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#1 - Reconhecimento de união estável post mortem. De cujus casado. Ausência de comprovação da


separação de fato. Namoro qualificado

Data de publicação: 16/11/2022

Tribunal: TJMG
Relator: Francisco Ricardo Sales Costa

Chamada

(...) '' A união estável é reconhecida como entidade familiar entre o homem e a mulher, configurada na
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. 2. No
namoro qualificado o casal não tem o propósito de constituir família, ainda que haja coabitação; não se
assumem como companheiros nem se apresentam como tal perante a sociedade - sem a convivência
pública more uxorio. Inexistente nos autos provas documentais e testemunhais apontando que o de cujus
separou-se de fato do cônjuge, bem como que os eventuais companheiros possuíam interesse de
constituir família, não há como reconhecer a presença de união estável concomitante ao casamento.''

Ementa na Íntegra

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE


UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM - DE CUJUS CASADO - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
SEPARAÇÃO DE FATO - NAMORO QUALIFICADO - TESE CONFIRMADA - RECURSO
DESPROVIDO. 1. A união estável é reconhecida como entidade familiar entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição
de família. 2. No namoro qualificado o casal não tem o propósito de constituir família, ainda que haja
coabitação; não se assumem como companheiros nem se apresentam como tal perante a sociedade - sem
a convivência pública more uxorio. 3. Inexistente nos autos provas documentais e testemunhais
apontando que o de cujus separou-se de fato do cônjuge, bem como que os eventuais companheiros
possuíam interesse de constituir família, não há como reconhecer a presença de união estável
concomitante ao casamento.

(TJMG - AC: 10000221911753001 MG, Relator: Francisco Ricardo Sales Costa (JD Convocado), Data
de Julgamento: 10/11/2022, Câmaras Especializadas Cíveis / 4ª Câmara Cível Especializada, Data de
Publicação: 10/11/2022)

Jurisprudência na Íntegra

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE


UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM - DE CUJUS CASADO - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
SEPARAÇÃO DE FATO - NAMORO QUALIFICADO - TESE CONFIRMADA - RECURSO
DESPROVIDO.

1. A união estável é reconhecida como entidade familiar entre o homem e a mulher, configurada na
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
2. No namoro qualificado o casal não tem o propósito de constituir família, ainda que haja coabitação;
não se assumem como companheiros nem se apresentam como tal perante a sociedade - sem a
convivência pública more uxorio.

3. Inexistente nos autos provas documentais e testemunhais apontando que o de cujus separou-se de fato
do cônjuge, bem como que os eventuais companheiros possuíam interesse de constituir família
, não há como reconhecer a presença de união estável concomitante ao casamento.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.22.191175-3/001 - COMARCA DE DIVINÓPOLIS - APELANTE (S):


R.R.B.A. - APELADO (A)(S): A.A.M.A., A.F.M., C.M.M., L.E.M., L.A.M.J., M.S.M.

ACÓRDÃO

(SEGREDO DE JUSTIÇA)

Vistos etc. Acorda, em Turma, a 4ª Câmara Cível Especializada do Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO
CÍVEL.

JD. CONVOCADO FRANCISCO RICARDO SALES COSTA

RELATOR

JD. CONVOCADO FRANCISCO RICARDO SALES COSTA (RELATOR)

VOTO

Trata-se de Apelação Cível interposta por R.R.B.A. contra a r. sentença proferida pelo d. Juízo da 2ª Vara
Cível de Família da Comarca de Divinópolis, que nos autos da "Ação de Reconhecimento de União
Estável Post Mortem" ajuizada em face dos herdeiros de L.A.M., julgou improcedente o pedido deduzido
na petição inicial e extinguiu o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do
CPC.

A r. sentença condenou a autora/apelante ao pagamento das custas processuais e dos honorários de


sucumbência, estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa. Ainda, suspendeu a
exigibilidade do pagamento das verbas, nos termos do art. 98 do CPC, pois a parte litiga sob o pálio da
assistência judiciária (doc. 139).

Nas razões recursais a apelante afirmou que conviveu sob a forma de união estável com o de cujus
L.A.M. no período compreendido entre 01/10/2003 e 11/06/2019, data do falecimento do companheiro, e
"que a convivência era organizada nos moldes do casamento tradicional, desprovido apenas da
formalidade".

Sustentou que moravam no mesmo imóvel e viviam como marido e mulher, com o objetivo de constituir
família. Informou que juntou aos autos comprovantes de endereço que comprovam que o companheiro
recebia correspondência no mesmo endereço da apelante.

Aduziu que a dependência financeira e a demonstração de afeto e compromisso do casal restaram


evidenciadas no feito, conforme bilhetes transcritos pelo de cujus à apelante e apólice de seguro de vida
deixando a apelante como única beneficiária.

Argumentou que o companheiro e sua ex-cônjuge, Sr.ª A.F.M., eram separados de fato há mais de quinze
anos, fato que corrobora a união estável vivida com a apelante. Assegurou que os filhos do de cujus -
A.A.M.A., C.M.M., M.S.M. e L.A.M.J. - não contestaram a união estável.

Pugnou pelo conhecimento e provimento do recurso, para reformar a sentença e julgar pela total
procedência do feito (doc. 140).

Contrarrazões apresentadas por A.F.M. e L.E.M., refutando as razões do apelo (doc. 142).

Os demais apelados - M.S.M., C.M.M., A.A.M.A. e L.A.M.J. -, devidamente intimados, deixaram de


apresentar resposta ao apelo.

É o relatório.

Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, conheço da apelação cível interposta.

Cinge-se a controvérsia aferir o acerto da r. sentença que, nos autos da "Ação de Reconhecimento de
União Estável Post Mortem", julgou improcedente o pedido deduzido na peça inicial, deixando de
reconhecer a união estável entre R.R.B.A. e o de cujus L.A.M., no período compreendido entre
01/10/2003 e 11/06/2019 (doc. 139).

Irresignada com a r. sentença, a apelante R.R.B.A. interpôs apelação em face dos herdeiros de L.A.M.,
quais sejam: L.E.M., M.S.M., C.M.M., A.A.M.A., L.A.M.J. e A.F.M. (doc. 140).

No presente caso, R.R.B.A. alega que esteve em união estável com o de cujus por, aproximadamente, 15
(quinze) anos, quando então sobreveio o falecimento do companheiro (cf. certidão de óbito de f. 03, doc.
08).

Ocorre, todavia, que o de cujus era casado sob o regime de comunhão universal de bens com A.F.M., ora
apelada, desde 21/07/1982, não havendo decreto de divórcio (cf. certidão de casamento de doc. 36).

Importante, num primeiro momento, contextualizar a união estável, o que se faz nas palavras da jurista
Maria Berenice Dias:

"A união estável nasce da convivência, simples fato jurídico que evolui para a constituição de ato
jurídico, em face dos direitos que brotam dessa relação. Ou, no dizer de Paulo Lôbo, um ato-fato jurídico,
por não necessitar de qualquer manifestação ou declaração de vontade para que produza efeitos jurídicos.
Basta sua existência fática para que haja incidência das normas constitucionais e legais cogentes e
supletivas, convertendo-se a relação fática em relação jurídica." (DIAS, Maria Berenice. Manual de
Direito das Famílias. 15ª Ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Editora JusPodivm, 2022. p. 614). Grifos
nossos.

Com efeito, sendo prescindível a chancela estatal para a constituição da união estável, vários são os
requisitos necessários para o seu reconhecimento, quais sejam: a coabitação, em regra; a convivência
pública; a demonstração de continuidade do relacionamento e, sobretudo, o interesse de constituir família.

A propósito, dispõe o Código Civil em seu art. 1.723:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada
na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Nesse espeque, a simples coabitação - estrutura de domicílio familiar - não é suficiente para o
reconhecimento da união estável, embora seja elemento que, quando presente, demonstra maior paridade
ao instituto do casamento.

Lado outro, a continuidade do relacionamento, bem como a sua forma pública e notória perante o meio
social dos envolvidos são indispensáveis, pois a união estável não se assemelha a relações efêmeras e
circunstanciais. Ainda, incontornável é a demonstração do interesse de constituir família
, pressuposto de caráter notadamente subjetivo, que deságua na necessidade de os companheiros
dividirem os ônus e os bônus da vida em comum, essência do compartilhamento da vida familiar.

Recentemente, a doutrina deliberou relativamente ao instituto do namoro qualificado, que se aproxima ao


da união estável. No primeiro, o casal não tem animus familiae, ainda que haja coabitação; não se
assumem como companheiros nem se apresentam como tal perante a sociedade. Já a união estável o
objetivo precípuo é o propósito de uma vida em comunhão, com assunção do papel de marido e mulher
perante a coletividade.

Com amparo nas premissas apresentadas, há de ser contemplada a visão crítico-jurídica acerca do
reconhecimento da união estável nos casos em que um dos companheiros encontra-se simultaneamente
casado, situação que decorre dos autos em voga.

Sobre o tema, nos termos do que dispõe o art. 1.723, § 1º do CC, a união estável não será reconhecida
quando presente algum dos impedimentos previstos no art. 1.521 do CC, "não se aplicando a incidência
do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato" (MADALENO, Rolf. Direito de
Família. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 14). Veja-se os citados dispositivos legais:

Art. 1.521. Não podem casar:

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

II - os afins em linha reta;

III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;

V - o adotado com o filho do adotante;

VI - as pessoas casadas;

VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte. (Grifos nossos).

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada
na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

§ 1 o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a
incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

§ 2 o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável. (Grifos
nossos).

Nesse contexto, leciona Rolf Madaleno sobre as especificidades da situação posta nos autos, in verbis:

"Embora a pessoa casada não possa recasar enquanto não dissolvido o seu matrimônio pelo divórcio, pela
declaração judicial de invalidade, ou pela morte, quedando viúvo o cônjuge sobrevivente, igual restrição
não acontece na conformação de uma nova relação através da união estável, dado à expressa ressalva do
§ 1º do artigo 1.723 do Código Civil, de que a antiga separação ou mesmo a simples separação de fato
seriam suficientes para conferir inteira validade à união estável, não havendo necessidade da prefacial
dissolução do matrimônio civil pelo divórcio." (MADALENO, Rolf. Direito de Família. 11ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2021. p. 15). Grifos nossos.

E completa:

"Assim, enquanto um segundo casamento para quem já é casado só pode ocorrer se primeiro promover o
seu divórcio, para a convalidação de uma união estável basta a sua separação de fato ou o divórcio
judicial ou extrajudicial da relação afetiva anterior. Mas, segue sendo empecilho para a união estável a
coexistência de um casamento paralelo e cujo cônjuge não está nem fática e nem legalmente
desvinculado da relação precedente, mantendo uma união adulterina, vedada pelo § 1º do artigo 1.723 do
Código Civil." (MADALENO, Rolf. Direito de Família. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 15).
Grifos nossos.

Em detida análise às provas colacionadas ao autos restou demonstrado que o de cujus mantinha
residência simultânea nas cidades de Divinópolis/MG e de Belo Horizonte/MG, locais em que morava,
respectivamente, com a Sr.ª R.R.B.A. (apelante) e a Sr.ª A.F.M. (cônjuge).

Embora seja crível que a apelante e o de cujus possuíam relacionamento considerado contínuo, era
insubsistente e sem intenção de constituir família, inclusive porque não abandonou a família construída a
partir do casamento.

Isso porque, se por um lado o de cujus compartilhou com a apelante momentos afetivos (docs. 12/13), de
habitação (docs. 17/30) e de ordem financeira (docs. 15/16), por outro, e fundamentalmente, manteve os
deveres do casamento contraído com a Sr.ª A.F.M., nos termos do art. 1.566 do Código Civil
. Dito isso, há manifesta impossibilidade de conferir aspecto formal ao relacionamento entre o de cujus e
a apelante.

Nota-se dos autos que o de cujus e A.F.M. foram casados por mais de 36 (trinta e seis) anos e o
relacionamento encerrou-se com o falecimento do Sr. L.A.M., no dia 11/06/2019. Esta assertiva detém
guarida no arcabouço probatório dos autos, pois, em primeiro lugar, o de cujus manteve sua residência
junto à ex-cônjuge, visto que: (i) a Carteira Nacional de Habilitação - CNH foi emitida em
Divinópolis/MG, no ano de 2015 (doc. 08); (ii) a 'Licença para Pesca Amadora' dos anos de 2016, 2018 e
2019 confirmam a moradia em Divinópolis/MG (doc. 62); (iii) os avisos de cobrança do Ministério da
Fazenda são encaminhados ao endereço de Divinópolis/MG (doc. 54); (iv) as contas de condomínio do
apartamento de Divinópolis/MG são em nome do de cujus, referente aos anos de 2017 a 2019 (doc. 58);
(v) a presença na lista da Sessão Maçônica Estrela do Oeste de Minas, realizada em Divinópolis/MG, nos
dias 04/02/2019, 11/02/2019, 18/02/2019, 25/05/2019, 13/03/2019, 18/03/2019, 25/03/2019, 08/04/2019,
15/04/2019, 27/04/2019, 29/04/2019 e 13/05/2019 (docs. 63 e 66/69); (vi) a apólice de seguro residencial
junto à Aliança do Brasil S/A, para o apartamento dos cônjuges em Divinópolis/MG (doc. 65); (vii)
procurações particulares subscritas pelo de cujus (doc. 64).

Não menos importante, consta na 'Declaração de Óbito' do de cujus que reside no mesmo endereço
indicado pela ex-cônjuge e foi internado no Hospital São Judas Tadeu, em Divinópolis/MG, local em que
faleceu com diagnóstico de "choque séptico + cardiogênico", "pneumonia", "infarto agudo do miocárdio"
(doc. 08). Ademais, a ex-cônjuge atuou como declarante da sua 'Certidão de Óbito' (docs. 08 e 53) e
também como tomadora de serviços da cessão de uso de espaço para sepultamento, serviços funerários e
de lápide, junto à Funerária Divinópolis Ltda. EPP, ao Cemitério Parque da Serra Ltda. e ao Hospital São
Judas Tadeu Ltda. (doc. 61).

Há que se apontar, sobretudo, que o de cujus outorgou procurações em favor da ex-cônjuge, Sr.ª A.F.M.,
datadas de 1º/12/2010, 23/02/215 e 18/04/2017, devidamente registradas em Cartório, constituindo-a
como sua procuradora e conferindo-lhe os seguintes poderes:

"(...) para lhe conferir amplos e ilimitados poderes para movimentar minha conta corrente junto ao Banco
do Brasil S.A, (...) realizar com o mesmo, quaisquer negócios ou transações bancárias e retirar dinheiro,
títulos e valores, emitir, endossar e assinar cheques, sacar a descoberto, assinar propostas, contratos,
cartas de ordem, papéis e quaisquer documentos, tomar saques, requisitar talões de cheques, liquidar e
encerras contas, reconhecer saldos, transigir, receber, pagar, passar recibos e dar e aceitar quitações,
enfim, todos os demais e necessários ao bom e fiel cumprimento do presente mandato, que dará tudo por
bom, firme e valioso, como se presente fosse, sendo vedado o seu substabelecimento no todo ou em
parte, com ou sem reserva de poderes." (doc. 64).

A propósito, ratificou a vigência dos poderes concedidos à ex-cônjuge nos dias 25/04/2019 e 14/05/2019,
mediante ofícios encaminhados ao Banco do Brasil S/A., também com autenticidade reconhecida em
Cartório (doc. 64).

Também apreende-se que os ex-cônjuges, conjuntamente e na qualidade de vendedores, firmaram


'Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Terreno' no dia 26/05/2017, devidamente registrado
no Cartório do 2º Ofício de Notas (doc. 59).
Ainda, o Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais - IPSEMG promoveu
'Relatório de Visita Domiciliar' no dia 27/11/2019, com a finalidade de apurar a convivência marital do
de cujus e A.F.M., e concluiu (nomes suprimidos em razão do segredo de justiça adstrito aos autos, nos
termos do art. 189, inciso II, do CPC):

"Dirigimo-nos ao endereço citado acima, local constante na certidão de óbito como sendo da residência
do ex-segurado e da atual pensionista, Sra. A.F.M.

Por se tratar de um prédio, fomos atendidas pela Sra. S., funcionária de portaria.

Perguntamos se conhecia o Sr. L.A. e se o mesmo residia neste endereço. Prontamente nos informou que
o conhecia, mas que havia falecido recentemente. Em seguida nos relatou que o Sr. L.A. residira no
apartamento 202 com a esposa e com uma filha.

(...)

Mediante a visita domiciliar realizado no endereço citado acima, pudemos comprovar que a Sra. A.F.M.,
residia no mesmo endereço que o ex-segurado." (doc. 75, sem grifos no original).

E, por derradeiro, apreende-se dos autos que os ex-cônjuges mantinham conversas diárias de
companheirismo, via WhatsApp (doc. 60) e conviviam em momentos de lazer (doc. 71).

Sob essa perspectiva, os documentos colacionados aos autos não atestam a existência de união estável e
remetem à tese de namoro qualificado, haja vista a ausência de prova suficiente do caráter estável do
relacionamento e, principalmente, da intenção de constituir família.

Evidencia-se da prova carreada aos autos que o núcleo familiar resguardado pelo de cujus diz respeito
àquele constituído com a ex-cônjuge, tanto assim o é que, ao adoecer, optou por tratar-se em
Divinópolis/MG, perto da família, local em que faleceu.

A propósito, o Em. Ministro MARCO AURÉLIO BELIZZE, no julgamento do REsp nº 1.454.643/RJ


, assegura que a união estável deve ser reconhecida nos casos em que a constituição de uma família
restou comprovada, e, na acepção jurídica da família, deve haver "o compartilhamento de vidas e de
esforços, com integral e irrestrito apoio moral e material entre os conviventes". E remata:

"A só projeção da formação de uma família, os relatos das expectativas da vida no exterior com o
namorado, a coabitação, ocasionada, ressalta-se, pela contingência e interesses particulares de cada qual,
tal como esboçado pelas instâncias ordinárias, afiguram-se insuficientes à verificação da affectio
maritalis e, por conseguinte, da configuração da união estável." ( REsp nº 1.454.643/RJ, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/03/2015, DJe 10/03/2015).

Sobre a matéria já decidiu este Eg. Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em casos análogos:

DIREITO DE FAMÍLIA - DIREITO PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO - AÇÃO DECLARATÓRIA


DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM PARTILHA
DE BENS - CONVIVÊNCIA PÚBLICA, CONTÍNUA E DURADOURA - OBJETIVO DE
CONSTITUIR FAMÍLIA
- AUSÊNCIA DE PROVA - RECURSO DESPROVIDO.

- Não há como reconhecer a existência de união estável, quando ausente prova inequívoca de que o casal
tenha mantido convivência pública, contínua e duradoura, como se casados fossem, e com o objetivo de
constituir família, e não simples namoro. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.21.222781-3/001, Relator (a):
Des.(a) Moreira Diniz, 4ª Câmara Cível Especializada, julgamento em 23/06/2022, publicação da sumula
em 24/ 06/ 2022). Sem grifos no original.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE RECONHECIMENTO E


DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C PARTILHA DE BENS - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA -
HIPOSSUFICIÊNCIA COMPROVADA - CONCESSÃO DO BENEFÍCIO - PRELIMINAR DE
INTEMPESTIVIDADE - NAMORO QUALIFICADO - DESCARACTERIZADO - ANIMUS DE
CONSTITUIÇÃO FAMILIAR - REQUISITOS PRESENTES - UNIÃO ESTÁVEL -
CONFIGURAÇÃO - PARTILHA DE BENS -COMUNHÃO PARCIAL DE BENS.

- Há presunção juris tantum da declaração de hipossuficiência para fins de concessão da assistência


judiciária (Incidente de Uniformização n.º 1.0024.08.093413-6/002, TJMG).

- A união estável exige a convivência duradoura, pública e contínua, acrescida do objetivo de constituição
familiar que a difere do namoro propriamente dito.

- Comprovada a dedicação mútua entre os conviventes e presentes os indícios de entidade familiar, há


união estável - art. 226, § 3º, CR/88 e 1.723, CC/02.

- É absoluta a presunção de comunicabilidade de bens para os regimes que a preveem, como o regime da
comunhão parcial de bens, portanto, inócua a prova de qual dos consortes dispendeu esforços financeiros
para adquiri-los.

- Na união estável aplica-se a comunicabilidade do regime da comunhão parcial - art. 1725, CC/02.
(TJMG - Apelação Cível 1.0112.16.007915-1/003, Relator (a): Des.(a) Alice Birchal, 7ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 28/05/2021, publicação da sumula em 02/ 06/ 2021). Sem grifos no original.

À conta de tais fundamentos, NEGO PROVIMENTO à Apelação Cível, mantendo a r. sentença.

Custas pela apelante. Suspensa a exigibilidade do pagamento, eis que litiga sob o pálio da assistência
judiciária.

Deixo de majorar os honorários advocatícios como disposto no art. 85, § 11, do CPC, pois arbitrados no
percentual máximo previsto em seu § 2º.

É como voto.

DES. KILDARE CARVALHO - De acordo com o (a) Relator (a).


DES. MOREIRA DINIZ - De acordo com o (a) Relator (a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO CÍVEL."

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