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UNIVERSIDADE POTIGUAR

KAROLINE LEITE LOPES


MAYANNE KÍVIA MACEDO DE ALMEIDA ALVES

O CASAMENTO E A ESCOLHA DO REGIME DE


BENS PELO CASAL:
DIFERENÇAS, CONSEQUÊNCIAS E SOLUÇÕES

NATAL/RN
2022
KAROLINE LEITE LOPES
MAYANNE KÍVIA MACEDO DE ALMEIDA ALVES

O CASAMENTO E A ESCOLHA DO REGIME DE BENS PELO CASAL:


DIFERENÇAS, CONSEQUÊNCIAS E SOLUÇÕES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação da universidade
Potiguar como requisito parcial para obtenção
do título de bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Esp. Pedro Fernando Borba Vaz Guimarães

NATAL/RN
2022
KAROLINE LEITE LOPES
MAYANNE KÍVIA MACEDO DE ALMEIDA ALVES

O CASAMENTO E A ESCOLHA DO REGIME DE BENS PELO CASAL:


DIFERENÇAS, CONSEQUÊNCIAS E SOLUÇÕES

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel e aprovado em sua forma final pelo
Curso de Graduação em Direito, da
Universidade Potiguar.

Natal/RN, ____ de ________________ de 2022.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________
Prof. Esp. Pedro Fernando Borba Vaz Guimarães (Orientador)
Universidade Potiguar

_______________________________________________
Esp. Laplace Rosado Coelho Neto
(Examinador externo)

_______________________________________________
RESUMO

O assunto abordado por esse trabalho é o casamento e, principalmente, os possíveis regimes


de bens que o rege, com o intuito de expor seus conceitos, destacar as diferenças entre cada
um deles e, em especial, o quanto eles impactam diretamente no direito sucessório e no
perpetuamento do patrimônio do falecido, adentrando também no mérito dos herdeiros.
Inicialmente, o presente artigo fará uma análise histórica sobre a relação do casamento, para
decifrar o caminho percorrido por nossa sociedade até os relacionamentos atuais que serão
também vistos. Abordará, então, de forma taxativa a contraposição citada entre regimes, para
adentrar nas consequências dos modelos na divisão patrimonial por separação e por causa
mortis. Portanto, dificilmente abordaria todas neste único trabalho, curto de tempo e espaço.
Porém, servirá para esclarecer dúvidas e propor soluções ao desamparo social e financeiro
atual do cônjuge sobrevivente, apresentando as possíveis mudanças, que já tendem a
acontecer, pois apresentaremos também julgados no mesmo sentido de nosso raciocínio,
favoráveis a adicionar o cônjuge sobrevivente como herdeiro de seu companheiro falecido.

Palavras-chaves: Regime Patrimonial. Sucessão. Inventário. Cônjuge.


ABSTRACT

The subject addressed by this work is marriage and, mainly, the possible property regimes
that govern it, in order to expose their concepts, highlight the differences between each of
them and, in particular, how much they directly impact on inheritance law and in the
perpetuation of the deceased's patrimony, also delving into the merits of the heirs. Initially,
this article will make a historical analysis of the marriage relationship, to decipher the path
taken by our society to the current relationships that will also be seen. It will, then,
comprehensively address the aforementioned contrast between regimes, to enter into the
consequences of the models in the division of assets by separation and cause of death.
Therefore, It'd be hardly possible to address it all in this single work, short of time and space.
However, it will serve to clarify doubts and propose solutions to the current social and
financial helplessness of the surviving spouse, presenting the possible changes, which already
tend to happen, as we will also present judgments in the same sense of our reasoning,
favorable to adding the surviving spouse as heir of your deceased companion.

Keywords: Regime. Patrimony. Succession. Inventory. Spouse.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
2. O CASAMENTO E O REGIME DE BENS .......................................................... 10
2.1. PARCIAL ............................................................................................................... 15
2.2. UNIVERSAL ......................................................................................................... 16
2.3. SEPARAÇÃO ........................................................................................................ 16
2.4 PARTICIPAÇÃO FINAL DOS AQUESTOS ........................................................ 17
2.5 MISTO ..................................................................................................................... 18
3. AS CONSEQUÊNCIAS DO REGIMENTO DE BENS NO PROCESSO
SUCESSÓRIO ............................................................................................................. 18
4. O CÔNJUGE COMO SUCESSOR DO DE CUJOS ............................................ 19
5. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 21
6. REFERÊNCIAS .......................................................................................................21
7

1 INTRODUÇÃO

Devido as grandes mudanças globais e interpessoais, a busca por relacionamentos se


tornou cada vez maior, sempre com pressa, sempre fugindo do, em tese, vazio que se instala
quando não há alguém romanticamente do seu lado. Um dos grandes motivos é a facilidade
que a internet e os aplicativos fornecem, além da clara cobrança social pelo parceiro ideal. Por
conta do maior e mais fácil acesso em relação a aproximação das pessoas, as relações se
tornam muito mais ágeis e intensas, declarando publicamente o que fazem ou com quem estão
se relacionando, além de viver nesse relacionamento com todos os requisitos de uma união
estável (artigo 1.723, CC). Isso pode ser tornar, inclusive, uma confusão com o fim dessa
relação, quando é caracterizada dessa forma.
Para evitar essa confusão patrimonial e impor limites a esse relacionamento,
sinalizando a não pretensão de constituição da família e da não vontade do casamento, mesmo
que temporariamente, está se tornando comum a adesão de contratos de namoro,
estabelecendo cláusulas, nela, sobre vontades acordadas pelo casal, mesmo em assuntos
íntimos entre eles. Esse contrato objetiva a não caracterização da relação em união estável
com efeitos de casamento, portanto, evita que exista um regime de bens, que é assunto desse
trabalho, porém, mesmo que haja a conversão da união, a cláusula fixa desse contrato mais
adotada é a de escolha do regime de separação total de bens.
O regime de bens pode ser entendido como um conjunto de regras, de iniciativa
pessoal e privada, em que os então noivos, constituem o casamento, decidindo, no pacto
antenupcial, a escolha do regime adequado. Após a união, adquirem direitos e obrigações
em relação ao cônjuge, até a futura (ou não) partilha, um meio de organização e
administração prévia da vida à dois.
A escolha do regime de bens é de suma importância, não só para convivência do
casal, mas por precaução financeira e jurídica. Responsabilidade pelos encargos da família
dada pelo casamento, no artigo 1.565 do CC, homem e mulher, mutuamente, terão a
condição de consortes e companheiros. E, apesar de ser feito em pacto antenupcial,
posteriormente os cônjuges podem optar por trocar o regime de bens, caso queiram e sintam
necessário ou conveniente, segundo o art. 1.639, §2º do C.C.
Nessa redação, veremos o Direito de Família conjugado ao Direito Sucessório,
fundado em propriedade e na forma de sucessão causa mortis (no momento morte). Direito
Sucessório, como posto por Mairan Gonçalves (2018) como fenômeno e em seu contexto
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histórico, aqui também abordado, que se trata de um ramo do Direito Civil, composto de
normas disciplinares de transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao
herdeiro, em virtude de lei ou testamento. o fundamento do Direito Sucessório é a
propriedade, conjugada ou não com o direito de família.
No que concerne ao casamento desde os primórdios, historicamente, se conta sobre
a existência dos dotes, pagos pelo homem, para a família da moça com quem gostaria de se
casar. Além disso, sobre toda a responsabilidade que se era delegada ao casal já durante o
casamento: do homem que trabalha fora de casa, para sustentar a família, enquanto a
mulher que está sempre em casa, cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos, não
trabalha, é “sustentada” pelo marido e essa é a obrigação dela. Podemos dizer, com isso,
que existe uma cultura machista enraizada, que está sendo, duramente, mas, gradativamente
quebrada com o avanço de nossa sociedade.
Atualmente, há cada vez menos casais que se enquadram na situação citada acima,
porém, o entendimento do direito sobre aqueles enquadrados está diferente, com um olhar
dissemelhante para o que se entendia como obrigação e, hoje, é sim colaboração para com o
sustento da família e pode ser visto como um trabalho, já que substitui tantos serviços que
seriam pagos à um funcionário (babá, faxineira, cozinheira...). Garantindo, assim, todos os
direitos à essa mulher na dissolução desse casamento.
Não dá para negar, no entanto, o cultivo da importância de capacidade financeira,
deixada pelos antigos pagamentos de dotes. Hoje, há um costume se formando de valorização
e busca de um cônjuge mais velho e bem dotado de recursos financeiros. Os chamam de
“sugar daddy” e “sugar mommy”, não sendo mais exclusividade da mulher ser “sustentada”
pelo homem.
Com o intuito de internar o tema abordado por esse trabalho, vamos levar em
consideração os dois casos citados e desenvolver pela admissão da tendência “sugar daddy” e
“sugar mommy”, não falando de relacionamentos amorosos em geral, mas focando no assunto
do casamento.
A busca por um companheiro mais velho para bancar suas “mordomias” não só deve,
mas tem limites legais, em nosso Código Civil Brasileiro, artigo 1.641, inciso II, que
compreende a necessidade de proteção da pessoa com mais de 70 anos, de forma a não
permitir a escolha do regime de bens, obrigando a partilha em separação legal de bens. Ou
seja, podemos basear esse desejo por um “daddy” ou “mommy” para herdar seu patrimônio
em pura ignorância e falta de informação popular.
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Tendo em vista a já existência dessa proteção ao patrimônio do idoso, que seria


vulnerável, e, voltando o olhar para o regime de comunhão universal de bens (o oposto), deve
se levar em consideração quais as situações/ circunstâncias foram parâmetro para a escolha
desse regime, sempre lembrando e considerando o princípio da presunção de boa-fé.
Em sumo, iremos analisar todos os regimes de comunhão de bens no casamento,
sabemos que, ao contrário do que muitos pensam, em caso de morte, o cônjuge sobrevivente
dificilmente é herdeiro, pois não deve haver descendente e nem ascendente do cônjuge
falecido, seguindo a linha de sucessão legítima do Art. 1.829 do Código Civil.
Refletindo sobre isso, e conhecendo a diferença da sucessão causa mortis e inter
vivos, faz-se necessário o debate sobre as diferenças entre modelos de escolha e que haja
efeitos e consequências diferentes no processo de separação e, principalmente, de inventário.
Este projeto usou uma estratégia qualitativa de pesquisa, por meio de uma
exploratória de pesquisa legislativa, jurisdicional e doutrinária. Pretendendo demonstrar os
procedimentos do inventário e analisar os regimes de bens existentes do direito brasileiro,
mesmo os menos tradicionais. Vamos abordar também os critérios analisados pelo legislador
para a hereditariedade em proeminência, através de estudo e método dedutivo, para
compreender os efeitos jurídicos dos regimes para as sucessões e, por fim, discutir a potencial
situação do cônjuge como herdeiro.
A temática do regime de bens escolhida chama atenção pela observância da
tendência existente de nossa sociedade e, consequentemente, do nosso Código, sob os
casamentos com Regime de Bens Parcial. Seja pelo grande tabu que ainda existe para essa
escolha de regime, já que a maioria de nós não se agrada de se casar ou “juntar os trapos”
pensando na finitude dessa união. Ou, seja pelo não conhecimento deles sobre os demais
regimes, que acabam seguindo a maioria e alimentando essa ignorância popular. O fato é que
a única certeza que existe é a finitude das uniões, por separação ou por morte. Mas quando se
trata da segunda opção, inicia-se um grande debate familiar sobre o espólio, envolvendo
confusões patrimoniais e dúvidas sobre o regime de casamento que tanto afeta a divisão dos
bens.
Uma temática interessante de abordar também é a Poliafetividade, visando a
mudança de um cenário jurídico que se mostra contrário às entidades familiares não
tradicionais ou fora do modelo convencional de família. Com o Conselho Nacional de Justiça
proibindo lavratura de escrituras públicas de reconhecimento das uniões poliafetivas, com a
omissão do legislador na regulamentação de efeitos jurídicos sobre essa união, esperando o
fim da modalidade de relacionamento poliafetivo no ordenamento jurídico brasileiro,
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inicialmente, serão aplicados os efeitos patrimoniais resultantes da dissolução da União


Estável. A escritura pública estabelece que a relação entre três pessoas é de natureza de
entidade familiar, com regras para a união estável e respectivos efeitos jurídicos, pessoais,
como o dever de lealdade, e patrimoniais, como o instituto da comunhão parcial estipulado
pelo art. do casamento (Código Civil, artigos 1,658 a 1.666).
Rodolfo Pamplona Filho e Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas entendem que:

O Poliamor, portanto, é uma filosofia de vida com identidade própria, pela qual mais
duas pessoas praticam o relacionamento afetivo não monogâmico, negociado,
consensual, transparente, igualitário e compersivo, sendo possível amar e ser amado por
mais de uma pessoa, simultaneamente, de forma transparente e sem qualquer sentimento
de culpa. (PAMPLONA, VIEGAS. 2019, p. 12)

Esses versículos declaram a existência de múltiplas uniões, e que essa relação tem o
efeito de que a lei é exclusiva das uniões monogâmicas. O artigo 1.723 do Código Civil,
caput, que reconhece a união estável como entidade familiar, enfatiza a união entre duas
pessoas e seu objetivo específico de construir família.
Também nos efeitos da morte, pode equivaler igualmente a uma ligação de união
estável. No entanto, através destes atos e declarações de interdependência, e, ainda, pretende-
se alcançar, por meio dessas escrituras e declaração de dependência recíproca, efeitos perante
o Instituto Nacional de Seguridade Social, Receita Federal, seguradoras, convênios médicos e
hospitalares, clubes etc. Talvez, posteriormente, vincule-se esse tipo de entidade familiar ao
nosso ordenamento, mas ainda não é reconhecido, até o momento.

2 O CASAMENTO E O REGIME DE BENS

O homem, historicamente, sempre busca se inserir em grupos no convívio em


sociedade. O casamento é o claro exemplo dessa necessidade humana de união e convivência
em grupo e com um parceiro. No início dessa idealização existente de um relacionamento por
amor, existia uma evidente desigualdade entre o casal, sendo sempre um comando dos
homens sobre suas mulheres, que eram submissas. Porém, atualmente, o novo ideal é a
igualdade e é com ela que trabalhamos nessa redação. Portanto, não existe aqui uma distinção
de direitos baseada em sexo, gênero, etnia, religião ou qualquer outro tipo de preconceito.
Inclusive, existe decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a exatos 11 anos, sobre
a ADI nº 4277 e a ADPF nº 132, reconhecendo o direito de união estável entre casais
homoafetivos. A ADI nº 4277 reconhecendo a união estável entre pessoas do mesmo sexo
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como entidade familiar, garantindo os mesmos direitos / deveres de um casal heterossexual. E


a ADPF nº 132 argumentando o ferimento dos preceitos fundamentais da igualdade e
liberdade, e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos previstos na Constituição
Federal com a falta desse necessário reconhecimento.
O nosso estado e a nossa justiça, como garantidores e moldadores do nosso estilo de
vida presente e futuro, tem a obrigação implícita e moral de se adaptar e se moldar às novas
situações, ajustando a legalidade para caber em todas as situações do cotidiano e
resguardando os direitos e a liberdade intrínseca que temos, a modernidade é algo inconstante,
trazendo consigo incertezas e problemas até passos serem dados para se começar a ter a
aceitação, nesse caso, de todas as formas de relações interpessoais. Evitando assim, atuais e
futuros conflitos em escala judicial e social, buscando sempre o progresso. Pelo olhar de
Paulo Lôbo (2008, p.23) “Somente com a Constituição de 1988, cujo capítulo dedicado às
relações familiares pode ser considerado um dos mais avançados dentre as constituições de
todos os países, consumou-se o término da longa história da desigualdade na família
brasileira”.
Para Friedrich Engels (1884, p.54-55). em “A origem da família, da propriedade
privada e do Estado”:

A primeira divisão do trabalho é a que se fez entre o homem e a mulher para a


procriação dos filhos [...] O primeiro antagonismo de classes que apareceu na história
coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre homem e mulher na monogamia;
e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino. A
monogamia foi um grande progresso histórico, mas, ao mesmo tempo, iniciou,
juntamente com a escravidão e as riquezas privadas, aquele período, que dura até nossos
dias, no qual cada progresso é simultaneamente um retrocesso relativo, e o bem-estar e o
desenvolvimento de uns se verificam às custas da dor e da repressão de outros. É a
forma celular da sociedade civilizada [...].

Apesar de o casamento ser tratado, por muitos, mesmo nos dias de hoje, como algo
divino, relativo à igreja e seus dogmas, é um negócio jurídico, deve e será, aqui, tratado como
tal. Historicamente, como dito na seção anterior, o homem era o “núcleo”, responsável por
bancar e proteger sua família, enquanto a mulher servia como cuidadora do lar e dos filhos, o
casamento era insolúvel e anulado apenas por morte, sendo assim, quando se separavam,
havia apenas a separação corpórea das partes, entretanto, mantendo-se o vínculo do
matrimônio, deixando as partes sem uma definição civil, mesmo que cessado os efeitos desse
negócio. Com o advento da constituição federal, surge uma nova concepção, chamada
entidade familiar, dessa forma, houve um alargamento jurídico, considerando não apenas as
famílias legítimas existentes e aceitas, mas, também, não negando os direitos das que não
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entravam nesse rótulo, considera-se, agora, não só o casamento, mas outros meios de
relacionamento interpessoais, os que são citados no presente trabalho.
O artigo 1572 do CC diz que “qualquer ato que importe grave violação dos deveres
do casamento e torne insuportável a vida em comum”, ou seja, com o novo código, não se
enumera mais as causas da separação litigiosa, como o adultério que, até 2005, era
considerado crime no âmbito penal e no civil. Entretanto, existem muitos casos em que uma
das partes entra com uma ação para que o outro a indenize pela traição e, apesar do respeito e
fidelidade ser uma das bases de qualquer relacionamento, estando posto, até mesmo, no
código civil, o seu não cumprimento não gera obrigação de indenizar, a não ser em caso que
ocorra dano material, moral ou estético, gerando a obrigação de ressarcir o outro, uma
responsabilidade civil.

Ainda que a lei recrimine de diversas formas quem descumpre o dever de fidelidade,
não há como considerar a monogamia como princípio constitucional, até porque a
Constituição não a contempla. Ao contrário, tanto tolera a traição que não permite que
os filhos se sujeitem a qualquer discriminação, mesmo quando se trata de prole nascida
de relações adulterinas ou incestuosas. (DIAZ, Maria berenice. 2010, p.60)

O desejo de constituir uma família, através da união voluntária do casamento entre os


nubentes é disposta no direito civil, a fim da visibilidade e legitimidade de sua relação afetiva,
mas também pela estabilidade social e financeira, na formação de uma família. O estado
preceitua a “família como sendo à base da sociedade e do estado, no seu artigo 226 da
Constituição Federal, desse modo, as regras imperativas são normas de ordem pública” como
descrita por Flávio Tartuce (2015).
O casamento, baseado no amor, paixão, fidelidade, afeto e tantos outros ideais,
principalmente, religiosos, é, na verdade, uma cerimônia civil de gratuita celebração, descrita
pelo artigo 1.512 do Código Civil. Como já é dito pelo tão sonhado discurso do juiz de paz
durante o casamento, essa celebração ocorre apenas pela vontade das partes em serem casados
e é celebrado em nome da lei, para que possam, por fim, assumir mutuamente a
responsabilidade de entidade familiar, como consortes e companheiros.
O princípio da autonomia da vontade é um dos fundamentos do direito contratual,
por isso, absoluto, pois cabe as partes decidirem, livremente, sobre seus próprios interesses e
vontades. A lei tem, apenas, o dever de regulamentar nesse processo, pois a autonomia de
ambos não impede os efeitos advindos das relações jurídicas. O professor Paulo Lôbo (2008,
Pág. 76) diz que “O casamento é um ato jurídico negocial, solene, público e complexo,
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mediante o qual um homem e uma mulher constituem família por livre manifestação de
vontade e pelo reconhecimento do Estado”.
O intuito do casamento de constituição da família, por ato formal, solene,
voluntário, que preza pela igualdade de direitos e obrigações entre o casal, é regido através
de autonomia privada, por escolha das partes qual regime adotar em sua comunhão, desde
que respeitando princípios legais. Portanto, o regime de bens adotado pelos nubentes deve
ser definido em pacto antenupcial, como negócio jurídico que é, com natureza patrimonial.
O pacto antenupcial é obrigatório em caso de escolha de um regime diferente da
comunhão parcial de bens, que é o de regra adotado, e, esse, tem seus efeitos suspensos até
que o casamento seja celebrado. Caso não haja essa especificação “vigorará, quanto aos bens
entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial” (CC, art. 1.640, caput).
Como disciplina Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 391):

Regime de bens é o conjunto de regras que disciplina as relações econômicas dos


cônjuges, quer entre si, quer no tocante a terceiros, durante o casamento. Regula
especialmente o domínio e a administração de ambos ou de cada um sobre os bens
anteriores e os adquiridos na constância da união conjugal.

Há não muito tempo atrás, existia uma diferenciação entre os filhos, separando-os
em duas classes: a dos filhos legítimos e dos ilegítimos, onde o filho nascido fora da
circuncisão do casamento era considerado ilegítimo, pois os pais deveriam estar devidamente
casados, quando eles estavam unidos, eram considerados legítimos ou naturais.
Contudo, no novo código civil houve finalmente a abordagem sobre o tema,
esclarecendo e dando direitos iguais perante a lei para todos os filhos, independente da
relação dos cônjuges e do seu atual estado de relacionamento, veio na forma do Art. 227: §
6º” os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
Entrando na questão dos herdeiros, cerca de 50% do patrimônio será garantido aos
herdeiros necessários, podendo favorecer um deles desde que respeitado esse limite, eles são
denominados assim, principalmente por conta da questão de inventário, possuindo o direito a
parte legítima da herança, seguindo uma ordem de prioridade que é: os descendentes,
incluindo o filho concebido mesmo após a morte (filho, neto, bisneto...) os ascendentes (pai,
avô, bisavô...) e por fim, cônjuge. Essa aplicação é para todos os tipos de regime e de família.
Entretanto, existem exceções, como o caso do filho ser deserdado ou considerado indigno.
Os outros como o irmão, tio, primo são chamados de herdeiros facultativos, ou seja,
somente em casos específicos poderão receber sua parte, normalmente, esse direito surge
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quando os principais não estão vivos. Em ordem de se alcançar e auxiliar vários tipos de
família, também ocorreu a definição da família monoparental, aquela que constituída por um
único pai ou mãe ou até mesmo descendentes.
No novo código de direito civil, ocorreu a implementação do art. 977 CC,
reavaliando e esclarecendo polêmicas e trâmites jurídicos sem um entendimento fixo, o artigo
dispõe acerca da sociedade constituída entre homem e mulher casados ou entre eles e
terceiros, ressalvadas as hipóteses em que o regime for de comunhão universal de bens ou de
separação obrigatória. Contudo, aquelas sociedades criadas ANTES da nova resolução, foram
alertadas pelo art. 2031, dando a oportunidade de ter a adaptação pelas partes ao novo
entendimento, no prazo de um ano, tendo consequências caso não mude, pois será
considerado ineficaz.
Aquelas uniões feitas durante a vigência do CC de 1916, serão dispostas e regidas
por ela. Salvo quando ocorrer uma das possíveis soluções para esse caso em específico, seria
o casal apelar para o art. 1639, § 2°, o qual comenta sobre a possibilidade de se mudar o
regime de bens durante o casamento, mesmo tendo sido estabelecido um anteriormente,
mediante autorização judicial, sendo acordado pelas partes e motivado no pedido, sendo este
analisado, e resguardando o direito de terceiros.
Essa segurança àqueles casais constituídos formalmente antes do novo código está
formalizada no art. 2.039, o qual discorre sobre as uniões feitas durante a vigência do antigo
código, dispondo e sendo regida pela norma anterior. A solução dita anteriormente seria,
realmente, em apelação para o art. 1639, § 2°, para mudança do regime de bens já durante a
vigência do casamento, restabelecendo-se o vínculo com a norma, mesmo que acabe diferindo
do regime anteriormente estabelecido, havendo anuência de ambos os componentes da
relação e com a prévia autorização do judiciário, sendo destacado e estabelecido no pedido,
sua análise deve visar e proteger o direito de terceiros.
O ordenamento jurídico brasileiro possui cinco modelos de regimes para escolha dos
nubentes, que, se desejarem, podem ainda optar por um regime misto, sendo acordado em
pacto antenupcial. O artigo 1.641 do Código Civil Brasileiro dispõe os casos de
obrigatoriedade do regime de separação obrigatória de bens no casamento, que serão
posteriormente citados. Expomos nesse capítulo apenas as diferenças gerais de cada um
desses modelos de regime de bens em suas especificidades.
Existem inclusive algumas exceções perante a lei, como por exemplo o art. 1668 do
CC, o qual exclui da comunhão os bens doados ou herdados com a cláusula de
incomunicabilidade, que seria a forma expressa e escrita, usada na doação de bens e até
15

direitos, sendo escolhida pelo doador, não permitindo a comunicação entre o bem e o
casamento. Assim como existe tal opção, também existe a forma expressa de se deixar uma
“cláusula de herança” sucessiva, garantindo aos filhos ou futuros filhos determinados objetos.
A Lei do divórcio (L 6.515/77), criada em 26 de dezembro de 1977, regula a
dissolução da união, solicitada por ambas ou por uma das partes, cessando por completo os
seus efeitos civis, com a sua criação o regime passou a ser o regime da comunhão parcial de
bens, causando o desuso do anterior, a comunhão total de bens, sedimentada no antigo Código
civil.
Ademais, o divórcio gera responsabilidades após sua conclusão, como a pensão
alimentícia para os filhos ou a ajuda financeira para um dos cônjuges que depende
financeiramente do outro, em regra, fica fixada por 2 (dois) anos, uma forma de oferecer
apoio até a independência da parte. Ainda com relação aos filhos, a questão da guarda gera
bastante conflito, ela pode ser: Compartilhada, em que o juiz determina o compartilhamento
do tempo passado com o filho, suas visitas, como fica a questão da divisão e etc.; guarda
alternada é aquela em que o filho mora com ambos os pais, gerando uma convivência maior e
as decisões geralmente são tomadas juntas, mesmo na casa de um, o outro tem direito a visita;
a guarda unilateral se trata da atribuição a apenas um dos genitores ou substituto legal,
cabendo a ele todas as decisões referentes a vida da criança ou do adolescente e por último, a
guarda nidal se trata de casos em que são os pais que são retirados da residência, normalmente
realizada para manter o protegido no ambiente em que mora, sem maiores perturbações.
As dívidas que foram adquiridas antes do matrimônio também não se comunicam, já
que sem a ligação com a outra parte ou sem que tivessem sido feitas para o casal.

2.1 REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL

Parte do sistema de propriedade comum é caracterizado apenas pela transferência de


propriedade adquirida por uma ou ambas as partes gratuitamente durante o casamento ou
união estável. Portanto, o patrimônio e o valor que ambas as partes possuíam no início do
relacionamento e tudo o que adquiriram por herança ou doação, não serão comunicados. De
acordo com o disposto pelo Código, o cônjuge tem o direito de compartilhar os bens pagos ou
onerosamente adquiridos durante o casamento. É o regime mais adotado hoje em dia e
podemos considerá-lo a regra geral, por ser aplicado na inexistência de uma escolha de
regime em pacto antenupcial, até mesmo quando não há pacto e, quando configurada união
estável entre o casal, que, modernamente, tem os mesmos efeitos do casamento.
16

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald dispõe que:

Tem como pano de fundo reconhecer uma presunção absoluta (juris et de jure) de
colaboração conjunta pela aquisição onerosa de bens (decorrente de compra e venda, por
exemplo) na constância do casamento. Ou seja, presume-se que, durante a convivência,
um esposo auxilia o outro na aquisição de bens, ainda que psicológica ou moralmente,
não apenas economicamente. Assim, todos os bens adquiridos durante o matrimônio são
frutos de ajuda mútua, não comportando a alegação de falta de esforço comum.
(FARIAS; ROSENVALD, 2010, p. 291).

Sempre reconhecida como um fato jurídico, atualmente, a união estável assume um


papel relevante como entidade familiar na sociedade brasileira, tendo em vista que muitas
pessoas, especialmente das últimas gerações, têm privilegiado essa forma de união.

2.2 COMUNHÃO UNIVERSAL

A partilha universal trata-se da criação de um único coletivo de bens, composto por


todo o bem / propriedade pertencente ao casal anterior ao casamento, e os bens futuros, sejam
gratuitos ou onerosos, que serão comunicados. O lema que prevalece, nesta situação, é o
“tudo é nosso”.
Em entendimento do doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2017, p. 650).

Regime de comunhão universal é aquele em que se comunicam todos os bens, atuais e


futuros, dos cônjuges, ainda que adquiridos em nome de um só deles, bem como as
dívidas posteriores ao casamento, salvo os expressamente excluídos pela lei ou pela
vontade dos nubentes, expressa em convenção antenupcial (CC, art. 1.667).

Ou seja, indistintamente, qualquer patrimônio de um nubente, a não ser que exista


doação ou herança com cláusula de incomunicabilidade (exceção), é também de seu
companheiro, igualmente. A partir do então regime de comunhão universal de bens, os
cônjuges passam a dividir praticamente tudo, todas as suas responsabilidades, tanto
patrimoniais, quanto de família, futuras heranças e oportunamente, as dívidas posteriores ao
casamento

2.3 SEPARAÇÃO DE BENS

A regência tradicional de separação de bens é geralmente oposta à comum universal.


Como o nome já indica, não há comunicação de bens antes do casamento ou bens futuros
durante o casamento ou na existência de união estável. Esse é um sistema com uma estrutura
mais simples, não importa a duração do relacionamento, o casal não trocará bens durante o
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casamento. Ou seja, o que pertence ao nubente permanecerá sempre sendo apenas dele. O
lema que prevalece, nessa situação, é “o que é meu, é meu, e o que é seu, é seu”.
O benefício desse regime é a facilidade e celeridade de transações como compra e
venda, sem necessidade de consentimento do companheiro e, em caso de execução por dívida,
não existe confusão patrimonial.

No regime de separação convencional não existem bens comuns, estabelecendo, pois,


uma verdadeira separação absoluta de bens. No ponto, inclusive, ele se difere da
separação obrigatória ou legal, submetida ao art. 1.641 do Código de 2002. Nesta
(separação obrigatória), por conta da incidência da Súmula 377 da Suprema Corte,
haverá comunhão dos aquestos (bens adquiridos onerosamente na constância do
casamento), deixando claro que a separação não é total. Naquela (separação
convencional), inexistem bens comuns, permitindo que seja, de fato denominada
separação absoluta ou total. Isto, por si só, já serve para justificar a exigência de outorga,
consentimento, do cônjuge para alienar ou onerar bens imóveis - e para prestar fiança ou
aval - se o matrimônio estiver sob o regime de separação obrigatória, sendo totalmente
desnecessária, por lógico, esta outorga se o casamento é regido pela separação
convencional. (FARIAS; ROSENVALD, 2010, p. 291).

Diferente da tradicional divisão patrimonial, os membros do relacionamento optam


pela independência de seus bens ao longo do relacionamento. Em alguns casos, a lei impõe
um sistema de separação no casamento, denominado sistema legal ou obrigatório de divisão
patrimonial. Essa imposição visa evitar distúrbios hereditários ou descendentes. Portanto, o
Estado não proíbe a realização do casamento, mas estipula que, caso isso aconteça, deverá ser
realizado em regime de separação compulsória de bens. Trata-se esse, portanto, do regime
obrigatório para o casamento em dois casos, de acordo com art. 1.641 do Código Civil: da
pessoa maior de 70 (setenta) anos (Redação da Lei nº 12.344, de 2010) e de todos os que
dependerem de suprimento judicial, para se casar.
Em relação ao cultivo da nova “moda” de “sugar daddy” e “sugar Mommy”, como
busca de capacidade financeira para um relacionamento amoroso, é considerada nessa redação
como objetivo comum entre os cônjuges dessa relação: a mais jovem tem vontade de ser
“sustentado” e a pessoa de mais idade tem vontade de proporcionar isso. Novamente
lembrando sobre a presunção de boa-fé e que, essa pessoa de “maior idade” tem plena
capacidade de responder por si e sobre o que faz e, se essa pessoa não é maior de 70 anos, não
tem obrigação de adoção desse regime.

2.4 PARTICIPAÇÃO FINAL DOS AQUESTOS


18

O regime de participação final dos aquestos é do tipo misto, com características do


sistema de separação e de repartição parcial dos bens, dificilmente escolhida pelos casais,
principalmente, pela necessidade de manutenção da contabilidade, que poderia ser indicada
como sua desvantagem por alguns. O regime funciona de forma que os itens adquiridos antes
do casamento não serão comunicados. Durante o casamento, como acontece no sistema de
separação total dos bens, cada cônjuge mantém o seu patrimônio e exerce a administração
exclusiva do seu patrimônio, inclusive imobiliário, desde que estipulado previamente no
acordo pré-nupcial.
Porém, em caso de dissolução do casamento, será investigada a questão dos bens
adquiridos por ambos os cônjuges, de forma conjunta onerosamente, situação ligeiramente
diferente da situação do regime parcial de bens. Por sua vez, em caso de divórcio, compartilha-
se bens comuns, ou seja, do montante apurado, exclui-se o patrimônio pessoal e divide-se o
restante, e, comprovando o esforço de cada um, cada um recebe sua cota parte.

2.5 MISTO

Através do pacto antenupcial, é possível escolher regras de duas ou mais regências,


como uma espécie híbrida de regime. Para, além das características mistas do regime de
participação final dos aquestos, nosso dispositivo permite ainda este tipo de comunhão, de
forma que a divisão de bens dependerá das cláusulas pré-estabelecidas pelo casal em pacto
antenupcial. Portanto, não existe previsibilidade pelo Código de como se proceder. Não existe
previsibilidade pelo Código em caso de um outro modelo misto de regime adotado, pois o
direito sucessório dependerá das cláusulas no pacto antenupcial híbrido que o casal
estabelecer.

3 AS CONSEQUÊNCIAS DO REGIMENTO DE BENS NO PROCESSO


SUCESSÓRIO

Cada regime de bens apresenta suas peculiaridades e apresentam regras diferentes a


serem aplicadas na dissolução da relação, sendo pelo divórcio / separação do casal, da forma
já explicada anteriormente de cada regime, ou, seja pela morte de um dos cônjuges. No caso
de morte, inicia-se, então um grande debate familiar sobre o espólio, em processo de
inventário, envolvendo confusões patrimoniais e dúvidas sobre o regime de casamento que
tanto afeta a divisão dos bens, como vemos nessa seção.
19

No caso de sucessão por morte, no regime de comunhão parcial de bens, o cônjuge


sobrevivente terá direito a meação daqueles bens que foram adquiridos de forma conjunta
com o falecido, ou seja, a divisão por igual dos bens comuns do casal, e não será considerado
como herdeiro na partilha desses bens comuns. Já se tratando dos bens particulares do
falecido, o sobrevivente terá direito a herança destes, concorrendo com os descendentes. O
Superior Tribunal de Justiça (STJ) apresentou o entendimento em 2015 de que, como cônjuge
sobrevivente já tinha direito de compartilhar, este só competiria com os demais herdeiros pela
propriedade privada (REsp 1368123).
Na sucessão com comunhão universal de bens, 50% de todos os bens comuns
pertencem ao cônjuge sobrevivente, enquanto os outros 50% (bens do falecido) são
distribuídos pelos outros herdeiros. Existem dois conjuntos diferentes de ativos (massas
patrimoniais), que são os bens e direitos. Tratando-se do regime de separação, embora, na
vida ambos os cônjuges tenham optado por não transferir seus bens, o cônjuge sobrevivente
goza de direito de herança após a morte de um dos cônjuges. Mas é preciso destacar que ele é
necessariamente herdeiro de 50% do patrimônio líquido, pois não é arrendatário.
Em outras palavras, o cônjuge sobrevivente não é tem direito a meia parte, já que não
existe patrimônio comum, porém, concorre como herdeiro, conforme a inteligência do artigo
1.829, II, do Código Civil. Após o falecimento de um dos cônjuges, o STJ consolidou o
entendimento em 2018 de que, para que o cônjuge sobrevivente seja considerado herdeiro, é
necessária a comprovação de que ambas as partes trabalharam juntas para obter o imóvel.
Vale ressaltar que esse esforço não é necessariamente financeiro. Por ser um teste subjetivo,
às vezes é difícil de provar.
Na sucessão em participação final dos aquestos, se observará a meação do cônjuge
sobrevivente sobre os bens comuns, dividida de forma semelhante ao divórcio (citado na
seção 2.4 deste trabalho). Além disso, o cônjuge sobrevivente será herdeiro do patrimônio
restante, particular, do falecido. Não existe previsibilidade pelo Código em caso de modelo
misto de regime adotado, pois o direito sucessório dependerá das cláusulas no pacto
antenupcial híbrido que o casal estabelecer.

4 O CÔNJUGE COMO SUCESSOR DO DE CUJOS


Após abordarmos, na seção anterior, as consequências do direito atual na divisão dos
bens em processo de sucessão de cada regime de bens possível de ser escolhido,
apresentamos, nesse capítulo, mudanças possíveis de entendimento da legislatura. O Supremo
Tribunal de Justiça prevê o direito real de habitação a ser conferido ao cônjuge / companheiro
20

sobrevivente, do casamento ou união estável, independentemente de haver descendentes


comuns ou concorrência de filhos exclusivos do cônjuge falecido no processo sucessório
(REsp 1520294, Aglnt no Resp 1757984 e REsp 1134387). O STJ ainda dispõe jurisprudência
desse direito real como sendo vitalício e personalíssimo, para garantia de moradia digna ao
sobrevivente no mesmo local que, com sua família, já residia.- artigo 1.831 do Código Civil
de 2002 e artigo 7º da Lei 9.272/1996.

O objetivo da lei é permitir que o cônjuge / companheiro sobrevivente permaneça no


mesmo imóvel familiar em que residia ao tempo da abertura da sucessão, como forma
não apenas de concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de
ordem humanitária e social.- Ministro Villas Bôas Cueva (REsp 1582178).

Podemos analisar, com essa decisão, mesmo após a partilha dos bens comuns do
casal e o cônjuge sobrevivente considerado como herdeiro dos bens particulares, a
necessidade do integrante do casal de continuar sob posse da propriedade imóvel do casal
para moradia, indo além do que lhe seria de direito.
O fato de um cônjuge ser considerado como herdeiro apenas na falta de descendentes
e ascendentes de um patrimônio que foi comum entre o casal durante todo o tempo de
casamento é intrigante, seguindo uma lógica de que, tecnicamente, ele usufruiu da metade dos
bens em conjunto com seu parceiro e, após a perda de seu parceiro, esse sobrevivente não
tenha o direito pelo restante do patrimônio que ele construiu.
Essa situação ilógica se agrava com a existência de dependência do cônjuge
sobrevivente para com o falecido (caso de uma dona de casa, por exemplo), que não só não
terá direito sobre esse patrimônio, mas gera uma obrigação de pagamento do Estado para com
ela, de uma pensão pós morte. Tratando-se, esse, de um Estado quebrado, com mais essa
demanda de gasto e sem a prestação de incentivo de autossustento.
Com a inexistência de descendente e ascendentes no caso mortis, o cônjuge é
considerado o único herdeiro, mas na existência de testamento do de cujos, temos uma
interessante discussão. Há o entendimento, controverso, de que o sobrevivente não
concorreria na herança. Porém, já existe decisão do STJ no sentido de que,
independentemente do regime de bens, ele concorre com os herdeiros postos no testamento. A
decisão analisada é de um Viúvo, que foi considerado herdeiro necessário da esposa, mesmo
no casamento com separação total de bens (REsp 1294404).
Em decisão do STJ, houve revisão da decisão que excluiu a parceira do falecido da
herança sucessória, baseando-se no art. 1.790 do Código Civil e a incluiu antes mesmo da
21

prolação da sentença da divisão, e reconheceu a inconstitucionalidade da distinção de regimes


sucessórios, alcançando a tal decisão anterior, desfavorável à companheira. (REsp 1904374)
A decisão anterior do inventário foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, favorável às demais herdeiras, que excluíram, inclusive, o imóvel de
morada do casal, sendo esse já partilhado, acobertadas pela imutabilidade decorrente da
preclusão e da coisa julgada formal, não devendo ser alcançadas pela superveniente
declaração de inconstitucionalidade. Até a declaração de inconstitucionalidade do art. 1.790
pelo STF, que se utilizou, para o caso, do art. 1.829, inciso I, do Código Civil, para admitir a
sobrevivente como herdeira concorrente da sucessão, inclusive do imóvel submetido à
partilha.

5 CONCLUSÃO

No que concerne ao regime de bens, esse trabalho teve o intuito de destacar as


diferenças de cada um dos regimes, no primeiro momento, mas, principalmente, o quanto eles
impactam diretamente no direito sucessório, individualmente, e no perpetuamento do
patrimônio do falecido. Porém, demonstramos também, na seção anterior, o início de
tendentes mudanças de entendimento em nosso ordenamento jurídico sobre a potencial
situação do cônjuge como herdeiro.
Encerramos essa redação enfatizando a necessidade de revisão da norma, para
incentivo do autossustento do viúvo ou viúva, que sofre com a perda de seu parceiro amoroso,
social e financeiro e, assim, evitar gastos para o Estado, de pensões e auxílios. Considerando
sempre o princípio de presunção de boa-fé e lembrando que são pessoas com direitos, como
um direito real à moradia, citado na seção 4 desse trabalho, que é garantido, nesse processo de
sucessão, pelo pensamento que aqui foi defendido.
Uma certeza que temos, ao final do curso de direito é que nunca finalizamos nossos
estudos, pois o direito está diariamente se atualizando e se moldando à sociedade, em
constante evolução. O que podemos esperar é a adição de entidades familiares aqui citadas e a
finitude apenas de estranhamentos do que hoje é o diferente. A realidade é que devemos, à
longo prazo, a proteger nosso ordenamento, que tem condições de forma intelectual de evoluir
com a modernidade, mas sem afundar com sua condição financeira.

6 REFERÊNCIAS
22

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
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Federal, dispondo sobre a convivência duradoura e contínua de um homem e uma mulher.
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BRASIL. Lei nº 10.406, Alteração da redação do inciso II do art. 1.641 da de 10 de janeiro de


2002 (Código Civil). Diário Oficial da União. Disponível em:
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça- T3 Terceira Turma. Ementa nº REsp nº 1294404/ RS


(2011/0280653-0). Apelante: CARMEN DASTIS BENNET - ESPÓLIO. Apelada: JACK
BENNET. Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva. Rio Grande do Sul, RS, 29 de
outubro de 2015. Recurso Especial. Direito das Sucessões. Inventário. Regime de Bens.
Separação Total. Pacto Antenupcial Por Escritura Pública. Cônjuge Sobrevivente.
Concorrência na Sucessão Hereditária com Descendentes. Inexistência. Condição de
Herdeiro Necessário. Reconhecimento. Exegese dos arts. 1.829, III, 1.838 e 1.845 do
cc/02. Negativa de Prestação Jurisdicional. Não Configuração. Prequestionamento.
Aplicação da súmula nº 282/STF. Dissídio não demonstrado. Ausência de Similitude
Fática.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça-S2 Segunda Sessão. Ementa nº REsp nº 1368123/ SP


(2012/0103103-3). Apelante: URBANO MARCHETTI. Apelada: ADRIANA TEGAMI
BEZERRA DE MENEZES E OUTROS. Relator: Ministro Sidnei Benet. São Paulo, SP, 08
de junho de 2015. Recurso Especial. Civil. Direito das Sucessões. Cônjuge Sobrevivente.
Regime de Comunhão Parcial de Bens. Herdeiro Necessário. Existência de
Descendentes do Cônjuge Falecido. Concorrência. Acervo Hereditário. Existência de
Bens Particulares do de Cujus. Interpretação do Art. 1.829, I, do Código Civil. Violação
do Art. 535 do CPC. Inexistência.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça- S2 Segunda Sessão. Civil. Direito das Sucessões.
Cônjuge. Herdeiro Necessário. Art. 1.845 do Cc. Regime de Separação Convencional de
Bens. Concorrência Com Descendente. Possibilidade. Art.1.829, I, do Cc nº 1382170.
Apelante: FLÁVIA MATARAZZO. Apelada: SILVIA MARIA ARANHA MATARAZZO.
Relator: Ministro Moura Ribeiro. São Paulo, SP, 22 de abril de 2015. Revista Eletrônica de
Jurisprudência.
23

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça- T3 Terceira Turma. Ementa nº REsp 1582178-RJ


(2012/0161093-7). Apelante: ANTÔNIO DA CORTE ANDRÉ. Apelada: MARIA
FERREIRA. Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva. Rio de Janeiro, 14 de setembro de
2018. Recurso Especial. Ação de Reintegração de Posse. Direito das Sucessões. Direito
Real de Habitação. Art. 1.831 do Código Civil. União Estável Reconhecida.
Companheiro Sobrevivente. Patrimônio. Inexistência de Outros Bens. Irrelevância.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça- T3 Terceira Turma. Ementa nº REsp 1904374/ DF


(2020/0143768-8). Apelante: TIAGO BASTOS DE MIRANDA RIBEIRO E VITOR
BASTOS DE MIRANDA RIBEIRO. Apelada: ROSANE DE AZAMBUJA VILLANOVA.
Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI - TERCEIRA TURMA. Distrito Federal, 15 de abril
de 2021 Civil. Processual Civil. Direito das Sucessões. Omissões. Inocorrência.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça- T3 Terceira Turma. Ementa nº REsp º 1134387 - SP


(2009/0150803-3). Apelante: MÔNICA PROTO DARIOLLI E OUTROS. Apelada:
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ANDRIGHI. São Paulo, 29 de maio de 2013. Direito Civil. Direito de Família e Sucessão.
Direito Real de Habitação do Cônjuge Sobrevivente. Reconhecimento Mesmo em Face
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Apelante: VERA LUCIA RIBEIRO DE CASTRO MELEGA. Apelada: LUCIANO
RIZZARRO MELEGA. Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI. São Paulo, 11 de dezembro
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Copropriedade De Terceiro Anterior À Abertura Da Sucessão. Título Aquisitivo
Estranho À Relação Hereditária

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ementa nº Aglnt no REsp Nº 1757984 - DF


(2018/0194588-9). Apelante: G I H - ESPÓLIO. Apelada: A S DE L P. Relator: Ministro
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