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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAMÍLIA DA

COMARCA DE SÃO MATEUS/ES.

LELIA PAIVA SILVA, brasileira, casada, do lar, portadora da Carteira de Identidade n.º
1356028586 SSP/BA e CPF n.º 978.873.317-49, residente na Avenida Cricaré, 377,
Cacique, São Mateus/ES, CEP 29.932-210, telefone (27) 99978-1163, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência, por seus advogados abaixo assinado,
conforme procuração em anexo, propor a presente
AÇÃO DECLARATÓRIA DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL E DISSOLUÇÃO
C/C PARTILHA DE BENS E FIXAÇÃO DE ALIMENTOS
em face de ELISMAR JANES SOARES, brasileiro, solteiro, residente na rua Gonçalves
Dias, 07, Ayrton Sena, São Mateus/ES, CEP 29.943-170, telefone (27) 99509-2271,
com fundamento no artigo 226, § 3º da Constituição Federal, bem como nos artigos
1.723 e seguintes do Código Civil, Leis 8.971/94 e 9.278/96, pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos:

DOS FATOS
A Requerente em dezembro de 1999, logo após findar seu vínculo conjugal,
conheceu e manteve relacionamento com o Requerido até novembro de 2016.
À época dos fatos, o Requerido não possuía residência própria, ocasião que residia
com seus genitores e dormia durante a semana na residência da Requerente,
ajudando na subsistência e o pagamento de contas de água, luz, etc.
Durante a convivência pública, a qual não era clandestina, o casal era
costumeiramente visto juntos frequentando os mesmos lugares, dando
demonstrações de afeto, morando na mesma casa, etc., configurando assim, a união
estável, relação afetiva entre duas pessoas, de caráter duradouro, público e com o
objetivo de constituir família.
O vínculo fático existente entre as partes era um vínculo de natureza matrimonial,
pois conviviam como marido e mulher, com os mesmos direitos e deveres relativos
ao matrimônio, sendo sua união pública e notória, sendo conhecida de todos os
seus familiares, vizinhos e demais cidadãos da região.
Desta relação, o casal não contraiu filhos, contudo, a Requerente contraiu filhos no
seu primeiro relacionamento, os quais mantinham ótima relação com o Requerido.
Durante o vínculo a Requerente sempre prestou assistência ao Requerido, inclusive,
por inúmeras vezes, encontrava o mesmo com sinais de embriaguez elevada nos
bares da região, ocasião que o levava para o seu lar para que pudesse se recuperar,
dando banho, alimento, comida e roupas limpas.
A relação também era conhecida pelos colegas de trabalho do Requerido, uma vez
que a Requerente tinha o costume de preparar e levar marmitas ao seu local de
trabalho.
Cumpre mencionar que durante o período de relação conjugal das partes, o
Requerido também mantinha outro relacionamento amoroso. Como dito antes, o
Requerido residia com os pais e frequentava a casa da Requerente, ocasião que
conheceu e começou a se envolver a pessoa de nome Joelma Wan Der Murren
Assis, que à época morava com seus pais.
Todavia, motivada pela gravidez, Joelma se viu obrigada a sair da casa de seus pais,
ocasião que o Requerido alugou imóvel para que esta pudesse morar. Desta
relação, o Requerido foi pai de 02 (duas) filhas.
Digno de consideração, que a Requerente e Joelma tinham conhecimento de todas
a relações do Requerido, e ambas não apresentavam nenhum tipo de animosidade.
Joelma também tinha conhecimento que o Requerido tinha o costume de se
embriagar, todavia, nunca prestou auxílio. Como dito antes, nestas ocasiões, a
Requerente que prestava socorro ao Requerido, que após se recuperar, ia ao
encontro de Joelma.
O Requerido, em data que a Requerente não pode precisar, realizou a contratação
de financiamento habitacional e adquiriu imóvel no bairro Ayrton Senna, local onde
convive atualmente com Joelma.
No fim no ano passado, entre os meses de outubro e novembro de 2016, o
Requerido também adquiriu outro imóvel localizado na rua da Liberdade, no bairro
Sernamby, onde atualmente funciona o Centro de Educação Infantil Gente Pequena,
o qual é administrado pelo Requerido e Joelma.
Por fim, insta mencionar que atualmente a Requerente encontra-se impedida de
trabalhar, uma vez que sofreu queda no seu local de trabalho, ocasião que teve sua
perna esquerda fraturada, razão pela qual lhe foi concedido auxílio doença. Todavia,
o mesmo foi cessado, haja vista que a perícia médica não constatou sua
incapacidade para o trabalho. Tais fatos são de conhecimento do Requerido.
Sendo assim, a Requerente invoca a prestação jurisdicional, com o escopo de ver
reconhecida e dissolvida a União Estável com o Requerido cumulado com partilha
de bens.
DO DIREITO
DA CONVIVÊNCIA PÚBLICA, CONTÍNUA, DURADORA E ESTABELECIDA COM O OBJETIVO DE
CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA CONFIGURANDO A UNIÃO ESTÁVEL

A Constituição Federal reconhece no artigo 226, § 3º, a união estável entre homem
e mulher como entidade familiar, o que foi ratificado pelo artigo 1.723 do Código
Civil que, inclusive, declina como requisitos para seu reconhecimento a convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de
família, estando estes presentes no caso em tela, como se vê:
Art. 1.723.  É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
Art. 226.  A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
(...)
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar
sua conversão em casamento.

Portanto, demonstrado o relacionamento público do casal por 17 (dezessete) anos


ininterruptos, de forma contínua e duradoura, configurando união estável, que é
tutelada tanto pelo artigo 226, § 3º, da Constituição Federal, quanto pelo artigo
1.723 e seguintes do Código Civil, devendo esta ser reconhecida por este juízo,
aplicando-se a citada legislação e precedentes de nossos Tribunais, conforme abaixo
elencados:
AÇÃO DECLARATÓRIA - RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL -
IMPEDIMENTO - AUSÊNCIA - REQUISITOS - COMPROVAÇÃO. - Em que
pese a que o convivente fosse oficialmente casado com outra mulher,
havendo prova de que se encontravam separados de fato, afigura-se
possível o reconhecimento da união estável havida entre a autora e o
falecido, na forma do artigo 1.723, parágrafo 1º, do Código Civil. -
Comprovando a autora os requisitos para a configuração da união
estável, quais sejam, convivência duradoura, pública e contínua,
estabelecida com objetivo de constituição de família, o pedido da ação
declaratória de reconhecimento de união estável deve ser julgado
procedente. Súmula: NEGARAM PROVIMENTO.  Número do processo:
1.0024.05.691386-6/001(1) Relator: EDUARDO ANDRADE. Data do
Julgamento: 27/01/2009. Data da Publicação: 06/02/2009.

União Estável - Reconhecimento - provas da existência - separação de


fato - ausência de impedimento - art. 1.723, § 1º do CC - possibilidade. -
A união estável deve ser reconhecida se a requerente comprova nos autos
o preenchimento de todos os requisitos para sua configuração, entre eles:
convivência, ausência de formalismo, diversidade de sexos, unicidade de
vínculo, estabilidade, continuidade, publicidade, objetivo de constituição
de família e inexistência de impedimentos matrimoniais. - A separação de
fato não impede a caracterização da união estável, segundo a regra do
art. 1723, § 1º, do CC, pois o casamento e as relações estáveis não se
respaldam no registro cartorial, mas sim no afeto e no intuito de constituir
família. Súmula: NEGARAM PROVIMENTO. Número do processo:
1.0024.06.222204-7/001(1).

DOS DOCUMENTOS QUE COMPROVAM A UNIÃO ESTÁVEL DOS CONVIVENTES


A união estável dos Conviventes tem como prova as fotos que demonstram a
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.

DOS BENS ADQUIRIDOS NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL


Durante a relação, o Requerido adquiriu 03 (três) veículos, sendo que o último fora
negociado a fim de se adquirir o imóvel onde atualmente funciona o Centro de
Educação Infantil Gente Pequena.
O Requerido também adquiriu, por intermédio de financiamento, o imóvel
localizado na rua Gonçalves Dias, 07, Ayrton Sena, São Mateus/ES, CEP 29.943-170,
onde reside com a Sra. Joelma.
O artigo 1.725 do Código Civil prescreve que na união estável, salvo contrato escrito
entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime
da comunhão parcial de bens. Também o art. 5º da Lei 9.278/96 considera os bens
adquiridos por um ou por ambos os Conviventes, na constância da união estável e a
título oneroso, são considerados fruto do trabalho e da cooperação comum,
passando a pertencer a ambos em partes iguais, conforme disciplinado:
Art. 1.725.  Na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o
regime da comunhão parcial de bens.
Art. 5º Os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os
conviventes, na constância da união estável e a título oneroso, são
consideradas fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a
pertencer a ambos, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação
contrária em contrato escrito.

Assim, os bens acima individualizados devem ser partilhados pelos Conviventes na


proporção de 50% para cada um deles. Este é o entendimento da jurisprudência a
seguir:
APELAÇÃO CÍVEL - RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL - REGIME
DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS - IMÓVEL ADQUIRIDO DURANTE A
UNIÃO - DIREITO À PARTILHA - MEAÇÃO DO IMÓVEL OBJETO DA LIDE.
A prova constante dos autos, embora não seja clara, indica que a união
estável ocorreu de 1988 a 2002 e que o bem objeto da lide foi adquirido
em 1994, ou seja, durante a constância da convivência, o que dá ensejo à
meação. Recurso provido, em parte. (Apelação Cível nº 2455627-
97.2008.8.13.0024, 4ª Câmara Cível do TJMG, Rel. Heloisa Combat. j.
19.08.2010, unânime, Publ. 30.09.2010).
APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA. BENS ADQUIRIDOS
ONEROSAMENTE. Os bens adquiridos a título oneroso, na constância da
união estável, pertencem a ambos os companheiros, em partes iguais,
salvo estipulação em contrário por escrito. A discussão sobre a validade
de negócio jurídico concluído pelos companheiros, em vista do teor do
art. 5º, da Lei 9.278/96, e a extensão da divisão de bens somente pode ser
realizada mediante ação própria. Recurso conhecido, mas não provido.
(Apelação Cível nº 2503387-76.2008.8.13.0433, 3ª Câmara Cível do TJMG,
Rel. Albergaria Costa. j. 26.08.2010, unânime, Publ. 16.09.2010).

DA NECESSIDADE DE FIXAÇÃO DE ALIMENTOS


Conforme se relata, o Requerido possui imóveis neste Município, inclusive é
proprietário de creche escolar, evidenciando que este tem condições de suportar a
manutenção da Requerente, que se encontrar impedida de trabalhar.
Assim, está preenchido o requisito binômio NECESSIDADE/POSSIBILIDADE, exigidos
pelo artigo 1.694, § 1º, do Código Civil – que autoriza a concessão/fixação de
alimentos para a Autora, que não tem recursos necessários à sua manutenção.
Art. 1.694.  Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns
aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.
§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

Desta forma, restaram demonstrados os requisitos autorizadores da concessão dos


alimentos, como se tem decidido:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. ALIMENTOS PROVISIONAIS. INDÍCIOS
DA EXISTÊNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL E DA NECESSIDADE DA
COMPANHEIRA. AUSÊNCIA DE PROVA EM CONTRÁRIO. FIXAÇÃO. I -
Havendo prova indiciária da existência da união estável, bem como da
dependência econômica da virago, impõe-se a fixação de alimentos
provisionais em seu favor, em valor suficiente para atendimento de suas
necessidades básicas e na medida das possibilidades do alimentante, dada
a realidade das partes evidenciada nesta fase embrionária da ação.
Súmula: DERAM PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO. Numeração
Única: 0108823-85.2010.8.13.0000. Relator: Des.(a) FERNANDO
BOTELHO. Data do Julgamento: 28/10/2010. Data da Publicação:
01/12/2010.

DOS PEDIDOS
Diante do exposto, a Requerente requer a Vossa Excelência:
 A citação do Requerido para que venha se defender, apresentando, se
quiser, contestação no prazo legal, sob pena de revelia e confissão;
 Seja deferida a assistência judiciária, nos termos do art. 4º da Lei 1.060/50;
 Seja julgando procedente o pedido para declarar a união estável vivida pelas
partes no período de dezembro de 1999 a novembro de 2016, bem como
sua dissolução a partir de dezembro de 2017;
 Seja julgado procedente o pedido para fixar alimentos em prol da
Requerente no valor de 01 (um) salário mínimo a ser pago pelo Requerido;
 Seja julgado procedente o pedido de partilha dos bens adquiridos na
constância da união estável na proporção de 50% para cada um dos
Conviventes, conforme relação acima, bem como outros que forem
descobertos durante o processo, além de numerários existentes em conta
corrente, poupança ou outros investimentos ou cotas em empresas, inclusive
os doados ou vendidos;
 Na impossibilidade do pedido acima, em face da inexistência de bens, se
porventura já vendidos ou doados, como pedido sucessivo, seja a
Requerente indenizada no valor correspondente a 50% dos bens adquiridos
durante a convivência comum denunciada, tudo a ser apurado no curso
desta ação, através das provas abaixo requeridas;
 A Requerente manifesta o seu interesse na realização de audiência de
conciliação ou de mediação, a ser designada conforme dispõe o artigo 334
do CPC;
 Seja intimado o Ministério Público para todos os atos e termos do processo;
 Seja o Requerido condenado no pagamento das custas e honorários
advocatícios a serem arbitrados por Vossa Excelência;
 Seja requisitado a Receita Federal do Brasil as Declarações de Imposto de
Renda do requerido dos 3 últimos anos do Requerido, bem como ao Banco
Central do Brasil, a fim de que preste informações acerca do domicílio
bancário do requerido, saldo bancário e aplicações financeiras de sua
titularidade;
 Seja requisitado ao DETRAN/ES, para que presente informações sobre a
existência de veículos em nome do Requerido;
 A nomeação de perito avaliador para que proceda a avaliação judicial dos
imóveis objetos da partilha;
 A Requerente protesta provar o alegado por todos os meios de prova em
direito admitidos, na amplitude dos artigos 369 e seguintes do CPC;
Dá-se à causa o valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) para efeito meramente
fiscal.
Termos que pede e espera deferimento.
São Mateus/ES, 02 de maio de 2017.

WALACE XAVIER DA SILVA JOSE MIRANDOLA


OAB/ES 20.935 OAB/ES 5.532

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