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DIREITO CIVIL IX

DIREITO DE FAMÍLIA
PROFESSORA: M.A. ALINE FERNANDES MENDES
AULA: 2 – CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL
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CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL

1- ASPECTOS GERAIS

 Até o Código Civil de 1916, o legislador brasileiro ignorava a família ilegítima


mencionando-se ao concubinato apenas no propósito de proteger a família legitima,
nunca reconhecendo direitos à união de fato.

 Posição de caráter histórico e, baseada no costume, vez que à época da promulgação


deste Código a sociedade brasileira não permitia o surgimento de famílias senão através
do casamento convencional, sendo a mulher (concubina) vista de forma preconceituosa e
pejorativa no âmbito social.

 Washington de Barros Monteiro, sempre manifestou sua posição de repulsa à proteção


legislativa do concubinato.

 Constituição Federal de 1988 reconheceu a união estável como entidade familiar.

 Art. 226- § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união


estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento.

 Leis 8971/94 e 9278/96 – outorgaram direitos de alimentos e sucessórios aos


companheiros.

 Para Maria Helena Diniz é: “o casamento é a mais importante e poderosa de todas as


instituições do direito privado, por ser uma das bases da família que é a pedra angular da
sociedade”.

O CASAMENTO

1- CONCEITO

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AULA: 2 – CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL
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“Casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da
mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole
comum e se prestarem mutua assistência”. (Silvio Rodrigues).

Obs: Nota-se que o casamento é o centro do Direito de Família.

2- NATUREZA JURIDICA

2.1 – DIREITO CANONICO: Casamento é um sacramento e também um contrato natural entre


pessoas, decorrente da natureza humana. Os direitos e deveres que dele decorrem são fixados
pela natureza tornando-se indissolúveis. (“O que Deus uniu o homem não separa”).

2.2- DIREITO CIVIL- O casamento civil é uma instituição, vez que pode ser visto como um contrato
entre as partes, se amoldando à noção de negócio jurídico bilateral. Possui características de um
acordo de vontades que busca efeitos jurídicos.

3- PRINCIPIOS DO CASAMENTO

I- Livre união dos futuros cônjuges- consentimento dos próprios nubentes (capacidade
para expressa-las);
II- Monogamia- Arts. 1521,VI, 1548, II do CC.

Art. 1.521. Não podem casar: VI - as pessoas casadas;

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: II - por infringência de impedimento.

III- Comunhão indivisa de direitos e deveres (Art. 1511-CC) - criação de plena comunhão
entre os cônjuges, que pretendem passar juntos as alegrias e dissabores da vida.

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de
direitos e deveres dos cônjuges.

4- CARACTERISTICAS DO CASAMENTO

 Solenidade- ao lado do testamento é o ato mais solene do Direito Civil.

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 Imperatividade das normas de Direito Publico;
 Pessoalidade- só cabe aos nubentes manifestarem sua vontade.
** Casamento por procuração.
 Liberdade de escolha do nubente, sob pena de vício de consentimento o que gera a
nulidade do ato.
 União permanente: Não é celebrado por tempo determinado;
 União exclusiva- A fidelidade conjugal é exigida por lei – Art. 1566, I do CC.

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca;

 Negócio puro e simples.


 Não se admite termo ou condição.
 Para o Direito Brasileiro é negocio eminentemente civil.
 Possibilidade de casamento homoafetivo.

5- FINALIDADES DO CASAMENTO:

I- Instituição da família matrimonial;


II- Procriação dos filhos- é uma conseqüência lógico-natural e NÃO essencial do
matrimonio vez que a lei permite a união de pessoas que não podem ou não querem
ter filhos;
III- A legalização das relações sexuais entre os cônjuges- satisfação dos desejos sexuais.
A aproximação dos sexos e o convívio natural entre marido e mulher desenvolvem
sentimentos afetivos recíprocos;
IV- A prestação do auxilio mútuo
V- O estabelecimento de deveres – patrimoniais ou não - que seriam de fidelidade,
respeito e consideração mútuos (Art. 1566, I e V do CC)- entre os cônjuges, como
conseqüência necessária do auxílio mútuo e recíproco.
VI- Educação da prole- dever de criar e educar os filhos, impondo aos pais o dever de
lhes prestar assistência. (Art 1634 CC e Art 22 da Lei 8069/90);
VII- A atribuição do nome do cônjuge e aos filhos- Possibilidade de um cônjuge passar a
assinar o sobrenome do outro (Art 1565, § 1º CC)

6- ESPONSAIS – PROMESSAS DE CASAMENTO

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 Entendido como noivado.
 O negócio jurídico do casamento somente é concluído com sua celebração, antes há
apenas expectativa de direito.
 Não é regulado claramente pelo Direito de Família – Possibilidade de Reparação de Danos
Morais.
 Necessidade de comprovação do dano bem como do nexo causal.

7- CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO.

 Possibilidade de casamentos entre pessoas de religiões diversas.


 Ruptura entre o Estado e a Igreja- Instituição do casamento civil. Decreto 181 de 24-01-
1890 (Período de Império no Brasil).
 Dificuldade de assimilação por parte do clero e da sociedade, o que gerou o costume do
casamento religioso e civil.
 Atualmente o casamento religioso tem efeitos civis, desde que os cônjuges tenham
promovido o devido processo de habilitação perante o oficial de registro civil.
 Possibilidade de habilitação posterior ao casamento religioso- Prazo 90 dias a partir da
celebração.
 Casamento religioso com efeitos civis tem eficácia a partir de sua celebração.

8- CORRETAGEM MATRIMONIAL- AGÊNCIAS DE CASAMENTO

 Assemelha-se à corretagem normal, de aproximação útil entre as partes.


 Não é regulada pelo Direito de Família, mas possui relações com o Direito das Obrigações.
 Apesar de não regulada, também não é proibida pelo Direito Brasileiro.
 Divergências doutrinárias:
1) Desfavorável: atividade é imoral
2) Favorável: utilidade social por favorecer o casamento, desde que o corretor se limite a
transferir as informações e promover o contato entre os interessados.

UNIÃO DE FATO OU UNIÃO ESTÁVEL

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1- ASPECTOS GERAIS

 Trata-se de união livre entre os cônjuges que também geram efeitos jurídicos
 Posição sintetizada na Sumula 380 do STF: “Comprovada a existência da sociedade de fato
entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial com a partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum”.

2- PRIMEIROS DIREITOS DOS COMPANHEIROS:


 Indenizações pelo falecimento do companheiro em acidente de trabalho;
 Direitos previdenciários;
 Alimentos- Lei 9871/94
 Planos de saúde;
 Adoção do nome do companheiro, após cinco anos de vida em comum ou na existência de
prole (Lei 6015/73, art 57, §§ 2º e 3º com redação dada pela Lei nº 6216/75);
 Permissão de continuidade de contrato de locação (na condição de locatário), após o
falecimento do companheiro (Lei 8245/91- Lei do Inquilinato).

3- NATUREZA JURIDICA DA UNIÃO ESTÁVEL

 Fato social ou fato jurídico, vez que se trata de fato humano que gera efeitos no
ordenamento jurídico.
o OBS: Ao contrário do casamento a união estável é vista como fato jurídico, e não
como um negócio jurídico.

4- ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA UNIÃO ESTÁVEL

* Art. 1º da Lei 9278/96- “É reconhecida como entidade familiar à convivência duradoura, pública
e contínua, de um homem e de uma mulher, estabelecida com o objetivo de constituição de
família”.

 Estabilidade: Os relacionamentos fulgazes e transitórios não podem ser considerados


como união estável e nem tampouco protegidas pelo Ordenamento Jurídico.

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 União duradoura: O decurso de tempo é extremamente importante vez que a
Constituição Federal não estipula lapsos temporais para configuração da união estável. A
questão tempo não é absoluta, mas os conviventes devem unir-se com o animus de
constituir vida em comum bem como família.
 Continuidade da relação: Trata-se de complemento da estabilidade. A união deve ser
continua, todavia, tal preceito não é absoluto vez que nem sempre a interrupção no
relacionamento afastará o conceito de união estável.
 Heterossexuais ou Homossexuais: Posicionamento STF.
 Publicidade da relação: A relação de fato que ganhará proteção é aquela em que o casal
se apresenta socialmente como marido e mulher e são vistos no âmbito social desta
mesma forma.
*** OBS: As relações clandestinas, ainda que públicas, não são consideradas uniões
estáveis, não merecendo proteção jurídica.
 Objetivo de constituição da família: Não há necessidade de prole em comum, mas a
presença do animus de constituição de uma comunhão de vida e de interesses.
*** OBS: A ausência de interesse na constituição da família, a entidade poderá ser apenas
um relacionamento afetivo entre as partes, gerando, no máximo, sociedade de fato em
relação aos bens adquiridos por esforço efetivo de ambos, mas não direitos em relação a
indenizações ou previdenciários.
 Ausência de necessidade de coabitação sobre o mesmo teto: É admitida a união estável
de pessoas que não residem sobre o mesmo teto, desde que comprovada sua solidez,
durabilidade e notoriedade.
*** Súmula 382 do STF: “a vida em comum sob o mesmo teto, more uxório, não é
indispensável à caracterização do concumbinato”.
 Unicidade de companheiro ou companheira: a pluralidade de relações pressupõe
imoralidade e instabilidade, o que contraria os demais elementos constitutivos da união
estável.
 Existência de casamento religioso: Como o Direito brasileiro só é considerado o
casamento civil, a benção religiosa define a relação com moralidade e respeito que auxilia
a tipificação da união estável.

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DIREITO COMPARADO- A EVOLUÇÃO DAS NORMAS ACERCA DA UNIÃO ESTÁVEL:

LEI No 8.971, DE 29 DE DEZEMBRO DE 1994.

Regula o direito dos companheiros a


alimentos e à sucessão.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
lei:

Art. 1º A companheira comprovada de um homem solteiro, separado judicialmente, divorciado ou


viúvo, que com ele viva há mais de cinco anos, ou dele tenha prole, poderá valer-se do disposto na Lei nº
5.478, de 25 de julho de 1968, enquanto não constituir nova união e desde que prove a necessidade.

Parágrafo único. Igual direito e nas mesmas condições é reconhecido ao companheiro de mulher
solteira, separada judicialmente, divorciada ou viúva.

Art. 2º As pessoas referidas no artigo anterior participarão da sucessão do(a) companheiro(a) nas
seguintes condições:

I - o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito enquanto não constituir nova união, ao usufruto de
quarta parte dos bens do de cujos, se houver filhos ou comuns;

II - o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito, enquanto não constituir nova união, ao usufruto da
metade dos bens do de cujos, se não houver filhos, embora sobrevivam ascendentes;

III - na falta de descendentes e de ascendentes, o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito à


totalidade da herança.

Art. 3º Quando os bens deixados pelo(a) autor(a) da herança resultarem de atividade em que haja
colaboração do(a) companheiro, terá o sobrevivente direito à metade dos bens.

Art. 4º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 29 de dezembro de 1994; 173º da Independência e 106º da República.

ITAMAR FRANCO
Alexandre de Paula Dupeyrat Martins

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Este texto não substitui o publicado no DOU de 30.12.1994

LEI Nº 9.278, DE 10 DE MAIO DE 1996.

Mensagem de veto Regula o § 3° do art. 226 da Constituição Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

Art. 1º É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um


homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família.

Art. 2° São direitos e deveres iguais dos conviventes:

I - respeito e consideração mútuos;

II - assistência moral e material recíproca;

III - guarda, sustento e educação dos filhos comuns.

Art. 3° (VETADO)

Art. 4° (VETADO)

Art. 5° Os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os conviventes, na constância da
união estável e a título oneroso, são considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a
pertencer a ambos, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação contrária em contrato escrito.

§ 1° Cessa a presunção do caput deste artigo se a aquisição patrimonial ocorrer com o produto de bens
adquiridos anteriormente ao início da união.

§ 2° A administração do patrimônio comum dos conviventes compete a ambos, salvo estipulação


contrária em contrato escrito.

Art. 6° (VETADO)

Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material prevista nesta Lei será prestada
por um dos conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos.

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Parágrafo único. Dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá
direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao
imóvel destinado à residência da família.

Art. 8° Os conviventes poderão, de comum acordo e a qualquer tempo, requerer a conversão da união
estável em casamento, por requerimento ao Oficial do Registro Civil da Circunscrição de seu domicílio.

Art. 9° Toda a matéria relativa à união estável é de competência do juízo da Vara de Família,
assegurado o segredo de justiça.

Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 11. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 10 de maio de 1996; 175º da Independência e 108º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Milton Seligman

Este texto não substitui o publicado no DOU de 13.5.1996

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