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Versam os presentes autos sobre AÇÃO DE CONCESSÃO DE

AUXÍLIO DOENÇA – SEGURADO OBRIGATÓRIO c/c


PEDIDO DE CONVERSÃO EM APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ, movido por IOLANDA FERNANDES
MIRANDA, em face de INSTITUTO NACIONAL DA
SEGURIDADE SOCIAL - INSS.

Aduz em suma a parte autora que se enquadrar em todos os


requisitos legais para fazer jus a Auxílio-Doença e conversão em
aposentadoria por invalidez, pois se diz acometida de patologias
como Espondilose Degenerativa grave (CID 10 M47.2),
Osteoporose (CID 10 M81), Cisticercose do Sistema Nervoso
Central (CID 10 B69.0) e Epilepsia (CID 10 G40.9), que lhe
causam extrema dor, desconforto e dificuldade para exercer suas
atividades habituais. Diante disso requereu junto ao Instituto réu,
em 12/03/2019, a concessão de Auxílio-Doença, registrado sob o
NB: 627.075.569-0, que restou indeferido sob o argumento de que
não fora constata a incapacidade laborativa da requerente.

Afirma que se trata de uma dupla faceta nesta relação patologia-


trabalho: de um lado a doença possui o condão de impossibilitar o
exercício da atividade, e de outro, a própria ocupação, além de
agravar o estado incapacitante, é o parâmetro para estabelecer a
incapacidade, e que não tem condições de exercer outro tipo de
ocupação, pois sempre exerceu a atividade rural, pois de baixa
escolaridade e em razões de sua enfermidade não tem condições
de reabilitar-se em outras atividades.

Postula em juízo pela concessão do benefício.

Deferido a Justiça Gratuita ao requerente, bem como determinada


a avaliação do autor à perícia médica a ser realizada pela JUNTA
MÉDICA DO ESTADO DO TOCANTINS.

Laudo pericial juntado (evento 44).

Apresentada contestação (evento 55), pugnando pela


improcedência dos pedidos.
Impugnação à contestação apresentada em evento 60.

Instada a parte requerida a manifestar sobre o laudo apresentado,


esta quedou inerte.

Após, instada as partes a manifestarem sobre a a necessidade de


produção de prova em audiência, a parte requerente pugnou pelo
julgamento antecipado do mérito, quedando inerte novamente a
parte requerida.

Vieram os autos conclusos.

É o que importa a relatar.

Pois bem, passo à análise do mérito.

Entendo que o feito comporta julgamento no atual estado em que


se encontra, nos moldes do art. 355 do código de Processo Civil,
in verbus:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo


sentença com resolução de mérito, quando:

I - não houver necessidade de produção de outras provas;

No presente caso não há necessidade de produção de novas


provas, posto que as parte não demonstram interesse em produção
de provas em audiência.

Constato ainda que há provas suficientes nos autos que formem o


convencimento deste juízo acerca da lide.

Constato que não há preliminares argüidas pelas partes ou


quaisquer óbices processuais que impeçam a análise do mérito,
motivo pelo qual considero estas como superadas.

Passo à análise do mérito.

DO MÉRITO
Em suma o pedido da parte autora se resume ao retabelecimento
do auxílio doença e sucessivamente à Aposentadoria por
Invalidez.
a autora sempre exerceu atividade de caráter rural, não possuindo quaisquer tipos de
vínculos urbanos junto ao CNIS, e tendo sempre residindo em ambiente rural, conforme
comprovantes de endereço juntados, que remontam ao ano de 2010, e demonstram
constância da residência no PA Baroneza desde 2017.

Legalmente, o benefício de Aposentadoria por Invalidez encontra


fundamentação no artigo 42 da Lei 8.213/1991, in verbis:

“Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida,


quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado
que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado
incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de
atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto
permanecer nesta condição.

§1º A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da


verificação da condição de incapacidade mediante exame médico-
pericial a cargo da Previdência Social, podendo o segurado, às
suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança.

§2º A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-


se ao Regime Geral de Previdência Social não lhe conferirá
direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a incapacidade
sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença
ou lesão. ”

Já o benefício de Auxílio - Doença encontra fundamentação legal


no artigo 59 da Lei 8.213/1991, in verbis:

“Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que,


havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência
exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para
a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias
consecutivos.
Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado
que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador
da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício,
salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão
ou agravamento dessa doença ou lesão. ”

Analisando os dispositivos legais retromencionados, é possível


destacar três requisitos comuns para a concessão de qualquer
benefício por incapacidade. São eles:

I) A qualidade de segurado da parte requerente;        

II) O cumprimento da carência de 12 contribuições mensais, salvo


exceções legalmente previstas;

III) A presença de incapacidade laborativa, ou seja, a


superveniência de incapacidade para a realização de qualquer
atividade que lhe garanta a subsistência;

A verificação da condição de incapacidade deverá ocorrer, em


regra, mediante exame médico-pericial, o que já se encontra
devidamente inserto no presente processo.

Realizado este exame e constatada a incapacidade para a


realização de trabalho o perito deve pronunciar-se a respeito do
grau e da duração da incapacidade, ou seja, quanto ao grau a
incapacidade será (parcial ou total) e quanto a duração ela será
(temporária ou permanente).

Nesse sentido uma incapacidade total e permanente poderá


resultar na concessão de Aposentadoria por Invalidez e uma
incapacidade parcial ou total e temporária na concessão do
benefício de Auxílio-Doença.

No caso em tela, o laudo foi parcialmente favorável a autora, mas


suficiente para o deferimento do primeiro pedido de auxílio
doença que deve ser iniciado a contar da data da realização da
perícia médica.
Isto porque o laudo foi inconclusivo quanto a sequela e lesões da
coluna da autora seriam anteriores ao laudo médico e em resposta
aos quesitos, ficou constante que a doença está estabilizada mas
não possibilita atividades atuais, situação de incapacidade parcial
e permanente, sem prazo definido de recuperação, mas é possível
atividades mínimas que não demandem peso e reabilitação a
atividades de baixo esforço físico, o que indica que precisa de
auxilio doença até que complete a idade mínima para se aposentar
oficialmente como segurada-especial, na qualidade rural.

Isto porque encontra-se esta impossibilitada de exercer sua


atividade rotineira, mas somente com conclusão médica que
venha convencer este juízo que seja a partir do laudo médico
pericial, diante da resposta do item 8.2 do laudo acostado no
evento 44.
8.2) É possível a existência de incapacidade laboral em momento
anterior à perícia médica judicial? Se “sim”, especifique, ainda que de
modo estimado, qual o período de incapacidade (possível data do
surgimento e do término da incapacidade ao trabalho)? não.

Não se aplica a súmula n.º 47 da TNU, em completude, mas por


interpretação lógica ao segundo pedido, por questão de
ponderação das provas coligidas aos autos, pois a autora é uma
pessoa de baixa escolaridade e está quase completando os 55
anos, idade limítrofe para que seja contemplada com
aposentadoria rural por idade.

“uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o


juiz deve analisar as condições pessoais e sociais do segurado
para a concessão de aposentadoria por invalidez.”.

No caso concreto, entendo que deve priorizar a perícia médica em


razão dos testemunhos colacionados aos autos, pois as
testemunhas não possuem qualificação médica para atestar a real
condição de saúde da requerente.

As testemunhas arroladas aos autos disseram as seguintes


informações:
Inocêncio: Comprovou que Iolanda morava no assentamento pé
do morro e depois no assentamento água viva, Baronesa, corrigiu,
por quatro cinco anos . Disse que hoje ela não trabalha mais não,
por causa de problema de coluna que travou e está muito doente, e
disse que em três anos para cá ficou com este problema e não
resistiu mais não. Afirmou que Iolanda apenas trabalha na roça e
não trabalhou em vínculo urbano e que depois que mudou para o
assentamento baronesa teve dificuldades no trabalho rural.

José Carlos: Disse que ela morou no assentamento Baronesa, com


a mãe dela. Disse que de três anos para cá adoeceu e trabalhava
em roça. Que não trabalha de ASG e com terceiros, não tem casa
na cidade, nunca morou na cidade em casa de amigo e ou
conhecido, que é casada e este esposo trabalha também em roça.
Não tem caseiro, maquinário pesado e a roça é de toco, e não sabe
se tem gado, talvez duas ou três vaquinhas, pouca galinha, casinha
de palha e pequena.

Observando o caso concreto, considero que é caso de ser


concedido o auxilio doença a partir da data da perícia judicial, nos
termos de julgados do TRF 1ª Região, que fundamentam esta
conclusão, verbis:

“PREVIDENCIÁRIO. RESTABELECIMENTO DE AUXÍLIO-


DOENÇA. INCAPACIDADE PARCIAL E TEMPORÁRIA.
RECURSO CONHECIDO PROVIDO. 1. Será concedido auxílio-
doença ao segurado considerado temporariamente incapaz para o
trabalho ou sua atividade habitual, de forma total ou parcial,
atendido os demais requisitos legais, entendendo-se por
incapacidade parcial aquela que permita sua reabilitação para
outras atividades laborais. 2. O perito foi enfático ao afirmar que,
o autor não está incapacitado, apesar de haver redução da
capacidade laboral, sendo que ele tem dificuldades para
readaptações laborais pela idade e escolaridade (quesitos "h.1,
"l.2"). 3. Particularmente, entendo que diminuição da capacidade
laboral é sinônimo de incapacidade parcial. 4. Ademais, no caso
em apreço, trata-se de lavrador, com 59 anos de idade (nascido
em 22.09.1949), baixa escolaridade, pouca qualificação
profissional o que certamente dificulta o exercício de outra
atividade laborativa. 5. Sentença reformada para restabelecer o
benefício a partir da cessação administrativa. 6. Sem ônus de
sucumbência.(AGREXT 0012844-71.2007.4.01.4300,
ADELMAR AIRES PIMENTA DA SILVA, TRF1 - PRIMEIRA
TURMA RECURSAL - TO, DJTO Publicação 19/08/2009.)

PREVIDENCIÁRIO. RESTABELECIMENTO. AUXÍLIO-


DOENÇA. INCAPACIDADE PARCIAL E PERMANENTE.
BENEFÍCIO DEVIDO. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Comprovada a incapacidade
para o trabalho, ainda que parcial, o segurado faz jus à concessão
do auxílio-doença. 2. Já que a lei não faz distinção, para fins de
concessão de auxílio-doença, entre incapacidade parcial e
incapacidade total, não cabe ao judiciário fazê-lo. 3. A conversão
de auxílio-doença em aposentadoria por invalidez está
prejudicada, considerando que a autora não está incapacitada total
e permanentemente para o trabalho. 4. Sentença parcialmente
reformada para restabelecer o auxílio-doença a partir da cessação
indevida (31/12/2005). 5. Recurso conhecido e parcialmente
provido. 6. Sem ônus de sucumbência.
(AGREXT 0008299-55.2007.4.01.4300, ADELMAR AIRES
PIMENTA DA SILVA, TRF1 - PRIMEIRA TURMA
RECURSAL - TO, DJTO Publicação 25/06/2009.)

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. CONVERSÃO EM


APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. INCAPACIDADE
PARCIAL. INÍCIO DO BENEFÍCIO. RECURSO IMPROVIDO.
1. O auxílio-doença é devido ao segurado que se encontre
incapacitado para o exercício do seu trabalho ou de sua atividade
habitual por mais de 15 (quinze) dias, que tenha cumprido a
carência de 12 (doze) contribuições e não tenha perdido a
qualidade de segurado (art. 59 da Lei 8.213/91). 2. Em perícia
médica judicial o autor com 62 anos de idade, lavrador,
apresentou laudo radiológico de 04/03/2008 com diagnóstico de
"osteofitose na coluna cervical", atestado médico de 05/03/2008
com diagnóstico de "espondiloartrose dorsal e osteofitose", e
exame de retinografia de 14/07/2000 com diagnóstico de "oclusão
de ramo de veia central de retina olho direito" (cegueira total
neste olho). Diagnóstico do perito: "dorsalgia" (CID 10 - M 54) e
"lumbago com ciática" (CID - 10 M 54.4). Patologias que tendem
ao agravamento e progressão, reduzindo a capacidade laborativa.
O perito conclui pela incapacidade parcial e temporária, ficando o
autor limitado, mas não impedido de realizar atividades habituais,
necessitando de tratamento médico. 3. Caracteriza incapacidade
parcial a existência de limitações para o exercício da atividade
habitual, como a impossibilidade de um lavrador, desempenhar
atividades que exijam esforços físicos, sendo improvável outro
tipo de atividade diante de qualificação e das limitações físicas.
Caso em que o perito confirma a "redução da capacidade
laborativa". 4. Considerando que a prova pericial realizada no dia
06/03/2008 constatou que o autor apresenta capacidade laborativa
parcial e temporária, e que os exames apresentados por ocasião da
perícia (RX e atestado médico) são datados também do mês de
março de 2008, impõe-se reconhecer que a parte autora faz jus ao
benefício a partir da data da juntado do laudo pericial
(07/03/2008). 5. É incabível a concessão de aposentadoria por
invalidez, eis que se trata de mera incapacidade parcial (art. 42, L.
8.213/91). 6. Sentença mantida pelos próprios fundamentos. 7.
Sem custas. Precedentes da Turma. 8. Sem condenação em
honorários advocatícios, pois não houve contra-razões.(AGREXT
0011286-64.2007.4.01.4300, ANA PAULA MARTINI
TREMARIN WEDY, TRF1 - PRIMEIRA TURMA RECURSAL
- TO, DJTO Publicação 20/07/2009.)

Portanto, mister a procedência parcial dos pedidos da parte autora,


para tão somente reconhecer o restabelecimento do auxílio
doença.

DECIDO
Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os
pedidos da parte autora COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, nos
moldes do art. 487, do Código de Processo civil, para:

Condenar a parte requerida tão somente ao restabelecimento do


benefício previdenciário de Auxílio Doença, bem com ao
pagamento à parte autora do benefício de auxílio doença, a contar,
da data em que foi realizada a perícia judicial, em 13 de
novembro de 2020.

Diante da sucumbência, condeno o INSS a pagar honorários


advocatícios, fixados em 10% (dez por cento) do valor das
parcelas vencidas até a sentença (Súmula 111 do STJ),ficando
isento das custas e despesas processuais, conforme dispõe o artigo
8º, § 1º, da lei 8.621/93.

Ante a natureza alimentar de que se reveste o benefício pleiteado,


emerge nítida também a urgência da prestação jurisdicional. Por
esse motivo, com fulcro no art. art. 300 do Código de Processo
Civil, concedo antecipação dos efeitos da tutela, determinando
que o INSS implante o benefício pleiteado para a parte autora no
prazo de 15 (quinze) dias, a contar da intimação desta sentença,
sob pena de imposição de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos
reais) até o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Conforme, então, o determinado como precedente dos Tribunais


Superiores a que o juízo encontra-se vinculado estipulo que a
correção monetária deve ser calculada com base no IPCA-E, a
partir do vencimento de cada parcela, mês a mês, enquanto que os
juros de mora devem seguir o índice de remuneração da caderneta
de poupança, a partir da citação válida(súmula nº 204/STJ).

Custas não são devidas ante a isenção de que goza o réu, bem
como pelo fato de ser o autor beneficiário da Justiça Gratuita.

A Autarquia Previdenciária deverá no prazo de 60 (sessenta) dias,


apresentar os cálculos dos valores atrasados, de acordo com os
parâmetros mencionados no item "IV".
Apresentados os cálculos, ouça a parte autora em de 10 (dez) dias.

Não havendo discordância e após o transito em julgado, expeça-se


RPV.

Publique-se. Registre-se. Intime-se., oportunamente, arquivem-se


os autos.

Pedro Afonso/TO, datado pelo sistema.

Juíza LUCIANA COSTA AGLANTZAKIS

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