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Pós-Graduação em Direito Civil Constitucional da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - 1

UERJ. 2021.1 Disciplina Família e Sucessões II. Tópico: casamento e união estável. Prof.a Ana
Carla Harmatiuk Matos e Isabella Castro.

HISTÓRICO DA UNIÃO ESTÁVEL

• Direito romano: era comum, sendo um “casamento inferior”, cum (com) e cubare
(dormir), ou seja, “dormir com”. Em princípio, o termo concubinato referia-se a união
estável.
• Apesar de combatida pela Igreja Católica, penetrou na legislação civil, como nas
Ordenações Filipinas, que admitiam direitos em favor da mulher, quando a ligação fosse
prolongada.
• Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (Brasil na Colônia e no Império):
proibiam, pena de prisão e multa.
• Exceção: direito de os senhores viverem amancebados com suas escravas; somente
consideravam concubinato se o homem abrigasse em sua casa alguma mulher que ali
engravidasse, não fosse sua esposa, e que fosse livre. Estabelecendo um tipo de
concubinato e negando o outro, fundado na escravidão.
• Influência da Igreja: sacralidade e indissolubilidade do matrimonio. Casamento era única
entidade familiar reconhecida. Somente 1977 ingresso do divórcio. Ausência de divórcio:
crescimento do dito “concubinato”.
• Jurisprudência brasileira: tangenciando os óbices legais e a pressão da realidade social,
construí soluções alternativas. 1962
“A principal vítima foi a mulher, estigmatizada como concubina, tendo em vista a cultura patriarcal
que impedia ou inibia seu acesso ao mercado de trabalho, o que a deixava sob a dependência
econômica do homem, enquanto merecesse seu afeto. A mulher separada de fato ou solteira que
se unia a um homem, com impedimento para casar, além do estigma, era relegada ao mundo
dos sem direitos, pouco importando que derivasse de convivência estável e que perdurasse por
décadas, normalmente com filhos. Desconsideravam-se não apenas os aspectos existenciais
dessa relação familiar, como a criação dos filhos e sua dedicação ao progresso do companheiro,
mas os aspectos patrimoniais, para cuja aquisição e manutenção a companheira tinha
colaborado, assumindo as responsabilidades familiares e a estabilidade que ele necessitava para
desenvolver suas atividades”.
• Enriquecimento sem causa. Súmulas 380 e 382 do STF, ambas de 1964, com os
seguintes enunciados:
Súmula 380: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a
sua dissolução judicial com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum”.
Súmula 382: “A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à
caracterização do concubinato”.
• Indenização pelos serviços prestados: dificuldade de comprovação do esforço comum.
“Quando o direito de família dava as costas para a realidade social, apenas o direito das
obrigações poderia favorecer decisões que se aproximavam da equidade”.
• Após Lei do divórcio: “concubinato” duas espécies:
i. União livre, dita união estável, entre pessoas não impedidas de se casar, por
serem solteiras, separadas de fato, judicialmente ou divorciadas.
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ii. Concubinato em sentido estrito: uniões paralelas ao casamento. Com pelo menos
um dos envolvidos casado.
• Hoje: art. 1.727 As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de
casar, constituem concubinato.
“A união estável, inserida na Constituição de 1988, é o epílogo de lenta e tormentosa trajetória
de discriminação e desconsideração legal, com as situações existenciais enquadradas sob o
conceito depreciativo de concubinato, definido como relações imorais e ilícitas, que desafiavam
a sacralidade atribuída ao casamento”.

REQUISITOS DA UNIÃO ESTÁVEL

• CF, art. 226, § 3º + do art. 1.723 do CC + decisão do STF na ADI 4.277/2011:


Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.
1. relação afetiva entre os companheiros, de sexo diferente ou de mesmo sexo;
2. convivência pública, contínua e duradoura;
3. escopo de constituição de família;
4. divergência: possibilidade de conversão para o casamento.
• CF: “devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” e art. 1.726. “A união estável
poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e
assento no Registro Civil”. Problema de inserir a possibilidade de conversão para o
casamento como requisito: a própria lei permite a constituição de EU pelos separados
de fato, hipótese em que a conversão é impossível.
• Não há requisitos fixos. Tempo. Coabitação. Nada. Atos representativos da
solidariedade familiar.
“Acreditamos que a família não comporta formas pré-concebidas, os arranjos familiares são
infinitos, cabendo aos seus membros delinear sua feição. Logo, a averiguação da (in)ocorrência
de união estável deve buscar no próprio caso sob análise os indicativos do que, para aqueles
sujeitos, seja família; empreendendo comparação casuística de dois momentos, o anterior e o
posterior à alegada união estável”. (MATOS; CASTRO)
• Dificuldade de verificação.

NAMORO QUALIFICADO

Superior Tribunal de Justiça (Terceira Turma). Recurso Especial 1454643/RJ, Relatoria:


Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE. Julgado em 03/03/2015. Publicado em: 10/03/2015.
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Caso: Um casal morou junto durante dois anos no exterior antes de se casar. Na época,
ele viajou depois de aceitar uma proposta de trabalho enquanto ela o seguiu com a
intenção de fazer um curso de Inglês. Lá eles ficaram noivos e o rapaz comprou um
apartamento com seu próprio dinheiro. Depois se casaram com regime de comunhão
parcial de bens e em 2008 ocorreu o divórcio. A ex-mulher então ingressou com ação
na justiça solicitando o reconhecimento e a dissolução de união estável que, segundo
ela, existiu durante o período de dois anos anterior ao casamento. Com esse argumento
o apartamento adquirido por ele à época deveria ser partilhado entre ambos.
Julgamento:
Em Primeira e Segunda Instâncias, a ex-mulher saiu vitoriosa. Mas ao apreciar o recurso
interposto pelo ex-marido, o ministro Marco Aurélio Bellizze, da Terceira Turma do STJ,
entendeu que não houve união estável, “mas sim namoro qualificado, em que, em virtude
do estreitamento do relacionamento, projetaram, para o futuro, e não para o presente, o
propósito de constituir entidade familiar”.
Segundo o ministro nem mesmo o fato de ter existido a coabitação do casal foi suficiente
para evidenciar uma união estável, já que a convivência no mesmo imóvel se deu
apenas devido à conveniência de ambos em razão de seus interesses particulares à
época. Assim, a situação examinada seria um namoro qualificado, pois não estava
presente a intenção de constituir família naquele momento.
Com isso, o ministro esclareceu a questão ao afirmar que, para que estivesse constituída
a união estável era preciso que a formação do núcleo familiar “com compartilhamento
de vidas e com irrestrito apoio moral e material” estivesse concretizada e não apenas
planejada.
TJSP, Apelação Cível 1015043-04.2017.8.26.0506; Data de Registro: 26/11/2019.
Caso e julgamento: não obstante houvesse a alegação de uma das partes de que o
relacionamento seria um namoro, foi reconhecida a união estável, pois, dentre outros
fundamentos, o casal havia tentado a inseminação artificial em mais de uma
oportunidade. Essa evidência demonstra uma contradição ao requisito inerente ao
namoro, qual seja, a ausência de intenção de constituir família.

CONTRATO DE NAMORO?

• Definição: instrumento por meio do qual as partes declaram a ausência de intenção em


constituir família.
• Problema: natureza jurídica da União Estável. Se considerada ato fato jurídico a
manifestação de vontade das partes não é apta a afastar sua configuração se
preenchidos seus requisitos. Para quem pensa assim seria apenas possível uma
declaração mútua de UE, com caráter probatório. *Neste sentido: a escritura pública é
expressamente declarativa de EU. Por outro lado, se considerada ato jurídico, poder-se-
ia admitir o contrato de namoro, como propõe Marília Pedroso Xavier. Ainda assim é
controvertido, Marcos Bernardes, quem também atribui natureza de ato fato a UE,
defendeu sua nulidade em função de contrariedade a lei.
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UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO

• Estruturas distintas para mesma função: família.


Celebra-se hoje uma pluralidade de modelos familiares, semelhantes por estarem alicerceados
no afeto e desempenharem papel fundamental de locus privilegiado destinado ao
desenvolvimento das potencialidades de seus integrantes. Essa evolução decorre da percepção
de que a família não é fato jurídico derivado da incidência de preceito normativo fechado que, na
tentativa de conceituá-la, limita-a; é, ao revés, fato social merecedor de tutela por sua função
promocional da pessoa humana.
• Família não se resume a UE e casamento:
o Famílias solidárias, famílias pluriparentais, famílias recompostas, famílias
anaparentais (Sérgio Resende de Barros).
o STJ (REsp 57.606/MG, de 1995): o imóvel onde residem as irmãs solteiras é
considerado bem de família.
• A UE foi reconhecida a partir da força constitutiva dos fatos e de esforço jurisprudencial e seguiu
como propulsora de mudanças: porta de entrada para o reconhecimento do casamento de
pessoas do mesmo sexo.
o Em 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou constitucionais as uniões entre
pessoas do mesmo sexo1, e, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou
resolução viabilizando o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo2.
o Questão: pode ser a porta de entrada para outras mudanças? Famílias paralelas,
trisais, etc.?
• Natureza jurídica: enquanto a UE trata-se de ato fato, casamento é ato jurídico formal e solene.
• CURIOSIDADES: Enquanto, em 1984, 69,26% das mulheres que se casaram tinham até 24
anos, em 2016 esse número caiu para 32,39%. Em 2003, 86,95% dos casamentos eram entre
cônjuges solteiros; em 2016, apenas 75,05%. Outro fator relevante é o crescimento do número
de núcleos residenciais unipessoais: em 1992, representavam 7,26% da população; em 2016,
11,6%3.

CASAMENTO

União de duas pessoas, reconhecida e regulamentada pelo estado, formado com o objetivo de
constituição de uma família e baseado em um vínculo de afeto (affectio maritalis).

1
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, ADI 4277, Relator Ministro Ayres Britto, Tribunal Pleno, julgado em 5.5.2011,
publicado em 14.10.2011; BRASIL, Supremo Tribunal Federal, ADPF 132, Relator Ministro Ayres Britto, Tribunal Pleno,
julgado em 5.5.2011, publicado em 14.10.2011.
2
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Resolução n. 175, de 14 de maio de 2013, aprovada durante a 169ª Sessão
Plenária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
3
IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017. IBGE, Estatísticas do Registro Civil 2003-2016.
IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1992/1999. IBGE, Estatísticas do Registro Civil 1984-2002.
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Ø Monogamia: sob pena de nulidade absoluta. Art. 1.521 do CC: Não podem casar: (...) VI
- As pessoas casadas; Art. 1.548 do CC: É nulo o casamento contraído: (...) II - Por
infringência de impedimento.
Ø Liberdade de Escolha: pode se escolher com quem vai casar, existindo restrições, como
nos impedimentos matrimoniais.
Ø Comunhão Plena de Vida: baseada na igualdade entre os cônjuges. Art. 1.511 do CC:
"O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos
e deveres dos cônjuges" → atinge o companheiro.

ESPÉCIES DE CASAMENTO

CIVIL
• Habilitação (eficácia de 90 dias)
• Dia, hora e local designado, portas abertas.
• Regra, 2 testemunhas; 4, se for em edifício particular ou se um dos
contraentes não puder/souber escrever.

RELIGIOSO
• Atender às exigências para a validade do casamento civil
• Deve ser registrado
• Efeitos a partir de sua celebração.
• Celebrado habilitação prévia: 90 dias após a celebração.
• Sem as formalidades: a requerimento do casal mediante prévia
habilitação.
• Nulidade do registro civil em caso de casamento civil anterior.

MOLÉSTIA GRAVE
• Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o
presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo
urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e
escrever.

NUNCUPATIVO
• Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de
vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o
ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na
presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham
parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau.
• Posterior comparecimento das testemunhas perante autoridade judicial
dentro de dez dias.
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CONSULAR
• Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os
direitos de família.
• § 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante
autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os
nubentes.

POR PROCURAÇÃO
• Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por
instrumento público, com poderes especiais.
• A eficácia da revogação do mandato não é receptícia.
• O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se
representar no casamento nuncupativo.
• A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias.

CASAMENTO ÀS CEGAS: REAL OU FAKE?

No reality show da Netflix, os participantes escolhem seus parceiros às cegas, após convivência
sem contato visual. Os casais formados saem da primeira etapa noivos, com casamento marcado
para dali 30 dias. Na segunda etapa, se encontram pessoalmente, passam por lua de mel e "teste
de convivência" para, então, escolherem entre o "sim" ou o "não" no altar. A questão que se
impõe é: o casamento celebrado tem efeito jurídico?

Necessidade de habilitação prévia

Descumprimento de solenidades

Seriedade na manifestação

Escolha do regime de bens

x A habilitação é procedimento formal burocrático que dificilmente é concluído em menos de


30 dias, exigindo-se, inclusive, publicação de editais.
x O casamento tem efeitos patrimoniais, envolvendo a escolha de um regime de bens. Ao
decidir entre o "sim" ou o "não" no último momento, como ocorre no programa, o casal fica
impedido de discutir sobre este aspecto, que exige conversa prévia.
x A cerimônia é solene e, entre outras coisas, o presidente do ato deverá pronunciar: "De
acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por
marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados."
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x A lei busca proteger a liberdade dos nubentes. Por isso, caso algum deles se manifeste
arrependido, a cerimônia deve ser imediatamente suspensa e não poderá ocorrer no mesmo
dia. O que não condiz com as brincadeirinhas próprias ao reality.
Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes:
I - recusar a solene afirmação da sua vontade;
II - declarar que esta não é livre e espontânea;
III - manifestar-se arrependido.
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à
suspensão do ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia.

CAPACIDADE PARA CASAR

• Capacidade: aptidão genérica (em abstrato) para prática de determinado ato.


• Capacidade para casamento: se dá com a idade núbil, que, conforme o art. 1.520, é aos 16
anos, independentemente do gênero.
• Art. 1.550, § 2o (Incluído pelo EPD): A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade
núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu
responsável ou curador.

s LEI 13.811/2019 É O FIM DO CASAMENTO INFANTIL ?

Texto anterior: Texto atual:


Art. 1.520. Excepcionalmente, será Art. 1.520. Não será permitido, em
permitido o casamento de quem ainda não qualquer caso, o casamento de quem não
alcançou a idade núbil (art. 1.517), para atingiu a idade núbil, observado o disposto
evitar imposição ou cumprimento de pena no art. 1.517 deste Código.
criminal ou em caso de gravidez.

Histórico legislativo anterior4:

Afastou a extinção da Art. 217-A CP: estupro As penas previstas


Lei 11.106/05

Lei 12.015/09

Lei 13.718/18

punibilidade nos casos do de vulnerável. aplicam-se


então estupro presumido. Ação pública independentemente do
Ação privada. incondicionada. consentimento da vítima
ou do fato de ela ter
Enunciado n. 138 do CJF. mantido relações sexuais
anteriormente ao crime.

à Logo: a exceções do antigo art. 1.520 só valiam para os menores entre 14 e 16 anos.
à Atualmente: impossibilidade absoluta do casamento infantil.

s Entretanto, somente o art.1.520 foi alterado. Outros artigos, como o art. 1.550, estão em
vigência. Diante disso, seria o casamento infantil nulo ou anulável?

4
Enunciado n. 138 do CJF aprovado na I Jornada de Direito Civil: “A vontade dos absolutamente incapazes, na
hipótese do inc. I do art. 3º, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes,
desde que demonstrem discernimento bastante para tanto”.
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Art. 1.550 do CC: "É anulável o casamento: I - De quem não completou a idade mínima
para casar"

IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS

• Impedimentos: aptidão específica (à luz da relação em concreto), legitimação.


• É um rol taxativo de hipóteses que envolvem ordem pública: “não podem casar”. Nulidade.
Arguida por qualquer pessoa e MP.
• Aplica-se à união estável.

HIPÓTESES:

1. Colaterais até o terceiro grau: impedimento decorrente de parentesco consanguíneo.


Exemplo: irmãos, tios e sobrinhos. Continua, entretanto, tendo aplicação o Decreto-Lei n.
3.200/1941 que autoriza esse casamento se uma junta médica atestar que não risco à
prole. Os primos são parentes colaterais de quarto grau, podendo se casar livremente5.
2. Afins em linha reta6. Exemplo: sogro/sogra em relação a genro/nora; padrasto/madrasta
em relação a enteado/enteada.
3. Impedimentos decorrentes da adoção.
4. As pessoas casadas. Princípio da monogamia.
5. O cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio
contra o seu consorte: exige condenação com trânsito em julgado de sentença penal,
devendo ser prévia. Aplicação reduzida na prática. Impedimento matrimonial decorrente de
crime específico.

CAUSAS SUSPENSIVAS DO CASAMENTO

• Causas suspensivas do casamento: recomendação de ordem privada (“não devem casar”)


a fim de se evitar confusão patrimonial direta ou indiretamente.
• Não gera nulidade absoluta ou relativa do casamento.
• Impõe sanções patrimoniais: obrigatoriedade do regime da separação legal de bens.

HIPÓTESES:

1. Viúvo/viúva que tiver filho do casamento anterior, enquanto não fizer inventário dos bens
do casal, com a respectiva partilha.

5
I Jornada de Direito Civil - Enunciado 98: "O inc. IV do art. 1.521 do novo Código Civil deve ser interpretado à luz do
Decreto-lei n. 3.200/41, no que se refere à possibilidade de casamento entre colaterais de 3º grau“.
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Art. 1.595 do CC: § 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.
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2. Viúva ou mulher cujo casamento se desfez por ser nulo/anulável até 10 meses depois do
começo da viuvez ou da dissolução da sociedade conjugal. Evitar dúvidas quanto à origem
da prole (turbatio ou confusio sanguinis).
3. O divorciado enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do
casamento anterior.
4. Tutor/tutelado, curador/curatelado enquanto vigente a tutela/curatela ou não estiverem
saldadas as respectivas contas. Os parentes do tutor/curador também estão incluídos, por
questão moral e patrimonial.

• Possibilidade de alteração posterior do regime de bens.


• Provando-se a ausência de prejuízo, afastam-se as causas suspensivas.
• Outra sanção: Hipoteca legal em favor dos filhos sobre os imóveis. Art. 1.489 do CC: A lei
confere hipoteca: (...) II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras
núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior;

INVALIDADE DO CASAMENTO

• Nulidade: art. 1.548 - impedimento


• Anulabilidade: art. 1.550.

HIPÓTESES DE ANULABILIDADE:

Art. 1.550. É anulável o casamento:


I - de quem não completou a idade mínima para casar;
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do
mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.

• Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada (hipótese


incluída pelo EPD).

CASAMENTO PUTATIVO:

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o
casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença
anulatória.
§ 1 o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele
e aos filhos aproveitarão.
§ 2 o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só
aos filhos aproveitarão.
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CASAMENTO E NOVAS TECNOLOGIAS

RECOMENDAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: PEREIRA, Rodrigo da Cunha; DIAS, Berenice (Org.)


SANCHES, Patrícia (Coord.). Direito das Famílias e Sucessões na era digital. 1ed. Belo
Horizonte: IBDFAM, 2021.

PACTO ANTENUPCIAL

• Instrumento pensado, em princípio, ao planejamento patrimonial do casamento, por meio do


qual é facultado aos nubentes a escolha do regime de bens.
• Regime supletivo: comunhão parcial

QUANDO: processo de habilitação.

FORMA: escritura pública, sob pena de nulidade.

EFICÁCIA: condicionada à celebração do casamento, validade do casamento


(acessoriedade), registro pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

FIM DA EFICÁCIA: dissolução do casamento por morte ou divórcio.

CONTRATO DE CONVIVÊNCIA:

Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações
patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.

• Independe de escritura e registro.

PACTO ANTENUPCIAL CELEBRADO POR ADOLESCENTE COM IDADE NÚBIL:

Art. 1.654. A eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica condicionada à aprovação de
seu representante legal, salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens.

1) Eficácia ou validade?
Farias e Rosenvald: assistência necessária para celebração de pacto
antenupcial válido.
2) Casos vedados: separação obrigatória.
Antes da Lei nº 13.811, de 2019: menores de 16 cujo casamento dependia de
suprimento judicial.
Hoje: menores entre 16 e 18 que obtiveram suprimento judicial de consentimento
porque os pais eram mortos ou ausentes ou porque os pais não anuíram com o
matrimônio.
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EMPRESARIO:

Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas
Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou
legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade.

• Empresários devem registrar na Junta Comercial o pacto antenupcial.

POSSIBILIDADE DE DISPENSA DE OUTORGA NO REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL


DOS AQUESTOS E NOS OUTROS REGIMES?

Art. 1.656. No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos aqüestos, poder-se-
á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares.

Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens,
o que lhes aprouver.

• Sendo facultado aos nubentes convencionarem outros regimes, seria possível


dispensarem, mediante pacto, a outorga em outros regimes?

CONTEÚDO EXISTENCIAL NO PACTO ANTENUPCIAL?

“O pacto antenupcial tem sido o instrumento que melhor exterioriza a feição de negócio jurídico do
casamento, tendo em vista que, ante a cláusula geral de comunhão plena de vida garante aos
nubentes (...) a arquitetura que efetivamente lhes realizem como pessoas no âmbito da
entidade familiar, por meio da construção do projeto familiar que satisfaça seus anseios, tanto
na órbita patrimonial quanto na existencial”. (MATOS; TEIXEIRA).

• Possíveis conteúdos (controvertido): convivência, alimentos indenizatórios, dispensa da


súmula 377, pacto antenupcial com efeito sucessório, etc.
• Para Matos e Teixeira: “no âmbito do art. 1.655 do Código Civil, entende-se disponíveis
os deveres de fidelidade e coabitação e indisponíveis os de mútua assistência, respeito e
consideração mútuos, guarda sustento e educação dos filhos, posto que fundados na
solidariedade familiar”.

RECOMENDAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: MATOS, Ana Carla Harmatiuk; TEIXEIRA, Ana Carolina


Brochado. Pacto antenupcial na hermenêutica civil-constitucional. In: Menezes; Cicco;
Rodrigues. (Org.). Direito Civil na Legalidade Constitucional. 1ed. Indaiatuba: Editora Foco,
2021, v. 1, p. 15-38.

DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO

RECOMENDAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: MATOS, Ana Carla Harmatiuk; CASTRO, Isabella


Silveira. Repercussões da separação de fato no direito sucessório brasileiro. In: TEIXEIRA, Ana
Carolina Brochado; NEVARES, Ana Luiza Maia. (Org.). Direito das sucessões: problemas e
tendências. 1ed. Indaiatuba: Editora Foco, 2021, p. 23-42.
1
Pós-Graduação em Direito Civil Constitucional da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. 2021.1 2
Disciplina Família e Sucessões II. Tópico: casamento e união estável. Prof.a Ana Carla Harmatiuk Matos e Prof.a
Isabella Castro.

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