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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

GABRYELA FERRON CAMACHO

DIVÓRCIO EXTRAJUDICIAL
COMODIDADES E DESBUROCRATIZAÇÃO OFERCIDAS PELA LEI 11.441
DE 2007

SÃO PAULO
2022.
DIVÓRCIO EXTRAJUDICIAL
COMODIDADES E DESBUROCRATIZAÇÃO OFERCIDAS PELA LEI 11.441
DE 2007

Artigo científico apresentado ao curso de


Direito da Universidade São Judas Tadeu –
USJT, como requisito parcial para a obtenção
do grau de bacharel em direito, sob a
orientação do Professor Pedro Henrique de
Abreu Benatto

São Paulo
2022
SUMÁRIO
RESUMO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................6

1. BREVE CONCEITO HISTÓRICO DO CASAMENTO E DIVÓRCIO .........................7

1.1 Conceitos do divórcio .............................................................................................9

1.2 Formas de divórcio .................................................................................................9

2. CARACTERÍSTICAS DO DIVÓRCIO EXTRAJUDICIAL ........................................11

2.1 Possibilidade do divórcio extrajudicial unilateral ...................................................12

2.2 Proteção do menor e incapaz ...............................................................................14

2.2.1 Provimento nº 42 de 2019 .................................................................................15

2.3 Divórcio extrajudicial por procuração ....................................................................17

2.4 Atuação do advogado ...........................................................................................18

3. REGULARIDADES DO CARTÓRIO ......................................................................20

3.1 Da competência para lavrar a escritura pública de Divórcio ..................................20

3.2 Partilha de bens ....................................................................................................21

3.3 Taxas e valores ....................................................................................................21

3.3.1 Gratuidade ........................................................................................................23

3.4 Documentação .....................................................................................................24

4. AVANÇO DO DIVÓRCIO COM A LEI 11.441 de 2007 ...........................................25

4.1 O aumento do divórcio na pandemia do Covid-19 ................................................25

CONCLUSÃO ...........................................................................................................27

REFERÊNCIAS ........................................................................................................29
RESUMO

O mundo jurídico está em constante transformação, podemos observar essas


mudanças na Lei 11.441 de 2007, que proporciona a realização da separação ou
divórcio por via administrativa. A lei traz requisitos sobre a aplicação eficaz dessa
modalidade e conjuntamente facilidades que os legisladores dispõem com a
elaboração dos dispositivos. O divórcio extrajudicial representa uma alternativa que
manifesta de maneira tácita a autonomia dos cônjuges. Dispensada a intervenção
judicial, teremos, então, como personagens principais da resolução, o casal, o
tabelião e o advogado, na intenção de formalizar a decisão em escritura pública.
Ao permitir tais alterações o legislador melhora a relação do tema divórcio. Sendo
assim, a lei nº 11.441 de 2007 facilitou, de âmbitos diferentes, a rotina do divórcio
consensual.
6

INTRODUÇÃO

Nas chamadas relações familiares existem discussões a respeito do instituto do matrimônio,


visto que a família é fundada, usualmente, por meio do casamento. Dessa maneira, por ser
forte o conceito social que as famílias devem permanecer juntas, verifica-se a necessidade
de tratar de forma explicativa e simples os temas acerca do assunto dissolução.

A Lei 11.441, de 2007, proporcionou mudanças significativas na realização da


separação e do divórcio por via administrativa. Seus requisitos descrevem como
aplicar, de maneira eficaz, a modalidade, e conjuntamente as facilidades do legislador
aos novos dispositivos. O presente trabalho abordará e apresentará esse dispositivo
e suas ramificações.

A iniciativa da pesquisa apresenta o uso dos novos dispositivos e suas


ramificações. Este modelo relativamente novo e não comum de separação poderá
impactar na vida das partes envolvidas e em diversas áreas do judiciário. O intuito
será chegar ao cerne, onde o legislador vislumbra a autorização da separação de
forma extrajudicial, após a apuração de dados.

As evoluções históricas do direito de família na parte de separação


demonstraram avanço com a criação da Lei 11.441, de 2007, apura ainda que, muitas
barreiras foram enfrentadas para que tal mudança acontecesse.

Dessa forma, o objetivo é apresentar as diretrizes, considerando a realidade


social dos envolvidos, com foco de pesquisa em São Paulo, Estado; e um breve
parecer do contexto da utilização do dispositivo de divórcio administrativo no Brasil.

Com inteligência das doutrinas e legislações, requer comprovar o fato que a


utilização do divórcio extrajudicial facilitará a vida dos casais, ora partes negociantes
à realização do fim de seu contrato.

Foi feito para a pesquisa a seguir exposta uma revisão de doutrinas, elaborado
estudo bibliográfico no intuito de coletar dados, tendo sido utilizado sites eletrônicos
como fonte agregada.
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1. Breve Conceito Histórico do Casamento e Divórcio

Entende o direito brasileiro que o casamento é fruto de negócio jurídico com


expressa necessidade de manifestação de vontade, diante do vínculo estabelecido
entre duas partes independentes do sexo, como reconhecido pelo Superior Tribunal
de Justiça (STJ), no intuito de compartilhar a vida a dois, convivendo e servindo de
base um para o outro e amparo a prole, vide artigo 1.511 do Código Civil, “Art. 1.511.
O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos
e deveres dos cônjuges.”.

Conforme o conceito de Carlos Roberto Gonçalves:

O casamento estabelece, concomitantemente, a sociedade conjugal e o


vínculo matrimonial. Sociedade conjugal é o complexo de direitos e
obrigações que formam a vida em comum dos cônjuges. O casamento cria a
família legítima ou matrimonial, passando os cônjuges ao status de casados,
como partícipes necessários e exclusivos da sociedade que então se
constitui. Tal estado gera direitos e deveres, de conteúdo moral, espiritual e
econômico, que se fundam não só nas leis como nas regras da moral, da
religião e dos bons costumes. (2017, p. 252-253)

A instituição do casamento se atualiza conforme a evolução dos pensamentos


da sociedade, porém, por muitos anos, esse vínculo conjugal era inquebrável. O
casamento historicamente possui um dogma com grande ênfase cristã de comunhão
sagrada, mesmo quando a competência passou a ser do Estado a realização de
cerimônias, utilizava-se estrutura canônica. A partir dessa, contínua aparição da Igreja
no Estado que as dissoluções desses matrimônios se colidem.

Uma das problemáticas na instituição do casamento com inserção do


regulamento canônico é a descaracterização da mulher para manifestar vontade. Só
existe, então, a separação quando o homem decide, de maneira unilateral, o
desfazimento da sociedade matrimonial; as regras morais e religiosas impediam o
rompimento do negócio, o casamento.

No Brasil, a luta pela diminuição da interferência do Estado na vida privada do


casamento dispõe de um lapso tempo, de quase dois séculos. Em 1891, permite-se a
8

separação de corpos com causas que seriam aceitáveis, o adultério, a injúria grave e
o abandono voluntário, quer seja do domicílio ou do conjugal por dois anos
ininterruptos, com condição de ser casado por um período maior que dois anos, ainda
deveria existir consentimento de ambos. Em 1901, discute-se, então, o regime de
bens e institui o termo desquite.

A Constituição de 1934, estabelece como preceito à indissolubilidade do


casamento, mandamento mantido até 1967. Em 1975, é apresentado a Emenda
Constitucional (EC) possibilitando a dissolução do vínculo matrimonial, após cinco
anos de desquite ou sete de separação de fato. Em 1977, é adicionada uma nova EC
nº. 9, a pessoa divorciada, agora, poderia se casar novamente; pois, até 1977, o
vínculo matrimonial contraído era indissolúvel, o desquite apenas cessava os deveres
e realizava-se a partilha, ainda em 1977, o desquite passou a chamar “separação”.

É promulgada a Constituição Federal em 1988, somando um marco


importante ao firmar que seria possível então a dissolução do casamento civil por meio
do divórcio, sob condição de separação judicial, porém ainda vagava a sombra do
lapso temporal, onde a separação deveria como exigência ser comprovada pelo
tempo de ano ou comprovada uma data maior que dois anos.

Surge a primeira grande mudança, passados quase 20 anos, é promulgada a


lei 11.442, de 2007, que permite a possibilidade dos divórcios e separações
consensuais, serem realizados de maneira administrativa; tal situação garante que
seja cumprido o direito potestativo, a vontade é das partes exclusivamente.

Enfim, surge a Emenda Constitucional 66/2010, onde determina o


afastamento do texto constitucional quanto a condição do lapso temporal, agrega
então mais um ponto ao direito potestativo, o texto estabelece a realização do divórcio
direto, a ideia que conduziu o descrito na EC 66/2010 perfaz o entendimento de que
não há obrigação dos cônjuges de permanecer em matrimônio, o vínculo deve
permear a vontade de ambos.
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1.1 Conceitos do divórcio

Ao tratar de divórcio é necessário reforçar que o direito brasileiro evoluiu e


alcançou liberdade através de uma contenda grandiosa no meio legislativo, com foco
nas mudanças sociais e nas novas características da sociedade. Por muito tempo,
uma tradição antidivorcista prevaleceu, em decorrência da intervenção da Igreja nos
interesses do Estado.

O divórcio é instrumento que finda o vínculo conjugal, de maneira que as


partes disponham de liberdade para contrair novo matrimônio, tem natureza de ação
personalíssima, dispositivo que renuncia formalidades, e que passa a ser mais
utilizado por casais.

Os princípios latentes são a autonomia mútua e a livre manifestação de


vontade, casais que decidem se divorciar estão isentos de cumprimento prévio da
separação judicial, que antes era de mais de um ano, a ser comprovada.

O conceito foi firmado com a mudança de pensamento da sociedade atual,


consequentemente ligamos dois institutos, casamento e divórcio; o questionamento
que permeia é, se não existe prazo para contrair matrimônio, não há justificativa de
incutir prazos para dissolver o casamento.

O advento do uso do divórcio facilitado desclassifica uma aparente função que


era designada ao judiciário, identificar a “culpa” da separação, interpretação
incorporada ao direito de família. Com os novos conceitos, o divórcio configura a
capacidade de exprimir vontade e permissão da livre de manifestação.

1.2 Formas de divórcio

Importante destacar que o entendimento que majora no Brasil é unitário ao se


tratar de separação e divórcio como instrumento de dissolução do matrimônio.
Defendido pela maioria, como verificado em doutrinas, conceito incorporado por
intermédio da Emenda Constitucional nº. 66 de 2010, essa dissolução descomplicou
as fases antes necessárias, como exemplo o lapso temporal. A manifestação de
vontade valida a conversão de casamento ao divórcio, basta haver vontade das
10

partes, de uma apenas ou das duas, quebra então, parcialmente, a formalidade antes
prevista.

De acordo com Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2012. p.434),

O divórcio é a medida jurídica, obtida pela iniciativa das partes, em conjunto


ou isoladamente, que dissolve integralmente o casamento, atacando, a um
só tempo, a sociedade conjugal (isto é, os deveres recíprocos e o regime de
bens) e o vínculo nupcial formado (ou seja, extinguindo a relação jurídica
estabelecida).

Modernamente tange o sistema brasileiro de três modalidades usuais de


divórcio: judicial consensual, judicial litigioso e extrajudicial consensual. O legislador
deixou claros os requisitos que decidem qual modalidade poderá ser adotada.

A despeito dos meios de divórcio, o judicial consensual segue procedimento


regido pelo Código de Processo Civil, previsto no artigo 731, fundamenta que as
partes poderão requerer o divórcio por petição, que será assinada por ambos os
cônjuges, no contexto da peça estará descrita como se dará a partilha dos bens,
dependendo do regime escolhido, se haverá pensão alimentícia, como procederá à
guarda dos filhos, se incapazes e outros pontos sobre o tema prole.

Da sentença transitada em julgado, as partes deverão registar no Cartório de


Registro de Pessoas Naturais, no mesmo em que foi assente o registro de casamento.

Ao tratar sobre divórcio judicial litigioso, ressalta que, as partes nesse contexto
não chegam a um consenso; mesmo assim, o Juiz irá verificar a vontade de ambos e
mediar os direitos, não existe contradição sobre a adjudicação do divórcio requerido,
o que for discutido nos autos terá função de mediar elementos contidos na dissolução,
com relação a bens, alimentos e subsistência.

Outra forma é o divórcio administrativo ou extrajudicial, suas características e


seus conceitos serão discorridos ao longo dos tópicos.
11

2. Características do Divórcio Extrajudicial

A Lei 11.441, de 2007, colocou fim às discussões jurisprudenciais, dando luz


à garantia de ser possível a realização de divórcios por via administrativa, o avanço
permitiu uma desburocratização dos procedimentos que versam sobre questões
pessoais com foco na autonomia das partes.

Do ponto de vista jurídico, a promulgação dessa lei possibilita a efetividade


dos processos contemporâneos, atuando continuamente com o Sistema Judiciário,
fica dispensado o processo judicial, uma vez que as partes concordam
harmoniosamente, não há necessidade de uma decisão que garanta a vontade das
partes, esse fato garante a democracia familiar, o artigo 226 da Constituição Federal
dispõe do princípio da formação familiar, no preceito a dissolução como liberdade.

Convém destacar que, mesmo com facilidades, existe um rol de requisitos que
rege o divórcio extrajudicial, frisa a necessidade de haver consenso entre o casal,
onde não cabe litígio, concordar quanto ao patrimônio e como será a partilha e o
inventário, são dispostos previstos que possibilitam a realização administrativamente,
por escritura pública. Pela letra da lei, é imprescindível a ausência de filhos menores
ou maiores incapazes, como disposto no artigo 731 do Código de Processo Civil.

O art. 731, por sua vez, menciona que a homologação do divórcio ou


separação consensual depende de constarem da escritura ou petição:

I – as disposições relativas à descrição da partilha dos bens comuns;

II – as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;

III – o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e

IV – o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

Com relação à escritura, essa deverá conter expressamente a livre decisão


do casal no que tange a necessidade de serem pagos alimentos ou se terá dispensa,
pode ser discutida a permanência do sobrenome ou retirada, todas essas disposições
são de extrema necessidade de concordância. Caso, durante o processo, venha
ocorrer discordância sobre quaisquer pontos, acima mencionados, o tabelião por
dever não poderá lavar a escritura.
12

Ainda que haja uma separação em tramitação no judiciário, as partes poderão


alterar a medida para vias administrativas. O ato de conversão é mais uma facilitação
do legislador, simplificando assim, através da resolução nº. 35 em seu artigo 521, a
conversão extrajudicial, basta que seja cumprindo os requisitos necessários.

2.1 Divórcio extrajudicial unilateral

Uma realidade ou uma violação dos dispositivos legislativos? Existem duas


vertentes no que se refere à regulamentação do divórcio extrajudicial unilateral,
comumente quando não há consenso o conceito prevalece que o trâmite deverá ser
pela via judicial, entretanto, surge uma corrente contemporânea que argumenta a
viabilidade de ser comedido o divórcio unilateral de modo administrativo.

Um dos defensores dessa modalidade é o doutrinador Flavio Tartuce, que traz


consigo o argumento de que o casamento nada mais é do que um contrato, de
maneira que a vontade das partes prevalece uma vez que foram criadas entre si
direitos e deveres, “cláusulas” a serem seguidas. Diante essa lógica, o divórcio
impositivo seria como um rompimento desse contrato. Como ele destaca em seu livro:

Muitas são as situações concretas em que essa modalidade de divórcio


unilateral traz vantagens práticas. Primeiro, cite-se a hipótese em que o outro
cônjuge não quer conceder o fim do vínculo conjugal por mera “implicância
pessoal”, mantendo-se inerte quanto à lavratura da escritura de divórcio
consensual e negando-se também a comparar em juízo. Segundo, podem ser
mencionados os casos em que um dos cônjuges encontra-se em local incerto
e não sabido, ou mesmo desaparecido há anos, não podendo o outro
divorciar-se para se casar novamente. Por fim, destaquem-se as situações
de violência doméstica, em que o diálogo entre as partes é impossível e deve
ser evitado, sendo urgente e imperiosa e decretação do divórcio do casal. Em
todos esses casos, decreta-se o divórcio do casal, deixando o debate de
outras questões para posterior momento. (2019, pag. 258).

1 Art. 52. Os cônjuges separados judicialmente podem, mediante escritura pública, converter a separação
judicial ou extrajudicial em divórcio, mantendo as mesmas condições ou alterando-as. Nesse caso, é
dispensável a apresentação de certidão atualizada do processo judicial, bastando a certidão da averbação da
separação no assento do casamento. (Redação dada pela Resolução nº 120, de 30.09.2010)
13

A possibilidade de o divórcio extrajudicial ser requerido unilateralmente


contrapõe a justificativa de que a garantia do divórcio é para todos, esse entendimento
é fundamentado, ao entendimento dos defensores na Declaração Universal dos
Direitos do Homem, precisamente no artigo 16, inciso I, homens e mulheres têm o
direito de contrair matrimônio e gozam de iguais direitos em relação ao casamento,
duração e dissolução, bem como os princípios do Estado Democrático de Direito,
constantes do preâmbulo de nossa Constituição Federal, com interpretação
fundamentada, fica valida e sem impedimento o modelo unilateral.

Isso porque, de forma comparativa, os procedimentos permanecem os


mesmos, e devem ser cumpridos, onde necessariamente os requisitos de decisões
com relação ao patrimônio, a alimentos e a ausência de filhos menores ou incapazes,
essa espécie resolve de maneira prática cessar vínculo jurídico constante do
matrimônio, sem a necessidade de decisão judicial, desde que, novamente, não
existam impedimentos para que o divórcio siga nessa alternativa.

Patrocina a ideia também, Mário Luiz Delgado e José Fernando Simão2:

Ressalte-se, por fim, que o pedido de divórcio direto por averbação fica
restrito, exclusivamente, à dissolução do vínculo, sem possibilidade de
cumulação de qualquer outra providência. Outras questões, como alimentos,
partilha de bens, medidas protetivas etc., devem ser judicializadas e tratadas
no juízo competente, porém com a situação jurídica das partes já estabilizada
e reconhecida como de pessoas divorciadas. Ou seja, a averbação do
divórcio não repercute em nenhum outro direito patrimonial ou existencial. Só
evita que a pessoa se veja compelida a postular uma providência judicial que
não tem qualquer outra função senão a de dissolver o vínculo. Por isso, não
existem riscos aos direitos do outro cônjuge que eventualmente discorde do
pedido de divórcio. Da mesma forma que não há repercussões negativas para
a atividade notarial, pois quem ostenta legitimidade para requerer a
averbação unilateral do divórcio não poderia fazê-lo por escritura pública, à
falta de anuência do outro. A competência exclusiva dos tabeliães de notas,
conforme determina o artigo 7º da Lei 8.935/94, para lavrar escrituras
públicas de separação e divórcio não é atingida.

Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do IBDFAM, discorre que, pode verificar


avanço quando da possibilidade de qualquer um dos cônjuges requerer diretamente

2
Delgado, Mário Luiz e Simão, José Fernando. Impedir a declaração unilateral de divórcio é negar a natureza
das coisas.
14

no Cartório de Notas o divórcio, pois o intuito dos novos dispositivos como a EC nº.
66 de 2010, simplifica e facilita com mínima intervenção estatal, dá ainda, liberdade e
permite maior autonomia privada, sem precisar ficar discutindo a culpa, que em
consequência disso acaba com prazos de decretação e sentença.3

O objeto em questão vem sendo deveras debatido. Pouco tempo atrás, a


Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco causou grande
controvérsia no mundo jurídico, após editar norma administrativa, onde permitiu o
divórcio unilateral abertamente no Cartório de Registro Civil, como um divórcio
impositivo.

Todavia, de maneira assertiva, suspende tal medida administrativa o


Corregedor-Geral do Conselho Nacional de Justiça e traz como recomendação aos
Tribunais Estaduais, a não analogia à decisão. O Corregedor se debruçou a verificar
que tal norma ia de encontro a regra estabelecida no artigo 733 c/c artigo 731,
parágrafo único do Código de Processo Civil, pois a permissão libera o cônjuge de
decidir de forma unilateral sobre a partilha.

Diante dessa modalidade, existe a necessidade de verificar que a corrente


majoritária construiu parâmetros que regulam de forma funcional o divórcio
extrajudicial consensual, a visão criada, é que sem haver concordância entre os
cônjuges a opção permanece o litigioso, pois toda a contenda será devidamente
mediada.

2.2 Proteção do menor e incapaz

Ainda no divórcio unilateral, é importante destacar que caso tal instituto fosse
mantido, a guarda dos filhos não poderia ser resolvida por ele, pois como já
contextualizado, todo casal que tenha filhos menores e incapazes e encare a
separação ou divórcio, precisa se sujeitar ao Poder Judiciário.

3
DA CUNHA PEREIRA, RODRIGO. TJPE aprova provimento que possibilita o “Divórcio Impositivo".
Assessoria de Comunicação do IBDFAM, 2019
15

Ao editar a lei 11.441, de 2007, o legislador fez por bem garantir e resguardar
o interesse do filho menor ou incapaz em seu artigo 733, ao dispor a seguinte
redação:

Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção


consensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e
observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura pública,
da qual constarão as disposições de que trata o art. 731.

É de suma importância que o legislador se lembre da prole convivente entre


o casal. O menor e o incapaz não podem ser alvo de discussão, como bens e
patrimônios, trata-se de seres humanos que dependem de representação.

O responsável encarregado da função de cuidar do interesse do menor nos


tribunais será incumbido ao Ministério Público, que participará de atos que envolvam
a área de família, principalmente para tratar de guarda e pensão alimentícia.

Dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente, no art. 1º, “sobre a proteção


integral à criança e ao adolescente”, indicando no art. 4º que é “dever da família, da
comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta
prioridade”.

A grande discussão dos processos que envolvem menores, gira em torno da


guarda, fica a critério do juiz, muitas vezes, analisar o caso concreto para definir sobre
a convivência familiar, o mais indicado é a guarda compartilhada; porém, quando os
pais estão em contenda sobre a decisão, ou residem distantes e por entendimento
próprio não conseguem resolver, é fundamental a ação do judiciário, de modo a
garantir a proteção da criança e do adolescente.

2.2.1 Provimento nº 42 de 2019

Trazendo mais uma inovação ao campo do divórcio extrajudicial, entra em


vigor em fevereiro de 2020, no Estado de Goiás o provimento nº. 42, alterando com
ressalvas um dos requisitos mais importantes do divórcio pela via administrativa, a
16

possibilidade de realização na presença de filhos menores e/ou incapazes, com a


seguinte redação:

Art. 1º Acrescenta-se o artigo 84-A ao Código de Normas e Procedimentos


do Foro Extrajudicial da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás,
o qual vigorará com a seguinte redação: “Art. 84-A Admite-se a lavratura de
escritura pública de separação, divórcio, conversão da separação em divórcio
ou extinção da união estável, consensuais, com ou sem partilha de bens,
mesmo que o casal possua filhos incapazes, ou havendo nascituro, desde
que comprovado o prévio ajuizamento de ação judicial tratando das questões
referentes à guarda, visitação e alimentos, consignando-se no ato notarial
respectivo o juízo onde tramita o processo e o número de protocolo
correspondente. Parágrafo único: Lavrada a escritura, o Tabelião
responsável deverá comunicar o ato ao juízo da causa mencionado no caput,
no prazo de 05 (cinco) dias úteis, sem ônus para as partes.

O pretexto utilizado pela Corregedoria Geral da Justiça do Estado de Goiás


foi que o percentual de dissoluções que aconteciam, continha um número muito alto;
assim, na tentativa de que as ações ocorram em maior velocidade, passa a poder
realizar o divórcio extrajudicial com filhos menores, com a ressalva de já estar
resolvidas judicialmente, questões sobre guarda, alimento e visitas.

O presidente do Colégio Notarial do Brasil – Seção Goiás destaca, “Estando


os pais concordes, que são efetivamente os maiores guardiões e responsáveis pelos
filhos menores e incapazes, qual a razão lógica para que não possam, livremente, por
fim à relação matrimonial? Se a relação matrimonial – que nada tem a ver com a
relação parental –, acabou o melhor caminho é o desfazimento, independente de
qualquer intervenção estatal!”.

Nesse sentido, a norma estabelecida dispõe que na existência de filhos


menores é necessário ajuizamento de ação referente à guarda, na intenção de
estarem preservados dos direitos dos menores e/ou incapazes, desse modo, a
escritura do divórcio fica sobrestada, enquanto não for apresentada a proposta da
ação judicial tratando das garantias.

É certo que, ao trazer essa pauta, fica caracterizada a busca para a celeridade
na resolução de medidas que estão sendo transferidas do judiciário para o
administrativo, verifica grande evolução no sistema brasileiro.

Ainda nesse sentido, tramita na Câmara dos Deputados, o projeto de lei nº.
731 de 2021, que tem por interesse, alterações fazer alterar no Código de Processo
17

Civil, na com o objetivo de autorizar a realização de divórcio extrajudicial, mesmo que


o casal possua filhos menores ou incapazes, não obstante que autorizará a lavratura
será o Ministério Público, não existindo interferência de um juiz, o promotor terá o
condão de fazer exigências e mudanças com o que entender melhor.

Dentro desse contexto, entretanto, o legislador tem o dever de ponderar


sempre de qual direito prevalecerá; ainda que, de fato o divórcio extrajudicial seja mais
célere, existe a necessidade de se preocupar, primeiramente com o mais fraco em
qualquer situação, o divórcio tem o condão de remédio para o casal e a família, mas
não como sanção quanto aos filhos menores, o dever é observar sempre o melhor
cenário, aquele que atenda o menor e o incapaz, para que as garantias supridas pela
Constituição Federal sejam cumpridas, atendendo os princípios e acatando as
necessidades, o cenário conceito hoje é a presença de juiz de família, realizando a
medição, para que haja harmonia para a decisão.

2.3 Divórcio extrajudicial por procuração

O conceito de procuração pública pode ser descrito como, instrumento no qual


uma pessoa outorga a outra capacidade de atuar em seu nome, no caso da utilização
decorrer para manifestação de divórcio consensual, deverá conter no texto da
procuração que os poderes são para tal finalidade, tendo prazo de uso de 30 dias
corridos.

Na missão de tornar o procedimento extrajudicial mais simples, foi permitido


aos casais manifestar sua vontade através de procuração pública, a utilização de tal
método pode estar motivada pela vontade de não manter contato mesmo
concordando com o fim do casamento, distinta justificativa pode ocorrer quando, um
dos cônjuges estiver em morada distante, possuir incapacidade de locomoção, entre
outras.

Quando do ato, o procurador deve levar consigo ao Cartório de Notas,


documentos originais de identificação como RG e CPF, procuração devidamente
assinada, com todas as informações necessárias corretas, para que não seja
recusado.
18

Para criação do conceito, os doutrinadores consideram a eventualidade da


utilização de procuração para se casar, sendo assim, o pensamento que pacificou,
partiu do pressuposto, se existe como contrair matrimônio por procuração, por que
não há chance de estarem ausentes os contraentes no momento do divórcio.

Outra comparação feita por doutrinadores4 é da similitude do casal se


comportar às vezes como cônjuges separados de fato, dispõe ainda o § 4º do art. 34
da Lei do Divórcio que as assinaturas precisam taxativamente ser reconhecidas pelo
tabelião, dessa maneira, averígua que, ainda que o legislador tenha facilitado o
procedimento, este possui regras que devem ser seguidas.

2.4 Atuação do advogado

Dispõe o artigo 133 da Constituição Federal que “O advogado é indispensável


à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no
exercício da profissão, nos limites da lei.”.

Como na maioria dos procedimentos judiciais e extrajudiciais, o divórcio não


diverge quanto à necessidade de acompanhamento de advogado, o dever é expresso
como verificado no artigo 133 da CF, mesmo caracterizado como mais simples e
rápido os atos devem ser acompanhados por advogado, que terá por função, o auxílio
das partes, representá-las frente ao tabelião e assessorá-las uma vez que, possui
vasto conhecimento técnico.

O conhecimento do advogado é indispensável, mesmo que fora do judiciário, a


lei 11.441, de 2007, viabilizou a realização do divórcio consensual por via
administrativa dispondo de autonomia das partes, mas não com autorrepresentação.

Assim que os casais decidem pelo divórcio, detém da escolha de deliberar a


utilização do mesmo advogado, que atuará para os dois ou um advogado
representando cada cônjuge, requisito este que esteja assistido por advogado.

4
Euclides de Oliveira e Sebastião Amorim
19

O advogado acompanha, organiza e orienta sobre o procedimento e a


documentação necessária para os trâmites, o caminho serve também, para tratar da
partilha dos bens e pensão, se estiver em negociação.

A responsabilidade fica clara nesse contexto, pois uma vez, dispensa a


presença de magistrado e membro do Ministério Público, subsiste então, ao advogado
esclarecer todas as dúvidas dos interessados. Fica a cargo do cartório, ao tabelião a
função de indicar advogado à parte. Importante que o cartório fiscalize o
acompanhamento, cabe ainda ao tabelião recomendar Defensoria Pública caso não
disponham de condições as partes.
20

3. Regularidades do Cartório

Antes de dar início ao processo de divórcio na seara administrativa é


necessário abordar os requisitos e documentos necessários para a efetivação do
requerido, bem como saber como se estrutura os passos dos Cartórios de Notas.

Após cumpridos todos os passos e efetivamente sair o divórcio, a validade do


ato, só será efetiva após o ex-casal apresentar, perante o Cartório de Registro Civil
que se casaram, a certidão e requererem a averbação.

Os dados comparativos abrangem o Estado de São Paulo, dados retirados da


tabela da OAB, colégio notarial e IBDEFAM.

3.1 Da competência para lavrar a escritura pública de Divórcio

Ao tratar de competência nos atos extrajudiciais podemos observar que o


fundamento diverge do previsto no Código de Processo Civil no que tange as ações
judiciais de divórcio.

Uma vez que a escritura pública de divórcio não é um ato jurisdicional, não
existe o instrumento da competência, a lei nº. 11.441, de 2007, não especificou ou
criou regras de foro para a lavratura, sendo relativa, discorre sobre esse tema o
Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos que, “para a prática do ato notarial pode ser
livremente escolhido qualquer tabelionato de notas, conforme dispõe o art. 8° da Lei
n° 8.935/94, não se submetendo às regras de competência do Código de Processo
Civil (art. 100, I, do CPC). Assim é também no caso de procedimento judicial de
separação ou divórcio consensual, pois, em se tratando de regra de competência
relativa, facultado de ela abrir mão por acordo.”

Dessa maneira, não há limitação acerca da competência para lavratura de


escritura pública de divórcio, as partes são livres para escolher o tabelionato de notas
que melhor servir.
21

Cabe salientar, que para dar como encerrado e concretizado o divórcio a


escritura deverá ser averbado no Cartório de Registro Civil, onde foi realizado o
casamento.

3.2 Partilha de bens

Ante os requisitos do divórcio extrajudicial, importante destrinchar cada parte


do trâmite, desse modo, destaca a necessidade de realizar a partilha de bens, sendo
a divisão dos bens do casal.

A partilha deverá ser feita antes do divórcio, o trâmite no caso é conjunto, a


escritura pública será lavrada, de maneira que os bens sejam divididos de acordo com
a comunhão estabelecida, far-se-á apuração do total de bens a dividir, declara então
o valor da meação de cada cônjuge.

Sobre a divisão de bens imóveis, quando houver transmissão de bem imóvel


de um cônjuge para o outro poderá incidir dois impostos, se oneroso vai incidir o
imposto municipal, (ITBI), não oneroso, o estadual (ITCMD).

3.3 Taxas e valores

Por taxas e valores de divórcio extrajudicial, podemos dividir em emolumentos


e honorários advocatícios, entretanto, fazer um comparativo dos gastos entre divórcio
judicial e extrajudicial é complexo.

As custas, irão alternar em conformidade com o patrimônio que será


partilhado e ainda, de acordo com cada Estado, pois os valores variam.

Como os valores dos cartórios variam de Estado para Estado, sendo 27


tabelas diferentes, o comparativo a seguir resume-se à analogia dos Cartórios de
Notas e do Tribunal e Justiça do Estado de São Paulo, tomando como base as tabelas
da OAB e CNB, e de exemplo os divórcios somente na modalidade consensual.

O mínimo a ser cobrado de honorários advocatícios no divórcio judicial no ano


de 2021, é de R$ 5.903,98 (cinco mil novecentos e três reais e noventa e oito
22

centavos), já no extrajudicial, esse valor diminui, sendo o mínimo R$ 3.279,99 (três


mil duzentos e setenta e nove reais e noventa e nove centavos), não se pode esquecer
que no âmbito do judiciário temos custas da inicial a recolher.

Ao tratar de bens a serem partilhados teremos um balanço diferenciado para


cada total de bens que existir, a partir do valor apurado sobre os bens, será feito um
cálculo diferente com base na tabela de cada tribunal. No caso de, não haver bens a
serem partilhados, o importe vai ser calculado de acordo com o valor mínimo das
tabelas mencionadas.

No que lhe concerne, os emolumentos do cartório, quando são devidos em


favor ao divórcio extrajudicial, tem como base de cálculos os bens que vão ser
partilhados também, porém a transmutação vai de acordo com a tabela do Colégio
Notarial do Brasil.5

Analisando e comparando valores monetários o casal distinguirá qual divórcio


consensual valerá a pena; o fator partilha de bens deverá ser avaliado. Verifica-se
ainda que, os honorários advocatícios possuem um teto mínimo menor quando
falamos de extrajudicial, retira ainda no divórcio administrativo os valores de custas
para ingresso da ação.

Os casais tendem a procurar também em qual Estado a escritura será cobrada


por um valor mais acessível, por haver diferenças de valores.

O que há de ser percebido, na questão da escolha da categoria de divórcio, é


o fator agilidade, em tempos em que tempo é dinheiro, obter um divórcio célere, acaba
sendo de fato mais econômico. Solucionar conflitos rapidamente parece ser a solução
mais conveniente, a duração média da resolução do divórcio extrajudicial é meses
mais rápidos que do judicial.

Deste modo, o que se economiza não compõe somente valores monetários,


mas despesas com o decurso, que pode se tornar otimizado, uma vez que, ao realizar
em cartório o divórcio pode ser resolvido em até 3 dias, enquanto o processo judicial
demora um tempo maior, onde pode chegar a mais de 3 meses, isso no caso de ser
consensual.

https://www.cnbsp.org.br/__Documentos/Upload_Conteudo/arquivos/Tabela_Custas/tabela_2021__v
ersao_visualizacao_iss_capital_pdf.pdf
23

3.3.1 Gratuidade

Ao tratar de gratuidade o mais novo regulamento processual prevê que, as


pessoas, sendo elas naturais ou jurídicas, brasileiras ou estrangeiras que estiverem
em insuficiência de recursos para o pagamento de despesas processuais, custas e
honorários, detêm do benefício da gratuidade da justiça, isenção inda, nos
emolumentos devidos.

A garantia é abarcada ainda, pela Constituição Federal em seu artigo 5º,


LXXIV, onde fixa como garantia fundamental que as pessoas que necessitam dela,
gozem de assistência gratuita.

O CNJ editou Resolução de nº. 326, onde trouxe alterações formais nos
textos, os novos feitos reforçaram e pacificaram os direitos a gratuidade ao se falar
sobre gratuidade no divórcio extrajudicial, assim dispõe o texto:

Art. 6º - A Resolução CNJ no 35, de 24 de abril de 2007, passa a vigorar


com a seguinte alteração: “Disciplina a lavratura dos atos notariais
relacionados a inventário, partilha, separação consensual, divórcio
consensual e extinção consensual de união estável por via administrativa.”
(NR)

“Art. 1º - Para a lavratura dos atos notariais relacionados a inventário,


partilha, separação consensual, divórcio consensual e extinção consensual
de união estável por via administrativa, é livre a escolha do tabelião de notas,
não se aplicando as regras de competência do Código de Processo Civil.”
(NR)

“Art. 6o A gratuidade prevista na norma adjetiva compreende as escrituras de


inventário, partilha, separação e divórcio consensuais.” (NR)

“Art. 7º - Para a obtenção da gratuidade pontuada nesta norma, basta a


simples declaração dos interessados de que não possuem condições de
arcar com os emolumentos, ainda que as partes estejam assistidas por
advogado constituído.” (NR) “Art. 8o É necessária a presença do advogado,
dispensada a procuração, ou do defensor público, na lavratura das escrituras
aqui referidas, nelas constando seu nome e registro na OAB.” (NR)
24

Dessa maneira, a via extrajudicial avança mais um passo em direção ao novo,


em que torna cada vez mais eficiente o sistema.

3.4 Documentação

Para que os atos possam ser realizados, faz-se necessária a apresentação


de uma série de documentos, os cônjuges para que seja lavrada a escritura de divórcio
deverão estar providos de certidão de casamento, documentos de identidade oficial e
cadastro de pessoa física, pacto antinupcial caso exista, certidão de nascimento
comprovando a maioridade dos filhos e cópia dos documentos do advogado.

Dos móveis e imóveis, os documentos necessários englobam, a matrícula do


imóvel, certidão do valor venal atualizado, certidão de propriedade, devidamente
atualizada, certidão negativa, documentos que comprovem o domínio dos bens e se
houver ações deverá ser apresentado o balanço patrimonial.
25

4. Avanço do Divórcio com a Lei 11.441, de 2007

É certo que a lei 11.441 de 2007 mudou o cenário dos divórcios no Brasil
desde seu funcionamento. Em 2006, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), o número de divórcios não chegava a 80 mil, a partir da Emenda
Constitucional 66, que dispôs do divórcio rápido, o aumento de divórcios, segundo o
Colégio Notarial do Brasil de São Paulo, no ano de 2011, foi de 286%.

Dez anos depois e esses números cresceram cada vez mais e mais, com base
no ano de 2020, divórcios efetuados nos Cartórios de Notas já somam 20% das
separações no Brasil, última pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), o total de divórcios no País foi registrado em 385.246, onde
73.818 deles foram executados extrajudicialmente.

Ainda sobre registros, dispôs a relação cedida pelo CNB/SP, que em 2020 no
Estado de São Paulo o número de divórcios extrajudiciais realizados chegou a 17.228,
onde a capital teve o maior número, 5.260 atos.

É perceptível que os casais visam soluções práticas, simples e rápidas, essa


migração para o administrativo é de suma importância para desafogar o judiciário.
Números mostraram que, em 2019, o Poder Judiciário encerrou o ano com 77,1
milhões de processos em tramitação, ainda que pareça alto, resolver as lides que
permitam ser solucionadas extrajudicialmente é primordial para alcançar a
possibilidade de que só o necessário se conduza por vias judiciais.

4.1 O aumento do divórcio na pandemia do Covid-19

Não podemos deixar de destacar o aumento dos divórcios extrajudiciais em


tempos de pandemia, os efeitos do isolamento social, em que muitos casais passaram
a conviver mais tempo, sob o mesmo teto, teve um efeito claro sobre o divórcio. No
segundo semestre de 2020, contabilizou-se um total de 43,8 mil divórcios, a média e
aumento em 2% é histórica.
26

Para a psicóloga Maíra Nascimento6, muitos casais não conseguiram


sustentar a relação em que tiveram que viver conjuntamente por muitas horas, passar
por dificuldades, e descobrir incompatibilidades.

Isso fica claro ao constatar as estatísticas, a Google realizou um levantamento


nos últimos meses a procura por “como entrar com um pedido de divórcio" teve um
crescimento de 3.750% e do termo "divórcio online", 1.150%, na mesma época.

Porém, esse aumento na esfera administrativa somente foi possível pela


facilitação do processo extrajudicial, que além de ser acessível, passou a ter a
possibilidade de ser realizado pela internet, o que permitiu procedimento de modo
virtual, mecanismo e-notariado, resolução 100 do Conselho Nacional de Justiça de
2020.

Caso não houvesse a possibilidade do extrajudicial trazido pela lei 11.411 de


2007, o judiciário nesse período teria sofrido com o aumento de casos de dissoluções
de casamentos.

A medida tomada foi importante, dado ao estado em que vivemos e que


enfrentamos com a pandemia, onde a exigência principal é o distanciamento social. A
proteção que a resolução traz abarca tanto os funcionários como aqueles a serem
atendidos. Essa praticidade e implementação do virtual continuará pós-pandemia,
pois as novas tecnologias proporcionam uma comodidade antes não utilizada.

O virtual possibilita a lavratura da escritura de divórcio a distância, onde a


faculdade ajuda, até mesmo, quando os cônjuges querem evitar contato.

6
Filho, Milton e Vasconcelos, Aisla. Psicóloga destaca as causas do aumento de divórcios na pandemia.
Disponível em:https://infonet.com.br/noticias/cidade/psicologa-destaca-as-causas-do-aumento-de-divorcios-
na-pandemia/. Acesso em 24/05/2021.
27

CONCLUSÃO

No contexto inicial das relações familiares quanto a separação, os cônjuges


que desejavam dissolver matrimonio, enfrentavam extensa burocracia com relação
aos trâmites legais, os litígios eram resolvidos somente no tribunal, mesmo que o casal
estivesse em consenso, de acordo com a partilha e não envolvesse a prole, caso
menores e incapazes.

É indispensável compreender as mudanças que a Lei 11.441 de 2007,


proporcionou frente as facilidades na realização da separação ou divórcio por via
administrativa. Ao contrário do divórcio judicial, que o tempo de espera para a
realização do fato e tornar encerrada a união, o divórcio extrajudicial apresenta uma
alternativa célere a resolução da dissolução.

Evidencia-se a celeridade do processo e a economia que o divórcio


extrajudicial oferece ao casal, além do conforto e a comodidade, pois a escritura
pública pode ser assinada no cartório ou em outro local de maior privacidade, e
dispensa a necessidade de homologação prévia do recolhimento de impostos.

No que lhe concerne, o casal deve estar de comum acordo quanto ao divórcio
e não pode ter filhos menores e incapazes, tramita a ideia da possibilidade de se
realizar divórcio extrajudicial caso as questões de guarda e alimentos já terem sido
previamente resolvidos em juízo.

A visão moderna de flexibilidade, oferece aos interessados estabelecer o


pagamento de pensão alimentícia, a possibilidade de retomada do uso do nome de
solteiro, alterando o estado civil no cartório competente e fazer a partilha dos bens
através de escritura pública. A escritura de divórcio dispensa homologação judicial e
constitui título hábil para transferir bens móveis e imóveis.

É por meio do tabelião de notas que esta imparcialidade no divórcio deve


ocorrer, visto que atuará como conselheiro imparcial das partes, com a participação
de advogado nos procedimentos extrajudiciais como exigência a lei.

Em relação à corrente minoritária que vem apresentar nova interpretação do


texto acerca do divórcio extrajudicial, com o escopo de possibilitar a unilateralidade é
28

cabível dizer que o tema deve ser minuciosamente discutido, uma vez que tem o
caráter de ir contra o que deixou o legislador como regra.

Essas considerações permitem a percepção que, de fato a realização do


divórcio extrajudicial, trouxe desafogamento ao judiciário, facilidades que contribuem
no contexto social e que ainda crescerá e evoluirá no direito.
29

REFERÊNCIAS

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– 19. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.
Vade Mecum Compacto / obra coletiva de autorias da Editora Saraiva com
colaboração de Lívia Céspedes e Fabiana Dias da Rocha – 16. Ed. – São Paulo:
Saraiva, 2016.
Código Civil Comentado / coordenadora Regina Beatriz Tavares da Silva. – 9. Ed de
acordo com a Lei n. 12.607/2012, ADPF 132 e a ADI 4.277 – São Paulo: Saraiva,
2013.
MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Novas modalidades de família na
pós-modernidade. São Paulo: Atlas. 2010.
DIAS, Maria Berenice; LARRATÉA, Roberta Vieira. A Constitucionalização das uniões
homoafetivas. In: CHINELATO, Silmara Juny de Andrade; FUJITA, Jorge; SIMÃO,
José Fernando; ZUCCHI, Maria Cristina. (org.). O direito de família no terceiro milênio:
Estudos em homenagem a Álvaro Villaça Azevedo. Atlas. 2010.
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Cristiano Chaves de Farias, Nelson Rosenvald, e outros. | 12 mar 2020
ROBERTO GONÇALVES, Carlos; Direito Civil Brasileiro Volume 6 – Direito de
Família, 18º Edição.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito de Família, v.5 – 14 ed. – Rio de Janeiro:
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Peixoto, Ulisses Vieira Moreira Usucapião e Usufruto, Inventário e Partilha, Divórcio e


União Estável, Protesto e Outros Documentos/ Ulisses Vieira Moreira Peixoto - 3A
Edição Capa comum – Edição padrão, 1 janeiro 2021.
CNJ - Resolução nº 35. Art. 6º A gratuidade prevista na Lei n° 11.441/07 compreende
as escrituras de inventário, partilha, separação e divórcio consensuais. Art. 7º Para a
obtenção da gratuidade de que trata a Lei nº 11.441/07, basta a simples declaração
dos interessados de que não possuem condições de arcar com os emolumentos,
ainda que as partes estejam assistidas por advogado constituído.
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