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União Estável

1. – Da União Estável
1.1 Conceito
O Código Civil de 2002 atualizou a terminologia utilizada na legislação anterior.
Distinguiu os conceitos de concubinato com a de união estável. Concubinato,
nas palavras de Washington de Barros Monteiro, é relação que não possui
proteção legal por ser adulterina, ou seja, entre homem e mulher
impossibilitados de contrair matrimônio por já serem casados e que desde que
não separados.
Já união estável, define o autor, é uma relação lícita, ou seja, sob a guarda e
proteção legal, entre homem e mulher, em constituição de família. Era o antigo
concubinato chamado puro.
Ruggiero define a união estável como a ligação entre o homem e a mulher,
sem casamento.
Álvaro Villaça Azevedo, apresenta o conceito de união estável diante das leis
promulgadas em nosso país. A lei 8971/1994, que regula o direito dos
companheiros a alimentos e à sucessão, estabeleceu elementos conceituais da
união estável.
O autor assim os elenca:
 “a) a convivência entre homem e mulher, não impedidos de casar ou
separados judicialmente;
 b) por mais de cinco anos;
 c) ou tendo filho;
 d) enquanto não constituírem nova união”

Já a lei 9.278/1996, a qual regula o parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição


Federal, reconhece como união estável, a convivência duradoura, pública e
contínua, de um homem e de uma mulher, estabelecida com objetivo de
constituição de família.

Washington de Barros Monteiro afirma que para que se configure a união


estável é necessária a constituição da família.

Silvio Rodrigues complementa, ensinando que é fundamental para que se


caracterize a união estável a fidelidade recíproca entre os companheiros. Isso
porque é elemento que revela o propósito da vida em comum, um verdadeiro
estado de casados.

A coabitação, apesar de não ser imprescindível, é condição importante para


caracterizar a relação de união estável entre o homem e a mulher. Isso porque
a constituição da família, geralmente, dá-se com a convivência em um só
domicílio.

Nesse sentido, os Tribunais tem formado a seguinte jurisprudência:


“União estável – Requisitos – Convivência sob o mesmo teto – Dispensa –
Caso concreto – Lei nº 9728/96 – Enunciado nº 382 da Súmula/STF – Acervo
fático-probatório – Reexame – Impossibilidade – Enunciado nº 7 da
Súmula/STJ – Doutrina – Precedentes – Reconvenção – Capítulo da sentença
– Tantum devolutum quantum apellatum – Honorários – Incidência sobre a
condenação – Art. 20, §3º, CPC – Recurso provido parcialmente.

Não exige a lei específica (Lei nº 9728/96) a coabitação como requisito


essencial para caracterizar a união estável. Na realidade, a convivência sob o
mesmo teto pode ser um dos fundamentos a demonstrar a relação comum,
mas a sua ausência não afasta, de imediato, a existência da união estável.
Diante das alterações dos costumes, além das profundas mudanças pelas
quais tem passado a sociedade, não é raro encontrar cônjuges ou
companheiros residindo em locais diferentes. O que se mostra indispensável é
que a união se revista de estabilidade, ou seja, que haja aparência de
casamento, como no caso entendeu o acórdão impugnado.

Seria indispensável nova análise do acervo fático-probatório para concluir que


o envolvimento entre os interessados se tratava de mero passatempo, ou
namoro, não havendo a intenção de constituir família. Na linha da doutrina,
‘processadas em conjunto, julgam-se as duas ações (ação e reconvenção), em
regra, na mesma sentença, que necessariamente se desdobra em dois
capítulos, valendo cada um por decisão autônoma, em princípio, para fins de
recorribilidade e de formação de coisa julgada’.

Nestes termos, constituindo-se em capítulos diferentes, a apelação interposta


apenas contra a parte da sentença que tratou da ação, não devolve ao tribunal
o exame da reconvenção, sob pena de violação das regras tantum devolutum
quantum apellatum e da proibição da reformatio in pejus. (...)”
(STJ – 4ª T.; Resp nº 474.962-SP; Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira; j.
23/09/2003; v.u.)

Além disso, os doutrinadores pátrios, como Washington de Barros Monteiro [6]


e Silvio Rodrigues, por exemplo, salientam que a união estável só é
reconhecida em relacionamentos que se mostram à sociedade, sem qualquer
clandestinidade. Salienta Silvio de Salvo Venosa [7] que a união de fato será
protegida pela lei se o casal se apresenta na sociedade como se marido e
mulher fossem.

Segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, consubstanciado na


Súmula 382 por ele editada, a apresentação dos companheiros à sociedade,
como se casados fossem. Para o Tribunal, a vida em comum sob o mesmo
teto, “more uxório”, não é indispensável à caracterização do concubinato.
Atualmente não é mais requisito para configuração da união estável o
relacionamento duradouro por mais de cinco anos ou quando há a concepção
de filhos.

O artigo 1723 do Código Civil suprimiu qualquer fixação de tempo, bastando


apenas o relacionamento “contínuo e duradouro” para a caracterização da
união estável, cabendo ao juiz, em caso de litígio fazer um juízo de valor para
determinar se a relação no caso concreto teve ou não duração suficiente para a
existência da união estável.
As demais condições previstas para a realização do casamento se verificam
também como necessárias à configuração da união estável, tais como a
capacidade civil, ou os impedimentos constantes do artigo 1.521, I a V e VII,
por exemplo.

Saliente-se que, em se falando em capacidade civil, a união estável só é válida


quando a pessoa atinge a idade núbil, sendo que essa não pode ser suprida
por autorização dos pais ou responsáveis nem tampouco pela decisão
emanada pelo Poder Judiciário, conforme brilhantes palavras de Washington
de Barros Monteiro.

Washington de Barros Monteiro, em apertada síntese, descreve os


pressupostos para o reconhecimento da união estável, apta a gerar efeitos
pessoais e patrimoniais: a) união estável, com constituição de família, entre um
homem e uma mulher; b) convivência sob o mesmo teto prolongada, pública e
contínua; c) capacidade civil dos companheiros; d) inexistência de impedimento
matrimonial, salvo, no caso de casamento, se houver separação de fato.

Silvio de Salvo Venosa acrescenta mais um requisito para a configuração da


união estável: a diversidade de sexos. Esse elemento é primordial tendo em
vista o objetivo da união, que, como no casamento, é a geração de prole, sua
educação e assistência. O relacionamento homossexual não poderá receber a
proteção da Constituição Federal por não se amoldar aos objetivos traçados
pelo legislador no momento em que admitiu como entidade familiar a união
estável.

Os Tribunais têm decidido atualmente, em questões relativas à união


homoafetiva, dentro do âmbito obrigacional e, portanto, patrimonial, como uma
sociedade de fato.

Nesse sentido, trazemos um julgado que ilustra a corrente mencionada:


“COMPETÊNCIA. RELAÇÃO HOMOSSEXUAL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE
SOCIEDADE DE FATO, CUMULADA COM DIVISÃO DE PATRIMÔNIO.
INEXISTÊNCIA DE DISCUSSÃO ACERCA DE DIREITOS ORIUNDOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA. COMPETÊNCIA DA VARA CÍVEL.

Tratando-se de pedido de cunho exclusivamente patrimonial e, portanto,


relativo ao direito obrigacional tão-somente, a competência para processá-lo e
julgá-lo é de uma das Varas Cíveis.
Silvio de Salvo Venosa lembra também de um requisito normalmente apontado
pela doutrina para a avaliação de um caso concreto em que a convivência de
um homem e uma mulher pode ser considerada união estável. É a existência
de casamento religioso. A benção religiosa define, segundo o autor, uma
moralidade e respeito que auxilia o julgador para a tipificação de uma união
estável. O casamento religioso traz à tona uma presunção dos objetivos que
pretendem os conviventes, de boa-fé, moralidade, intuito de constituição de
família, entre outros.

Hélio Borghi, em sua obra “União Estável e Casamento – Aspectos Polêmicos”,


define também como elemento essencial para a caracterização da união
estável a continuidade das relações sexuais. Esse requisito está ligado à
questão da estabilidade da união, pois só assim se coadunam com o caráter
estável da relação, realmente verdadeira. Além disso, segundo o autor, esse
elemento pode revelar a intenção da vida em comum dos conviventes. [12]
A união estável pode ser dissolvida por acordo entre as partes, ou por decisão
judicial.
A dissolução através de acordo mútuo dos companheiros não requer a
realização de instrumento escrito, já que toda a relação foi calcada em fatos.
No entanto, se assim preferirem, a opção pela forma escrita poderá ser
submetida à homologação judicial, a qual poderá, inclusive, dispor sobre a
obrigação de prestação de alimentos a um dos cônjuges ou aos filhos.
Saliente-se que o artigo 585, II, do Código de Processo Civil admite a escritura
pública de dissolução de união estável como título executivo extrajudicial e,
portanto, passível de execução.

Se não houver acordo entre as partes, o autor Washington de Barros Monteiro


explica que é possível o ingresso de ação ordinária para a declaração do
término da relação, bem como a decisão de questões controvertidas, com a
guarda dos filhos, por exemplo.

1.2 Histórico (evolução na sociedade brasileira)


O Código Civil de 1916 ignorou a família de fato, fazendo raras menções a ela,
no sentido de proteger a família oriunda do casamento, pois via no matrimônio
a única forma de constituição da família. Praticamente jogou esse tipo de
relacionamento à margem da sociedade, sendo que para esse legislador, a
família chamada “ilegítima” era motivo de vergonha.

Tal posição adotada pelo legislador veio da influência exercida pela Igreja,
através dos preceitos cristãos. Assim, com o passar dos tempos a doutrina e a
jurisprudência moldaram-se à sociedade moderna. No início os direitos
reconhecidos aos até então chamados de concubinos se deram no campo
obrigacional.

O legislador constituinte, por sua vez, trouxe ao seio de proteção do Estado a


família nascida fora do casamento, apresentando sua condição de entidade
familiar, tendo em vista o caminho aberto gradualmente pela jurisprudência
para decisões homogêneas e solidificadas em matéria de proteção aos efeitos
da união livre na legislação.

Acreditamos que a visão trazida pela Constituição Federal significou um grande


avanço para a sociedade brasileira. Não apenas apresentou ao mundo jurídico
a entidade familiar sem matrimônio, mas também abriu margem às leis infra-
constitucionais, as quais alargaram direitos aos companheiros, como por
exemplo as Lei número 8971/1994 e 9278/1996 que outorgam direito de
alimentos e sucessórios, sem falar do Código Civil de 2002 que trouxe
dispositivos reguladores da União Estável.

1.3 Direitos e deveres dos companheiros


O artigo 1724 do Código Civil estabelece um conjunto de deveres aos
participantes da relação de fato. Expressa a norma que os companheiros
deverão um ao outro lealdade, respeito e assistência, guarda, sustento e
educação dos filhos. São, portanto, os mesmos direitos e deveres outorgados
aos cônjuges.

A lei 9.278/96 também apresenta uma série de deveres decorrentes da união


estável, nos seguintes termos: “São direitos e deveres iguais dos conviventes: I
– respeito e consideração mútuos; II – assistência moral e material recíproca;
III – guarda, sustento e educação dos filhos comuns”.
O dever de lealdade visa vedar a manutenção de relações que tenham em
vista a satisfação da libido, do instinto sexual, como afirma Washington de
Barros Monteiro, fora da união estável. Pretende o legislador manter a relação
monogâmica, como é a nossa sociedade.

O dever de assistência tem duplo aspecto, a saber, o material e o imaterial.


Material significa o auxílio econômico recíproco, prestação de alimentos, ou
seja, recursos necessários para a alimentação, saúde, habitação, vestuário,
etc. Saliente-se que, dissolvida a união, a assistência material passa a ser
prestada ao companheiro, a título de alimentos, nos moldes do artigo 1694 do
Código Civil.

“Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos


outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a
sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a
situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia”.

Já a assistência imaterial consubstancia-se na prática dos deveres de respeito,


a preservação dos direitos da personalidade como a vida, integridade física e
psíquica, honra, liberdade e segredo, sem os quais, os demais direitos
perderiam qualquer interesse para o indivíduo. Essa assistência deve ser
perseguida sob os mais diversos prismas da vida em comum dos
companheiros, dignificando a pessoa do convivente com quem constituiu
família.

No que concerne aos filhos, os conviventes estão obrigados a tê-los sob a sua
guarda, sustentá-los de forma igualitária, entre o homem e a mulher.
No momento em que a união estável é dissolvida onerosamente, cada cônjuge
possui o direito à parte que lhe cabe sobre o patrimônio adquirido durante a
relação em conjunto, caso não haja disposição em contrário em eventual pacto.

O artigo 1694 do Código Civil possibilita ao companheiro requerer ao outro a


obrigação de prestar alimentos. É o que segue.

“Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos


outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a
sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a
situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia”.

No entanto, conclui-se que os alimentos são devidos caso sejam


indispensáveis à subsistência do companheiro, quando a situação de
necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

Saliente-se que o companheiro que violar os deveres inerentes à união estável,


poderá perder o direto à percepção de alimentos no momento do término da
relação, mesmo que se apresente como necessitado.

Conclui-se que o dever de um companheiro se traduz no direito do outro. Se o


direito de um dos conviventes é violado, a configurar ato ilícito por parte do
outro, pode o lesante ser sujeitado ao pagamento de indenização, conforme
preceitua o artigo 927 do Código Civil.

1.4 Regime de bens


O artigo 1725 do Código Civil adota o mesmo regime legal do casamento para
aplicação na união estável, a comunhão parcial de bens, regulada nos artigos
1658 a 1666 do Código Civil. No entanto há a possibilidade de haver
disposição em contrário pelos companheiros, sob a forma de instrumento
público, forma imposta na codificação civil.

Todavia, acreditamos que deve ser aplicada à união estável a disposição do


artigo 1641 do Código Civil, no que couber, o qual obriga o regime de
separação de bens em casos específicos para o casamento.

No que diz respeito à administração dos bens, na união estável também se


destaca a proibição de alienação de bem imóvel sem o consentimento do
cônjuge, a não ser que seja escolhido ou imposto por lei o regime de
separação de bens.

Pelo regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens adquiridos na


constância da união da mesma forma que no casamento, seguindo-se,
portanto, o artigo 1660 do Código Civil.
“Art. 1.660. Entram na comunhão:
I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda
que só em nome de um dos cônjuges;
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou
despesa anterior;
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os
cônjuges;
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge,
percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a
comunhão”.

Quanto aos bens que excluem-se da comunhão parcial e aqueles


incomunicáveis, também seguem o disposto no Código Civil.
O art. 226, §3°, da CF/88 reconhece a união estável como sendo espécie
de entidade familiar.

O Código Civil, por sua vez, destaca quais são os requisitos para sua
configuração.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.
§ 1° A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art.
1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada
se achar separada de fato ou judicialmente.
§ 2° As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da
união estável.

Em primeiro lugar, é preciso destacar que a expressão “entre homem e


mulher” vem sendo suprimida no ordenamento jurídico.
Isso ocorre em razão da leitura constitucional do direito civil, do princípio da
afetividade, do princípio da dignidade da pessoa humana e da consequente
ampliação do conceito de família.

Ao dar status de família à União Estável, o legislador resguardou aos


companheiros o direito de:
 Alimentos;
 Herança;
 Regime de Bens;
 Presunção de esforço comum.

Observe, contudo, que, para estar consagrada a União Estável a união deve
ser:
 pública, contínua e duradoura;
 com objetivo de constituir família;
 sem impedimento (art. 1.521 do CC/02)

É importante observar que:


 A causa suspensiva não impede a união estável, mas impõe o regime
da separação obrigatória de bens;
 Não impõe a procriação;
 Não exige a coabitação.

Aliás, o próprio STF já decidiu, por meio da súmula 382, que “a vida em
comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização
do concubinato”.

Também é importante destacar que, conforme ADI 4277 e ADPF 132, pode-se
declarar a união estável do casal homoafetivo.

Neste sentido, o enunciado 524 da V jornada de direito civil esclarece que “as
demandas envolvendo união estável entre pessoas do mesmo sexo constituem
matéria de Direito de Família”.
Lembre-se que o conceito de família vem sendo ampliado principalmente em
razão da concepção existencialista da constituição, princípio da dignidade da
pessoa humana, princípio da afetividade e princípio da igualdade.

Havendo algum dos impedimentos poderá ser caracterizado, no máximo,


o concubinato que, segundo a súmula 380 do STF, consagra sociedade de
fato (art. 1.727 do CC/02).

Diante da sociedade de fato, os bens adquiridos dependem da comprovação


do esforço comum.
Em outras palavras, a concubina não tem direito a presunção de esforço
comum, bem como demais direitos (alimentos, herança e regime de bens).

Há, contudo, uma exceção importante…


A pessoa casada, porém, separada de fato, poderá constituir união estável.
A união estável, assim como o casamento (art. 1.566 do CC/02), cria deveres
recíprocos.

É o que dispõe o art. 1.724 do CC/02:


Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos
deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação
dos filhos.

Diante da omissão quanto ao regime de bens, aplica-se à união estável


o regime da comunhão parcial de bens (art, 1.725 do CC/02).
As partes, contudo, por contrato escrito, poderão optar por outro regime de
bens.
A doutrina chama esse contrato de pacto de convivência (ou contrato de
convivência).
É importante consignar que a união estável poderá converter-se em
casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro
Civil (art. 1.726 do CC/02).

Em relação a herança, o art. 1.790 do Código Civil apontava o seguinte:


Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro,
quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas
condições seguintes:
I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que
por lei for atribuída ao filho;
II – se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a
metade do que couber a cada um daqueles;
III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da
herança;
IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

Contudo, tal dispositivo foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal


Federal, pois trata com distinção o casamento e a união estável.
Observe que a pessoa casada, diante da morte do cônjuge, recebe a herança
com exclusividade no caso de inexistirem ascendentes e descendentes (art.
1.829, III, CC/02).
Assim, diante da inexistência de ascendente e descendentes, a pessoa casada
é herdeira universal.

Diferente do casamento, contudo, o companheiro(a) teria direito a apenas um


terço da herança caso existissem colaterais (art. 1.790, III, CC/02). Em outras
palavras, diferente do casado(a), o companheiro(a) concorreria com colaterais,
caso inexistissem descendentes ou ascendentes.
A inconstitucionalidade reside na distinção de regime sucessório entre
cônjuges e companheiros, isso porque, ao atuar desta forma, o Código Civil
hierarquizou as entidades familiares, postura vedada pela Constituição Federal.
Além disso, segundo o julgado, o art. 1.790 viola o princípio da
igualdade, da dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade e
da vedação ao retrocesso.

Por todo o exposto, o dispositivo foi declarado inconstitucional, sendo


consignado que “no sistema constitucional vigente, é inconstitucional a
distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser
aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do
CC/2002″.

Isso ficou consignado, inclusive, no tema 809 do STF.


O STF, no julgamento, modulou os efeitos da aplicação da tese, limitando-a
aos processos em que ainda não tivesse havido o trânsito em julgado da
sentença de partilha.
Por isso, hoje, o companheiro, assim como o cônjuge, não concorre, na
sucessão, com os colaterais.
Uma recente atualização ocorreu em 2023 trata-se do julgamento do REsp
2.050.923.

No caso concreto, quatro irmãos e a companheira do falecido firmaram um


acordo para a partilha de bens e direitos. A sentença homologatória do acordo
de partilha ainda não havia transitado em julgado quando ocorreu, em paralelo,
a declaração de inconstitucionalidade do art. 1.790 pelo STF.

Nesse cenário, a companheira pleiteou a exclusão dos irmãos e o deferimento


integral da herança em seu favor, com base no artigo 1.829 do CC. O Tribunal
de Justiça do estado deu provimento ao recurso da companheira e excluiu os
irmãos da sucessão.

Contudo, a Terceira Turma do STJ reformou o acórdão que havia excluído os


irmãos do acordo de sucessão, dando provimento ao recurso especial. A
ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso, observou que a modulação dos
efeitos teve a finalidade de preservar as relações jurídicas já finalizadas, ela
apontou que a cessação definitiva do litígio entre os herdeiros não depende do
trânsito em julgado da sentença homologatória do acordo de partilha, conforme
o artigo 2.015 do CC.

É interessante observar que o companheiro também tem direito real de


habitação.
Contudo, o tema não vem disciplinado pelo Código Civil, mas sim pelo art. 7°,
parágrafo único, da lei 9278/96, vale citar:
Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material prevista
nesta Lei será prestada por um dos conviventes ao que dela necessitar, a título
de alimentos.
Parágrafo único. Dissolvida a união estável por morte de um dos
conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação, enquanto viver ou
não constituir nova união ou casamento, relativamente ao imóvel destinado à
residência da família.

Lembre-se que o art. 1.831 do Código Civil fala apenas em direito de habitação
legal do cônjuge.
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens,
será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança,
o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da
família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.

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