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Acção de divisão da coisa comum em companheiros unidos em união

de facto ou situação analóga.

Mariamo Fernando Mavanga1.

Resumo

O presente artigo aborda sobre Acção de divisãoda coisa comum em companheiros unidos em união de facto ou
situação analóga. Pretende-se neste estudo saber qual é regime jurídico de divisão da coisa comum aplicável aos
companheiros que não reconhecido? Com vista a resolução às questões, propõe-se o estudo do regime jurídico da
União de facto vigente no ordenamento jurídico moçambicano, acção de divisão da coisa comum para os cônjuges
e analisar o tratamento dos companheiros que vivam em situação de união de facto e contudo não reconheceram.
Relativamente aos procedimentos metodológicos quanto a abordagem, trata-se de uma pesquisa qualitativa. As
características essenciais do casamento na nossa ordem jurídica definindo-o como o contrato celebrado entre duas
pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida. O actual regime juridico da
uniao de facto carece de reconhecimento quer administrativo ou judicial. Para os companheiros unidos de factos
que não reconhecerem a união de facto no momento da separação ou por lapso de tempo podem dividir os bens
atraves da compropriedade.

Palavras-Chaves: Uniao de facto, divisao comum.

1
Mestrando em Direito Civil pela Universidade Católica na Faculdade de Gestão de Turismo e Informática.
1. Introdução

O presente artigo aborda sobre Acção de divisãoda coisa comum em companheiros unidos em
união de facto ou situação analóga.

A maior partilha da sociedade moçambicana vive em uniao de facto. Ainda não há estudos que
demonstram a motivação da escolha da união de facto. O Estado Moçambicano reconhece nos
termos do artigo 119 da CRM que a família é o elemento fundamental e base de toda a
sociedade.

Por sua vez, a lei da família reconhece o Instituto de união de facto como fonte da relação
familiar e regulamenta o exercício deste. Contudo, existem situações em que os parceiros
vivendo em união de facto não reconhecem judicial ou administrativa, pese embora a situação
factica descrita, estes possuem bens comum. Pretende-se neste estudo saber qual é regime
jurídico de divisão da coisa comum aplicável aos companheiros que não reconhecido?

Com vista a resolução às questões, propõe-se o estudo do regime jurídico da União de facto
vigente no ordenamento jurídico moçambicano, acção de divisão da coisa comum para os
cônjuges e analisar o tratamento dos companheiros que vivam em situação de união de facto e
contudo não reconheceram.

Relativamente aos procedimentos metodológicos quanto a abordagem, trata-se de uma


pesquisa qualitativa de modo a permitir a compreensão dos critérios de indemnização em
virtude da restrição do fornecimento de internet e no que tange aos objectivos o presente
trabalho é explicativa, ademais, nas técnicas usadas foram as pesquisas documentais,
bibliográfica.
2. Casamento e União de facto

Em primeiro lugar há que aferir se os conviventes gozam ou não de autonomia para celebrar os
contratos em análise. O princípio da autonomia privada (ou da autonomia da vontade) assume-
se como um dos princípios basilares do Direito Civil e traduz-se no poder atribuído aos
particulares de auto-regulamentação das suas relações jurídicas segundo a sua vontade e os
seus interesses2.

O ordenamento jurídico reconhece, assim, a cada sujeito a faculdade de constituição e


disciplina, de modo vinculativo, das suas relações jurídicas e do modo que melhor lhe aprouver,
sempre com respeito pelos limites prescritos pela lei. Para além de estar intrinsecamente
associada a uma ideia de liberdade, podendo mesmo afirmar-se de que se trata de uma
decorrência do princípio da liberdade, a autonomia privada, ao reconhecer um espaço de livre
modelação dos interesses dos particulares, acaba por resultar no reconhecimento de que o
Direito é incapaz de prever todos os aspectos concretos da organização da vida social, cabendo,
consequentemente, aos particulares suprir esta inevitável incapacidade 3.

As características essenciais do casamento na nossa ordem jurídica definindo-o como o


contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena
comunhão de vida4.

A plena comunhão de vida é exercida em termos igualitários e acarreta a vinculação recíproca


aos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.

A união de facto inicia-se assim que os sujeitos começam a viver em coabitação, isto é, quando
iniciam a comunhão de mesa, leito e habitação, devendo o preencher a formalidade atestadora
dessa situação (bem como para aceder à tutela legal) 5.

2
MENDES, João de Castro; SOUSA. Miguel Teixeira de, Direito da Família, Lisboa, AAFDL, 1995, pag. 121.

3
MENDES, João de Castro; SOUSA. Miguel Teixeira de, Direito da Família, Lisboa, AAFDL, 1995, pag. 121
4
PROENÇA, José João Gonçalves de, Direito da Família, 4ª ed., Lisboa, Universidade Lusíada Editora, 2008, pag. 45.
5
TELMA CARVALHO, “A união de facto: a sua eficácia jurídica”, in Comemorações dos 35 anos do Código Civil e dos
25 anos da reforma de 1977, vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 2004, pp. 229- 230.
Na união de facto não se aplica os deveres dos conjuges, a união de facto releva para efeitos
patrimoniais e sucessórios.

O legislador sujeita as relações patrimoniais dos cônjuges a um estatuto patrimonial especial –


regime de bens–, vigorando a este propósito o princípio da liberdade de regime de bens,
segundo o qual os nubentes têm a faculdade de adoptar um dos três regimes-tipo (comunhão
de adquiridos, comunhão geral e separação de bens), convencionar um regime novo ou ajustar
os vários regimes-tipo6.

Há existência da consagração de um mínimo de comunhão patrimonial no âmbito da união de


facto, diferente no casamento que há possibilidade da celebração em regime de separação de
bens, a união de facto admite apenas comunhão de bens adquiridos, os autores entendem que
esta posição do legislador em exigir que a uniao de facto tenha um caracter de comunhão de
bens deve-se ao facto de não ser fácil haver uma absoluta separação entre os patrimónios de
cada um dos conviventes, acabando por haver uma inevitável interpenetração patrimonial 7.

2.1. Regime jurídico da União de facto.

2.1.1. Conceito da União de Facto

A união de facto é a ligação singular existente entre um homem e uma mulher, com carácter
estável e duradouro, que sendo legalmente aptos para contrair casamento não o tenham
celebrado8.

A união de facto pressupõe a comunhão plena de vida pelo período de tempo superior a três
anos sem interrupção9.

6
LOPES, JOSÉ JOAQUIM ALMEIDA, “A união de Facto no Direito Português”, in Separata da Revista Española de
Derecho Canónico, vol. 50, n.º 134 (1993), Salamanca, pág. 246

7
TELMA CARVALHO, “A união de facto: a sua eficácia jurídica”, in Comemorações dos 35 anos do Código Civil e dos
25 anos da reforma de 1977, vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 2004, pp. 229- 230.
8
Nr. 1 do artigo 207 da Lei nr 22/2019, de 22 de Dezembro que aprova a lei da família.
9
Nr. 2 do artigo 207 da Lei da família.
2.1.2. Efeitos da união de facto

Nos termos do artigo 208 da Lei da Família estabelece que:

1. A união de facto releva para efeitos de presunção de maternidade e paternidade, nos


termos do disposto na alínea c) do número 2 do artigo 234 e na alínea c) do número 2
do artigo 286 da Lei da Família.
2. O regime de bens aplicável a união de facto é o de comunhão de adquiridos.
3. A união de facto releva também para efeitos sucessórios e outros previstos em demais
legislação.

2.1.3. Reconhecimento da União de Facto

A Lei da Família estabelece duas formas de reconhecimento da União de facto( administrativo e


judicial).

Reconhecimento Administrativo10

1. A existência da união de facto pode ser atestada por certificado passado pela
autoridade administrativa da área de residência dos companheiros, mediante
declaração destes, feita conjuntamente, desde que estejam reunidos os pressupostos
previstos no artigo 207 da presente Lei.

2. O certificado a que se refere o número 1 do presente artigo, deve ser acompanhado dos
seguintes documentos:

a. documento de identificação de cada um dos companheiros da união de facto;

b. certidão de nascimento de cada um dos companheiros da união de facto;

c. atestado de residência dos companheiros da união de facto, com menção do


período de tempo de convivência na situação de união.

10
Artigo 209 da Lei da Família.
3. A união de facto não carece de outros elementos de prova para além da declaração a
que se refere o número 1 do presente artigo, salvo se fundadas dúvidas existirem sobre
a verdade do conteúdo desta.

4. A certificação da existência da união de facto deve ser feita em livro próprio, existente
nas autoridades administrativas.

5. A autoridade administrativa, após verificar que se mostram preenchidos os


pressupostos legais da união de facto, deve remeter o certificado aos serviços de registo
civil da área de residência dos companheiros, para efeitos de emissão do atestado da
união de facto.

6. Cabe aos serviços de registo civil da área de residência dos companheiros da união de
facto transcrever o certificado emitido pela autoridade administrativa, nos termos do
presente artigo, e emitir o atestado da união de facto.

7. O atestado da união de facto, passado nos termos do presente artigo, faz prova plena
em juízo e fora dele.

2.1.4. Cessação da união de facto

O regime juridico da cessação da união de facto dispõe que 11:

1. A cessação da união de facto pode ser atestada pela autoridade administrativa da área
onde os companheiros residiam à data da separação, mediante declaração de um deles
e indicação do momento em que ocorreu.

2. Recebido o certificado de cessação da união de facto, a mesma conservatória referida


no número 6, do artigo 209 da lei da família, emite atestado de cessação da união.

3. A autoridade administrativa, verificando a cessação da união de facto mediante


separação ou morte de um dos companheiros, emite o certificado da sua cessação e
remete ao serviço de registo civil referido no número 5 do artigo 209 da presente Lei.

11
Artigo 210 da Lei da Familia.
4. A cessação da união de facto é aplicável no disposto no número 7 do artigo 209 com as
necessárias adaptações.

Quer o reconhecimento e cessação da união de facto quando praticado numa entidade


administrativa não carece de homologação judicial, isto é , uma vez feito o reconhecimento e
cassação da união de facto torna-se eficaz.

Reconhecimento judicial

Para efeitos de reconhecimento judicial o artigo 211 da Lei da família estabelece o seguinte:

1. A existência e cessação da união de facto pode ser declarada por via judicial.

2. A acção visando a declaração da existência ou cessação da união de facto segue a forma


expedita de processo de jurisdição voluntária, aplicando-se as regras estabelecidas nos
artigos 1409º, 1410º, 1411º e número 2 do artigo 1414º, do Código do Processo Civil.

3. O pedido de reconhecimento da existência ou cessação da união de facto pode ser


cumulado com os pedidos relativos à efectivação dos efeitos da união de facto, com as
necessárias.

Tem legitimidade para intentar a acção de reconhecimento da existência ou cessação da união


de facto ou prosseguir nela12:

a) o companheiro da união de facto, ou o seu representante legal, em caso de


incapacidade, nos termos da lei;

b) os sucessíveis do companheiro da união de facto em caso de morte deste;

c) os que provem ter interesse directo no reconhecimento da existência ou cessação da


união de facto.

É aplicável à união de facto o regime jurídico da invalidade do casamento com as necessárias


adaptações13.
12
Artigo 212 da Lei da Familia.
13
Artigo 213 da Lei da Familia.
3. Acção de divisão da coisa comum aos conjuges ou companheiros unidos de facto.

3.1. Noção compropriedade

Nos termos do nº 1 do artigo 1403 do CC preceitua que, existe a propriedade em comum ou


compropriedade, quando duas ou mais pessoas são simultaneamente titulares do direito de
propriedade sobre a a mesma coisa.

Nas situações de compropriedade ou contitularidade de direitos, isto é, sempre que duas ou


mais pessoas sejam simultaneamente titulares do direito de propriedade ou de outro direito
sobre a mesma coisa, a lei faculta ao comproprietário o direito de exigir a divisão da coisa
comum. Em princípio, nenhum dos comproprietários é obrigado a permanecer na indivisão 14.

Só não será assim se se tiver convencionado que a coisa se conserve indivisa. Em qualquer caso,
não pode convencionar-se a indivisão por prazo superior a cinco anos, muito embora, findo tal
prazo, ele possa ser sucessivamente renovado por novas convenções15.

A cláusula da indivisão é oponível em relação a terceiros, mas, respeitando a coisas imóveis ou


móveis sujeitas a registo, deve ser registada para tal efeito. Apesar do sentido literal, a
expressão “divisão da coisa comum” nem sempre significa a divisão material da coisa entre os
comproprietários, por tal não ser materialmente possível. Por exemplo, um carro
compropriedade de três pessoas.

Neste caso, a sua concretização pode ocorrer adjudicando a coisa a um dos comproprietários,
mediante o pagamento aos demais do valor correspondente às suas quotas, ou alienando-se a
coisa a um terceiro, distribuindo-se o valor correspondente entre todos os consortes. Sendo
feita por acordo, a divisão é amigável, devendo observar a forma exigida para a alienação
onerosa da coisa comum. Deste modo, a divisão de prédio comum deve ser feita por escritura
pública ou documento particular autenticado.

14
VARELA, João de Matos Antunes, Das Obrigações em Geral, 10ª ed., vol. I, Coimbra, Almedina, 2000.
15
VARELA, João de Matos Antunes, Das Obrigações em Geral, 10ª ed., vol. I, Coimbra, Almedina, 2000
3.2. Legitimidade

Nos termos do artigo 26 do CPC refere-se que é legitimo quando o autor tem interesse directo
em demandar e o réu é parte legitima da acção quando tem interesse directo em contradizer.

Nestes termos, as partes legitimas para acções de divisão de coisa comum são os conjuges ou
companheiros unidos de facto.

3.3. Competencia do Tribunal

 Competência em razão de valor

Em matéria civel a alçada do tribunal judicial de provincia e dos tribunais judiciais de distrito é
de valor equivalente a 50 e 25 vezes o salario minimo nacional na funçao publica 16.

 Competencia em razao de territorio

Nos termos do nº 1 artigo 73 do CPC estabelece que deve ser propostas no tribunal das
situacoes de bens a direitos reais imoveis, isto é, quando estiver em causa um bem movel, os
conjuges devem intentar acção no local da situacao do bem.

Ora, acçãob tiver por objecto a universalidade de facto , ou bens moveis e imoveis situacoes em
circunscrições diferentes, será proposta no tribunal corresponde a situação dos imoveis de
maior valor, devendo atender-se para esse efeito os valores de matriz predia 17.

Accao de divisao de coisa comum é especial por força do artigo 460 nº 2 do CPC no qual
estabelece que o processo especial aplica-se aos casos expressamente designados na lei.

4. Metodologia

Metodologia é um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos para que seus objectivos


sejam atingidos através de os métodos científicos18.

16
Artigo 38 da LOJ.
17
Nº 3 do artigo 73 do CPC.
18
PRODANOV, Cleber Cristiano e CESAR DE FREITAS, Ernani, Metodologia de Trabalho Cientifico: Métodos e
Técnicas Pesquisa e do Trabalho Académico, Universidade Feevale, Rio Grande, 2013, pg. 126.
Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que devemos empregar na
investigação. É a linha de raciocínio adoptada no processo de pesquisa19.

Usamos o método Dedutivo no qual sugere uma análise de problemas do geral para o
particular, através de uma cadeia de raciocínio decrescente 20.

4.1. Tipo de pesquisa

Quanto ao objectivo é a pesquisa exploratória-são investigações de pesquisa empírica cujo


objectivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver
hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, facto ou fenómeno,
para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos.
Empregam-se geralmente procedimentos sistemáticos ou para a obtenção de observações
empíricas ou para as análises de dados (ou ambas, simultaneamente)21.

Quanto a sua abordagem a pesquisa é qualitativa no qual o ambiente ou a fonte da pesquisa


baseia-se através de colecta de dados, a interpretação de fenómenos e atribuição de
significados22.

Quanto aos procedimentos técnicos é uma pesquisa de campo no qual é aquela utilizada com
o objectivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual
se procura uma resposta, ou de uma hipótese que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir
novos fenómenos ou as relações entre eles23.

4.2. Técnica de Colecta de Dados

Técnica é o conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência. Ou também pode
se dizer que é habilidade para usar esses preceitos ou normas, na obtenção de seus
propósitos24.

19
PRODANOV, Cleber Cristiano e CESAR DE FREITAS, Ernani, ob.cit. 127.
20
PRODANOV, Cleber Cristiano e CESAR DE FREITAS, Ernani, ob.cit. 127.
21
LAKATOS e MACRONI, ob.cit…pg.188.
22
LAKATOS e MACRONI, ob.cit…pg.188
23
LAKATOS e MACRONI, ob.cit…pg.83
Na fase de recolha de dados, são utilizadas as seguintes técnicas:

a) A pesquisa bibliográfica, abrange toda bibliografia já tomada publica em relação ao


tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, material cartográfico etc.,25.
b) Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objectivo de conseguir informações e/ou
conhecimentos acerca de um problema para o qual se procura uma resposta, ou de uma
hipótese que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenómenos ou as relações
entre eles26.

c) Análise da legislação/documental, a característica da pesquisa documental e que a fonte


de colecta de dados esta restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se
denomina de fontes primarias. Estas podem ser recolhidas no momento em que o fato
ou fenómeno ocorre, ou depois27

5. Discussão de Resultados

O casamento e a uniao de facto em comum têm a comunhão de vida mas, enquanto no


primeiro, há uma solenidade e uma “formalização da vontade de constituição de uma
comunhão de vida em comum”, através da sua enunciação perante um ente público, na união
de facto há um mero “acordo íntimo, que não é expresso através de palavras, documento
escrito ou meio directo”, tendente a uma vivência em comum em condições análogas às dos
cônjuges. De facto, na união de facto estamos perante uma situação inteiramente
desvinculada, de carácter fáctico e de índole precária, distinta da solenidade característica do
casamento, verificando-se, no seu seio, uma ausência de solenidade e formalidades aquando da
sua constituição, essencialmente devido à falta de registo; aliada a esta ausência de

24
MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria, Metodologia do Trabalho Cientifico, 7ª Edição, Revista e
Ampliada, Editora Atlas, 2009, pg. 111.
25
MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria, ob. cit. pg. 71
26
LAKATOS e MACRONI, ob.cit…pg.83
27
LAKATOS e MACRONI, ob.cit…pg.62.
publicidade, assiste-se ainda a uma total inexistência de deveres recíprocos entre os membros
da união, que podem, a todo o tempo e através de declaração unilateral, pôr termo à sua
convivência em comum.

Cremos que esta posição é aquela que mais respeita a escolha que os conviventes hajam feito:
estes optaram pela união de facto ou porque não pretendiam ou porque não podiam contrair
casamento. Ora, a sua opção pela união de facto pode ter residido precisamente na liberdade
de organização privada das suas vidas e na inexistência de um regime legal imperativo restritivo
(semelhante àquele que vigora no casamento), não fazendo sentido, deste modo, impor –
através da aplicação em bloco das disposições legais do casamento – uma disciplina imperativa
a que os conviventes não quiseram ficar submetidos e limitativa da autonomia privada a que os
conviventes possam, eventualmente, ter aspirado.

O actual regime juridico da uniao de facto carece de reconhecimento quer administrativo ou


judicial. Para os companheiros unidos de factos que não reconhecerem a união de facto no
momento da separação ou por lapso de tempo podem dividir os bens atraves da
compropriedade. Nos termos do artigo 1413 do CC dispoe que o processo da divisão é feita
amigavelmente ou nos termos da lei do processo.

6. Conclusão

A união de facto constitui-se quando duas pessoas de sexo diferente se juntam e passam a
viver em comunhão de leito, mesa e habitação, como se de marido e mulher se tratassem,
sendo as suas condições de eficácia, para além dessa comunhão de vida, que tal comunhão se
mantenha há, pelo menos, tres anos e que não haja entre os seus membros qualquer
impedimento dirimente ao seu casamento, se o quiserem vir a celebrar.

Quer as relações pessoais, quer as relações patrimoniais, na união de facto não estão sujeitas
ao regime específico que o casamento prevê quanto a esta matéria, sendo os seus efeitos a
esses níveis diversos dos que provêm do casamento, ficando os patrimoniais sujeitos ao regime
geral, sem prejuízo, contudo, do que as partes possam convencionar entre si (v.g., aquisição de
bens em conjunto, abertura conjunta de contas bancárias e sua movimentação).
As regras substantivas que regulam as relações entre os cônjuges, bem como entre estes e
terceiros, são regras especiais que não compreendem aplicação analógica.

Não decorrendo da união de facto quaisquer obrigações decorrentes de um dever de


assistência entre o casal assim formado, há que entender que tudo o que possa ser prestado
por ambos, mesmo a nível de trabalho doméstico terá de ser entendido como uma obrigação
natural, de coercitividade e repetição impossíveis, atenta a natureza da relação instituída, e, no
que tange aos filhos, o trabalho de assistência sempre se imporia por via das responsabilidades
parentais que sobre os seus membros impendiam.

A dissolução da união de facto poderá implicar uma eventual divisão e partilha das
contribuições de cada um dos parceiros na construção de um património em comum, podendo-
se questionar a que título seriam as mesmas exigíveis.

7. Referência bibliográfica

a) Legislação

Codigo Civil

Codigo Processo Civil

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 22/2019, de 11 de Dezembro, que aprova a lei da Familia


BR I SÉRIE, nº 239, Quarta feira, 11 de Dezembro.

b) Doutrina

LOPES, JOSÉ JOAQUIM ALMEIDA, “A união de Facto no Direito Português”, in Separata da


Revista Española de Derecho Canónico, vol. 50, n.º 134 (1993), Salamanca.

MENDES, João de Castro; SOUSA. Miguel Teixeira de, Direito da Família, Lisboa, AAFDL, 1995

NETO, Renato Avelino de Oliveira, Contrato de Coabitação na união de facto: confronto entre o
direito brasileiro e o português, Coimbra, Almedina, 2006
PITÃO, José António de França, Uniões de Facto e Economia Comum: de acordo com a Lei n.º
23/2010, de 30 de Agosto, 3ª ed., Coimbra, Almedina, 2011.

PROENÇA, José João Gonçalves de, Direito da Família, 4ª ed., Lisboa, Universidade Lusíada
Editora, 2008

TELMA CARVALHO, “A união de facto: a sua eficácia jurídica”, in Comemorações dos 35 anos do
Código Civil e dos 25 anos da reforma de 1977, vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 2004.

VARELA, João de Matos Antunes, Das Obrigações em Geral, 10ª ed., vol. I, Coimbra, Almedina,
2000

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