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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

TARBATA URÂNIA PAIVA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O AUTISMO: CONHECENDO OS


DIREITOS E AS DIFICULDADES DO ESTUDANTE AUTISTA

CARAÚBAS
2017
TARBATA URÂNIA PAIVA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O AUTISMO: CONHECENDO OS DIREITOS E AS


DIFICULDADES DO ESTUDANTE AUTISTA

Artigo Científico apresentado ao Curso de


Pedagogia, na modalidade à distância, do
Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título
de Licenciatura em pedagogia sob a
orientação do professor Dr. Alex Sandro
Coitinho Sant’Ana.

CARAÚBAS
2017
TARBATA URÂNIA PAIVA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O AUTISMO: CONHECENDO OS DIREITOS E AS


DIFICULDADES DO ESTUDANTE AUTISTA

Artigo Científico apresentado ao Curso de


Pedagogia, na modalidade à distância, do Centro de
Educação, da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, como requisito parcial para obtenção do
título de Licenciatura em Pedagogia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Profa. Me. Antonia Costa Andrade

_____________________________________________________

Profa. Me. Rúbia Kátia Azevedo Montenegro


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABA – Aplied Behavioral Annalisys - análise do comportamento aplicada.

AEE – Atendimento Educacional Especializado.

DSM-IV – Diagnosticand Statistical Manual of Mental Disorders ( Manual Diagnóstico


e Estatístico dos Distúrbios mentais).

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

PECS – Sistema de Comunicação por Troca de Imagens.

TEA – Transtorno do Espectro Autista.


RESUMO

Estudo sobre a educação inclusiva do estudante autista busca abordar os


direitos e os principais problemas enfrentados por esse público. Esse trabalho tem
como objetivo o estudo e a pesquisa de metodologias de ensino que incluem o uso
de materiais no ensino aprendizagem do estudante autista no ensino regular. Os
dados coletados no estudo foram advindos de uma pesquisa bibliográfica. O estudo
conclui que apesar de muitos avanços obtidos na educação inclusiva ao longo dos
anos, ainda existe uma série de dificuldades no que se refere a inclusão escolar
desses indivíduos, e que a falta de implementação de práticas inclusivas é um dos
principais obstáculos para um progresso significativo no desenvolvimento do
estudante autista, tanto em relação a uma metodologia de ensino adequada como
também é importante considerar o planejamento e a formação continuada dos
professores para que assim possam intervir de maneira satisfatória.

PALAVRAS-CHAVE: Autismo, Educação inclusiva, Práticas pedagógicas.


SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 7
2- O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO AUTISTA: UMA URGÊNCIA REAL .................. 10
2.1- A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DO BRASIL ................................................................... 12
3- MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E MÉTODOS DE ENSINO: REFLEXÕES SOBRE MATERIAIS CONCRETOS,
ABA E RECURSOS TECNOLÓGICOS NO APRENDIZADO DO ESTUDANTE AUTISTA .............................. 14
3.1- INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS: COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA (PECS).................................... 15
3.2- INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS: ANÁLISE APLICADA DO COMPORTAMENTO (ABA) ................ 20
3.3- INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS: O USO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS ................................ 24
3.4- EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCRETUDES E EQUÍVOCOS ............................................................. 27
4- CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 29
5- REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 30
7

1- INTRODUÇÃO

O autismo é um distúrbio neurológico que compromete o desenvolvimento da


comunicação e das relações sociais do indivíduo ocasionando um comportamento
restringido e repetitivo. Também conhecido com Transtorno do Espectro Autista
(TEA), o autismo não tem cura, mas com a intervenção adequada seu quadro pode
ter melhoras significativas. Segundo Gadia (2006):

Os comportamentos que definem o autismo incluem déficits


qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de
comportamento repetitivos e estereotipados e um repertorio restrito
de interesses sociais.

Devido as dificuldades de desenvolvimento da pessoa com TEA, o papel dos


educadores no processo de inclusão torna-se imprescindível para ajudar na
evolução do estudante autista. Atualmente tem crescido cada vez mais o número de
pessoas que convivem com o TEA. Segundo a ONU (2017), a Organização Mundial
de Saúde (OMS), calcula que o transtorno afeta uma em cada 160 crianças no
mundo, e ainda segundo Magalhães (2017), novos dados revelam que a cada 1 em
68 crianças terão desordens do espectro autista detectado, essa analise é da Rede
de Vigilância para o Autismo e Developmental Desabilities (DAMS sigla em inglês).
No Brasil de acordo com Oliveira (2017), estima-se que possua cerca de 2 milhões
de habitantes autistas. Contudo, apesar de numerosos, os milhões de brasileiros
autistas ainda sofrem para encontrar tratamento adequado. Para o Ministério Público
de São Paulo (2011, p.2):

O Autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento (também


chamado de Transtorno do Espectro Autista), caracterizado por
alterações significativas na comunicação, na interação social e no
comportamento da criança. Essas alterações levam a importantes
dificuldades adaptativas e aparecem antes dos 03 anos de idade,
podendo ser percebidas, em alguns casos, já nos primeiros meses
de vida. As causas ainda não estão claramente identificadas, porém
8

já se sabe que o autismo é mais comum em crianças do sexo


masculino e independente da etnia.

A finalidade dessa pesquisa veio a partir da convivência com o autismo, da


tentativa de entender um pouco mais sobre os processos de inclusão no que se
refere a educação das pessoas com TEA, e como o docente poder ser facilitador do
processo de ensino-aprendizagem. O problema maior da educação inclusiva tem
sido a falta de formação, nesse sentido o professor não pode atuar somente como
mero transmissor de conteúdos mas também como construtor na formação de
indivíduos buscando o aprendizado através de métodos que possibilitem situações
de trocas entre si, transportando barreiras que são impostas pela própria sociedade,
ensinando sobre o respeito, aceitação e valorizando a diversidade. Ao abordar o
aspecto educativo do aluno com TEA, foi necessário uma ampla pesquisa e de
acordo com dados teóricos foi possível constatar que os métodos de ensino
baseado na teoria comportamental são eficazes com o autista, através de um
trabalho interdisciplinar, os profissionais da educação devem usar técnicas e
procedimentos em comum, visando desenvolver as habilidades do estudante, nesse
sentido o ambiente escolar deve ser um espaço para todos, onde o aluno precisa de
suporte para construir seu conhecimento, sendo assim a escola precisa mostrar
sensibilidade as necessidades de cada um. A inclusão escolar é considerada uma
prática recente, e esse é um dos motivos pelo qual não é tão explorada ainda por
alguns profissionais da educação. Considerando essa concepção de incluir, este
trabalho tem como título: Educação inclusiva e o autismo: conhecendo os direitos e
as dificuldades do estudante autista. Destaca-se aspectos teóricos sobre a
educação inclusiva, do seu processo histórico até os dias atuais e métodos
considerados eficaz no ensino aprendizagem do aluno com TEA.
A sociedade atual está voltando a atenção para as minorias historicamente
excluídas. O fato é que a inclusão só ocorre quando todos os cidadãos têm os
direitos iguais perante a sociedade, uma educação de qualidade que respeita as
individualidades de cada um. Em 27 de dezembro foi sancionada a lei n° 12.764 que
diz o seguinte:
A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa
com deficiência, para todos os efeitos legais. Em seu art. 1° relata o
seguinte: “Art. 1° Esta lei institui a política nacional de proteção dos
9

direitos da pessoa com transtorno do espectro autista e estabelece


diretrizes para sua consecução.”

Aplicam-se às pessoas com transtorno do espectro autista os direitos e


obrigações previstos na Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, promulgados pelo Decreto nº 6.949, de 25
de agosto de 2009, e na legislação favorável às pessoas com deficiência. Essa lei foi
criada para auxiliar pessoas dentro do TEA e garante todos os direitos necessários
que esses indivíduos precisam para ter acesso a tratamentos adequados,
especializados e também precisam ter uma educação de qualidade e direcionada.
Essa lei foi uma grande conquista para os autistas, pois ela assegura que seus
direitos e necessidades sejam efetivados, para que todos possam exercer cidadania.
Para compreender melhor sobre os direitos educacionais do aluno com TEA,
a lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, também inclui no título III em seu art. 4°
o seguinte:
Art. 4° O dever do Estado com educação escolar pública será
efetivado mediante a garantia de:
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e
modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino; (Redação
dada pela Lei nº 12.796, de 2013).

Para ser realizado o trabalho foi definido como referencial teórico os seguintes
autores: Skinner (1974), Almeida (2008), Cardoso (2004), Aranha (2001), Cunha
(2013), Sassaki (2005), entre outros.
Referente à organização estrutural, o trabalho foi dividido em duas etapas.
Primeiro trata de apresentar os pressupostos teóricos buscando relatar o processo
de inclusão em seu aspecto educacional desde o início, seu contexto histórico até os
dias atuais, as conquistas, como a mediação pedagógica e métodos como: o uso de
materiais concretos através do PEC´S (sistema de comunicação por troca de
figuras), o método ABA (Análise do Comportamento Aplicada) e recursos
tecnológicos vem sendo abordado e como vem mostrado eficiência no processo de
ensino aprendizagem do aluno autista. De acordo com Gadia (2006), os métodos de
intervenção podem ser fragmentados em três grupos:
10

Aquelas que usam modelos de análise aplicada do comportamento;


os que são fundamentados em teorias de desenvolvimento; e
aqueles que são fundamentados em teorias de ensino estruturado.

A segunda parte busca analisar quais os desafios da escola com a inclusão


do aluno autista, tendo como principio básico a informação sobre o transtorno do
espectro autista, pois ele é capaz de aprender, entretanto, faz-se necessária a
utilização de técnicas e intervenções que facilitem esse processo, para que assim
possa trabalhar as dificuldades de cada aluno, buscando desenvolver suas
potencialidades.
Por fim, a importância do trabalho reside na ideia de que, podemos dizer que
para que haja uma educação inclusiva, há que existir um esforço coletivo,
envolvendo toda equipe escolar. No que diz respeito a escola Mantoan (2006, p. 29)
diz que:
O ensino escolar comum e o despreparo dos professores, por sua
vez, não podem continuar sendo justificativa dos que querem
escapar da inclusão escolar pelos mais diferentes motivos. De fato,
esse despreparo dos professores e das escolas tranquiliza e é o
argumento favorito de muitos pais de crianças e jovens com
deficiência, que acharam uma boa saída para fugir da inclusão.
Felizmente nem todos são tão ingênuos a ponto de “engolir” essa
argumentação. Surpreende-me que ela ainda esteja sendo utilizada.

Isso abre espaço para que se realize uma reflexão mais acentuada acerca
das práticas inclusivas na escola. Sendo assim, o trabalho aqui registrado abre
portas para essa reflexão.

2- O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO AUTISTA: UMA


URGÊNCIA REAL

A busca pelo espaço e pela aceitação no ambiente escolar tem sido crescente
pelo número de alunos com TEA que vem crescendo a cada dia. Segundo dados da
ONU (2017), cerca de 1% da população mundial, ou 1 em cada 68 indivíduos,
apresenta algum transtorno do espectro do autismo. Ao longo dos anos muito já foi
conquistado, mas a inclusão de pessoas com deficiência só acontece de fato
11

quando a coletividade se manifesta de forma justa e democrática. Será que pelo


simples fato de estar frequentando a escola regular esses alunos com necessidades
educacionais especiais estão sendo incluídos? E os professores, será que estão
tendo qualificação necessária para atender esses alunos? Os métodos utilizados
têm sido eficientes? Esses questionamentos são indispensáveis. É na escola que o
aluno se socializa, aprende e compartilha experiências únicas, e é nessa instituição
que compreendemos se fazer necessário uma melhor adequação em relação a
metodologia de ensino, visando o aprendizado desses indivíduos através de
métodos capazes de desenvolver suas potencialidades. É importante lembrar que o
ingresso do autista em escola regular é um direito garantido por lei, como podemos
observar no capítulo V da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
Art. 58 que diz o seguinte:

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a


modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na
rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades
especiais.
1° Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na
escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de
educação especial.
2° O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou
serviços especializados, sempre que, em função das condições
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes
comuns de ensino regular.

A lei deixa bem claro que o acesso a educação é um direito de todos. As


pessoas com TEA tem o direito de frequentar a educação escolar em qualquer um
de seus níveis, inclusive tendo direito ao Atendimento Educacional Especializado
(AEE) e também o apoio de um professor auxiliar quando necessário. As discussões
são inúmeras no que se refere a uma educação de qualidade para esse público,
existe uma grande carência de profissionais capacitados e um currículo escolar
elaborado de acordo com as necessidades de cada aluno, é importante levar em
conta a realidade de vida de cada sujeito que ali está inserido.
Segundo Sassaki (2005, p. 20):
12

Cabe á sociedade, portanto ás escolas comuns, modificar seu


paradigma educacional e, consequentemente, suas estruturas
físicas, programáticas e filosóficas, a fim de que as escolas possam
tornar-se mais adequadas ás necessidades de todos os seus alunos.

É dever das instituições adequar-se para receber os alunos com algum tipo
de deficiência. Assim a formação continuada dos docentes se torna um fator
indispensável para a inclusão dos alunos com TEA no ensino regular.

2.1- A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DO BRASIL

A educação inclusiva não é um tema atual, desde a antiguidade sempre


houve pessoas com necessidades especiais, o que mudou ao longo dos anos foi a
forma como essas pessoas são vistas e tratadas. Após anos de falta de
entendimento esses indivíduos que eram tratados de forma segregativa e
excludente, enfim tiveram seu espaço e o reconhecimento sobre suas capacidades
de adquirir conhecimentos e de levar uma vida normal convivendo em sociedade, as
pessoas com deficiência foram aos poucos tendo um atendimento mais humanizado.
A evolução do atendimento a educação especial teve início de forma
assistencial que visava apenas o bem estar da pessoa com deficiência, na segunda
fase foram priorizados os atendimentos médico e psicológico e logo após veio a fase
em que foram inseridos no ambiente escolar sendo integrados na educação
especial. Ainda recentemente, no início dos anos 90 foi que as pessoas com
deficiência conquistaram seus direitos de serem conhecidos e respeitados pela
sociedade, podendo assim conviver com as demais pessoas e exercerem seu direito
de ir e vir. Segundo a Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira (9394/96,
Cap. V, At. 58) os alunos com necessidades educacionais especiais têm direito e
devem estudar na escola regular, a não ser que o aluno não tenha condições de se
integrar.
A educação inclusiva começou a ganhar espaço nos discursos e na
sociedade por volta dos anos 1980 do século passado, como já foi falado
anteriormente, pois já se pensava em métodos para ser trabalhado com crianças
com deficiência mental. Segundo Cardoso (2004, p. 19):
13

A partir da década de 80 surgem, em nosso país, principalmente no


Rio Grande do Sul, os estudos e aplicações da Estimulação Precoce,
em bebês de zero a três anos de idade, que apresentam alguma
alteração global em seu desenvolvimento, tanto na área hospitalar e
médica, como nas creches e escolas infantis. A partir desta nova
abordagem dinâmica do tratamento de bebês com deficiência mental,
inicia-se a intervir mais precocemente nas desordens neuro-motoras,
cognitivas e afetivas desses sujeitos, modificando o prognóstico de
aprendizagem dos mesmos.

A partir desse período começa a se abrir um novo caminho para a inclusão,


sendo assim a sociedade começa a pensar em como trabalhar com essas crianças
com deficit no desenvolvimento.
A declaração de Salamanca foi um marco importante na educação especial,
realizada em junho de 1994, na cidade espanhola de Salamanca, essa declaração
trata de princípios, políticas e práticas no que se refere as necessidades educativas
especiais. A declaração trata dos direitos humanos e a declaração mundial sobre a
educação para todos e declara os princípios de uma educação especial. Pacievitch
(2017) fala que a declaração de Salamanca apresenta propostas, direções e
recomendações da estrutura de ação em educação especial, um novo pensar com
orientações para ações em nível nacional, regional e níveis internacionais. As
orientações e sugestões para ações em nível nacional são organizadas nos
seguintes subitens: A. Política e Organização; B. Fatores Relativos à Escola; C.
Recrutamento e Treinamento de Educadores; D. Serviços Externos de Apoio; E.
Áreas Prioritárias; F. Perspectivas Comunitárias; G. Requerimentos Relativos a
Recursos.
Essa proposta sobre a declaração de Salamanca, foi elaborada pelo governo
espanhol em parceria com a Unesco. A declaração de Salamanca teve grande
repercussão que contribuiu de forma bastante significativa para o avanço da
educação inclusiva, sendo esta incluída nas políticas educacionais brasileiras. A
Declaração de Salamanca apud Cardoso (2004. p. 22) afirma que: “toda criança tem
direito fundamental á educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter
o nível adequado de aprendizagem”. Nesse sentido, todas as crianças têm o direito
14

de ser incluídas nas escolas, seja ela uma criança com necessidade especial ou
não.

Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem


os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias,
criando-se comunidades acolhedoras construindo uma sociedade
inclusiva e alcançando educação para todos: além disso, tais escolas
proveem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram
a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o
sistema educacional.

No entanto, as mudanças e adaptações metodológicas devem ser feitas pelas


instituições de ensino, Assim, visando um ensino de qualidade e aprendizagem para
todos, levando também em consideração o desenvolvimento e socialização do
educando.

3- MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E MÉTODOS DE ENSINO: REFLEXÕES


SOBRE MATERIAIS CONCRETOS, ABA E RECURSOS TECNOLÓGICOS
NO APRENDIZADO DO ESTUDANTE AUTISTA

O processo de aprendizagem e desenvolvimento do aluno com Transtorno do


Espectro Autista (TEA), ocorre através de uma interação, da busca incessante pelo
envolvimento do indivíduo. As pessoas com TEA tem limitações que é bem comum
em todos os graus, entre elas estão as capacidades sociocomunicativas, que afetam
principalmente a comunicação e a dificuldade que eles tem de interagir socialmente.
Os graus do autismo variam de leve a severo, sendo que o mais grave afeta
inclusive a fala do indivíduo. A metodologia de ensino do aluno autista tem que ser
pensada de maneira clara e objetiva pois dependendo do grau, alguns conseguem
aprender em minutos algo que nunca estudaram antes, enquanto outros não
conseguem entender a linguagem de maneira figurada. Dentro dessa perspectiva, a
escola precisa ser inclusiva, fazer adaptações curriculares para receber o aluno com
TEA e quando necessário a escola deve oferecer acompanhante especializado
como diz a lei n° 12.764, de 27 de Dezembro de 2012, Art. 3°: “Parágrafo único. Em
casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista
15

incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2o,
terá direito a acompanhante especializado”.
A legislação em vigor também prevê que as escolas devem oferecer o
Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contra turno para que esses
alunos trabalhem suas dificuldades e desenvolvam suas qualidades. Diante das
conquistas e dos avanços com relação a educação inclusiva, percebemos que o
grande desafio não está apenas em inserir o aluno na sala regular, mas também na
grande dificuldade enfrentada no que diz respeito as práticas pedagógicas.

3.1- INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS: COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA (PECS)

O sistema de comunicação por troca de figuras, o PECS foi desenvolvido em


1985 como um sistema de intervenção de comunicação alternativa exclusivo para as
pessoas com transtorno do espectro autista e outras deficiências no
desenvolvimento relacionadas. O método tem sido bem sucedido com indivíduos de
todas as idades. Segundo a fonoaudióloga Vieira (2017), alguns alunos usando
PECS também desenvolvem a fala, outros podem fazer transição para um sistema
de saída de voz. As pessoas que aprendem a se comunicar usando a troca de
figuras, apresentam avanços nas habilidades de comunicação e apresentam
melhoras na interação social. Nesse sentido, os métodos de caráter visual são
essencial para o ensino-aprendizagem do autista, já que suas ações são baseadas
na previsibilidade. Definição do DSM-IV-TR (2002):

O transtorno Autista consiste na presença de um desenvolvimento


comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da
comunicação e um repertório muito restrito de atividades e
interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente,
dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do
indivíduo.

Os recursos visuais tornam a compreensão mais simples e indica a ordem


com que as coisas irão acontecer. O objetivo da comunicação alternativa é ampliar o
repertório comunicativo e valorizar os traços relevantes do indivíduo. Sendo assim é
16

importante conhecer o estudante e sua singularidade. Ainda segundo Soraia Vieira


(2017), as seis fases do PECS são:

FASE I- Como se comunicar


Os alunos aprendem a trocar uma única figura para itens ou
atividades que eles realmente querem.
FASE II- Distância e Persistência
Ainda usando uma única figura, os alunos aprendem a generalizar
esta nova habilidade e usá-la em lugares diferentes, com pessoas
diferentes e usando distâncias variadas. Eles aprendem a serem
comunicadores persistentes.
FASE III- Discriminação de figuras
Os alunos aprendem a escolher entre duas ou mais figuras para
pedir seus itens favoritos. Estes são colocados em uma pasta de
comunicação com tiras de Velcro ® onde as figuras são
armazenadas e facilmente removidas para a comunicação.
FASE IV- Estrutura de sentença
Os alunos aprendem a construir frases simples em uma tira de
sentença usando um ícone "Eu quero" seguido por uma figura do
item que está sendo solicitado.
Atributos e Expansão de vocabulário
Os alunos aprendem a expandir suas sentenças, adicionando
adjetivos, verbos e preposições.
FASE V- Respondendo a perguntas
Os alunos aprendem a usar PECS para responder à pergunta: "O
que você quer?".
FASE VI- Comentando
Agora os alunos aprendem a comentar em resposta a perguntas
como: "O que você vê?", "O que você ouve?" e "O que é isso?". Eles
aprendem a compor sentenças começando com "Eu vejo", "Eu
ouço", "Eu sinto", "É um", etc.
17

Figura 1 - Caderno de comunicação alternativa

Fonte: facebook Leuda Lima (Arte Azul).

Figuras 2 - Sequência de atividades representada por figuras.

Fonte: Intagram SARA YOSHIKAWA (@atividade adaptada).


18

Figuras 3: comunicação através de figuras

Fonte: Intagram SARA YOSHIKAWA (@atividade adaptada).

O PECS é um sistema de comunicação bastante eficaz para alunos que não


falam e também estimula habilidades importantes para aqueles que falam. Em sua
essência o PECS foi desenvolvido especialmente para pessoas que apresentam
dificuldade de se comunicar de forma funcional, sendo assim impedido de expressar
suas necessidades, escolhas e desejos.
A figura 1 representa um caderno de comunicação alternativa, através das
imagens o aluno dirá o que ele deseja fazer, corresponde a fase I do PECS. A
imagem 2 indica um quadro de sentenças que corresponde o fase V do PECS, onde
o aluno usa uma estrutura na frase para fazer uma solicitação na forma de “eu
quero”. Esse recurso tem facilitado a aprendizagem do estudante autista, pois
através dele o indivíduo aprende as regras básicas da comunicação, e em seguida o
uso da fala pode ser promovido diante das oportunidades e condições ideais para o
desenvolvimento de vocalizações.
A figura 2 indica um quadro de sentenças que corresponde o fase V do
PECS, onde o aluno usa uma estrutura na frase para fazer uma solicitação na forma
de “eu quero”.
A figura 3 corresponde a fase VI, onde a estudante identifica palavras e
forma frases através das imagens.
19

Esse método foi criado pensando em educadores, famílias e cuidadores, o


PECS não precisa ser confeccionado com materiais complexos ou caros, ele é
facilmente utilizado em diferentes situações. Nesse sentido o auxílio do professor é
fundamental, Skinner afirma o seguinte:

A aplicação do condicionamento operante na educação simples e


direta. O ensino é um arranjo de contingências sob as quais os
alunos aprendem. Aprendem sem serem ensinados no seu ambiente
natural, mas os professores arranjam contingências especiais que
aceleram a aprendizagem, facilitando o aparecimento do
comportamento que, de outro modo, seria adquirido vagarosamente,
ou assegurando o aparecimento do comportamento que poderia de
outro modo, não ocorrer nunca.

Essa abordagem comportamental visa a aprendizagem do educando, ela


deve ser observada a partir das respostas emitidas pelo aluno. Skinner (1974) fala que:
A eliciação repetida de uma resposta aumenta a probabilidade de que a resposta seja
emitida. Percebe-se na citação acima que as pessoas que apresentam dificuldades de
aprendizagem deverão ter um reforço para que haja um melhor desempenho do
estudante diante de sua limitações e dificuldades, ou seja, o professor tem que ser
mediador no ensino aprendizagem, servir de elo entre um estímulo e resposta,
provocar o estímulo para se obter uma resposta. Diante disso Skinner (1991) afirma:

Estudantes quase sempre começam com conhecimento por


descrição. (...). Eles são ensinados sobre o que pode ser feito e
sobre o que acontecerá quando algo for feito” Quando os alunos e
“se o que aprendem é vantajoso, eventualmente adquirirão
conhecimento por compreensão quando seu comportamento tem
consequências reforçadoras.

Nesta esteira de raciocínio, se faz necessário um melhor tratamento em


relação aos serviços de adaptações, o comportamento que tem consequências
positivas é fortalecido quando o processo de reforçamento é colocado em prática, ou
seja, o estímulo de reforço, que pode ser representado por aspectos auditivos,
20

visuais, táteis, olfativos e vestibulares, sendo que fazem parte da metodologia


adequada ao desenvolvimento dessas pessoas.

3.2- INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS: ANÁLISE APLICADA DO


COMPORTAMENTO (ABA)

ABA em inglês quer dizer Applied Behavior Analysise pode ser traduzido para o
português como Análise do Comportamento Aplicada, ela é uma ciência que estuda o
comportamento humano. Essa intervenção pedagógica é feita de maneira estruturada,
enfatizando os propósitos do comportamento, que no indivíduo com autismo em sua
maioria envolvem procedimentos da fala e da socialização. No Brasil essa metodologia
ainda é bem restrita a um pequeno grupo de profissionais especializados, e por se feita
de forma individualizada e intensa, vem trazendo resultados positivos com indivíduos
autistas. A especialista em ABA Michelli Freitas (2017) explica que:

[...] Análise do Comportamento Aplicada é uma ciência que estuda o


comportamento humano. Em 1913 John Watson trouxe a premissa
de que todo comportamento é controlado por eventos do ambiente.
Em seguida veio B. F. Skinner e clarificou dizendo que o
comportamento controla a futura ocorrência do comportamento.
Skinner é considerado o pai da Análise do Comportamento Aplicada
(ABA). A ABA é uma ciência aplicada a qual possui princípios e
estratégias. A ABA ficou amplamente conhecida quando em 1987 Dr.
Ivar Lovaas publicou um estudo com um grupo de 59 crianças
autistas, examinando a melhor maneira das mesmas aprenderem. E
ele descobriu que o grupo de 19 crianças que receberam 40 horas
por semana de atendimento um para um de Terapia ABA tiveram
melhores avanços. Desse grupo aproximadamente 47% se tornaram
indistinguíveis de seus pares da mesma idade numa sala de 1 ano.
Esse estudo foi o primeiro que deu esperanças as famílias de
crianças autistas sobre o desenvolvimento das mesmas.
Em seguida muitos outros estudos foram feitos, chancelando a
intervenção ABA a melhor opção para crianças autistas, e também
com outras dificuldades e atrasos no devolvimento tais como: TDAH
21

(Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), Síndrome de


Down, e demais atrasos e dificuldades.

O desafio maior da educação inclusiva ainda é a falta de conhecimento sobre


esses métodos que tem eficácia comprovada cientificamente, profissionais
especializados e escolas que adaptem a prática no currículo. Sobre o método ABA,
Cunha afirma o seguinte:

O método ABA visa ensinar ao autista, habilidades que ele ainda não
possui, por meio de etapas cuidadosamente registradas. Cada
habilidade é apresentada associando-a a uma indicação ou
instrução. Quando necessário, dar-se-á apoio para obtenção das
respostas, porém deverá ser retirado, tão logo seja possível, para
possibilitar a autonomia. Dentro dos padrões da intervenção
comportamental, a repetição é importante na abordagem ABA, bem
como o registro exaustivo de todas as tentativas e dos resultados
alcançados. A resposta adequada do aprendente tem como
consequência a ocorrência de algo agradável para ele e por meio de
reforço e repetição, inibe-se o comportamento incorreto,
recompensando sempre de forma consistente as atitudes desejadas.

Nessa perspectiva a escola deve oportunizar estratégias que busquem o


desenvolvimento e a interação do aluno com necessidades especiais.

Figura 4 - ABA no ambiente escolar

Fonte: ABA na escola – YouTube


22

Figura 5 - ABA na escola

Fonte: ABA na escola –YouTube

O desenvolvimento de habilidades pedagógicas é um dos focos de


intervenção ABA, nas imagens 4 e 5 podemos observar o trabalho pedagógico do
professor sendo desenvolvido com o estudante. Essa metodologia visa um processo
mais facilitado para garantir um ensino-aprendizagem eficiente para pessoas com
TEA.
Ao falar sobre a educação inclusiva, Sassaki (2005, p. 22) diz que:

O mundo caminha para a construção de uma sociedade cada vez


mais inclusiva. Sinais desse processo de construção são visíveis
com frequência crescente, por exemplo, na escola, na mídia, nas
nossas vizinhanças, nos recursos da comunidade e nos programas e
serviços.

Portanto é de suma importância que as instituições de ensino busquem


constantemente por novas formas de aprendizagem para se ter um conhecimento
mais profundo e reflexivo sobre o autismo e suas variadas formas de se apresentar,
pois apesar dos indivíduos autistas terem várias características em comum, eles
estão dentro de um espectro, cada um tem seu jeito único de ser, em geral as
pessoas com TEA são bastante apegadas a rotina, são pessoas que aprende e
processa as informações de maneira diferente, são capazes de aprender muita coisa
23

mas não da maneira convencional como as outras pessoas. Diante disso é


importante avaliar o aluno, descobrir suas preferências e a partir daí começar a
utilizar métodos facilitadores. De acordo com Cunha (2013, p. 28), o autista “fixar-se
em rotinas que trazem segurança”. Considerando o que foi dito, podemos
compreender que para esses indivíduos, uma mudança de rotina e atividades
inovadoras pode haver resistência e difícil aceitação até os mesmos se
familiarizarem, por isso é indispensável que o educador conheça os atos e objetos
que o aluno com TEA já está acostumado a conviver. Segundo Cunha (2013, p. 29):

Ensinar rotinas e regras na família contribui para orientar a inclusão


em distintos espaços sociais. Isto porque cada espaço social possui
regras e normas próprias. Todavia, as rotinas precisam ser
quebradas quando fomentam atitudes prejudiciais. Ao mesmo tempo
em que é importante mantê-las, é importante também mudá-las, pois
as mudanças fazem parte da vida cotidiana.

Dessa forma para que a inclusão seja efetivada, é necessário além da


formação, preparo e dedicação do professor, é preciso também conhecer o aluno.
Nesse sentido o professor precisa começar sua mediação através da observação,
identificar o que distrai a atenção do aluno é um passo importante, conhecer seus
gostos, interesses, formas de se movimentar na sala, suas características pessoais,
e daí fazer um possível diagnóstico de como será feito um trabalho pedagógico
diante de algum aspecto característico no comportamento do educando. É essencial
lembrar sempre que o comportamento é uma forma de expressão e comunicação
onde tudo tem um significado. Assim para Batista, Bossa e Cols, 2002:

O ato pedagógico, portanto deveria deixar de ser uma decorrência do


processo diagnóstico passando a integrar um movimento de
investigação. Nesse sentido, pretendemos que a busca de
valorização da historia da educação especial possa ser elucidativa,
fortalecendo uma ampla discussão relativa ao atendimento dos
sujeitos em situações de handicap, particularmente os sujeitos com
autismo.
24

3.3- INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS: O USO DOS RECURSOS


TECNOLÓGICOS

A importância da tecnologia nos dias atuais na área da educação é bem


debatida, mas no que se refere a educação inclusiva ela é de fundamental
importância. Para ter acesso ao aprendizado muitas pessoas dependem desses
recursos, o aluno com TEA geralmente possui grandes habilidades no que se refere
a tecnologia, ao uso do computador e tablet. Aliar esses recursos na educação
inclusiva é uma grande conquista para o estudante com necessidades especiais,
pois assim o indivíduo terá oportunidades para desenvolver seu potencial. Pinto
(2014, p. 1), Fala que:
Trata-se de uma nova forma de linguagem e de comunicação, um
novo código: a linguagem digital. Sua história é como a história das
demais formas de comunicação que surgiram anteriormente e para
as quais os seres humanos mostraram resistência.

Cabe ao educador buscar as mais variadas formas de ensino, usando a


criatividade, valorizando as diferenças e observando a realidade de cada um. As
diversas mídias existentes podem auxiliar na construção do conhecimento de forma
atrativa e participativa do aluno com TEA, pois em muitos casos de autismo no grau
severo, o aluno tem resistência a escrever e pegar no lápis, nesse caso o uso do
computador ou tablet auxilia como uma ferramenta de aprendizagem.
Figura 6 - Uso dos recursos tecnológicos no ensino-aprendizagem

Fonte: Intagram SARA YOSHIKAWA (@atividade adaptada)


25

Figura 7 - Uso dos recursos tecnológicos no ensino

Fonte: Intagram SARA YOSHIKAWA (@atividade adaptada).

Figura 8 - Uso dos recursos tecnológicos na aprendizagem

Fonte: Intagram SARA YOSHIKAWA (@atividade adaptada).

Essas ferramentas de aprendizagem representadas pelas figuras 6, 7 e 8


buscam explorar o intelecto do estudante com necessidade educacional especial de
26

forma atrativa, especialmente no caso do aluno autista que tem interesse e aprende
de maneira mais eficaz através de imagens. Nesse sentido ele precisa ser
estimulado e motivado a cada dia pois os recursos tecnológicos estimulam
cognitivamente o indivíduo e contribuem como uma ferramenta pedagógica
fundamental no processo de aprendizagem.
Chaves (1987, p. 31) destaca que:

Devemos nos preocupar com a questão da informática na


educação porque as evidências, embora não são amplas e
contundentes quanto se poderia desejar demonstram que o
contato regrado e orientado com o computador em uma situação
de ensino/aprendizagem contribui positivamente para aceleração
do desenvolvimento cognitivo e intelectual, em especial no que
diz respeito ao raciocínio lógico e formal, a capacidade de
pensar com rigor e de modo sistemático.

É preciso destacar que atualmente o uso de recursos tecnológicos tem sido


utilizado na sala de recursos multifuncionais (AEE) mas muitas escolas ainda
não foram contempladas com esse sistema de ensino tão importante para o
desenvolvimento do aluno com necessidades educacionais especiais, pois essas
salas multifuncionais possuem toda uma estrutura com materiais didáticos,
tecnológicos, pedagógicos e equipamentos de informática, é importante destacar
que os professores da sala de AEE devem agir de forma participativa com o
professor da sala comum, para que dessa forma possam definir estratégias
pedagógicas que visem a interação, a participação e a aprendizagem do aluno.
Esses recursos precisam se estender ao ensino na sala de aula comum, há
vários aplicativos disponíveis para tablets e celulares onde o professor pode criar
um perfil exclusivo de seu aluno e desenvolver atividades pedagógicas. Walter
(2011, p. 01) fala que:
A inclusão de alunos com necessidades especiais na classe regular
implica o desenvolvimento de ações adaptativas, visando à
flexibilização do currículo, para que ele possa ser desenvolvido de
maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades
individuais de todos os alunos.
27

Com relação a citação acima podemos perceber que quando a instituição


trabalha a partir dos pressupostos teóricos e práticos da inclusão, como a tecnologia
assistiva, ela colabora no processo social e intelectual dos indivíduos que ali estão
inseridos. Mas afinal, o que é tecnologia assistiva? Segundo o conceito adotado pelo
secretariado nacional para reabilitação e integração das pessoas com deficiência de
Portugal (SNRIPD), em seu catálogo nacional de ajudas técnicas, a tecnologia
assistida é:
Qualquer produto, instrumento, estratégia, serviço e prática utilizado
por pessoas com deficiência e pessoas idosas, especialmente
produzido ou geralmente disponível para previnir, compensar, aliviar
ou neutralizar uma deficiência, incapacidade ou desvantagem e
melhorar a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos.

Diante do que foi falado vemos a grande urgência em transportar as barreiras


impostas, o preconceito e buscar através dos métodos e recursos disponíveis a
acessibilidade.

3.4- EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCRETUDES E EQUÍVOCOS

Para muitos profissionais da área, a educação inclusiva é um desafio, pois


nem sempre esses estão preparados e dispostos a enfrentar as dificuldades e
limitações de cada indivíduo, levando em consideração que muitos alegam não
entender a real dimensão no processo de inclusão no que se refere as ações
pedagógicas no ambito escolar. Para iniciar o processo de ensino-aprendizagem, é
preciso compreender as características especificas que cada indivíduo possui. Além
disso é necessário considerar as orientações dadas legalmente de forma oficial para
o desencadeamento e a organização das ações referentes ao processo educativo
nesse sentido:

A educação inclusiva, fundamentada em princípios filosóficos,


políticos e legais dos direitos humanos, compreende a mudança de
concepção pedagógica, de formação docente e de gestão
educacional para a efetivação do direito de todos á educação,
transformando as estruturas educacionais que reforçam a oposição
entre o ensino comum e especial e a organização de espaços
segregados para alunos publico alvo da educação especial.
28

A normatização indica que para realmente ter uma educação inclusiva, deve
haver mudanças concretas, com relação à estrutura e aos profissionais. Isso
significa que as escolas devem estar preparadas e adaptadas para realizar as
atividades propostas pela instituição para que todos os alunos independentemente
de ter necessidade ou não, tenham acesso ao material. É fundamental que haja
harmonia, tanto no ambiente familiar como escolar. Cunha (2014, p. 118) fala que:
“professores dedicados, que não negam a ter desafios, são inspiradores para os
pais. Da mesma forma que, pais afetuosos e esperançosos estimulam o professor”.
Nesse sentido vemos a importância da relação entre família e a escola. É importante
frisar que a aprendizagem do aluno deve ser pensada de forma que seja prazerosa
para ele. Dessa forma Cunha, 2014, diz que:

[...] escola e família precisam ser concordes nas ações e nas


intervenções na aprendizagem, principalmente, porque há grande
suporte na educação comportamental. Isto significa dizer que a
maneira como o autista come, veste-se, banha-se, escova os dentes
manuseiam os objetos os demais estímulos que recebe para seu
contato social precisam ser consoantes nos dois ambientes.

Diante do que foi falado, podemos compreender que para o professor


trabalhar com o estudante autista, ele precisa conhecer a realidade dele em alguns
aspectos, principalmente na esfera familiar, seus comportamentos e sua maneira de
ser para que a partir daí comece um processo adaptativo. Mantoan (2006, p. 58) fala
que:
Os conhecimentos sobre o ensino do aluno com necessidades
educacionais especiais não podem ser de domínio apenas de alguns
“especialistas”, e sim apropriados pelo maior número possível de
profissionais da educação, idealmente por todos.

A escola é o espaço onde pode-se contribuir de forma significativa para que


haja uma sociedade inclusiva. Quando a instituição trabalha a partir dos
pressupostos teóricos e práticos da inclusão, ela ajuda no processo social e
intelectual dos indivíduos que ali estão inseridos, tornando-os pessoas capazes de
29

exercer sua autonômia e seus direitos como cidadão. Para Mills (apud Cardoso,
2004, p. 25):
O princípio que rege a Educação Inclusiva é o de que todos devem
aprender juntos, sempre que possível, levando-se em consideração
suas dificuldades e diferenças, em classes heterogêneas. A Escola
inclusiva educa todos os alunos na rede regular de ensino,
proporciona programas educacionais apropriados ás necessidades
dos alunos e prevê apoio para que o seu aluno tenha sucesso na
integração. É o espaço ao qual todos pertencem, são aceitos,
apoiados pelos membros da comunidade escolar.

Na realidade, não é só inserir o aluno na sala de aula, é necessário fazer com


que este participe das atividades propostas, e para isso o professor precisa adaptar
a atividade dependendo do seu nível de aprendizagem. Sassaki (1997, p. 122):

Educação Inclusiva significa provisão de oportunidades equitativas a todos


os estudantes, incluindo aqueles com deficiências severas, para que eles
recebam serviços educacionais eficazes, com os necessários serviços
suplementares de auxílios e apoios, em classes adequadas à idade em
escolas da vizinhança, a fim de prepará-los para uma vida produtiva como
membros plenos da sociedade.

É preciso que os profissionais estejam cientes das dificuldades que a pessoa


com TEA tem em muitos ambientes, inclusive no educacional, esse é um dos
grandes motivos pelo qual vemos a importância de desenvolver programas
alternativos e estratégias metodológicas. A condição principal para uma melhoria
constante no estudante com necessidade educacional especial é o respeito por suas
singularidades e profissionais treinados e capacitados para ajudar nas diferentes
formas e estilos de aprendizagem.

4- CONCLUSÃO

Por meio da pesquisa realizada pôde-se perceber que a educação inclusiva


ainda é algo bem complexo e no que se refere ao autismo, ainda há muito o que se
aprender para poder ensinar. As pesquisas continuam em busca das melhores e
mais eficazes formas de intervir no aprendizado do indivíduo com necessidades
30

educacionais especiais e cabe ao educador buscar estar sempre atualizado


buscando os conhecimentos necessários para incluir o aluno com necessidade
especial. Além disso é preciso conhecer as particularidades do educando, a partir de
uma observação e assim aplicar a metodologia mais adequada.
Nessa pesquisa foi enfatizado que as propostas metodológicas
comportamentalistas vem mostrando eficácia no desenvolvimento das habilidades e
da aprendizagem do estudante autista, auxiliando de forma consistente no processo
de inclusão escolar desse indivíduo. Sendo assim é preciso que as escolas façam
adaptações curriculares para que esses alunos além de serem inseridos, sejam
incluídos, pois a educação de qualidade constitui um direito de todos.
Por fim entendemos que há muitas possibilidades para o estudante com TEA
aprender. Essas pessoas precisam de instruções claras, objetivas e se necessário o
uso de imagens. É de fundamental importância que as instituições trabalhem com
mais frequência as temáticas sobre inclusão, para assim romper as barreiras que os
profissionais da educação enfrentam em seu dia-a-dia propondo o aprofundamento
na compreensão do processo de desenvolvimento das pessoas com TEA.

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