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União de facto
O art.1576º apresenta um elenco taxativo relativo às relações jurídicas familiares, não
incluindo neste elenco a união de facto. Durante muito tempo, apenas se consideravam como relações
familiares as elencadas nesta norma, porém, hoje em dia, ao abrigo de outros preceitos normativos
existem outras relações jurídicas familiares, não elencadas no art.1576º. É o caso da união de facto,
relação jurídica familiar por força do art.26º e 36º CRP.
A união de facto está regulada na lei 7/2001, de 11 de maio sendo esta a situação jurídica de 2
pessoas que, independentemente do sexo, vivam em condições análogas à dos cônjuges há mais de 2
anos (art.1º/nº2 lei 7/2001), ou seja, vivam há mais de 2 anos em comunhão de leito, mesa e habitação
(aparência externa de casamento). É de notar que, ao contrário do casamento, a união de facto não
está sujeita a registo, pois não consta no art.1º CRegCivil. Assim, devemos analisar a dissolução da
união de facto e quais os seus efeitos e implicações.
Em 1º lugar, para que haja união de facto têm de estar preenchidas as suas condições de
eficácia: (1) os sujeitos vivam em condições análogas à dos cônjuges; (2) há mais de 2 anos; (3) não
se verifique nenhum impedimento a esse estabelecimento da união de facto (art.2º lei 7/2001).
Em relação aos efeitos patrimoniais da união de facto não existe nenhum conjunto de
disposições legais que regulem esta matéria, pois do ponto de vista legal os unidos de facto são
estranhos entre si, uma vez que não estabeleceram nenhum vínculo, como ocorre no casamento. Desta
forma, como não temos um regime especial, vamos ter de nos guiar pelo regime geral, ou seja, pelos
direitos reais e obrigacionais.
Nos termos do art.8º lei 7/2001 as uniões de facto também podem terminar, seja por vontade
de um dos seus membros, por falecimento de um deles ou por casamento de um deles. Nos casos de
rutura da união de facto por vontade de um dos seus membros, o art.8º/nº2 lei 7/2001 estabelece que
não é necessária a instauração de uma ação judicial para dissolver a união de facto, só o será
necessário caso algum deles pretender fazer valer direitos que dependem dela, aí sim, será necessário
a instauração de uma ação judicial.
Em caso de rutura da união de facto existe uma proteção especial da casa de morada de
família, nos termos do art.4º lei 7/2001. Assim, este artigo estabelece que em caso de rutura da união
de facto é aplicável, com as necessárias adaptações, o art.1105º e 1793º CC. O art.1105º aplica-se aos
casos em que a casa de morada de família é arrendada, estabelecendo que “incidindo o arrendamento
sobre a casa de morada de família, o seu destino é, em caso de divórcio ou separação judicial de
pessoas e bens, decidido por acordo dos cônjuges, podendo estes optar pela transmissão ou pela
concentração a favor de um deles”, sendo que na falta de acordo cabe ao Tribunal decidir, tendo em
conta a necessidade de cada um, os interesses dos filhos e outros fatores relevantes; e o art.1793º aos
casos em que a casa de morada de família é própria do outro unido de facto ou comum, estabelecendo
que “pode o Tribunal dar de arrendamento a qualquer dos cônjuges, a seu pedido, a casa de morada de
família, quer seja comum, quer seja própria, considerando, nomeadamente, as necessidades de cada
cônjuge e o interesse dos filhos do casal”.
Em caso de morte, também existe proteção da casa de morada de família em relação ao unido
de facto sobrevivo, nos termos do art.5º lei 7/2001. Assim, o membro sobrevivo pode permanecer na
casa, pelo prazo de 5 anos, como titular de um direito real de habitação e de um direito de uso de
recheio (art.5º/nº1 lei 7/2001), sendo que em caso da união ter começado à mais de 5 anos antes da
morte estes direitos são conferidos por tempo igual ao da duração da união, ou seja, se a união de
facto durava à 10 anos antes de ocorrer a morte de um dos unidos de facto, o outro tem direito a
permanecer na casa e usar do seu recheio durante 10 anos (nº2). Excecionalmente, e por motivos de
equidade, o tribunal pode prorrogar estes prazos atendendo às situações do caso concreto (nº3). No
entanto, pode ocorrer que estes direitos caduquem caso o interessado não habitar a casa por mais de 1
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ano, salvo se a falta de habitação for devida a motivo de força maior (ex. doença que o faça
permanecer em hospital ou clínica de reabilitação por mais de 1 ano) (nº5). Por outro lado, o direito
real de habitação não é conferido nos casos em que o membro sobrevivo tiver casa própria na área do
respetivo concelho da casa de morada de família (nº6). Esgotado o prazo em que beneficiou do direito
real de habitação este tem o direito de permanecer na casa a título de arrendatário (nº7), tendo também
o direito de preferência em caso de alienação do imóvel durante o período que o habitar a qualquer
título (nº9).
Casamento católico
O art.1577º define casamento civil como um contrato celebrado entre 2 pessoas que
pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, sendo este uma das fontes das
relações jurídicas familiares (art.1576º).
Já o casamento católico é definido pelo cânone 1057º, 2º parágrafo, como o ato de vontade
pelo qual o homem e a mulher, por pacto irrevogável, se entregam e recebem mutuamente, a fim de
constituírem o matrimónio, sendo que no âmbito deste existem 3 considerações essenciais: (1) a
procriação e educação dos filhos (bonum prolis) - cânone 1055º; (2) mútua fidelidade entre os
conjuges (bonum fidei) - cânone 1096º; (3) indissolubilidade do casamento (bonum sacramenti)-
cânone 1055º. Assim, quem casa catolicamente deve respeitar estas considerações essenciais, sob
pena de, ao não o fazer, estão a celebrar um casamento inválido (nulo) na perspetiva dos Tribunais
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Eclesiásticos (cânone 1101º, 2º parágrafo), pois a nulidade dos casamentos católicos vai ser apreciada
exclusivamente por estes (art.1625º CC).
Ora, no casamento civil não existem tais considerações, existindo apenas os deveres conjugais
entre os cônjuges, nomeadamente, o dever de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e
assistência (art.1672º).
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Promessa de casamento
A promessa de casamento é um contrato pelo qual 2 pessoas se comprometem a celebrar
casamento, estando previsto no art.1591º ss CC. Normalmente, o contrato-promessa terá a forma do
contrato prometido de acordo como o princípio da equiparação (art.410º). No entanto, tal não
acontece no contrato-promessa de casamento, já que o casamento é solene e o contrato-promessa é
realizado ao abrigo da liberdade de forma (art.219º), podendo as declarações negociais serem
realizadas de forma expressa ou tácita (art.217º). Ora, este contrato-promessa apresenta diversas
especificidades, sendo que para além da liberdade de forma, há impossibilidade de execução
específica, ou seja, o Tribunal não se pode substituir ao promitente faltoso e celebrar o casamento em
nome dele, pois estamos perante obrigações de natureza pessoal que se opõe à execução específica
(art.830º) - caso isso fosse possível estaríamos a violar o direito constitucional de liberdade de
contrair casamento. Outra grande particularidade é o facto de que se existir incumprimento da
promessa pode haver obrigação e uma das partes indemnizar a outra, mas estas indemnizações são
limitadas (art.1594º/nº1).
É possível romper a promessa de casamento quando exista um justo motivo. Este é um
conceito indeterminada, mas por força da doutrina, temos um justo motivo quando, segundo as
convenções sociais dominantes, não seja razoável exigir nem a continuidade do noivado, nem a
celebração do casamento, tanto por referência a um dos esposados, como a ambos. As causas que dão
azo a um justo motivo têm de ser anteriores à retratação do cumprimento da promessa, mas tanto pode
ser uma causa que existiu antes ou depois da promessa. E como estamos aqui perante uma
responsabilidade contratual há inversão do ónus da prova, ou seja, é o outro cônjuge que tem de
provar que não existe justo motivo.
Quando não exista justo motivo o esposo inocente tem direito a indemnização, bem como os
pais deste ou terceiros que tenham agido em nome dos pais, quer das despesas feitas, quer das
obrigações contraídas na previsão do casamento, ou seja, contraídas na esperança que o casamento se
viesse a realizar (art.1594º/nº1). Também há lugar a indemnização quando o casamento não se realize
por motivo de incapacidade de um dos nubentes, se ele ou os seus representantes houveram procedido
com dolo, ou seja, já sabiam que havia uma incapacidade matrimonial que impedia o casamento, mas
mesmo assim celebraram a promessa de casamento (art.1594º/nº2). Ou seja, quanto à capacidade para
promessa de casamento a lei é omissa, sendo que, pelo princípio da equiparação, só pode prometer
casamento quem o poder celebrar validamente, que ocorre quando não exista nenhum impedimento a
esta celebração. Desta forma, concluímos que este artigo limita a indemnização às despesas feitas e
contraídas na expectativa do casamento, pelo que não será possível uma indemnização por danos não
patrimoniais, ou seja, os danos não patrimoniais existem, mas não são indemnizáveis neste contexto e,
por outro lado, esta indemnização é fixada pelo arbítrio do Tribunal (art.1594º/nº3).
Por outro lado, quando o casamento não se poder realizar por incapacidade de um dos
promitentes, cada um deles é obrigado a restituir os donativos que o outro ou terceiro lhe tenha feito
em virtude da promessa e na expectativa do casamento, segundo os termos previstos para a nulidade
ou anulabilidade do negócio jurídico, ou seja, caso a restituição em espécie não seja possível, restitui-
se o montante pelo valor correspondente (art.289º/nº1 ex vi art.1592º/nº1). No entanto, a restituição só
é possível caso seja provado que existiu um nexo causal entre a doação e a expectativa de casamento,
sendo que em última instância cabe ao Tribunal analisar existiu ou não nexo causal e se é exigível a
restituição. Quanto às restituições em caso de morte temos de atender ao art.1593º.
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Por fim, o direito a exigir a restituição dos donativos ou a indemnização caduca no prazo de 1
ano, contado da data do rompimento da promessa ou da morte do promitente.
Consentimento
O regime do consentimento está previsto no art.1617ºss CC e para este ser válido tem de haver
vontade de casar e essa vontade tem de ser manifestada no momento da celebração do casamento.
Ademais, o consentimento tem de ser pessoal, puro e simples, perfeito e livre. Estas são as
características que têm de estar preenchidas para termos um consentimento válido, sendo umas
relativas à generalidade dos negócios jurídicos e outras específicas do casamento.
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com os direitos e deveres de natureza pessoal dos cônjuges e dos filhos, a não ser que, tratando-se de
registo por transcrição (registo de casamento católico) esta tenha sido feita dentro dos 7 dias
subsequentes à celebração”. Desta forma, o terceiro vai ter o seu direito salvaguardado à luz destes
artigos.
Importa mencionar que o art.1670º/nº2 CC e o art.188º/nº2 CRegCivil não estabelece que é
necessário que o terceiro esteja de boa ou má-fé, para que fique com o seu direito salvaguardado. No
entanto, temos de interpretar a ratio legis da norma e perceber qual foi a intenção do legislador.
Fazendo esse raciocínio percebemos que o legislador quis proteger o terceiro de boa-fé que não tinha
como conhecer a existência de um casamento por não haver registo do mesmo, justamente para
proteger as expectativas de uma pessoa que não sabia, nem tinha como saber que o cônjuge com quem
realizou o negócio jurídico era casado. Desta forma, o terceiro que esteja de má-fé e que saiba que
existiu casamento anterior ao negócio não fica protegido. E caso este invoque o art.1670º/nº2 está a
consubstanciar um abuso de direito (art.334º), pois estará a desvitalizar a ratio da norma. Assim,
como não se aplica o art.1670º/nº2 aos terceiros de má-fé (exceção ao princípio da retroatividade dos
efeitos do casamento) aplica-se o regime regra da retroatividade (art.1670º/nº1 CC e art.188º/nº1
CRegCivil), sendo que os efeitos do casamento retroagem à data da sua celebração.
Casamento urgente
O casamento urgente está regulado nos termos do art.1622º ss CC e art.156º CRegCivil.
Pode existir a celebração de casamento urgente, sendo permitida a sua celebração
independentemente do respetivo processo preliminar e sem a intervenção do funcionário do registo
civil quando haja fundado receio de morte próxima de um dos nubentes (para efeito de direitos
sucessórios) ou iminência de parto (para efeito da presunção da paternidade- art.1826º). No entanto,
este receio tem de ser sério, legítimo e fundamentado, mesmo que o nubente não venha de facto a
morrer e mesmo que o parto não se venha a realizar. Ademais, este casamento tem de obedecer às
formalidades do art.156º CRegCivil (sempre que exista o comparecimento do funcionário do registo
civil estas formalidades são cumpridas).
Quando o casamento é considerado urgente, ou seja, quando estão preenchidos os requisitos
formais e materiais, segue-se a sua homologação (art.1623º CC e art.159º/nº5 CRegCivil). Assim,
lavrada a ata, o funcionário competente decide se o casamento deve ser homologado. Caso ainda não
tiver decorrido o processo preliminar de casamento, este é realizado oficiosamente e a decisão sobre a
homologação é proferida no despacho final deste processo. No entanto o funcionário competente pode
decidir que não há lugar à homologação quando existam causas justificativas de não homologação,
nos termos do art.1624º CC e 160º/nº1 CRegCivil. Aqui, o conservador vai proferir despacho de não
homologação e enviar às partes, tendo estas o direito de recorrer deste despacho (art.1624º/nº3 CC e
art.160º/nº2 e 292º CRegCivil). Tendo em conta que o casamento não é homologado, a consequência
é a sua inexistência, nos termos do art.1628º(b) CC, ou seja, ele é inexistente juridicamente, não
produzindo qualquer efeito jurídico e nem sequer é havido como putativo (art.1630º/nº1), sendo um
regime ainda mais gravoso do que o regime da nulidade. A inexistência pode ser invocada por
qualquer pessoa, a todo o tempo e independentemente de declaração judicial (art.1630º/nº2).
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um certificado de capacidade matrimonial que é remetido ao pároco, sem o qual o casamento não
pode ser celebrado (art.1598º/nº1).
Mas, excecionalmente, a lei admite a celebração de casamentos católicos urgentes (art.1599º)
em 3 situações: (1) in articulo mortis; (2) em iminência de parto; (3) cuja celebração imediata seja
expressamente autorizada pelo ordinário próprio, por grave motivo de ordem moral. Nestes casos, o
casamento pode celebrar-se independentemente do processo preliminar de casamento e de passagem
do certificado de capacidade matrimonial. No entanto, esta dispensa não altera as exigências da lei
civil quanto à capacidade matrimonial dos nubentes (art.1599º/nº2 ex vi art.1596º CC e art.151º
CRegCivil).
Relativamente à recusa de transcrição dos casamentos católicos urgentes temos de atender
apenas ao art.174º/nº1 (e) CRegCivil, pois o legislador sacrificou alguns impedimentos. Assim,
quando estamos perante a transcrição de casamento católico urgente a al. e só faz referencia a 3
impedimentos que impedem a transcrição: (1) a falta de idade nupcial; (2) falta de acompanhamento,
quando a sentença o determine; (3) casamento anterior não dissolvido.
Casamento putativo
O regime do casamento putativo encontra-se previsto no art.1647º e 1648º CC.
O casamento putativo consiste num instituto de proteção do casamento anulado, porque numa
situação de anulação de um negócio jurídico comum teríamos uma destruição retroativa de todos os
efeitos jurídicos (art.289º). O legislador entendeu que no casamento isso seria demasiado gravoso,
tendo criado o instituto do casamento putativo com regras próprias previstas no art.1647º e 1648º, de
forma a salvaguardar os efeitos produzidos. No entanto, existem 3 requisitos para que este regime seja
aplicado: (1) o casamento tem de existir, ou seja, não pode haver nenhuma causa de inexistência
(art.1628º), pois o casamento inexistente não produz qualquer efeito, nem sequer é havido como
putativo (art.1630º); (2) o casamento terá de ter sido anulado (casamento civil) ou declarado nulo
(casamento católico); (3) tem de existir boa-fé de, pelo menos, um dos cônjuges, sendo que se
considera de boa-fé o cônjuge que tiver contraído o casamento na ignorância desculpável do vício
causador da anulabilidade, ou cuja declaração tenha sido extorquida por coação física ou moral
(art.1648º/nº1). Esta boa-fé é presumida pelo legislador, logo é uma presunção ilidível (art.1648º/nº3).
Só há uma situação em que, estando ambos os cônjuges de má-fé, se produzem os efeitos putativos,
sendo o caso de presunção de paternidade (art.1827º), justificado pelo superior interesse da criança.
A sentença de anulabilidade costuma ter efeitos ex tunc, mas neste caso, excecionalmente, vai
ter efeitos ex nunc.
Nos termos do art.1647º/nº2, se apenas um dos cônjuges estiver de boa-fé, só esse se pode
arrogar dos benefícios do estado matrimonial e apô-los a terceiro, desde que, relativamente a estes, se
trate de um mero reflexo das relações havidas pelos cônjuges.
No entanto, caso o cônjuge entende que o efeito putativo não lhe é favorável pode sempre
optar por não o invocar, aplicando-se o regime geral da anulabilidade (art.289º).
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mencionar que este poder de acrescentar os apelidos do outro cônjuge trata-se de um direito/
faculdade e não de uma exigência, sendo que em qualquer altura podem renunciar os apelidos do
outro cônjuge (art.104º/nº2 (d) CRegCivil). E, nos termos do art.69º/nº1 (n) CRegCivil, os cônjuges
podem adotar posteriormente os apelidos do outro cônjuge.
Nos termos do art.1677ºA “o cônjuge que tenha acrescentado ao seu nome apelidos do outro
conserva-os em caso de viuvez e, se o declarar até à celebração do novo casamento, mesmo depois
das segundas núpcias”. No entanto, no caso de casamento em 2º núpcias, caso o cônjuge deseje adotar
os apelidos do novo cônjuge com a celebração do casamento, tendo apelidos do falecido cônjuge, tem
de os deixar cair para conseguir adotar os apelidos do novo cônjuge. Uma vez que o art.1677º/nº2
estabelece que o direito de adquirir os apelidos do outro cônjuge “não pode ser exercido por aquele
que conserve apelidos do cônjuge de anterior casamento”.
Por outro lado, em caso de divórcio, por regra, perde-se o direito a utilizar os apelidos do
outro cônjuge. No entanto, o art.1677ºB/nº1, 2ª parte, estabelece uma exceção – “no caso de divórcio,
pode conservá-los se o ex cônjuge deu o seu consentimento ou o Tribunal o autorizar, tendo em
atenção os motivos invocados”. No caso do consentimento pelo ex cônjuge, este tem de ser prestado
por documento autêntico ou autenticado, lavrado em juízo ou declaração perante o funcionário do
registo civil (art.1677ºB/nº2). No caso de esta autorização ser dada pelo Tribunal o pedido pode ser
deduzido no processo de divórcio ou em processo próprio (art.1677ºB/nº3).
A privação judicial do uso de nome está prevista no art.1677ºC, no entanto, esta norma tem de
ser conciliada com o Decreto-lei 272º/2001, de 13 de outubro, sendo que esta ação pode ser intentada
nas conservatórias de registo civil, nos termos do art.7º a 10º do decreto-lei, mediante acordo das
partes. Caso estas não cheguem a acordo o processo é remetido para o Tribunal competente, correndo
os seus termos segundo o Código de Processo Civil, mediante processo declarativo comum. No
art.1677ºC/nº1 estabelece-se que o cônjuge só pode ser privado pelo Tribunal quando o uso dos
apelidos lese gravemente os interesses morais do outro cônjuge ou da sua família. Tal lesão tem de ser
provada em Tribunal e, por se tratar de um conceito indeterminado, tem de ser analisado
casuisticamente. A legitimidade para propor esta ação está prevista no art.1677ºC/nº2 e, em caso de
divórcio, tem legitimidade o outro cônjuge ou ex cônjuge; em caso de viuvez, tem legitimidade os
descendentes, ascendentes e irmãos do cônjuge falecido.
Deveres conjugais
Os deveres conjugais estão previstos no art1672º CC, sendo estes, o dever de respeito,
fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.
De acordo com o art.1671º CC e com o art.13º e 36º/nº3 CRP, o casamento baseia-se na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, cabendo a direção de família a ambos que devem
acordar sobre a orientação da vida em comum, tendo em conta o bem da família e os interesses um do
outro.
Relativamente à escolha da residência de família, estamos perante o dever de coabitação,
sendo que este não quer dizer apenas que os cônjuges vivam juntos, mas sim que vivam numa
comunhão de mesa, leito e habitação. A comunhão de leito implica que os cônjuges estejam obrigados
ao débito conjugal em 2 sentidos, ou seja, em sentido negativo – os cônjuges devem abster-se de
manter relações sexuais com outras pessoas – e em sentido positivo – os cônjuges devem manter
relações sexuais entre si. A comunhão de mesa significa que os cônjuges devem viver em economia
comum. E a comunhão de habitação significa que os cônjuges devem viver juntos, partilhando a
mesma habitação. Nesta comunhão de habitação vigora, no nosso ordenamento jurídico, o princípio
da igualdade entre os cônjuges, devendo existir um acordo entre eles acerca da escolha ou alteração da
morada de habitação, de forma a cumprirem este dever de coabitação (art.1671º/nº1). Assim, os
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cônjuges têm de chegar a acordo atendendo às exigências da sua vida profissional e aos interesses dos
filhos, procurando salvaguardar a unidade da vida familiar (art.1673º/nº1). Deste modo, nenhum dos
cônjuges pode decidir unilateralmente qual a residência da habitação de família, nem tao pouco alterá-
la unilateralmente, pois não existem, à data, chefes de família, vigando o princípio da igualdade entre
os cônjuges. Não havendo acordo sobre a fixação ou alteração da residência de família, será o
Tribunal a decidir, excecionalmente, a requerimento de qualquer dos conjugues (art.1673º/nº3 CC e
991ºss CPC).
Relativamente ao exercício de profissão, nos termos do art.1677ºD “cada um dos cônjuges
pode exercer a profissão que entender, sem necessitar do consentimento do outro”. No entanto, esta
liberdade também tem de ser conciliada com o bem da família e os interesses de ambos.
Relativamente ao dever de assistência, este está previsto no art.1675º CC e divide-se em 2: (a)
obrigação de prestar alimentos (art.1675º/nº1) – quando haja separação, de facto ou de direito, uma
vez que já não existe vida familiar, podendo, no entanto, existir casos em que se obrigue cada um dos
conjugues a prestar alimentos ao outro, sendo dito no art.1675º/nº2 e 3 que, mesmo com separação de
facto, o dever de assistência mantém-se; (b) obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar
– quando não haja separação, abarcando a afetação dos recursos àqueles encargos e através do
trabalho despendido no lar ou na manutenção e educação dos filhos (art.1676º/nº1). O dever de
contribuir para os encargos da vida familiar (art.1676º) apresenta 2 salvaguardas relativamente a
desigualdades de contribuições no seu nº2 (quando haja uma contribuição manifestamente superior
por parte de um dos conjugues) e no nº4 (quando haja uma contribuição manifestamente inferior por
parte de um dos conjugues). Assim, nos termos do nº2 ocorre uma contribuição manifestamente
superior por parte de um dos conjugues quando: (1) existe uma renúncia excessiva à satisfação dos
seus interesses, designadamente à sua vida profissional; (2) em favor da vida comum; (3) tendo
prejuízos patrimoniais importantes. Ora, quando estes pressupostos estão verificados, existe um
direito a uma compensação (art.1676º/nº2, parte final), embora esta compensação só possa ser exigida
no momento da partilha dos bens do casal, salvo se vigorar o regime de separação de bens
(art.1676º/nº3).
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escolha. O legislador pretendeu evitar que as pessoas apenas casassem por questões de interesses
patrimoniais, no entanto, este artigo já não é assim tão relevante, pois a esperança média das pessoas
já é mais elevada e o cônjuge tem sempre direito a uma parte da herança (há quem o considere mesmo
inconstitucional por força do art.26º CRP). O regime da separação de bens está previsto no art.1735º,
não existindo aqui bens comum, apenas bens próprios de cada um dos cônjuges, no entanto, quando
estes compram bem em conjunto tornam-se comproprietários dos mesmos.
Posto isto, cabe aferir a titularidade dos bens em questão dado o regime de bens em causa.
A administração dos bens do casal encontra-se prevista no art.1678º, sendo que a
administração e a titularidade são coisas distintas, embora, por vezes, coincidam. Esta análise deverá
iniciar-se pelo nº2 do preceito, de forma a verificar se existe alguma exceção, pois só não existindo é
que será possível avançar para o nº1 (regra relativamente a bens próprios) ou nº3 (regra relativamente
a bens comuns).
Posto isto, importa analisar a alienação dos bens e quem teria legitimidade para o fazer. Para
isso, temos de recorrer ao art.1682º referente à alienação ou oneração de móveis, ou ao art.1682ºA
referente à alienação de bens imóveis ou EC. Relativamente aos bens moveis, a regra é a de que quem
administra pode dispor (art.1682º/nº2), no entanto existem exceções.
Por fim, cabe analisar as consequências destas alienações feitas por quem não tem
legitimidade para o fazer, sendo que a consequência ou será a anulabilidade (art.1687º/nº1) ou a
nulidade (art. 1687º/nº2).
Às situações que se compreendem no nº1 do art.1687º é aplicado o regime da anulabilidade,
sendo o negócio anulável a requerimento do cônjuge que não deu o seu consentimento ou dos seus
herdeiros. Estamos aqui a falar ao consentimento conjugal, nos termos do art.1684º que deve ser
especial para cada um dos atos, sendo que a sua forma é a mesma exigida para a procuração
(art.262º). Quando há uma injusta recusa do consentimento ou uma impossibilidade de o prestar, este
pode ser suprido judicialmente (art.1684º/nº3). Ora, o direito de anulação pode ser exercido no prazo
de 6 meses subsequentes à data em que o requerente teve conhecimento do ato, mas nunca depois de
decorridos 3 anos sobre a sua celebração. Importa mencionar que em caso de alienação ou oneração
de bem móvel não sujeito a registo feita apenas por um dos cônjuges, quando é exigido o
consentimento de ambos, a anulabilidade não poderá ser aposta ao adquirente de boa-fé
(art.1684º/nº3).
Às situações que se compreendem no nº4 do art.1687º “são aplicáveis as regras relativas à
alienação de coisa alheia”, ou seja, o regime da nulidade (art.892º).
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mesmo o consentimento posterior ao momento de contrair a dívida vale para estes efeitos quando o
outro cônjuge concorde com a dívida. O ónus da prova cabe ao credor.
Nos termos do al. b, “são da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas por
qualquer dos cônjuges, antes ou depois da celebração do casamento, para ocorrer aos encargos da
vida familiar”. Nesta alínea importa verificar se a dívida foi contraída para ocorrer aos encargos da
vida familiar, tanto pela sua natureza como pelo seu valor. Assim, o artigo refere-se a dívidas
pequenas, periódicas e imprescindíveis para o desenrolar normal da vida familiar (alimentação,
combustível, vestuário, medicamentos, rendas, contas da casa, etc.). Aqui, o ónus da prova cabe ao
credor.
Nos termos da al. c, “são da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas na
constância do matrimónio pelo cônjuge administrador, em proveito comum do casal e nos limites dos
seus poderes de administração”. Neste âmbito temos de ter em consideração 4 fatores: constância do
matrimónio; cônjuge administrador; limites de administração e proveito comum do casal. Em relação
ao “proveito comum do casal” este não se afere pelo resultado, mas sim pelos fins visados pelo
cônjuge, ou seja, apenas interessa a intenção de haver interesse comum. Por outro lado, temos de
verificar se houve uma intenção subjetiva (ou seja, se para a pessoa do cônjuge havia uma intenção de
proveito comum) e uma intenção objetiva (ou seja, se a dívida se pode considerar contraída, à luz da
experiência e probabilidade normal, em proveito comum do casal). O proveito comum pode assumir
uma natureza económica ou material, mas também moral ou intelectual. Nos termos do nº3 do
art.1690º o “proveito comum do casal não se presume, exceto nos casos em que a lei o declarar”.
NOTA: no regime da comunhão de adquiridos o produto do trabalho dos cônjuges é um bem comum
(salário), nos termos do art.1724º (a).
Nos termos da al. d “são da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas por
qualquer dos cônjuges no exercício do comércio, salvo se se provar que não foram contraídas em
proveito comum do casal, ou se vigorar entre os cônjuges o regime de separação de bens”. Esta alínea
tem de ser sempre analisa em conjunto com o art.15º CCom, ou seja, “as dívidas comerciais do
cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio”. Por outro lado, nos
termos do art.1691º/nº1 (d) também se presume que a dívida foi contraída em proveito comum do
casal. Assim, cabe ao outro cônjuge ilidir ambas as presunções, no entanto, no regime da comunhão
de adquiridos é muito difícil afastar a presunção de que a dívida é contraída em proveito comum do
casal, pois o fruto do trabalho é um bem comum.
Ora, pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens
comuns do casal, e, na falta ou insuficiência deles, solidariamente, os bens próprios de qualquer dos
conjugues (art.1695º/nº1). Assim, os cônjuges são solidários nos termos do art.512º e 513º. No
entanto, no regime da separação de bens a responsabilidade dos cônjuges não é solidária
(art.1695º/nº2 e 1735º). Assim, quando por dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges tenham
respondido bens de um só deles, este torna-se credor do outro pelo que haja satisfeito além do que lhe
competia satisfazer, mas este crédito só é exigível no momento da partilha dos bens do casal, a não ser
que vigore o regime da separação.
Nos termos do art.1696º/nº1, pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges
(art.1692º) respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos
bens comuns. Sempre que por dívidas da exclusiva responsabilidade de um só dos cônjuges tenham
respondido bens comuns, é a respetiva importância levada a crédito do património comum no
momento da partilha (art.1698º/nº2).
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