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Respostas-modelo – 1º teste de direito da família

Catarina Serra| A91478

União de facto
O art.1576º apresenta um elenco taxativo relativo às relações jurídicas familiares, não
incluindo neste elenco a união de facto. Durante muito tempo, apenas se consideravam como relações
familiares as elencadas nesta norma, porém, hoje em dia, ao abrigo de outros preceitos normativos
existem outras relações jurídicas familiares, não elencadas no art.1576º. É o caso da união de facto,
relação jurídica familiar por força do art.26º e 36º CRP.
A união de facto está regulada na lei 7/2001, de 11 de maio sendo esta a situação jurídica de 2
pessoas que, independentemente do sexo, vivam em condições análogas à dos cônjuges há mais de 2
anos (art.1º/nº2 lei 7/2001), ou seja, vivam há mais de 2 anos em comunhão de leito, mesa e habitação
(aparência externa de casamento). É de notar que, ao contrário do casamento, a união de facto não
está sujeita a registo, pois não consta no art.1º CRegCivil. Assim, devemos analisar a dissolução da
união de facto e quais os seus efeitos e implicações.
Em 1º lugar, para que haja união de facto têm de estar preenchidas as suas condições de
eficácia: (1) os sujeitos vivam em condições análogas à dos cônjuges; (2) há mais de 2 anos; (3) não
se verifique nenhum impedimento a esse estabelecimento da união de facto (art.2º lei 7/2001).
Em relação aos efeitos patrimoniais da união de facto não existe nenhum conjunto de
disposições legais que regulem esta matéria, pois do ponto de vista legal os unidos de facto são
estranhos entre si, uma vez que não estabeleceram nenhum vínculo, como ocorre no casamento. Desta
forma, como não temos um regime especial, vamos ter de nos guiar pelo regime geral, ou seja, pelos
direitos reais e obrigacionais.
Nos termos do art.8º lei 7/2001 as uniões de facto também podem terminar, seja por vontade
de um dos seus membros, por falecimento de um deles ou por casamento de um deles. Nos casos de
rutura da união de facto por vontade de um dos seus membros, o art.8º/nº2 lei 7/2001 estabelece que
não é necessária a instauração de uma ação judicial para dissolver a união de facto, só o será
necessário caso algum deles pretender fazer valer direitos que dependem dela, aí sim, será necessário
a instauração de uma ação judicial.
Em caso de rutura da união de facto existe uma proteção especial da casa de morada de
família, nos termos do art.4º lei 7/2001. Assim, este artigo estabelece que em caso de rutura da união
de facto é aplicável, com as necessárias adaptações, o art.1105º e 1793º CC. O art.1105º aplica-se aos
casos em que a casa de morada de família é arrendada, estabelecendo que “incidindo o arrendamento
sobre a casa de morada de família, o seu destino é, em caso de divórcio ou separação judicial de
pessoas e bens, decidido por acordo dos cônjuges, podendo estes optar pela transmissão ou pela
concentração a favor de um deles”, sendo que na falta de acordo cabe ao Tribunal decidir, tendo em
conta a necessidade de cada um, os interesses dos filhos e outros fatores relevantes; e o art.1793º aos
casos em que a casa de morada de família é própria do outro unido de facto ou comum, estabelecendo
que “pode o Tribunal dar de arrendamento a qualquer dos cônjuges, a seu pedido, a casa de morada de
família, quer seja comum, quer seja própria, considerando, nomeadamente, as necessidades de cada
cônjuge e o interesse dos filhos do casal”.
Em caso de morte, também existe proteção da casa de morada de família em relação ao unido
de facto sobrevivo, nos termos do art.5º lei 7/2001. Assim, o membro sobrevivo pode permanecer na
casa, pelo prazo de 5 anos, como titular de um direito real de habitação e de um direito de uso de
recheio (art.5º/nº1 lei 7/2001), sendo que em caso da união ter começado à mais de 5 anos antes da
morte estes direitos são conferidos por tempo igual ao da duração da união, ou seja, se a união de
facto durava à 10 anos antes de ocorrer a morte de um dos unidos de facto, o outro tem direito a
permanecer na casa e usar do seu recheio durante 10 anos (nº2). Excecionalmente, e por motivos de
equidade, o tribunal pode prorrogar estes prazos atendendo às situações do caso concreto (nº3). No
entanto, pode ocorrer que estes direitos caduquem caso o interessado não habitar a casa por mais de 1

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ano, salvo se a falta de habitação for devida a motivo de força maior (ex. doença que o faça
permanecer em hospital ou clínica de reabilitação por mais de 1 ano) (nº5). Por outro lado, o direito
real de habitação não é conferido nos casos em que o membro sobrevivo tiver casa própria na área do
respetivo concelho da casa de morada de família (nº6). Esgotado o prazo em que beneficiou do direito
real de habitação este tem o direito de permanecer na casa a título de arrendatário (nº7), tendo também
o direito de preferência em caso de alienação do imóvel durante o período que o habitar a qualquer
título (nº9).

Casamento católico vs casamento civil em relação ao divórcio


O casamento é um contrato celebrado entre 2 pessoas que pretendem constituir família
mediante uma plena comunhão de vida, nos termos do art.1577º. As partes deste contrato ficam
vinculas reciprocamente pelos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência
(art.1672º). Trata-se de uma comunhão de vida exclusiva (art.1601 (c)) e não livremente dissolúvel
(art.1773º).
Em Portugal, as pessoas tanto podem casal civilmente como catolicamente, existindo um
sistema de casamento civil facultativo na 2ª modalidade, em que o casamento católico não é apenas
outra forma de celebração do casamento, mas também um instituto diferente. Assim, o casamento
civil e o casamento católico são institutos jurídicos diferentes, regidos por disposições legais
diferentes- o primeiro é regido pelas normas de direito civil e o segundo pelas normas de direito
canónico.
Nos termos do cânone 1057º, 2º parágrafo, o casamento católico é o ato de vontade pelo qual o
homem e a mulher, por pacto irrevogável, se entregam e recebem mutuamente, a fim de constituírem
matrimónio. Ora, até 1975, vigora em Portugal a Concordata de 7 de maio de 1940, celebrada entre a
Santa Sé e a República Portuguesa, estabelecendo no seu art.24º que os cônjuges que casaram
catolicamente renunciaram ao à faculdade civil de requerem o divórcio, que não poderá ser aplicado
pelos Tribunais civis aos casamentos católicos. Pouco tempo depois entra em vigor o Código de
Seabra (1966) que no seu art.1790º reproduzia a ideia presente no art.24º da Concordata, ou seja,
aqueles que casavam catolicamente renunciavam à possibilidade de se divorciar.
Posteriormente, surge um diploma fundamental- a Constituição da República Portuguesa de
1976- trazendo consigo uma norma inovadora e relevante nesta matéria, ou seja, o art.36º/nº2 CRP
estabelecendo que “qualquer modalidade de casamento pode ser sujeita ao divórcio”. Tal norma
conduz à reforma de 1977 do Código Civil. Assim, casos os cônjuges pretendessem por termos ao
casamento católico antes da entrada em vigor Protocolo Adicional de 1975 não o poderiam fazer pois
nesta altura ainda estava em vigor a Concordata de 1940 que proibia o divórcio nos casamentos
católicos. Caso pretendessem divorciar-se depois da entrada em vigor deste Protocolo já o poderiam
fazer.

Casamento católico
O art.1577º define casamento civil como um contrato celebrado entre 2 pessoas que
pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, sendo este uma das fontes das
relações jurídicas familiares (art.1576º).
Já o casamento católico é definido pelo cânone 1057º, 2º parágrafo, como o ato de vontade
pelo qual o homem e a mulher, por pacto irrevogável, se entregam e recebem mutuamente, a fim de
constituírem o matrimónio, sendo que no âmbito deste existem 3 considerações essenciais: (1) a
procriação e educação dos filhos (bonum prolis) - cânone 1055º; (2) mútua fidelidade entre os
conjuges (bonum fidei) - cânone 1096º; (3) indissolubilidade do casamento (bonum sacramenti)-
cânone 1055º. Assim, quem casa catolicamente deve respeitar estas considerações essenciais, sob
pena de, ao não o fazer, estão a celebrar um casamento inválido (nulo) na perspetiva dos Tribunais

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Eclesiásticos (cânone 1101º, 2º parágrafo), pois a nulidade dos casamentos católicos vai ser apreciada
exclusivamente por estes (art.1625º CC).
Ora, no casamento civil não existem tais considerações, existindo apenas os deveres conjugais
entre os cônjuges, nomeadamente, o dever de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e
assistência (art.1672º).

Casamento católico celebrado depois de casamento civil


Quem casa catolicamente pretende atribuir os efeitos conferidos pelo direito canónico ao seu
casamento. No entanto, pode acontecer que já exista um casamento civil anterior, situação muito
frequente, porque o casamento civil não produz efeitos católicos, ao contrário do que acontece com o
casamento católico que já produz efeitos civis, já que o nosso sistema é o casamento civil facultativo
na 2º modalidade.
Em termos de registo, quando é celebrado um casamento civil há lugar a registo por inscrição
(art.52º (e) CRegCivil). Normalmente, no casamento católico, o registo é feito por transcrição
(art.53º/nº1 (c) CRegCivil).
No entanto, quando temos um casamento católico antecedido de um casamento civil devemos
aplicar o art.1589º/nº1 CC e art.179º/nº1 e 53º/nº3 CRegCivil, pois o casamento católico contraído por
2 pessoas já ligadas entre si por casamento civil não dissolvido é averbado ao assento,
independentemente de processo preliminar de casamento (não é necessário pois o mesmo já foi
realizado para ser possível a realização do casamento civil). O averbamento, neste caso, está previsto
no art.70º/nº1 (a) CRegCivil, tratando-se de um registo acessório, já que o registo principal já foi
realizado por inscrição.
Ocorrendo a nulidade do casamento católico…
O conhecimento das causas respeitantes à nulidade do casamento católico e à dispensa do
casamento rato e não consumado é reservado aos Tribunais e às repartições eclesiásticas competentes
(art.1625º), sendo que o processo correspondente está previsto no art.1626º (e art.16º da Concordata
de 2004). Assim, a decisão relativa à nulidade do casamento católico, tomada pela autoridade
eclesiástica competente e verificada pelo órgão eclesiástico de controlo superior é notificada às partes,
produzindo efeitos civis a requerimento de qualquer das partes, após a revisão e confirmação, nos
termos da lei processual, pelo competente Tribunal do Estado, que determina o seu averbamento no
registo civil (art.78º e 70º/nº1 (b) CRegCivil).
No CRegCivil atual o casamento católico não “consome” o casamento civil anterior. Assim,
como a decisão de declaração de nulidade concerne apenas relativamente ao casamento católico, não
irá afetar o casamento civil, subsistindo este último. Assim, os cônjuges não podem voltar a casar
porque, em termos civis, ainda permanecem casados, caso contrário, existirá um impedimento
dirimente absoluto, com fundamento em casamento anterior não dissolvido (art.1601º (c)), que terá
como consequência a sua anulabilidade. Desta forma, é necessário que os cônjuges dissolvam o
casamento civil através do divórcio (art.1773º CC).
O divórcio serve para resolver, quer o casamento civil, quer o casamento católico (art.36º/nº2
CRP). Com ele existe uma dissolução do vínculo matrimonial, sendo competente a lei civil para
dissolver qualquer tipo de casamento. No entanto, os cônjuges só poderão voltar a casar civilmente,
uma vez que com o divórcio já não existe impedimento dirimente absoluto ao casamento, pois
catolicamente o casamento só fica dissolvido por morte, nos termos do cânone 1141º (cânones 1085º e
1806º).

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Promessa de casamento
A promessa de casamento é um contrato pelo qual 2 pessoas se comprometem a celebrar
casamento, estando previsto no art.1591º ss CC. Normalmente, o contrato-promessa terá a forma do
contrato prometido de acordo como o princípio da equiparação (art.410º). No entanto, tal não
acontece no contrato-promessa de casamento, já que o casamento é solene e o contrato-promessa é
realizado ao abrigo da liberdade de forma (art.219º), podendo as declarações negociais serem
realizadas de forma expressa ou tácita (art.217º). Ora, este contrato-promessa apresenta diversas
especificidades, sendo que para além da liberdade de forma, há impossibilidade de execução
específica, ou seja, o Tribunal não se pode substituir ao promitente faltoso e celebrar o casamento em
nome dele, pois estamos perante obrigações de natureza pessoal que se opõe à execução específica
(art.830º) - caso isso fosse possível estaríamos a violar o direito constitucional de liberdade de
contrair casamento. Outra grande particularidade é o facto de que se existir incumprimento da
promessa pode haver obrigação e uma das partes indemnizar a outra, mas estas indemnizações são
limitadas (art.1594º/nº1).
É possível romper a promessa de casamento quando exista um justo motivo. Este é um
conceito indeterminada, mas por força da doutrina, temos um justo motivo quando, segundo as
convenções sociais dominantes, não seja razoável exigir nem a continuidade do noivado, nem a
celebração do casamento, tanto por referência a um dos esposados, como a ambos. As causas que dão
azo a um justo motivo têm de ser anteriores à retratação do cumprimento da promessa, mas tanto pode
ser uma causa que existiu antes ou depois da promessa. E como estamos aqui perante uma
responsabilidade contratual há inversão do ónus da prova, ou seja, é o outro cônjuge que tem de
provar que não existe justo motivo.
Quando não exista justo motivo o esposo inocente tem direito a indemnização, bem como os
pais deste ou terceiros que tenham agido em nome dos pais, quer das despesas feitas, quer das
obrigações contraídas na previsão do casamento, ou seja, contraídas na esperança que o casamento se
viesse a realizar (art.1594º/nº1). Também há lugar a indemnização quando o casamento não se realize
por motivo de incapacidade de um dos nubentes, se ele ou os seus representantes houveram procedido
com dolo, ou seja, já sabiam que havia uma incapacidade matrimonial que impedia o casamento, mas
mesmo assim celebraram a promessa de casamento (art.1594º/nº2). Ou seja, quanto à capacidade para
promessa de casamento a lei é omissa, sendo que, pelo princípio da equiparação, só pode prometer
casamento quem o poder celebrar validamente, que ocorre quando não exista nenhum impedimento a
esta celebração. Desta forma, concluímos que este artigo limita a indemnização às despesas feitas e
contraídas na expectativa do casamento, pelo que não será possível uma indemnização por danos não
patrimoniais, ou seja, os danos não patrimoniais existem, mas não são indemnizáveis neste contexto e,
por outro lado, esta indemnização é fixada pelo arbítrio do Tribunal (art.1594º/nº3).
Por outro lado, quando o casamento não se poder realizar por incapacidade de um dos
promitentes, cada um deles é obrigado a restituir os donativos que o outro ou terceiro lhe tenha feito
em virtude da promessa e na expectativa do casamento, segundo os termos previstos para a nulidade
ou anulabilidade do negócio jurídico, ou seja, caso a restituição em espécie não seja possível, restitui-
se o montante pelo valor correspondente (art.289º/nº1 ex vi art.1592º/nº1). No entanto, a restituição só
é possível caso seja provado que existiu um nexo causal entre a doação e a expectativa de casamento,
sendo que em última instância cabe ao Tribunal analisar existiu ou não nexo causal e se é exigível a
restituição. Quanto às restituições em caso de morte temos de atender ao art.1593º.

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Por fim, o direito a exigir a restituição dos donativos ou a indemnização caduca no prazo de 1
ano, contado da data do rompimento da promessa ou da morte do promitente.
Consentimento
O regime do consentimento está previsto no art.1617ºss CC e para este ser válido tem de haver
vontade de casar e essa vontade tem de ser manifestada no momento da celebração do casamento.
Ademais, o consentimento tem de ser pessoal, puro e simples, perfeito e livre. Estas são as
características que têm de estar preenchidas para termos um consentimento válido, sendo umas
relativas à generalidade dos negócios jurídicos e outras específicas do casamento.

 Atual (art.1617º). O consentimento tem de ser expresso no momento da celebração do


casamento (princípio da atualidade);
 Pessoal (art.1619º). Têm de ser os próprios nubentes a pronunciar a sua vontade de casar;
 Puro e simples (art.1618º). A aceitação do casamento importa a aceitação de todos os efeitos
legais resultantes deste, sendo que ao contrato de casamento não pode ser aposto nenhum
termo ou condição, sob pena de estas cláusulas serem tidas como não escritas;
 Perfeito e livre (art.1634º). As declarações de vontade dos nubentes devem ser concordantes
entre si, sendo que cada uma deles deve estabelecer uma concordância entre a vontade real e a
vontade expressa, caso contrário temos uma situação de falta de vontade (art.1635º). Por outro
lado, o consentimento é livre quando a vontade é esclarecida (ou seja, com o exato
conhecimento da realidade) e formada com liberdade exterior (ou seja, sem pressões ou
ameaças), sob pena de termos, respetivamente, uma situação de erro na vontade (art.1636º) ou
coação moral (art.1638º). Nos termos do art.1634º o legislador estabelece uma dupla
presunção, ou seja, presume que há vontade de contrair casamento e que esta não está viciada
por erro ou coação (presunção ilidível).
O art.1627º consagra o princípio da tipicidade quanto às causas de invalidade da existência de
casamento. Ora, nos termos do art.1631º (b) é anulável o casamento celebrado com falta de vontade
ou com a vontade viciada por erro ou coação. Assim, em relação ao erro, temos de verificar se este é
relevante para efeitos de anulação, nos termos do art.1636º, ou seja, se os seus pressupostos estão
cumpridos: (1) O erro tem de incidir sobre qualidades essenciais da pessoa do outro cônjuge, ou seja,
qualidades particularmente significativas que, em abstrato, sejam idóneas a determinar o
consentimento; (2) O erro tem de ser próprio, ou seja, não pode recair sobre nenhum requisito legal de
validade ou existência do casamento; (3) O erro tem de ser desculpável, isto é, uma pessoa de
diligência normal teria incorrido no mesmo erro, não podendo estar em causa um erro grosseiro ou
negligente; (4) O erro tem de versar sobre uma circunstância determinante para a vontade de contrair
casamento, tanto subjetiva, como objetivamente. Ou seja, do ponto de vista subjetivo é necessário que
se não estivesse em erro, tendo total conhecimento da realidade, o nubente não teria querido casar; do
ponto de vista objetivo teria de ser legítimo e razoável, em face das circunstâncias do caso e à luz da
consciência social dominante, considerar aquela circunstância essencial.
Estando preenchidos todos os requisitos do erro o consentimento não é válido, pelo que o
casamento é anulável (art.1631º e 1636º). A anulabilidade exige legitimidade, prazo e é necessário
intentar uma ação de anulação (art.1632º). Relativamente à legitimidade, só a tem o cônjuge que
estava em erro (art.1641º) e quanto ao prazo, a ação de anulação fundada em vício da vontade caduca
no prazo de 6 meses subsequentes à cessação do vício, sendo que este prazo começa a contar quando
o cônjuge tenha conhecimento do erro (art.1645º). Considerando-se o regime da anulabilidade, esta
pode ser sanada mediante convalidação subjetiva (art.288º), ou seja, mediante a confirmação da
pessoa a quem pertence o direito de anulação do casamento; ou mediante convalidação objetiva
deixando passar o prazo de anulação.
Casamento por procuração

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O casamento por procuração trata-se de um desvio a uma das características do


consentimento, nomeadamente, à pessoalidade do consentimento (art.1619º). O casamento por
procuração está previsto no art.1620º, que prevê ser lícito a um dos nubentes fazer-se representar por
procurador na celebração do casamento. O facto de se celebrar um casamento por procuração não há
violação do art.1617º, pois a vontade manifesta-se no momento em que é celebrado o casamento. No
entanto, para que este casamento seja válido têm de estar respeitados pressupostos formais e
materiais.
O pressuposto formal está previsto no art.43º CRegCivil que estabelece que a procuração
pode ser outorgada por documento assinado pelo representado, com reconhecimento presencial da
assinatura, por documento autenticado ou por instrumento público (art.363º).
Os pressupostos materiais estão previstos no art.1620º e art.44º CRegCivil. Ora, apenas um
dos nubentes se pode fazer representar por procurador (art.1620º/nº1 CC e art.44º/nº1 CRegCivil) e na
procuração deve constar a designação expressa do outro nubente e a indicação da modalidade do
casamento (art.1620º/nº2 CC e 44º/nº2 CRegCivil).
Importa ainda distinguir um núncio de um representante, já que o primeiro trata-se de um
mero porta-voz que transmite uma mensagem, enquanto o segundo é alguém com capacidade para
perceber o negócio, realizando-o tendo em conta o melhor interesse do representado. Assim,
concluímos que o procurador é um representante na vontade.
Em condições comuns de procuração, a revogação da procuração só é válida quando
rececionada, uma vez que se trata de uma declaração negocial recetícia (art.224º/nº1). Porém, no caso
do casamento, o legislador estabeleceu uma exceção à revogação aos casos comuns do art.224º/nº1,
no art.1621º/nº2. Determina este preceito que o constituinte pode revogar a todo o tempo a
procuração, sendo responsável pelo prejuízo que causar se, por culpa sua, não o fizer a tempo de
evitar a celebração do casamento. A forma exigida para a revogação é a mesma exigida para a
constituição de procuração (art.43º/nº1 CRegCivil).
Nos casos em que ocorre a revogação, mas esta não chega ao conhecimento do procurador
antes da celebração do casamento, este acaba por ser celebrado, pois a revogação não tem de ser
rececionada para ser válida (art.1621º). Assim, como o casamento é celebrado e a revogação é válida,
o casamento será inexistente, pois foi celebrado por uma pessoa que não tinha poderes para tal
(art.1628º (d), 1ª parte). As consequências da inexistência do casamento estão previstas no
art.1630º/nº1, ou seja, o casamento não vai produzir qualquer efeito jurídico e nem sequer será havido
como putativo. Como se trata de um regime mais gravoso do que o regime da nulidade, aqui nem
sequer se vão produzir os efeitos laterais do negócio jurídico. Assim, a inexistência pode ser invocada
por qualquer pessoa, a todo o tempo e independentemente de declaração judicial.

Efeitos do registo do casamento


O casamento está sujeito a registo obrigatório (art.1651º/nº1 (a) CC e art.1º/nº1 (d)
CRegCivil), significando que só pode ser atendível depois de ser registado (art.1669º e art.2º
CRegCivil), tendo este registo valor de prova plena (art.371º CC e art.3º CRegCivil).
No entanto, existem exceções, nomeadamente da conjugação do art.1670º/nº1 CC e do
art.188º/nº1 CRegCivil, estabelecendo que os efeitos civis do registo retroagem até à data da sua
celebração, tendo eficácia ex tunc.
Não obstante, quando existe um terceiro alheio ao casamento que o desconhecia, pois não
havia registo e não tinha como o saber, estando, por isso, de boa-fé, temos de aplicar o art.1670º/nº2 e
o art.188º/nº2 CRegCivil. Estes artigos conjugados estabelecem uma exceção ao princípio da
retroatividade estabelecendo que “ficam ressalvados os direitos de terceiro que sejam compatíveis

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com os direitos e deveres de natureza pessoal dos cônjuges e dos filhos, a não ser que, tratando-se de
registo por transcrição (registo de casamento católico) esta tenha sido feita dentro dos 7 dias
subsequentes à celebração”. Desta forma, o terceiro vai ter o seu direito salvaguardado à luz destes
artigos.
Importa mencionar que o art.1670º/nº2 CC e o art.188º/nº2 CRegCivil não estabelece que é
necessário que o terceiro esteja de boa ou má-fé, para que fique com o seu direito salvaguardado. No
entanto, temos de interpretar a ratio legis da norma e perceber qual foi a intenção do legislador.
Fazendo esse raciocínio percebemos que o legislador quis proteger o terceiro de boa-fé que não tinha
como conhecer a existência de um casamento por não haver registo do mesmo, justamente para
proteger as expectativas de uma pessoa que não sabia, nem tinha como saber que o cônjuge com quem
realizou o negócio jurídico era casado. Desta forma, o terceiro que esteja de má-fé e que saiba que
existiu casamento anterior ao negócio não fica protegido. E caso este invoque o art.1670º/nº2 está a
consubstanciar um abuso de direito (art.334º), pois estará a desvitalizar a ratio da norma. Assim,
como não se aplica o art.1670º/nº2 aos terceiros de má-fé (exceção ao princípio da retroatividade dos
efeitos do casamento) aplica-se o regime regra da retroatividade (art.1670º/nº1 CC e art.188º/nº1
CRegCivil), sendo que os efeitos do casamento retroagem à data da sua celebração.

Casamento urgente
O casamento urgente está regulado nos termos do art.1622º ss CC e art.156º CRegCivil.
Pode existir a celebração de casamento urgente, sendo permitida a sua celebração
independentemente do respetivo processo preliminar e sem a intervenção do funcionário do registo
civil quando haja fundado receio de morte próxima de um dos nubentes (para efeito de direitos
sucessórios) ou iminência de parto (para efeito da presunção da paternidade- art.1826º). No entanto,
este receio tem de ser sério, legítimo e fundamentado, mesmo que o nubente não venha de facto a
morrer e mesmo que o parto não se venha a realizar. Ademais, este casamento tem de obedecer às
formalidades do art.156º CRegCivil (sempre que exista o comparecimento do funcionário do registo
civil estas formalidades são cumpridas).
Quando o casamento é considerado urgente, ou seja, quando estão preenchidos os requisitos
formais e materiais, segue-se a sua homologação (art.1623º CC e art.159º/nº5 CRegCivil). Assim,
lavrada a ata, o funcionário competente decide se o casamento deve ser homologado. Caso ainda não
tiver decorrido o processo preliminar de casamento, este é realizado oficiosamente e a decisão sobre a
homologação é proferida no despacho final deste processo. No entanto o funcionário competente pode
decidir que não há lugar à homologação quando existam causas justificativas de não homologação,
nos termos do art.1624º CC e 160º/nº1 CRegCivil. Aqui, o conservador vai proferir despacho de não
homologação e enviar às partes, tendo estas o direito de recorrer deste despacho (art.1624º/nº3 CC e
art.160º/nº2 e 292º CRegCivil). Tendo em conta que o casamento não é homologado, a consequência
é a sua inexistência, nos termos do art.1628º(b) CC, ou seja, ele é inexistente juridicamente, não
produzindo qualquer efeito jurídico e nem sequer é havido como putativo (art.1630º/nº1), sendo um
regime ainda mais gravoso do que o regime da nulidade. A inexistência pode ser invocada por
qualquer pessoa, a todo o tempo e independentemente de declaração judicial (art.1630º/nº2).

Casamento católico urgente


O casamento católico urgente está previsto no art.1599º CC e art.151º/nº2 CRegCivil.
Normalmente, nos termos do art.1597º, tem de existir um processo preliminar de casamento
de modo a aferir a capacidade dos nubentes para contrair matrimónio, sendo este organizado nas
conservatórias a requerimento dos nubentes ou do pároco. Posteriormente, verificada a inexistência de
qualquer impedimento, no despacho final do processo preliminar, o funcionário do registo civil extrai

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um certificado de capacidade matrimonial que é remetido ao pároco, sem o qual o casamento não
pode ser celebrado (art.1598º/nº1).
Mas, excecionalmente, a lei admite a celebração de casamentos católicos urgentes (art.1599º)
em 3 situações: (1) in articulo mortis; (2) em iminência de parto; (3) cuja celebração imediata seja
expressamente autorizada pelo ordinário próprio, por grave motivo de ordem moral. Nestes casos, o
casamento pode celebrar-se independentemente do processo preliminar de casamento e de passagem
do certificado de capacidade matrimonial. No entanto, esta dispensa não altera as exigências da lei
civil quanto à capacidade matrimonial dos nubentes (art.1599º/nº2 ex vi art.1596º CC e art.151º
CRegCivil).
Relativamente à recusa de transcrição dos casamentos católicos urgentes temos de atender
apenas ao art.174º/nº1 (e) CRegCivil, pois o legislador sacrificou alguns impedimentos. Assim,
quando estamos perante a transcrição de casamento católico urgente a al. e só faz referencia a 3
impedimentos que impedem a transcrição: (1) a falta de idade nupcial; (2) falta de acompanhamento,
quando a sentença o determine; (3) casamento anterior não dissolvido.

Casamento putativo
O regime do casamento putativo encontra-se previsto no art.1647º e 1648º CC.
O casamento putativo consiste num instituto de proteção do casamento anulado, porque numa
situação de anulação de um negócio jurídico comum teríamos uma destruição retroativa de todos os
efeitos jurídicos (art.289º). O legislador entendeu que no casamento isso seria demasiado gravoso,
tendo criado o instituto do casamento putativo com regras próprias previstas no art.1647º e 1648º, de
forma a salvaguardar os efeitos produzidos. No entanto, existem 3 requisitos para que este regime seja
aplicado: (1) o casamento tem de existir, ou seja, não pode haver nenhuma causa de inexistência
(art.1628º), pois o casamento inexistente não produz qualquer efeito, nem sequer é havido como
putativo (art.1630º); (2) o casamento terá de ter sido anulado (casamento civil) ou declarado nulo
(casamento católico); (3) tem de existir boa-fé de, pelo menos, um dos cônjuges, sendo que se
considera de boa-fé o cônjuge que tiver contraído o casamento na ignorância desculpável do vício
causador da anulabilidade, ou cuja declaração tenha sido extorquida por coação física ou moral
(art.1648º/nº1). Esta boa-fé é presumida pelo legislador, logo é uma presunção ilidível (art.1648º/nº3).
Só há uma situação em que, estando ambos os cônjuges de má-fé, se produzem os efeitos putativos,
sendo o caso de presunção de paternidade (art.1827º), justificado pelo superior interesse da criança.
A sentença de anulabilidade costuma ter efeitos ex tunc, mas neste caso, excecionalmente, vai
ter efeitos ex nunc.
Nos termos do art.1647º/nº2, se apenas um dos cônjuges estiver de boa-fé, só esse se pode
arrogar dos benefícios do estado matrimonial e apô-los a terceiro, desde que, relativamente a estes, se
trate de um mero reflexo das relações havidas pelos cônjuges.
No entanto, caso o cônjuge entende que o efeito putativo não lhe é favorável pode sempre
optar por não o invocar, aplicando-se o regime geral da anulabilidade (art.289º).

Efeitos pessoais do casamento


Direito ao nome
Nos termos do art.1677º/nº1 CC com o casamento “cada um dos cônjuges conserva os seus
próprios apelidos, mas pode acrescentar-lhes apelidos do outro até ao máximo de 2”. Esta redação
atual só está prevista desde 1977, pois até lá só a mulher é que podia adotar os apelidos do marido,
sendo que este pensamento não coincidia com o art.36º e 13º CRP, tendo de ser alterado, pois no
nosso ordenamento jurídico vigora o princípio da igualdade entre os cônjuges (art.1671º CC). Importa

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Respostas-modelo – 1º teste de direito da família
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mencionar que este poder de acrescentar os apelidos do outro cônjuge trata-se de um direito/
faculdade e não de uma exigência, sendo que em qualquer altura podem renunciar os apelidos do
outro cônjuge (art.104º/nº2 (d) CRegCivil). E, nos termos do art.69º/nº1 (n) CRegCivil, os cônjuges
podem adotar posteriormente os apelidos do outro cônjuge.
Nos termos do art.1677ºA “o cônjuge que tenha acrescentado ao seu nome apelidos do outro
conserva-os em caso de viuvez e, se o declarar até à celebração do novo casamento, mesmo depois
das segundas núpcias”. No entanto, no caso de casamento em 2º núpcias, caso o cônjuge deseje adotar
os apelidos do novo cônjuge com a celebração do casamento, tendo apelidos do falecido cônjuge, tem
de os deixar cair para conseguir adotar os apelidos do novo cônjuge. Uma vez que o art.1677º/nº2
estabelece que o direito de adquirir os apelidos do outro cônjuge “não pode ser exercido por aquele
que conserve apelidos do cônjuge de anterior casamento”.
Por outro lado, em caso de divórcio, por regra, perde-se o direito a utilizar os apelidos do
outro cônjuge. No entanto, o art.1677ºB/nº1, 2ª parte, estabelece uma exceção – “no caso de divórcio,
pode conservá-los se o ex cônjuge deu o seu consentimento ou o Tribunal o autorizar, tendo em
atenção os motivos invocados”. No caso do consentimento pelo ex cônjuge, este tem de ser prestado
por documento autêntico ou autenticado, lavrado em juízo ou declaração perante o funcionário do
registo civil (art.1677ºB/nº2). No caso de esta autorização ser dada pelo Tribunal o pedido pode ser
deduzido no processo de divórcio ou em processo próprio (art.1677ºB/nº3).
A privação judicial do uso de nome está prevista no art.1677ºC, no entanto, esta norma tem de
ser conciliada com o Decreto-lei 272º/2001, de 13 de outubro, sendo que esta ação pode ser intentada
nas conservatórias de registo civil, nos termos do art.7º a 10º do decreto-lei, mediante acordo das
partes. Caso estas não cheguem a acordo o processo é remetido para o Tribunal competente, correndo
os seus termos segundo o Código de Processo Civil, mediante processo declarativo comum. No
art.1677ºC/nº1 estabelece-se que o cônjuge só pode ser privado pelo Tribunal quando o uso dos
apelidos lese gravemente os interesses morais do outro cônjuge ou da sua família. Tal lesão tem de ser
provada em Tribunal e, por se tratar de um conceito indeterminado, tem de ser analisado
casuisticamente. A legitimidade para propor esta ação está prevista no art.1677ºC/nº2 e, em caso de
divórcio, tem legitimidade o outro cônjuge ou ex cônjuge; em caso de viuvez, tem legitimidade os
descendentes, ascendentes e irmãos do cônjuge falecido.
Deveres conjugais
Os deveres conjugais estão previstos no art1672º CC, sendo estes, o dever de respeito,
fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.
De acordo com o art.1671º CC e com o art.13º e 36º/nº3 CRP, o casamento baseia-se na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, cabendo a direção de família a ambos que devem
acordar sobre a orientação da vida em comum, tendo em conta o bem da família e os interesses um do
outro.
Relativamente à escolha da residência de família, estamos perante o dever de coabitação,
sendo que este não quer dizer apenas que os cônjuges vivam juntos, mas sim que vivam numa
comunhão de mesa, leito e habitação. A comunhão de leito implica que os cônjuges estejam obrigados
ao débito conjugal em 2 sentidos, ou seja, em sentido negativo – os cônjuges devem abster-se de
manter relações sexuais com outras pessoas – e em sentido positivo – os cônjuges devem manter
relações sexuais entre si. A comunhão de mesa significa que os cônjuges devem viver em economia
comum. E a comunhão de habitação significa que os cônjuges devem viver juntos, partilhando a
mesma habitação. Nesta comunhão de habitação vigora, no nosso ordenamento jurídico, o princípio
da igualdade entre os cônjuges, devendo existir um acordo entre eles acerca da escolha ou alteração da
morada de habitação, de forma a cumprirem este dever de coabitação (art.1671º/nº1). Assim, os

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cônjuges têm de chegar a acordo atendendo às exigências da sua vida profissional e aos interesses dos
filhos, procurando salvaguardar a unidade da vida familiar (art.1673º/nº1). Deste modo, nenhum dos
cônjuges pode decidir unilateralmente qual a residência da habitação de família, nem tao pouco alterá-
la unilateralmente, pois não existem, à data, chefes de família, vigando o princípio da igualdade entre
os cônjuges. Não havendo acordo sobre a fixação ou alteração da residência de família, será o
Tribunal a decidir, excecionalmente, a requerimento de qualquer dos conjugues (art.1673º/nº3 CC e
991ºss CPC).
Relativamente ao exercício de profissão, nos termos do art.1677ºD “cada um dos cônjuges
pode exercer a profissão que entender, sem necessitar do consentimento do outro”. No entanto, esta
liberdade também tem de ser conciliada com o bem da família e os interesses de ambos.
Relativamente ao dever de assistência, este está previsto no art.1675º CC e divide-se em 2: (a)
obrigação de prestar alimentos (art.1675º/nº1) – quando haja separação, de facto ou de direito, uma
vez que já não existe vida familiar, podendo, no entanto, existir casos em que se obrigue cada um dos
conjugues a prestar alimentos ao outro, sendo dito no art.1675º/nº2 e 3 que, mesmo com separação de
facto, o dever de assistência mantém-se; (b) obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar
– quando não haja separação, abarcando a afetação dos recursos àqueles encargos e através do
trabalho despendido no lar ou na manutenção e educação dos filhos (art.1676º/nº1). O dever de
contribuir para os encargos da vida familiar (art.1676º) apresenta 2 salvaguardas relativamente a
desigualdades de contribuições no seu nº2 (quando haja uma contribuição manifestamente superior
por parte de um dos conjugues) e no nº4 (quando haja uma contribuição manifestamente inferior por
parte de um dos conjugues). Assim, nos termos do nº2 ocorre uma contribuição manifestamente
superior por parte de um dos conjugues quando: (1) existe uma renúncia excessiva à satisfação dos
seus interesses, designadamente à sua vida profissional; (2) em favor da vida comum; (3) tendo
prejuízos patrimoniais importantes. Ora, quando estes pressupostos estão verificados, existe um
direito a uma compensação (art.1676º/nº2, parte final), embora esta compensação só possa ser exigida
no momento da partilha dos bens do casal, salvo se vigorar o regime de separação de bens
(art.1676º/nº3).

Efeitos patrimoniais do casamento


Em primeiro lugar, devemos analisar qual o regime de bens em que os cônjuges casaram.
Aquando da celebração do casamento, os conjugues poderão convencionar livremente o regime de
bens do casamento, quer escolhendo um dos regimes de bens previstos na lei, quer estipulando outro,
desde que dentro dos limites da lei, nos termos do art.1698º CC (princípio da liberdade de
convenção). No entanto, deverão respeitar o princípio da imutabilidade, segundo o qual, uma vez
convencionado, o regime de bens não poderá ser alterado (art.1714º). Quando os conjugues casam
sem convenção antinupcial, o casamento considera-se celebrado pelo regime supletivo vigente no
nosso ordenamento jurídico, ou seja, pelo regime da comunhão de adquiridos, nos termos do
art.1717º. Isto quando o casamento é celebrado depois de 1967, porque antes desta data o regime
supletivo era o regime da comunhão geral de bens, tendo posteriormente sido alterado ao abrigo do
art.2º Decreto-lei nº47344.
O regime da comunhão de adquiridos caracteriza-se pela existência de bens próprios
(art.1722º e 1723º) e de bens comuns (art.1724º). Os bens próprios são aqueles que cada um tiver ao
tempo da celebração do casamento, assim como aqueles que advierem depois por doação ou sucessão
e os bens adquiridos por virtude de um direito próprio anterior; os bens comuns são aqueles do
produto do trabalho dos conjugues (salário) e os bens adquiridos por estes na constância do
matrimónio que não sejam excetuados por lei.
NOTA: Quando um dos cônjuges tenha completado 60 anos de idade, a lei estabelece o regime
imperativo da separação de bens (art.1720º/nº1 (b)) e, desta forma, aqui não existe liberdade de

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escolha. O legislador pretendeu evitar que as pessoas apenas casassem por questões de interesses
patrimoniais, no entanto, este artigo já não é assim tão relevante, pois a esperança média das pessoas
já é mais elevada e o cônjuge tem sempre direito a uma parte da herança (há quem o considere mesmo
inconstitucional por força do art.26º CRP). O regime da separação de bens está previsto no art.1735º,
não existindo aqui bens comum, apenas bens próprios de cada um dos cônjuges, no entanto, quando
estes compram bem em conjunto tornam-se comproprietários dos mesmos.
Posto isto, cabe aferir a titularidade dos bens em questão dado o regime de bens em causa.
A administração dos bens do casal encontra-se prevista no art.1678º, sendo que a
administração e a titularidade são coisas distintas, embora, por vezes, coincidam. Esta análise deverá
iniciar-se pelo nº2 do preceito, de forma a verificar se existe alguma exceção, pois só não existindo é
que será possível avançar para o nº1 (regra relativamente a bens próprios) ou nº3 (regra relativamente
a bens comuns).
Posto isto, importa analisar a alienação dos bens e quem teria legitimidade para o fazer. Para
isso, temos de recorrer ao art.1682º referente à alienação ou oneração de móveis, ou ao art.1682ºA
referente à alienação de bens imóveis ou EC. Relativamente aos bens moveis, a regra é a de que quem
administra pode dispor (art.1682º/nº2), no entanto existem exceções.
Por fim, cabe analisar as consequências destas alienações feitas por quem não tem
legitimidade para o fazer, sendo que a consequência ou será a anulabilidade (art.1687º/nº1) ou a
nulidade (art. 1687º/nº2).
Às situações que se compreendem no nº1 do art.1687º é aplicado o regime da anulabilidade,
sendo o negócio anulável a requerimento do cônjuge que não deu o seu consentimento ou dos seus
herdeiros. Estamos aqui a falar ao consentimento conjugal, nos termos do art.1684º que deve ser
especial para cada um dos atos, sendo que a sua forma é a mesma exigida para a procuração
(art.262º). Quando há uma injusta recusa do consentimento ou uma impossibilidade de o prestar, este
pode ser suprido judicialmente (art.1684º/nº3). Ora, o direito de anulação pode ser exercido no prazo
de 6 meses subsequentes à data em que o requerente teve conhecimento do ato, mas nunca depois de
decorridos 3 anos sobre a sua celebração. Importa mencionar que em caso de alienação ou oneração
de bem móvel não sujeito a registo feita apenas por um dos cônjuges, quando é exigido o
consentimento de ambos, a anulabilidade não poderá ser aposta ao adquirente de boa-fé
(art.1684º/nº3).
Às situações que se compreendem no nº4 do art.1687º “são aplicáveis as regras relativas à
alienação de coisa alheia”, ou seja, o regime da nulidade (art.892º).

Dívidas dos cônjuges


Nos termos do art.1690º/nº1 “qualquer um dos cônjuges tem legitimidade para contrair
dívidas sem o consentimento do outro”.
No entanto, existem dívidas que responsabilizam ambos os conjugues – dívidas comuns
(art.1691º) – e dívidas que responsabilizam apenas a um dos cônjuges – dívidas próprias (art.1692º).
Desta forma, importa perceber que tipo de dívida temos no caso concreto, ou seja, se temos uma
dívida própria ou comum e, para isso, temos por começar a analisar o art.1691º. Assim:
Nos termos do al. a do art.1691º/nº1, “são da responsabilidade de ambos os cônjuges as
dívidas contraídas, antes ou depois da celebração do casamento, pelos 2 cônjuges, ou por um deles
com o consentimento do outro”. Este consentimento difere do consentimento conjugal do art.1684º,
desde logo porque aqui existe liberdade de forma para contrair dívidas (art.219º), podendo o
consentimento ser expresso ou tácito (art.217º). Este consentimento pode ser prestado antes ou no
momento em que se contrai a dívida, no entanto, a doutrina e a jurisprudência têm entendido que

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mesmo o consentimento posterior ao momento de contrair a dívida vale para estes efeitos quando o
outro cônjuge concorde com a dívida. O ónus da prova cabe ao credor.
Nos termos do al. b, “são da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas por
qualquer dos cônjuges, antes ou depois da celebração do casamento, para ocorrer aos encargos da
vida familiar”. Nesta alínea importa verificar se a dívida foi contraída para ocorrer aos encargos da
vida familiar, tanto pela sua natureza como pelo seu valor. Assim, o artigo refere-se a dívidas
pequenas, periódicas e imprescindíveis para o desenrolar normal da vida familiar (alimentação,
combustível, vestuário, medicamentos, rendas, contas da casa, etc.). Aqui, o ónus da prova cabe ao
credor.
Nos termos da al. c, “são da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas na
constância do matrimónio pelo cônjuge administrador, em proveito comum do casal e nos limites dos
seus poderes de administração”. Neste âmbito temos de ter em consideração 4 fatores: constância do
matrimónio; cônjuge administrador; limites de administração e proveito comum do casal. Em relação
ao “proveito comum do casal” este não se afere pelo resultado, mas sim pelos fins visados pelo
cônjuge, ou seja, apenas interessa a intenção de haver interesse comum. Por outro lado, temos de
verificar se houve uma intenção subjetiva (ou seja, se para a pessoa do cônjuge havia uma intenção de
proveito comum) e uma intenção objetiva (ou seja, se a dívida se pode considerar contraída, à luz da
experiência e probabilidade normal, em proveito comum do casal). O proveito comum pode assumir
uma natureza económica ou material, mas também moral ou intelectual. Nos termos do nº3 do
art.1690º o “proveito comum do casal não se presume, exceto nos casos em que a lei o declarar”.
NOTA: no regime da comunhão de adquiridos o produto do trabalho dos cônjuges é um bem comum
(salário), nos termos do art.1724º (a).
Nos termos da al. d “são da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas por
qualquer dos cônjuges no exercício do comércio, salvo se se provar que não foram contraídas em
proveito comum do casal, ou se vigorar entre os cônjuges o regime de separação de bens”. Esta alínea
tem de ser sempre analisa em conjunto com o art.15º CCom, ou seja, “as dívidas comerciais do
cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio”. Por outro lado, nos
termos do art.1691º/nº1 (d) também se presume que a dívida foi contraída em proveito comum do
casal. Assim, cabe ao outro cônjuge ilidir ambas as presunções, no entanto, no regime da comunhão
de adquiridos é muito difícil afastar a presunção de que a dívida é contraída em proveito comum do
casal, pois o fruto do trabalho é um bem comum.
Ora, pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens
comuns do casal, e, na falta ou insuficiência deles, solidariamente, os bens próprios de qualquer dos
conjugues (art.1695º/nº1). Assim, os cônjuges são solidários nos termos do art.512º e 513º. No
entanto, no regime da separação de bens a responsabilidade dos cônjuges não é solidária
(art.1695º/nº2 e 1735º). Assim, quando por dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges tenham
respondido bens de um só deles, este torna-se credor do outro pelo que haja satisfeito além do que lhe
competia satisfazer, mas este crédito só é exigível no momento da partilha dos bens do casal, a não ser
que vigore o regime da separação.
Nos termos do art.1696º/nº1, pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges
(art.1692º) respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos
bens comuns. Sempre que por dívidas da exclusiva responsabilidade de um só dos cônjuges tenham
respondido bens comuns, é a respetiva importância levada a crédito do património comum no
momento da partilha (art.1698º/nº2).

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