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Direito de Família e Sucessões - Marco Fábio Morsello

Direito de família
a) Introdução ao Direito de Família
● A família é uma instituição social pré-estatal
○ Tipologia social e histórica que traz a visão da família
● Direito Italiano
○ Família como sociedade natural pré-estatal
● O ser humano é o produto de todas as épocas anteriores
● Maxi-Família (Gregos e romanos)
○ A noção de família era de um grupo comandado por um patriarca
■ Era piramidal e hierarquizada
■ Todos eram servos do patriarca (Pater Família)
○ Deuses Lares e Penates
■ Eram cultuados
■ Sem a continuação por meio da família havia a crença que a pessoa
viraria uma alma penada
○ Culto aos antepassados
○ Por isso havia uma grande quantidade de adoções
○ Levirato
■ Instituto do direito de família em que tem a ideia de que tudo deverá
permanecer no direito original do pater
■ Falecendo o marido a mulher deveria permanecer na família, casando
com seu sogro ou com cunhado.
■ Mantida a ideia da rigidez do vínculo sanguíneo
○ Pater
■ Funções de magistrado e sacerdote
○ Status
■ Cada um executava um papel estipulado
● Brasil
○ Com a invasão portuguesas ocorreu um caráter híbrido da formação de famílias
○ Para os indígenas as famílias eram extensas
■ Se houvesse o casamento com uma mulher da tribo tupi guarani ela
tornava-se temericó, ou seja, toda a tribo tornava-se sua família
● Idade média
○ Visão de família incorporado pelo clero
■ Solenização do sacramento
○ O divórsio não existia, somente caberia às hipóteses de anulação do
matrimônio
■ Violência doméstica
● Continuavam casados mas com separação para dormir e comer
● Revolução Industrial
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○ Êxodo rural
■ Não é mais mantido o vínculo com as maxi-famílias
■ Desmembramento dos familiares
○ Torna-se uma família nuclear
■ Genitores e descendentes
■ Colaterais até terceiro grau
● 02º Guerra Mundial
○ Eficácia de irradiação dos direito fundamentais tendo a pessoa e sua dignidade
como papel central
○ Família como locus de desenvolvimento das aptidões pessoais
○ Possibilidade da não constituição da família
○ O afeto torna-se essencial
● Mudança de paradigma por três eixos
○ Horizontal
■ Igualdade entre os membros da família
● Dias lustricus
○ Os dias nos quais o recém nascido esperava para ser
reconhecido pelo pater como parte da família
● Reconhecimento da importância da mulher
■ Igualdade hierárquica entre as entidades familiares
● Casamentos, união estável, família não-parental, família
mosaico
○ Vertical
■ Igualdade na filiação
■ Anteriormente, dependendo de como os filhos foram gerados (dentro,
fora do casamento), a eles eram atribuído importância distinta
● Inclusão do sobrenome (apelido de família)

b) Entidades familiares
● Mais correto utilização de arranjos familiares
● Arranjos familiares
○ Casamentos, união estável, família não-parental, família mosaico
● Art. 227, CF
○ Direitos da criança envolvendo tanto a família como o Estado
● Definição de família
○ Ivone Castelano
■ O que seria a família, antigamente, possui requisitos teológicos, tais
como laços de sangue e morar na mesma residência.
○ Família, atualmente, deriva de um afeto qualificado (derivado de relação de
estabilidade, sociabilidade, interdependência)
■ Cada um de seus membros ocupam um lugar, sem estarem,
necessariamente, ligado por um vínculo biológico, não sendo rígida e
cabendo o desenvolvimento da personalidade
● Casamento

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○ Ainda é o mais frequente


○ União matrimonial baseada na comunhão plena de vida
○ Nenhuma pessoa é obrigada estar casada
○ Não é hierarquicamente superior aos demais arranjos
● Família monoparental
○ Um dos pais sustentam o lar sozinhas
○ 80% dos casos são mulheres
● União estável
○ Relação entre companheiros que convivem diariamente
○ Não há impedimento matrimonial
○ Eles apenas não querem se casar
○ Está baseada em uma convivência pública, ostensiva e duradoura
■ Em 1994 estabeleceu o prazo de 05 anos para enquadrar em duradoura
■ Atualmente, entende-se que deve se observar quantitativa e
qualitativamente
● Filhos, dependência
● Deixa de observar o tempo necessariamente
● União homoafetiva
○ Não tem previsão direta da lei
○ É uma interpretação gerada pelo voto do Ministro Ayres Britto que o art. 1723
não permite exclusividade da identidade sexual, sendo aceita a pluralidade das
uniões
■ STF
■ ADI 4277/2014 e ADPF 152/2014
■ Eficácia Erga Omnes
■ Possibilidade de união homoafetiva
○ Filiação
■ Admissão da adoção
● Irlanda foi o primeiro país a permitir
● Família Anaparental
○ Não tem relação de ascendência ou descendência
○ Pode ser composta por irmãos e primos
● Família reconstituída ou mosaico
○ Quando a família é composta por filiações de diversas origens
○ Família reconstituída trás em si um conceito atrelado ao rotulo
○ Exemplo
■ Casal composto por membros já casados anteriormente e que possuem
filhos de relações anteriores que se casam e têm filhos dentro da
relação
● Família poliafetiva
○ Não aceita no Brasil por conta da poligamia ser crime
○ Os filhos serão preservados
○ Literatura traz a ideia de que a monogamia não seria o usual no mundo animal
Trata-se de uma realidade existente
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○ Não deve ser confundido o poliamor com famílias paralelas


○ Casamento poliafetivo poderia gerar relações obrigacionais, mas talvez não de
família - problemas sucessórios
○ A resposta é sempre a análise do caso concreto - perigo de ferir princípios do
direito de família
○ Casos de poligamia de estrangeiros que vem casados de outros países -
homologar primeiro casamento e equiparar os outros a uniões estáveis
■ Evitar enriquecimento sem causa Família multi- espécies - ainda não
reconhecida como entidade familiar - animais já não são mais
considerados objetos, são alvos de proteção
■ Dignidade da pessoa humana transcende o antropocentrismo e o
biocentrismo
○ Fazemos parte de um todo
○ Reconhecimento dos animais como dignos de proteção
○ Questão da auto-estima, ligação que deve ser protegida pelo direito
● Sologâmia
○ Casar com si mesmo
○ Não é uma entidade familiar
○ Bem de família a escolha do projeto pessoal de não constituir família com mais
ninguém não pode ser discriminada
■ Salvaguarda dos bens mesmo no caso solo
● Uniões paralelas
○ Bigamia
○ Filhos protegidos
○ Cônjuge de boa-fé protegido
○ Não é uma entidade familiar
● i-Family
○ Interações virtuais entre amigos
○ Não são considerados família
○ Tem início como convivência direta
● Família eudemonista
○ É a família que busca a felicidade
○ Não é uma espécie mas uma característica que deve estar contida em todas as
entidades familiares

Casamento
a) Princípios matrimoniais
● No modelo social de atitude, com grande influência religiosa, é o mais comum arranjo
familiar
● Desde a antiguidade, vinha acompanhado de um status e de uma máscara, tendo papéis
fixos a serem desempenhados
● Solenidade em homenagem aos deuses lares
○ Ritual atrelado a mitologia e à questões sacramentais

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● Casamento como base da sociedade


○ Vem do direito canônico e o cristianismo elencou o casamento como um
sacramento
● Decreto Tametsi
○ Somente será considerado casamento ser celebrado junto da igreja católica e
com todos os ritos necessários
● Vínculo insolúvel
○ Só acaba com a morte
○ Exceções
■ Anulação do casamento
● Erro sobre a identidade da pessoa
● Moléstia grave
● Impotência
● Requisitos do casamento
○ Coabitação
■ Não é mais necessário na atualidade
○ União plena de vida
○ Convivência pública ostensiva
○ Manifestação de vontade de natureza contratual

b) Definição de casamento
● Pontes de Miranda
○ “É o contrato de direito de família que regula a união entre o homem e a
mulher”
○ Caráter solene que é constitutivo da família
○ Casamento ato
■ Manifestação de vontade
■ Tem a manifestação volitiva
■ Contrato
■ Casamento in facto
● Doutrina italiana
○ Casamento estado
■ Submete-se a determinadas regras que vão além da vontade
■ Produz o estado de casar
■ Caráter institucional
■ Casamento in fieri
● Doutrina italiana
● Antonio Junqueira de Azevedo
○ Posição eclética
■ “O casamento é fato social de que deriva acordo, contrato. No entanto,
há peculiaridades do casamento cujo conteúdo é mais extenso que o
patrimonialismo típico dos contratos”
○ Depois do encontro das vontades (contrato), o casamento se submete aos
efeitos matrimoniais

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○ Contrato familiar que tem manifestação de vontade mas se submete à


instituição que transcende o patrimonialismo
● Gualtier
○ “É a base do coroamento de toda cultura”
● Schopenhauer
○ “Em nosso universo monógamo casar é perder metade dos direitos e duplicar
os deveres”
● Modestino - Séc. III d.c
○ “É a conjunção do homem e da mulher, que se unem para toda vida. A
comunhão do direito divino e do direito humano”
● Decreto Lei nº 181/1890
○ O clero não está mais relacionado com o casamento, não sendo mais religioso
○ Criou-se a ideia do casamento civil, que independe do casamento religioso
○ Não reconhece mais os efeitos do casamento religioso
■ Quem não submete-se ao casamento civil não estaria casado aos olhos
do estado
○ Após, criou-se o casamento religioso com efeitos civis, no qual a pessoa faz
todo o trâmite necessário durante a cerimônia
■ Art. 226, § 2º - Lei 6.015/73

c) Finalidade do casamento
● Disciplinar as relações sexuais entre os conjuges
● Proteção à prole
● Mútua assistência
○ Comunhão plena de vida
■ Cláusula geral
■ Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a
condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da
família. § 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu
o sobrenome do outro. § 2o O planejamento familiar é de livre decisão
do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de
coerção por parte de instituições privadas ou públicas.
○ Ideia espiritual de apoio e solidariedade
○ Material e moral

d) Efeitos do casamento
● Paridade de tratamento
○ Estatuto da mulher casada
○ Plena igualdade entre os membros da família
● Criação da família
● Modificação do estado civil dos cônjuges com eficácia erga omnes
● Passam a ser co-responsáveis pelos encargos da família nos limites de seus
patrimônios

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● Criação de um vínculo de parentesco por afinidade


○ Vínculo entre o cônjuge e os parentes do outro
● Regime de bens
○ Regula a convivência matrimonial no futuro
○ É importante porque determina como será a atribuição patrimonial
○ Nos casos de dissolução dita de como será a separação do patrimônio

e) Habilitação para o casamento


● É um procedimento necessário para publicizar o ato do casamento
● Pode ser que a pessoa tenha impedimento matrimonial e esse empecilho precisa ser
resolvido
● Definição
○ Publicização com a finalidade de excluir matrimônios que possuam
impedimentos legais
● Medida preventiva
● A publicização é feita pelo proclamas
○ São os editais
■ Possuem dia e hora
○ Podem ser dispensados ou abreviados em hipóteses de urgência fundamentada
■ Casos de moléstia grave
■ COVID
● Na habilitação é difícil que ocorra impedimentos
○ Nos casos que acontece é normalmente uso de documentos falsos
● Quem celebra o casamento civil é o juiz de paz
○ No Estado de São Paulo destina-se a celebrar casamentos civis
■ Eles fazem uma prova para poder realizar e são nomeados pelo
secretário da justiça
● Casamento nuncupativo
○ Casamentos celebrados à distância (por viva voz), apenas manifestando sim
sem nenhuma solenidade
○ Casos em que a pessoa sofre de moléstia grave
■ In extremis
○ Também existe o testamento nuncupativo
■ Ocorre por exemplo quando a pessoa esta na guerra

f) Impedimentos matrimoniais
● Conceito
○ Circunstâncias ou situações de fato ou de direito, expressamente
fixadas em lei, que veda a realização do casamento
● Art. 1521
○ Não podem casar:
■ I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco
natural ou civil;

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● Em casos de adoção não pode-se casar por conta da


imitação que ocorre do processo natural
■ II - os afins em linha reta;
● Genro ou nora com sogro ou sogra
● No caso de cunhados e cunhadas é permitido
■ III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado
com quem o foi do adotante;
● Imitação do processo natural
■ IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até
o terceiro grau inclusive;
● Descendentes e ascendentes não podem se casar, no caso
dos colaterais somente a partir do 04º
○ Primos-irmãos podem se casar
● Decreto nº 3200/1940
○ Um amigo pessoal de Getúlio Vargas desejava
casar-se com a sobrinha (colateral em 03º grau)
○ Admite-se o casamento desde que dois peritos
atestam que não haveria risco para a prole
■ V - o adotado com o filho do adotante;
■ VI - as pessoas casadas;
■ VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio
ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
● Os impedimentos podem ser opostos até o momento da celebração do
casamento por qualquer pessoa capaz, sendo que, o juiz ou oficial de registro
tiver conhecimento sobre o impedimento ele será obrigado a declarar

g) Suspensão
● Ao contrário dos impedimentos elas não culminam na nulidade do matrimônio, mas
sim no regime obrigatório da separação de bens
● Finalidade de que não haja confusão patrimonial
● Art. 1523. Não devem casar:
○ I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
■ Deverá casar com separação total de bens até o momento da partilha
dos bens do falecido para evitar a perturbação ou turbação patrimonial
e preservar o próprio nubente
○ II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da
sociedade conjugal;
○ III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha
dos bens do casal;
○ IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não
cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.

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○ Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam
aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo,
provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para
o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a
nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na
fluência do prazo.

h) Invalidade
● Anulabilidade
○ Art. 1557
■ Hipóteses de erros
■ Há um prazo de três anos que, caso não se convalide, o casamento
poderá ser anulado em caso de erro dentro do direito de família
■ Deve verificar se no erro realmente havia vício de consentimento
■ Erro essencial
● Sobre a identidade do cônjuge
○ Não somente física (cível) como social
■ Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge: I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama,
sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a
vida em comum ao cônjuge enganado; II - a ignorância de crime,
anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida
conjugal (Não há necessidade do trânsito em julgado); III - a
ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que
não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por
contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro
cônjuge ou de sua descendência;
■ Identidade civil
● Conjunto de atributos ou qualidade me que a pessoa se
apresenta no meio social
○ Art. 1550
■ Idade mínima de 16 anos
● Aprovação dos pais ou submissão ao juiz
○ Vício da vontade
● Nulidade
○ Os impedimentos matrimoniais levam a nulidade do casamento
○ Incapaz não se aplica mais no casamento nulo
■ Pode expressar sua vontade através do curador

i) Tipos de casamento
● Casamento por procuração
● Casamento religioso com efeitos civis
● Casamento putativo
○ Definição

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■ É o casamento nulo ou anulável ao qual, além, por meio de uma ficção,


em razão da boa-fé de um ou ambos os nubentes, atribui os efeitos do
casamento válido até a data da sentença que o invalidou
○ Os efeitos não prejudicam aquele que estava com boa-fé
■ Proteção à filiação
■ Até ser considerado inválido produz alguns efeitos
■ Autonomia social
○ Analise do negócio jurídico
■ Elementos de existência
● Intrínseco
○ Forma
○ Objeto
○ Circunstâncias negociais
■ Modelo cultural de atitude que fazem com que o
negócio jurídico seja reconhecido como
socialmente apto a produção de efeitos jurídicos
● Extrínsecos
○ Agente
○ Tempo
○ Lugar
● Favor Matrimonii
○ Se houver discussão jurídica se as pessoas estão ou não
casadas, a prova é sempre a favor da presunção do
casamento
○ Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do
estado de casadas, não possam manifestar vontade, ou
tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da
prole comum, salvo mediante certidão do Registro Civil
que prove que já era casada alguma delas, quando
contraiu o casamento impugnado.
■ Requisitos de validade
● Forma prescrita ou defesa em lei
● Objeto lícito ou ilícito
● Tempo útil
● Lugar apropriado
● Agente capaz
● Nulo ou anulável
○ Os vícios de consentimento tem prazo prescricional para
tornar o casamento anulável, após transpassar o mesmo,
os anuláveis se convalidam
○ Mesmo o nulo produz efeitos no caso do casamento
putativo
○ Regra que confirma a exceção
■ Fator de eficácia
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● Condição
○ Eficácia superveniente

j) Regime de Bens
● Definição
○ Pontes de Miranda: “São o complexo de normas que disciplinam as relações
econômicas entre marido e mulher, durante o matrimônio”
● Regime legal x Regime obrigatório
○ Existem regimes imperativos, leia-se obrigatório, já previsto no Código Civil
■ Separação obrigatória de bens
○ O regime legal é previsto em lei mas não impositivo às partes, sendo que estas
podem optar por ele
● Tipos de regime de bens
○ Separação obrigatória de bens
■ Não há opção aos nubentes
■ Interpretação restritiva, já que a norma é excepcional
■ Art. 1641
● É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I -
das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento; II – da pessoa maior
de 70 (setenta) anos; III - de todos os que dependerem, para
casar, de suprimento judicial.
■ Súmula 377
● “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento”
● Foi revalidado pela jurisprudência mas, tecnicamente, continua
em vigor
■ Não existe mais o bens reservados da mulher, não havendo qualquer
diferenciação
○ Separação convencional, consensual e voluntária (arts. 1687-1688)
■ Autonomia privada
■ Os cônjuges optam para separação total
■ A união é baseada no afeto, não tendo coligação patrimonial
■ Esta caminhando para esse uso comum
■ Antes de 2002 precisava da outorga do cônjuge mesmo neste tipo de
separação, atualmente não é mais necessário, mesmo dentre aqueles
que realizaram a união em momento anterior ao código dentro deste
regime
■ Súmula 377
● Comunicação dos bens aquestos
● Aplicação nos casos em que um dos cônjuges enriquece muito
mais
○ Comunhão universal (arts. 1667-1671)
■ Autonomia privada

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■ É optativo, tendo sido o tipo legal até 1977


● Se ninguém optasse por um regime específico era este o
aplicado ao casamento
■ Exceções
● Art. 1668. São excluídos da comunhão:
○ I - os bens doados ou herdados com a cláusula de
incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;
■ Cláusula de incomunicabilidade
● Estabelece uma cláusula que prevê que a
herança não poderá ser dividida com o
cônjuge
● Muitas vezes é necessário constar os
motivos pelo qual optou-se para
utilização da cláusula
■ Bem fica inalienável a nível patrimonial
■ Para que seja revogada é necessário realizar um
novo testamento
○ II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do
herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição
suspensiva;
○ III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se
provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem
em proveito comum;
○ IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges
ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;
○ V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.
○ Comunhão parcial (arts. 1658-1666)
■ É o novo regime legal
■ Aplica-se este regime nos casos em que os cônjuges não optem
expressamente por outro
■ Os bens anteriores ao casamento são denominados aprestos
● Aquisição com causa anterior ao casamento
● Herança é apresto
● Estes não se comunicam na separação de bens
■ Art. 1659
● Excluem-se da comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir
ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento,
por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II - os
bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um
dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; III - as
obrigações anteriores ao casamento; IV - as obrigações
provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do
casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de
profissão; VI - os proventos do trabalho pessoal de cada
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cônjuge; VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras


rendas semelhantes.
■ Apenas os bens aquestos, ou seja, aqueles adquiridos no decorrer do
casamento
○ Participação final de aquestos (arts. 1672-1686)
■ Aquestos
● Bens adquiridos na constância do casamento
■ Não faz parte do modelo cultural de atitude brasileiro, entretanto, tem
mais artigos no código que a União Estável
■ Necessário pacto antenupcial para que seja utilizado
■ A separação se aproxima da comunhão parcial quando há dissolução do
casamento
■ É uma comunhão parcial diferida
■ Definição
● Rolf Madaleno
○ “Cuida-se, em realidade, de um regime de separação de
bens, em que cada consorte tem a livre e independente
administração do seu patrimônio pessoal, dele podendo
dispor quando for bem móvel, necessitando da outorga
quando for imóvel. Com a dissolução da sociedade
conjugal será verificada o montante dos aquestos
levantados a data de cessação da convivência, e cada
conjuge participará dos ganhos obtidos pelo outro a
título oneroso.”
■ Art. 1674
● Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o
montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios
próprios: I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu
lugar se sub-rogaram; II - os que sobrevieram a cada cônjuge
por sucessão ou liberalidade; III - as dívidas relativas a esses
bens. Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se
adquiridos durante o casamento os bens móveis.
■ Exemplo
● Pedro e Paula antes do casamento possuem 1 milhão cada.
Durante o casamento, Pedro adquiriu 1 milhão e Paula adquiriu
2 milhões. Desta forma, para ambos saírem do casamento com o
mesmo montante, Paula deverá dar para Pedro 500 mil reais.
■ Diferenças da separação parcial de bens
● Na separação parcial, os ganhos a título gratuíto, tais como
ganhar na loteria, entram na separação, já nos aquestos é
somente ganhos a título oneroso
● Neste tipo de separação não é necessária a outorga obrigatória
do cônjuge na alienação de bens móveis, o que ocorre na
separação parcial de bens
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● Pacto antenupcial
○ Artigos 1653 a 1657
○ É um negócio jurídico do direito de família
■ Acordo de declaração de vontade mas a autonomia privada não é ampla
e se submete ao aspecto institucional
○ Não são feitos em todas as situações pois, normalmente, os cônjuges chegam a
conclusão de que o regime de bem seguido será o legal, ou seja, o de separação
parcial de bens
○ Pode ser nulo se não seguir o regime legal
■ Aplica-se a comunhão parcial, já que é o regime legal que aplica-se
quando o pacto for nulo
● Imutabilidade do regime de bens
○ Era a regra antes do Código Civil de 2002
○ Mutabilidade controlada
■ Agora, é possível mudar o regime de bens, no entanto precisa ter a
anuência dos cônjuges e passa por um processo judicial para avaliação
do MP e do juiz
● Para evitar fraude ao credor
● Vara de Família e Sucessões

União estável
● Antes, filhos de casamento eram denominados legítimos e filhos de união estável eram
“naturais” (sentido pejorativo)
● Concubinato
○ Súmula 380 STF
■ Reconhecimento de uma sociedade de fato
■ Permite partilha do acervo patrimonial adquirido do esforço comum
(como se fosse uma comunhão parcial de bens)
■ Hipótese de indenização por serviços domésticos prestados pela mulher
caso esta não trabalhasse fora remuneradamente
○ Art. 226, parágrafo 3º
■ Reanálise: União estável passa a ser reconhecida
■ Concubinato puro (o atual concubinato, denominado união estável) e
concubinato impuro (derivado de uniões paralelas, não considerada
entidade familiar)
● Art. 1723
○ É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família.”
● Art. 1727
○ Concubinato atual (antigo concubinato impuro)
○ “As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar,
constituem concubinato.”

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● Lei 8971/94
○ Regula o direito dos companheiros a alimentos e à sucessão
● Lei 9278/96
○ Dispensa o critério temporal
● Fidelidade é espécie do gênero lealdade (entendimento posterior)
○ Adultério não é por si só causadora de dano moral
○ Pode ser em situações específicas, como no caso da figura pública
● Na união estável se comunicam os bens aquestos

Dissolução da sociedade conjugal e do vínculo matrimonial

a) Divórcio Judicial
● A separação judicial difere-se do divórcio, sendo a primeira o fim da sociedade e a
segunda a dissolução total do vínculo
● A pessoa separada não poderá casar-se, pois ainda possui vínculo

Parentesco

a) Conceito
● Filiação
○ Corresponde ao 03º eixo
○ Eixo vertical
○ Igualdade entre os filhos
○ Parentesco, filiação e investigação de paternidade
■ Se relaciona com os três eixos
● O eixo presente no parentesco, filiação, é o eixo vertical
● Definição de parentesco
○ Pontes de Miranda
■ Relação que vincula entre si pessoas que descendem uma das outras,
ou, de autor comum (consanguinidade), que aproxima cada um dos
cônjuges aos parentes do outro (afinidade), ou que se estabelece por
ficção jurídica entre o adotado e o adotante
○ Que vincula pessoas entre si
■ Consanguinidade – pessoas que descendem uma das outras – caráter ad
infinitum.
○ Que próxima cada um dos cônjuges
■ Por afinidade – parentes do outro cônjuge, não quer dizer que eu sou
parente do meu cônjuge.
○ Por ficção jurídica
■ Figura da adoção
■ Pontes de Miranda
● Adoção imita a natureza – ainda que não haja um risco
genético, há uma noção moral – parentesco cível, normativo,
em que se imita o percurso da natureza.

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● Agnação x Cognação
○ Agnação
■ Lado consanguíneo masculino
● Qual a utilidade do termo Parentesco no Código Civil?
○ Herança
○ Impedimentos
○ Alimentos
○ Nepotismo
● Parentesco por afinidade
○ Vínculo que une uma pessoa aos parentes de seu cônjuge ou companheiro
○ Não existe afinidade de segundo grau
● Art. 1553, CC.
○ Natural (consanguinidade)
○ Civil
○ Outra origem
■ Filhos havidos por fecundação
● Fecundação homóloga ou heteróloga
○ Homóloga: Quando o material fertilizante pertence ao
casal.
○ Heteróloga: Quando o material fertilizante é de terceiro
– Desbiologização.
● RESP 1067438/RS – Rel. Min. Nancy Andrighi
○ A filiação na tendência contemporânea: Somente poderá vingar no terreno da
intensidade e afetividade que unem pais e filhos independentemente da origem
biológica genética.
● Presunção de filiação
○ Art. 1597, CC
○ Cláusula Pater Is.
● Autoridade parental
○ Novos paradigmas
● Adeltocentrismo
○ Poder dos pais centralidade com bem estar dos filhos
○ Núcleos extensos
■ Maxi Famílias
■ Núcleos de produção
● Pater representava poder geral
○ Poder de sacerdote
■ Guardava os segredos
■ Deuses lares
○ Poder de vida ou morte prevaleceu por muito tempo
○ Afeto não era o elemento nodal das relações
■ Pátrio poder se disseminou muito no nosso ordenamento
■ Território gigante
● Paidocentrismo
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Letícia Videira - Turma 192

○ Genitor é aquele que procriou, pai é aquele que disponibiliza afeto


■ A verdade socioafetiva não importava muito no contexto do pátrio
poder
■ Essa ideia evoluiu para um melhor bem estar dos filhos
○ Art. 226, parágrafo 3º - Constituição Federal
○ Arquétipos de direitos
○ Paidocentrismo passa a ser cláusula geral
■ Ideia passa de poder para dever
○ Autoridade, para o direito francês, traz a ideia de exercício de uma função
■ Não necessariamente uma visão hierárquica
■ Exercício de direitos e deveres voltados ao interesse do outro
○ Poder/autoridade parental, não familiar
■ Voltados aos interesses da criança e do adolescente
● Natureza jurídica da autoridade parental
○ Definição
■ Situação jurídica complexa (direitos e deveres) em que avultam poderes
funcionais ao lado de puros e simples deveres. Há um conteúdo de
faculdades de cunho altruísta, consubstanciado no objetivo primacial de
proteção aos interesses dos filhos com vista a seu desenvolvimento
integral.
○ Inexiste supressão da autoridade parental, mesmo em caso de divórcio
■ Existem exceções legislativa
○ Visitas não é um direito auto referente, mas sim um dever que influencia no
desenvolvimento dos filhos
■ Magistrado decide pelo melhor interesse das crianças se os pais
discordarem em suas autoridades parentais
○ Dever de sustento
■ Não se confunde com a obrigação alimentar
■ Obrigação alimentar
● Reciprocidade
● Se aplica ao idoso (Estatuto do idoso)
○ Dever de convivência
■ Deve ser apurado qualitativamente, não quantitativamente
■ Art. 23 Estatuto da criança e do adolescente
■ Arts. 783/258
● Abandono afetivo, intelectual
■ Falta de recursos materiais não leva à perda imediata da autoridade
parental
● Abandono intelectual sim
○ Dever da guarda compartilhada
■ Juiz pode ir contra isso?
○ Home schooling
■ Brasil não é obrigado a aceitar esse modelo norte-americano de repulsa
à intervenção na decisão dos pais
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Letícia Videira - Turma 192

■ Norma paidocêntrica
● Brasil tendia a adotar o modelo francês
● Ideia de necessidade de socialização
■ Sopesamento
● Analisar as condições de estudo
● Psicólogos, assistentes sociais , etc
● Se for constatado que não é suficiente, não será indeferido
automaticamente, mas requisitado que medidas sejam tomadas
para tornar suficiente o método de ensino
● Ver o que é melhor para cada criança no caso concreto

b) Guarda
● Divórcio não extingue a autoridade parental mas altera as relações
○ Deve prevalecer o interesse da criança/adolescente
■ Nós X ninho
● Ideal que os nós foram desatados de maneira consensual
● Arts. 1583 e 1584
○ Visão paidocêntrica
○ Quando estão casados se chama guarda comum
○ Guarda dissolvida pode ser unilateral ou compartilhada
■ Unilateral quando uma das partes abdica, aceita ficar com o direito de
visita
● Pode haver quem substitua os pais na guarda, se provando o
melhor interesse da criança (não é definitivo)
● Quem não tem a guarda supervisiona aquele que tem (isso não
pode caracterizar abuso de poder)
■ Guarda compartilhada
● Responsabilização conjunta + exercício de direitos e deveres
● O tempo de convívio deve ser dividido de forma equilibrada
(não cronometrada)
○ Art. 1584 praticamente obriga o juiz a instituir a guarda compartilhada
■ Magistrado deve explicar didaticamente o que significa tal guarda, sua
importância, sanções pelo descumprimento, etc
■ Interpretação sistemática
● Guarda alternada pode ser instituída por um determinado
período (alguns meses, por exemplo)
○ Guarda atributo atrelado à autoridade parental
● Espécies
○ Unilateral
■ Juiz idealmente deve estabelecer os termos das visitas
■ Que dia, horário, lugares, festas de fim de ano
○ Nidal
■ Modelo muito adotado na Europa ○ ideia alemã de “ninho” (nest
modell)

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Letícia Videira - Turma 192

■ Domicílio referencial permanece, pais se revezam nas visitas


○ Compartilhada
■ Os pais repartem todas as tarefas
■ Se não houver fluidez na relação, acaba sendo uma guarda
compartilhada fictícia (se transformando em alternada)
● “Melhor interesse da criança”
○ Incluiu aquilo que a criança prefere
○ A partir dos 16 anos necessariamente deve ser ouvido
○ Vontade da criança vontade do genitor interação entre ambos vontade de
terceiros adequação (com a casa, escola, etc)
○ Juiz deve ser proativo nessa área, ou seja, não imparcial e buscando o melhor
para a criança

c) Alienação parental
● Prejudica a todos os envolvidos
● Fenômeno/Síndrome da exclusão parental
● Família é o local onde os indivíduos desenvolvem seu direito pessoal de personalidade
○ Não é correto algum membro destruir tal projeto existencial
● Definição
○ Estratégias do pai ou da mãe que desejam afastar injustificadamente os filhos
do outro genitor, a ponto de desestruturar a relação entre eles
● Lei 12.310/10
○ Art. 2º: alarga o espectro de quem pode ser o alienante
● Interferência na formação psicológica da criança/adolescente
● Promovida ou induzida pelos genitores, avós ou terceiros
● Prejuízos manifestos no vínculo

Alimentos

a) Conceito
● São prestações pecuniárias necessárias para suprir necessidades indispensáveis à
sobrevivência daqueles que não conseguem se manter pelo trabalho próprio
● Necessidades materiais e aquelas para manter uma vivência social
○ Condição moral e existencial/social da pessoa
● Se leva em consideração o patrimônio dos alimentantes, mas não levar ao exagero
○ Criança de 2 anos não precisa de milhões
● Trabalho
○ Impossibilidade por questões etárias, por exemplo
● Ligação com direito de personalidade
○ Dignidade humana

b) Natureza jurídica
● Alimentos que decorrem da lei (art. 1694 e seguintes do CC)
○ Preciso que exista vínculo de parentesco, casamento ou união estável

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Letícia Videira - Turma 192

○ Relações homoafetivas estão abarcadas, parentalidade socioafetiva também


● Binômio necessidade-possibilidade (diferenças entre os filhos, maioridade) ou
trinômio necessidade-possibilidade-razoabilidade
○ Necessidade do credor
○ Possibilidade do devedor
○ Constituem matéria pública
○ Natureza assistencial e não indenizatória (no âmbito do direito de família)
● Até 18 anos o que fundamenta o sustento é a dever de prestar alimento parentalidade
○ Poder familiar
○ Art. 1566, IV
● Quando se atinge a maioridade, 18 aos 24 com graduação ou curso técnico
○ Precisa demonstrar a necessidade e possibilidade
○ Precisa decisão judicial
○ Demonstrar a necessidade e possibilidade
● A partir de 24 com mestrado, por exemplo, deve ser provado a impossibilidade de
sustento próprio
● Obrigação posterior aos 18 anos é recíproca
○ Exemplos
■ Vínculo de matrimônio
■ Parentesco (1696 e 1697 CC)
● Ordem lógica de quem deve prestar os alimentos
○ Pais e filhos
■ Ascendente em que grau mais próximo exclui os mais remoto (havendo
pais, exclui os avós, havendo avós, exclui bisavós)
■ Na ausência, vai para irmãos e irmãs (colaterais de 2 grau)
● Existem hipóteses de exclusão da obrigação
○ Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor,
cessa o dever de prestar alimentos. Parágrafo único. Com relação ao credor
cessa, também, o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação
ao devedor

c) Características dos alimentos


● Caráter personalíssimo da pessoa que recebe os alimentos
○ Intuitu personae
○ Em relação ao alimentado, é intransmissível em relação ao alimentante, há
transmissibilidade aos herdeiros deste, por expressa disposição do CC
○ Herdeiros respondem até o limite da herança
○ Filho desconhecido, morre pai e filho que aparece vem cobrar
○ STJ
■ Indispensável ação de alimentos pretérita ao momento do falecimento
ou título de execução
● Divisibilidade
○ Tendo mais de um devedor de alimentos, cada um responde de acordo com a
sua quota parte, e não de forma solidária

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Letícia Videira - Turma 192

○ Exemplos
■ Irmãos na ausência de um ascendente alimentante
■ Idoso pode exigir de todos os devedores de forma solidária
■ O que pagar de forma completa pode pedir os valores de volta dos
outros devedores
○ Alimentos avoengos
■ Avós pagando para netos
■ Responsabilidade subsidiária (na falta dos pais) e complementar (não é
obrigação primária)
■ Deve ser feita ação anterior provando que os pais não podem pagar,
antes de exigir dos avós?
● Não é pacífica a jurisprudência
■ Mesmo sendo chamada posteriormente para prestar alimentos, deve ser
analisado a necessidade-possibilidade
■ Exemplos
● Gastos com medicamentos
○ É possível acionar os avós dos dois lados (maternos e paternos)
■ Pelo fato de estar subindo um grau de parentesco
■ Litisconsórcio passivo facultativo ulterior
● Reciprocidade
○ O dever não é só de pai para filho, mas pode ser de filho pros pais também
○ Irrenunciabilidade
■ O titular dos direitos ao alimentos não pode renunciar em caráter
definitivo ○ é diferente o direito à prestação
■ Em âmbito de acordo, aceitar que algumas prestações vencidas serão
perdoadas
■ Jurisprudência é dividida nesse ponto, mas vem reconhecendo que
entre ex cônjuges podem abrir mão do direito a receber alimentos
● Existe súmula 379 do STF contrário a essa posição de
possibilidade de renúncia
● Orientação 263 STJ: referência ao art 1707 CC, não impede que
seja reconhecida eficaz a renúncia (irrenunciabilidade seria
apenas no direito de família)
● Irrepetibilidade
○ Alimentos não podem ser repetidos/revistos
○ Exemplo
■ Descoberta posterior que quem pagava não era o pai
○ Art. 186
■ Possibilidade de regresso contra o pai “verdadeiro”
■ Responsabilidade subjetiva
● Não possibilidade de transação
○ Se admite transação entre as prestações, principalmente as vencidas
■ Exemplo

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Letícia Videira - Turma 192

● Pessoa deixou de pagar porque perdeu o emprego partes fazem


acordo de o alimentante pagar um pouco mais agora que
arrumou novo emprego e as dívidas anteriores são perdoadas
● Imprescritibilidade
○ Prescrição das parcelas vencidas
■ 2 anos a partir dos 16 anos do menor
● Mutabilidade (art. 1699 CC)
○ Havendo alteração das condições fáticas, valor da obrigação alimentar pode ser
revistos a qualquer tempo (ou na necessidade ou na possibilidade)
○ Sentença só faz coisa julgada formal, não material
○ Enquanto não entrar com a revisional de alimentos, as obrigações não mudam

d) Espécies de alimentos
● Quanto à natureza
○ Naturais ou civis
○ Naturais abarcam os indispensáveis à sobrevivência
■ Habitação, vestuário, despesas médicas
○ Civis
■ Manutenção da condição social, cultural, etc
● Quanto à causa
○ Legais, voluntários/convencionais, indenizatórios
○ Gravídicos
■ Prestação focada a abarcar custos adicionais/complementares
■ Por exemplo algum tipo de alimentação especial, psicólogo, exames
complementares
■ A partir do momento que nasce, muda a natureza da pensão
■ Na fixação, juiz precisa verificar:
● Indícios fortes de presunções de parentalidade do alimentante
(art. 1597 CC ou por provas no processo, fotos, conversas, etc)
indenizatórios decorrem de atos ilícitos
● Quanto à finalidade
○ Definitivos
■ Definido por acordo ou sentença transitado em julgado
○ Provisórios
■ Fixado antes da sentença, normalmente liminarmente
■ Há prova pré constituída do vínculo de parentesco
○ Provisionais
■ São preventivos e também fixados inicialmente
■ Ideia acautelatória
● Sem prova pré constituída
○ Transitórios
■ Decorrem de construção jurisprudencial
● Aplicado em casos de rompimento de vínculos entre cônjuges e
companheiros ○ noção de igualdade

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Letícia Videira - Turma 192

● Cônjuge precisa de um tempo para se recompor e voltar para


seu próprio sustento
■ Por um período específico
■ Pode ser por tempo indeterminado se for comprovado que o cônjuge
não apresenta possibilidade de sustento próprio
○ Compensatórios
■ Rompimento abrupto da paridade econômica entre as partes
■ Exemplo
● Separação total de bens em que um lado não construiu nada de
patrimônio e do dia para a noite vê sua condição de vida mudar
abruptamente
● Quanto ao momento
○ Pretéritos
○ Presentes
○ Futuros

e) Casos práticos
● Normalmente necessidades do menor são presumidas
○ Construção jurisprudencial leva a cerca de 30% sobre os rendimentos líquidos
do alimentante
● Divisão
○ Uma parte para seu sustento, uma parte para seu patrimônio, uma parte para o
alimentado
● Valor
○ Quando não é apresentado vínculo empregatício, existe o costume de se aplicar
o valor de um salário mínimo
○ Previsão constitucional (art. 7º ) de que não pode condicionar o valor a salário
mínimo, mas é amplamente aceito pela jurisprudência
● Possibilidade de estabelecer um valor e dizer que será ajustado conforme a inflação
○ Forma de correção pode ser escolhida em acordo
○ Correção é importante principalmente no casos dos alimentos vencidos
● Em caso do alimentante ser empregado, entra 13º, férias, FGTS, etc?
○ Critério da verba ser indenizatória ou remuneratória (eventual X habitual)
● Em termos de acordo, pode ser adicionada parcela excepcional
○ Ex: matrícula no começo do ano, despesa no dentista, etc
● Jurisprudência aconselha ser sempre em forma de pecúnia, inclusive para medir
posteriormente o inadimplemento
● Compensação por pagamento de outras formas
○ Ex: não pagou em dinheiro por 3 meses mas fez mercado pro filho, comprou
tênis,etc
■ Pessoa não respeitou o título fixado
■ Gastos extras são considerados doação (mera liberalidade)
● Questão de previsibilidade
● Não fica exonerado de pagar as prestações atrasadas

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Letícia Videira - Turma 192

● Se tiver acordo entre os cônjuges, teria que ser analisado pelo


MP, protegendo o interesse da criança
● É possível pagar menos do que o salário mínimo?
○ Sim, o que a pessoa puder e for acordado
○ Ex: 150 reais
● Nascimento de um segundo filho
○ Modificação da situação patrimonial do alimentante
○ Outra visão: paternidade responsável
■ Se o adulto capaz opta por sua felicidade, não poderia prejudicar o
primeiro filho tendo um segundo
■ Informativo 557 - REsp 1496948/SP
● Constituição de nova família não constitui por si só a revisional
○ Súmula 594 STJ
■ MP tem legitimidade ampla para atuação em favor do menor
● Art. 1703
○ Os 2 genitores precisam contribuir pro sustento dos filhos comuns
○ Guarda já acarreta uma série de gastos (pagos in natura)
○ Guarda compartilhada
■ Difícil ser 50/50
■ Não impede fixação de domicílio
● Influência de fixação de alimentos (Enunciado 607)

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