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AO JUIZO DO TRABALHO DA 17ª VARA DO TRABALHO DE MANAUS –

AMAZONAS.

Processo: 000324-37.2020.5.11.0008

FABRICIO ALVES FEITOSA, já devidamente qualificado nos autos da

Reclamatória que move em face de ENVISION INDÚSTRIA DE PRODUTOS

ELETRÔNICOS LTDA, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, em atenção ao

despacho (id cb7a96a), apresentar IMPUGNAÇÃO AO LAUDO PERICIAL, nos

seguintes termos:

DA OMISSÃO DOS FATOS TRAZIDOS EM SEDE DE LAUDO PERICIAL

Em que pese a qualidade do laudo e a análise do caso concreto, o Reclamante

ousa discordar da conclusão pericial nos pontos em que afirma a inexistência de nexo

concausal entre a alegada patologia e o trabalho desenvolvido pelo reclamante, não obstante

ter sido considerado apto para o trabalho.

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A perícia técnica ocorreu no dia 10/11/2021 às 13h00, em razão das doenças

apresentadas pelo Reclamante, como tendinopatia da cabeça longa do bíceps, bursite

subacromial/subdeltoidea, tendinoplatina do supra espinhal, região lombar da coluna

vertebral: abaulamento discal difuso em l4-l5, desvio de eixo a direita em decúbito, ausência

de fusão dos elementos posteriores de s1, variante anatômica.

Durante a perícia, restou evidente a necessidade do Reclamante realizar

movimentos repetitivos, os quais consistiam em levar e trazer o matrim com paletes para

inspeção das peças.

Antes de adentrar a impugnação específica do laudo, é necessário que se faça

algumas ponderações.

No que tange ao laudo, com todo respeito ao trabalho realizado pela Douta Perita

designada, o Reclamante discorda das conclusões apresentadas, tendo em vista que não

foram considerados os fatos relatados na inicial.

Cumpre salientar que este juízo não está adstrito ao laudo pericial. Desta feita, o

notório saber jurídico e conhecimentos aplicados à razoabilidade e proporcionalidade são

suficientes para o R. Juízo embasar seu posicionamento, contemplando ao autor com o

reconhecimento do seu direito.

Agora, basta fazermos uma simples conta matemática, utilizando apenas o que foi

considerado no r. laudo como as atividades desempenhadas pelo obreiro, podemos mensurar

quão repetitiva e desgastante era o labor do Reclamante, que precisava exercer atividades que

exigiam esforço em relação aos braços, pernas e coluna, o que acabou agravando seus

problemas de saúde.

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Não há registro no r. laudo de que as funções exercidas pelo reclamante não foram

desempenhadas de forma repetitiva, ou se a reclamada dispunha de um ambiente de trabalho

ergonômico.

Conforme imagens retiradas do laudo pericial, percebe-se que os paletes

colocados sobre no matrim não podem ser carregados por apenas uma pessoa em razão de seu

peso e tamanho, visto que as caixas de cima precisam ser retiradas e colocadas no chão para

que a inspeção das peças possa ser realizada. Senão vejamos:

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Embora a Sra. Perita faça questão de deixar registrado a existência de

documento de treinamento onde determinava que o obreiro não poderia ficar levando e

trazendo o matrim em decorrência de sua patologia, há clara omissão ao deixar de

informar que o Reclamante não tinha alternativa, senão exercer as atividades que lhe

eram imputadas.

Ou seja, mesmo a Reclamada estando ciente da patologia existente, haja vista

o Reclamante ter sido contratado como PCD, permitiu que o Autor exercesse atividades

prejudiciais à sua saúde.

Por conseguinte, vale lembrar que a referida patologia não impediu a

Reclamada de fornecer a palmilha e bota compensatória com atraso, se passando o

período de mais de um ano para que pudesse ter acesso a solicitação, o que lhe trouxe

pioras em sua saúde, visto que passava 70% de suas atividades laborais em pé, sem a

utilização da palmilha.

Cumpre informar que a palmilha mencionada atua como compensador da

diferença de comprimento das pernas com uma elevação no retro pé, e, consequentemente,

realinha todo o corpo e elimina todas as dores, além de prevenir a progressão dos

desalinhamentos. Servem também para compensar a diferença entre as pernas, de forma que a

bacia fique mais nivelada.

Nesse sentido, a falta da respectiva palmilha acarretou nas seguintes

consequências: a espinha ilíaca anterior e posterior ficam mais baixas no lado da perna mais

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curta, o que por sua vez resultou no surgimento de dores, bem como a desestabilização da

pélvis e da coluna vértebra, causando desnivelamento sacral e/ou escoliose.

Ressalta-se ainda, que são colocados aproximadamente 3 (três) paletes de 30kg

(cada) por jornada para que as ruas (corredores) fossem alimentadas. O Reclamante era

obrigado a fazer várias viagens levando e trazendo o matrim até o estoque.

Ocorre que as atividades desempenhadas pelo Reclamante eram de

conhecimento de todos, principalmente de seus superiores, uma vez que inexistia a

possibilidade desempenhar tais atividades escondido, sem ser visto pelos setores que

transitava nas dependências da empresa Ré.

O documento citado comprova o impedimento do Reclamante manusear o

matrim em decorrência da patologia preexistente, entretanto, isso não ocorria, o que ficou

comprovado durante a realização da perícia. Evidenciada a ausência de restrição imposta pela

Reclamada, por meio de seus encarregados.

Tendo em vista que a Síndrome do Túnel do Carpo tem origem em âmbito do

trabalho, em razão das atividades prejudiciais aos membros superiores, esta lesão é

caracterizada como doença profissional ou doença do trabalho equiparável a acidente de

trabalho, tendo o empregado enfermo direito à estabilidade acidentária.

Dessa forma, impossível classificar o esforço como não repetitivo, ou que o

impacto do peso ao retirar os paletes sobre o matrim não causem nenhum tipo de dano ao

trabalhador, uma vez que a atividade é realizada diariamente, como mencionado no próprio

laudo pericial.

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Segundo o laudo pericial, os movimentos desenvolvidos pelo Reclamante exigiam

esforço de flexo-extensão dos ombros na atividade de retirar do matrim as caixas de display, o

que, diferente do que foi informado no laudo, não era realizado de forma ocasional e sim, de

forma frequente, considerando a necessidade diária de posicionar as caixas sobre os paletes,

bem como retirá-las para que a última caixa sobre o matrim pudesse ser vistoriada.

Ainda que o Reclamante tenha entrado no quadro da empresa como PCD, não

deixou de exercer funções que exigiam esforço e movimentos repetitivos, como já narrado no

processo.

Não há registro anterior de tentativas de resolver o problema apresentado pelo

Autor, pelo simples fato de não haver qualquer preocupação por parte da Reclamada quanto à

saúde de seus colaboradores.

Ressalta-se a ausência de cuidado e zelo pela saúde do Reclamante, levando em

consideração o período de mais de um ano para que tivesse acesso a solicitação médica de

palmilha compensatória, necessária para as atividades diárias realizadas em pé.

Conforme restou consignado na inicial, o Reclamante desempenhou trabalhos

manuais e repetitivos. Todavia, tais fatos foram desprezados na r. perícia, mesmo diante de

provas apresentadas e perícia no local de labor da empresa Ré, ainda que restou comprovado

no laudo pericial a incapacidade do Reclamante que permanece enfermo e com incapacidade

laboral parcial, bem como pontuou a nobre perita.

Dessa maneira, configurado o adoecimento do Reclamante e constatada a sua

incapacidade, qual o fato gerador do seu adoecimento? Como afirmar que somente decorre de

cunho degenerativo? Questões que divergem do laudo em questão que apresentou omissões,

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mesmo diante das evidencias apresentadas, inclusive durante a realização da perícia judicial.

Logo, com todo o respeito, não se pode concordar com essa conclusão pericial.

O objeto dos autos é justamente o reconhecimento do nexo entre o trabalho e o

agravamento da doença do obreiro. Não se podendo desprezar que a atividade desempenhada

pelo obreiro foi determinante no agravamento do seu quadro de saúde.

Excelência, se o Reclamante apresenta dores nos ombros, nos punhos e teve seu

problema lombar agravado em razão do tempo que permaneceu sem a palmilha

compensatória, tais informações deveriam ser levadas em consideração para o apontamento

do problema de saúde sofrido pelo obreiro, haja vista que o exame pericial é a prova

justamente para esse fim, uma vez que o Reclamante exercia funções que necessitava esforço

e ações repetitivas.

A doença que acometeu o Reclamante foi também resultado das atividades por ele

exercidas, com a exigência de exacerbado esforço físico, evidenciando o nexo concausal,

conforme restou comprovado durante perícia in loco.

Ademais, a prova pericial demonstra a incapacidade laborativa parcial e, quanto

ao nexo de causalidade, houve configuração de concausa, porquanto as patologias do

Reclamante, ainda que crônico-degenerativas, foram agravadas pelas funções que ela

desempenhou na empresa reclamada.

A reclamada não comprovou que o Reclamante submetia-se a exames periódicos

capazes de detectar a existência de lesões, minimizando os riscos para a sua saúde e

facilitando a adequação das condições de trabalho do recorrido, de modo que o próprio

trabalho em si não se tornasse um agravante da doença.

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Além disso, a empresa Ré não conseguiu comprovar que agiu de modo a excluir

do ambiente laboral os fatores agravadores do quadro clínico apresentado pelo Reclamante.

Ressalta-se que há nexo causal entre as atividades exercidas pelo Reclamante,

levando em conta os movimentos repetitivos, ensejando a responsabilidade da empresa Ré

pela omissão ao deixar de adotar medidas coletivas e individuais de proteção à saúde ao

trabalhador. Dessa forma, as conclusões da perita não podem prevalecer.

Em consonância aos fatos narrados e provas apresentadas durante o processo, não

há de se falar em inexistência de influência ocupacional nos diagnósticos trazidos a baila.

Em consideração as provas juntadas no processo, bem como a ampla narrativa da

exordial, não se pode, diante de ato ilícito e de culpa ou dolo da Reclamada deixar de concluir

pela conexão entre as atividades desempenhados pelo Reclamante corroboraram com as

doenças em questão.

Por tais razões não pode ser aceita a conclusão apontada pela Ilustre Perita, afinal

de contas há incapacidade laborativa do auto e total nexo com as atividades desempenhadas

na reclamada.

Assim, em contrapartida as contradições e omissões apontadas até o momento e

trazem dúvidas sobre o laudo final ofertado, requer que se digne intimar o D. Perita para

prestar os esclarecimentos necessários, a fim de que possa, com isenção, rever as suas

conclusões.

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Ademais, impugna o presente laudo pericial, sendo necessário sejam os autos

remetidos novamente à Expert., para que as contradições e omissões apontadas sejam

efetivamente esclarecidas, como medida de costumeira e salutar Justiça.

Nesses termos, pede deferimento.

Manaus/AM, 10 de fevereiro de 2022.

_____________________________________
ANDRADE FILHO & PEREIRA ADVOGADOS

______________________________________
ELSON RODRIGUES DE ANDRADE FILHO

OAB/AM 5753

_____________________________________
RONALDO GOMES PEREIRA
OAB/AM 9187

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