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I – RELATÓRIO
Seu outro neto, Breno, não ficou satisfeito com o testamento, enquanto seu irmão, Bryan,
fez seu próprio testamento em favor de Renato, mesmo sendo menor de idade (17 anos).
Toda a situação é agravada pelos direitos das pessoas portadoras de deficiência na família:
Renato (síndrome de Edwards), Agenor (síndrome de Down), Saraia (esquizofrenia
catatônica) e Breno (esquizofrenia catatônica leve).
II – FUNDAMENTAÇÃO
Tal presunção acarreta na inexistência de direito sucessório entre Samuel e Caetano. Assim
sendo, é preciso analisar os dispositivos legais que versam acerca da sucessão para os
demais herdeiros. Quanto aos herdeiros de Caetano, aplica-se o disposto pelo artigo
1790/CC-02:
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro,
quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas
condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por
lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade
do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da
herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.
Dessa forma, considerando que Bryan fez seu testamento enquanto relativamente incapaz,
o seu testamento é válido, dado o artigo 1860 do CC-02:
Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não
tiverem pleno discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos . (Grifo nosso)
É importante ressaltar que Renato deverá ser representado por Ritinha para a administração
dos bens recebidos. Na hipótese de menor de idade, enquanto absolutamente incapaz
(artigo 3° do CC-02) e na hipótese de maior de 16 anos, como portador da síndrome de
Edwards, pela consideração legal do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13146/2015):
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua
capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela,
conforme a lei.
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de
decisão apoiada.
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva
extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e
durará o menor tempo possível.
§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua
administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.
Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de
natureza patrimonial e negocial.
§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade,
ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as
razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado.
§ 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o
juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva
ou comunitária com o curatelado. (Grifo nosso)
III – CONCLUSÃO
Tendo em vista todo o acima exposto, opino, no caso concreto, que não há direito
sucessório aplicado a Samuel, dada a inexistência de herdeiros comorientes entre si, haja
vista o artigo 8° e o livro V “Do Direito das Sucessões” do CC-02. Tal conclusão é amparada
pelas decisões do TJMG em casos semelhantes, tais como a AC 10216130033386004 MG
e o AI 10702095863537001 MG.
Dessa forma, o patrimônio de Caetano deve ser dividido entre seus herdeiros, no caso de
regime convencional de separação de bens, conforme artigo 1829 do CC-02, a saber:
● Metade do patrimônio (R$500.000,00 - quinhentos mil reais) ao Renato,
considerando o testamento registrado por Caetano, o disposto no artigo 1789/CC-02;
● Um quarto do patrimônio (R$250.000,00 - duzentos e cinquenta mil reais) à Araci,
esposa do falecido Caetano; e
● Um quarto do patrimônio (R$250.000,00 - duzentos e cinquenta mil reais) à Ritinha,
filha do falecido Caetano.
Quanto ao patrimônio de Bryan,desde que seja solteiro e não tenha filhos na ocasião de sua
morte, deverá ser dividido, a saber:
● Metade do patrimônio (R$500.000,00 - quinhentos mil reais) a Saraia (vide artigo
1846/CC-02, que disponibiliza metade do patrimônio aos herdeiros necessários,
independente de testamento); e
● Metade do patrimônio (R$500.000,00 - quinhentos mil reais) a Renato, dada a
validade de seu testamento abordado pela fundamentação deste parecer.
Deve ser observada a necessidade de curador para que Saraia e Renato exerçam seus
direitos patrimoniais, enquanto portadores de deficiência.
É o parecer. S.m.j.