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EXMO. SR. DR.

JUIZ FEDERAL DA ____VARA FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL DE


SALVADOR-BA
AÇÃ O DE CONCESSÃ O DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL - BPC DEFICIENTE
PRIORIDADE PROCESSUAL
SEGREDO DE JUSTIÇA - DOENÇA ESTIGMATIZANTE
N/B:
MOTIVO DO INDEFERIMENTO: "NÃ O ATENDE AO CRITÉ RIO DE DEFICIÊ NCIA PARA
ACESSO AO BPC-LOAS"
DER: 16/01/2023
SÚMULA Nº 78 - TNU: " Comprovado que o requerente de benefício é portador do vírus HIV, cabe ao julgador
verificar as condições pessoais, sociais, econômicas e culturais, de forma a analisar a incapacidade em sentido
amplo, em face da elevada estigmatização social da doença.
A doença do autor traz, além dos males físicos e biológicos atinentes à doença, o cerceamento de uma vida plena e
ilimitada, em razão do estigma social carregado de preconceito, que frequentemente ocasiona marginalização e
isolamento do convívio socia l. TRF1 9aVara Federal do Juizado Especial Civel da SJMT - Processo nº 0013311-
98.2016.4.01.3600

, brasileira, do lar, solteira, RG e CPF, ambos em anexo, residente e domiciliada na


2aTravessa Boa Vista, Marechal Rondon, Salvador-BA, através de seu advogado constituído,
vem, mui respeitosamente, na presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃ O DE
CONCESSÃ O DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL - BPC DEFICIENTE , em desfavor do INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS , com procuradoria regional situada na Cep. , pelos
fatos e fundamentos a seguir delineados:
DA JUSTIÇA GRATUITA
Por ser pobre na forma da lei e está estando em situaçã o de desemprego, requerer a
gratuidade de justiça, em primeiro e segundo grau.
DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A autora é portadora da CID10 - B24 - Doença pelo vírus HIV nã o especificada , com
episó dios de candidíase oral, pneumonia necrosante, disfunçã o renal e imunidade
comprometida, com risco de doenças oportunistas, conforme documentaçã o médica, em
anexo e indicaçã o de impedimento de longo prazo , conforme avaliaçã o médica do
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS.
Quando gozava de saú de, a autora vendia bolos para sua vizinhança do Bairro Marechal
Rondon, em uma comunidade carente desta urbe.
Todavia, ao receber o diagnó stico da doença, a autora tentou por muito tempo esconder de
pessoas conhecidas, porém, com o agravamento e comentá rios que extrapolaram os limites
da unidade familiar, as pessoas da sua comunidade souberam e os pedidos de bolo
minguaram, por conseguinte, a sua receita.
Nã o obstante, as pessoas começaram a evitar contato e a autora percebia olhares e
conversas ao pé do ouvido, como se houvesse uma moléstia de contá gio aéreo, fruto da
ignorâ ncia, baixa escolaridade e falta de conhecimento acerca da doença.
Sem condiçã o de custear as suas despesas mais triviais, a autora protocolou requerimento
administrativo de benefício de prestaçã o continuada, BPC Deficiente, N/B:, em 16/01/2023
contudo, foi negado por
" NÃ O ATENDE AO CRITÉ RIO DE DEFICIÊ NCIA PARA ACESSO AO BPC- LOAS "
Urge salientar que a autora tem baixa escolaridade e sobrevive da pensã o alimentícia do
filho, no valor de .
O benefício de prestaçã o continuada é previsto na Lei nº 8.742/1993 e tem como objetivo
garantir uma renda mínima à s pessoas que nã o possuem meios de prover o pró prio
sustento. De acordo com a legislaçã o, têm direito ao benefício as pessoas com deficiência e
os idosos com mais de 65 anos de idade que possuem renda familiar mensal per capita
inferior a 1/4 do salá rio mínimo.
O requerente se enquadra nos requisitos para a concessã o do benefício de prestaçã o
continuada, uma vez que é portador de HIV CID B24 e nã o possui condiçõ es de prover seu
pró prio sustento, além de sofrer com o estigma social associado à doença e ter sua
atividade econô mica prejudicada. Ele também apresenta condiçõ es de saú de que afetam
sua capacidade de trabalhar e agravam sua situaçã o financeira. Apesar de ter requerido o
benefício na via administrativa, o mesmo foi negado por nã o ter sido constatada sua
incapacidade ao longo prazo.
O requerente reforça que sua situaçã o de vulnerabilidade é grave e que a falta de garantia
de uma renda mínima já lhe causou prejuízos financeiros e emocionais considerá veis. O
benefício será essencial para garantir a sua subsistência e qualidade de vida.
Diante do exposto, requer-se a concessã o do benefício de prestaçã o continuada ao
requerente, com base no estigma social associado à sua condiçã o de portador de HIV CID
B24, e considerando que o mesmo nã o teve a incapacidade atestada na via administrativa.
Requer-se ainda a designaçã o de audiência de instruçã o e julgamento para produçã o de
provas e eventual conciliaçã o.
JURISPRUDÊ NCIA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1aREGIÃ O SOBRE O TEMA
ASSISTENCIAL. PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃ O CONTINUADA.
REQUISITOS LEGAIS ATENDIDOS. LEI 8.742/91. SENTENÇA PROCEDENTE MANTIDA. 1.
Sentença proferida na vigência do novo CPC/2015: nã o há que se falar em remessa
necessá ria, a teor art. 496, § 3º, I, do novo Có digo de Processo Civil. 2. O benefício de
prestaçã o continuada é devido à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais,
que comprovem nã o possuir meios de prover a pró pria manutençã o nem de tê-la provida
por sua família. 3. A família com renda mensal per capita inferior a 1⁄4 do salá rio mínimo
nã o é capaz de prover de forma digna a manutençã o do membro idoso ou portador de
deficiência física (§ 3º, art. 20, Lei 8.742/93). Contudo, o legislador nã o excluiu outras
formas de verificaçã o da condiçã o de miserabilidade. Precedentes do STJ, da TNU e desta
Corte. 4. A perícia médica (fls. 74/76) constatou que a parte autora é portadora de HIV e
nã o possui incapacidade. 5. O Estudo social (fls. 85/89) demonstrou que o nú cleo familiar
da autora era composto por ela e três filhos de dez, onze e três anos de idade. A renda
auferida pela família era de do" bolsa família". Vulnerabilidade social constatada. 6. Apesar
de a perícia médica constatar que nã o há incapacidade laboral, a Assistente Social relatou
que a autora encontra-se moral e fisicamente abalada com a doença e que nã o consegue
realizar as tarefas mínimas em sua residência. Faz tratamento psicoló gico e é ajudada por
vizinhos que cuidam de seus filhos. Nessa situaçã o, ficou caracterizado o estigma social que
pode acompanhar o portador da AIDS, com comprometimento da sua admissibilidade no
mercado de trabalho. 7. Considera pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de
longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interaçã o com diversas
barreiras, podem obstruir sua participaçã o plena e efetiva na sociedade com as demais
pessoas (art. 20, § 2º da Lei nº da Lei nº 8.742/93, com redaçã o dada pela Lei nº 12.435, de
06/07/2011). 8. Apelaçã o desprovida.
(TRF-1 - AC: 00121847520174019199, Relator: JUIZ FEDERAL (CONV.), Data de
Julgamento: 03/05/2017, SEGUNDA TURMA, Data de Publicaçã o: 11/05/2017)
PREVIDENCIÁ RIO E PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO DE AMPARO SOCIAL À PESSOA
PORTADORA DE DEFICIÊ NCIA. ART. 203, V, CF/88. LEI 8.742/93. DOENÇA
ESTIGMATIZANTE (HANSENÍASE). CONDIÇÕ ES PESSOAIS. SENTENÇA REFORMADA.
BENEFÍCIO CONCEDIDO. 1. Sã o necessá rios os seguintes requisitos para concessã o do
benefício de prestaçã o continuada: ser a pessoa portadora de deficiência ou idosa; nã o
receber benefício de espécie alguma e nã o estar vinculado a nenhum regime de previdência
social; ter renda mensal familiar per capita inferior a 1⁄4 do salá rio mínimo. 2. Ainda que no
laudo pericial tenha se concluído pela incapacidade temporá ria, o juiz pode, considerando
outros aspectos relevantes, como instruçã o, condiçã o socioeconô mica, natureza das
atividades desenvolvidas, bem como a existência de doença estigmatizante (hanseníase),
que dificultam sua colocaçã o no mercado de trabalho, concluir pela concessã o do benefício
assistencial. 3. A correçã o monetá ria e os juros de mora devem observar o que foi decidido
pelo Supremo Tribunal Federal no RE 870.947 (tema 810) e pelo Superior Tribunal de
Justiça ao julgar o REsp 1.495.146/MG (Tema 905). 4. Apelaçã o da parte autora provida
para, reformando a sentença, julgar procedente o pedido.
(TRF-1 - AC: 10281810420204019999, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL MAURA
MORAES TAYER, Data de Julgamento: 09/02/2022, 1a Turma, Data de Publicaçã o: PJe
18/02/2022 PAG PJe 18/02/2022 PAG)
PREVIDENCIÁ RIO. PROCESSUAL CIVIL. REMESSA OFICIAL. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. LEI
Nº 8.742, DE 1993 (LOAS). REQUISITOS
LEGAIS: DEFICIENCIA FÍSICA E HIPOSSUFICIÊ NCIA. CONDIÇÃ O DE MISERABILIDADE.
CONCESSÃ O ADMINISTRATIVA DE BENEFÍCIO INCOMPATÍVEL. PARCELAS ATRASADAS.
CORREÇà O JUROS. 1. Remessa oficial conhecida de ofício: inaplicabilidade do §§ 2º e 3º do
artigo 475 do CPC, eis que ilíquido o direito reconhecido e nã o baseando em jurisprudência
ou Sú mula do STF ou do STJ. 2. O benefício de prestaçã o continuada é devido à pessoa com
deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais, que comprovem nã o possuir meios de prover a
pró pria manutençã o nem de tê-la provida por sua família. 3. A família com renda mensal
per capita inferior a 1⁄4 do salá rio-mínimo nã o é capaz de prover de forma digna a
manutençã o do membro idoso ou portador de deficiência física (§ 3º, art. 20, Lei 8.742/93).
Contudo, o legislador nã o excluiu outras formas de verificaçã o da condiçã o de
miserabilidade. Precedentes do STJ, da TNU e desta Corte. 4. Outro benefício assistencial ou
previdenciá rio, de até um salá rio-mínimo, pago a idoso, ou aposentadoria por invalidez de
valor mínimo paga à pessoa de qualquer idade, nã o deverã o ser considerados para fins de
renda per capita; devendo-se excluir tanto a renda quanto a pessoa do cô mputo para
aferiçã o do requisito (PEDILEF , JUIZ FEDERAL , TNU - Turma Nacional de Uniformizaçã o,
DJ 15/09/2009). 5. O Plená rio do Supremo Tribunal Federal no julgamento da Reclamaçã o
nº sinalizou compreensã o no sentido de que o critério de renda per capita de 1⁄4 do salá rio
mínimo nã o é absoluto, motivo pelo qual a miserabilidade deverá ser aferida pela aná lise
das circunstâ ncias concretas do caso analisado. 6. O autor é portador da Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida, de acordo com o laudo pericial (fls. 64/65), o autor nã o foi
considerado invá lido, mas" parcialmente incapaz ". O laudo social de fl.59 comprovou a
situaçã o de vulnerabilidade social. 7. A Lei 7.670/1988 estendeu aos portadores da
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA/AIDS o benefício de auxílio-doença
independentemente do período de carência (art. 1º).
8. Nã o obstante a existência do avanço da indú stria farmacêutica que contribui para o
melhoramento da qualidade de vida dos portadores do vírus HIV, a moléstia deve ser
avaliada do ponto de vista médico e social, tendo em vista o
estigma social que acompanha o portador da patologia, além da necessidade de controle,
cuidados especiais e administraçã o de medicaçã o específica. 9. O Superior Tribunal de
Justiça, mutatis mutandis, firmou entendimento no sentido de que o militar, portador
assintomá tico do vírus HIV, faz jus à reforma, independentemente da comprovaçã o da
incapacidade laborativa. 10. O Juiz nã o está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a
sua convicçã o de modo contrá rio com supedâ neo em outros elementos ou fatos provados
nos autos (art. 436 CPC). 11. Atrasados: correçã o monetá ria e juros morató rios conforme
MCCJF. 12. Implantaçã o imediata do benefício, nos termos do art. 461 do CPC - obrigaçã o de
fazer. 13. Apelaçã o nã o provida e Remessa oficial, parcialmente provida, nos termo do item
11.
(TRF-1 - AC: 00101879620134019199, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL CANDIDO
MORAES, Data de Julgamento: 21/05/2014, SEGUNDA TURMA, Data de Publicaçã o:
16/06/2014)
DA DISPENSA DA AVALIAÇÃ O SOCIAL - TEMA 187 DA TNU
Cumpre destacar que o Tema 178 da Turma Nacional de Uniformizaçã o dos Juizados
Especiais Federais (TNU) estabelece que," se a avaliaçã o administrativa for favorá vel e nã o
for o motivo do indeferimento, é dispensá vel a avaliaçã o social judicial ". Portanto,
considerando que a avaliaçã o médica administrativa reconheceu a existência de
impedimento de longo prazo, nã o se mostra necessá ria a realizaçã o de avaliaçã o social
judicial, exceto, caso Vossa Excelência entenda.
DA TUTELA DE URGÊ NCIA
Diante da situaçã o de vulnerabilidade econô mica e de saú de da autora, é imperiosa a
concessã o da tutela de urgência para que o benefício seja concedido de forma imediata, nos
termos do artigo 300 do Có digo de Processo Civil.
DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a parte autora:
1. Tramite no" JUÍZO 100% DIGITAL ", com realizaçã o de audiência, de modo remoto;
2. A concessã o da tutela de urgência para que o INSS conceda o benefício assistencial de
prestaçã o continuada à parte autora, no valor de um
salá rio mínimo mensal, desde a data do requerimento administrativo, devidamente
corrigido monetariamente e acrescido de juros morató rios;
3. A confirmaçã o da tutela de urgência na sentença, com a condenaçã o do INSS ao
pagamento das parcelas vencidas e a vencer do benefício assistencial de prestaçã o
continuada, devidamente corrigidas monetariamente e acrescidas de juros morató rios;
4. A dispensa da avaliaçã o social, com base no Tema 187 da TNU, caso Vossa Excelência
entenda dessa forma;
5. A renú ncia ao excedente ao teto do Juizado Especial Federal, nos termos do artigo 3º, §
3º, da Lei nº 10.259/2001;
6. A produçã o de todas as provas admitidas em direito, em especial a pericial e a
documental;
7. A citaçã o do INSS para que, querendo, ofereça resposta à presente açã o;
8. A condenaçã o do INSS ao pagamento das custas processuais e dos honorá rios
advocatícios.
Dá -se à causa o valor de .
Termos em que,
Pede deferimento.
Sobral/CE, 12 de ABRIL de 2023.
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