover, é uma avaliação ú�l
para inves�gar a suspeita de fraqueza não orgânica nas pernas ou para detectar
possíveis comportamentos simulados. Ele é u�lizado para determinar se o
paciente está realmente fazendo esforço durante o procedimento de avaliação.

Durante o teste, o examinador posiciona a mão sob o calcanhar do paciente e


solicita que ele eleve a perna do lado oposto. Se o paciente não conseguir
levantar a perna e o examinador não sen�r pressão sob o calcanhar da perna não
levantada, é provável que o paciente não esteja realmente tentando ou esteja
fingindo. Isso ocorre porque, se a perna que está sendo levantada es�ver fraca,
haverá um aumento da pressão sob o calcanhar da perna de apoio, devido ao
esforço adicional necessário para erguer a perna fraca da mesa de exame.

Em um estudo que incluiu 337 pacientes com suspeita de AVC, o sinal de Hover
demonstrou uma sensibilidade moderada e uma alta especificidade para o
diagnós�co de fraqueza funcional. Isso significa que o teste foi capaz de
iden�ficar adequadamente a presença de fraqueza não orgânica nas pernas.

5.5 TESTE DE MANKOPF

O teste de Mankopf é uma técnica u�lizada para avaliar a resposta autonômica


do organismo a um es�mulo doloroso na região lombar da coluna. Normalmente,

56
quando um es�mulo doloroso é aplicado, a frequência cardíaca tende a aumentar
como uma resposta autonômica natural do corpo.

Durante o teste, o médico realiza uma palpação na região lombar dolorida do


paciente. Nesse momento, espera-se que haja um aumento na frequência
cardíaca, o que seria considerado uma resposta normal. No entanto, um paciente
suspeito de simulação apresentaria um resultado posi�vo se não houvesse esse
aumento na frequência cardíaca registrada pelo oxímetro de pulso. Essa
abordagem é baseada na compreensão de que, em indivíduos saudáveis, o
sistema nervoso autônomo responde a es�mulos dolorosos por meio do
aumento da a�vidade simpá�ca, o que leva ao aumento da frequência cardíaca.

6. SIMULAÇÃO NAS DOENÇAS NEUROPSIQUIÁTRICAS


Entre os diversos grupos de doenças, as psiquiátricas ocupam o segundo lugar em
termos de simulação, ficando atrás apenas das doenças ortopédicas. Os sintomas
que podem ser simulados nesse contexto são variados e incluem alucinações
visuais, alucinações audi�vas, delírios, deficiência intelectual, perda de memória
e outras deficiências cogni�vas, bem como a manifestação de sintomas
depressivos. Dentre esses sintomas, as alucinações se destacam como um foco
comum entre os pacientes simuladores.

Nas alucinações audi�vas, é importante observar que um único modo sensorial é


comumente observado em transtornos psicó�cos genuínos, enquanto a presença
de múl�plos modos sensoriais ou alucinações simultâneas pode sugerir a
possibilidade de simulação. É válido ressaltar que as alucinações simuladas
tendem a ser exageradas e dramá�cas, buscando chamar atenção de forma
excessiva.

No caso das alucinações visuais, quando genuínas, envolvem a percepção de


imagens como pessoas, flashes de luz ou sombras. Elas tendem a ser mais
complexas, coloridas e não desaparecem com o fechamento e abertura dos olhos
ou com a mudança das condições de iluminação do ambiente. Por outro lado, as
alucinações simuladas costumam ser descritas de forma mais simples, como
"preto e branco" ou com distúrbios percep�vos de uma única cor.

Ao considerar a simulação nessas doenças neuro psiquiátricas, é ú�l pensar nos


fingidores como atores que interpretam sua doença mental da maneira como a
conhecem. Essa representação muitas vezes resulta em uma mistura confusa e

57
repleta de sintomas, na qual o fingidor pode acreditar que quanto mais sintomas
apresentar, melhor será sua atuação. O perito deve estar atento a esses sinais que
indicam uma possível simulação, buscando iden�ficar inconsistências e padrões
exagerados que não correspondem aos padrões �picos dos transtornos
psiquiátricos genuínos.

7. TESTES NEUROPSIQUIÁTRICOS ESPECÍFICOS


Existem diversos testes específicos disponíveis para a avaliação de simulação em
contextos clínicos e periciais. No entanto, por ser a simulação um tema complexo
e abrangente, o estudo aprofundado da aplicação de cada teste está além do
escopo deste capítulo. O foco desse livro é fornecer uma visão geral dos testes
existentes, para que, em situações necessárias, os profissionais da área possam
buscar e aplicar as ferramentas apropriadas em sua prá�ca diária.

Os médicos devem estar sempre atualizados sobre os testes disponíveis, sua


aplicação correta e suas limitações. Essa compreensão aprofundada permi�rá
uma abordagem mais eficaz na detecção e avaliação da simulação em diferentes
contextos clínicos e periciais.

Entre os testes neuropsiquiátricos, há duas categorias principais: testes de


avaliação psiquiátrica e testes de avaliação cogni�va. A diferença fundamental
entre essas duas categorias reside no foco dos testes.

Os testes de avaliação psiquiátrica são projetados para avaliar sintomas


psiquiátricos, como alucinações, delírios, depressão etc. Nessa categoria
destacam-se o teste SIRS (Structured Interview of Reported Symptoms) e o teste
M-FAST (Miller Forensic Assessment of Symptoms Test). Ambos visam iden�ficar
sinais de simulação ou falsificação de sintomas psiquiátricos.

Por outro lado, os testes de avaliação cogni�va são u�lizados para avaliar o
desempenho cogni�vo, como memória, atenção, linguagem e habilidades
execu�vas. Exemplos de testes de avaliação cogni�va incluem o TOMM (Test of
Memory Malingering) e o teste REY.

7.1 TESTE SIRS

58
O SIRS (Structured Interview of Reported Symptoms) é um teste u�lizado por
meio de uma entrevista estruturada desenvolvida por Rogers e colaboradores.
Foi criado pela primeira vez em 1985 e passou por várias revisões desde então.
Abrange um total de 172 itens e leva cerca de 30 a 45 minutos para ser aplicado.
Os itens do SIRS incluem ques�onários detalhados sobre a sintomatologia e seus
níveis de gravidade.

As escalas principais do SIRS são divididas em diferentes categorias: sintomas


raros (8 itens), combinações de sintomas (10 itens), sintomas improváveis e
absurdos (7 itens), sintomas flagrantes (15 itens), sintomas su�s (17 itens),
sele�vidade de sintomas (32 itens), gravidade dos sintomas (32 itens) e sintomas
relatados versus sintomas observados (12 itens).

O SIRS demonstrou ser um método válido e confiável para detectar a simulação


de sintomas, com taxas muito baixas de falsos posi�vos. É amplamente aceito
entre os especialistas forenses em avaliações e é frequentemente citado como o
"padrão ouro" ou "referência" na detecção de sintomas psiquiátricos simulados.

A explicação detalhada de como o teste é aplicado está além do escopo deste


capítulo. As perguntas e o manual de aplicação do SIRS estão disponíveis para
aquisição, permi�ndo que profissionais capacitados u�lizem essa ferramenta de
forma adequada e padronizada em suas avaliações.

7.2 TESTE M-FAST

O teste M-FAST (Miller Forensic Assessment of Symptoms Test) foi projetado por
Miller como uma ferramenta de avaliação. Ele consiste em uma entrevista
estruturada com 25 itens que podem ser administrados em aproximadamente 5
minutos.

Em comparação com o teste SIRS, o M-FAST tem uma aplicação mais rápida e
prá�ca. Segundo alguns estudos, esse teste apresenta uma taxa de falsos
posi�vos mais alta, em torno de 10%. Devido essas e outras limitações, ele é
considerado um teste de triagem.

O M-FAST u�liza estratégias de detecção semelhantes às do SIRS, sendo que


quatro das suas sete escalas empregam as mesmas estratégias de detecção, como
Relatado vs. Observado, Sintomatologia Extrema, Combinações Raras e
Alucinações Incomuns.

59
Assim como o SIRS, é necessário adquirir o manual de aplicação do M-FAST para
u�lizá-lo adequadamente em avaliações periciais. O manual conterá instruções
detalhadas sobre como administrar e interpretar os itens do M-FAST, fornecendo
orientações claras sobre o processo de entrevista e os resultados esperados dos
indivíduos avaliados.

7.3 TESTE TOMM

O teste TOMM (Testes de Simulação de Memória) é uma avaliação que u�liza a


metodologia de “symptom validity” para verificar a veracidade de problemas de
memória relatados. Embora outros testes também apliquem essa metodologia, o
TOMM é o mais conhecido nesse contexto.

O teste é composto por 50 itens e envolve três etapas de aplicação levando,


geralmente, cerca de 20 minutos para ser aplicado. Durante cada etapa, os
par�cipantes são apresentados a uma série de desenhos, cada um por 3
segundos.

Inicialmente são apresentados os 50 desenhos de forma a induzir a memorização.


Posteriormente, alguns deles são mostrados novamente, acompanhado de um
desenho distrator, ou seja, que não foi mostrado. O par�cipante, então, é
solicitado a escolher o desenho que foi apresentado na primeira fase.

Espera-se que pacientes que não estejam simulando tenham pelo menos 45
acertos, após a aplicação do teste em 2 fases. Esse ponto de corte possui alta
especificidade, porém baixa sensibilidade. Estudos cien�ficos mostraram que é
raro obter pontuações baixas em casos de lesões cerebrais traumá�cas (Haber e
Fichtenberg, 2006; Rees et al., 1998; Tombaugh, 1997) ou outras condições
neurológicas (Hill et al., 2003; Tombaugh, 1997). A única exceção para isso seria
os casos envolvendo demência (Teichner e Wagner, 2004; Tombaugh, 1997).

Com base em uma ampla literatura até o momento, quando uma pessoa falha no
teste TOMM, os médicos podem ter certeza de que seu desempenho reflete um
esforço insuficiente ou uma possível simulação. Portanto, o teste TOMM fornece
uma ferramenta valiosa para iden�ficar casos em que há suspeita de falsificação
de sintomas de memória, permi�ndo uma avaliação mais precisa e confiável.

7.4 TESTE REY

60
O teste REY u�liza a metodologia conhecida como "floor effect", que é diferente
do TOMM. Entre os testes que aplicam essa metodologia, o teste REY é o mais
reconhecido.

Nesse teste, os indivíduos são solicitados a lembrar-se de um conjunto de 15


letras, números e formas geométricas, que são rela�vamente simples devido à
sua redundância. Um desempenho abaixo de 8 itens lembrados corretamente
indica possível simulação.

Essa pontuação de corte tem uma especificidade de 90%, o que significa que tem
uma alta probabilidade de iden�ficar corretamente os casos em que há
simulação. No entanto, sua sensibilidade é de apenas 40%, o que indica que pode
haver uma taxa considerável de falsos nega�vos, ou seja, indivíduos que estão
fingindo podem obter pontuações que não os iden�ficam como simuladores.

Devido à baixa sensibilidade do teste REY, muitos autores argumentam que ele
não deve ser usado isoladamente como uma medida de iden�ficação de fraudes
no comprome�mento da memória. Em vez disso, é recomendado que seja
u�lizado em combinação com outros testes mais sensíveis para obter uma
avaliação mais abrangente e precisa.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alozai Uu, McPherson PK. Malingering. [Updated 2022 Jun 21]. In: StatPearls
[Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan

Kirshblum SC, Burns SP, Biering-Sorensen F, Donovan W, Graves DE, Jha A,


Johansen M, Jones L, Krassioukov A, Mulcahey MJ, Schmidt-Read M, Waring W.
Interna�onal standards for neurological classifica�on of spinal cord injury
(revised 2011). J Spinal Cord Med. 2011 Nov;34(6):535-46.PMID: 22330108;
PMCID: PMC3232636.

Hirsch, Alan R. Neurological malingering. Boca Raton: Taylor & Francis, 2018. ISBN
9781498742467

Hoover CF. Um novo sinal para a detecção de simulação e paresia funcional das
extremidades inferiores. JAMA 1908; 51:746–747.

McWhirter L, Stone J, Sandercock P, Sinal de Whiteley W. Hoover para o


diagnós�co de fraqueza funcional: um estudo de coorte prospec�vo não cego em

61
pacientes com suspeita de AVC. J Psychosom Res. 2011 dez;71(6):384-6. doi:
10.1016 / j.jpsychores.2011.09.003. Epub 2011 6 de outubro. PMID: 22118379 .

Bellman V, Chinthalapally A, Johnston E, Russell N, Bruce J, Saleem S. Malingering


of Psycho�c Symptoms in Psychiatric Se�ngs: Theore�cal Aspects and Clinical
Considera�ons. Psychiatry J. 2022 Apr 21;2022:3884317. doi:
10.1155/2022/3884317. PMID: 35495616; PMCID: PMC9050337.

Heilbronner RL. Entrevista Estruturada de Sintomas Relatados (SIRS) . In: Kreutzer


JS, DeLuca J, Caplan B. editores. Enciclopédia de Neuropsicologia Clínica. Nova
York, NY: Springer; (2011). pág. 2417–8.

Rogers R, Bender SD. Avaliação de fingimento e es�los de resposta


relacionados . In: Weiner IB, Oto RK. editores. Manual de Psicologia, vol. 11:
Psicologia Forense. 2ª ed. Nova Jersey, NJ: John Wiley and
Sons; (2013). pág. 517–40.

Walczyk JJ, Sewell N, DiBenedeto MB. A Review of Approaches to Detec�ng


Malingering in Forensic Contexts and Promising Cogni�ve Load-Inducing Lie
Detec�on Techniques. Front Psychiatry. 2018 Dec 21;9:700. doi:
10.3389/fpsyt.2018.00700. PMID: 30622488; PMCID: PMC6308182.

62
que desenvolveu crises convulsivas devido a uma condição médica implica
automa�camente na segurança dele paciente e dos passageiros. Uma crise
convulsiva durante o trabalho poderá gerar um grave acidente de trânsito, o que
leva a repercussões pessoais e sociais.

A segunda situação é quando a permanência do segurado no trabalho agrava a


condição de saúde. Um exemplo clássico é o indivíduo portador de doença
pulmonar grave que trabalha em carvoaria, sendo exposto constantemente a
substâncias tóxicas. Nesse caso, a con�nuidade dessa a�vidade pode levar ao
agravamento da doença, comprometendo ainda mais a capacidade pulmonar do
segurado.

3. SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO
Os sistemas de classificação da incapacidade são fundamentais para determinar
o �po de bene�cio previdenciário ao qual uma pessoa tem direito. A incapacidade
é classificada em três categorias principais: grau, profissão e duração.

O grau de incapacidade (total ou parcial) refere-se à extensão ou severidade da


limitação e restrição funcional que uma pessoa apresenta. É determinado com
base na avaliação �sica, cogni�va ou psicossocial do indivíduo em relação às
a�vidades laborais da ocupação exercida.

A classificação por profissão (uniprofissional ou mul�profissional) leva em


consideração a habilidade ou ap�dão do segurado para diversos �pos de
ocupações. Nesse aspecto, é avaliado se a doença, lesão ou condição de saúde
compromete apenas a capacidade do indivíduo de executar as funções
específicas de seu trabalho atual ou, se também, afeta outros trabalhos que
poderiam lhe oferecer subsistência.

Já a duração da incapacidade (temporária ou indefinida) refere-se ao tempo de


permanência da limitação funcional. Deve-se avaliar quanto tempo o indivíduo
levará para se recuperar. Quando esse tempo é previsível diz se incapacidade
temporária, quando não é previsível, trata-se de incapacidade indefinida.

Esse sistema de classificação que avalia a incapacidade sob três aspectos é de


extrema importância na avaliação pericial, pois determina qual bene�cio
previdenciário o indivíduo tem direito a receber. Por exemplo, para a concessão
da aposentadoria por invalidez, é exigida uma incapacidade total,

65
mul�profissional e indefinida. Para o auxílio-doença, é necessário comprovar
uma incapacidade total, uniprofissional e temporária. Por fim, para o auxílio-
acidente é des�nado a casos de incapacidade parcial, uniprofissional e indefinida.

4. INCAPACIDADE PARCIAL
A incapacidade parcial para ser assim enquadrada, é necessário que pelo menos
um dos seguintes critérios esteja presente: 1) diminuição leve a moderada
desempenho, 2) risco de vida menor ou 3) risco de agravamento menor.

Inicialmente avaliaremos o primeiro critério que está muito relacionada a


produ�vidade alcançada. Na incapacidade parcial a diminuição da produ�vidade
deve ser leve ou moderada, diferente da incapacidade total que é grave. Porém,
a dúvida que surge é: como diferenciar na prá�ca diminuição leve, moderada ou
grave?

A resposta a essa pergunta depende de uma análise criteriosa das a�vidades


laborais realizadas e a consequência da doença em cada uma delas. A diminuição
do desempenho leve seria aquela em que a pessoa consegue ainda a�ngir uma
produ�vidade, em condições normais, semelhante ao que conseguia antes da
doença. Sugere-se, nesse caso, uma perca de produ�vidade até o máximo de
10%. Na diminuição moderada a perda corresponderia de 10% a 50%. Já na
diminuição grave seria acima 50%, caracterizando a incapacidade total.

Para exemplificar na prá�ca como fazer essa classificação vamos u�lizar o


exemplo de um auxiliar de escritório. O primeiro passo no processo é listar todas
as a�vidades que esse profissional realiza e o peso que cada uma dessas
a�vidades possui. De uma forma genérica, considerando uma escala de peso de
1 a 8, um auxiliar de escritório realiza as seguintes a�vidades: 1) atende
telefonemas (peso 3), 2) realiza atendimento presencial (peso 3), 3) digita e
formata documentos no computador (peso 1), 4) realizar o envio de
correspondências correio (peso 1), 5) contribui para a limpeza do local de
trabalho (peso 1).

É claro que a lista de a�vidades sempre dependerá da análise do caso concreto.


Já em relação ao peso, ele está muito relacionado o quanto aquela a�vidade é
importante para aquele trabalho. Na prá�ca pericial esse peso pode ser es�mado
perguntando ao trabalhador quanto tempo ele passa num período de 8 horas

66
desenvolvendo aquela a�vidade. Se ele passa 3 horas fazendo determinada
a�vidade, podemos es�mar o peso 3.

Após fazer a listagem das a�vidades realizadas o perito deve avaliar a correlação
das consequências da doença em cada uma delas es�mando a porcentagem que
há de comprome�mento. Suponhamos então, que esse profissional tenha sofrido
um acidente e amputado o dedo indicador e médio da mão esquerda.
Considerando o exemplo listado, podemos dizer que das cinco funções exercidas,
a única que ocorrerá redução da capacidade será a digitação de documentos.

O próximo passo é o perito analisar o comprome�mento na a�vidade, ou seja, na


digitação. Nesse caso, considerando que o dedo indicador e anelar são
fundamentais para o processo, é possível es�mar um comprome�mento de até
100%, tendo em vista que a pessoa não mas conseguirá realizar de modo efe�vo
esse trabalho.

Por fim, devemos u�lizar a seguinte fórmula (C1 x P1 + C2 x P2 + C3 x P3 + C4 X


P4 + C5 X P5 / 8), sendo C o comprome�mento em porcentagem o P o peso da
a�vidade específica. Considerando o caso do paciente temos um
comprome�mento para a paciente de 12% na a�vidade.

Por outro lado, se esse paciente �vesse sofrido uma doença nas cordas vocais
levando a rouquidão grave e não conseguindo se comunicar de forma adequada
temos 2 a�vidades comprome�das em 100%: 1) atender telefonemas e 2) realizar
atendimento presencial. Esse outro exemplo hipoté�co, jogando na fórmula já
daria um comprome�mento de 75%.

Todas essas situações listadas são exemplos didá�cos para entender como deve
ser feito essa análise. Independente do caso concreto, é sempre importante que

67
na prá�ca faça processo mais detalhado considerando dois pontos: 1) o peso da
a�vidade no processo (EX: para um auxiliar de escritório, atender telefonemas
tem peso maior que contribuir para limpeza) e 2) a porcentagem de
comprome�mento específico naquela a�vidade (EX: pessoa que amputa o dedo
médio e indicador tem maior comprome�mento na digitação do que quem
amputa apenas o dedo mínimo).

Já em relação ao critério 2 e 3 deve-se avaliar se o risco de vida e o risco de


agravamento para a a�vidade específica é maior ou menor. O risco de vida tem a
ver com o risco para si e para terceiros daquele doente permanecer no trabalho.
O exemplo é o motorista com epilepsia que numa situação de crise convulsiva ele
coloca a vida dele e de outros em risco. Já o risco de agravamento é a doença se
agravar com a permanência no trabalho. O exemplo é o paciente que tem DPOC
e trabalha em carvoeira, onde a sua doença agravará de forma importante em
virtude da exposição aos gases tóxicos.

Para incapacidade parcial o critério necessário é o risco menor. Mas a outra


dúvida que surge é como se diferencia um risco maior e um risco menor? O risco
maior é aquele risco inadmissível para o profissional e, portanto, configurador de
incapacidade total. Já o risco menor é o risco que é admissível, ou seja, ainda é
possível permi�r que o trabalhador mantenha sua a�vidade.

A avaliação se o risco é admissível ou não pode ser mensurada da mesma forma


que fizemos com a análise do desempenho. Incialmente lista-se as a�vidades do
funcionário e, posteriormente, verifica-se o grau de riscos envolvidos em cada
uma delas.

Podemos ilustrar essa condição da seguinte forma: consideremos dois


trabalhadores diagnos�cados com crises convulsivas pós-traumá�cas. Um deles
é motorista de caminhão e realiza apenas duas a�vidades: 1) dirigir (peso 7) e 2)
ajudar descarregar o caminhão (peso 1). No outro exemplo temos um den�sta
onde as principais a�vidades são: 1) atender pacientes (peso 7) e 2) dirigir até o
consultório (peso 1).

No primeiro exemplo, há um risco de vida maior, enquanto no segundo exemplo,


o risco de vida seria menor devido à menor exposição à a�vidade de direção. No
segundo caso é admissível a manutenção no trabalho, fazendo algumas
modificações, entre elas, terceirizando o processo de direção. Para ser
qualificado um risco menor, o resultado da fórmula de Nunes deverá ser <50%,

68
desde que seja possível restringir ou terceirizar as a�vidades afetadas e o
indivíduo mantenha produ�vidade.

5. INCAPACIDADE TOTAL
Os critérios para incapacidade total são: 1) diminuição grave do desempenho, 2)
risco de vida maior ou 3) risco de agravamento maior. Não é necessário que todos
os itens estejam presentes, mas apenas um deles.

Como vimos anteriormente, a principal diferença entre incapacidade total e


parcial é que na parcial a diminuição do desempenho é leve e moderada, já na
total é grave. Além disso, quando se avalia o risco de vida e o risco de
agravamento, é necessário que esses riscos sejam "maiores", ou seja, que sejam
expressivos.

Para avaliar a incapacidade total, assim como na incapacidade parcial, é


necessário realizar uma análise completa das a�vidades desempenhadas pelo
segurado em seu trabalho habitual. É crucial considerar a especificidade de cada
ocupação e compreender como a condição de saúde impacta diretamente nessas
a�vidades.

Um erro comum come�do por alguns médicos peritos é avaliar a incapacidade de


forma genérica, sem considerar o contexto específico de trabalho. É importante
lembrar que uma mesma lesão pode gerar incapacidade total em um trabalhador,
enquanto em outro pode não ter o mesmo impacto. Por exemplo, a amputação
de um dedo tem repercussões diferentes para um vocalista musical e para um
pianista de concerto, pois afeta de maneira diferente as a�vidades específicas de
cada um.

Para o vocalista, onde o trabalho principal depende da voz, a perda ou


comprome�mento da capacidade de ar�culação dos dedos não limita sua
habilidade de produzir variações de tons e executar técnicas vocais específicas. Já
para o pianista, a lesão no dedo pode afetar diretamente a destreza e precisão
necessárias para tocar as teclas do piano, podendo comprometer sua habilidade
de executar peças complexas.

Portanto, a avaliação da incapacidade total ou parcial deve sempre ser feita


levando em conta o contexto de trabalho habitual do segurado, considerando a
gravidade da diminuição do desempenho, o risco de vida e o risco de

69
agravamento de sua condição de saúde. A análise precisa ser individualizada e
focada nas a�vidades específicas que o segurado desempenha em sua ocupação
regular.

6. INCAPACIDADE TEMPORÁRIA
A incapacidade temporária se refere àquela em que se espera a recuperação da
doença dentro de um prazo previsível. Na prá�ca pericial, essa análise baseia-se
no prognós�co das doenças, pois é ele quem fornecerá informações relevantes
para categorizar a incapacidade como previsível de recuperação ou não.

Existem diversas doenças que podem gerar incapacidades temporárias, tais como
fraturas ósseas, infecções agudas, distúrbios respiratórios, gastrointes�nais ou
musculoesquelé�cos etc. Essas condições podem limitar temporariamente as
a�vidades do indivíduo.

No caso das incapacidades temporárias, os médicos peritos devem es�mar o


tempo de recuperação com base em referências bibliográficas atualizadas e
confiáveis. Essas referências fornecem informações sobre a duração �pica do
período de incapacidade para determinadas condições médicas, levando em
consideração fatores como a gravidade da doença, o �po de trabalho e a resposta
individual do paciente.

Outro exemplo de incapacidades temporárias incluem as situações em que os


pacientes passam por procedimentos cirúrgicos. Nesses casos, a incapacidade é
esperada durante o período de recuperação pós-operatória, sendo necessário
considerar o �po de cirurgia para determinar a duração desse período.

Cirurgias de grande porte e complexidade, como as que envolvem órgãos vitais


ou sistemas complexos do corpo, geralmente requerem um período de
recuperação mais prolongado. É comum que a incapacidade temporária se
estenda por semanas ou até mesmo meses, dependendo da complexidade da
intervenção cirúrgica.

Por outro lado, procedimentos cirúrgicos de menor porte, como cirurgias


ambulatoriais ou pequenas intervenções, costumam ter um tempo de
recuperação mais curto. A incapacidade temporária pode se limitar a alguns dias
ou poucas semanas, permi�ndo que o paciente retome suas a�vidades normais
em um período rela�vamente rápido.

70
7. INCAPACIDADE INDEFINIDA
A incapacidade indefinida refere-se àquela em que não é possível prever o prazo
de recuperação do segurado. Muitas pessoas u�lizam o conceito de incapacidade
indefinida como sinônimo de incapacidade permanente, algo que não é
recomendado. Isso ocorre, pois, o Decreto n° 10.410 de 2020 trouxe alterações
importantes no sen�do dessas palavras, subs�tuindo o termo "aposentadoria por
invalidez" por "aposentadoria por incapacidade permanente".

Com essa mudança, a incapacidade permanente passou a ser sinônimo de


invalidez, representando a condição de incapacidade total, indefinida e
mul�profissional. Dessa forma, na avaliação da doença quanto a duração, sugere-
se u�lizar o termo incapacidade indefinida para evitar confusões conceituais.

Além disso, o referido decreto também trouxe alterações quanto ao bene�cio


anteriormente denominado "auxílio-doença", que passou a ser denominado
"bene�cio por incapacidade temporária". Mantendo o raciocínio anterior, para a
concessão desse bene�cio, não basta apenas a presença da incapacidade
temporária. É necessário que essa incapacidade seja também total e
uniprofissional.

Existem várias doenças que podem levar à incapacidade indefinida, entre elas,
doenças crônicas, degenera�vas e progressivas. Um exemplo clássico é a
esclerose múl�pla (EM), uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso
central, causando danos nos neurônios e resultando em sintomas variáveis, como
fraqueza muscular, problemas de coordenação, fadiga intensa e dificuldades
cogni�vas. Como a esclerose múl�pla é uma doença imprevisível e sem cura
defini�va, caso ela gere incapacidade, ela poderá ser considerada indefinida.

Além da EM, outras doenças, como artrite reumatoide, doença de Crohn,


espondilite anquilosante, lúpus eritematoso sistêmico e, muitas outras, também
podem causar incapacidade indefinida devido à sua natureza crônica, progressiva
ou imprevisível.

71
8. INCAPACIDADE UNIPROFISSIONAL
A incapacidade uniprofissional refere-se à condição em que a incapacidade
alcança apenas uma ocupação específica. É importante compreender a diferença
entre ocupação e a�vidade. Enquanto a ocupação representa a profissão em si,
as a�vidades referem-se às tarefas desempenhadas dentro de uma ocupação.
Para ser considerada uniprofissional, a avaliação deve levar em conta a profissão
como um todo, e não apenas as a�vidades isoladas.

A exigência da incapacidade uniprofissional é aplicada nos bene�cios de auxílio-


doença (atualmente denominado bene�cio por incapacidade temporária) e
auxílio-acidente. Quando um indivíduo solicita esses bene�cios, a avaliação da
incapacidade sempre será direcionada para o trabalho habitual desempenhado
por ele.

Para exemplificar, considere um servente de obras que sofre uma amputação do


membro superior. Nesse caso, a incapacidade é uniprofissional, uma vez que ele
se tornou incapaz para a profissão atual, ou seja, de servente de obras.

9. INCAPACIDADE MULTIPROFISSIONAL
A incapacidade mul�profissional é aquela que abrange diversas profissões, sendo
esse o �po de incapacidade que geralmente leva à qualificação de invalidez. Em
algumas situações, é possível ser considerado inválido com uma incapacidade
uniprofissional, porém, nesses casos, é necessário comprovar que a pessoa não
possui critérios adequados para reabilitação. Iremos abordar a reabilitação
profissional no capítulo 17.

É fundamental dis�nguir a incapacidade mul�profissional da omniprofissional. A


incapacidade mul�profissional diz respeito à limitação para várias profissões,
enquanto a omniprofissional abarcaria todas as profissões existentes. É fácil
perceber que o conceito de incapacidade omniprofissional é considerado utópico
e não é aplicado na prá�ca.

Para que ocorra a qualificação de invalidez, é necessário que a incapacidade seja


mul�profissional e, não, omniprofissional. O grupo de profissões que devem ser
avaliados para categorização da incapacidade deve levar em conta a coerência
com a qualificação do periciado. Isso significa que, se o indivíduo possui ensino

72
médio e baixa escolaridade, as profissões consideradas para determinar a
mul�profissionalidade devem ser compa�veis com essa realidade educacional.

Tomemos como exemplo um profissional que atua como servente de obras com
baixa escolaridade que foi considerado incapaz para sua profissão atual. Para
qualificá-lo com incapacidade mul�profissional, é necessário considerar, durante
a avaliação, profissões adequadas a realidade individual daquele trabalhador,
entre elas: pedreiro, pintor, encanador, eletricista, porteiro, garçom, operador de
caixa etc.

73
CAPÍTULO 20: ANÁLISE DA CAPACIDADE
FUNCIONAL

1. PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação da incapacidade é uma parte essencial da medicina pericial, que
busca determinar o impacto das condições de saúde de um indivíduo em sua
capacidade de realizar a�vidades diárias e/ou laborais. Para esse fim, protocolos
padronizados têm sido amplamente u�lizados ao longo das décadas, visando
fornecer uma abordagem sistemá�ca e obje�va. Eles permitem uma avaliação
mais obje�va e sistemá�ca, auxiliando na tomada de decisões em contextos
legais e de bene�cios sociais.

No entanto, esses protocolos de avaliação possuem limitações e desafios, uma


vez que são construídos para aplicação genérica. É por isso que no item 3 desse
capítulo discu�remos a teoria tridimensional da incapacidade de forma a
aprendermos avaliar as par�cularidades e variações de cada caso
individualmente.

2. AVALIAÇÃO MÉDICO-JURÍDICA
A determinação da invalidez envolve duas esferas interligadas: a avaliação médica
e a avaliação jurídica. É importante compreender que o fato de um médico
considerar um paciente como inválido não implica automa�camente na
concessão do bene�cio de aposentadoria por invalidez. O papel do médico é
avaliar a capacidade do paciente, mas a decisão final sobre a invalidez depende
de um processo contratual regido por normas e critérios jurídicos.

Um exemplo marcante dessa interação é observado no Ins�tuto Nacional do


Seguro Social (INSS), onde situações de incapacidade anteriores à contribuição
previdenciária não são aceitas para a concessão do bene�cio de invalidez. Mesmo
que o paciente seja portador de uma doença grave, isso não garante
necessariamente a aprovação do bene�cio, uma vez que a elegibilidade está
sujeita a regras contratuais estabelecidas pela legislação previdenciária.

74
É comum que profissionais médicos se sintam frustrados ou ofendidos quando
suas opiniões sobre a incapacidade de um paciente não são acatadas pelo INSS.
Esse sen�mento, muitas vezes, decorre do desconhecimento desses trâmites
legais e das especificidades do processo de avaliação médico-jurídica. O médico
deve compreender que a definição de invalidez vai além da sua avaliação, pois
envolve aspectos contratuais que devem ser considerados.

Por isso, tão importante quando determinar a invalidez é também realizar o


cálculo da Data de Início da Doença (DID) e da Data de Início da Incapacidade
(DII). Serão esses dados que permi�rão a análise jurídica dos pormenores e
detalhes contratuais, avaliando se a pessoa tem ou não o direito ao bene�cio.

Essa consideração jurídica é o que proporciona o equilíbrio necessário. Pelo fato


de a previdência social ser um sistema alimentado por contribuições de todos os
indivíduos, espera-se sempre que distribuição dos bene�cios seja justa. É
incompa�vel com os princípios de equidade que pessoas incapazes, que não
contribuíram para o sistema, possam desfrutar dos mesmos direitos que aqueles
que contribuíram ao longo de suas vidas.

3. TEORIA TRIDIMENSIONAL DA INCAPACIDADE


A determinação da incapacidade é um desafio complexo que, muitas vezes,
confunde os médicos. Embora a maioria esteja bem treinada em diagnós�cos,
propedêu�cas e tratamentos, eles podem não possuir conhecimentos específicos
sobre como avaliar a capacidade de trabalho de seus pacientes. Nesse sen�do,
uma abordagem que tem se mostrado eficaz é a u�lização da teoria
tridimensional da incapacidade, que consiste em analisar três pontos
fundamentais: risco, capacidade e tolerância.

O termo "teoria tridimensional da incapacidade" foi escolhido como uma forma


didá�ca de lembrar os aspectos cruciais dessa avaliação. Cada uma das
dimensões dessa teoria possui uma definição única, conforme veremos a seguir.

3.1 CONCEITO DE RISCO


Risco, na avaliação da incapacidade, refere-se à avaliação dos potenciais perigos
ou danos que podem ocorrer ao realizar determinadas a�vidades laborais. Essa
análise foca em compreender o impacto do trabalho na saúde das pessoas e pode

75
ser dividida em dois pontos essenciais: 1) o risco de agravamento e 2) o risco para
si e terceiros envolvidos.

No que diz respeito ao risco de agravamento, trata-se da consequência que a


realização de uma a�vidade profissional pode ter na saúde do indivíduo. Por
exemplo, após lesões significa�vas no manguito rotador do ombro,
levantamentos pesados acima da cabeça podem representar um risco
significa�vo de agravamento da lesão. Da mesma forma, em casos de
instabilidade do joelho, correr ou realizar saltos pode resultar em ruptura
ligamentar completa ou progressão da osteoartrite na ar�culação. Nessas
situações, é plausível argumentar que a a�vidade profissional pode agravar a
condição pré-existente.

O risco para si e terceiros envolvidos é outro aspecto a ser considerado. Um


exemplo notável que permite entender a dinâmica dessa análise é a restrição de
pilotar aeronaves em pacientes com distúrbios convulsivos. Voar é uma a�vidade
que possui risco inerente, e indivíduos com essa condição apresentam uma
chance considerável de crises convulsivas durante o voo. Nesse contexto, é
necessário levar em conta não apenas a segurança do próprio indivíduo, mas
também a segurança de terceiros que podem ser afetados caso o piloto sofra uma
crise convulsiva.

3.2 CONCEITO DE CAPACIDADE


A capacidade é um conceito fundamental e envolve aspectos como força,
flexibilidade e resistência. Ela está in�mamente relacionada à avaliação da
produ�vidade do indivíduo, ou seja, se ele possui condições médicas que
permitam alcançar o nível médio de desempenho de outra pessoa que trabalha
nas mesmas condições.

Um exemplo ilustra�vo é o indivíduo operário com ruptura do manguito rotador


no ombro, que não consegue elevar o braço o suficiente para alcançar os
controles superiores de uma prensa de fábrica. A falta de capacidade é evidente
e compromete significa�vamente a produ�vidade dessa pessoa, especialmente
se essa ação for fundamental em sua a�vidade laboral. Falaremos com mais
detalhes no item 6 desse capítulo o que são a�vidades fundamentais.

Outro exemplo é o indivíduo trabalhador rural com doença cardíaca, que


consegue se exercitar apenas até 4 METs. METs significa Metabolic Equivalent of

76
Taks e se correlaciona a capacidade cardiopulmonar do indivíduo. As a�vidades
que gastam menos de 4 METS seriam aquelas de menor intensidade, como
caminhar em ritmo tranquilo ou realizar tarefas leves no campo. Essas a�vidades
são as que não exigem um esforço significa�vo do sistema cardiovascular e,
portanto, estão dentro da capacidade do trabalhador citado no exemplo. Por
outro lado, as a�vidades que exigem mais de 4 METS, comuns na a�vidade rural,
como carregar objetos pesados, trabalhar com ferramentas manuais, realizar
esforços �sicos intensos e con�nuos, ultrapassariam a capacidade desse
indivíduo, diminuindo de maneira expressiva a sua produ�vidade e rendimento.

É fácil perceber que capacidade é uma base obje�va de avaliação, podendo ser
quan�ficada em termos de sua magnitude. Além disso, destaca-se que
capacidade atual de um indivíduo não é fixa, podendo ser modificada ao longo
do tempo. Tanto o aumento da capacidade por meio da a�vidade �sica, quanto a
diminuição da capacidade devido à ina�vidade são aspectos amplamente
reconhecidos. Nesse sen�do, os efeitos nega�vos de um es�lo de vida sedentário
nessa avaliação estão bem estabelecidos e devem ser considerados.

3.3 CONCEITO DE TOLERÂNCIA


A tolerância é um conceito psicofisiológico que também afeta a análise laboral de
um indivíduo. Enquanto na avaliação de capacidade o paciente, por mais que
tente, não consegue realizar determinada a�vidade e na avaliação de risco o
paciente consegue, mas não deve, na avaliação da tolerância o paciente consegue
e pode, porém com certa dificuldade devida a presença de um sofrimento
adicional.

De forma didá�ca, a tolerância pode ser definida como a ap�dão de executar uma
determinada tarefa, mas não de forma confortável. Trata-se da análise da dor e
fadiga que o paciente experimenta no seu dia a dia laboral.

O estudo da tolerância é complexo e está ligado principalmente à análise das


recompensas disponíveis. Por exemplo, um indivíduo pode optar por não
trabalhar em um emprego que não gosta devido à dor, mas estaria disposto a
realizar um trabalho mais exigente fisicamente se a recompensa salarial fosse 5
vezes maior.

Além do salário, existem diversas outras recompensas que poderiam, também,


influenciar o interesse de uma pessoa em tolerar dores leves a moderadas no

77
âmbito ocupacional, entre elas, oportunidades de crescimento, reconhecimento
profissional, bene�cios adicionais, ambiente de trabalho agradável e flexibilidade
de horários.

Apesar de tudo, a avaliação da tolerância, embora possa ser subje�va, também


pode afetar a produ�vidade no trabalho, pois dependendo das dores e queixas o
trabalho pode se tornar um peso insustentável. Na prá�ca, não existe um limite
teórico para determinar qual nível de dor ou fadiga gera incapacidade e qual nível
não gera. Nesses casos, u�liza-se o bom senso, tanto por parte dos médicos
quanto do sistema jurídico. Em situações de dores extremamente intensas, como
no caso de câncer ou reuma�smos graves, é evidente que mesmo com
recompensas maiores, a pessoa não seria incen�vada em exercer a profissão.

Para deixar o processo mais transparente, na avaliação da tolerância pelo médico


perito, recomenda-se sempre mensurar e classificar a intensidade da dor ou
fadiga do paciente, u�lizando de uma escala de 0 a 10. Se houver evidências
cien�ficas de que a patologia avaliada é capaz de gerar a dor alegada, esse
contexto clínico deve ser considerado. Por exemplo, se uma radiografia mostrar a
presença de uma osteoartrite grave no quadril e o paciente descrever uma dor
intensa ao tentar realizar um trabalho que envolve o levantamento e transporte
de pesos por longos períodos, trata-se de um problema de trabalho "plausível".
Nesse caso, deve-se considerar a incapacidade do paciente, após descartar
qualquer possibilidade de simulação ou metassimulação.

Por outro lado, quando não há uma patologia obje�va ou a patologia existente é
leve e os sintomas relatados são claramente desproporcionais aos resultados de
exames e testes, a dor ou fadiga torna-se não confiável. Sugere-se, então, que a
avaliação da incapacidade seja desconsiderada.

4. AVALIAÇÃO DAS RESTRIÇÕES


A avaliação das restrições é in�mamente ligado à dimensão do risco, u�lizado
pela teoria tridimensional da incapacidade. Conforme mencionado previamente,
essa abordagem abrange não apenas o risco de agravamento, mas também os
riscos envolvidos para o próprio indivíduo e para terceiros.

Ao considerar as restrições, deve-se examinar minuciosamente todas as


a�vidades desempenhadas na profissão em questão, iden�ficando quais delas

78
podem representar riscos significa�vos. Isso é o que permi�rá classificar a
presença ou ausência de restrições específicas para cada a�vidade.

Para ilustrar esse conceito, vamos considerar o exemplo de um pedreiro que é


diagnos�cado com epilepsia. Esse trabalhador realiza diversas a�vidades em sua
profissão, tais como assentamento de pisos, enchimento de lajes em alturas
elevadas, trabalhos com ferramentas manuais, entre outros. Dessa forma, o
primeiro passo é avaliar em quais a�vidades existem restrições.

No caso do assentamento de pisos, não há restrição para o pedreiro com


epilepsia, uma vez que essa a�vidade não expõe o trabalhador a um risco
significa�vo e nem gera agravamento da condição. No entanto, o enchimento de
lajes em alturas elevadas representa uma restrição importante, pois apesar de
não gerar agravamento da doença em si, tal situação acarreta grande risco para a
segurança do profissional. Numa eventual situação de crise convulsiva, isso pode
resultar em quedas e colocar a vida e saúde do paciente em perigo.

Logo, na avaliação das restrições, é fundamental listar todas as a�vidades


relacionadas à profissão e classificar para quais delas exis�rá restrição. Se houver
restrição apenas em algumas a�vidades, podemos falar em incapacidade parcial.
Por outro lado, se houver restrição na maioria das a�vidades ou em a�vidades
consideradas fundamentais para a profissão, caracterizamos uma incapacidade
total.

Fica bem claro que essa análise é complexa, pois um mesmo profissional pode
exercer diversas a�vidades diferentes em sua área. Para garan�r um julgamento
imparcial e transparente deve-se traçar um panorama completo de tudo aquilo
que é realizado na profissão.

Conforme já mencionado, quando comparamos uma profissional da construção


civil que trabalha exclusivamente com o assentamento de pisos e outro que se
dedica somente ao enchimento de lajes, a análise deverá ser diferente. Numa
situação de epilepsia, enquanto o primeiro pode não apresentar restrições
significa�vas para sua ocupação habitual, o segundo pode ter uma incapacidade
total para realizar sua a�vidade profissional devido às restrições impostas pela
doença.

79
5. AVALIAÇÃO DAS LIMITAÇÕES
A avaliação das limitações leva em consideração a dificuldade de realizar
determinadas a�vidades devido a uma condição médica. Uma limitação é
caracterizada como algo que o indivíduo não consegue fazer, mesmo que se
esforce. Como exemplo dessa situação poderíamos citar um indivíduo
paraplégico que não consegue andar devido à sua limitação �sica, ou um
cardiopa�a grave que não é capaz de realizar a�vidades que exijam grande
esforço aeróbico.

As limitações estão ligadas principalmente à dimensão da capacidade. Ao


contrário das restrições, que envolvem a�vidades que o paciente pode fazer, mas
não deve devido a potenciais riscos, as limitações estão além do alcance do
indivíduo, independentemente de sua vontade.

Na análise das limitações, o ideal é que ela seja obje�va, de forma a estabelecer
um nexo causal claro entre a doença e os sintomas limitantes. Entretanto, em
algumas situações de sintomas subje�vos, como dores e fadigas, a presença de
limitação também pode ocorrer, desde que cien�ficamente jus�ficado.

Para uma análise didá�ca, é sempre recomendado traçar uma lista abrangente
das a�vidades que o paciente realiza em sua ocupação habitual, processo
semelhante ao realizado na avaliação das restrições. Se a limitação ocorrer
apenas em algumas a�vidades, estamos diante de uma incapacidade parcial. No
entanto, se a limitação afetar a maioria das a�vidades ou aquelas consideradas
fundamentais para a profissão, estamos diante de uma incapacidade total.

6. ATIVIDADES FUNDAMENTAIS
O conceito de a�vidade fundamental desempenha um papel importan�ssimo na
determinação da incapacidade parcial ou total de um indivíduo. Enquanto a
incapacidade parcial é caracterizada pela presença de restrições e limitações em
algumas das a�vidades relacionadas à profissão habitual, a incapacidade total
ocorre quando essas restrições e limitações afetam várias a�vidades ou
a�vidades fundamentais. Mas afinal, o que são a�vidades fundamentais?

As a�vidades fundamentais referem-se a deveres essenciais e substanciais que


são indispensáveis para a realização de uma determinada ocupação. Para
compreender melhor, vamos considerar o exemplo de um médico cujo dever

80
principal é atender os pacientes em um consultório. Para realizar o seu trabalho,
esse profissional, ocasionalmente, precisa dirigir por algumas horas para dar
plantões em outras cidades. Nesse contexto, temos que a a�vidade de dirigir não
é considerada fundamental para a sua profissão, apesar de fazer parte das
a�vidades relacionadas.

Já no caso de um motorista de caminhão, a a�vidade principal é justamente


dirigir, sendo essencial para o desempenho da sua função. É claro que ele
também pode ter a�vidades secundárias, entre elas, carga e descarga de
mercadorias, preenchimento de relatórios, a manutenção básica do veículo etc.
Embora essas a�vidades secundárias sejam relevantes, não são consideradas
a�vidades fundamentais, uma vez que não cons�tuem a base essencial do
trabalho.

7. DIAGNÓSTICO DA INVALIDEZ
Existe uma grande diferença entre o conceito de incapacidade e o de invalidez. A
incapacidade é um termo u�lizado para analisar a impossibilidade de realização
da ocupação habitual, enquanto a invalidez é um conceito mais amplo, referindo-
se à impossibilidade de desempenhar uma ocupação que possa fornecer
subsistência.

Conforme discu�do nos capítulos anteriores, considera-se invalidez quando o


paciente apresenta incapacidade total, indefinida e mul�profissional. De forma
excepcional, mesmo que um paciente apresente uma incapacidade
uniprofissional, ainda é possível qualificar a condição de inválido, desde que não
haja critérios sa�sfatórios de reabilitação.

Após avaliar as restrições e limitações, obtém-se o primeiro critério de análise de


invalidez que é a classificação da doença com incapacidade total ou parcial.
Porém, outros critérios também precisam ser ob�dos, como o tempo
(incapacidade indefinida ou temporária) e a profissão (incapacidade
uniprofissional ou mul�profissional).

Se o tempo de duração da doença não pode ser previsto, temos uma


incapacidade indefinida. Por outro lado, se for possível prever o tempo de
duração, temos uma incapacidade temporária.

81
Em relação à profissão, se a doença gera incapacidade para várias a�vidades
laborais, temos uma incapacidade mul�profissional. Já se a incapacidade se
restringe à ocupação habitual, temos uma incapacidade uniprofissional.

Por fim, é fundamental observar que atualmente a lei u�liza o termo


"incapacidade permanente" como sinônimo de invalidez. Essa terminologia, do
ponto de vista pericial, pode gerar confusão. Muitas vezes, uma pessoa possui
uma incapacidade por doença incurável e acredita equivocadamente que tem
direito à aposentadoria por ter uma condição permanente. No entanto, ainda que
a doença seja crônica, sempre será necessário avaliar se a incapacidade total e
mul�profissional.

8. CLASSIFICAÇÃO DAS PROFISSÕES


Na avaliação das profissões deve considerar o �po de profissão exercida pelo
indivíduo, classificando-a em cinco �pos: sedentária, leve, média, pesada ou
muito pesada. Essa classificação baseia-se no grau de a�vidade �sica e esforço
necessário e permite uma análise mais precisa da relação entre a patologia do
indivíduo e as demandas da sua ocupação.

Neste livro, classificaremos cada uma das principais profissões, com base nas
principais a�vidades que ela envolve. Entretanto, por ser uma classificação
genérica, em situações específicas ela poderá ser alterada.

Por exemplo, a profissão de médico num contexto geral é considerada como leve,
uma vez que, na maioria das vezes, esse profissional exerce poucas a�vidades
�sicas. No entanto, em casos excepcionais, a a�vidade de um médico pode variar.
Caso o médico trabalhe na área militar, ele poderá enfrentar demandas �sicas
mais intensas e constantes. Nesses casos, é imprescindível analisar as a�vidades
específicas exercidas no contexto do profissional em questão, adaptando a
classificação conforme a realidade do trabalho desempenhado.

8.1 SEDENTÁRIA

São as profissões com pouca ou nenhuma a�vidade �sica. Inclui ficar sentado na
maior parte do tempo, ambiente de trabalho confortável, ausência de

82
necessidade de condicionamento �sico, baixo risco de lesões
musculoesquelé�cas e ausência de levantamento de objetos.

As profissões classificadas como sedentárias são: advogado, alfaiate,


administrador, artesão, arquiteto, bancário, contador, designer, escritor, gamer,
joalheiro, juiz, locutor, manicure, maquiador, motorista, operador de
telemarke�ng, piloto, psicólogo e tatuador.

8.2 LEVE

São as profissões com a�vidades �sicas leves não con�nuas. Inclui caminhar
curtas distancias, ficar em pé poucos a moderados períodos, variação
considerável entre a necessidade de ficar sentado e movimentar-se, ambiente de
trabalho confortável, pouco condicionamento �sico e baixo risco de lesões
musculoesquelé�cas.

As profissões classificadas como leves são: assistente social, atendente de


comércio, bibliotecário, balconista, cantor, cozinheiro, corretor de Imóveis,
engenheiro, enfermeiro, farmacêu�co, fotógrafo, fisioterapeuta, fren�sta,
humorista, ilusionista, jornalista, médico, músico, operador de caixa, padeiro,
professor, secretária, terapeuta, vendedor e veterinário.

8.3 MÉDIO

São as profissões com a�vidade �sica moderada. Inclui caminhar distâncias


médias, correr poucas distâncias, ficar em pé longos períodos, carregar objetos
leves ou pesados em alguma parte do tempo, necessidade de movimentação
regular, ambiente de trabalho não confortável em alguns momentos, moderado
condicionamento �sico e moderado risco de lesões musculoesquelé�cas.

Os principais exemplos são: açougueiro, ator, apicultor, agricultor, auxiliar de


cozinha, auxiliar de serviços gerais, agente funerário, adestrador, cabeleireiro,
camareira, carpinteiro, carteiro, cirurgião, copeiro, eletricista, faxineiro, garçom,
jardineiro, marceneiro, mecânico, moto boy, pescador e técnico de enfermagem.

8.4 PESADO

83
Nessa categoria destacam as profissões com a�vidade �sica intensa. Inclui
caminhar longos trajetos, correr moderadas distancias, carregar objetos pesados
em grande parte do tempo, ambiente de trabalho desconfortável, bom
condicionamento �sico, alto risco de lesões musculoesquelé�cas, necessidade de
algumas pausas diárias em virtude do esforço.

Os principais exemplos são: acrobata, ar�sta de circo, arbitro, carregador, judoca,


karateca, pedreiro, jogador de futebol, servente de pedreiro, salva-vidas e
mergulhador.

8.5 MUITO PESADO

São as profissões com a�vidade �sica muito intensa. Inclui necessidade de correr
longas distâncias, manipular de forma constante objetos e ferramentas muito
pesadas, exposição a riscos profissionais importantes, excelente
condicionamento �sico, al�ssimo risco de lesões musculoesquelé�cas,
necessidade de pausas com muita frequência em virtude do esforço �sico.

Os principais exemplos são: atleta profissional, bombeiro, es�vador, demolidor,


minerador, militar, policial, segurança e lenhador.

9. PRESUNÇÃO DA INCAPACIDADE TEMPORÁRIA


Quando lidamos com doenças em sua fase aguda ou com diagnós�cos recentes
sem o�mização terapêu�ca, é comum que em muitos casos haja a necessidade
de um período temporário de afastamento laboral. Esse afastamento é essencial
para permi�r que o paciente tenha um tempo adequado de repouso, o que
desempenhará um papel crucial no processo de recuperação.

O repouso é fundamental para que o organismo possa direcionar suas energias


para combater a doença, promovendo a cicatrização e restaurando o equilíbrio
do corpo. Ele também evita a sobrecarga das a�vidades �sicas e mentais, que
poderiam agravar a condição e prolongar o tempo de recuperação.

Um desafio enfrentado pelos médicos brasileiros é a determinação do tempo


adequado de afastamento para cada doença específica. Muitos profissionais não
encontram parâmetros sólidos, o que torna di�cil estabelecer um período de
afastamento de forma embasada.

84
Em virtude disso, nesse livro, forneceremos nos próximos capítulos, tempos
mínimos, médios e máximos de afastamento, considerando a doença e o �po de
trabalho desempenhado pelo indivíduo (sedentário, leve, médio, pesado ou
muito pesado). Ao abordarmos, as patologias em detalhes e descrevermos os
tempos es�mados de incapacidade temporária, proporcionaremos aos médicos
uma ferramenta valiosa para embasar suas decisões e assegurar o melhor
cuidado para os pacientes.

10. PRESUNÇÃO DA INCAPACIDADE PERMANENTE


A avaliação de invalidez pode ser conduzida de duas formas dis�ntas: de forma
específica ou de forma generalizada. A abordagem específica consiste em analisar
individualmente cada caso concreto, levando em consideração as
par�cularidades e caracterís�cas únicas do paciente. Por outro lado, a abordagem
generalizada se baseia em critérios preestabelecidos para determinar a invalidez,
sem considerar as especificidades de cada indivíduo.

Ambas as abordagens apresentam vantagens e desvantagens. A forma específica


é considerada mais abrangente e precisa, uma vez que cada paciente é único e
pode apresentar condições e limitações dis�ntas. Isso permite ao médico perito
avaliar a situação de forma mais minuciosa e individualizada. Em contrapar�da, a
forma generalizada tem a vantagem de ser mais obje�va e fornecer uma diretriz
mais clara para o sistema jurídico. Isso facilita o processo de avaliação e pode
agilizar a determinação de bene�cios e direitos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a avaliação de invalidez é generalizada,


baseada, principalmente, em critérios preestabelecidos. De forma sinérgica ao
que é feito no exterior, neste livro, também proporemos critérios para
categorização da invalidez para cada �po de doença nos capítulos seguintes de
forma a deixar o processo mais obje�vo.

Os critérios que serão propostos terão alta especificidade, porém baixa


sensibilidade. Sendo assim, a presença deles indicará alta chance de ter a
invalidez, mas a ausência não excluirá a condição. É possível que pessoas que não
preencham os critérios ainda possam ser consideradas inválidas.

Portando, devidos as limitações, os critérios que serão sugeridos nos próximos


capítulos deverão ser u�lizado com cautela e sempre como uma ferramenta
acessória na avaliação, uma vez que a padronização pode limitar a análise e não

85
refle�r adequadamente a realidade do paciente. Cada caso é único e, muitas
vezes, poderão apresentar nuances que não será previstos pela abordagem
genérica.

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
1. Talmage, J. B., Melhorn, J. M., & Hyman, M. H. (2011). AMA Guides™ to the
Evalua�on of Work Ability and Return to Work (2ª ed.). ISBN 978-1-60359-530-8.

2. Soer R, van der Schans CP, Groothoff JW, Geertzen JH, Reneman MF. Towards
consensus in opera�onal defini�ons in func�onal capacity evalua�on: a Delphi
Survey. J Occup Rehabil. 2008;18:389–400.

3. Pransky GS, Dempsey PG. Prac�cal aspects of func�onal capacity evalua�ons.


J Occup Rehabil. 2004;14:217–29.

4. Strong S, Bap�ste S, Clarke J, Cole D, Costa M. Use of func�onal capacity


evalua�ons in workplaces and the compensa�on system: a report on workers’
and report users’ percep�ons. Work. 2004;23:67–77.

5. Isernhagen SJ. Return to work tes�ng: func�onal capacity and work capacity
evalua�on. Orthop Phys Ther NA. 1992;1:83–98.

6. Matheson LN, Mooney V, Grant JE, et al. A test to measure li� capacity
ofphysically impaired adults. Part 1—Development and reliability tes�ng. Spine
1995;20:2119–29.

7. Innes E, Straker L. A clinician’s guide to work-related assessments: 2-Design


problems. Work. 1998;11:191–206.

8. Genovese E, Galper JS, American Medical Associa�on. Guide to the evalua�on


of func�onal ability: how to request, interpret, and apply func�onal capacity
evalua�ons. Chicago: American Medical Associa�on; 2009.

9. Wind H, Goutebarge V, Kuijer PP, Sluiter JK, Frings-Dresen MH. The u�lity of
func�onal capacity evalua�on: the opinion of physicians and other experts in the
field of return to work and disability claims. Int Arch Occup Environ Health.
2006;79:528–34.

10. Innes E, Straker L. Workplace assessments and func�onal capacity


evalua�ons: current beliefs of therapists in Australia. Work. 2003;20:225–36.

86
11. Innes E, Straker L. A clinician’s guide to work-related assessments: 1-purposes
and problems. Work. 1998;11:183–9.

87
CAPÍTULO 21: SÍNDROMES LOMBARES

1. HÉRNIA DE DISCO
A hérnia de disco é uma condição extremamente comum que afeta a coluna
vertebral e é mo�vo de preocupação para muitas pessoas. Neste capítulo,
abordaremos de forma abrangente essa condição, visando fornecer uma
compreensão detalhada do seu impacto e tratamento.

Em essência, a hérnia de disco envolve uma protrusão ou ruptura do disco


intervertebral, o que pode levar à compressão dos nervos adjacentes. Sua
prevalência é notavelmente alta, especialmente em indivíduos mais velhos.

Os sintomas podem variar dependendo da localização e gravidade da protrusão.


Duas principais repercussões são a radiculopa�a e a mielopa�a. A radiculopa�a
ocorre quando os nervos espinhais são comprimidos, levando a sintomas como
dor irradiante, dormência, formigamento e fraqueza muscular em áreas
específicas do corpo. Por outro lado, a mielopa�a envolve a compressão da
medula espinhal e pode resultar em alterações sensoriais, motoras e reflexas
mais generalizadas, incluindo perda de equilíbrio, dificuldades para andar e até
incon�nência.

As diferenças entre mielopa�a e radiculopa�a são cruciais para um diagnós�co e


tratamento precisos. Enquanto a radiculopa�a se concentra em sintomas mais
localizados e periféricos, a mielopa�a tende a afetar áreas mais abrangentes do
corpo e pode ter impacto em funções motoras mais complexas.

O diagnós�co é feito por meio de exames de imagem, como ressonância


magné�ca, que ajudam a iden�ficar a localização e gravidade da protrusão do
disco. Outros exames podem ser necessários, entre eles a eletroneumiografia que
consegue avaliar segmentos nervosos.

O tratamento da hérnia de disco geralmente começa com abordagens


conservadoras, incluindo fisioterapia, medicação e injeções de esteroides para
reduzir a inflamação e aliviar a dor. Em relação às indicações cirúrgicas, estas são
geralmente reservadas para casos mais graves.

As principais indicações cirúrgicas são sintomas neurológicos com mielopa�a


grave e pacientes que não respondem ao tratamento conservador após cerca de

88
seis meses. Vale mencionar que a mielopa�a leve pode ser tratada clinicamente,
enquanto casos mais graves geralmente necessitam de abordagem cirúrgica.

1.1 DIMENSÃO DO RISCO

A hérnia de disco é uma condição que mais gera pedidos de afastamento no INSS.
É importante entender as principais causas dessa condição antes de discu�r o
risco de agravamento em diferentes profissões. Ao estudar as causas a será
possível iden�ficar fatores que possam contribuir para o agravamento da
condição.

As principais causas da doença são a degeneração natural dos discos


intervertebrais devido ao envelhecimento e o trauma agudo, na maioria das vezes
de origem externa. Não há evidências cien�ficas que sustentem que a a�vidade
laboral seja uma causa direta de agravamento da hérnia de disco. No entanto, é
possível que em situações excepcionais, em que há um trauma cumula�vo
decorrente de condições ergonômicas de alto risco, esse agravamento possa
ocorrer de forma intui�va.

Historicamente, os médicos têm imposto restrições de a�vidade aos pacientes


após o diagnós�co e tratamento de hérnia de disco lombar. A restrição mais
comum está relacionada ao peso que pode ser levantado "com segurança". No
entanto, essas restrições não são respaldadas por princípios cien�ficos, pois
limitar apenas o peso sem considerar outros fatores, como postura, idade e sexo,
não é uma abordagem fundamentada.

Além disso, segundo Suri et al, a maioria dos pacientes, cerca de 62%, não foi
capaz de iden�ficar um evento específico associado ao início dos sintomas da
hérnia de disco. Entre aqueles que relataram eventos desencadeantes, 26%
estavam envolvidos em a�vidades não relacionadas ao levantamento de peso,
6,5% dos pacientes atribuíram o início dos sintomas a levantamento pesado e
apenas 2% relataram levantamento leve como fator desencadeante. Esses
resultados sugerem que as causas da hérnia de disco lombar são mul�fatoriais e,
na maioria das vezes, não estão relacionadas ao levantamento de peso ou
eventos laborais.

Em geral, a literatura cien�fica indica que, na maioria das vezes, a a�vidade


laboral não agrava a hérnia de disco. No entanto, é importante considerar
situações excepcionais em que o risco de agravamento pode estar presente,

89
especialmente em profissões que envolvem levantamento repe��vo de cargas
pesadas ou condições ergonômicas desfavoráveis. Cada caso deve ser avaliado
individualmente, levando em conta a natureza da ocupação e as caracterís�cas
específicas do paciente.

1.2 DIMENSÃO DA CAPACIDADE

A capacidade laboral em relação à hérnia de disco é uma dimensão crucial a ser


considerada, muitas vezes superando a dimensão do risco associado à doença.
Após um evento de hérnia de disco, a maioria dos pacientes experimentará uma
redução na capacidade de realizar seu trabalho. Isso ocorre principalmente
devido a um estado inicial de descondicionamento �sico que leva à diminuição
da capacidade laboral.

De acordo com o estudo realizado por Dydyk, Massa e Mesfin, em


aproximadamente 90% dos casos, as hérnias de disco se resolvem naturalmente
dentro de cerca de seis semanas após o início dos sintomas, o que indica um
prognós�co favorável. Entretanto, quando os sintomas persistem por mais de seis
semanas sem melhora significa�va, a probabilidade de recuperação diminui,
podendo ser necessário recorrer à cirurgia. Além da falta de resposta ao
tratamento clínico, outras indicações cirúrgicas incluem a ocorrência de
disfunções na bexiga/intes�no ou fraqueza muscular.

No contexto previdenciário brasileiro, a necessidade de cirurgia para hérnia de


disco leva a um cenário complexo. Isso ocorre porque tais procedimentos
geralmente não são cobertos com agilidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
o que leva os pacientes a dependerem de tratamentos conservadores, nem
sempre eficazes. Diante dessa questão, é preciso refle�r: como isso afeta a
capacidade laboral do indivíduo?

A resposta a essa pergunta é complicada e depende de diversos fatores,


principalmente, a possibilidade de reabilitação profissional temporária. É
fundamental analisar cada caso individualmente, levando em consideração as
restrições �sicas e as demandas específicas do trabalho, a fim de determinar se
há capacidade residual para o desempenho de a�vidades laborais de maneira
segura e eficiente.

90
1.3 DIMENSÃO DA TOLERÂNCIA

A hérnia de disco é uma condição que pode causar dor intensa e impactar
significa�vamente a qualidade de vida dos pacientes. Essa dor pode ser
controlada por meio de diferentes abordagens. A u�lização de medicamentos
analgésicos e an�-inflamatórios pode ser uma opção para aliviar os sintomas.
Além disso, fisioterapia e exercícios específicos podem fortalecer a musculatura
e proporcionar estabilidade à coluna vertebral.

A intensidade da dor da hérnia de disco pode variar de acordo com as a�vidades


realizadas. Em situações que exigem movimentos que envolvem o tronco, como
levantamento de peso ou flexão excessiva, a dor pode se tornar mais intensa. Por
outro lado, em a�vidades mais leves e que não envolvam movimentos bruscos da
coluna, a dor pode ser mais leve ou até mesmo inexistente.

Para estabelecer o nexo causal entre a dor alegada pelo paciente e os sintomas
da hérnia de disco, é necessário realizar uma avaliação clínica detalhada. O
médico irá analisar os sintomas apresentados, realizar exames �sicos e, quando
necessário, solicitar exames complementares, como ressonância magné�ca, para
confirmar o diagnós�co.

Uma das manobras u�lizadas na avaliação da dor relacionada à hérnia de disco é


a manobra de Lasegue. Esse teste auxilia na iden�ficação do nexo causal entre a
compressão nervosa e a sintomatologia apresentada pelo paciente. Ao elevar a
perna estendida do paciente, essa manobra visa es�rar as raízes nervosas
afetadas, provocando dor irradiada para o membro. Esse achado clínico é de
grande importância, pois confirma a relação entre a compressão nervosa causada
pela hérnia de disco e a dor relatada pelo paciente. A manobra de Lasegue, aliada
a outros dados clínicos e exames complementares, contribui para um diagnós�co
álgico mais preciso.

Existem diferentes tratamentos disponíveis para o controle da dor causada pela


hérnia de disco. Além da medicação e da fisioterapia, técnicas de relaxamento,
acupuntura e terapias complementares, como quiropraxia e osteopa�a, podem
ser consideradas. Cada paciente é único e a abordagem terapêu�ca deve ser
personalizada, levando em conta as caracterís�cas individuais e a gravidade dos
sintomas.

Em casos em que não há melhora clínica significa�va, a opção pelo tratamento


cirúrgico pode ser considerada. No entanto, de acordo com os estudos
conduzidos por Gugliota e colaboradores, apesar do alívio sintomá�co mais

91
rápido observado com a abordagem cirúrgica, não foram iden�ficadas diferenças
clinicamente relevantes após um período de 3 meses em comparação com os
pacientes subme�dos ao tratamento conservador. Assim, a longo prazo, a
intervenção cirúrgica não demonstrou superioridade em relação ao tratamento
clínico.

1.4 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA

Na maioria das vezes, a hérnia de disco agudizada pode levar a incapacidades


temporárias. A duração da incapacidade depende da localização e do número de
discos afetados, gravidade da doença degenera�va do disco, presença de
envolvimento neurológico, duração dos déficits neurológicos (agudos ou
crônicos), outras fontes de dor, como dor lombar ou osteoartrite ar�cular
importante e o �po de tratamento escolhido (conservador, cirúrgico). Fatores
psicossociais também podem afetar a duração da incapacidade.

Tratamento Clínico – Hérnia de Disco sem Radiculopa�a

Trabalho Mínimo Médio Máximo


(�po) (dias) (dias) (dias)
Sedentário 0 1 1
Leve 0 1 1
Médio 1 7 14
Pesado 1 7 28
Muito Pesado 1 14 42

Tratamento Clínico – Hérnia de Disco com Radiculopa�a

Trabalho Mínimo Médio Máximo


(�po) (dias) (dias) (dias)
Sedentário 0 7 21
Leve 0 14 28
Médio 3 21 42
Pesado 7 49 84
Muito Pesado 14 56 90

Tratamento Cirúrgico – Hérnia de Disco com Mielopa�a Grave

92
Trabalho Mínimo Médio Máximo
(�po) (dias) (dias) (dias)
Sedentário 21 21 35
Leve 28 42 63
Médio 42 70 112
Pesado 91 112 140
Muito Pesado 112 140 180

1.5 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE PERMANENTE

A presunção de invalidez na hérnia de disco é um tema relevante a ser abordado,


pois muitas vezes gera dúvidas e discussões. Em primeiro lugar, é importante
ressaltar que, em cerca de 90% dos casos, a hérnia de disco não resulta em
incapacidade, seja ela temporária ou permanente. A presença de dor radicular
persistente ainda é compa�vel com a função e a maioria dos pacientes pode
retornar ao seu trabalho original.

Observa-se que, em média, para trabalhos sedentários, o afastamento da


a�vidade após o episódio de dor e diagnós�co da hérnia de disco é de
aproximadamente 7 dias. No entanto, para trabalhos muito intensos, esse
afastamento pode chegar a cerca de 91 dias.

Em situações excepcionais, é possível ocorrer uma incapacidade total,


permanente para ocupação habitual. Para que isso ocorra é necessário preencher
o seguinte critério: presença de fraqueza muscular ou dor INTENSA que tenha
nexo causal com a raiz acome�da e refratário a terapêu�ca o�mizada. Na
avaliação desse critério é necessário primeiro analisar três situações: 1) nexo
causal entre a doença e o sintoma, 2) avaliação da gravidade da dor e 3) avaliação
da gravidade da fraqueza.

1.5.1 NEXO CAUSAL ENTRE A DOENÇA E A DOR

Para fazermos o nexo causal, primeiro é necessário compreendermos um pouco


de anatomia. A coluna vertebral é uma estrutura óssea composta por uma série
de ossos chamados vértebras, que são empilhados um sobre o outro. Entre cada
vértebra, há uma estrutura chamada disco intervertebral, que atua como um
amortecedor e permite o movimento da coluna. Ao longo dessa estrutura, saem
raízes nervosas específicas que são responsáveis por transmi�r os sinais nervosos
entre o cérebro e outras partes do corpo.

93
O nexo causal refere-se à relação de causa e efeito entre a hérnia de disco e a dor
gerada pela raiz nervosa acome�da. Quando ocorre uma protusão discal, um dos
discos intervertebrais se desloca de sua posição normal e pode comprimir uma
ou mais raízes nervosas adjacentes, gerando o quadro clínico compa�vel com
radiculopa�a.

Figura 1 – Dermátomos e Miótomos

Entre cada par de vértebras sai uma raiz específica. Por exemplo, entre a vértebra
L1 e L2 sai a raiz nervosa L1. Já entre L2 e L3, sai a raiz L2 e, assim, sucessivamente.
Cada raiz nervosa está associada a uma região específica do corpo, chamada
dermátomo, que é responsável por inervar uma determinada área da pele. Por
exemplo, a raiz nervosa L2 está relacionada ao dermátomo que abrange a parte
proximal e anterior da coxa e, além disso, ela inerva os músculos flexores do
quadril (ileopsoas).

Para compreender de forma didá�ca, imagine que uma pessoa tenha uma hérnia
de disco na região lombar que está comprimindo a raiz nervosa L2. Essa
compressão pode causar sintomas como dor intensa na região lombar, além de
dor, formigamento e fraqueza muscular no dermátomo correspondente, ou seja,
parte proximal da coxa. Outra alteração que pode ser encontrada é a fraqueza
sobre o ileopsoas. Isso pode resultar em fraqueza na flexão do quadril, o que
repercu�rá em dificuldade para levantar a perna, subir escadas, realizar

94
movimentos de agachamento etc. Portanto, esses sintomas quando presentes,
servirão como nexo causal indicando relação de causa e efeito entre a hérnia de
disco e a raiz nervosa acome�da.

1.5.2 AVALIAÇÃO DA INTENSIDADE DA DOR:

Para preencher o critério de afastamento permanente é necessário que além do


nexo causal, a dor ou fraqueza seja muito intensa. Em diversas condições
médicas, como a hérnia de disco, por exemplo, a presença de dor intensa e
persistente pode impactar significa�vamente a qualidade de vida e a capacidade
de realizar a�vidades diárias.

No entanto, é importante ressaltar que a dor é uma experiência subje�va. Cada


indivíduo possui sua própria percepção e tolerância à dor, o que torna di�cil
quan�ficá-la de forma precisa e uniforme. Por esse mo�vo, a avaliação da dor
geralmente depende do relato do paciente.

Apesar da subje�vidade da dor, existem formas de analisar sua veracidade com


base no princípio da verossimilhança. Esse princípio busca avaliar a probabilidade
de que determinada dor seja real, considerando os indícios e elementos
presentes. É importante destacar que o princípio da verossimilhança é muito
u�lizado no âmbito pericial e é diferente do princípio da verdade real. A verdade
real é conceito teórico e, muitas vezes, um ideal ina�ngível.

Considerando o princípio da verossimilhança, existem situações em que é


possível analisar se o paciente realmente possui aquela dor. Entre essas situações,
está a avaliação e exclusão de indícios de simulação (estudado no capítulo 10) e
a verificação do comportamento do indivíduo em relação à dor.

Pacientes que sentem dores intensas geralmente buscam tratamento e


acompanhamento médico. Nesse sen�do, é plausível que um paciente com
histórico de dor crônica e intensa apresenta uma documentação de longa data
em relação a consultas frequentes e tratamentos realizados.

Nesse caso, o médico deve examinar os possíveis tratamentos que o paciente já


realizou. Essa avaliação não deve ser baseada apenas no relato do paciente, mas
sim na documentação médica disponível, como receitas, prontuários e relatórios,
por exemplo.

95
Se o paciente apresentar uma vasta documentação médica que comprove
tratamentos recorrentes para aliviar a dor, incluindo o uso de analgésicos
potentes como AINES, tramadol, codeína, entre outros, isso pode fortalecer a
veracidade da história de dor relatada. Essa abordagem, aliada à avaliação de
indícios de simulação, é uma estratégia valiosa para tornar a subje�vidade da dor
mais tangível e passível de avaliação pericial.

1.5.3 AVALIAÇÃO DA FRAQUEZA MUSCULAR

Além da dor, é importante mencionar que o contexto da fraqueza também pode


gerar incapacidade em certos casos. A fraqueza muscular pode ser um sintoma
significa�vo em diversas condições, limitando o rendimento para realizar
a�vidades �sicas e co�dianas. A análise desse contexto deve ser feita de forma
adequada, considerando a relação com a condição médica e a sua repercussão
na funcionalidade do indivíduo.

Para avaliar a fraqueza muscular, é u�lizada uma escala de 0 a 5, e além do exame


clínico, é recomendado contar com exames complementares que possam indicar
sinais de alteração e atrofia muscular, como eletroneuromiografia, ressonância
magné�ca ou biópsia.

O grau 1 de fraqueza muscular é caracterizado por um movimento a�vo realizado


com amplitude de movimento contra a gravidade e resistência muscular. Nesse
grau, é possível notar uma contratura palpável ou visível do músculo, indicando
uma capacidade mínima de contração muscular.

No grau 2 de fraqueza muscular, o movimento a�vo com amplitude de


movimento é realizado contra a gravidade, mas não contra resistência muscular.
Isso significa que o paciente consegue mover a ar�culação, mas não consegue
exercer força suficiente para superar uma resistência externa.

Já no grau 3 de fraqueza muscular, o movimento a�vo com amplitude total de


movimento é realizado quando a gravidade é eliminada. Nesse caso, o paciente
consegue mover a ar�culação livremente sem a influência da gravidade, mas
ainda pode apresentar dificuldade em vencer a resistência externa.

O grau 4 de fraqueza muscular é caracterizado pela ausência de movimento a�vo,


no entanto, é possível observar uma contratura palpável ou visível do músculo.

96
Nesse estágio, embora o paciente não consiga realizar o movimento, é possível
perceber a presença de algum grau de contração muscular.

Por fim, o grau 5 de fraqueza muscular corresponde à paralisia total do membro


ou grupo muscular avaliado. Nesse caso, não há nenhum movimento a�vo ou
contratura muscular presente.

Durante a avaliação da fraqueza muscular, os graus 1 e 2 são geralmente


classificados como leves, o grau 3 como moderado e os graus 4 e 5 como graves.
Na avaliação da incapacidade, a presença de fraqueza muscular leve ou moderada
pode não ser suficiente para ser considerada como incapacidade significa�va,
enquanto graus mais graves de fraqueza muscular estão mais associados a
limitações funcionais mais pronunciadas.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Back Impairment.” Job Accommoda�on Network (JAN). Office of Disability
Employment Policy, US Department of Labor. 1 May 2020.
<htps://askjan.org/disabili�es/Back-Impairment.cfm>.

2. Fujii K., et al. “Discogenic Back Pain: Literature Review of Defini�on, Diagnosis,
and Treatment.” JBMR Plus. 3 5 (2019): e10180.

3. Hegmann, K.T., et al., Eds. “Low Back Disorders.” American College of


Occupa�onal and Environmental Medicine (ACOEM) Prac�ce Guidelines. 7 Mar.
2019. Reed Group, Ltd. 1 May 2020. <htps://app.mdguidelines.com/acoem-
sec�on/acoem/disorders/low-back-disorders>.

4. Patel, R.K., and C.W. Slipman. "Lumbar Degenera�ve Disk Disease." eMedicine.
Eds. S. Kishner, et al. 31 Aug. 2018. Medscape. 1 May 2020.
<htps://emedicine.medscape.com/ar�cle/309767-overview>.

5. Talmage, J.B., J.M. Melhorn, and M.H. Hyman, Eds. AMA Guides to the
Evalua�on of Work Ability and Return to Work, Second ed. Chicago: AMA Press,
2011. 165-176.

6. Wheeler, S.G., et al. “Evalua�on of Low Back Pain in Adults.” UpToDate. Eds. S.J.
Atlas, and L. Kunins. 25 Jan. 2019. Wolters Kluwer Health. 1 May 2020.
<htps://www.uptodate.com/contents/evalua�on-of-low-back-pain-in-adults>.

97
7. Kirshblum SC, Burns SP, Biering-Sorensen F, Donovan W, Graves DE, Jha A,
Johansen M, Jones L, Krassioukov A, Mulcahey MJ, Schmidt-Read M, Waring W.
Interna�onal standards for neurological classifica�on of spinal cord injury
(revised 2011). J Spinal Cord Med. 2011 Nov;34(6):535-46. doi:
10.1179/204577211X13207446293695. PMID: 22330108; PMCID: PMC3232636.

98
CAPÍTULO 30: DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS

1. DEPRESSÃO MAIOR
O transtorno depressivo maior (TDM) é uma condição psiquiátrica de grande
relevância global. Em 2008, a OMS classificou-o como a terceira causa de carga
de doenças em todo o mundo, projetando que será a primeira até 2030. A sua
e�ologia é mul�fatorial, envolvendo fatores biológicos, gené�cos, ambientais e
psicossociais. A prevalência é considerável, variando de 5% a 17%, com uma
média de 12%, sendo mais comum em mulheres. A idade média de início é por
volta dos 40 anos, mas há um aumento de casos em populações jovens devido ao
uso de substâncias.

Os sintomas do TDM são diversos e incluem humor deprimido, perda de interesse


ou prazer, alterações no ape�te e no sono, fadiga, sen�mentos de culpa,
dificuldade de concentração e ideação suicida. Seu diagnós�co é clínico, baseado
em histórico médico, familiar, social e de sintomas apresentados pelo paciente.

O tratamento do TDM é abrangente, envolvendo abordagens farmacológicas,


psicoterapêu�cas, intervenções e mudanças de es�lo de vida. A terapia
combinada, que envolve medicamentos e psicoterapia, é considerada a mais
eficaz.

A terapia eletroconvulsiva é altamente eficaz que pode ser indicada em situações


clínicas específicas. As principais indicações são riscos de suicídio agudo,
depressão grave durante a gravidez, recusa em comer/beber, catatonia e psicose
grave.

Com tratamento adequado, até 80% dos indivíduos experimentam melhora nos
sintomas e a recuperação costuma ser completa. No entanto, a recaída é comum,
e cerca de metade dos pacientes com um episódio de depressão maior
experimentará outro. Em situações com altas taxas de recaída e múl�plos
episódios depressivos deve ser orientado a manutenção da medicação por toda
a vida.

A depressão está ligada a aproximadamente metade de todas as tenta�vas de


suicídio. A ausência ou inadequação de tratamento, a gravidade inicial dos

100
sintomas, episódios prévios, recuperação insuficiente, comorbidades e disfunção
familiar estão associados a resultados desfavoráveis. Portanto, o diagnós�co
precoce, tratamento adequado e apoio con�nuo são fundamentais na gestão
eficaz do TDM.

1. 1 AVLIAÇÃO DO RISCO

Apesar de muitos indivíduos com depressão maior conseguirem manter suas


a�vidades diárias, a condição pode ser agravada por determinados �pos e
condições de trabalhos. Profissões que envolvem altos níveis de estresse,
pressão, longas jornadas de trabalho e falta de apoio emocional podem aumentar
o risco de piora da condição. Ambientes tóxicos, como o bullying no local de
trabalho ou a falta de flexibilidade, também contribuem para o agravamento dos
sintomas depressivos.

Além disso, profissões de alto risco, como aquelas que envolvem operação de
maquinaria pesada, condução de veículos ou cuidado de pacientes em situações
crí�cas, exigem restrições para indivíduos com depressão. A presença de ideação
suicida é um fator crí�co a ser considerado, pois trabalhos que envolvem acesso
a meios letais ou que expõem o indivíduo a situações isoladas podem aumentar
o risco de suicídio.

1.2 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE

A capacidade depende do nível de alerta mental do indivíduo e se um transtorno


de ansiedade associado está presente. Tarefas de trabalho familiares, simples e
que não exijam concentração intensa ou mul�tarefa podem ser apropriadas.

1.3 AVALIAÇÃO DA TOLERÂNCIA

A tolerância depende da mo�vação do indivíduo e de quaisquer efeitos adversos


da medicação. Na maioria dos casos, o envolvimento com a�vidades laborais é
benéfico para a recuperação.

101
1.4 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA

A duração da incapacidade temporária pode ser influenciada pela gravidade da


doença, se a condição é recorrente, a presença de fatores complicadores, como
abuso de substâncias ou tenta�vas de suicídio, e resposta à terapia. Somente nos
casos mais graves e incomuns a depressão maior resultaria em incapacidade
permanente.

Tratamento Clínico – Depressão Maior

Trabalho Mínimo Médio Máximo


(�po) (dias) (dias) (dias)
Sedentário 14 28 60
Leve 14 28 60
Médio 14 28 60
Pesado 14 28 60
Muito Pesado 14 28 60

1.5 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE PERMANENTE

A avaliação de invalidez devido à depressão requer a análise cuidadosa de três


critérios dis�ntos, sendo necessário que todos eles sejam atendidos
conjuntamente para qualificação.

O critério A refere-se à persistência da doença mesmo após o uso de medicação


o�mizada. É necessário que pelo menos quatro dos seguintes sintomas estejam
presentes: anedonia (perda de interesse em a�vidades), perturbação do ape�te,
distúrbios do sono, agitação ou retardo psicomotor, dificuldade de concentração
ou pensamento, e pensamentos de suicídio.

O critério B aborda o impacto da doença na vida diária e funcionalidade social. É


fundamental que a depressão resulte em pelo menos duas das seguintes
condições: restrição acentuada para a�vidades diárias, dificuldades significa�vas
em manter funcionamento social e dificuldades acentuadas em manter
concentração, persistência ou ritmo.

O critério C requer a documentação da persistência da doença após terapia


o�mizada. Isso implica que todas as terapias padrão e indicadas tenham sido
esgotadas sem sucesso. A documentação deverá comprovar recorrência e
episódios repe�dos de descompensação, cada uma com afastamento temporário

102
superior a 30 dias, durante um período de acompanhamento de 3 anos com um
profissional especializado.

Os três critérios acima precisam ser preenchidos simultaneamente para a


qualificação da invalidez devido à depressão. Cada critério aborda uma dimensão
específica da condição, considerando sua persistência, impacto funcional e
documentação após tratamentos o�mizados. Portanto, trata-se de uma
abordagem abrangente que visa garan�r que somente aqueles com uma
deterioração grave e duradoura da saúde mental se qualifiquem para a invalidez.

2. TRANSTORNO BIPOLAR
O transtorno bipolar (DB) é uma condição psiquiátrica complexa que se
caracteriza por episódios crônicos de mania ou hipomania, alternados com
episódios de depressão. Embora seja uma condição reconhecida, muitas vezes é
mal diagnos�cada inicialmente, o que pode levar a desafios no tratamento e no
gerenciamento adequado dos sintomas.

A e�ologia da DB ainda é uma incógnita, mas acredita-se que resulte de uma


interação complexa de fatores gené�cos, epigené�cos, neuroquímicos e
ambientais. Essa interação pode levar a desequilíbrios nos neurotransmissores e
circuitos cerebrais que regulam o humor e as emoções.

Existem dois principais �pos de transtorno bipolar: o transtorno bipolar �po 1


(TB-I) e o transtorno bipolar �po 2 (TB-II). A principal diferença entre eles reside
na presença de episódios maníacos. No TB-I, há a ocorrência de pelo menos um
episódio maníaco. Já no TB-II, não há episódios maníacos, mas sim episódios de
hipomania.

A prevalência ao longo da vida do TB-I é es�mada em 0,6%, enquanto a do TB-II


é de 0,4%. A idade de início apresenta dois picos: entre 15-24 anos e 45-54 anos.
Surpreendentemente, mais de 70% dos indivíduos manifestam caracterís�cas
clínicas da doença antes dos 25 anos de idade, o que ressalta a importância da
iden�ficação precoce e do manejo adequado.

Os sintomas do transtorno bipolar são variados e podem incluir alterações de


humor, energia e a�vidade. O episódio maníaco é marcado por humor eufórico

103
ou irritável, aumento da energia, impulsividade, diminuição da necessidade de
sono e comportamentos de risco. Já o episódio hipomaníaco apresenta sintomas
semelhantes, porém menos intensos. Por outro lado, os episódios depressivos
são caracterizados por tristeza profunda, perda de interesse, fadiga, problemas
de sono e baixa autoes�ma.

O diagnós�co do transtorno bipolar é clínico e requer uma avaliação completa,


incluindo entrevista direcionada ao paciente e, se possível, com familiares. A
iden�ficação de padrões de episódios maníacos, hipomaníacos e depressivos ao
longo do tempo é fundamental para estabelecer um diagnós�co preciso e iniciar
o controle adequado.

Para o tratamento dessa condição, os medicamentos desempenham um papel


fundamental, com a psicoterapia sendo usada como uma ferramenta de apoio
adicional. Os episódios de mania são considerados emergências médicas e, em
muitos casos, requerem internação psiquiátrica. O obje�vo do tratamento inicial
é estabilizar o paciente, especialmente quando há agitação aguda, a fim de
reduzir o sofrimento, controlar comportamentos potencialmente perigosos e
permi�r uma avaliação completa.

Em relação aos episódios hipomaníacos, esses não são tão graves a ponto de
causar prejuízos significa�vos. Dessa forma, esses episódios podem ser tratados
em ambiente ambulatorial, sem a necessidade de internação.

Um aspecto crucial no manejo do transtorno bipolar é a atenção ao risco de


suicídio e autoagressão, especialmente durante os episódios depressivos agudos.
A maioria das mortes por suicídio em pacientes com transtorno bipolar ocorre
durante essa fase. A internação pode ser necessária, dependendo da gravidade
da situação.

A maioria dos pacientes com transtorno bipolar precisará de tratamento de


manutenção ao longo de muitos anos, possivelmente durante toda a vida, para
evitar episódios recorrentes e restaurar o funcionamento pré-doença. A
recomendação atual é para um tratamento con�nuo, em vez de intermitente,
com os tratamentos eficazes na fase aguda frequentemente con�nuados
inicialmente para prevenir recaídas precoces. Estabilizadores de humor e
an�psicó�cos a�picos, seja isoladamente ou em combinação, são as bases da
farmacoterapia de manutenção.

104
Em relação ao prognós�co, os resultados individuais variam muito. No caso do
TB1, nos primeiros 2 anos de um episódio maníaco inicial, 40% a 50%
apresentarão uma recorrência. Muitos indivíduos tratados com medicação
adequada e psicoterapia regular podem levar uma vida normal com poucos
surtos. Cerca de 25% a 50% dos indivíduos com transtorno bipolar tentam o
suicídio e 11% são bem-sucedidos.

2.1 AVALIAÇÃO DO RISCO


Indivíduos com transtorno bipolar enfrentam desafios significa�vos durante os
episódios de surtos maníacos, hipomaníacos e depressivos. Esses momentos de
desequilíbrio emocional e cogni�vo podem influenciar nega�vamente a
capacidade de avaliar riscos e tomar decisões prudentes.

Durante os surtos maníacos, os indivíduos podem experimentar uma euforia


excessiva e impulsividade, o que pode levá-los a se envolver em a�vidades
arriscadas e até mesmo perigosas. Profissões que envolvem tomada de decisões
crí�cas, como operadores de máquinas pesadas, pilotos e motoristas
profissionais, podem ser especialmente perigosas durante esses episódios. A
impulsividade exacerbada pode também afetar o uso de substâncias,
aumentando a probabilidade de comportamentos arriscados.

Nos surtos hipomaníacos, os riscos podem ser mais su�s, uma vez que os
sintomas são menos graves do que nos episódios maníacos completos.
Entretanto, a energia excessiva e a impulsividade ainda podem colocar os
indivíduos em situações de risco. Profissões que demandam concentração e
controle emocional, como cirurgiões, pilotos de avião ou profissionais de
segurança, podem ser afetadas pela diminuição da atenção durante esses
episódios.

Durante os episódios depressivos, os riscos também são relevantes. A baixa


energia, a dificuldade de concentração e a desesperança podem levar à
negligência de medidas de segurança em ambientes de trabalho que exijam
atenção constante, como operários de construção ou motoristas de transporte
público.

105
2.2 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE

Quando um indivíduo enfrenta surtos maníacos, hipomaníacos ou depressivos


devido ao transtorno bipolar, sua capacidade e produ�vidade no trabalho podem
ser consideravelmente afetadas. Isso ocorre devido aos sintomas intrusivos e
desafiadores associados a esses episódios, bem como aos efeitos colaterais dos
medicamentos u�lizados para controlar a condição.

Nos surtos maníacos, a pessoa pode experienciar uma energia excessiva, mas
muitas vezes direcionada de maneira desorganizada e impulsiva. Isso resulta em
dificuldade para se concentrar em tarefas específicas, tornando a conclusão de
projetos ou responsabilidades no trabalho mais di�cil. Além disso, a
hipera�vidade pode levar a uma sensação de exaustão posterior, prejudicando
ainda mais a capacidade de manter a produ�vidade.

Nos episódios depressivos, os sintomas como baixa energia, falta de mo�vação,


concentração prejudicada e sen�mentos de desesperança diminuem a
capacidade de realizar tarefas com eficácia. A len�dão cogni�va e a falta de
interesse resultam em um ritmo de trabalho mais lento e em dificuldades para se
concentrar, reduzindo a produ�vidade.

Além disso, os efeitos colaterais dos medicamentos usados para controlar a


doença bipolar podem contribuir para a diminuição da produ�vidade. Muitos
desses medicamentos podem causar sonolência, fadiga, dificuldade de
concentração e até mesmo efeitos colaterais cogni�vos. Isso pode interferir na
capacidade do indivíduo de se manter alerta e focado no trabalho.

2.3 AVALIAÇÃO DA TOLERÂNCIA

Do ponto de vista do transtorno bipolar a avaliação da incapacidade é mais


voltada para dimensão do risco e da capacidade. A tolerância não costuma ser
problema.

2.4 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA

106
A duração da incapacidade temporária depende da resposta e adesão ao
tratamento (medicamentos, assiduidade às sessões de psicoterapia). Uma
história de episódios de duração rela�vamente curta, boa resposta a
medicamentos e longos períodos de humor normal predizem o período mais
curto de incapacidade. Uso de substâncias, descumprimento de medicamentos,
psicose e história de longas hospitalizações tendem a atrasar a recuperação.

Tratamento Clínico – Psicoterapia e Farmacoterapia

Trabalho Mínimo Médio Máximo


(�po) (dias) (dias) (dias)
Sedentário 14 28 56
Leve 14 28 56
Médio 14 28 56
Pesado 14 28 56
Muito Pesado 14 28 56

2.5 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE PERMANENTE

A avaliação de invalidez devido à transtorno bipolar requer a análise cuidadosa


de três critérios dis�ntos, sendo necessário que todos eles sejam atendidos
conjuntamente para qualificação. Os critérios são semelhantes ao u�lizados na
avaliação da depressão maior.

O critério A refere-se a comprovação de sintomas depressivos ou maníacos


graves. Para os sintomas depressivos é necessário que pelo menos quatro dos
seguintes sintomas estejam presentes: 1) anedonia (perda de interesse em
a�vidades), 2) perturbação do ape�te, 3) distúrbios do sono, 4) agitação ou
retardo psicomotor, 5) dificuldade de concentração ou pensamento e 6)
pensamentos de suicídio. Para os sintomas maníacos é necessário que pelo
menos três dos seguintes estejam presentes: 1) hipera�vidade, 2) fuga de ideias,
4) autoes�ma inflada, 5) diminuição da necessidade de sono, 6) distração fácil, 7)
envolvimento em a�vidades perigosas e 8) alucinações, delírios ou pensamentos
paranoicos.

O critério B aborda o impacto da doença na vida diária e funcionalidade social. É


fundamental que resulte em pelo menos duas das seguintes condições: restrição
acentuada para a�vidades diárias, dificuldades significa�vas em manter

107
funcionamento social e dificuldades acentuadas em manter concentração,
persistência ou ritmo.

O critério C requer a documentação da persistência da doença após terapia


o�mizada. Isso implica que todas as terapias padrão e indicadas tenham sido
esgotadas sem sucesso. A documentação deverá comprovar recorrência e
episódios repe�dos de descompensação, cada uma com afastamento temporário
superior a 30 dias, durante um período de acompanhamento de 3 anos com um
profissional especializado.

3. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA


O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é um dos transtornos mentais mais
prevalentes, afetando até 20% dos adultos a cada ano. A origem desse transtorno
pode ser atribuída a uma combinação de fatores gené�cos, biológicos e
ambientais, que contribuem para o seu desenvolvimento.

Os sintomas do TAG são caracterizados por uma preocupação excessiva e


persistente sobre várias situações, mesmo quando não há mo�vo aparente para
tal. Isso pode levar a sintomas �sicos, como tensão muscular, irritabilidade,
dificuldade em relaxar e dificuldade em concentrar-se. O diagnós�co do TAG é
feito com base em critérios clínicos, considerando a presença dos sintomas
mencionados anteriormente e sua duração ao longo do tempo.

O tratamento do TAG envolve uma abordagem mul�modal. Terapias cogni�vo-


comportamentais são frequentemente eficazes para auxiliar o indivíduo a lidar
com os pensamentos ansiosos e desenvolver estratégias para controlar a
preocupação excessiva. A psicoterapia pode ser complementada com
medicamentos ansiolí�cos em casos mais graves.

No que diz respeito ao prognós�co, o TAG é uma condição crônica, caracterizada


por períodos de ansiedade que mudam de um foco para outro. Com um
tratamento adequado, muitos indivíduos podem alcançar níveis quase normais
de funcionamento. No entanto, é importante observar que a recorrência dos
sintomas é comum, especialmente sem um manejo con�nuo. Indivíduos
mo�vados que se engajam na terapia cogni�va costumam ter os melhores
resultados a longo prazo. Isso destaca a importância da adesão ao tratamento e

108
do desenvolvimento de habilidades de enfrentamento para lidar eficazmente
com a ansiedade crônica associada ao TAG.

3.1 AVALIAÇÃO DO RISCO

Geralmente não há risco de trabalhar com TAG, a menos que uma situação
específica no local de trabalho seja um ga�lho para preocupação excessiva.

3.2 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE

A capacidade normalmente não é afetada por esse distúrbio, pois a maioria dos
indivíduos se sente tranquilizada ao realizar tarefas de trabalho familiares com as
quais se sente competente. A concentração e o julgamento podem ser afetados.
Indivíduos com dificuldade de concentração podem se beneficiar de instruções
escritas e de um ambiente silencioso ao iniciar uma nova tarefa de trabalho para
aumentar o foco.

3.3 AVALIAÇÃO DA TOLERÂNCIA

Embora algumas pessoas às vezes hesitem em trabalhar, a maioria dos ambientes


de trabalho tem um efeito benéfico e, portanto, não há incapacidade do ponto
de vista da tolerância.

3.4 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA

A incapacidade pode ser temporária dependendo da intensidade dos sintomas,


da resposta ao tratamento, da coexistência de abuso de substâncias
(principalmente dependência de álcool), das condições médicas subjacentes, da
saúde geral do indivíduo e do sistema de apoio social.

Tratamento Clínico – TAG

Trabalho Mínimo Médio Máximo


(�po) (dias) (dias) (dias)

109
Sedentário 1 7 30
Leve 1 7 30
Médio 1 7 30
Pesado 1 7 30
Muito Pesado 1 7 30

3.5 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE PERMANENTE

Não há critérios pré-estabelecidos de incapacidade genérica em pacientes que


possuam de forma isolada transtorno de ansiedade generalizada.

4. ESQUIZOFRENIA
A esquizofrenia, um conjunto complexo de transtornos mentais, é caracterizada
por uma perda significa�va de contato com a realidade, levando a
comportamentos psicó�cos, bem como distúrbios que persistem por mais de seis
meses, afetando o pensamento, percepção, emoções, comportamento e
comunicação. Esta condição traz consigo uma série de desafios que impactam
profundamente a vida daqueles que a experimentam.

De acordo com o Manual Diagnós�co e Esta�s�co de Transtornos Mentais (DSM-


5), para que o diagnós�co de esquizofrenia seja confirmado, é necessário que um
indivíduo apresente pelo menos dois dos seguintes sintomas principais: delírios,
alucinações, fala ou comportamento desorganizado, comportamento catatônico
e sintomas nega�vos. Estes úl�mos, conhecidos como "nega�vos" pois se
afastam do comportamento e da experiência normal do indivíduo, incluem
caracterís�cas como riso inadequado, incoerência, comportamento regressivo,
embotamento emocional e retraimento social.

Embora a causa exata da esquizofrenia permaneça desconhecida, acredita-se que


essa condição seja, em grande parte, uma doença �sica do cérebro. Há um
consenso em torno do desequilíbrio em complexos sistemas neuroquímicos,
notadamente envolvendo os neurotransmissores dopamina e glutamato. Essas
alterações parecem estar profundamente associadas à manifestação dos
sintomas da esquizofrenia.

110
A prevalência global es�mada da esquizofrenia ao longo da vida varia de 0,4% a
1%, sendo que até 20% dos indivíduos com esquizofrenia têm um desfecho mais
favorável, recuperando-se significa�vamente e alcançando seu nível de
funcionamento anterior. O início dessa doença normalmente ocorre entre o final
da adolescência e a meia-idade, embora formas de início tardio, conhecidas como
"parafrenia", também possam ocorrer.

O tratamento da esquizofrenia visa reduzir a gravidade dos sintomas psicó�cos,


prevenir recorrências e deterioração associada ao funcionamento, além de
auxiliar os indivíduos a funcionar no mais alto nível possível. É crucial que ele seja
iniciado o mais cedo possível, uma vez que isso está diretamente relacionado com
melhores resultados.

Mesmo com a terapêu�ca, a esquizofrenia pode levar desfechos variáveis, desde


a recuperação completa até um impacto mais duradouro. Aproximadamente um
terço dos indivíduos com esquizofrenia melhora significa�vamente, mas os
outros dois terços podem enfrentar recaídas, incapacidades persistentes ou
permanecerem permanentemente incapacitados.

4.1 AVALIAÇÃO DO RISCO

Embora o trabalho em si não seja um fator agravante para a esquizofrenia, é


importante reconhecer que pacientes que vivem com essa condição e estão
empregados podem frequentemente se encontrar em situações que os expõem,
bem como a terceiros, a riscos externos. Isso ocorre principalmente em virtude
dos sintomas posi�vos, como delírios e alucinações, que influenciam o
comportamento e a percepção da realidade dos indivíduos.

Em alguns ambientes de trabalho específicos os riscos para colegas de trabalho e


para o próprio paciente são maiores. Por exemplo, em profissões que envolvem
operação de maquinário pesado ou trabalhos em altura, os sintomas psicó�cos
podem comprometer a concentração, o julgamento e a tomada de decisões
seguras, aumentando a probabilidade de acidentes e lesões.

Empregos que exigem interações interpessoais intensas, como serviços de


atendimento ao cliente ou trabalho em equipe, a presença de delírios ou
alucinações também pode influenciar a dinâmica do ambiente de trabalho e até

111
mesmo levar a mal-entendidos ou conflitos. Outro exemplo são as profissões que
envolvem a operação de veículos, como motoristas de ônibus, caminhões ou
táxis. A influência dos sintomas colocam em risco tanto o próprio paciente
quanto outras pessoas no trânsito.

4.2 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE

A capacidade de trabalhar em indivíduos com esquizofrenia pode ser afetada,


principalmente, por causa dos sintomas nega�vos da doença. Esses sintomas
envolvem uma diminuição ou ausência de funções mentais ou emocionais que
são normalmente presentes em indivíduos saudáveis. Isso inclui a diminuição da
expressão emocional, pobreza de discurso, dificuldade de iniciar e manter
a�vidades, diminuição da mo�vação e do prazer em a�vidades co�dianas.

Os sintomas nega�vos criam barreiras no ambiente de trabalho, dificultando a


realização de tarefas, a comunicação eficaz com colegas e superiores, e a
capacidade de manter um ritmo constante de trabalho. Como resultado, a
produ�vidade no trabalho pode ser afetadas de maneira significa�va.

4.3 AVALIAÇÃO DA TOLERÂNCIA

A tolerância é pouco afetada. O maior problema está dimensão do risco e da


capacidade.

4.4 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA

Em algumas situações de surtos e agudizações a incapacidade pode ser


temporária. Nesse caso, essa situação está muito associada a presença de
sintomas nega�vos (p. ex., comportamento regressivo, embotamento emocional,
retraimento social) que, além de diminuírem a produ�vidade, prolongam a
incapacidade, uma vez que são mais di�ceis de tratar do que os sintomas
posi�vos.

Tratamento Clínico – Esquizofrenia

112
Trabalho Mínimo Médio Máximo
(�po) (dias) (dias) (dias)
Sedentário 182 224 Indeterminado
Leve 182 224 Indeterminado
Médio 182 224 Indeterminado
Pesado 182 224 Indeterminado
Muito Pesado 182 224 Indeterminado

4.5 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE PERMANENTE

A determinação da incapacidade permanente é um processo complexo e


rigoroso, que requer a presença dos critérios A, B e C.

O critério A considera a presença de sintomas-chave que caracterizam os


transtornos mentais, como delírios, alucinações, comportamento catatônico ou
desorganizado, além de incoerência no pensamento e retraimento emocional.
Esses sinais são indica�vos da intensidade e da complexidade dos sintomas
psicó�cos associados à esquizofrenia.

O critério B complementa a avaliação, enfa�zando o impacto funcional da


doença. Preenche esse critério quando está presente 1 dos seguintes sintomas:
restrições significa�vas nas a�vidades diárias, dificuldades notáveis em manter
relacionamentos sociais ou problemas em manter concentração e persistência.

O critério C, por sua vez, busca confirmar a persistência do quadro mesmo após
tratamento médico o�mizado. Essa parte do processo destaca a necessidade de
documentação médica confiável, que evidencie a recorrência de episódios de
descompensação, cada um com afastamento temporário por mais de 90 dias, em
um período de acompanhamento de 3 anos.

5. TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO


O Transtorno de Déficit de Atenção e Hipera�vidade (TDAH) é uma condição
psiquiátrica amplamente reconhecida por impactar a funcionalidade tanto em
crianças quanto em adultos. Embora seja há muito tempo associado a crianças
em idade escolar, sua manifestação em adultos também é uma realidade
importante a ser considerada.

113
A e�ologia do TDAH é complexa e envolve uma combinação de fatores gené�cos
e ambientais. Essa condição se destaca como uma das mais hereditárias entre os
transtornos psiquiátricos, ressaltando a influência significa�va dos fatores
gené�cos na sua manifestação.

A prevalência global do TDAH em adultos varia consideravelmente, oscilando


entre 1,2% e 7,3%. Essa discrepância pode ser observada em diferentes níveis de
renda, com taxas mais baixas em países de menor renda e taxas mais altas em
nações mais desenvolvidas economicamente.

No contexto dos adultos, os sintomas do TDAH podem se apresentar de maneira


dis�nta em comparação com as crianças. Dificuldades persistentes em manter a
atenção, impulsividade e hipera�vidade são caracterís�cas-chave. Além disso, os
adultos com TDAH podem enfrentar problemas de organização, procras�nação
crônica, dificuldades em concluir tarefas e até mesmo instabilidade emocional.

O diagnós�co do TDAH em adultos é principalmente clínico, sendo baseado na


avaliação criteriosa dos critérios diagnós�cos. Estes incluem a presença de
sintomas persistentes de desatenção e/ou hipera�vidade-impulsividade, que
causem prejuízo funcional em diversas áreas da vida.

A terapia farmacológica con�nua a ser um pilar no tratamento do TDAH em


adultos. Os medicamentos são divididos em es�mulantes e não es�mulantes,
sendo que os primeiros podem ser anfetaminas ou me�lfenidatos. A escolha do
tratamento dependerá da avaliação individual do paciente e das caracterís�cas
específicas do caso.

É importante observar que adultos que �veram TDAH desde a infância podem
enfrentar riscos adicionais ao longo da vida. Isso inclui uma maior probabilidade
de desenvolver transtornos de conduta e abuso de substâncias, além de possíveis
desafios em áreas como relacionamentos, emprego e educação.

5.1 AVALIAÇÃO DO RISCO

Os riscos associados às a�vidades laborais para indivíduos com Transtorno de


Déficit de Atenção e Hipera�vidade (TDAH) podem variar dependendo das
demandas específicas de cada profissão. Profissões que exigem concentração

114
máxima, e que não toleram margem para erros, podem representar desafios
significa�vos para pessoas com TDAH.

Em trabalhos que demandam precisão como cirurgiões, pilotos de avião ou


operadores de equipamentos complexos, a presença de TDAH pode colocar tanto
o indivíduo ou terceiros em risco. A natureza das tarefas nessas profissões requer
foco constante, tomada de decisões crí�cas e ausência de distrações. No entanto,
é importante ressaltar que é improvável que indivíduos com TDAH grave
preencham os critérios de admissão para essas ocupações. Por ser uma condição
que afeta a atenção e a concentração, é provável que pacientes sejam excluídos
dessas posições e cargos.

5.2 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE

Indivíduos com TDAH, muitas vezes, escolhem carreiras que se alinham com suas
habilidades cogni�vas. Optam, por exemplo, por carreiras mais cria�vas, onde a
flexibilidade de pensamento é valorizada, ou por trabalhos mais prá�cos e
operacionais, onde a atenção a detalhes específicos é menos crucial.

Essa decisão deliberada de escolher campos de trabalho pode levar a uma


capacidade laboral estável e man�da ao longo do tempo. Ao escolher uma
carreira que se alinha mais naturalmente com habilidades daquele indivíduo, eles
podem explorar e desenvolver suas potencialidades, maximizando assim seu
desempenho e contribuição para a a�vidade profissional.

Para uma boa capacidade laboral não é necessário, em todas as profissões, uma
habilidade de foco intenso e concentração absoluta. Há uma ampla variedade de
atributos que contribuem para o sucesso em diferentes profissões. A
adaptabilidade, a cria�vidade, a comunicação eficaz e a resolução de problemas
são apenas alguns exemplos. Portanto, embora a redução de concentração possa
parecer uma limitação em certos contextos, é possível encontrar áreas onde essas
caracterís�cas se tornam uma vantagem.

5.3 AVALIAÇÃO DA TOLERÂNCIA

115
A tolerância varia de indivíduo para indivíduo, mas normalmente não é uma
preocupação. Em geral, o trabalho tem um efeito benéfico.

5.4 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA

O TDAH não gera quadros de incapacidade temporária, tendo em vista que se


trata de uma condição crônica e maioria dos indivíduo exercem profissões
compa�veis com a sua realidade.

5.5 PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE PERMANENTE

Não há critérios para presunção de incapacidade permanente em indivíduos


portadores de TADH.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Bains N, Abdijadid S. Major Depressive Disorder. [Updated 2023 Apr 10]. In:
StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-
. Available from: htps:// www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK559078/

2. Bradley RG, Binder EB, Epstein MP, Tang Y, Nair HP, Liu W, Gillespie CF, Berg T,
Evces M, Newport DJ, Stowe ZN, Heim CM, Nemeroff CB, Schwartz A, Cubells JF,
Ressler KJ. Influence of child abuse on adult depression: modera�on by the
cor�cotropin-releasing hormone receptor gene. Arch Gen Psychiatry. 2008
Feb;65(2):190-200.

3. Green JG, McLaughlin KA, Berglund PA, Gruber MJ, Sampson NA, Zaslavsky AM,
Kessler RC. Childhood adversi�es and adult psychiatric disorders in the na�onal
comorbidity survey replica�on I: associa�ons with first onset of DSM-IV
disorders. Arch Gen Psychiatry. 2010 Feb;67(2):113-23.

4. Hany M, Rehman B, Azhar Y, et al. Schizophrenia. [Updated 2023 Mar 20]. In:
StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-
. Available from: htps:// www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK539864/

116
5. Messias EL, Chen CY, Eaton WW. Epidemiology of schizophrenia: review of
findings and myths. Psychiatr Clin North Am. 2007 Sep;30(3):323-38.

6. Davis J, Eyre H, Jacka FN, Dodd S, Dean O, McEwen S, Debnath M, McGrath J,


Maes M, Amminger P, McGorry PD, Pantelis C, Berk M. A review of vulnerability
and risks for schizophrenia: Beyond the two hit hypothesis. Neurosci Biobehav
Rev. 2016 Jun; 65:185-94.

7. Chand SP, Marwaha R. Anxiety. [Updated 2023 Apr 24]. In: StatPearls [Internet].
Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from:
htps://www.ncbi.nlm.nih.gov/ books/NBK470361/

8. Jain A, Mitra P. Bipolar Disorder. [Updated 2023 Feb 20]. In: StatPearls
[Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from:
htps://www.ncbi.nlm.nih.gov/ books/NBK558998/

9. Chakrabar� S. Bipolar disorder in the Interna�onal Classifica�on of Diseases-


Eleventh version: A review of the changes, their basis, and usefulness. World J
Psychiatry. 2022 Dec 19;12(12):1335-1355

10. Merikangas KR, Jin R, He JP, Kessler RC, Lee S, Sampson NA, Viana MC,
Andrade LH, Hu C, Karam EG, Ladea M, Medina-Mora ME, Ono Y, Posada-Villa J,
Sagar R, Wells JE, Zarkov Z. Prevalence and correlates of bipolar spectrum
disorder in the world mental health survey ini�a�ve. Arch Gen Psychiatry. 2011
Mar;68(3):241-51.

11. Magnus W, Nazir S, Anilkumar AC, et al. Aten�on Deficit Hyperac�vity


Disorder. [Updated 2023 Aug 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL):
StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from:
htps://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/ NBK441838/

12. Kates N. Aten�on deficit disorder in adults. Management in primary care. Can
Fam Physician. 2005 Jan;51(1):53-9.

13. Wilens TE, Spencer TJ. Understanding aten�on-deficit/hyperac�vity disorder


from childhood to adulthood. Postgrad Med. 2010 Sep;122(5):97-109.

117

Você também pode gostar