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Aluno Olivia Oliveira Guimarães


DIREITO CIVIL - FAMÍLIA CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS

CONCEITO DE FAMÍLIA

Com a Constituição Federal de 1988, surgiu um novo conceito de direito de família. Este, até
então, limitava-se à união, pelo casamento, entre o homem e a mulher.
A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado e, hoje, é oriunda não apenas
do casamento, mas também da união estável entre o homem e a mulher e da comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes (art. 226 e §§ 3º e 4º da CF). Essa última entidade
familiar é chamada família monoparental ou unilinear.
A família deve ser protegida pelo Estado (art. 226, caput, da CF). Este concretiza essa
proteção editando leis cogentes, que lhe assegurem a harmonia, organização e o bem-estar das
pessoas.
No Brasil, não prevalece a concepção segundo a qual a família é dotada de personalidade
jurídica, tanto é que o Código não a inclui no rol das pessoas jurídicas (art. 41). Ademais, não há lei
atribuindo-lhe personalidade jurídica.

Família homoafetiva: é a derivada da união de pessoas do mesmo sexo. O STF, com base no
princípio da isonomia e na proibição do preconceito, equiparou a família homoafetiva à união estável.
Isso significa que as ações devem tramitar em vara de família, reconhecendo-se aos companheiros o
direito aos alimentos, à sucessão e à meação dos bens. Uma primeira corrente, porém, nega a
possibilidade da conversão em casamento, pois a diversidade de sexo é requisito de existência do
matrimônio. Uma segunda admite, porquanto, o Código Civil não prevê a diversidade de sexos como
requisito essencial ao casamento. Prevalece a corrente que admite a conversão em casamento e
também o casamento direto entre pessoas do mesmo sexo, porquanto a Excelsa Corte estendeu à
união homoafetiva todos os direitos da união estável.

Família Paralela: é a que deriva do concubinato adulterino, também chamado de impuro,


impróprio e espúrio. Com o intuito de preservar a ordem familiar, baseada na monogamia, a lei não
atribui efeitos jurídicos a essa união, negando à concubina o direito aos alimentos e à sucessão,
reputando ainda inválida a doação e o testamento que o parceiro fez em seu favor (arts. 550, 1.642, V e
1.801, III, do CC). O tema á tratado pela jurisprudência como sociedade de fato, partilhando-se apenas
os aquestos, isto é, os bens em que participou efetivamente para a sua aquisição na medida de sua
contribuição econômica. Esporadicamente ainda há um ou outro julgado atribuindo-lhe o direito aos
alimentos. Se, no entanto, a concubina desconhecia a infidelidade do parceiro, ignorando que ele já
fosse casado ou vivesse em união estável, há uma tendência jurisprudencial em protegê-la.
Há ainda a chamada união poliafetiva, também conhecida como relação múltipla, conjunta ou
poliamor, que é a decorrente de um homem com mais de uma mulher ou uma mulher com mais de
um homem. Por se tratar de poligamia, não pode ser reconhecida como entidade familiar. À
medida que o Código Penal, no art. 235, incrimina a bigamia, que é o fato de casar-se mais de uma
vez, torna-se evidente que a monogamia deve ser uma diretriz a ser seguida para as outras
entidades familiares similares ao casamento. Este tema, entretanto, é polêmico, pois, com base no
princípio do afeto, há quem sustente que a união poliafetiva deve ser considerada também uma
entidade familiar. O CNJ proibiu a lavratura de escritura pública e o registro de união poliafetiva. As
decisões do CNJ, contudo, têm caráter administrativo. Nada obsta, portanto, que, através de uma
decisão judicial, a união poliafetiva seja considerada família, com todos os efeitos (alimentos,
herança, nome, pensão previdenciária, etc.). No âmbito administrativo, pacificou-se que não se
equipara à união estável. A tendência é que este entendimento seja mantido em eventuais ações
judiciais, mas sempre há uma esperança de um juiz mais liberal considerar como sendo família.
Diante desse rol extenso de famílias, que apresenta multifacetas, Jones Figueiredo Alves,

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propôs a expressão direito das famílias, em vez de simplesmente direito de família.

CASAMENTO

CONCEITO

Casamento é o vínculo entre duas pessoas, firmado perante o Estado, com o intuito de
constituição de uma família.
A satisfação sexual e a prole comum são apenas consequências do casamento, e, por isso, não
devem integrar o seu conceito.
Atualmente, no Brasil, a jurisprudência dominante admite o casamento entre pessoas do
mesmo sexo e, por isso, a diversidade de sexos não é mais requisito de existência do casamento.
São, pois, dois os requisitos de existência do casamento:

a) consentimento;
b) celebração.

Princípio da igualdade dos cônjuges

Previsto no art.226, §5º da CF e art.1.511 do CC, é o que proíbe o tratamento diferenciado


dado ao marido ou à mulher, salvo se houver a hipossuficiência de um deles.
Quanto à Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que prevê sanções para prevenir a
violência contra a mulher, não é inconstitucional, pois há uma desigualdade material entre o
homem e a mulher; elas estão mais expostas à violência doméstica, até porque, via de regra, são
mais frágeis fisicamente.

Princípio do domicílio conjugal

É a vida sob o mesmo teto. O domicílio será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro
podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua
profissão, ou a interesses particulares relevantes (art.1.569).
A fixação do domicílio, como se vê, segue o princípio da isonomia, não sendo mais uma
imposição do marido. Em caso de divergência, o juiz fixará o domicílio. A moradia em casas
diferentes, que é admitida na união estável (súmula 382 do STF), não pode ser convencionada no
pacto antenupcial, sob pena de nulidade dessa cláusula, por violar art.1.566, II, do CC, que consagra
o princípio do domicílio conjugal.

PROCESSO DE HABILITAÇÃO

O processo de habilitação é a fase preliminar na qual se verifica se os nubentes preenchem os


requisitos para o ato nupcial.
Por meio da habilitação visa-se evitar a realização de casamentos vedados pela lei.

Publicidade à pretensão de os nubentes se casarem. Com efeito, dispõe o art.1.527 do CC:


“Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante 15 (quinze)
dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na

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imprensa local, se houver. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a


publicação”. Os editais de proclamas visam dar publicidade ao casamento. Esses editais são
registrados no livro D no Cartório de Registro Civil, se os nubentes residirem em circunscrições
diferentes, os editais devem ser publicados (afixados) e registrados em ambos os cartórios. Sobre a
contagem do prazo de 15 dias, segue a regra geral do Código Civil: exclui-se o dia do começo e
computa-se o último dia (art. 132). Se este cair em dia não útil, prorroga-se a afixação do edital até
o primeiro dia útil seguinte. Se na circunscrição houver imprensa, é obrigatória que nela se
publique os proclamas, cujas despesas serão pagas pelo interessado; se os nubentes forem pobres
e no local houver imprensa, a publicação será no diário oficial. Se um dos nubentes residir no
exterior, os editais não são afixados no cartório estrangeiro, pois essa imposição violaria a
soberania do respectivo país.

COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO DE HABILITAÇÃO

Sobre a competência para o processo de habilitação, cumpre salientar que o requerimento é


dirigido ao oficial do registro civil das pessoas naturais do distrito da residência de um dos
nubentes, conforme art.67 da Lei nº 6.015/1973. Note-se que a competência não é do domicílio e
sim da residência.
A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do registro civil da residência dos
noivos, ou em qualquer deles se residentes em distritos distintos, instruída com os documentos
elencados no art. 1.525, sendo necessária ainda a audiência do Ministério Público (art. 1.526). Logo,
como se vê, não há, em regra, necessidade de intervenção judicial. Excepcionalmente, porém, a
habilitação deve ser submetida à homologação judicial. Tal ocorre quando houver impugnação do
oficial, do Ministério Público ou de terceiro, conforme parágrafo único do artigo 1.526 do C.C., com
redação dada pela Lei 12.133/2009. O requerimento de habilitação deve ser subscrito (de próprio
punho) pelos nubentes ou por procurador com poderes especiais. Esta procuração pode ser por
instrumento particular com firma reconhecida, pois o art.1.542 do CC só exige instrumento público
na procuração outorgada para contrair casamento e não para dar início ao processo de habilitação.
Se um ou ambos for analfabeto, a jurisprudência exige assinatura a rogo, com duas testemunhas.

O casamento é regido pelo princípio da gratuidade. Dispõe o art.226, §1º da CF: “O


casamento é civil e gratuita a celebração”. O parágrafo único do art.1.512 do CC acrescenta que “a
habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos
e custas para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da Lei”.
As irregularidades no processo de habilitação não invalidam o casamento, a não ser nas
hipóteses em que a lei prevê expressamente que a sanção é a nulidade ou anulabilidade do
matrimônio.
Estando em ordem a documentação, o oficial lavrará os proclamas de casamento, que se
afixará em quinze dias nas circunscrições do Registro Civil da residência de ambos os nubentes, e,
obrigatoriamente, publicar-se-á na imprensa local, se houver (art. 1.527). Não há necessidade de se
publicar proclamas no local de nascimento dos nubentes.
O parágrafo único do art. 1.527 dispõe que a autoridade competente, havendo urgência,
poderá dispensar a publicação dos proclamas. A autoridade competente é o juiz de direito (art. 69
da Lei 6.015/73). A lei não especifica os casos de urgência, mas a doutrina costuma citar a moléstia
grave de um dos nubentes, que está prestes à morte; a necessidade de viagem inadiável etc. Antes
de deferir o requerimento, o juiz deve ouvir o outro nubente e o Ministério Público.
Verificada a inexistência de fato obstativo, o oficial extrairá o certificado de habilitação (art.

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1.531), cuja eficácia será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o certificado (art.
1.532). Note-se que o casamento não precisa realizar-se no local da habilitação ou da residência de
um ou ambos os nubentes. Após o decurso desse prazo, que é decadencial, o casamento só poderá
ser realizado se houver renovação do processo da habilitação.

CAPACIDADE PARA O CASAMENTO

O Código fixa a distinção entre incapacidade e impedimento matrimonial.


A incapacidade é a inaptidão para contrair casamento com qualquer pessoa que seja;
impedimento é a falta de legitimação para contrair núpcias apenas com certas pessoas.
A capacidade para o casamento, isto é, a idade núbil é adquirida aos 16 anos para o homem
ou mulher, exigindo-se, porém, a autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais,
enquanto não atingida a maioridade civil. Havendo divergência entre os pais, é assegurado a
qualquer deles recorrer ao juiz para a solução do desacordo. Até a celebração do casamento podem
os pais ou tutores revogar a autorização (art. 1.518 do CC). Quanto às pessoas interditadas,
poderão se casar em igualdade de condições com as demais pessoas, sem necessidade da
autorização do curador, pois a lei não mais exige esta autorização.
Se ambos os pais denegam a autorização, o menor pode requerer ao juiz a expedição de
alvará de suprimento de consentimento (art. 1.519 do CC). Em caso de gravidez, se houve
casamento sem autorização, não é cabível a sua anulação por motivo de idade (art.1.551 do
CC).
Antes dos 16 anos, o menor não pode se casar, nem mesmo com autorização do
representante legal.
A propósito, dispõe o art. 1.520 do Código Civil, com redação dada pela lei 13.811/2019,
dispõe que:
“Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil,
observado o disposto no art. 1.517 deste Código.”
Na redação anterior, o casamento era permitido, em caso de gravidez, mediante alvará
judicial, mas com a nova redação a gravidez não autoriza mais o casamento.
Quanto ao menor de 16 anos, por ventura emancipado, também não poderá se casar, pois o
art. 1.520 veda o casamento “em qualquer caso, sem abrir uma única exceção, mas o tema
certamente ensejará polêmica.”
Não existe mais, portanto, o alvará judicial de suprimento de idade, que era cabível para
autorizar o casamento do menor de 16 anos, em caso de gravidez.
O casamento do menor, porém, não é nulo, mas apenas anulável. Trata-se de uma nulidade
relativa, que pode se convalidar, caso o casamento se verifique sem que o vício tenha sido
percebido, em três situações:
a) Ratificação expressa do menor, quando atingir 16 anos. Exige-se, para tanto, a autorização
do representante legal e, se este negar, autorização judicial (art. 1.553 do CC);
b) Se resultar gravidez. É o que dispõe o art. 1551 do CC: “Não se anulará, por motivo de
idade, o casamento de que resultou gravidez”. Foi alterada pela lei 13.811/2019 a relação do art.
1520, que autorizava o casamento em caso de gravidez, mas não houve a revogação expressa do
art. 1551, que permite a convalidação do casamento em razão da gravidez. Há uma certa
incoerência, mas não a ponto de se concluir pela revogação tácita do art. 1551 do CC, pois, na
interpretação da lei, deve se levar em conta o princípio da preservação do matrimônio;
c) Decadência, se a ação anulatória não for proposta no prazo de 180 dias. Este prazo, para o

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representante legal, começa a correr do casamento; para o menor, flui a partir da data em que
completar 16 anos (art. 1.550, I, do CC). O Ministério Público não pode mover a ação anulatória,
pois a nulidade é relativa.
Quanto à união estável do menor de 16 anos, para uma corrente, também é anulável, diante
da isonomia com o casamento; outra preconiza pela validade, pois não se pode fazer analogia em
normas restritivas de direito.
Por outro lado, a pessoa com deficiência mental ou intelectual que já atingiu a idade núbil
poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente, caso consiga, ou, em caso
negativo, através de seu responsável ou curador, conforme §2º do art. 1.550 do Código Civil,
incluído pela lei 13.146/2.015. Portanto, a pessoa com deficiência mental ou intelectual também
desfruta de capacidade matrimonial, ainda que não consiga exprimir, de modo inequívoco, o seu
consentimento. Assim, o surdo-mudo, que não puder externar diretamente a vontade, também
poderá se casar e, nesse caso, a vontade será manifestada por meio de seu responsável ou curador.
Quanto ao pródigo, pode se casar sem autorização do representante legal, pois é plenamente capaz
para a prática de atos extrapatrimoniais, que é o caso do casamento, mas para escolher o regime
de bens necessitará de assistência do seu representante legal, pois este ato é patrimonial; sem a
assistência, o seu casamento será no regime da comunhão parcial.
Cumpre acrescentar que o inciso I do art. 1.548 do Código Civil, que considerava nulo o
casamento contraído pelo enfermo mental sem o necessário discernimento, foi expressamente
revogado pela lei 13.146/2.015. Por consequência, seu casamento será válido, desde que tenha
expressado sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador e, caso essa
formalidade não tenha ocorrido, o casamento não será nulo, mas apenas anulável.
Finalmente, no Código de 1916, as hipóteses de incapacidade matrimonial eram consideradas
impedimentos relativos ou dirimentes privados.

IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS

Vimos que o impedimento é a falta de legitimação para se casar com certa pessoa.
Os impedimentos absolutamente dirimentes, previstos no art. 1.521, têm por objetivo: a)
impedir o casamento incestuoso (incs. I a V); b) preservar a monogamia (inc. VI); c) evitar o
casamento motivado pelo homicídio.

Com efeito, não podem casar:


I) os ascendentes com os descendentes, em qualquer grau, seja o parentesco natural ou civil.
O parentesco civil é o resultante da adoção;
II) os afins em linha reta. A afinidade é vínculo entre o cônjuge ou companheiro e os parentes
do outro. Na linha reta, os afins são: o sogro, a sogra, o genro e a nora; na linha colateral, os
cunhados. O código prevê o vínculo de afinidade na união estável, dirimindo a controvérsia que
reinava no direito anterior (art. 1.595). Assim, o homem que vive em união estável não pode se
casar com a filha de sua companheira. Dispõe o § 2.º do art. 1.595 que na linha reta a afinidade não
se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável. Assim, mesmo estando divorciado,
o agente continua sendo afim de sua sogra, estando, pois, impedido de casar-se com ela. Anote-se,
por fim, que, na linha colateral, extingue-se a afinidade com a dissolução do casamento, de modo
que é lícito o casamento entre ex-cunhados;
III) o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem foi cônjuge do
adotante. Ora, tendo em vista a igualdade de direito dos filhos, o presente inciso torna-se
desnecessário, porque o impedimento matrimonial já deflui do inciso anterior;

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IV) os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até terceiro grau inclusive. Os
irmãos são colaterais de segundo grau. Podem ser bilaterais ou germanos, quando têm o mesmo
pai e a mesma mãe, e unilaterais, quando só um dos progenitores é o mesmo. Os colaterais de
terceiro grau são os tios e sobrinhos e o enlace entre eles é chamado de casamento avuncular.
Admite-se, porém, o casamento entre tio e sobrinha ou tia e sobrinho, se eles requererem no
processo de habilitação o exame médico pré-nupcial; o juiz então nomeará dois médicos para
examinar o problema referente à sanidade da eventual prole; se os médicos descartarem qualquer
problema de eugenia, o casamento poderá ser realizado (art. 2.º do Dec.-lei 3.200/41). Sem esse
exame médico, porém, o casamento será nulo. O Decreto-Lei nº 3.200/1941 é lei especial, tendo
sido recepcionado pelo Código Civil, que é lei geral. Há, porém, quem proclame a revogação do
Decreto-Lei nº 3.200/1941, pois o Código Civil regulou toda a matéria. Quanto aos primos-irmãos,
não há qualquer impedimento, podendo o casamento realizar-se livremente, independentemente
de exame médico;
V) o adotado com o filho do adotante. A adoção atribui ao adotado a condição de filho. O filho do
adotante é tido como irmão do adotado, de modo que o impedimento justifica-se também pelo inciso
IV. Na verdade, o inciso V era desnecessário, porque no novo Código só há adoção plena;
VI) as pessoas casadas. A bigamia é crime (CP, art. 235). Na verdade, não se trata
propriamente de um impedimento e sim de incapacidade matrimonial, porque à pessoa casada é
vedado o casamento com qualquer outra pessoa. O Código atual comete o mesmo erro do anterior,
pois deveria ter dito que não podem se casar as pessoas vinculadas matrimonialmente. Com efeito,
o separado judicialmente não está mais casado; no entanto, é vedado-lhe o casamento, porque se
encontra ainda vinculado matrimonialmente. A rigor, a hipótese não é de impedimento e sim de
incapacidade matrimonial, porquanto ao casado ou separado judicialmente é vedado o casamento
com qualquer pessoa. O princípio da monogamia, consistente na proibição do casamento de
pessoas casadas, se for violado caracteriza crime de bigamia (art.235 do CP), além da nulidade
absoluta do segundo casamento. Carlos Dias Motta observa que pessoa casada que mantenha
relacionamento extraconjugal ou até mesmo constitua outra família não viola diretamente o
princípio da monogamia, pois não terá havido celebração de segundo casamento. É proibida a
poligamia (homem que se casa com várias mulheres) e a poliandria (mulher que se casa com vários
homens). Se o primeiro casamento vier a ser anulado ou extinto pela morte de um dos cônjuges,
ainda assim o segundo continuará nulo, porque se realizou quando havia o impedimento
matrimonial. Mas há entendimento no sentido de que, diante da anulação do primeiro casamento,
o segundo passaria a ser válido, tendo em vista a ausência de bigamia. Quanto ao ausente
declarado por sentença, é um caso de morte presumida, dissolvendo-se o seu matrimônio,
autorizando o casamento de seu cônjuge sem precisar divorciar-se previamente (§1º do art.1.571
do CC). O casamento religioso sem registro civil é mera união estável, admitindo-se o casamento do
companheiro ou companheira com outra pessoa.
VII) o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra
o seu consorte. O casamento gera uma presunção de conivência no crime de homicídio. Ainda que
o cônjuge nada tenha a ver com o homicídio, impõe-se o impedimento. Não há prazo para que o
impedimento desapareça, logo persistiria o impedimento pelo resto da vida. É lícito o casamento na
hipótese de absolvição, ainda que por insuficiência de provas, ou extinção da punibilidade antes do
trânsito em julgado da condenação, outrossim, quando tratar-se de homicídio culposo. Quanto à
anistia, graça, indulto e prescrição executória se extinguirem a punibilidade após o trânsito em
julgado da condenação, não afastam o impedimento matrimonial. O simples fato de existir um
processo-crime em andamento não inviabiliza o matrimônio; a lei exige condenação definitiva;
antes disso, milita em prol do acusado o princípio da presunção da inocência. O impedimento deve

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existir até o momento da celebração do casamento. Se o trânsito em julgado da condenação


ocorrer depois do casamento, este permanece intacto.

O Código de 1916 não permitia o casamento do cônjuge adúltero com o seu corréu, por tal
condenado. O novo Código não repete esse impedimento, viabilizando o enlace matrimonial entre
eles. Aliás, o delito de adultério acabou sendo revogado pela Lei n. 11.106/2005.

CAUSAS SUSPENSIVAS

As causas suspensivas são as que obstam a celebração do casamento, mas quando infringidas
não anulam o ato. Trata-se do chamado casamento irregular. No código anterior figuravam no rol
dos impedimentos. Na doutrina, recebiam o nome de impedimentos precautórios ou proibitivos ou
meramente impedientes.
O casamento celebrado com infringência dessas causas suspensivas não é nulo nem anulável.
É válido, apesar de irregular, impondo-lhe, porém, o regime da separação obrigatória de bens (art.
1.641, I).

Essas causas suspensivas da celebração do casamento encontram-se no art. 1.523. Assim, não
devem casar:
I) o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos
bens do casal e dar partilha aos herdeiros. O objetivo da lei é evitar a confusão de patrimônios. A
violação dessa norma gera dupla sanção: regime da separação obrigatória de bens do segundo
casamento e hipoteca legal em favor dos filhos sobre os imóveis do pai ou mãe que passar a outras
núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior (art. 1.489, II, do CC). É permitido aos
nubentes solicitar ao juiz a realização do casamento, provando-se a inexistência de prejuízo ao filho
do leito anterior. Tal ocorre, por exemplo, quando o falecido não deixou bens a inventariar
(inventário negativo).
II) a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou anulado, até dez meses depois
do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal. O objetivo da lei é evitar a turbatio
sanguinis, isto é, um conflito de paternidade, tendo em vista que a presunção de paternidade, nos
moldes do art. 1.597, pode militar em favor de ambos, isto é, do atual marido e do marido morto.
Afasta-se essa causa suspensiva, provando-se, perante o juiz, o nascimento de filho, ou a inexistência de
gravidez, na fluência do prazo (parágrafo único do art. 1.523).
III) o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do
casal. Trata-se de inovação da lei, cujo objetivo é também evitar a confusão de patrimônios. O
divórcio pode realizar-se sem partilha, mas o casamento do divorciado sem que se tenha feito a partilha
dos bens ensejará o regime da separação obrigatória de bens.

Se se provar, perante o juiz, a inexistência de prejuízo para o ex-cônjuge, o casamento poderá


ser celebrado (parágrafo único do art. 1.523);
I. o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos,
com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem
saldadas as respectivas contas. O objetivo da lei é proteger o pupilo ou curatelado da influência
exercida pelo tutor ou curador. Admite-se, porém, o casamento, na pendência da tutela ou
curatela, mediante alvará judicial, provando-se a inexistência de prejuízo para a pessoa tutelada ou
curatelada (parágrafo único do art. 1.523). No Código anterior, admitia-se o casamento mediante
permissão paterna ou materna manifestada em escrito autêntico ou testamento; no novo Código

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isso não é mais possível. Todavia, com a cessação da tutela ou curatela, desde que as contas
estejam saldadas, o casamento pode realizar-se, independentemente de alvará judicial.

OPOSIÇÃO DOS IMPEDIMENTOS E DAS CAUSAS SUSPENSIVAS

A oposição é o ato que visa obstar a celebração do casamento.


A legitimidade para apresentar a oposição dos impedimentos é atribuída a qualquer pessoa
capaz, aliás, se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento,
será obrigado a declará-lo (art. 1.522). Quanto ao Ministério Público, Sá Pereira sustenta que não pode
opor impedimento, porque não recebe esta competência, e, como competência não se presume,
falece-lhe atribuição específica. Ora, se ele pode o mais que é mover a ação de nulidade matrimonial
não vejo razão para sonegar-lhe o direito de arguir o menos que é oposição de impedimento; ademais,
a qualquer pessoa capaz é licito opor impedimento. Diferentemente, as causas suspensivas da
celebração do casamento podem ser arguidas apenas pelos parentes em linha reta de um dos
nubentes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também
consanguíneos ou afins, mas não podem ser conhecidas de ofício, ao contrário dos impedimentos (art.
1.524). O Enunciado 330 do CJF/STJ dispõe que: “As causas suspensivas da celebração do casamento
poderão ser arguidas inclusive pelos parentes em linha reta de um dos nubentes e pelos colaterais em
segundo grau, por vínculo decorrente de parentesco civil”. Anote-se que a lei não atribui legitimidade
ao testamenteiro nem ao ex-cônjuge, sendo que Espinola sustenta que ex-marido teria interesse em
opor a causa suspensiva do art.1.523, II, do CC para evitar a confusão de sangue. A jurisprudência
considera taxativo o rol do art. 1.524. Cumpre desde logo não confundir a legitimidade para oposição
dos impedimentos e das causas suspensivas com a legitimidade para propor a ação de nulidade ou
anulação de casamento. Desse último assunto, cuidaremos oportunamente.
A oposição deve ser formulada por escrito, ao oficial do Registro Civil, devidamente instruída
com a prova do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas (art. 1.529).
Portanto, além da limitação pessoal, a lei ainda impõe um limite formal. A oposição ainda sofre um
limite temporal. Com efeito, as causas suspensivas só podem ser opostas dentro do prazo de 15
dias, a contar da publicação dos proclamas (art.1.527). Já os impedimentos podem ser opostos até
o momento da celebração do casamento (art.1.522), devendo a autoridade celebrante, conforme
ensina Pontes de Miranda, suspender imediatamente o ato, sem examinar se o impedimento é
regular ou irregular, procedente ou improcedente.
A oposição impede a realização do casamento até decisão final, obstando a expedição do
certificado de habilitação (art.1.531). O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus
representantes nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a
ofereceu. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos
alegados, e promover as ações civis e criminais contra o opoente de má-fé (art. 1.530).

CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO

A autoridade celebrante de casamento é o juiz de paz ou, conforme veremos, uma autoridade
eclesiástica.
Entretanto, os brasileiros, no exterior, devem se casar perante as respectivas autoridades ou
perante os cônsules brasileiros.
Os estrangeiros residentes no Brasil ainda têm a opção de se casarem perante as autoridades
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.

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De acordo com o art. 98, inciso II, da Constituição Federal a União, o Distrito Federal, os
Territórios e os Estados devem criar a justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos
pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma
da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo
de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras
previstas na legislação.
Esta norma constitucional ainda carece de regulamentação legal. No Estado de São Paulo o
juiz de paz é nomeado pelo Secretário da Justiça, exercendo função não remunerada (Decreto-lei nº
13.375/47 e art. 891 da Constituição Estadual).
De acordo com o art.1.533 do CC é função do juiz de paz a fixação do dia, hora e local para a
celebração do casamento.
Operou-se, contudo, a revogação tácita deste art.1.533 do CC, pois, de acordo com o §7º do
art. 67 da Lei 6015/73, incluído pela Lei nº 14.382/2022, celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e
lugar solicitados pelos nubentes e designados pelo oficial de registro civil das pessoas naturais.
Ou seja, o dia, hora e local da cerimônia serão solicitamos pelos nubentes, mas designados
pelo oficial de registro civil e não pelo juiz de paz.
O casamento pode realizar-se em qualquer dia, inclusive aos domingos e feriados.
O casamento pode realizar-se fora do cartório, a pedido dos contraentes, se o oficial de
registro civil concordar.
Todavia, em caso de moléstia grave de um dos nubentes, a autoridade celebrante é obrigada
a realizar o casamento na residência do contraente, ainda que à noite, se for urgente (art. 1.539).
A solenidade realizar-se-á com toda publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos duas
testemunhas, parentes ou não dos contraentes.
As portas devem permanecer abertas durante toda a cerimônia e qualquer pessoa poderá ter
acesso ao local.
O casamento por procuração, também exige cerimônia pública.
A celebração do casamento poderá ser realizada, a requerimento dos nubentes, em meio
eletrônico, por sistema de videoconferência em que se possa verificar a livre manifestação da
vontade dos contraentes (§8º do art. 67 da Lei 6.015/73, incluído ela Lei nº 14.382, de 2022).
É importante destacar que, no casamento por videoconferência, deverá também ser
garantida a publicidade do ato.
O Código exige quatro testemunhas apenas em duas hipóteses:
a) casamento celebrado em edifício particular (§1º do art. 1.534 do CC). Todavia, o casamento
celebrado por autoridade eclesiástica, apesar de ser em edifício particular, exige apenas duas
testemunhas (art. 72 da Lei nº 6.015/1973).
b) se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever (§2º do art. 1.534 do CC).
c) A Corregedoria Geral do Estado de São Paulo, porém, entende que o casamento celebrado
em edifício particular só exige quatro testemunhas se algum dos contraentes não souber ou não
puder escrever.
O presidente do ato, após ouvir dos nubentes ou procurador com poderes especiais a
afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o
casamento, nestes termos:
“De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por
marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”.
O posterior registro do ato, no cartório de registro civil das pessoas naturais, é meramente
declaratório, servindo como meio de prova do casamento, cujo aperfeiçoamento ocorrera antes.
Assim é a autoridade competente que declara os nubentes casados ao pronunciar a fórmula

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sacramental acima.
O arrependimento de qualquer dos contraentes, após a pronúncia dessa fórmula
sacramental, é inócuo, pois o casamento já se constituiu.
Se a autoridade celebrante morrer antes de pronunciar a fórmula sacramental, o casamento é
reputado inexistente, não se formou, ainda que os nubentes já tivessem afirmado o propósito de se
casarem.
Com efeito, sobre o exato momento da constituição do matrimônio, dispõe o art. 1.514 do
CC:
“O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o
juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados”.
Quanto ao registro do casamento tem finalidade apenas probatória, e não constitutiva, pois o
casamento existe antes mesmo desse registro.
A celebração do casamento, dispõe o art. 1.538, será imediatamente suspensa se algum dos
contraentes:
I) recusar a solene afirmação de sua vontade;
II) declarar que não é livre e espontânea;
III) manifestar-se arrependido.
Ao nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do
ato, ainda que de brincadeira, não será admitido a retratar-se no mesmo dia; a cerimônia nesse
caso só poderá reiniciar-se 24 horas depois ou dentro de um prazo razoável para reflexão
(parágrafo único do art. 1.538 do CC), mas não há necessidade de nova habilitação.

CASAMENTO POR PROCURAÇÃO

O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes
especiais (art. 1.542). A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias (§ 3º) O casamento
celebrado após esse prazo é tido como inexistente. O estrangeiro também pode se casar por
procuração, ainda que a lei de seu país proíba esse casamento (art.7º, §1º, da LINDB). Só por
instrumento público se poderá revogar o mandato (§ 4º). A revogação do mandato não necessita
chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o
outro contraente tivesse ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos.
A procuração deve, é claro, indicar o nome da pessoa com quem o mandante vai se casar,
outrossim, constar o regime de bens, caso contrário será o da comunhão parcial a não ser que em
pacto antenupcial tenha sido escolhido outro regime. O Código não exige fundamentação para o
casamento realizar-se por procuração. É irrelevante o sexo do procurador. Pontes de Miranda
admite que ambos os nubentes se casem por procuração, por intermédio de procurador único.
Data venia, é necessário um procurador para cada um, porque o código usa a expressão “o outro
contraente” (§ 1º do art. 1.542). Para Maria Helena Diniz é inadmissível que ambos os nubentes se
façam representar por mandatários, já que, sem a presença de um deles, o ato nupcial perde os
caracteres cerimoniais peculiares. Data venia, não há qualquer óbice legal para que ambos sejam
representados por procuradores. No casamento nuncupativo, só poderá fazer-se representar por
procurador o nubente que não estiver em iminente risco de vida (§ 2º do art. 1.542).
Quanto ao casamento realizado por procuração após a morte do mandante, o Código é
omisso, mas prevalece a corrente que é inexistente, diante da extinção ex vi legis do mandato e da
consequente ausência de consentimento, sendo inaplicável o art. 689 do CC que considera válido os
atos praticados de boa-fé pelo mandatário que ignorava a morte do mandante, pois essa norma é
restrita aos atos patrimoniais, não se aplica ao casamento, afastando-se também a incidência do

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art.1.550, V, do CC, que considera o casamento apenas anulável quando celebrado por procurador
cuja procuração estava revogada, tendo em vista que a morte não é causa de revogação do
mandato e sim de extinção (art.682 do CC).

CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO PERANTE A AUTORIDADE CONSULAR

O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou


os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em 180 dias, a contar da volta de um ou de ambos os
cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do
Estado em que passaram a residir (art. 1.544). Os cônsules de carreira só poderão celebrar
casamento quando ambos os nubentes forem brasileiros e a legislação local, isto é, do país onde
está instalado o consulado reconhecer efeitos civis aos casamentos assim celebrados (Decreto nº
24.113/34, art.13, parágrafo único).
Por outro lado, os estrangeiros residentes no Brasil podem casar-se perante as autoridades
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes, no próprio consulado ou fora dele (§ 2º
do art. 7º da LINDB). Assim, dois japoneses, residentes no Brasil, podem casar-se perante o cônsul
do Japão. Todavia, esse casamento não é passível de registro no Cartório de Registro Civil, mas
pode ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos. Anote-se, ainda, que a autoridade
consular não poderá celebrar o matrimônio se um dos nubentes for brasileiro, ou tiver
nacionalidade diversa do país consular. Portanto, para que o cônsul celebre o casamento, os
contraentes devem ser conacionais. Quanto à forma do casamento, segue a lei do país do
consulado, mas os efeitos materiais regem-se pela lei brasileira.
Por fim, os casamentos de brasileiros celebrados no exterior serão considerados autênticos, nos
termos da lei do lugar em que forem feitos, legalizadas as certidões pelos cônsules (art. 32 da LRP).

CASAMENTO IN EXTREMIS OU EM ARTICULO MORTIS OU NUNCUPATIVO

O casamento in extremis dispensa o processo de habilitação, a publicação de proclamas e a


presença da autoridade. É celebrado pelos próprios nubentes ou por qualquer pessoa na presença
de seis testemunhas que com eles não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até
segundo grau. Aludido casamento só é possível mediante dois requisitos:
a) que um dos contraentes esteja em iminente risco de vida;
b) impossibilidade de os contraentes obterem a presença da autoridade celebrante ou de seu
substituto.
Note-se que é o único casamento que: a) dispensa a presença de autoridade celebrante; b) as
testemunhas não podem ter vínculo de parentesco em linha reta, ou colateral até segundo grau,
com os nubentes; c) exige seis testemunhas.
Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer, voluntariamente ou mediante
intimação, perante a autoridade judiciária competente, dentro de 10 dias, sob pena de inexistência
do casamento, pedindo que lhes tome por termo a declaração de:
1. que foram convocadas por parte do enfermo;
2. que este parecia em perigo de vida, mas em perfeito juízo;
3. que em sua presença declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por
marido e mulher (art. 1.541).
c) Estranhamente o Código não prevê a oitiva do cônjuge sobrevivente.
Instaura-se um procedimento de jurisdição voluntária, com a participação do Ministério
Público. Da sentença é cabível o recurso de apelação, no prazo de 15 dias. Se uma das seis

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testemunhas negar o cumprimento dos requisitos do art.1.541 do CC o juiz não poderá reconhecer
a existência do casamento.
Após o trânsito em julgado da sentença favorável, o juiz mandará registrá-la no livro de
Registro dos Casamentos. O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao
estado dos cônjuges, à data da celebração, ainda que o enfermo já tenha morrido.
Se o enfermo se convalescer e puder ratificar o casamento, ele mesmo deverá fazê-lo na
presença da autoridade judiciária e do oficial do registro, nesse mesmo prazo de 10 dias, sendo
que, nesse caso, não há necessidade do comparecimento das testemunhas, nem de novo
casamento. Se ele se convalesce, mas não ratifica o casamento, este será tido como inexistente. Se,
por outro lado, ele se convalescer somente após a transcrição no Registro Civil da sentença, não há
necessidade de nova ratificação do casamento.

CASAMENTO RELIGIOSO COM EFEITOS CIVIS

O princípio da secularização do matrimônio é o que apregoa que o casamento deve reger-se


pelas leis civis, rompendo, portanto, com o Direito Canônico. Este princípio foi adotado no Brasil, a
partir do Decreto 181/1890, que só passou a admitir o casamento civil; até então só se admitia o
casamento religioso. Sendo o Brasil um país laico, com ampla liberdade religiosa, força convir que o
casamento puramente religioso não é casamento, mas união estável.
Em duas situações, porém, o matrimônio religioso tem efeito de casamento civil.
A primeira, casamento religioso com habilitação prévia, é quase que idêntico ao casamento
civil. A única diferença é que a cerimônia é presidida por uma autoridade eclesiástica. Com efeito,
no procedimento de habilitação, os nubentes requerem ao oficial a expedição de certidão para se
casar perante a autoridade religiosa (art. 71 da Lei 6.015/73). Conforme ensina Maria Berenice Dias,
cabe reconhecer a possibilidade de ato religioso de qualquer credo servir para fins registrais, tal
como as cerimônias de casamentos realizados por religiões afro-brasileiras e o casamento cigano,
pois o Brasil é um país laico, não se podendo priorizar uma religião em detrimento de outras.
Celebrado o casamento, a autoridade eclesiástica celebrante ou qualquer interessado deverá,
dentro de 90 dias, após a realização do ato, promover, perante o oficial do Registro Civil, o registro
do casamento. Após o referido prazo, que é decadencial, o registro dependerá de nova habilitação
(§ 1º do art. 1.516). Note-se que o Código não exige uma nova celebração, mas apenas uma nova
habilitação, aproveitando-se, portanto, a cerimônia anterior. Observe-se, ainda, que qualquer
interessado pode requerer a inscrição do matrimônio perante o oficial do Registro Civil. Não há,
portanto, necessidade de autorização de ambos os cônjuges. Aliás, o registro pode ser requerido
até depois da morte de um dos cônjuges.
A segunda é o casamento religioso com habilitação posterior. Nesse caso, o requerimento do
registro do casamento, que também é feito perante o oficial do Registro Civil, deve ser formulado
por ambos os nubentes (§2º do art.1.516 do CC). Se um deles já morreu, não é mais possível
registrar esse casamento. Se ambos estão vivos e não houverem contraído com outrem casamento
civil, o registro pode ser requerido a qualquer tempo. Eles devem apresentar o requerimento ao
oficial, instruído da prova do casamento religioso, e toda a documentação necessária. São
publicados os proclamas; se não houver oposição, o casamento será registrado. Esse registro
retroage à data da celebração do casamento (art. 75 da Lei 6.015/73). Trata-se, a rigor, de uma
espécie de conversão de união estável em casamento.
Nessas duas hipóteses dispõe o §3º do art.1.516 que “será nulo o registro civil do casamento
religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil”.
Logo, o casamento religioso, antes do registro, não é casamento, mas união estável, porquanto não

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impede o contraente de se casar com outra pessoa, sendo inviável o ajuizamento de ação de
invalidade de casamento religioso enquanto não houver o registro civil. Note-se que enquanto no
casamento puramente civil o registro é meramente declaratório, prescindindo-se de sua ocorrência
para que o casamento possa existir, no casamento religioso de efeito civil, o registro é constitutivo,
embora retroativo a data da celebração, pois sem este registro o casamento ainda não existe.
No Estado de São Paulo, as Normas da Corregedoria Geral de Justiça exigem o
reconhecimento de firma da assinatura da autoridade eclesiástica celebrante. Quanto à
competência, no âmbito da associação religiosa, para que a autoridade eclesiástica celebre
casamento, a comprovação dessa atribuição deve ser feita pelos próprios contraentes se o oficial
do Registro Civil exigir essa prova. Nada obsta também que o oficial do registro exija que os
contraentes comprovem a constituição regular da entidade religiosa.
A competência para o registro do casamento religioso é do oficial do Registro Civil das
Pessoas Naturais do local em que se processou a habilitação. O registro é feito no livro B- Auxiliar
no prazo de 24 horas a contar da entrada do requerimento do registro (art. 33, III e 73, §2º ambos
da Lei nº 6.015/1973).

CASAMENTO INEXISTENTE

Casamento inexistente é o que não reúne os elementos necessários à sua formação.


O casamento, para existir, depende de dois elementos:

 declaração de vontade dos nubentes em contraírem matrimônio;


 presença da autoridade celebrante.

No Brasil a diversidade de sexos não é mais requisito para a existência do casamento, pois se
admite casamento de pessoas do mesmo sexo.
Faltando um desses requisitos, o casamento é tido como inexistente. Se, porém, estiver
registrado, o cancelamento do registro só pode ocorrer mediante ordem judicial. Se não chegou a
ser registrado, o ato inexistente deve ser simplesmente ignorado.
O cancelamento do registro do casamento inexistente, a nosso ver, prescinde de ação judicial,
podendo operar-se administrativamente, por simples despacho judicial, a não ser que a inexistência
dependa da produção de provas, quando então será necessária a ação declaratória de inexistência
de ato jurídico. Essa ação é imprescritível.

NULIDADE E INEXISTÊNCIA

Diz-se nulo o casamento que, embora reúna os requisitos necessários à sua existência,
formou-se defeituosamente, infringindo os preceitos legais.
As diferenças são nítidas.
Com efeito, o reconhecimento da inexistência dispensa ação judicial, bastando um simples
despacho judicial, salvo as hipóteses em que a inexistência dependa de dilação probatória. O
reconhecimento da nulidade exige ação judicial.
O casamento nulo pode ser declarado putativo se um ou ambos os cônjuges estiverem de
boa-fé. No casamento inexistente, não há falar-se em putatividade.
No casamento inexistente, os pseudocônjuges podem contrair matrimônio mesmo sem
declaração de inexistência do pseudomatrimônio anterior. No casamento nulo, urge que se decrete
a nulidade primeiro para só depois se habilitar ao novo casamento. Silvio Rodrigues sustenta,

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acertadamente, que se o casamento inexistente estiver registrado no Registro Civil, o novo


casamento só poderá ser celebrado após o cancelamento judicial daquele registro.
A inexistência do casamento deve ser decretada de ofício pelo juiz. A nulidade matrimonial, não.

CASAMENTO NULO

O casamento é nulo quando violar impedimento (art. 1.548 do Código Civil).


Quanto ao casamento da pessoa com deficiência mental ou intelectual, será válido, desde que
ela tenha expressado a vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador, conforme
§2º do art. 1.550 do Código Civil, com redação dada pela lei 13.146/2.015. Caso o consentimento
não houver sido expressado diretamente e nem através do responsável ou curador, o casamento
não será nulo, mas anulável (art. 1.550, IV, do CC).

CASAMENTO ANULÁVEL

As hipóteses de casamento anulável concentram-se no art. 1.550.

CASAMENTO PUTATIVO

Casamento putativo é o nulo ou anulável, mas que produz efeitos válidos em homenagem à
boa-fé de um ou ambos os cônjuges. Se apenas um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o
casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão; se ambos estavam de boa-fé, a
putatividade estende-se a ambos.
Boa-fé é a crença na validade do matrimônio, em razão do desconhecimento da causa impeditiva
do enlace matrimonial. Exemplo: irmão se casa com irmã, ignorando que são parentes. O direito
canônico, além da boa-fé, exigia que o erro fosse escusável; código brasileiro contenta-se com a boa-fé.
O STF reconheceu a putatividade no erro de direito, num casamento entre genro e sogra, que,
embora cientes do vínculo de afinidade, desconheciam o impedimento matrimonial. O tema não é
pacífico. Contra a putatividade no erro de direito, pronuncia-se Clóvis Beviláqua argumentando que
ninguém pode alegar ignorância da lei. Somos favoráveis à putatividade, porque o intuito do
matrimônio não foi o de violar a lei, mas sim cumpri-la.
O reconhecimento da putatividade pressupõe a decretação da nulidade ou anulabilidade do
casamento. A putatividade deve ser requerida na petição inicial da ação de nulidade ou
anulabilidade do casamento. Tem sido admitido também o requerimento no curso da ação. O juiz,
porém, não pode reconhecê-la de ofício, por força do princípio da inércia da jurisdição, malgrado a
existência de opiniões em contrário. Não arguida a putatividade na ação de nulidade ou anulação
de casamento, nada obsta que o cônjuge de boa-fé, filhos ou terceiros, movam ação autônoma
visando o seu reconhecimento. Acrescente-se, ainda, que para o reconhecimento da putatividade,
basta a boa-fé ao tempo da celebração, não obstante a opinião de Coelho da Rocha que exige a
boa-fé durante toda a vida conjugal.
Quanto aos efeitos da putatividade em relação aos cônjuges, variam conforme um ou ambos
estejam de boa-fé.
Se ambos estão de boa-fé, não obstante a decretação da nulidade ou anulabilidade do
matrimônio, este ainda produz os seguintes efeitos:

 é válido o regime de bens até a data anulação;


 são válidas as doações feitas em contemplação do matrimônio;

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 permanece o direito de continuar a usar o nome do outro cônjuge;


 o cônjuge tem direito à pensão alimentícia;
 se a nulidade foi decretada após a morte de um dos cônjuges, o outro herda normalmente.
Se, porém, a nulidade foi decretada em vida, sobrevindo a morte, não obstante a boa-fé, o
sobrevivente nada herdará do outro, pois deixa de ser cônjuge.
 o cônjuge menor continua emancipado.

Se apenas um dos cônjuges estiver de boa-fé, a putatividade só a ele lhe aproveitará. Os


efeitos serão os seguintes:

 cônjuge de boa-fé beneficia-se do regime de bens; o de má-fé, não. Assim, por exemplo, no
regime da comunhão universal, o cônjuge de boa-fé terá direito à metade dos bens que o
outro tinha antes de se casar, mas este não terá direito à metade daquele. No regime de
comunhão parcial, o que o cônjuge de má-fé adquiriu onerosamente durante o casamento
comunica-se para o de boa-fé, mas as aquisições onerosas deste não se comunicam àquele;
 as doações feitas em contemplação do casamento passam a pertencer exclusivamente ao
cônjuge de boa-fé; o de má-fé as perde;
 o cônjuge de boa-fé pode manter o nome de casado; o de má-fé, não;
 o cônjuge de boa-fé tem direito à pensão alimentícia; o de má-fé, não;
 se a nulidade for decretada após a morte de um dos cônjuges, o de boa-fé herdará do outro;
o de má-fé, não;
 o cônjuge menor de boa-fé continua emancipado; para o menor de má-fé, cessa a
emancipação;
 o cônjuge de má-fé deve cumprir as promessas feitas no contrato antenupcial; o de boa-fé,
não.

O art. 1.561 do CC diz que os efeitos da putatividade perduram até o dia da sentença
anulatória. A expressão dia da sentença, para alguns autores é interpretada como sendo o trânsito
em julgado. Vê-se que para o cônjuge de boa-fé a sentença anulatória tem eficácia ex nunc,
mantendo-se até então a validade do casamento; para o de má-fé, a eficácia da sentença é ex tunc,
pois se retira os efeitos do casamento desde o momento de sua celebração. Quanto aos filhos, os
efeitos subsistem sempre, quer haja boa-fé ou má-fé dos cônjuges. Mas, a nosso ver, alguns efeitos
permanecem após o trânsito em julgado da sentença, tais como: a) o direito de usar o nome; b) a
emancipação; c) a pensão alimentícia etc. Entendimento diverso esvaziaria a importância da
putatividade. Aliás, como ensina Cahali, não há limitação de tempo para o direito de alimentos.
Por outro lado, cumpre acrescentar que a putatividade pode também beneficiar terceiros que
tenham adquirido bens na suposição de um casamento válido. Se bem que, independentemente da
putatividade dos cônjuges, o negócio pode ser considerado válido, bastando a boa-fé do terceiro,
invocando-se, para justificar esse ponto de vista, a teoria da aparência.
Registra-se, ainda, que se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os
seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.
Finalmente, no casamento inexistente, em regra, não há putatividade, porque é um nada
jurídico. Se, porém, estiver registrado, há quem admita a putatividade em benefício da prole
comum. Nesse sentido: Sílvio Venosa. Data venia, não há previsão legal para estender a
putatividade ao ato inexistente. Quantos aos filhos, seus direitos são os mesmos, quer haja ou não
casamento, tornando-se irrelevante, em relação a eles, o reconhecimento da putatividade.

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CASAMENTO FIDUCIÁRIO

O casamento fiduciário ou fictício ou simulado é aquele em que os contraentes não tem o


objetivo de constituir família, mas sim o escopo de obter, para um ou ambos, algum benefício
decorrente do matrimônio. Exemplo: estrangeiro que se casa com brasileira para não ser expulso
do país. Outro exemplo: o sujeito se casa com a empregada para deixar-lhe uma pensão ou
herança.
Uma corrente sustenta a nulidade desse casamento, por ser ele uma fraude à lei e à ordem
pública. Mas prevalece a tese da sua validade, porquanto o Código Civil não prevê expressamente a
nulidade e, em matéria matrimonial, só se admite nulidades textuais.

DISTINÇÃO ENTRE DIVÓRCIO E NULIDADE DE CASAMENTO

No divórcio, o casamento só é desconstituído com o trânsito em julgado da sentença que o


decreta. Já a sentença que decreta a nulidade do casamento retroage à data de sua celebração
(art.1.563 do CC). Tratando-se, porém, de casamento putativo, a sentença anulatória, em relação
ao cônjuge de boa-fé, tem efeito ex nunc, desfazendo-se o casamento somente após o trânsito em
julgado, assemelhando-se ao divórcio.

DEVERES CONJUGAIS

INTRODUÇÃO

Dispõe o art. 1.566 que são deveres de ambos os cônjuges:

 fidelidade recíproca;
 vida em comum, no domicílio conjugal;
 mútua assistência;
 sustento, guarda e educação dos filhos;
 respeito e consideração mútuos.

DEVER DE COABITAÇÃO

Coabitação é a vida em comum no domicílio conjugal, incluindo-se, também, o débito


conjugal, isto é, o dever de manter relações sexuais. O dever de coabitação é violado em duas
hipóteses:

a) abandono injustificado do lar. Se um dos cônjuges ou companheiro não vivia com o


consorte ao tempo da morte deste, não pode administrar a herança nem ser nomeado
inventariante (art.1.797, I, do CC e art.617, I, do CPC/2015).
b) recusa injustificada em manter relações sexuais.

É nulo o pacto entre os cônjuges na parte em que o casal se desobriga mutuamente do débito
sexual conjugal ou de morar juntos.
Anote-se ainda que o domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e
outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de

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sua profissão, ou a interesses particulares relevantes (art. 1.569).


Finalmente, dispõe o art.1.240-A do CC: “Aquele que exercer, por 2 (dois) anos
ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até
250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-
companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O direito
previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez”. Trata-se de uma
modalidade especial de usucapião que recai sobre a meação do cônjuge ou companheiro que
abandonou o lar, restrito a imóvel urbano de 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados). É,
pois, uma punição ao cônjuge ou companheiro que abandonou o lar.

RESTRIÇÕES À LIBERDADE PATRIMONIAL DOS CÔNJUGES

Dispõe o art. 1.647 que nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no
regime da separação absoluta (convencional ou obrigatória):

I. alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis. Ainda que se trate de um compromisso de
compra e venda, torna-se de rigor a autorização do cônjuge. Aliás, preceitua o art. 462 que o
contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais do contrato
a ser celebrado. É nula a cláusula do pacto antenupcial que autoriza o cônjuge a alienar ou
hipotecar imóveis, comuns ou particulares seus, sem a autorização do outro consorte. Porém, no
regime da participação final dos aquestos o pacto antenupcial pode autorizar o cônjuge a alienar
seus imóveis particulares sem a anuência do outro (art.1.656). Por outro lado, dispõe o art.978 do
CC que: “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o
regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus
real”. O dispositivo em análise é muito claro ao se referir ao empresário individual, mas alguns
civilistas interpretam como se a referência fosse à sociedade empresária. Ora, a sociedade para
alienar bens não precisa da autorização do cônjuge de sócio, isto é evidente, de modo que o art.978
quis referir-se ao empresário individual.
II. pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos. Assim, nas ações reais
imobiliárias, o autor deve estar autorizado por seu cônjuge (art. 73, caput, do CPC/2015). Ambos os
cônjuges serão necessariamente citados para as ações que versem sobre direitos reais imobiliários
(§ 1º do art. 73 do CPC/2015). Tratando-se de penhora que recaia sobre bem imóvel, o outro
cônjuge precisa ser intimado deste ato. Quanto às ações pessoais sobre imóveis, como a de
despejo, consignação de pagamento, renovatória de locação e outros, aciona-se apenas o cônjuge
que figura no contrato.
III. prestar fiança ou aval. A novidade do Código é a exigência da outorga do cônjuge para o
outro prestar o aval. No Código de 1916, discutia-se se a fiança prestada sem a outorga do cônjuge
era nula ou anulável. O novo Código considera o ato apenas anulável, dirimindo a antiga
controvérsia, de modo que o juiz não pode mais decretar de ofício a nulidade (art. 1.649).
Referentemente ao aval prestado sem outorga do cônjuge, uma parcela da doutrina não o
considera anulável, malgrado a clareza do art. 1.649 do Código Civil, mas apenas inoponível ao
cônjuge que não esboçou o consentimento ao sobredito ato cambiário. A propósito, dispõe o
Enunciado 114 do CJF: “O aval não pode ser anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o
inciso III do art.1.647 apenas caracteriza a inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu”.
Como a lei geral não revoga a especial, é razoável também o entendimento de que a outorga do

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cônjuge para o aval só seria aplicável aos títulos de créditos atípicos (art.887 e seguintes do CC),
dispensando-se essa exigência em relação aos títulos de créditos regidos por leis especiais (cheque,
duplicata, letra de câmbio e nota promissória). “Pelos títulos de dívida de qualquer natureza,
firmados por um só dos cônjuges, ainda que casados pelo regime de comunhão universal, somente
responderão os bens particulares do signatário e os comuns até o limite de sua meação” (art.3º da
Lei 4.121/1962 – Estatuto da Mulher Casada). “As dívidas contraídas no exercício da administração
obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro em razão do
proveito que houver auferido” (§1º do art. 1.663). Presume-se que as dívidas de qualquer natureza
são contraídas em benefício da família, competindo ao cônjuge o ônus de prova em sentido
contrário.
IV. fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar
futura meação. São válidas, mesmo sem a autorização do outro cônjuge, as seguintes doações: (a)
as doações remuneratórias de dinheiro ou outro bem móvel, que são as feitas em pagamento de
serviços prestados e não cobrados; (b) as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou
estabelecerem economia separada (parágrafo único do art. 1.647). Essas doações propter nuptiae,
em benefício do filho ou filha, para alguns autores, pode abranger até bens imóveis, devendo o
bem doado sair da meação do doador, não podendo invadir a legítima dos demais herdeiros. O
Código de 1916 também considerava válidas as doações de pequeno valor, mas o Código atual não
repete essa regra; todavia, as pequenas doações também dispensam a autorização do cônjuge,
segundo a doutrina dominante.
O art.3º da Lei nº 8.245/1991 exige autorização do cônjuge para que o outro consorte celebre
contrato de locação predial urbana, na qualidade de locador, por prazo igual ou superior a dez
anos. Mas há quem defenda que essa autorização do cônjuge locador é dispensada se o casamento
for no regime da separação absoluta de bens (convencional ou obrigatória).
Em todas essas hipóteses, cabe ao juiz suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue
sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la (art. 1.648). Assim, admite-se o suprimento
judicial em duas hipóteses: (a) recusa injusta do outro cônjuge; (b) impossibilidade de o outro
cônjuge conceder a autorização em razão de doença mental, ausência do lar etc. No caso de o ato
ter sido praticado com autorização judicial, o Código de 1916 preceituava que sobre os bens
particulares do cônjuge discordante não poderia recair qualquer execução. O novo Código não
reproduz essa ressalva, mas ainda mostra-se razoável a isenção de qualquer responsabilidade sobre
os bens particulares do cônjuge que se recusou à outorga, porque ninguém pode ser compelido a
contrair uma obrigação.
A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária, tornará anulável, e não nulo,
o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de
terminada a sociedade conjugal (art. 1.649). A ação anulatória dos atos praticados sem outorga, ou
consentimento do outro cônjuge, ou sem suprimento judicial, só poderá ser proposta pelo cônjuge
a quem cabia concedê-la, ou por seus herdeiros (art. 1.650). O prazo, como vimos, é de até 2 anos
após o término da sociedade conjugal. Anulada a venda, o bem volve o patrimônio do casal. O
terceiro prejudicado não pode propor essa ação, mas na hipótese de a sentença anular o ato, ele
terá direito regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros (art.
1.646).

A autorização do cônjuge deve ter a mesma forma que o ato praticado e constará, sempre
que se possa, do próprio instrumento (art. 220). Se este exige instrumento público, a autorização
também seguirá essa forma. Se o ato é daqueles que não dependem de instrumento público, a
autorização poderá ser dada por instrumento particular.

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O Código de 1916 previa a revogabilidade, a qualquer tempo, dessa autorização, respeitados


os direitos de terceiros e os efeitos necessários dos atos iniciados (art. 244). O novo Código não
prevê mais essa revogação ad nutum. A nosso ver, ainda subsiste o direito de revogar a autorização,
desde que o ato não tenha sido ainda praticado, aplicando-se analogicamente o disposto no art.
686, que admite a revogação das procurações, devendo, porém, a revogação ser cientificada ao
terceiro, com quem iria ser celebrado o contrato.
O ato praticado pelo cônjuge sem a autorização do outro pode ser ratificado. A aprovação do
outro cônjuge, após o ato, deve ser feita por instrumento público, ou particular, autenticado.
Aludida ratificação torna o ato válido (1.649, parágrafo único).

REGIME DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES

CONCEITO

Regime de bens é o estatuto que rege os interesses patrimoniais dos cônjuges durante o
casamento.
O regime de bens é uma das consequências jurídicas do casamento. Não existe casamento
sem regime de bens.

ESPÉCIES

O código propõe os seguintes regimes de bens:

 comunhão parcial;
 comunhão universal;
 participação final nos aquestos;
 separação de bens.

O regime de participação final nos aquestos é uma novidade do Código, que, por sua vez,
deixou de fazer menção ao regime dotal.
Dispõe, porém, o art. 2.039 que o regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do
Código Civil anterior é o por ele estabelecido.

PACTO ANTENUPCIAL

O pacto antenupcial é o contrato realizado antes do casamento pelo qual os nubentes


escolhem o regime de bens que vigorará durante o matrimônio.
Trata-se de ato solene, porque depende de escritura pública, sob pena de nulidade absoluta.
É ainda um ato sob condição suspensiva, porque ineficaz se não se realizar o casamento (art.
1.653). Assim, o regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento (§
1º. do art. 1.639).
A eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica condicionada à aprovação de seu
representante legal, salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens, porque, nesse
caso, nem pacto haverá (art. 1.654). O instrumento da autorização para casar transcrever-se-á
integralmente na escritura antenupcial (art.1.537). O correto é a transcrição dessa autorização no
assento de casamento, pois nem sempre há escritura antenupcial.

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Os pactos antenupciais não terão efeito perante terceiros senão depois de registrados, em
livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges (art. 1.657). Antes do
registro, o pacto só é válido entre os nubentes; após o registro há uma presunção de que todos o
conhecem. Se o nubente é empresário, o pacto antenupcial, além de registrado no Registro de
Imóveis, deverá ser arquivado, para valer perante terceiro, no Registro Público de Empresas
Mercantis (art.979 do CC).

REGIMES LEGAIS

Regime legal é o imposto pela lei. São dois os regimes legais:

I. comunhão parcial de bens. Esse regime vigora quando não houver pacto antenupcial ou
então quando este for nulo ou ineficaz (art.1.640);
II. separação legal ou obrigatória, nas hipóteses do art. 1.641.

PRINCÍPIOS

O regime de bens é regido pelos seguintes princípios:

a) variedade de regime de bens;


b) comunicabilidade;
c) autonomia da vontade;
d) isonomia;
e) indivisibilidade;
f) imediata vigência do regime de bens;
g) mutabilidade justificada;

O princípio da variedade de regime de bens consiste no fato de o Código Civil contemplar a


existência de quatro tipos de regimes de bens diferentes: comunhão universal, comunhão parcial,
separação e a participação final dos aquestos.
O princípio da comunicabilidade dos bens durante o casamento, ainda que o bem tenha sido
adquirido por apenas um dos cônjuges, é uma consequência da comunhão de vidas (art.1.511) e da
mútua assistência (art.1.566, III) e por isso só é afastado mediante pacto antenupcial ou nos casos
previstos em lei.
O princípio da autonomia da vontade consiste na liberdade de os nubentes estipularem,
quanto aos seus bens, o que lhes aprouver (art.1.639). Assim, os nubentes são livres para optar por
qualquer dos regimes que o código regular. Admite-se também a combinação dos regimes de bens,
isto é, o regime híbrido. Podem, por exemplo, eleger o regime da comunhão universal, mas excluir
da comunicabilidade um determinado bem; ou então adotar o regime da separação absoluta, mas
ordenarem no pacto a comunicabilidade de um determinado imóvel. Embora o parágrafo único do
art.1.640 reze que “poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos
regimes que este Código regula”, o certo é que, com base na autonomia da vontade, admitem-se
regimes híbridos, isto é, que mesclam dois ou mais regimes dentre os legalmente previstos, sendo
que alguns autores ainda admitem que os nubentes estabeleçam um regime peculiar, diferente de
todos, pois se isso é possível na união estável não há como negar esse direito no casamento.
O princípio da autonomia da vontade não é absoluto; não pode sobrepor-se às normas

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cogentes, à moral e aos bons costumes, sob pena de nulidade das respectivas cláusulas (art. 1.655).
Assim, é nula a cláusula que autoriza o cônjuge a ser fiador ou avalista ou a alienar imóveis sem
autorização do outro. Todavia, no regime de participação final nos aquestos, poder-se-á
convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares (art. 1.656). Igualmente, é
nula a estipulação do regime da comunhão nas hipóteses de separação legal ou obrigatória
previstas no art. 1.641.
O princípio da isonomia, de índole constitucional (CF, art. 5°, I), repercute sobre o regime de
bens, porque não se pode, em situações pertinentes a ambos os sexos, conceder certos direitos a
um dos cônjuges e negar ao outro.
O princípio da indivisibilidade consiste na exigência de um único regime de bens para ambos
os cônjuges. Abre-se uma exceção a esse princípio na separação-remédio, conforme preceitua o §
3º do art. 1.572.
O princípio da imediata vigência do regime de bens é o que prevê que ele começa a vigorar na
data do casamento, conforme §1º do art.1.639 do CC. Por força de lei, o regime de bens não pode
se iniciar antes nem depois da data do casamento.
O princípio da mutabilidade justificada consiste na possibilidade de se alterar o regime de
bens na vigência do casamento.
O regime de bens pode ser alterado em quatro hipóteses. A primeira encontra-se no art. 7º, §
5º, da LINDB, que permite ao estrangeiro, no ato de sua naturalização, optar pelo regime da
comunhão parcial.
A segunda encontra-se no § 3º do art. 1.572, que cuida da separação-remédio, quando,
então, defere-se ao cônjuge enfermo, casado na comunhão universal, e que não houver pedido a
separação, a propriedade exclusiva dos bens por ele adquiridos antes do casamento.
A terceira exceção encontra-se no § 2º do art. 1.639: “É admissível alteração do regime de
bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a
procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.” Trata-se de interessante
inovação do legislador. Na união estável é possível a alteração, a qualquer tempo, do regime de
bens, inclusive com efeito retroativo, mediante simples acordo escrito entre os companheiros,
prescindindo-se de decisão judicial. Em relação aos casamentos celebrados sob a égide do Código
de 1916, uma primeira corrente, baseada no art. 2.039 do Código Civil, nega a possibilidade de
alteração judicial do regime de bens, enquanto outra viabiliza a mudança do regime, por ordem
judicial, permitindo acertadamente a aplicação do § 2o do art. 1.639 do Código Civil, pois o art.
2.039, que manda aplicar o Código de 1916 aos casamentos celebrados sob sua vigência, diz
respeito ao conteúdo do regime, isto é, ao seu plano de existência e validade, ao passo que a
alteração situa-se no plano de eficácia, ademais não há falar-se em ofensa ao direito adquirido
quando ambos os cônjuges querem a mudança.
Em relação a terceiros, a alteração do regime de bens produzirá efeitos ex nunc, ressalvando-
se assim os direitos de terceiros constituídos antes da mudança. Nas relações entre cônjuges, a
sentença homologatória da alteração do regime terá efeito ex tunc, retroagindo à data do
casamento, segundo a opinião dominante, salvo se os consortes no pedido de alteração
requereram expressamente o efeito ex nunc. A meu ver, no silêncio, o efeito é ex nunc, salvo se a
mudança for para a comunhão universal.
A alteração do regime de bens, para atingir terceiros e ter eficácia erga omnes, precisa ser
averbada no Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges (art.1657 do CC e arts. 167, I, n.12 e
167, II, n.1, 5 e 14 da Lei nº 6.015/1973); se um dos cônjuges for empresário é mister a averbação
no Registro Público das Empresas Mercantis (arts. 979 e 980 do CC). Sobre a possibilidade de
alteração judicial do regime da separação legal, a posição majoritária responde negativamente, pois

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nesse caso o regime da separação obrigatória é uma imposição legal de ordem pública, de modo
que a sua alteração implicaria em fraude à lei. A meu ver, a mudança do regime é possível, pois a lei
não a proíbe, competindo ao juiz aferir se ela trará algum prejuízo ao cônjuge que a lei quis
proteger. Entre os cônjuges, a alteração do regime passa a valer a partir do trânsito em julgado da
sentença prolatada em processo de jurisdição voluntária, mas perante terceiros a eficácia é só a
partir da averbação da sentença no Registro de Imóveis.
Quanto à retroatividade ou não da mudança de regime, vai depender da vontade dos
cônjuges que se quiserem poderão conceder efeito ex tunc, tanto é que o §2º do art.1.639 manda
ressalvar os direitos de terceiros, sinal que autorizou a retroatividade sob a condição de não
prejudicar terceiros. Se o novo regime é o da comunhão universal, a retroatividade emana da lei, do
próprio regime, que prevê a comunicação de todos os bens. A mudança para os demais regimes, no
entanto, no silêncio do requerimento sobre a vigência da modificação, a meu ver terá efeito ex
nunc a partir do trânsito em julgado da sentença, mas a posição dominante sustenta que o efeito é
ex tunc.
A última hipótese de alteração do regime de bens ocorre quando o pacto antenupcial elege o
regime da separação com a cláusula de que se transformará em comunhão parcial ou universal na
hipótese de nascimento de filho. O STF, acertadamente, considerou válida a sobredita cláusula,
com base no princípio da autonomia da vontade. Cremos, porém, que é ilegal, por contrariar os fins
do casamento, além de imoral, e, portanto, nula, a cláusula que prevê a transformação do regime
da comunhão em separação, na hipótese de nascimento de filho.

REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS

Dispõe o art. 1.687 que “estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a
administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá alienar ou gravar de ônus real”.
O regime da separação pode ser legal e convencional. O primeiro é imposto por lei, nos casos
do art. 1.641; o segundo por pacto antenupcial.
No regime de separação, cada cônjuge conserva-se na propriedade, posse e administração
dos bens adquiridos antes e durante o casamento, recebendo sozinho as rendas e frutos produzidos
pelos bens que lhe pertence. Há, pois, dois patrimônios distintos, o do marido e o da mulher.
Qualquer dos cônjuges pode sem autorização do outro alienar ou gravar de ônus real os bens
imóveis, pleitear como autor ou réu acerca desses bens ou direitos, prestar fiança ou aval e fazer
doação dos bens comuns ou dos que possa integrar a futura meação (art.1.647). Quanto às dívidas,
anteriores ou posteriores ao casamento, também não se comunicam, cabendo ao cônjuge
prejudicado, em caso de penhora de seus bens próprios, interpor embargos de terceiro (art. 674,
§2º, do CPC/2015). Excepcionalmente as dívidas que um cônjuge fizer sem a autorização do outro a
este comunicará. Tal ocorre quando a dívida houver sido contraída para as despesas do casal (arts.
1.643 e 1.688 do CC).
Para a alienação dos bens, ainda que imóveis, não há necessidade de autorização do cônjuge.
O Código de 1916 exigia essa autorização em relação aos bens imóveis.
Dispõe o art. 1.688 que ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do
casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário
no pacto antenupcial. Assim, a contribuição é proporcional ao valor de seus bens e aos rendimentos
do seu trabalho. Assim, pode ocorrer de a mulher ter de contribuir com importância superior à do

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marido.
No regime de separação convencional, discute-se se há ou não a comunicação dos aquestos,
isto é, dos bens adquiridos pelo esforço de ambos os cônjuges. Uma primeira corrente diz que não,
aplicando a máxima pacta sunt servanda. Outra corrente diz que sim, aplicando-se o princípio da
proibição do enriquecimento sem causa. A nosso ver, deve haver sim a comunicação dos aquestos,
a não ser que haja no pacto uma cláusula expressa de não-comunicação desses bens, mas há
opiniões ordenando a repartição dos aquestos, a despeito da existência de cláusula expressa em
sentido contrário.
No Código de 1916, o regime de separação convencional podia ser absoluto e relativo. A
separação absoluta ou pura ocorria quando o pacto continha cláusula expressa de não
comunicabilidade dos bens adquiridos durante o casamento. A separação relativa ou imprópria
ocorria quando o pacto elegia o regime da separação, mas silenciava sobre a comunicação ou não
dos adquiridos durante o matrimônio. Neste último caso, esses bens comunicavam-se,
independentemente de esforço comum, por força do art. 259, que mandava aplicar, no silêncio do
pacto, os princípios da comunhão parcial. Era um verdadeiro embuste, porque a separação relativa
era idêntica ao regime da comunhão parcial de bens.
O novo Código não repete o art. 259, de modo que basta que o pacto eleja o regime de
separação para que não se opere a comunicação dos bens adquiridos durante o casamento. Com o
advento do Código Civil de 2002, a separação convencional pura ou absoluta continua sendo aquela
que há a incomunicabilidade de todos os bens adquiridos durante o casamento, inclusive os frutos
e rendimentos, ao passo que a separação limitada ou relativa é a que não se comunicam os bens
adquiridos durante o matrimônio, mas cujo pacto ordena a comunicação dos frutos, e rendimentos
desses bens. No silêncio do pacto, os frutos e os bens não se comunicam no regime da separação.
Passemos agora à análise do regime da separação legal ou obrigatória.
Dispõe o art. 1.641 que é obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I. das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento. Essas causas encontram-se no art. 1.523. Mediante ordem judicial admite-se o
afastamento dessas causas suspensivas, conforme proclama o parágrafo único do art. 1.523;
daí, então, o casamento poderá realizar-se em qualquer regime;
II. da pessoa maior de setenta anos. O Código não faz mais distinção entre o homem e a
mulher, fixando uma idade só para ambos. Basta que um dos nubentes seja maior de
setenta anos para que o regime seja o da separação obrigatória. Em matéria de regime de
bens, aplica-se a lei vigente ao tempo da celebração do matrimônio (art.2.039 do CC). Aliás,
entendimento diverso violaria o direito adquirido e o ato jurídico perfeito. Antes da Lei nº
12.344, de 9 de dezembro de 2010, era obrigatório o regime da separação de bens no
casamento da pessoa maior de 60 anos, mas a partir da aludida lei ampliou-se a idade para
70 anos. Sob o argumento de violação do princípio da dignidade da pessoa humana, a jurista
Maria Berenice Dias sustenta a inconstitucionalidade do preceito em análise, que, segundo
ela, discrimina o idoso, tratando-o como se fosse incapaz, restringindo ainda a liberdade de
afeto. Anote-se, outrossim, que não é razoável se impor o regime da separação obrigatória
de bens quando o casamento houver sido precedido por união estável iniciada antes dos
setenta anos.
III. de todos que dependerem, para casar, de suprimento judicial. Assim, dependem de
autorização judicial: (a) o casamento do menor que atingiu a idade núbil, mas que não
obteve a autorização do representante legal. O menor que já atingiu a idade núbil pode
contrair casamento em qualquer regime, desde que autorizado pelo representante legal;

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todavia a eficácia do pacto antenupcial dependerá da aprovação do seu representante legal


(art. 1.654). O Código de 1916 impunha o regime de separação ao casamento do pupilo, não
obstante a autorização do tutor. O novo Código admite a livre escolha do regime, na
hipótese de o tutor ter autorizado o casamento; (b) o casamento do menor que ainda não
atingiu a idade núbil. Aludido matrimônio é possível nas hipóteses de gravidez.

No regime da separação legal ou obrigatória, comunicam-se apenas os aquestos, isto é, os


bens adquiridos com esforço e recurso dos cônjuges na constância do casamento.
É certo, pois, que a Súmula 377 do STF preceitua:
“No regime de separação legal de bens comunicam-se os adquiridos na constância do
casamento.” Note-se que a súmula não faz menção ao esforço comum. No regime do Código de
1916, havia divergência a respeito da comunicabilidade desses bens. Desenvolveram-se duas
correntes:

1ª. na separação legal comunicam-se os bens adquiridos durante o casamento,


independentemente do esforço comum dos cônjuges. Essa doutrina, que equiparava a
separação legal à comunhão parcial, fundamentava-se no art. 259 do Código de 1916,
desconsiderando o fato de o citado dispositivo referir-se a “no silêncio do contrato”;
2ª. na separação legal comunicam apenas os bens adquiridos onerosamente com esforço
comum dos cônjuges durante o casamento. Não se comunicam os bens adquiridos a título
gratuito e os adquiridos com o produto da venda dos bens anteriores ao casamento.

Não obstante a omissão da Súmula 377 em relação à exigência do esforço comum, o próprio
STF houve por bem explicitá-la, em diversos recursos extraordinários, no sentido de que a
comunicabilidade depende da prova da existência do esforço comum.
O art. 259 do Código de 1916 dispunha que: “Embora o regime não seja o da comunhão de
bens, prevalecerão, no silêncio do contrato, os princípios dela, quanto à comunicação dos
adquiridos na constância do casamento.”
O novo Código, como vimos, não repete essa regra. Portanto, a comunicabilidade pressupõe a
existência do esforço e recurso comuns para a aquisição dos bens. Aliás, esse já era o entendimento
dominante, porque o art. 259 referia-se a “no silêncio do contrato”, sendo certo que na separação
legal não há contrato. Assim, os bens adquiridos por um só dos cônjuges, sem o esforço do outro, a
rigor, não se devem comunicar.
Cumpre observar que o intuito do legislador, ao estipular a separação obrigatória, é a
proteção do cônjuge. Mas, como adverte Sílvio Rodrigues, em muitos casos, a disposição da lei, ao
invés de beneficiar, prejudica a pessoa que se visa proteger.
Finalmente, nas hipóteses do regime de separação legal, é nulo o pacto antenupcial que
estabelece regime diverso, mas nada obsta a estipulação de pacto antenupcial para tornar ainda
mais rígido os termos da separação, prevendo, por exemplo, a incomunicabilidade dos aquestos.
No regime da separação obrigatória e da comunhão universal, os cônjuges não poderão
contratar sociedade entre si ou com terceiros (art.977 do CC). Já na separação convencional é
facultado aos cônjuges contratar sociedade entre si ou com terceiros, sendo que o pacto
antenupcial ainda poderá prever a comunicação de alguns bens e conferir ao cônjuge a
administração dos bens particulares do outro. Na separação legal ou obrigatória é proibido ao
cônjuge fazer doações ao seu consorte, sendo ainda nula a cláusula que concede ao cônjuge a
administração dos bens particulares do outro ou que mande comunicar os bens incomunicáveis; na
separação convencional, admite-se que um faça doação ao outro antes do casamento (doações

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propter nuptiae) e mesmo durante o matrimônio.

REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL

No regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens adquiridos durante o casamento,


independentemente do esforço comum dos cônjuges. Os bens anteriores ao matrimônio são
incomunicáveis. É pois o regime em que há separação de bens quanto ao passado e comunhão
quanto ao futuro
Não obstante seja o regime legal, isto é, que se impõe na hipótese de inexistência de pacto
antenupcial, ou então, de nulidade ou ineficácia deste, nada impede a elaboração de pacto de
comunhão parcial, com o intuito de delimitar os bens que cada cônjuge já possui, prevenindo-se da
presunção estatuída no art. 1.662 do CC, cujo teor é o seguinte: “No regime da comunhão parcial,
presumem-se adquiridos na constância do casamento os bens móveis, quando não se provar que o
foram em data anterior.”

Nesse regime, são excluídos da comunhão (art. 1.668):

a) os bens adquiridos antes do casamento;


b) os bens adquiridos durante o casamento, por doação ou herança. Assim, a herança não se
comunica, logo o cônjuge não tem interesse para habilitar-se no inventário dos bens
herdados por seu consorte.
c) os bens sub-rogados ou adventícios, isto é, os adquiridos com o produto da venda de um
bem anterior ao casamento, herdado ou que lhe foi doado;
d) as obrigações anteriores no casamento. Quanto às dívidas contraídas por um dos cônjuges
durante o casamento, só obrigam o outro até o limite do proveito que houver auferido (§1º
do art.1.663 do CC). Quanto às dívidas contraídas durante o casamento necessárias à
economia doméstica, ambos os cônjuges são responsáveis solidários, ainda que contraídas
por um só, qualquer que seja o regime de bens (arts. 1.643 e 1.644 do CC).
e) as obrigações provenientes de ato ilícito, salvo as que reverteram em proveito do casal.
Dispõe a súmula 251 do STJ: “a meação só responde pelo ato ilícito quando o credor, na
execução fiscal, provar que o enriquecimento dele resultante aproveitou ao casal”.
f) os bens de uso pessoal, os livros e os instrumentos de profissão. Assim, não se comunicam:
as roupas, as joias esponsalícias, retratos de família etc., devido ao seu caráter
eminentemente pessoal. Quanto aos livros, ensina Maria Helena Diniz, se forem destinados
a negócios ou constituírem, por sua grande quantidade, parcela considerável do ativo,
deverão ser comunicáveis.
g) os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge. Anote-se, porém, que se comunicam os
bens adquiridos com os proventos do trabalho, como, por exemplo, o automóvel comprado
pelo cônjuge. O FGTS e as indenizações trabalhistas não são proventos do trabalho, logo se
comunicam. Antes da Constituição de 1988, não se comunicavam os bens que a mulher
adquiria com os frutos de seu trabalho. Eram os chamados bens reservados que, diante da
igualdade entre o homem e a mulher, desapareceram do ordenamento jurídico pátrio. Não
concordo com a opinião de Maria Helena Diniz, que a incomunicabilidade seria só do direito
à percepção dos proventos, que, uma vez percebidos, integrarão o patrimônio do casal,
passando-se a ser coisa comum. Ora, o salário ou outra retribuição em razão do trabalho é
pessoal e por isso mesmo incomunicável, conforme inciso VI do art. 1.659 do CC.
h) os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento (art. 1.661).
Exemplo: compromisso de compra e venda quitado. Outro exemplo: ação reivindicatória

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movida antes do casamento, se julgada procedente durante o casamento, o imóvel não se


comunica.
i) as pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. Pensão é a prestação
mensal que, por lei, decisão judicial ou ato jurídico, é paga a alguém, para garantir-lhe a
subsistência. Meio-soldo é a metade da pensão paga ao militar reformado. Montepio é a
pensão devida aos herdeiros do servidor público falecido. Também não se comunicam as
tenças, pois é uma espécie de pensão, pagas periodicamente pelo Estado ou pessoa jurídica
de direito público ou privado ou por um particular para subsistência do beneficiário.

Nos termos do art.39 da Lei 9.610/98, “os direitos patrimoniais do autor, excetuados os
rendimentos resultantes de sua exploração, não se comunicam, seja o regime de comunhão parcial
ou universal, salvo pacto antenupcial em contrário”.
Acrescente-se, ainda, que no Código de 1916 eram excluídos da comunhão os rendimentos
dos bens de filhos anteriores ao matrimônio a que tinha direito qualquer dos cônjuges em
consequência do pátrio poder. Como se sabe, o pai e a mãe, enquanto no exercício do poder
familiar, são usufrutuários dos bens dos filhos. Não nos parece correto o outro cônjuge fruir
também do usufruto, porque este tem caráter personalíssimo, sendo, pois, intransmissível. Assim,
malgrado a omissão do legislador, cremos que esse usufruto é excluído da comunhão.

Por outro, dispõe o art. 1.660, que entram na comunhão:

I. os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome
de um dos cônjuges. No regime da comunhão parcial, presumem-se adquiridos na
constância do casamento os bens móveis, quando não se provar que o foram em data
anterior (art.1.662). Para se precaver dessa presunção e garantir a incomunicabilidade é de
boa cautela especificar no pacto antenupcial os bens móveis de cada cônjuge.
II. os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso do trabalho ou despesa
anterior. Exemplos: jogo, aposta, loteria, acessões etc.
III. os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
IV. as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
V. os frutos dos bens comuns, ou particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do
casamento, ou pendentes ao tempo em que cessar a comunhão.

Também se comunicam os rendimentos resultantes da exploração dos direitos patrimoniais


do autor, embora esses direitos em si sejam incomunicáveis (art.39 da Lei nº 9.610/1998).
A administração do patrimônio comum compete a qualquer dos cônjuges. As dívidas
contraídas no exercício da administração obrigam aos bens comuns e particulares do cônjuge que
os administra, e os do outro na razão do proveito que houver auferido (art. 1.663, § 1º). Já a
administração e disposição dos bens particulares competirá ao cônjuge proprietário, salvo
convenção diversa em pacto antenupcial (art.1.665 do CC). Tratando-se de imóvel a alienação
dependerá de outorga conjugal. Se o pacto antenupcial atribui ao marido a administração dos bens
da mulher, ele será seu representante, pois a propriedade e a posse pertencerá a ela.
A anuência de ambos os cônjuges é necessária para os atos, a título gratuito, que impliquem
cessão de uso ou gozo de bens comuns (§ 2º do art. 1.663). Quanto aos atos onerosos de cessão ou
uso do bem comum, como é o caso da locação, não há necessidade de outorga conjugal.
Em caso de malversação dos bens, o juiz poderá atribuir a administração a apenas um dos
cônjuges (§ 3º do art. 1.663).

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As dívidas, contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e
em benefícios destes, não obrigam os bens comuns (art. 1.666). Assim, por essas dívidas, não se
admite a penhora de bens do casal.
Os bens da comunhão respondem, porém, pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela
mulher para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de
imposição legal (art. 1.664).

REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL

O regime da comunhão universal implica comunicação entre os cônjuges dos bens anteriores
ou posteriores ao casamento, e das dívidas anteriores que recaem sobre esses bens. Aliás, a
comunicabilidade é extensiva à herança e doação. Trata-se, a rigor, de um meio de aquisição da
propriedade. Referido regime faz surgir a mancomunhão ou propriedade de duas mãos, que gera o
condomínio de todos os bens. Nesse regime, os cônjuges não podem contratar sociedade entre si
ou com terceiros (art.977).
Aludido regime depende de pacto antenupcial. Foi o regime legal, no Brasil, até o advento da
Lei n° 6.515/77, que o substituiu pela comunhão parcial.

Nem tudo, porém, comunica-se. Com efeito, dispõe o art. 1668 que são excluídos da
comunhão:

I. os bens doados ou herdados com cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu


lugar. A cláusula de inalienabilidade implica também incomunicabilidade e
impenhorabilidade (art. 1.911). A doação com cláusula de reversão também é
incomunicável ao cônjuge do donatário. Verifica-se esta doação quando há uma cláusula
ordenando que com a morte do donatário o bem retorna ao doador que lhe sobrevive.
II. os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada
a condição suspensiva. Dá-se, porém, a comunicação na hipótese de a propriedade
consolidar-se nas mãos do fiduciário, em razão da pré-morte ou renúncia do fideicomissário.
Igualmente, quando este, em razão do advento da condição, adquirir a propriedade dos
bens fideicometidos.
III. as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou
reverterem em proveito comum. As dívidas contraídas durante o casamento por um só dos
cônjuges, não se comunicam, salvo se reverter em benefício do casal (art.3º da Lei nº
4.121/62; §1º do art.1.663 e art.1.670 do CC). Quanto às dívidas provenientes de atos
ilícitos, contraídos durante o casamento, se comunicam, pois o Código não lhe abre exceção,
ao contrário do que ocorre na comunhão parcial, onde são incomunicáveis. As dívidas
anteriores ao casamento não se comunicam em nenhum regime de bens, mas na comunhão
universal (apenas nesse regime) se comunicam as provenientes de despesas referentes ao
casamento e as que revertem em proveito comum.
IV. as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com cláusula de
incomunicabilidade. Trata-se de mera repetição do inciso I, que já exclui da comunhão a
doação com cláusula de incomunicabilidade;
V. os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659, isto é, os bens de uso pessoal, os livros e
instrumentos de profissão (inciso V); os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge
(inciso VI); e as pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes (inciso VII).

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A incomunicabilidade dos bens acima não se estende aos frutos: estes são comunicáveis,
quando se percebam ou vençam durante o casamento (art. 1.669), sendo que cada cônjuge tem
direito à metade ideal dos frutos (civis, naturais ou industriais).
No tocante à administração dos bens, aplica-se a comunhão universal as normas da
comunhão parcial (art.1.670).
Finalmente, dispõe o art. 1.671 que “extinta a comunhão, e efetuada a divisão do ativo e do
passivo, cessará a responsabilidade de cada um dos cônjuges para com os credores do outro”.
Assim, extingue-se a comunhão universal com a dissolução da sociedade conjugal pela morte de um
dos cônjuges, sentença de nulidade ou anulação do casamento, pela separação e pelo divórcio.
Porém, o estado de indivisão dos bens só cessa quando sobrevém a partilha.

REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS

No regime de participação final nos aquestos, introduzido pelo novo Código, cada cônjuge
possui o seu patrimônio próprio durante o casamento, com a livre administração dos seus bens,
mas com a dissolução da sociedade conjugal passa a ter direito à metade dos bens que o outro
adquiriu a título oneroso durante o casamento.
Trata-se de um regime híbrido, porque, durante o casamento, vigora a separação de bens,
(com expectativa de direito à meação) mas com a dissolução da sociedade conjugal transforma-se
num regime similar à comunhão parcial, dividindo-se meio a meio o que adquiriram onerosamente.
Trata-se de um regime interessante para cônjuges que exerçam atividade empresarial ou que tenha
considerável patrimônio, conferindo-lhes maior liberdade no mundo negocial.
Conquanto cada cônjuge conserve a administração dos bens particulares anteriores e os
adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento, a alienação ou oneração dos imóveis
depende da outorga do outro. Todavia, quanto aos bens particulares, que são os incomunicáveis,
compreendendo, além de outros, os anteriores ao casamento e os sub-rogados em seu lugar, o
pacto antenupcial pode dispensar, para a alienação, a necessidade de outorga do outro cônjuge
(art. 1.656).
Em relação aos bens móveis, a alienação prescinde da anuência do outro cônjuge (parágrafo
único do art. 1.673), não obstante a presunção de terem sido adquiridos na constância do
casamento.
Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aquestos,
excluindo-se da comunhão:

I. os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;


II. os bens adquiridos por sucessão ou doação;
III. as dívidas relativas a esses bens incomunicáveis.

Na apuração dos aquestos devem ser considerados:

a) os bens adquiridos a título oneroso durante o casamento. Salvo prova em contrário,


presumem-se adquiridos durante o casamento os bens móveis (parágrafo único do art. 1.674).
Todavia, os bens móveis, em face de terceiros, presumem-se do domínio do cônjuge devedor, salvo
se o bem for de uso pessoal do outro (art.1.680). Por consequência, podem ser penhorados os bens
móveis encontrados em poder do casal, pois se presumem do cônjuge devedor, salvo se o bem for
de uso pessoal do cônjuge não devedor.
b) o valor das doações feitas por um dos cônjuges, sem a necessária autorização do outro.

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Note-se que, nos termos do art.1.647, IV do CC, é necessária a autorização do cônjuge para fazer
doação de bens comuns, ou dos que possam integrar a futura meação, salvo doação remuneratória
e doações feitas aos filhos quando casarem ou se estabelecerem com economia própria. A
avaliação é pelo valor do bem ao tempo da dissolução da sociedade conjugal. Anote-se, porém, que
o bem, se ainda não prescreveu a ação, poderá ser reivindicado pelo cônjuge prejudicado ou por
seus herdeiros, tendo em vista a anulabilidade dessa doação (art.1.675). Há uma opção para o
cônjuge ou seus herdeiros prejudicados, anular a doação, reivindicando o bem, no prazo de dois
anos, contado do término da sociedade conjugal (art.1.649 do CC).
c) o valor dos bens alienados em detrimento da meação, se não houver preferência do
cônjuge lesado, ou de seus herdeiros, de os reivindicar (art. 1.676).
d) as dívidas posteriores ao casamento, contraídas por um dos cônjuges, que tenham
revertido em proveito do outro (art. 1.677). Pelas dívidas contraídas por um dos cônjuges, de
natureza pessoal, isto é, que não beneficiaram o outro, somente o cônjuge que os contraiu
responderá, e, no caso de morte deste, os seus herdeiros só responderão até as forças da herança.
Se as dívidas pessoais do cônjuge devedor forem superior à sua meação, ainda assim o outro
cônjuge não terá qualquer responsabilidade (art.1.686).
e) os frutos dos bens incomunicáveis de cada cônjuge.

Na partilha dos bens, devem ser observadas as seguintes regras:


I) os bens imóveis pertencerão ao cônjuge em cujo nome já se encontram registrados no
Registro de Imóveis (art.1.681). Mas se o outro impugnar a titularidade, caberá ao cônjuge
proprietário provar a aquisição regular dos bens (parágrafo único do art.1.681). Assim, deve ser
evitado o condomínio, permanecendo o bem imóvel em nome do cônjuge, em cujo nome consta no
registro, competindo ao outro cônjuge receber a sua parte em dinheiro ou em outros bens.
II) sempre que possível deve ser feita a divisão de todos os bens em natureza. Se não for
possível nem viável, apura-se o valor da reposição em dinheiro ao cônjuge não proprietário. Se não
for possível também a reposição em dinheiro, os bens serão avaliados e, mediante autorização
judicial, alienados tantos quantos bastarem para a concretização da reposição (parágrafo único do
art. 1.684). Assim, com a dissolução da sociedade conjugal, cada cônjuge ficará com os bens
adquiridos antes do casamento e com metade dos bens comuns, isto é, adquiridos pelo trabalho
conjunto, em regime de condomínio. Quanto aos bens que cada um adquiriu onerosamente
durante o matrimônio, cada cônjuge ficará com os bens que adquiriu e ainda terá um crédito em
dinheiro sobre a diferença entre esses bens e os adquiridos onerosamente durante o enlace pelo
outro consorte. Portanto, os bens que cada cônjuge adquiriu não são objetos de divisão mas de
compensação, sendo que a diferença é paga em dinheiro por aquele que amealhou patrimônio
maior; se não tiver dinheiro, serão alienados, por ordem judicial, tantos bens quanto bastarem para
estabelecer a igualdade de patrimônios.
III) se um dos cônjuges solveu uma dívida do outro com bens do seu patrimônio, o valor do
pagamento deve ser atualizado e imputado, na data da dissolução, à meação do outro cônjuge (art.
1.678). Trata-se de uma compensação. Por outro lado, o direito à meação não é renunciável,
cessível ou penhorável na vigência do regime matrimonial (art. 1.682). Aliás, em nenhum regime de
bens é possível, durante o casamento, renunciar, ceder ou penhorar o direito à meação, sendo nula
a cláusula em pacto antenupcial, que disponha em sentido contrário. O direito à meação, em
qualquer regime, só pode ser pleiteado após a dissolução da sociedade conjugal. Assim, cada
cônjuge responderá por suas dívidas. A penhora só poderá recair sobre os bens administrados pelo
cônjuge devedor, preservando-se, destarte, os bens administrados pelo outro consorte. Dissolvida,
porém, a sociedade conjugal pela morte, divórcio ou separação judicial, os bens devem ser

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partilhados, podendo, então, ser penhorados pelos credores o direito à meação cabente ao cônjuge
devedor.
IV) Na dissolução do regime de bens por separação judicial ou por divórcio, verificar-se-á o
montante dos aquestos à data em que cessou a convivência (art.1.683). Não se comunicam
portanto os bens adquiridos durante a separação de fato do casal.
O regime de participação final nos aquestos, na vigência do matrimônio, assemelha-se ao
regime de separação de bens. Mas há algumas diferenças. Com efeito, no regime de separação
absoluta, o cônjuge, no silêncio do pacto, pode alienar bens imóveis particulares sem a anuência do
outro; no regime de participação final nos aquestos, essa alienação sem a anuência, no silêncio do
pacto, não é cabível; urge a autorização expressa no pacto. No regime de separação absoluta, os
bens móveis e imóveis pertencem exclusivamente ao cônjuge adquirente; no regime de
participação final nos aquestos apenas os bens imóveis são de propriedade do cônjuge em cujo
nome constar no registro, e o outro tem um direito de crédito correspondente à ½ do valor desses
bens; quanto aos bens móveis em face de terceiros, presumem-se do domínio do cônjuge devedor,
salvo se o bem for de uso pessoal do outro (art. 1.680), entre os cônjuges os bens móveis durante o
casamento pertence ao cônjuge que os adquiriu (art.1.673).
O regime de participação final nos aquestos, com a dissolução da sociedade conjugal por
separação judicial, divórcio ou morte, assemelha-se ao regime de comunhão parcial. Todavia,
distinguem-se nitidamente. Com efeito, na comunhão parcial, os cônjuges são condôminos dos
bens móveis e imóveis adquiridos a título oneroso por qualquer deles; na participação final nos
aquestos, serão condôminos apenas em relação aos bens, móveis ou imóveis, adquiridos pelo
trabalho conjunto (art. 1.679). Mas quanto aos demais imóveis, são de propriedade do cônjuge em
cujo nome constar no Registro de Imóveis, cabendo ao outro apenas um crédito sobre a metade do
valor do bem, e os demais bens móveis pertencem ao cônjuge que os adquiriu.

DIVÓRCIO

O divórcio foi introduzido, no Brasil, com a Emenda Constitucional nº 9, de 28 de junho de


1977, graças ao senador Nelson Carneiro, que dedicou quase três décadas de mandato em prol
desse instituto tão combatido pela Igreja Católica.
A regulamentação do divórcio ocorreu com a Lei n° 6.515/77. De lá para cá sofreu diversas
modificações, dentre as quais a liberdade de divorciar tantas vezes quiser, e não apenas uma única
vez, como previa o art. 38, revogado pela Lei n° 7.841/89.
Dispõe o § 6º do artigo 226 da CF, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 66, de 13
de julho de 2010:
“O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”.
Antes do advento da emenda constitucional acima, o aludido § 6º do artigo 226 da CF
apresentava a seguinte redação:
“O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais
de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos”.
Suprimiu-se, como se vê, os prazos e a exigência de separação prévia como requisito do
divórcio. É certo, pois, que o Código Civil ainda contempla essas exigências, mas referidos
dispositivos não foram recepcionados pela nova Emenda Constitucional, porquanto a lei ordinária
não pode restringir direitos constitucionais.
O divórcio, no Brasil, passou a ser imediato ou relâmpago, podendo ser requerido a qualquer
tempo, independentemente de prévia separação do casal. O prazo de reflexão, que o direito
anterior consagrava, e tinha por escopo prevenir divórcios precipitados, era combatido por uma

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parcela doutrinária, que argumentava tratar-se de uma ingerência do poder público na vida
particular.
O divórcio é um direito potestativo e incondicionado.
Potestativo, porque uma vez requerido o outro cônjuge não pode se opor ao pedido, deve
sujeitar-se à vontade do outro.
Incondicionado, porque a Constituição Federal não impõe condições para se pleitear o
divórcio, sendo possível divorciar-se sem fazer a partilha dos bens ou ainda que esteja em débito
com a obrigação alimentar.

LEGITIMIDADE ATIVA – FORO COMPETENTE

O procedimento judicial da separação ou divórcio caberá somente aos cônjuges, e, no caso de


incapacidade, serão representados por curador, ascendente ou irmão (art. 3º, § 1º, da Lei n°
6.515/77). O deficiente mental sem discernimento é considerado relativamente incapaz pelo art. 4º
do CC e, sendo assim, não há falar-se em representação, mas em assistência do curador. Ademais,
esta incapacidade, além de ser relativa, é apenas para atos patrimoniais. Em relação aos atos
extrapatrimoniais, como casamento, divórcio e outros a capacidade plena é preservada, de modo
que ele não será representado nem assistido.
Por ser a ação personalíssima, a morte de um ou de ambos os cônjuges, antes do trânsito em
julgado, provoca a extinção do processo sem julgamento do mérito.
De acordo com o art. 53 do CPC/2015 é competente o foro para a ação de divórcio,
separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;
d) de domicílio da vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7
de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha); (Incluída pela Lei nº 13.894, de 2019).
A ação de separação ou divórcio, que, por sinal, é imprescritível, tramita em varas
especializadas, consoante a legislação Estadual, ou em varas cíveis quando não houver varas
privativas.
É obrigatória a participação do Ministério Público apenas quando houver interesse de incapaz
(art. 698 do CPC/2015).

DIVÓRCIO CONSENSUAL

O divórcio consensual pode ser requerido judicialmente, em procedimento de jurisdição


voluntária, ou extrajudicialmente, através de escritura pública.
Ainda que se preencha os requisitos para a escritura pública de divórcio, nada obsta que os
requerentes façam a opção pelo procedimento judicial. Não há falar-se em falta de interesse de
agir, porque o divórcio judicial ainda tem certos atos peculiares, como a homologação por
sentença, impugnável mediante apelação, fator justificador da opção pela via judicial, tendo em
vista que qualquer irregularidade no divórcio extrajudicial só poderá ser impugnado em ação
específica.
De acordo com o art. 731 do CPC, a homologação do divórcio, observados os requisitos legais,
poderá ser requerida em petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão:
I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns. Não há necessidade da
partilha, mas é imprescindível que a petição inicial contenha a descrição dos bens. Se os cônjuges

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não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de homologado o divórcio, na forma
estabelecida nos arts. 647 a 658 do CPC.
II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges. É preciso uma cláusula que
defina a questão dos alimentos entre os cônjuges, isto é, que esclareça se haverá ou não
pagamento de alimentos e, em caso positivo, especificar o valor.
III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas. Em regra, a guarda
deve ser compartilhada. Esta cláusula sobre a guarda é a única que o juiz pode modificar para
disciplinar de forma diversa da vontade dos cônjuges, decidindo por equidade, atento ao princípio
do melhor interesse da criança. As demais cláusulas, quando abusivas, o juiz pode anular, mas não
modificá-las.
IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos. É obrigatória a fixação do valor de
dever de sustento dos filhos menores.
Basta um advogado para ambos os cônjuges, que também deverão assinar a petição inicial.
Note-se que não há previsão para a audiência de tentativa de conciliação do casal. O citado artigo
731 não faz menção ao nome do cônjuge, mas é bom que a petição inicial defina esta questão. É
direito do cônjuge continuar usando o nome de casado, pois se trata de um dos aspectos de sua
personalidade, mas também tem a opção de renunciar a esse direito. No silêncio da petição,
mantém-se o nome de casado, porquanto não se pode presumir a renúncia.
Quanto à participação do Ministério Público, só será necessária se houver interesse de
menores ou incapazes (art. 721 do CPC).
Por outro lado, consoante dispõe o art. 733 do CPC, o divórcio consensual, não havendo
nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura
pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731.
A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de
registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras (§1o
do art. 731 do CPC).
O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado
ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial (§ 2o do art. 731
do CPC).
Os requisitos essenciais à lavratura da escritura pública são:
a) inexistência de filhos menores ou incapazes. Se os filhos menores forem emancipados, a
escritura pública pode ser lavrada. Há quem entenda que seria cabível o divórcio extrajudicial desde
que solvida judicialmente as questões atinentes aos filhos menores ou incapazes sobre alimentos,
guarda e direito de visita.
b) Presença de advogado ou defensor público. O tabelião não pode indicar o advogado.
c) Cláusula descrevendo os bens comuns ou então declaração expressa da inexistência de
bens comuns.
d) Cláusula contendo a partilha dos bens comuns. Nada obsta seja a partilha realizada em
outro momento, mediante declaração expressa das partes nesse sentido.
e) Cláusula sobre o nome do cônjuge.
f) Cláusula definindo a pensão alimentícia. As partes podem fixar, ou não, uma pensão. O
destino desta pensão pode ser o cônjuge e também os filhos maiores.
Uma vez lavrada a escritura pública, a eventual nulidade deve ser pleiteada judicialmente.
Não há sigilo nas escrituras de separação ou divórcio extrajudicial.
O tabelião poderá negar-se a lavrar a escritura pública de divórcio, conforme ensina Maria
Helena Diniz, se houver fundados indícios de prejuízo a um dos cônjuges ou em caso de dúvidas
sobre a declaração de vontade, fundamentando a recusa por escrito (Resolução nº 35/2007 do CNJ

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– arts.42, 43 e 46).
Cumpre observar que em havendo filhos menores ou incapazes do casal a separação
consensual ou amigável só poderá ser pleiteada judicialmente. Assim, o tabelião do Cartório de
Notas não precisa tentar conciliar o casal, pois esta exigência não consta da lei. Não há também a
participação do Ministério Público. Admite-se a representação dos cônjuges através de
procuradores com poderes especiais (Resolução nº 35 do CNJ). Ademais, o Código Civil admite
casamento por procuração, logo nada obsta a separação ou o divórcio por procuração. É, no
entanto, necessária uma procuração por instrumento público que mencione a finalidade específica
do ato.
O divórcio extrajudicial pode ser providenciado em qualquer Cartório de Notas, pois a
competência para lavratura de atos notariais é livre, não se submetendo aos critérios de
competência processual do Código de Processo Civil.
A escritura pública de divórcio é irretratável, mas pode ser anulada judicialmente, em 4
(quatro) anos (art.178 do CC), por incapacidade ou por vício resultante de erro, dolo, coação,
estado de perigo, lesão ou fraude contra credores (art.171 do CC). Não cabe ação rescisória.

DIVÓRCIO CONSENSUAL SIMPLES E QUALIFICADO

O divórcio consensual pode ser:


a) simples ou puro: quando não há disposição sobre guarda de filhos, alimentos e/ou partilha
de bens:
b) qualificado: quando há disposição sobre guarda de filhos, alimentos e/ou partilha de bens:
Dispõe o § 5º do art. 961 do CPC:
“A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente
de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça”.
A regra acima é válida apenas para o divórcio consensual simples, hipótese em que a
sentença estrangeira, para ser eficaz no Brasil, não precisará ser homologada pelo STJ, mas apenas
averbada no registro civil das pessoas naturais.
Tratando-se, porém, de divórcio consensual qualificado, a sentença estrangeira, para produzir
efeitos no Brasil, precisará ser homologada pelo STJ.

DIVÓRCIO IMPOSITIVO

É o realizado unilateralmente por um dos cônjuges, através da via extrajudicial, junto ao


Cartório de Notas, sem o consentimento do outro.
Fundamento: o divórcio é um direito potestativo e, portanto, efetiva-se com a simples
manifestação da vontade de um dos cônjuges.
Este divórcio foi inserido nas normas da Corregedoria do Estado de Pernambuco.
O CNJ, porém, proibiu este tipo de divórcio, por falta de lei sobre o assunto.
Noutras palavras, o divórcio impositivo extrajudicial, que é feito por escritura pública, viola o
princípio da legalidade administrativa, segundo qual o administrador só pode fazer aquilo que a lei
o autoriza. Ademais, os direitos potestativos do direito de família, por envolver matéria de ordem
pública, devem ser exercidos pela via jurisdicional, salvo nos casos que a lei autoriza a via
extrajudicial. Exemplos: anulação de casamento, exclusão do herdeiro indigno, ação negatória de
paternidade.
No divórcio extrajudicial é imprescindível, segundo a lei, o acordo entre os cônjuges e a
escritura pública, sendo vedada qualquer outra inovação pela administração pública.

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DIVÓRCIO CONSULAR

As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação consensual e o


divórcio consensual de brasileiros. Os requisitos, previstos nos §§ 1º e 2º do art. 18 da LINDB,
introduzidos pela lei 12.874/2013, são:
a) que o divórcio ou separação sejam consensuais, isto é, o casal esteja de pleno acordo;
b) que ambos sejam brasileiros;
c) que não haja filhos menores ou incapazes;
d) que haja a descrição e partilha dos bens comuns;
e) que se defina os alimentos, seja para pagar ou não;
f) que se defina a questão do nome do cônjuge, isto é, se irá manter ou não o nome de
casado.
Referido divórcio é feito por escritura pública. É indispensável a assistência de advogado, mas
ele não precisará assinar a escritura pública.
O advogado é constituído na própria petição que antecede à lavratura da escritura pública. É
possível um único advogado para ambos os cônjuges ou que cada um constitua advogado
separado.

DIVÓRCIO LITIGIOSO

O divórcio litigioso ocorre quando um dos cônjuges não quer divorciar-se ou então se
encontra em local incerto e não sabido. O processo adotará o rito dos artigos 693 a 699 do
CPC/2015.
Basicamente, o procedimento dos processos contenciosos de divórcio deve observar os
seguintes atos:
a) petição inicial;
b) citação pessoal do réu para comparecer à audiência de conciliação e mediação. O mandado
de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar desacompanhado de
cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito de examinar seu conteúdo a qualquer tempo (§
1o do art. 695 do CPC). Assim, o réu não recebe a contrafé (cópia da petição inicial). O objetivo é
evitar conflito entre os cônjuges. É discutível a constitucionalidade da supressão da contrafé, pois
viola o princípio da ampla defesa. A citação ocorrerá com antecedência mínima de 15 (quinze) dias
da data designada para a audiência (§ 2o do art. 695 do CPC).
c) audiência de mediação e conciliação. Esta audiência poderá dividir-se em tantas sessões
quantas sejam necessárias para viabilizar a solução consensual, sem prejuízo de providências
jurisdicionais para evitar o perecimento do direito (art. 696 do CPC). Na audiência, as partes
deverão estar acompanhadas de seus advogados ou de defensores públicos (§ 4o do art. 695 do
CPC). Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a solução consensual da
controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento
para a mediação e conciliação. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do
processo enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a atendimento
multidisciplinar (art. 694, caput e parágrafo único do CPC). Esta audiência de conciliação e
mediação não visa reconciliar o casal, mas sim a solução amigável da lide, isto é, a conversão em
divórcio consensual, de modo que nada obsta que nesta audiência a parte esteja representada por
procurador com poderes especiais. Tanto não visa a reconciliação do casal que esta audiência não é
realizada no divórcio consensual.

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d) não realizado o acordo, passarão a incidir, a partir de então, as normas do procedimento


comum, cujo prazo para a contestação será de 15 (quinze) dias, a contar da última audiência de
mediação e conciliação (art. 697 do CPC).
Nas ações de família, o Ministério Público somente intervirá quando houver interesse de
incapaz e deverá ser ouvido previamente à homologação de acordo (art. 698 do CPC).
Quando o processo envolver discussão sobre fato relacionado a abuso ou a alienação
parental, o juiz, ao tomar o depoimento do incapaz, deverá estar acompanhado por especialista
(art. 699 do CPC).
A contestação só pode versar sobre os aspectos processuais, sendo vedada qualquer
discussão de culpa para se decidir se há ou não o direito do divórcio, pois este direito existe ainda
que haja culpa pela separação.
De fato, não há previsão legal para se abordar a culpa na ação de divórcio. Todavia, a
jurisprudência sempre admitiu a discussão de culpa para solucionar problemas incidentais
referentes aos alimentos, direito ao nome e, mais recentemente, alienação parental. Vale lembrar
que a questão da culpa é inócua em relação à guarda de filhos e partilha de bens.
Com a nova redação dada ao § 6º do artigo 226 da CF, uma parcela da doutrina passou a
sustentar que a culpa não poderia ser discutida na ação de divórcio nem mesmo para resolver os
problemas incidentais atinentes aos alimentos e direito ao nome. Ora, trata-se de uma discussão
processual, que nada tem a ver com os aspectos constitucionais do divórcio. Decretar o divórcio
sem resolver os incidentes familiares relacionados aos alimentos e uso do nome é
contraproducente, pois não soluciona por inteiro a lide familiar, gerando ações paralelas que
poderiam ser evitadas, contrariando o princípio da economia processual.

EFEITOS DO DIVÓRCIO

A sentença de divórcio, que é desconstitutiva, só produz efeitos, entre os cônjuges, após o


trânsito em julgado, sendo que, perante terceiros, os efeitos só se verificam após ela ser averbada
no registro de casamento. O efeito é, portanto, “ex nunc”.
O divórcio dissolve o casamento e não apenas a sociedade conjugal, rompendo-se todos os
vínculos entre os cônjuges. Portanto, o divórcio põe termo aos deveres de fidelidade, coabitação e
mútua assistência, mas em nada modifica os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos,
mantendo-se, portanto, o poder familiar. Com efeito, dispõe o caput do art. 1.579 do CC: “O
divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos”. E o parágrafo único
acrescenta que: “Novo casamento de qualquer dos pais, ou de ambos, não poderá importar
restrições aos direitos e deveres previstos neste artigo”.
A partir do divórcio, a eventual reconciliação dos cônjuges terá efeito de união estável, a não
ser que venham a casar-se novamente. Nesse novo casamento, poderão optar por um regime de
bens diverso do primeiro matrimônio.
Ao contraírem novas núpcias, podem divorciar-se novamente. A lei não impõe limites ao
número de divórcios.
A sentença de divórcio é averbada no assento de casamento (art. 32 da Lei n° 6.515/77). Com
efeito, dispõe o citado artigo 32: “A sentença definitiva do divórcio produzirá efeitos depois de
registrada no Registro Público competente”. Dessa sentença cabe apelação. Antes desse registro,
não produzirá efeitos perante terceiros. Esta sentença tem eficácia ex nunc, não apagando,
portanto, os efeitos gerados pelo casamento antes dela. O falecimento de um dos cônjuges após a
sentença, mas antes do trânsito em julgado, extingue o processo e o estado civil do sobrevivente é
de viúvo, não de divorciado, pois a sentença de divórcio é desconstitutiva e não produz efeitos

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senão depois do trânsito em julgado.


O divórcio extingue o regime de bens, os efeitos civis do casamento religioso que estiver
registrado no Registro Civil e ainda faz cessar o direito sucessório dos cônjuges, que deixam de ser
herdeiros. O divórcio ainda viabiliza novo casamento dos divorciados. Se os cônjuges divorciados
quiserem restabelecer a união conjugal só poderão fazê-lo mediante novo casamento (art. 33 da Lei
nº 6.515/77), não se admitindo, destarte, a reconciliação do casamento anterior.
Quanto aos alimentos, no divórcio consensual, a petição inicial deverá fixar o valor da pensão
do cônjuge que dela necessitar para a sua manutenção, e indicará as garantias para o cumprimento
da obrigação assumida (art. 40, § 2º, II, da Lei n° 6.515/77). Nada obsta também que haja renúncia
aos alimentos.
No divórcio litigioso, qualquer dos cônjuges que necessitar pode requerer ao juiz o
arbitramento da pensão. Todavia, se o outro relutar a essa obrigação e pretender obter a
declaração judicial de culpa do consorte, com o fito de livrar-se da obrigação alimentar, uma
parcela da doutrina sustenta que a questão alimentar deverá ser ventilada em ação autônoma,
porque em divórcio descabe a discussão de culpa. Todavia, há diversos julgados admitindo a
discussão de culpa na própria ação de divórcio para dirimir questões atinentes a alimentos, uso do
nome do cônjuge e alienação parental. Este último ponto de vista é o mais adequado, porquanto
soluciona, de forma mais ampla e célere, a lide familiar.
Sobrevindo, porém, a sentença de divórcio, sem que se tenha pleiteado os alimentos, em
ação autônoma ou incidentalmente, cessa o direito de requerê-los, tendo em vista a extinção de
todos os deveres conjugais.
Se o cônjuge que recebe a pensão contrair novo casamento, união estável ou concubinato,
ocorrerá a exoneração da obrigação alimentar (art. 1.708). Também cessa essa obrigação se tiver
procedimento indigno em relação ao cônjuge devedor dos alimentos (parágrafo único do art.
1.708). O novo casamento do cônjuge devedor, porém, não extingue a obrigação alimentar (art.
1.709).
Por outro lado, o Código foi flexível com o nome do divorciado, permitindo a sua
manutenção. No silêncio, mantém-se o nome, pois a renúncia deve ser expressa.
Finalmente, quanto à guarda dos filhos e direito de visita, a decisão é por equidade, em favor
do interesse do menor.
Os ex-cônjuges, embora divorciados, podem adotar conjuntamente. Com efeito, dispõe o §4º
do art.42 da Lei nº 8.069/90: “Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros
podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde
que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja
comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da
guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão”.

GUARDA

O instituto da guarda compartilhada sempre contou com o apoio doutrinário, porque, em


regra, é o que melhor observa o princípio constitucional do melhor interesse da criança e do
adolescente, previsto no art. 227 da CF, além de concretizar entre os pais e o menor o princípio da
solidariedade social e familiar, estampado no art. 3°, I, da Magna Carta, amparando-se, outrossim,
no princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1°, III, da CF).
Estes três princípios acima inspiraram o legislador a editar a Lei 11.698, de 13 de junho de
2008, consagrando, na legislação pátria, a guarda compartilhada, que, mesmo à míngua de
legislação específica, já vinha sendo aceita pelos nossos tribunais. Posteriormente, adveio a lei

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13.058/2.014, que regulou a matéria de forma mais detalhada.


Na órbita do direito de família, a guarda consiste no poder- dever de manter-se na companhia
permanente de certas pessoas que se encontram sob sua responsabilidade, com o fito de protegê-
las.
O Código Civil disciplina, nos arts. 1.583 e seguintes, a guarda dos filhos menores, mas seus
preceitos também se aplicam à guarda dos filhos maiores incapazes (art.1.590).
Trata-se de um dos atributos do poder familiar, tutela e adoção, prescindindo-se, nesses
casos, de ordem judicial, porque a viabilização da guarda emana diretamente da lei.
Nada obsta, porém, que, mediante ordem judicial, se atribua a guarda a outra pessoa,
mantendo-se, no entanto, o poder de representação ou assistência do menor aos pais ou tutor,
conforme a hipótese.
Com efeito, dispõe o § 5° do art. 1584 do CC:
“Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a
guarda à pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de
preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade”. Aliás, o juiz, mesmo na
ação cautelar de separação de corpos, pode deferir a guarda a terceiro (art. 1.585).
Assim, o guardião do menor nem sempre é o seu representante legal, salvo quando a guarda
for exercida pelos pais, tutor ou adotante, quando, então, na mesma pessoa se reúnem a
titularidade da guarda e do poder de representação.
Por outro lado, não se pode confundir a guarda, que é a convivência física permanente, com o
direito de visita, que é a companhia transitória. O direito de visita pode ser estendido aos avós e
pessoas com quem a criança ou adolescente tem vínculo afetivo, como no caso do padrasto,
atendendo-se, destarte, ao seu melhor interesse. O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os
filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou
for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação (art.1.589).
Sobre as modalidades de guarda, cumpre destacar 3 (três), a saber:
a) Guarda unilateral: é a atribuída a apenas um dos genitores, que terá o menor sob sua
companhia física permanente, concedendo-se ao outro o direito de visita, geralmente em dia e
horário determinados judicialmente. Com efeito, dispõe o § 1° do art. 1583, em sua primeira parte,
que compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou alguém que o
substitua. A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os
interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte
legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos
ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus
filhos (§5º do art. 1.583 do CC). Assim, o genitor que não detém a guarda pode inclusive ajuizar a
ação de prestação de contas sobre as verbas destinadas à saúde e educação. Quanto aos demais
assuntos, a lei é omissa sobre a possibilidade de ajuizamento de prestação de contas, paira
controversa, uns negam, enquanto outros admitem. A novidade desse §5º, introduzido pela lei
13.058/2.014, foi tornar expressa a legitimidade do genitor para mover ação de prestação de
contas em face do outro em assuntos relacionados à saúde e educação dos filhos.
b) Guarda alternada: é a atribuída simultaneamente a ambos os genitores, de modo que, em
determinados dias da semana, o menor permanece sob a companhia de um deles, e, nos demais
dias, na companhia do outro.
c) Guarda compartilhada: é a atribuída a ambos os genitores, fixando-se, porém, a residência
do menor em apenas um dos lares, deferindo-se, contudo, ao outro o direito de conviver com o
filho durante a semana. A cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela que melhor
atender aos interesses dos filhos. O tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma

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equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos
filhos. Este convívio é a forma de exercício da guarda compartilhada, distinguindo-se do direito de
visita. Aliás, na guarda compartilhada não há falar-se em direito de visita em prol dos genitores,
pois ambos desfrutam da guarda. Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de
convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar (§3º do
art.1.584).
Note-se que, na guarda alternada, o menor reside em ambos os lares, ostentando, pois, dupla
residência, ao passo que, na guarda compartilhada, o menor reside, tão somente, no lar de um dos
genitores. Ambas, no entanto, têm um ponto comum, que é a eliminação do direito de visita,
porquanto o convívio entre os pais e o filho revela-se de forma contínua.
Em contrapartida, na guarda unilateral, defere-se ao genitor que não a detém apenas o
direito de visita, que é o contato espaçado no tempo, em regra, quinzenal, aos sábados e domingos,
ao passo que, na guarda compartilhada, o convívio se verifica em diversos horários da semana,
fixando-se, no acordo, os diversos encontros entre o genitor e o filho (exemplo: almoço com o filho
em determinados dias da semana).
Referentemente à guarda que melhor atende aos três princípios constitucionais referidos
anteriormente, a doutrina moderna revela uniformidade de vistas ao apontar a compartilhada,
porque aproxima pai e filho, fortificando-se os laços afetivos, contribuindo para o aperfeiçoamento
da personalidade do menor.
Quanto à guarda unilateral, deve ser reservada para as hipóteses em que, por alguma razão
plausível, não for possível a guarda compartilhada, conforme se dessume do § 2° do art. 1584 do
CC, que lhe confere caráter subsidiário. Com efeito, dispõe o referido dispositivo legal: “Quando
não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os
genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor”. Assim, a guarda unilateral só
é deferida em três hipóteses. A primeira é o acordo entre os genitores. A segunda ocorre quando
um deles não se encontra apto a exercer o poder familiar. A terceira se verifica quando um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor. Note-se que, com o advento
desse §2º, introduzido pela lei 13.058/2.014, em não havendo acordo nem declinação expressa da
guarda, esta será atribuída a ambos os genitores de forma compartilhada.
No tocante à guarda alternada, não deve ser aplicada, sequer é prevista em lei, porquanto o
menor que a ela se submete não tem um lar, expondo-se assim ao risco da perda de um referencial
de vida.
Por outro lado, na guarda compartilhada, a responsabilidade é conjunta do pai e da mãe,
conforme reza a 2ª parte do § 1º do art. 1583, de modo que ambos são responsáveis pelos danos
que os filhos menores, por dolo ou culpa, causarem a terceiros ainda que ao tempo do evento
estivesse em poder de apenas um deles, ao passo que, na guarda unilateral, somente responde o
genitor em cuja companhia se encontrava o menor ao tempo do ato lesivo (art. 932, I, do CC).
Quantos aos alimentos, são devidos também na guarda compartilhada, porque a ampliação
do convívio com o filho menor não elimina o dever de contribuir para o seu sustento.
A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para exercê-la e,
objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores:
a) afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar;
b) saúde e segurança;
c) educação.
Vê-se, portanto, que não se trata da melhor condição financeira e sim o melhor afeto e

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disposição para garantir saúde, segurança e educação ao menor.


A guarda, unilateral ou compartilhada, pode ser concedida de ofício pelo juiz ou mediante
requerimento conjunto ou separado dos genitores (art. 1584 do CC). O inciso II do art. 1584 do CC
autoriza o juiz a decidir por uma ou outra guarda, em atenção às necessidades específicas do filho,
como, por exemplo, doença, ou em razão da distribuição do tempo necessário ao convívio deste
com o pai e com a mãe.
A guarda, unilateral ou compartilhada é decidida em ação autônoma de guarda ou na ação de
separação, de divórcio, de dissolução da união estável ou em medida cautelar, conforme dispõe o
art. 1584, I, do CC. Aludido rol, a meu ver, é exemplificativo, podendo, por exemplo, a guarda ser
decidida na ação de nulidade ou anulação de casamento. O art. 1.585 do CC ainda acrescenta que,
antes de conceder a liminar de guarda de filhos, o juiz preferencialmente ouvirá ambas as partes,
salvo se a proteção aos interesses dos filhos exigir a concessão da liminar sem a oitiva da outra
parte.
É obrigatória a participação do Ministério Público no processo que envolve guarda, conforme
art. 698 do CPC/2015.
Dispõe o §1° do art. 1584 do CC que na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e a
mãe o significado da guarda compartilhada, a sua importância e similitude de deveres e direitos
atribuídos aos genitores e as sanções pelo descumprimento das suas cláusulas. Portanto, na guarda
compartilhada, os direitos e deveres dos genitores não precisam ser idênticos, mas devem ser
semelhantes. Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob a
guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se
em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar.
A sentença de guarda deve ser cumprida pelas partes, sob pena de incidirem nas sanções do §
4° do art. 1584 do CC, cujo teor é o seguinte:
“A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado da cláusula de guarda, unilateral
ou compartilhada, poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor”.
O dispositivo acima, na verdade, refere-se não só ao descumprimento das cláusulas da guarda
compartilhada como também à violação das cláusulas do direito de visita na guarda unilateral,
estabelecendo sanções, cuja aplicação, evidentemente, depende de decisão judicial prolatada em
ação autônoma. Urge, para que incida essas severas sanções, que o fato seja grave, observando-se
sempre o princípio do melhor interesse do menor.
Por outro lado, o pai ou a mãe que contrair novas núpcias não perde o direito de ter consigo
os filhos, que só lhe poderão ser retirados por mandado judicial, provado que não são tratados
convenientemente (art. 1.588).
Finalmente, o §6º do art.1 .584 preceitua que qualquer estabelecimento público ou privado é
obrigado a prestar informações a qualquer dos genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa
de R$200,00 (duzentos reais) a R$500,00 (quinhentos reais) por dia pelo não atendimento da
solicitação.

UNIÃO ESTÁVEL

INTRODUÇÃO

O Código de 1916 não disciplinou a união estável.

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Esta, devido principalmente à proibição do divórcio, expandiu-se sobremaneira.


Na jurisprudência, iniciou-se a evolução do instituto e aos poucos o legislador também se
sensibilizou. Com efeito, o Decreto-lei n° 7.036/44, já revogado, admitiu que a companheira
figurasse como beneficiária em acidentes do trabalho; a Lei n° 4.242/63 a habilitou como
dependente para fins de dedução de imposto de renda; e a Lei n° 6.015/73 permitiu a inclusão do
patronímico do companheiro.
O art. 226, § 3º, da Constituição de 1988 colocou a união estável sob a proteção do Estado,
reconhecendo-a como entidade familiar.
Mas a regulamentação do instituto sobreveio apenas com a Lei n° 8.971/94, que estipulou aos
companheiros os seguintes direitos:
a) meação dos bens adquiridos com esforço comum;
b) condição de herdeiro, na ausência de descendentes e ascendentes;
c) alimentos;
d) direito de usufruto no caso de morte do companheiro, de ¼ (um quarto) da herança se o
de cujus deixou descendentes e ½ (metade) se deixou ascendentes.
Pouco tempo depois, o legislador editou a Lei n° 9.278/96, prevendo os seguintes direitos:
a) meação dos bens adquiridos onerosamente durante a união estável, presumindo o esforço
comum;
b) alimentos;
c) direito de habilitação, no caso de morte do companheiro, sobre o imóvel que servia de
residência do casal;
d) ações em vara de família;
e) conversão em casamento.
A Lei n° 9.278/96 não tratou da vocação hereditária nem do usufruto vidual.
Desenvolveram-se duas correntes acerca da revogação da Lei n° 8.971/94.
A primeira preconizando a sua revogação global, porque a nova lei disciplinou
substancialmente a matéria (art. 2º da LINDB).
A segunda sustentando apenas a revogação parcial, mantendo-se os direitos não
disciplinados na nova lei, isto é, a vocação hereditária e o usufruto.
Anote-se que a Lei n° 8.971/94 condicionava a concessão daqueles direitos a uma convivência
de no mínimo 5 (cinco) anos, salvo se houvesse filho em comum, ao passo que a Lei n° 9.278/96
contentava-se com uma convivência duradoura.
A Lei n° 8.971/94 negava aqueles direitos se um ou ambos fossem casados; a Lei n° 9.278/96
não fazia essa restrição, tutelando, portanto, a convivência com pessoa casada, mas separada de
fato do cônjuge.
O Código Civil, por outro lado, disciplinou substancialmente a matéria versada nas duas leis
anteriores, fornecendo um conceito de união estável e fixando os seguintes direitos:
a) meação dos bens, nos moldes do regime de comunhão parcial;
b) condição de herdeiro;
c) alimentos;
d) conversão em casamento.
Creio que foram revogadas as Leis 9.278/96 e 8.971/94, pois o Código Civil disciplinou toda
matéria. Ademais, o artigo 2.043 do CC, quanto às leis especiais, ressalvou apenas a vigência das
disposições de natureza processual, administrativa e penal, revogando implicitamente as normas de
direito civil.
Entretanto, sob o argumento de que a lei geral não revoga a especial, uma corrente sustenta
que as duas leis se encontram em vigor no que forem compatíveis, mantendo-se o usufruto vidual

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da Lei nº 8.971/94 e o direito de habitação previsto na Lei nº 9.278/96, revogando-se o resto,


porquanto disciplinado pelo Código Civil.

CONCEITO

União estável é a convivência pública, contínua e duradoura, entre homem e mulher,


estabelecida com o objetivo de constituição de família (art. 1.723).
Passo à análise dos elementos deste conceito:
a) Convivência: não precisa ser sob o mesmo teto (súmula 382 do STF). De fato, o princípio do
domicílio conjugal não é aplicável à união estável.
b) Pública: a convivência deve revestir-se de uma certa notoriedade social, isto é, de uma
aparência de casamento, porque a lei exige a publicidade. Conforme ensina Maria Helena Diniz, não
se tem união estável se os encontros forem furtivos e secretos, embora haja prática reiterada de
relações sexuais.
c) Contínua: deve ainda ter uma durabilidade sem interrupções, não se podendo somar as
idas e vindas do casal.
d) Duradoura: alguns autores chamam a união estável de usucapião do direito de família. O
Código, a exemplo da Lei n° 9.278/96 preferiu silenciar sobre o lapso temporal necessário à
caracterização da durabilidade, relegando a análise desse requisito ao prudente arbítrio do
magistrado.
e) Entre o homem e a mulher: o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, com o
objetivo de constituir família, denomina-se união homoafetiva que, por isonomia, gera os mesmos
direitos que a união estável.
f) Fim de constituir família: primordial, para a caracterização da união estável, é o objetivo de
constituir família, caso contrário o instituto se confundiria com o “namoro longo”. A meu ver, o
objetivo de constituir família deve ser extraído do cumprimento dos deveres que a lei atribui aos
conviventes, outrossim, pelo comprometimento em viverem uma vida única.
Convém esclarecer que o registro da união estável no registro civil de pessoas naturais é
meramente declaratório, sendo dispensável, pois a união estável o antecede.
Também não é necessária a dependência econômica, mas se esta se caracteriza facilita-se o
reconhecimento da união estável.

Contrato de namoro

O contrato de namoro é nulo quando a situação fática for de união estável, pois representa
fraude à lei de ordem pública e ainda gera enriquecimento indevido a um dos contratantes.

Namoro qualificado

O chamado “namoro qualificado”, que é o fato de namorados morarem juntos, mas sem o
“animus maritatis”, isto é, sem o fim de constituir família, não constitui união estável, pois o fim de
constituir família exige efetivo compartilhamento de vida, com irrestrito apoio moral e material
entre os companheiros.
Vê-se assim que é possível conviver sob o mesmo teto sem que haja união estável e, por outro
lado, caracterizar-se a união estável sem que haja a convivência sob o mesmo teto.

DEVERES DA UNIÃO ESTÁVEL

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Dispõe o art. 1.724 que “as relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres
de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos”.
Quanto ao dever de fidelidade, não consta expressamente na lei e, diante disso, uma corrente
sustenta que não há este dever na união estável, ao passo que outra, mais correta, defende que a
fidelidade encontra-se embutida no dever de lealdade.
O plenário do STF, por seis votos a cinco, decidiu, com base no princípio da monogamia e na
consagração do dever de fidelidade, que uniões estáveis simultâneas não podem ser reconhecidas.
Assim, de acordo com a Excelsa Corte, a declaração judicial de união estável é impedimento
ao reconhecimento de uma outra união paralelamente estabelecida por um dos companheiros
durante o mesmo período (RE 1.045.273).

DISTINÇÃO ENTRE UNIÃO ESTÁVEL E CONCUBINATO

O Código distinguiu a união estável de concubinato, atribuindo direito à primeira e negando


ao segundo.
A união estável, que é o relacionamento entre pessoas desimpedidas, ocorre quando:
a) nenhum dos conviventes é casado;
b) ambos são casados, mas separados de fato;
c) apenas um é casado, mas está separado de fato.
Em contrapartida, a expressão concubinato o legislador reservou para as relações contínuas
entre o homem e a mulher, impedidos de se casarem (art. 1.727).
Assim, a mulher que vive em concubinato denomina-se concubina e a que vive em união
estável, companheira.
O concubinato pode ser:
a) adulterino: quando um ou ambos os concubinos são casados;
b) incestuoso: quando os concubinos não podem contrair casamento entre si, em razão de
vínculo de parentesco ou afinidade. Exemplos: união entre irmãos ou com a sogra;
c) desleal: quando um ou ambos os concubinos já convivem em outra união estável. Nesse
caso, o primeiro relacionamento é união estável e o segundo concubinato, pois exegese inversa
deixaria sem proteção a união estável.
O Código também considera concubinato, e não união estável, o relacionamento com a
pessoa condenada por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte (art. 1.521 c/c §
1º do art. 1.723).
Antes da Constituição de 1.988, a doutrina usava o termo concubinato, que podia ser:
a) puro ou próprio: quando nenhum dos conviventes era casado. É o que hoje se denomina
união estável.
b) impuro ou impróprio: era o concubinato adulterino ou incestuoso. É o que hoje se
denomina concubinato.
A união estável é classificada como entidade familiar, que merece a proteção do Estado e, por
isso, gera inúmeros direitos: regime de bens, alimentos, herança, etc.
Em contrapartida, o concubinato não é protegido pelo Estado, classifica-se como sendo
sociedade de fato, e não propriamente uma entidade familiar, de modo que não gera nenhum
daqueles direitos.
O único direito que o concubinato gera é a partilha dos aquestos, que são os bens adquiridos
durante o relacionamento mediante esforço econômico comum, hipótese em que se impõe a
partilha, independentemente da boa-fé, com o intuito de se evitar o enriquecimento sem causa

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(súmula 380 do STF).


A divisão dos aquestos não é “pro rata”, mas proporcional à contribuição de cada um em
relação à aquisição dos bens.
Diferentemente, na união estável, comunicam-se os bens adquiridos onerosamente durante o
relacionamento, independentemente de esforço comum, conferindo-se meação ao companheiro,
de modo que a divisão desses bens é “pro rata”, por igual, e não proporcional à contribuição
econômica de cada um.
O relacionamento com pessoa casada, mas separada de fato, é tratado como união estável,
por força do §1º do art. 1.723, devendo, nesse caso, ser presumido o esforço comum em relação
aos bens adquiridos onerosamente durante a união estável, efetuando-se a partilha “pro rata”, e
não na medida da contribuição de cada um.
O assunto, porém, não é pacífico, pois há os que defendem, nesta situação, a imposição do
regime da separação obrigatória de bens, pois o divorciado, que se casa sem fazer a partilha, incide,
por força de lei, neste regime que, por isonomia, também deverá ser imposto à união estável com
pessoa casada separada de fato, tendo em vista a ausência de partilha dos bens oriundos
casamento.

CONCUBINATO PUTATIVO

O concubinato putativo é o que produz efeitos de união estável pelo fato de um dos
concubinos desconhecer a situação impeditiva.
Assim, se houver boa-fé, isto é, desconhecimento do parentesco ou do casamento do outro,
aplica-se, por analogia, as normas que regem o casamento putativo, atribuindo os efeitos de união
estável.

CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL: HIERARQUIA E ISONOMIA

A união estável foi reconhecida pela Constituição Federal como entidade familiar, deixando de
ser, portanto, uma simples sociedade de fato.
Uma primeira corrente, defendida por Maria Helena Diniz, apregoa a posição de
superioridade do casamento, com base no §3º do art.226 da CF, que prevê que a lei deve facilitar a
conversão da união estável em casamento, sinalizando assim que este é fonte geradora de mais
direitos, caso contrário a referida conversão não teria razão de ser.
Uma outra corrente, dominante, com base no princípio da isonomia, equipara a união estável
ao casamento, concedendo aos companheiros todos os direitos dos cônjuges.
Segundo Maria Berenice Dias inexiste hierarquia entre os dois institutos, o texto
constitucional lhes confere especial proteção do Estado, sendo ambos fontes geradoras de família
do mesmo valor jurídico, sem qualquer adjetivação discriminatória, de modo que onde a lei se
refere a cônjuge, é necessário ler-se cônjuge ou companheiro.
Esta última orientação preconiza que os direitos que a lei prevê para o casamento também se
aplicam à união estável, mas as restrições não, pois não se pode fazer analogia em normas
restritivas de direitos.
Assim, em relação às causas suspensivas do casamento não inibem a caracterização da união
estável (§ 2º do art. 1.723).
Nessas hipóteses, o casamento é válido, mas no regime da separação de bens.
A união estável, no entanto, no silêncio, será no regime da comunhão parcial.
Igualmente, o menor que se casa com alvará judicial incidirá no regime da separação

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obrigatória de bens, mas a união estável será no regime da comunhão parcial.


O maior de 70 anos que constitui união estável, no silêncio, seguirá o regime da comunhão
parcial, pois as hipóteses de casamento no regime da separação legal são normas restritivas de
direito, que não admitem analogia.
Outra corrente, ao revés, também estende a isonomia às normas restritivas, de modo que,
nas hipóteses acima, a união estável também seria no regime da separação legal de bens.

COMPROVAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL

Os documentos que comprovam, por si só, a união estável são os seguintes:


a) escritura pública de união estável, lavrada em tabelionato de notas.
b) termo declaratório de união estável, formalizado perante o oficial de registro civil.
c) escritura particular de união estável;
d) sentença judicial transitada em julgado, prolatada em ação declaratória de reconhecimento
de união estável.
A presença de um dos documentos acima comprova, por só, a união estável, mas com
presunção relativa, podem ser impugnados judicialmente, em ação anulatória de ato jurídico, sendo
que a união reconhecida por sentença judicial, pode ser impugnada por ação rescisória ou ação
anulatória, conforme a sentença tenha sido prolatada em procedimento de jurisdição contenciosa
ou voluntária.
É importante frisar que o contrato de convivência depende consentimento de ambos os
companheiros, podendo ser documentado em escritura pública ou particular ou em de termo
declaratório de união estável.
Aludido contrato não cria a união estável, mas é um forte indício da sua existência, podendo,
no entanto, ser questionado judicialmente, gozando, no entanto, de presunção de veracidade até
que sobrevenha sentença que o anule.
O contrato de convivência está sujeito a condição suspensiva, pois só produz efeitos se a
união estável se concretizar.
Quanto às outras provas da convivência, como e-mails, gravações, declaração unilateral,
fotografias, testemunhas, etc., poderão ser utilizadas para comprová-la na ação de reconhecimento
de união estável, onde será possível a produção de todos os meios de provas admitidos pelo
ordenamento jurídico.

COMPROVAÇÃO DA EXTINÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL

A extinção da união estável se verifica automaticamente com a cessação da convivência


“more uxório”, ainda que permaneçam sob o mesmo teto, podendo ser comprovada por dois
documentos:
a) distrato;
b) sentença transitada em julgado, prolatada em ação de dissolução de união estável.
O distrato é a extinção da união estável, por acordo entre os companheiros.
O distrato é possível por escritura pública, desde que não haja nascituro ou filhos incapazes,
ao passo que o distrato por escritura particular é assunto polêmico.
Inicialmente, será examinada a escritura pública de distrato de união estável.
Com efeito, a extinção consensual de união estável, nos termos do art. 733 do CPC, poderá ser
realizada por escritura pública, desde que não haja nascituro ou filhos incapazes, hipótese em que
terá que ser judicial.

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A escritura pública, que deverá ser assinada por ambos os companheiros, deverá constar:
a) a descrição dos bens;
b) a partilha dos bens comuns, mas, se não houver acordo entre os companheiros, a partilha
poderá ser feita depois;
c) o valor pensão alimentícia entre os companheiros ou a eventual renúncia.
A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de
registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras (§1º
do art. 733 do CPC).
O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado
ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial (§ 2º do art. 733 do
CPC).
Em não havendo consenso entre os companheiros, outrossim, quando não houver nascituro
ou filhos incapazes, conforme art. 733 do CPC, a dissolução terá que ser feita através de ação
judicial.
Passo agora à análise do distrato por escritura particular, que indubitavelmente é possível,
cingindo-se a discussão apenas em saber se servirá por si só como prova da dissolução da união
estável ou apenas como começo de prova para uma eventual ação de dissolução de união estável.
Há duas interpretações.
Primeira, é possível, com base na autonomia da vontade, comprovar por si a dissolução, pois
se a união estável pode ser constituída por escritura particular, não há razão para se vedar a
dissolução por este meio.
Em amparo a está exegese, o art. 219 do CC dispõe que as “declarações constantes de
documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários”.
Segunda, a escritura particular, conquanto possível, não comprovará, por si só, a dissolução
da união estável, pois o art. 733 do CPC faz menção à escritura pública, exigindo ainda a
participação de advogado, além de outros requisitos, conferindo assim ao ato formalidades
especiais, que se revelam incompatíveis com a escritura particular.

AÇÕES DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL

A ação de reconhecimento de união estável visa obter a declaração judicial da sua existência.
A ação de dissolução de união estável, por sua vez, almeja a declaração judicial de sua
extinção.
Em ambas as ações, a legitimidade ativa é do companheiro ou companheira.
Quanto ao credor, em face do caráter íntimo e pessoal destas ações, não desfruta de
legitimidade ativa.
Em caso de morte, será possível ao companheiro supérstite propor ação de reconhecimento
ou dissolução de união estável “post mortem”, em face dos herdeiros e do cônjuge, em
litisconsórcio necessário, e, se houver cumulação com partilha de bens ou petição de herança, o
espólio também deverá figurar no polo passivo.
Se o companheiro ou companheira falecer sem propor a ação de reconhecimento ou
dissolução de união estável, os herdeiros terão legitimidade para propô-las, mas, caso haja
cumulação com partilha de bens ou petição de herança, o espólio deverá também ser adicionado ao
no polo ativo.
De acordo com o art. 53, I, do CPC/2015, o foro competente para a ação de reconhecimento
ou dissolução de união estável é o:
a) do domicílio do guardião de filho incapaz;

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b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;


c) do domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal.
Aludidas ações tramitam em vara de família, se houver, devendo observar o procedimento
especial previsto para as ações de família (arts. 693 a 699 do CPC/2015).
O Ministério Público somente intervirá quando houver interesse de incapaz (art. 698 do
CPC/2015).
A união estável nasce da convivência e se extingue com a cessação desta.
Por consequência, tanto a ação de reconhecimento quanto a de dissolução da união estável
geram sentenças meramente declaratórias, com eficácia retroativa ao surgimento ou cessação da
situação fática.

EFEITOS DA UNIÃO ESTÁVEL

A união estável atribui aos companheiros os seguintes direitos:


a) regime de bens;
b) possibilidade de alteração do regime de bens;
c) alimentos;
d) herança;
e) nome;
f) permissão para a adoção em conjunto;
g) conversão em casamento;
h) ações em vara de família;
i) possibilidade de registro civil.
Há ainda outros efeitos polêmicos, que são os seguintes:
a) direito real de habitação;
b) usufruto vidual;
c) estado civil;
d) presunção “pater is est”;
e) indenização pelos serviços domésticos.

REGIME DE BENS

Dispõe o art. 1.725:


“Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações
patrimoniais, no que couber, o regime de comunhão parcial de bens”.
O Código consagrou entre os conviventes o regime da comunhão parcial, comunicando-se,
grosso modo, dentre outros:
a) os bens adquiridos onerosamente durante a união estável;
b) os bens adquiridos, durante a união estável, por fato eventual;
c) os frutos dos bens particulares e outros (art. 1.660).
O Enunciado 346 do CJF dispõe: “Na união estável o regime patrimonial obedecerá à norma
vigente no momento da aquisição de cada bem, salvo contrato escrito”.
À primeira vista, a outorga do companheiro também seria necessária para alienar bens
imóveis, prestar fiança ou aval e outras matérias constantes no art. 1.647 do Código Civil, mas a
expressão “no que couber”, prevista no art. 1.725 do Código Civil, indica que nem todas as normas
da comunhão parcial são aplicáveis à união estável, limitando-se a incidência apenas quanto às
normas que disciplinam os bens que se excluem e os que entram na comunhão.

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Entretanto, outra corrente reputa anulável as alienações de imóveis feitas sem outorga do
companheiro. Ainda que se considere o negócio como válido, o companheiro lesado terá direito de
indenização contra o outro companheiro, pelo prejuízo advindo da alienação, preservando-se os
interesses do adquirente de boa-fé, em homenagem à segurança dos negócios jurídicos.
Por outro lado, o Código ressalva aos conviventes a opção por outro regime, mediante
contrato escrito de convivência, que pode ser por escritura pública ou particular.
Entretanto, o prestigiado jurista Carlos Roberto Gonçalves, assevera que o contrato de união
estável não pode abranger bens anteriores ao início da convivência, visto que essa convenção
escrita não é equivalente ao pacto antenupcial; por isso apenas mediante escritura pública de
doação de bens, imóveis ou móveis valiosos, poderia um convivente estipular sua comunhão.
Ora, este ponto de vista, na prática, torna inócuo o regime da comunhão universal, sendo
certo que não há qualquer empecilho legal para a abrangência de bens anteriores.

POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS

Na união estável, a alteração do regime de bens, por isonomia ao casamento, também


depende de decisão judicial, proferida em procedimento de jurisdição voluntária instaurado de
comum acordo por ambos os companheiros (STJ, informativo 563).
O entendimento acima, “data venia”, se revela incoerente, à medida que a dissolução da
união estável dispensa a intervenção judicial.
Ora, se a dissolução, que provoca a extinção da entidade familiar, prescinde de sentença
judicial, se revela ilógica a exigência de intervenção judicial para a simples alteração do regime de
bens.

ALIMENTOS

Os companheiros podem pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de
modo compatível com a sua condição social, inclusive, para atender às necessidades de sua
educação (art. 1.694).
Na separação judicial litigiosa, o cônjuge declarado culpado, sofre alteração no seu direito aos
alimentos.
O parágrafo único do art.1.704 do CC dispõe: “Se o cônjuge declarado culpado vier a
necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o
trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à
sobrevivência”.
Creio que essa regra deve ser estendida à união estável, isto é, o companheiro declarado
culpado não terá direito aos alimentos, salvo na hipótese do parágrafo único do art. 1.704.
Com efeito, a Constituição de 1988 ordena que a lei facilite a conversão da união estável em
casamento.
Fere assim o espírito Constitucional a concessão ao companheiro de vantagens não atribuídas
ao cônjuge, porque desmotivaria a conversão acima mencionada.
Assim, se no casamento a declaração de culpa influi na obrigação alimentar, com maior razão
quando se tratar de união estável.
Por outro lado, o casamento, união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de
prestar alimentos (art. 1.708).
Cessa também se tiver procedimento indigno em relação ao devedor (parágrafo único do art.
1.708).

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Mas o casamento, união estável ou concubinato do devedor não gera a extinção da obrigação
de prestar alimentos.
Finalmente, alguns civilistas sustentam que os alimentos provisórios, isto é, concedidos
liminarmente, só são admissíveis quando houver documento comprobatório da união estável.
Outros, ao revés, acertadamente, asseveram que, em não havendo documento, o juiz deve marcar
uma audiência de justificação prévia, decidindo, em seguida, sobre a liminar.

DIREITOS SUCESSÓRIOS

O tratamento díspar em matéria sucessória entre a união estável e o casamento, segundo o


Plenário do STF, se revela inconstitucional.
Dessa forma, os direitos sucessórios do companheiro devem ser os mesmos que a lei prevê
para o cônjuge, por força do princípio da isonomia, sendo, pois, inconstitucional o art. 1.790.
De fato, o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 1790 do CC, que dispunha o seguinte:
“A companheira ou companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas seguintes condições:
I. se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for
atribuída ao filho;
II. se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que
couber a cada um daqueles;
III. se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV. não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.
A sucessão prevista neste art. 1.790 se restringe aos bens adquiridos onerosamente durante a
união estável.
O legislador, neste art. 1.790, na ânsia de estimular a conversão desta em casamento, não
previu a sucessão:
a) dos bens adquiridos antes da união estável;
b) dos bens adquiridos durante a união estável, mas a título gratuito.

NOME

Dispõe o § 2º do art. 57 da LRP, com relação dada pela Lei 14.382/2022;


“Os conviventes em união estável devidamente registrada no registro civil de pessoas naturais
poderão requerer a inclusão de sobrenome de seu companheiro, a qualquer tempo, bem como
alterar seus sobrenomes nas mesmas hipóteses previstas para as pessoas casadas”.
Aludido direito, como se vê, só é atribuído às uniões estáveis devidamente registradas no
registro civil de pessoas naturais, em requerimento dirigido ao oficial de registro civil.
Entretanto, por interpretação lógica, também é possível a inclusão do nome do companheiro,
na própria escritura pública de união estável ou no termo declaratório de união estável, formalizado
perante o oficial de registro civil, mas, nestas hipóteses, o direito ao uso do nome permanecerá
suspenso até que o respectivo ato seja registrado no registro civil das pessoas naturais.
De fato, no casamento, a opção pelo sobrenome do cônjuge pode ser feita na fase de
habilitação, antes, portanto, do matrimônio, de tal sorte que não há razão plausível para se obstar
que, na união estável, a opção seja também feita na própria escritura pública ou no termo
declaratório de união estável.
Cumpre destacar que o registro da união estável será feito no Livro E do registro civil de
pessoas naturais do local da residência dos companheiros.

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Quanto à união estável com pessoa casada, mas separada de fato, não é registrável no
registro civil, salvo quando houver sentença declaratória de reconhecimento de união estável,
transitada em julgado (art. 94-A da Lei 6.015/73).
Por consequência, na referida hipótese, o uso do sobrenome do companheiro só será possível
quando houver sentença declaratória de reconhecimento de união estável, transitada em julgado.
Igualmente, a união estável formalizada apenas por escritura particular, por falta de previsão
legal, conforme se pode observar do disposto no 94-A da Lei 6.015/73, também não é passível de
ser registrada no registro civil, circunstância que também impede a inclusão do sobrenome do
companheiro.
Por outro lado, a alteração posterior ao registro civil da união estável, para se incluir ou
excluir o sobrenome do companheiro ou companheira, poderá ser requerida pessoalmente, a
qualquer tempo, perante o oficial de registro civil, independentemente de autorização judicial,
averbando-a nos assentos de nascimento e de união estável (art. 57, “caput”, c/c seu § 2º, da Lei
6.015/73).
O requerimento deve ser feito pessoalmente, vedando-se a representação por procurador,
ainda que munido de poderes especiais.
A lei não exige, para a inclusão do sobrenome, o consentimento do companheiro, de tal sorte
que se trata de um direito potestativo incondicionado.
Assim como no casamento, o companheiro poderá, a qualquer tempo, requerer pessoalmente
ao oficial do registro civil:
a) a inclusão ou exclusão de sobrenome do companheiro, na constância da união estável;
b) a exclusão de sobrenome do ex-companheiro, após a dissolução da união estável.
O § 3º-A do art. 57 da LRP reza, porém, que:
“O retorno ao nome de solteiro ou de solteira do companheiro ou da companheira será
realizado por meio da averbação da extinção de união estável em seu registro”.
O dispositivo acima deve ser freado pela interpretação restritiva, pois, numa exegese literal,
fere a real vontade do legislador, que é a permitir que, na união estável, seja possível a alteração do
sobrenome, nas mesmas hipóteses previstas para as pessoas casadas, conforme consta
expressamente no § 2º do art. 57 da LRP.
Por consequência, o retorno ao nome de solteiro ou de solteira do companheiro ou da
companheira pode ser feito na constância da união estável, por força do art. 57, II, da Lei 6.015/73,
que concede este direito às pessoas casadas.
Outrossim, por isonomia ao casamento, após a dissolução da união estável, é ainda possível se
manter o sobrenome do companheiro ou companheira, em função do § 2º do art.1.571 do CC que,
no divórcio, defere esta prerrogativa ao ex-cônjuge, o que é reafirmado pelo art. 57, III, da Lei
6.015/73.
Assim, o citado §3º-A do art. 57 da LRP só é aplicável ao companheiro que se manifestar
expressamente pela exclusão do sobrenome do outro.
Ou seja, a averbação da extinção de união estável no registro civil não é causa automática de
exclusão do sobrenome do companheiro ou companheira, sob pena de violação do princípio da
isonomia e do §2º do art. 57 da LRP, que, nas mesmas hipóteses previstas para as pessoas casadas,
permite a alteração do sobrenome do companheiro ou companheira.
Por fim, no concubinato, não será possível se adotar o sobrenome do concubino, pois a lei só
se refere à união estável; ademais, o concubinato não pode ser registrado no registro civil.

ADOÇÃO CONJUNTA

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Dispõe o §2º do art.42 da Lei nº 8.069/90:


“Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou
mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família”.
É ainda possível que um dos companheiros adote filho do outro. É a chamada adoção
unilateral, mantendo-se o adotado o vínculo com a família biológica (§1º do art.41 do ECA).

CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

A união estável, desde que não haja impedimento legal para o matrimônio, poderá ser
convertida em casamento, ainda que não esteja registrada no registro civil das pessoas naturais.
Há, destarte, impedimento legal para casamento, vedando-se, por consequência, a conversão,
ainda que a união estável tenha sido reconhecida por sentença, nas seguintes situações:
a) união estável com pessoa casada, que esteja separada de fato.
b) união estável com pessoa separada judicialmente.
c) união estável com pessoa separada extrajudicialmente.
Quanto ao concubinato, adulterino ou incestuoso, não poderá obviamente ser convertido em
casamento.
A conversão da união estável em casamento deverá ser requerida pelos companheiros
perante o oficial de registro civil de pessoas naturais de sua residência (art. 70-A da Lei 6.015/73,
incluído pela Lei 14.382/2022).
Operou-se assim a revogação tácita do art. 1726 do CC que, para a conversão da união estável
em casamento, exigia decisão judicial.
Aliás, esta exigência de decisão judicial era inconstitucional, pois, em vez de facilitar,
dificultava a conversão, violando o art. 226, §3º da CF.
Em caso de requerimento de conversão de união estável por mandato, a procuração deverá
ser pública e com prazo máximo de 30 (trinta) dias (§2º do art. 70-A).
Recebido o requerimento, será iniciado o processo de habilitação sob o mesmo rito previsto
para o casamento, e deverá constar dos proclamas que se trata de conversão de união estável em
casamento (§1º do art. 70-A).
Se estiver em termos o pedido, será lavrado o assento da conversão da união estável em
casamento, independentemente de autorização judicial, prescindindo o ato da celebração do
matrimônio (§3º do art. 70-A).
Quanto ao falecimento da parte no curso do processo de habilitação, não impedirá a lavratura
do assento de conversão de união estável em casamento (§7º do art. 70-A).
Não constará do assento de casamento convertido a partir da união estável a data do início ou
o período de duração desta, salvo no caso de prévio procedimento de certificação eletrônica de
união estável realizado perante oficial de registro civil (§6º do art. 70-A).
Assim, salvo na hipótese de prévio procedimento de certificação eletrônica de união estável,
realizado perante oficial de registro civil, não se atribui efeito retroativo à conversão, mas a
retroatividade poderá ser pleiteado em ação judicial específica.
O assento da conversão da união estável em casamento será lavrado no Livro B, sem a
indicação da data e das testemunhas da celebração, do nome do presidente do ato e das
assinaturas dos companheiros e das testemunhas, anotando-se no respectivo termo que se trata de
conversão de união estável em casamento (§4º do art. 70-A).
A conversão da união estável dependerá da superação dos impedimentos legais para o
casamento, sujeitando-se à adoção do regime patrimonial de bens, na forma dos preceitos da lei
civil (§5º-A do art. 70-A).

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COMPETÊNCIA DAS VARAS DE FAMÍLIA

A Lei nº 9.278/96 atribuiu a competência às Varas de Família, onde houver, para as ações
sobre união estável.
Todavia, o art. 125 da CF atribui aos Estados-membros a competência para disciplinar a sua
organização judiciária.
A lei federal deve restringir-se à fixação das comarcas competentes.
Portanto, a Lei nº 9.278/96, em seu art. 9º, que atribui a competência às Varas de Família,
padece de inconstitucionalidade, porque usurpou a competência legislativa dos Estados-membros.
De qualquer maneira, a competência é sim das varas de família, mas não com base na Lei nº
9.278/96, mas com base no art. 226, § 3º, da Constituição Federal, que reconheceu na união estável
uma entidade familiar.
Portanto, a legislação estadual, sob pena de inconstitucionalidade, deve amoldar-se à
Constituição para atribuir a competência às Varas de Família, onde houver, assegurado-se o segredo
de justiça.

POSSIBILIDADE DE REGISTRO

O registro da união estável será feito no Livro E do registro civil de pessoas naturais do local
da residência dos companheiros.
Só será, entretanto, possível o referido registro no Livro E, nos termos do art. 94-A da Lei
6.015/73, quando houver:
a) sentença declaratória de reconhecimento de união estável, transitada em julgado.
b) termo declaratório de união estável, formalizado perante o oficial de registro civil.
c) escritura pública declaratória de união estável.
Não poderá, entretanto, ser promovido o registro, no Livro E:
a) união estável de pessoa casada, que esteja separada de fato, ainda que formalizada por
escritura pública, pois, nesse caso, a lei só admite o registro se a declaração da união estável
decorrer de sentença judicial transitada em julgado (§1º do art. 94-A da Lei 6.015/73).
b) união estável formalizada por escritura particular ou termo extrajudicial, lavrados no Brasil.
No tocante à união estável de pessoas separadas judicialmente ou extrajudicialmente, podem
ser registradas no aludido no Livro E (§1º do art. 94-A da Lei 6.015/73).
A união estável formalizada no exterior, ainda que através de termos extrajudiciais e
instrumentos particulares, também poderá ser levada a registro no Livro E do registro civil de
pessoas naturais em que qualquer dos companheiros tem ou tenha tido sua última residência no
território nacional, desde que ao menos um dos companheiros seja brasileiro (§2º do art. 94-A da
Lei 6.015/73).
Aludido registro só será possível se os documentos estiverem legalizados ou apostilados e
acompanhados de tradução juramentada (§3º do art. 94-A da Lei 6.015/73).

DIREITO REAL DE HABITAÇÃO

Quanto ao direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado a residência da


família, estatuído pela Lei nº 9.278/96, em caso de morte do companheiro, há duas correntes.
A primeira sustenta a manutenção desse direito, porque a lei geral não revoga a especial (art.

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2º da LINDB).
Anote-se, porém, que o direito de habitação cessa quando o seu titular contrair nova união ou
se casar, conforme parágrafo único do art. 7º da lei 9.278/96.
A segunda proclama a sua revogação, porque o Código disciplinou todos os assuntos versados
pela Lei n° 9.278/96, omitindo apenas o direito de habitação, sinal de que quis eliminá-lo.
Ademais, o artigo 2.043 do CC, quanto às leis especiais, ressalvou apenas a vigência das
disposições de natureza processual, administrativa e penal, revogando implicitamente as normas de
direito civil.
A jurisprudência admite o direito de habitação, com base na isonomia, porquanto o cônjuge
desfruta também desse direito.
Só haverá, porém, direito de habitação do imóvel destinado à residência do casal em duas
situações:
a) imóvel comum, ou seja, pertencente a ambos os companheiros;
b) imóvel que pertencia exclusivamente ao companheiro falecido.
Quanto ao imóvel também pertencente a outra pessoa, em condomínio com um ou ambos os
companheiros, não pode ser objeto de direito real de habitação, sob pena de injustificável afronta
ao direito de propriedade.

USUFRUTO VIDUAL

A lei n° 8.971/94 estipulou aos companheiros o direito de usufruto no caso de morte do


companheiro, de ¼ (um quarto) da herança se o de cujus deixou descendentes e ½ (metade) se
deixou ascendentes.
Entretanto, a lei n° 9.278/96 não tratou do usufruto vidual.
Desenvolveram-se duas correntes acerca da revogação da lei n° 8.971/94.
A primeira preconizando a sua revogação global, porque a nova lei disciplinou
substancialmente a matéria (art. 2º da LINDB).
Ademais, o Código Civil, que é lei posterior, disciplinou toda matéria de união estável e não
contemplou o usufruto vidual, que também não é previsto ao cônjuge.
A segunda sustentando apenas a revogação parcial, mantendo-se os direitos não disciplinados
na nova lei, isto é, o usufruto.

ESTADO CIVIL

A união estável gera consequências jurídicas e por isso alguns autores sustentam que se trata
de um novo estado civil.
Outros, ao revés asseveram que a lei não a define como estado civil.
Ora, trata-se de um novo estado civil, qualificando-se como “companheiro” ou união estável,
e no caso de morte do companheiro, será tido como viúvo.
Como o STF proclamou a isonomia com o casamento, não resta dúvida que a união estável é
sim um estado civil, entendimento que se consolida com o advento da Lei 14.382/2022, que passou
a admitir o seu registro no registro civil das pessoas naturais.

PRESUNÇÃO “PATER IS EST”

De acordo com o art.1.597 do CC presumem-se do marido os filhos concebidos na constância


do casamento.

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Uma corrente aplica esta presunção à união estável, com base no princípio da isonomia,
dispensando a ação de investigação de paternidade quando o companheiro falecido deixar a
companheira grávida, desde que haja prova documental da união estável, podendo, nesse caso, o
filho ser registrado no nome do companheiro morto.
Outra corrente não aceita esta presunção na união estável, pois é uma norma específica do
casamento.

INDENIZAÇÃO PELOS SERVIÇOS DOMÉSTICOS

Em não havendo patrimônio comum a partilhar, uma corrente sustenta que a companheira
deve ser remunerada pelos serviços rurais e domésticos que ela prestou durante o tempo de
convivência, evitando-se assim o enriquecimento ilícito daquele que se aproveitou do seu trabalho
e dedicação.
Outra corrente lhe nega este direito, visto que ela já é beneficiária da verba alimentar.
No concubinato, tendo em vista que não há direito aos alimentos, uma corrente sustenta que
a concubina poderia pleitear a indenização pelos serviços domésticos, com base na proibição do
enriquecimento sem causa.

PARENTESCO

O parentesco é o vínculo entre pessoas provenientes do mesmo ancestral, ao passo que


afinidade é o vínculo que se estabelece entre o cônjuge ou companheiro e os parentes do outro.
Esse conceito de parentesco é insuficiente, pois não compreende o parentesco decorrente da
adoção e de outras origens. Para adequar esse conceito ao direito moderno, basta considerar que o
ancestral comum pode ser biológico, adotivo ou afetivo.

ESPÉCIES DE PARENTESCO

O parentesco pode ser natural e civil. No primeiro, o vínculo é consanguíneo; no


segundo, deriva da adoção. O Código, porém, os equipara. O Código Civil, aliás, ampliou o
parentesco civil para as hipóteses de filhos havidos de inseminação artificial heteróloga (art. 1.597,
inciso V, do Código Civil). Modernamente, a Escola do Direito de Família Constitucional, cujo vetor
máximo de interpretação é o princípio da dignidade da pessoa humana, vem ampliando ainda mais
o parentesco civil, nele incluindo o filho sócio-afetivo, isto é, o filho de “criação”. Assim, o
parentesco civil é o que resulta de qualquer outra origem que não seja a biológica, abrangendo a
adoção, a fecundação heteróloga e o vínculo socioafetivo. Com efeito, dispõe o art.1.593 do CC: “O
parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”. A propósito
dispõe o Enunciado 103 do CJF/STJ: “O Código Civil reconhece no art.1.593, outras espécies de
parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo, assim, a noção de que há também
parentesco civil no vínculo parental proveniente quer das técnicas de reprodução assistida
heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuem com seu material fecundante, quer
da paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado de filho”. O Enunciado 256 do CJF reza
que: “A posse do estado de filho (parentalidade sociafetiva) constitui modalidade de parentesco
civil”.
O parentesco natural, por sua vez, pode ser duplo ou simples, conforme derive dos dois
genitores ou somente de um deles, conforme esclarece Maria Helena Diniz.

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CONTAGEM DE GRAUS

O parentesco é instaurado por linhas e graus. Linha é a vinculação da pessoa a um ancestral


comum. Grau é a distância entre uma geração e outra.
Na linha reta, a pessoa é descendente da outra; restringindo-se o parentesco aos ascendentes
e descendentes.
Na linha colateral ou transversal ou oblíqua, a pessoa não é descendente da outra; mas
ambas emanam do mesmo ancestral comum.
Na linha reta, o parentesco é contado pelo número de gerações. Cada geração representa um
grau. Assim, pai e filho são parentes de 1º grau; avô e neto, de 2º grau.
Na linha colateral, o parentesco também é contado pelo número de gerações, subindo de um
dos parentes até o ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente. Portanto, não
há colateral de 1º grau, porque entre um colateral e outro há sempre que se contar o ascendente
comum.
De fato, dispõe o art.1.594: “Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número
de gerações, e, na colateral, também pelo número delas subindo de um dos parentes até ao
ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente”.
Na linha reta, o parentesco é infinito. Na linha colateral, é limitado até o quarto grau,
compreendendo apenas os irmãos (colaterais de 2º grau); tios e sobrinhos (colaterais de 3º grau);
tios-avós, sobrinhos-netos e primos irmãos, todos eles colaterais de 4º grau. O Código de 1916
previa o parentesco colateral até o sexto grau, mas para fins sucessórios já o limitava ao quarto
grau. Os irmãos bilaterais ou germanos são os que tem o mesmo pai e a mesma mãe. Irmãos
unilaterais são os que tem apenas um genitor em comum; quando apenas a mãe é a mesma, elas
são eles são irmãos maternos ou uterinos; se apenas o pai for comum, são irmãos paternos ou
consaguíneos.

AFINIDADE

Vimos que a afinidade é o vínculo entre o cônjuge ou o companheiro e os parentes do outro.


A novidade do código é a extensão da afinidade à união estável. Sobre o assunto, dispõe o art.1.595
caput do CC: “Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da
afinidade”.
Na linha reta, os afins de primeiro grau são: sogro, sogra, genro, nora, padastro, madrasta,
enteado e enteada. Mas essa afinidade é infinita, abrangendo todos os ascendentes e
descendentes. Assim, por exemplo, a pessoa tem vínculo de afinidade com o pai do seu sogro. O
vínculo de afinidade não gera direitos aos alimentos ou à herança, mas o enteado ou enteada pode
adotar o nome do padrasto ou madrasta, conforme art.57, §8º da Lei nº 6.015/73, cujo teor é o
seguinte: “O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§2º e 7º deste
artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome
da família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem
prejuízo de seus apelidos de família”.
Na linha colateral, a afinidade é restrita aos colaterais de segundo grau, isto é, aos irmãos
do cônjuge ou companheiro, os chamados cunhados (§1º do art.1.595).
A afinidade é um vínculo personalíssimo, isto é, estritamente pessoal entre um cônjuge ou
companheiro e os parentes do outro, de modo que os afins de cada cônjuge não são afins entre si.
Assim, por exemplo, não há qualquer afinidade entre os concunhados. Igualmente, não há
afinidade entre o sogro e a mãe de sua nora.
Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união

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estável, persistindo, portanto, o impedimento matrimonial (§2º do art.1.595). Não existe, por
exemplo, ex-sogra ou ex-nora, porque, não obstante o divórcio, o vínculo continua. Se o sujeito
contrair novo casamento, desfrutará de duas sogras.
Na linha colateral, a afinidade desaparece com a dissolução do casamento pela morte,
divórcio, nulidade ou anulação. De cunhados passam a ser ex-cunhados, sendo perfeitamente lícito
o casamento entre eles. A mera separação judicial, porém, não tem o condão de romper o vínculo
de afinidade, de modo que o concubinato com a cunhada será tido como incestuoso e não se
revestirá da proteção legal. Com a nulidade ou anulação do casamento, extingue-se, como vimos, a
afinidade, inclusive a em linha reta, salvo na hipótese de boa-fé de um ou ambos os cônjuges
(casamento putativo).

FILIAÇÃO

CONCEITO

Filiação é o vínculo de parentesco com a pessoa que a gerou ou a adotou.


A Constituição de 1988, além de estabelecer a igualdade entre os filhos, ainda proibiu qualquer
designação discriminatória, de modo que a classificação acima tornou-se inconstitucional, tendo apenas
efeitos históricos.
Aliás, dispõe o art. 1.596:
“Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”

A PRESUNÇÃO PATER IS EST QUEM NUPTIA DEMONSTRANT

O novo Código amplia as hipóteses de presunção da paternidade do marido.


Com efeito, dispõe o art. 1.597 que se presumem concebidos na constância do casamento:
I. os filhos nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência
conjugal.
O início do prazo é o início da convivência conjugal, e não a data da celebração do casamento.
Não há presunção de paternidade em relação aos filhos nascidos antes desse prazo de cento
e oitenta dias.
II. os filhos nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por
morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento. Não há presunção de paternidade em
relação aos filhos nascidos após o aludido prazo de trezentos dias. Após o divórcio, se nascer algum
filho, também não há presunção de paternidade, porque a lei não contempla essa hipótese. Se, por
outro lado, antes de decorrido o prazo de trezentos dias, a mulher contrair novas núpcias e lhe
nascer algum filho, este se presume do primeiro marido. Essa presunção, além de ser relativa, só é
aplicável à hipótese de falecimento do primeiro marido, tanto é que o art. 1.598 refere-se a filho
nascido “dentro dos trezentos dias a contar do falecimento deste”. Assim, na hipótese de
dissolução da sociedade conjugal por separação judicial, nulidade e anulação de casamento, vindo a
mulher a contrair novas núpcias e a nascer algum filho, dentro dos trezentos dias a contar da
dissolução da sociedade conjugal, a solução será a seguinte:
a. presume-se do primeiro marido se o filho nasceu antes dos cento e oitenta dias a contar do
início da convivência conjugal com o novo marido;
b. presume-se que é do primeiro e do segundo marido, se o filho nascer depois de cento e
oitenta dias a contar do início da convivência conjugal com o novo marido. A nosso ver, o registro

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deverá ser feito no nome daquele marido que a mulher indicar, competindo ao outro mover ação
judicial para reverter essa situação.
III. os filhos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido. Diz-se
homóloga a inseminação artificial realizada com sêmen e óvulo dos próprios cônjuges. Sobre o
assunto, ainda dispõe o Enunciado 106 do CJF: “Para que seja presumida a paternidade do marido
falecido, será obrigatório que a mulher, ao se submeter a uma das técnicas de reprodução assistida
com o material genético do falecido, esteja na condição de viúva, sendo obrigatório, ainda que haja
autorização escrita do marido para que se utilize seu material genético após sua morte”. Sem essa
autorização, os embriões devem ser eliminados, pois não se pode presumir que alguém queira ser
pai após a morte.
IV. os filhos havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários,
decorrentes da concepção artificial homóloga. Embriões excedentários são aqueles ainda não
introduzidos no útero materno. O Enunciado 107 do CJF dispõe que: “Finda a sociedade conjugal,
na forma do art.1.571, a regra do inciso IV somente poderá ser aplicada se houver autorização
prévia, por escrito, dos ex-cônjuges, para a utilização dos embriões excedentários, só podendo ser
revogada até o início do procedimento de implantação desses embriões”.
V. os filhos havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização
do marido. Heteróloga é a inseminação artificial em que o material genético, masculino ou
feminino, ou ambos, é oriundo de um terceiro. Para alguns autores, a presunção de paternidade,
nesse caso, é absoluta para o marido que anuiu no projeto de reprodução assistida heteróloga. Na
verdade, a presunção pode ser afastada se se provar a existência de dolo ou fraude. A autorização
do marido, para que se leve a efeito a inseminação artificial, só pode ser revogada até o momento
da inseminação. Feita a inseminação, a autorização é irrevogável diante da proibição do venire
contra factum proprium. A presunção de paternidade existe mesmo após a morte do marido. Por
analogia à adoção, não há qualquer vínculo entre a criança e o doador do material genético, salvo
quanto aos impedimentos matrimoniais.

AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE

A ação negatória de paternidade tem o objetivo de desfazer a presunção pater is est, que, em
relação ao marido é relativa (juris tantum), mas em relação a terceiros a presunção é absoluta, pois
a legitimidade para impugnar a paternidade é exclusiva do marido.
Cabe ao marido o direito de propô-la, mas se este for incapaz, a meu ver, a ação poderá ser
ajuizada por seu curador, porque o novo Código, ao contrário do anterior, não usa a expressão “cabe
privativamente ao marido”, limitando-se a dizer “cabe ao marido”. Portanto, o marido poderá propô-la
pessoalmente ou fazendo-se representar por seu curador.
Se o marido falecer antes do ajuizamento da ação, seus herdeiros não poderão propô-la.
Trata-se de ação personalíssima. Todavia, se o falecimento ocorrer após o ajuizamento da ação, os
herdeiros têm o direito de prosseguir na ação (parágrafo único do art. 1.601). Anote-se, ainda, que
se o nascimento do filho ocorrer depois de trezentos dias, a contar do falecimento do marido, não
há falar-se em presunção de paternidade, de modo que, nesse caso, os herdeiros podem impugnar
a paternidade, tendo em vista a nulidade absoluta do registro de nascimento, salvo na hipótese de
embriões excedentários decorrentes de concepção artificial homóloga, prevista no art. 1.597, IV.
No novo Código, a ação negatória de paternidade é imprescritível (art. 1.601). No Código de
1916, o prazo variava entre dois a três meses, conforme o marido se encontrasse ausente ou
presente durante o nascimento (art. 178, §§ 3º e 4º).

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O Código não limita os fundamentos da ação negatória. Esta pode basear-se numa infinidade
de fatos, ao contrário do Código de 1916, que restringia os fundamentos da ação às hipóteses de o
marido, no período da concepção, encontrar-se fisicamente impossibilitado de coabitar com a
mulher ou legalmente separado dela. Não obstante o sistema incondicionado do novo Código, o
art. 1.599 preceitua que a prova da impotência para gerar, à época da concepção, ilide a presunção
de paternidade. Trata-se de dispositivo inócuo, porque a ação negatória pode basear-se noutros
fundamentos. O art. 1.600 ressalva, porém, que não basta o adultério da mulher, ainda que
confessado, para ilidir a presunção legal de paternidade.
A ação é movida em face do presumido filho. Se este for incapaz, será representado ou
assistido por sua mãe, conforme a incapacidade seja absoluta ou relativa.
O foro competente é o domicílio do réu, em Varas de Família, onde houver.
O rito é o especial, previstos nos arts. 693 a 699 do CPC/2015. O Ministério Público deverá
participar do processo como custos legis, salvo se não houver interesse de incapaz (art. 698 do
CPC/2015).
Na contestação, torna-se inadmissível o reconhecimento do pedido, porque a lide é sobre
direito indisponível.
Se a ação não for contestada, ainda assim torna-se inviável o julgamento antecipado da lide,
porque o ônus da prova compete ao autor, não se presumindo verdadeiros os fatos narrados na
inicial. O julgamento antecipado da lide só é possível quando os fatos estiverem devidamente
comprovados por documento.
Na hipótese de procedência da ação, a sentença, conquanto desconstitutiva, retroage à data
da concepção do indigitado filho, desfazendo-se a presunção de paternidade. A sentença é
averbada à margem do registro de nascimento (art.29, §1º, da Lei 6.015/73).
Note-se, ainda, que, no novo Código, as presunções de paternidade são sempre relativas.
Todas elas podem ser impugnadas pela ação negatória de paternidade.
O art. 339 do Código de 1916 considerava absoluta a presunção de paternidade do filho nascido
antes dos cento e oitenta dias, a contar do início da convivência conjugal, se o marido, antes de casar,
tinha ciência da gravidez da mulher e assistiu a lavratura do termo de nascimento do filho, sem contestar
a paternidade. Em ambos os códigos, não há presunção de paternidade em relação aos filhos nascidos
antes de decorridos os cento e oitenta dias. Mas, no Código de 1916, se o marido presenciasse o
reconhecimento do filho em seu nome a presunção de paternidade passava a ser absoluta. No novo
código, a presunção é relativa, ilidível ainda que ele assista à lavratura do termo de nascimento do filho,
sem contestar a paternidade.

ADOÇÃO À BRASILEIRA

Adoção à brasileira é o fato de registrar filho alheio como próprio. Não configura erro ou falsidade
no registro, logo não pode ser anulada, pois o vínculo de filiação se formou pela via afetiva, de modo que
o registro civil retrata a verdade afetiva. Não obstante o caráter criminoso do fato (art.242 do CP), o
vínculo de filiação afetiva não pode ser rompido nem mesmo pelo rompimento da convivência, pois a
paternidade é irrenunciável.

FILIAÇÃO SOCIAL OU AFETIVA OU SOCIOAFETIVA

Referida filiação é identificada pela presença do vínculo afetivo paterno-filial. É também


chamada de filiação psicológica. De acordo com Maria Berenice Dias, funda-se no melhor interesse

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da criança e na dignidade da pessoa humana, segundo o qual pai é o que exerce tal função, mesmo
que não haja vínculo de sangue.
Os fundamentos legais da filiação sociafetiva são:
a) A amplitude da expressão “outra origem”, prevista no art.1.593 do CC, que abrange não só
a adoção como também outros vínculos distintos da consaguinidade. Com efeito, reza o citado
dispositivo legal: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consaguinidade ou outra
origem”.
b) O conceito de posse do estado de filho, que a rigor é a filiação socioafetiva, admitida como
prova da filiação no art.1.605, II, do CC. A posse do estado de filho funda-se no vínculo de
afetividade, num ato de vontade que predomina sobre a filiação biológica. Ao autor da ação de
investigação de paternidade, conforme ensina Maria Berenice Dias, “não basta provar que o réu é o
seu pai biológico, pois para poder ser reconhecido o estado de filiação é necessário comprovar que
não desfruta do estado de filiação afetiva”. Assim, a existência do vínculo afetivo do autor com
outrem inviabiliza o reconhecimento da filiação biológica. Todavia, o direito de conhecer a origem
genética, a própria ascendência, é um direito fundamental, um direito da personalidade. Trata-se
de um direito individual, personalíssimo, e não significa necessariamente direito a filiação. Seu
exercício não significa inserção em relação de família”. Modernamente, distingue-se o pai do
genitor. O primeiro é o que cria caracterizando-se pelo vínculo afetivo; o segundo, apenas gera,
caracterizando-se pelo vínculo biológico.

RECONHECIMENTO DOS FILHOS

CONCEITO

O reconhecimento é o ato que faz nascer o parentesco jurídico entre pais e filhos. Filho não
reconhecido não é filho perante a lei.

ESPÉCIES

O reconhecimento pode ser espontâneo e forçado. Espontâneo ou voluntário é o que


prescinde de ação judicial, emanando de ato de vontade do pai ou mãe.
O forçado, coativo ou judicial, é o decorrente de sentença prolatada em ação de investigação
de paternidade ou maternidade.

FORMAS DE RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO

De conformidade com o art. 1.609, o reconhecimento dos filhos pode ser feito das seguintes
formas:
I. no registro de nascimento. É a chamada perfilhação. Esse reconhecimento é feito no ato da
lavratura do assento de nascimento. Se a mulher for casada, o marido não precisa comparecer ao
ato, porque a paternidade é presumida. Basta o comparecimento dela, munida da certidão de
casamento, para que o filho seja também registrado em nome dele. A não ser, é claro, quanto aos
filhos nascidos antes dos cento e oitenta dias a contar do início da convivência conjugal. Nesse caso,
urge que o marido compareça, por si ou por procurador especial, para que o reconhecimento possa
ser concretizado. Após a lavratura do registro, não é lavrado outro registro, de modo que as outras
formas de reconhecimento geram averbações no registro, mas a certidão de nascimento, para

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evitar descriminação, não faz menção ao reconhecimento posterior, simplesmente nela constará os
dados de filiação que faltavam.
II. por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório. Assim, após a
lavratura do assento de nascimento, o reconhecimento ainda pode ser feito por escritura pública
ou particular, que será averbada no Registro de Nascimento (art. 29, § 1º, d, da Lei nº. 6.015/75).
Todavia, a certidão de nascimento não poderá fazer qualquer menção a esse fato, para evitar
discriminação, de modo que esse documento será idêntico ao expedido no caso de perfilhação. O
documento particular deve visar especificamente o reconhecimento, ainda que em uma simples
declaração, ou missiva. Uma parcela da doutrina rejeita o reconhecimento feito incidentalmente
em escrito particular. Quanto à escritura pública, não precisa ser específica a esse fim, podendo o
reconhecimento ser feito incidentalmente, por exemplo, numa escritura de compra e venda e até
mesmo em pacto antenupcial.
III. por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. Qualquer espécie de testamento,
público, particular, cerrado, militar, marítimo ou aeronáutico, presta-se ao reconhecimento, ainda
que contenha outras disposições. Quanto ao codicilo, a meu ver, é meio hábil para o
reconhecimento, porque se trata de um escrito particular, amoldando-se a hipótese no inciso
anterior;
IV. por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja
sido objeto único e principal do ato que o contém. Como se vê, em qualquer tipo de procedimento
judicial, o reconhecimento pode ser levado a efeito, mediante manifestação expressa e direta, isto
é, na presença do juiz. Urge que o juiz esteja presente nesse ato, sob pena de nulidade.
A propósito dos alimentos, admite-se que na ação de investigação de paternidade sejam
fixados liminarmente desde que se cumule expressamente a ação de investigação com o pedido de
alimentos e haja indícios de paternidade. A recusa em realizar o exame de DNA gera presunção de
paternidade, autorizando-se a fixação dos alimentos provisórios.
Além dessas formas de reconhecimento, estatuídas no art. 1.609, a lei ainda prevê outras
duas.
Com efeito, o art. 26 da Lei nº. 8.069/90 admite que o reconhecimento possa ser feito em
qualquer documento público. E, por sua vez, o art. 2º da Lei nº 8.560/92, instituiu o chamado
reconhecimento judicial oficioso ou investigação oficiosa, feito em procedimento de jurisdição
voluntária. Assim, em registro de nascimento de menor apenas com a maternidade estabelecida, o
oficial do registro civil indagará da mãe a qualificação do suposto pai, comunicando o fato ao juiz
corregedor. Este, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada e mandará em
qualquer caso notificar o suposto pai, independentemente do estado civil, para que se manifeste
sobre a paternidade que lhe é atribuída. No caso de este confirmar expressamente a paternidade,
será lavrado termo de reconhecimento e remetida a certidão ao oficial do registro, para a devida
averbação. Se, ao revés, o suposto pai não atender no prazo de trinta dias a notificação judicial ou
negar a paternidade, o juiz remeterá os autos ao representante do Ministério Público para que
intente, havendo elementos suficientes, a ação de investigação de paternidade, atuando como
substituto processual, defendendo em nome próprio interesse alheio. Há quem defenda a
inconstitucionalidade da legitimidade ativa do Ministério Público, pois a ação de investigação de
paternidade é personalíssima, sendo vedada ao membro do parquet o exercício da advocacia. Na
hipótese de a mãe se negar a fornecer ao oficial a qualificação do suposto pai, ainda assim, o oficial
deverá remeter a certidão de nascimento ao juiz. Este deverá instaurar, da mesma forma, o
procedimento administrativo, porque o direito da criança à paternidade é indisponível. Conquanto
o procedimento seja apenas administrativo, visando o reconhecimento voluntário, e não o forçado,

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nada obsta, desde que as partes concordem, a realização de provas, como, por exemplo, o exame
DNA. Se, não obstante, o resultado positivo do DNA, o suposto pai, ainda assim negar-se ao
reconhecimento, o juiz não poderá prolatar sentença, porque não se trata de uma ação judicial. O
magistrado, em todas as hipóteses de o suposto pai recusar-se ao reconhecimento, deverá remeter
os autos ao Ministério Público, para que este analise a possibilidade de se propor a ação
investigatória de paternidade. Se o suposto pai já morreu, o procedimento investigatório de
jurisdição voluntária pode ser dirigido aos seus sucessores e se estes reconhecerem
espontaneamente a paternidade, diante da ausência de conflito de interesses e da economia
processual.
Eis aí as formas de reconhecimento de filhos. Qualquer outro meio não surtirá o efeito
almejado, mas servirá de prova para o ajuizamento de uma ação de investigação de paternidade.
Assim, por exemplos, não é admissível o reconhecimento feito através de gravação; na certidão de
batismo etc. Aliás, o art. 3º da Lei n° 8.560/92 veda expressamente o reconhecimento de filho na
ata de casamento, mas essa proibição não foi repetida pelo Código Civil e por isso para alguns
autores a redação não persiste. Outro sustentam a persistência da vedação, pois sendo o Código
Civil uma lei geral não tem o condão de revogar as leis especiais.
Anote-se, ainda, que a lei admite o reconhecimento do nascituro (parágrafo único do art.
1.609 e art. 26, parágrafo único da Lei nº. 8.069/90). Trata-se, porém, de um ato condicional, que
só surtirá efeito se a criança nascer viva.
Quanto ao reconhecimento de filho póstumo, os dispositivos acima também o autorizam,
desde que o filho tenha deixado descendentes. Nesse caso, alguns juristas exigem para o
reconhecimento o consentimento dos descendentes, embora esse requisito não conste no
parágrafo único do art.1.609.

CAPACIDADE PARA O RECONHECIMENTO

O menor púbere, isto é, entre os 16 e 18 anos, pode efetuar o reconhecimento pessoalmente,


sem a assistência dos pais. Primeiro, porque o reconhecimento é ato personalíssimo; segundo,
porque os maiores de 16 anos possuem capacidade para fazer testamento, que é uma das formas
de reconhecimento. Se podem reconhecer o filho por testamento, que é um ato causa mortis, sem
assistência, não há razão plausível para se exigir a presença dos seus pais nas modalidades de
reconhecimento inter vivos.
Quanto ao menor impúbere, se for do sexo masculino, o reconhecimento é vedado, porque é
absolutamente incapaz. Os pais ou curador não poderão representá-los, porque o reconhecimento
é ato personalíssimo. Urge, portanto, que o reconhecimento seja judicial, por meio da ação de
investigação de paternidade. Se, ao revés, forem do sexo feminino, o reconhecimento é possível,
mas apenas na modalidade perfilhação, isto é, no ato da lavratura do registro de nascimento,
porque a maternidade é um fato, ao passo que a paternidade é uma presunção. Portanto, o
registro de nascimento relatará um fato jurídico, qual seja, o nascimento, e não propriamente um
ato jurídico, cuja prática é vedada aos absolutamente incapazes.
Quanto ao pródigo, pode reconhecer seus filhos, independentemente de assistência do
curador, porque sua incapacidade relativa restringe-se aos atos patrimoniais.
Por outro lado, o homem ou a mulher, mesmo na constância do casamento, pode reconhecer
a prole extraconjugal, sem o consentimento do cônjuge.
Finalmente, os filhos incestuosos também podem ser reconhecidos, por força do princípio da

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isonomia.

CARACTERÍSTICAS

O reconhecimento de filhos é ato personalíssimo, unilateral, solene, irrevogável, puro e


simples e indivisível.
Com efeito, trata-se de ato personalíssimo, porque esse direito não se transmite aos
herdeiros do suposto pai. Todavia, à exceção do testamento, as demais formas de reconhecimento
podem ser feitas por procurador com poderes especiais.
É um ato unilateral, porque se aperfeiçoa com a simples vontade do declarante,
independentemente do consentimento do filho ou de sua mãe. Há, porém, quem entenda que a
mãe deve ser também ouvida e se ela impugnar a pretensão do reconhecimento seria preciso
decisão judicial para se autorizar o registro. Se o filho for menor, o Código não exige que ele
consinta no reconhecimento, mas há quem sustente o contrário, pois na adoção, a partir dos doze
anos, ele deve ser ouvido (art.45, §2º, do ECA), logo o consentimento só seria dispensável para os
menores de 12 (doze) anos. O menor pode impugnar o reconhecimento nos quatro anos que se
seguirem à maioridade, ou à emancipação. Esse prazo, previsto no art.1.614, para Maria Berenice
Dias cuida-se do exercício constitucional de liberdade, não havendo necessidade de comprovar
erro, falsidade ou inexistência da verdade biológica. Basta para rejeitar a filiação, que o filho não
concorde com a paternidade que lhe foi imposta. Trata-se daquilo que é chamada de denúncia
vazia, assegurando-se esse direito de desligar-se do vínculo de filiação também ao filho concebido
na constância do matrimônio, sob pena de se lhes oferecer tratamento desigual. Quanto à ação
investigatória de paternidade, é imprescritível, conforme art.27 do ECA. Há quem sustente que se
há registro, a ação investigatória de paternidade só poderia ser proposta dentro de quatro anos, a
contar da maioridade civil, mas essa corrente viola o princípio da isonomia, porquanto para o filho
destituído do registro a ação é imprescritível.
Acrescente-se, por outro lado, que o reconhecimento do filho maior é um ato bilateral,
porque é essencial o seu consentimento. A negativa pode ser imotivada, sendo inviável, por falta de
previsão legal, o suprimento judicial do consentimento.
O reconhecimento é ainda um ato solene, irrevogável, puro e simples e indivisível. Solene,
porque deve observar uma das formas prescritas em lei; irrevogável, porque, uma vez efetuado,
ainda que por testamento, não admite o arrependimento; puro e simples, porque não admite
termo nem condição, à exceção do nascituro, cuja condição emana da própria lei. Cumpre observar,
porém, que na hipótese de termo ou condição não se anula o reconhecimento, recaindo a
ineficácia apenas sobre o termo e a condição (art. 1.613). O reconhecimento é ainda indivisível,
porque é eficaz perante todas as pessoas, surtindo efeito erga omnes.

INVESTIGAÇÃO DE PARENTALIDADE

CONFLITO ENTRE A PATERNIDADE BIOLÓGICA E A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA

A) POSIÇÃO DA DOUTRINA

A investigação de parentalidade é o gênero indicativo das diversas ações que versam sobre
vínculos paternos filiais. Dentre essas ações merecem destaque:

a) Ação de investigação de paternidade: quando suposto filho não tem pai no registro ou tem
mas não mantém com este qualquer vínculo afetivo. Referida ação produz efeitos registrais à

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sentença e seu objetivo é identificar a paternidade biológica.


b) Ação investigatória de ascendência genética: quando consta no registro o pai socioafetivo
ou adotivo, o filho pode investigar a paternidade biológica, mas a sentença de procedência não será
registrada, pois a paternidade socioafetiva prevalece sobre a biológica, de modo que o
reconhecimento da paternidade biológica não produzirá qualquer efeito jurídico ou de ordem
patrimonial. Se, portanto, na ação de investigação de paternidade ou materialidade se comprovar o
vínculo afetivo entre o autor e o pai ou mãe registral, a sentença de procedência se limitará a
reconhecer a origem biológica, mas não desconstituirá o vínculo afetivo constante do registro. O
direito de conhecer a origem genética é direito fundamental da personalidade. Esse direito é
exclusivo dos descendentes; os ascendentes biológicos não podem investigar a paternidade ou o
estado avoengo se o filho ou neto mantém vínculo de filiação afetiva com o pai registral.
c) Ação investigatória da paternidade socioafetiva: quando houver posse do estado de filho, é
cabível esta ação, que terá inclusive efeitos registrais, sendo o réu declarado pai para todos os
efeitos jurídicos. Justifica-se a ação nos princípios da aparência, solidariedade humana e dignidade
da pessoa humana.
d) Ação negatória de paternidade: é a proposta pelo marido para desfazer a presunção de
paternidade prevista no art.1.597 do CC.

B) POSIÇÃO DO STF

Em acórdão histórico, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, no


recurso extraordinário 898060, de 21 de setembro de 2.016 decidiu que, ainda que haja um pai
socioafetivo no registro, é cabível ação de investigação de paternidade.
E, diante da procedência dessa ação, ambos os pais figurariam no registro, com os respectivos
direitos e deveres. Noutras palavras, admitiu-se a pluralidade de pais, sob o argumento que não há
impedimento para o reconhecimento simultâneo de ambas as formas de paternidade, socioafetiva
e biológica, desde que este seja o interesse do filho, que deseja o reconhecimento jurídico de
ambos os vínculos.
Assim, a paternidade socioafetiva não exime de responsabilidade o pai biológico. Não há, pois,
prevalência de um tipo de paternidade sobre a outra, podendo ambas ser inseridas no registro.
Da mesma forma, o fato de ter um pai biológico no registro não impede o reconhecimento da
paternidade socioafetiva.
Este posicionamento gerará, dentre outros, os seguintes efeitos:
a) o filho pode adotar o patronímico de ambos os pais;
b) o filho herdará de ambos os pais;
c) ambos os pais herdarão do filho e, nesse caso, a míngua de previsão legal, o quinhão de
um será igual ao do outro;
d) sendo o filho menor, ambos os pais exercerão em igualdade de condições, juntamente
com a mãe, o poder familiar.

Este acórdão do Plenário do STF vincula todos os juízes e tribunais do país, que doravante
terão que decidir dessa forma, conforme art. 927, V, do CPC.

RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO DE PATERNIDADE OU MATERNIDADE SOCIOAFETIVA

Com fundamento nesta histórica decisão da Excelsa Corte, o Conselho Nacional de Justiça

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editou o provimento 63, de 14 de novembro de 2017, que permite o reconhecimento voluntário da


paternidade ou maternidade socioafetiva perante o oficial de registro civil de pessoas naturais,
desde que haja concordância do filho, caso ele seja maior de 18 anos, ou dos pais, caso ele seja
menor de 18 anos. Se o filho for maior de 12 anos, será ainda necessário o seu consentimento.
O reconhecimento voluntário da paternidade ou da maternidade socioafetiva, perante os
oficiais de registro civil das pessoas naturais, só será possível para pessoas acima de 12 anos.
A anuência tanto do pai quanto da mãe e do filho maior de doze anos deverá ser feita
pessoalmente perante o oficial de registro civil das pessoas naturais ou escrevente autorizado.
Na falta da mãe ou do pai do menor, bem como na impossibilidade de manifestação válida
destes ou do filho, quando exigido, admite-se o suprimento judicial do consentimento.
A pendência de ação de investigação de paternidade ou de adoção obstará o reconhecimento
da filiação da paternidade socioafetiva, tendo em vista a incerteza sobre quem realmente será o
representante legal do menor.
O reconhecimento voluntário da paternidade ou maternidade será irrevogável, somente
podendo ser desconstituído pela via judicial, nas hipóteses de vício de vontade, fraude ou
simulação.
Poderão requerer o reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva de filho os
maiores de dezoito anos de idade, independentemente do estado civil. Quanto ao menor
emancipado, não obstante a capacidade civil, lhe é vedado o reconhecimento.
Não poderão reconhecer a paternidade ou maternidade socioafetiva os irmãos entre si nem
os ascendentes. Esta vedação também se encontra na adoção.
O pretenso pai ou mãe será pelo menos dezesseis anos mais velho que o filho a ser
reconhecido. Trata-se de mais um paralelo com a adoção, que exige esta diferença de idade.
Suspeitando de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade, simulação ou dúvida sobre a
configuração do estado de posse de filho, o registrador fundamentará a recusa, não praticará o ato
e encaminhará o pedido ao juiz competente nos termos da legislação local. Trata-se de um juiz
corregedor, tendo em vista que o procedimento será administrativo. Esta remessa do oficial ao juiz
corregedor assemelha-se a um recurso de ofício.
O reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva somente poderá ser realizado
de forma unilateral e não implicará o registro de mais de dois pais e de duas mães no campo
FILIAÇÃO no assento de nascimento. Há, pois, um limite sobre o número de pais socioafetivos. Só é
possível ter um pai e uma mãe socioafetiva.
O reconhecimento espontâneo da paternidade ou maternidade socioafetiva não obstaculizará
a discussão judicial sobre a verdade biológica. Nada obsta, destarte, que o filho possa mover uma
ação de investigação de paternidade em face do pai biológico, mas, nesse caso, a procedência da
ação não extinguirá o vínculo de paternidade socioafetiva, que é irrevogável.
A paternidade ou maternidade socioafetiva também poderá ocorrer por meio de qualquer
testamento, desde que seguidos os demais trâmites previstos do provimento 63, devendo, após a
abertura da sucessão, ser formulado o pedido de reconhecimento da paternidade ou maternidade
perante o oficial do registro civil.
O procedimento administrativo da paternidade socioafetiva encontra-se disciplinado na
Resolução 83/2019 do CNJ.
O registrador, ao receber o pedido, deverá atestar a existência do vínculo afetivo da
paternidade ou maternidade socioafetiva mediante apuração objetiva por intermédio da
verificação de elementos concretos.
Atendidos os requisitos para o reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva,
o registrador encaminhará o expediente ao representante do Ministério Público para parecer.

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O registro da paternidade ou maternidade socioafetiva será realizado pelo registrador após o


parecer favorável do Ministério Público.
Se o parecer for desfavorável, o registrador não procederá o registro da paternidade ou
maternidade socioafetiva e comunicará o ocorrido ao requerente, arquivando-se o expediente.
Eventual dúvida referente ao registro deverá ser remetida ao juízo competente para dirimí-
la.
Somente é permitida a inclusão de um ascendente socioafetivo, seja do lado paterno ou do
materno.
A inclusão de mais de um ascendente socioafetivo deverá tramitar pela via judicial.

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

A ação de investigação de paternidade pode ser proposta por qualquer filho, ainda que
menor ou incapaz, mas, nesse caso, deverá ser assistido ou representado pelo representante legal.
O nascituro também pode propor essa ação, representado por sua mãe (art. 26 do Estatuto da
Criança e do Adolescente e parágrafo único do art. 1.609).
Igualmente, o Ministério Público também pode ajuizá-la, na qualidade de legitimado
extraordinário, se o indigitado filho for menor ou incapaz, por força da Lei n° 8.560/92. Trata-se de
uma legitimidade concorrente, porque o suposto filho também poderá ajuizar a sobredita ação. Se
ambos, isto é, o Ministério Público e o menor, moverem as ações, haverá litispendência, devendo
ser extinta, porque é subsidiária, a ação movida pelo Ministério Público (art.485, V, do CPC/2015).
Creio, por outro lado, que deva ser aplicado à legitimidade ativa, o disposto no art. 1.606, porque
a ação de investigação de paternidade é uma espécie de ação de prova de filiação. Assim, a ação de
investigação compete ao filho, enquanto viver. Se ele for capaz, a legitimidade ativa é exclusiva;
ninguém mais poderá propor essa ação, nem mesmo depois da sua morte. Mas, se a morte ocorrer no
curso da ação, seus herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado extinto o processo, por exemplo,
por desistência da ação ou outra forma de extinção sem resolução do mérito (parágrafo único do
art.1.606).
Se, ao revés, ele morrer menor ou incapaz, o direito à propositura da ação transmitirá aos
seus herdeiros (art. 1.606). Essa norma ameniza o caráter personalíssimo da aludida ação. Cumpre
salientar a opinião de diversos civilistas que atribuem legitimidade ativa aos herdeiros para buscar o
reconhecimento da ascendência, mesmo que a ação investigatória de paternidade não tenha sido
proposta quando o suposto filho estava vivo. Já se admitiu ação investigatória avoenga, proposta
pelos netos em face do avô.
No pólo passivo da referida ação deve figurar o indigitado pai, ainda que casado. Se este for
morto, a ação deve ser ajuizada em face de seus herdeiros. Se não houver quaisquer herdeiros, o
Município ou Distrito Federal, figurará como réu, mas enquanto não sobrevier o trânsito em julgado
da sentença de vacância, a ação deve ser movida, a meu ver, em face da herança jacente. Saliente-
se, contudo, que qualquer pessoa que tenha justo interesse, moral ou econômico, como é o caso
do cônjuge e filhos do réu, pode contestar a ação de investigação de paternidade, ou maternidade
(art.1.615 do CC).
A ação de investigação de paternidade é imprescritível e deve ser proposta no domicílio do
réu, mas quando se pleitear também os alimentos, o foro competente passa a ser o do domicílio do
autor (Súmula nº 1 do STJ). Se a ação investigatória de paternidade for cumulada com petição de
herança, o foro competente, antes da partilha, é o local do inventário; após a partilha, o foro do
domicílio de qualquer herdeiro. O foro competente é o domicílio do autor quando houver

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cumulação entre as ações de investigação de paternidade, alimentos e petição de herança. Quanto


à vara competente, é a de família, onde houver.
A propósito da recusa do réu em realizar a perícia, há quem entenda que militará contra ele a
presunção relativa da paternidade, invertendo-se o ônus da prova. Outros, ao revés, sustentam que
essa manobra é lícita, sendo um desdobramento do princípio da ampla defesa. Sobre o assunto,
dispõe o art. 231: “Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá
aproveitar-se de sua recusa”. Em seguida, preceitua o art. 232: “A recusa à perícia médica ordenada
pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame”. Há quem vislumbre nestes
dois dispositivos legais a adoção do ponto de vista de que a recusa do réu em realizar a perícia
implicará em presunção de paternidade. Discordo dessa interpretação, pois implica em flagrante
violação ao princípio da ampla defesa. Todavia, a súmula 301 do STJ dispõe que: “Em ação
investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame DNA induz a presunção juris tantum
de paternidade”. A Lei 12.004/2009, no parágrafo único do art.2º-A, reza que: “A recusa do réu em
se submeter ao exame de código genético – DNA - gerará a presunção de paternidade, a ser
apreciada em conjunto com o contexto probatório”.
O § 2º do art. 2º-A da Lei 8.560/92, introduzido pela Lei 14.138/2021, dispõe que:
“Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro, o juiz determinará, a
expensas do autor da ação, a realização do exame de pareamento do código genético (DNA) em
parentes consanguíneos, preferindo-se os de grau mais próximo aos mais distantes, importando a
recusa em presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.”
Assim, a recusa do parente consanguíneo em realizar o exame DNA implicará em presunção
de paternidade em duas situações:
a) ação de investigação de paternidade “pos mortem”, cujos réus são os herdeiros mais
próximos;
b) ação de investigação de paternidade, quando não existir notícia do paradeiro do suposto
pai, hipótese em que o réu será o suposto pai, compreendendo três situações:

b1) o suposto pai é ausente civil, estando, pois, representado no processo pelo curador de
ausentes ou herdeiros, conforme a fase que se encontra o processo de ausência.
b2) o suposto pai é ausente processual citado fictamente (por edital ou hora certa), estando
representado no processo por curador especial, cuja função é exercida pela Defensoria Pública (art.
72 do CPC).
b3) o suposto pai, após ter sido citado pessoalmente, constituindo advogado, se ausenta no
curso do processo, passando a ter paradeiro ignorado. Nesse caso, creio que, além de se intimar
pessoalmente o parente consanguíneo mais próximo para realizar o exame DNA, é preciso também
intimar o suposto pai por edital para que compareça na data e local designados para a feitura do
exame.
Interpretação diversa, no sentido de o texto legal se referir apenas ao ausente civil, premiaria
o ausente processual, à medida não se presumiria a paternidade pela não realização do exame
DNA, frustrando assim os objetivos da lei, além de estimular a tomada de paradeiro ignorado.
Para finalizar, o dispositivo legal em análise, por isonomia, também deve ser aplicado à ação
de investigação de maternidade.

RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA

De acordo com o Supremo Tribunal Federal, não fazem coisa julgada as ações de investigação
de paternidade decididas sem a realização do exame DNA.

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Sobre o assunto também dispõe o Enunciado nº 109 do Conselho de Justiça Federal:


“A restrição da coisa julgada oriunda de demandas reputadas improcedentes por
insuficiências de provas, não deve prevalecer para inibir a busca da identidade genética pelo
investigando”.
Há, pois, um conflito entre o princípio da segurança jurídica, que a coisa julgada visa garantir,
e o direito da personalidade de conhecer a origem genética, que se apóia no princípio da dignidade
da pessoa humana. Este último princípio é mais forte, é um dos fundamentos do Estado
Democrático de Direito (art.1º, III, da CF), prevalecendo por força do princípio da
proporcionalidade.

ALIMENTOS

CONCEITO

Alimentos são prestações periódicas, em dinheiro ou em espécie, pagas por uma pessoa a
outra, para a satisfação das necessidades da vida.

FONTES

Quanto à origem, os alimentos classificam-se em:


a) alimentos legais ou de direito de família: quando a obrigação emana diretamente da lei. Esses
alimentos, que serão objetos do presente estudo, podem ser pedidos pelo cônjuge,
companheiro e certos parentes (ascendentes, descendentes e irmãos);
b) alimentos convencionais: quando a obrigação emana da vontade das partes. Exemplo: o
sobrinho convenciona pensão a ser dada à tia. Trata-se, na verdade, da chamada doação
periódica, extinguindo-se com a morte do doador, salvo se este outra coisa dispuser (art. 545);
c) alimentos testamentários: quando a obrigação emana da vontade do testador. Este pode
ordenar que os alimentos sejam extraídos da herança ou então impô-los como encargo ao
herdeiro ou legatário, assumindo, nesse último caso, o perfil de sublegado. Exemplo: diz o
testador: Paulo é meu herdeiro, desde que pague uma pensão alimentícia mensal, de R$
500,00, para Maria;
d) alimentos ressarcitórios ou indenizatórios: quando a obrigação emana da prática de um ato
ilícito. Assim, no caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações, na
prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração
provável da vida da vítima (art. 948, II).
Os alimentos legais ou de direito de família são os únicos regidos por normas cogentes,
gerando, por consequência, uma série de restrições à vontade das partes, dentre as quais se
destacam: a impossibilidade de compensação, de transação e de renúncia, além da cominação de
prisão ao inadimplente.
Esse regime jurídico rigoroso, porém, não é extensivo aos alimentos convencionais,
testamentários e ressarcitórios.
No presente estudo, cuidaremos apenas dos alimentos legais; os demais não pertencem ao
direito de família.

ALIMENTANTE E ALIMENTADO

O alimentante é o obrigado a prestar alimentos; alimentado ou alimentário ou alimentando, o

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que os recebe.
Os parentes, que podem ser chamados a pagar alimentos, uns aos outros, são os
ascendentes, descendentes e irmãos, tanto unilaterais como germanos. Anote-se que os colaterais
de terceiro e de quarto graus, conquanto herdeiros, não são obrigados aos alimentos. Os afins não
são obrigados a prestar alimentos
Além dos parentes, os cônjuges ou companheiros também podem pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem.
Quanto ao nascituro, desde que haja a certeza sobre a paternidade, pode pleitear alimentos,
porque seus direitos são assegurados desde a concepção.
Em relação ao cônjuge, ainda que vivendo sob o mesmo teto, pode pleitear alimentos do
outro, provando que este não coopera com as despesas necessárias.
Na adoção, o filho adotivo não pode pleitear alimentos do pai biológico, pois a adoção
extingue o vínculo com a família de sangue, mas em contrapartida poderá reclamar alimentos do
adotante e dos demais ascendentes do adotante; o adotante pode pedir alimentos ao adotado e
aos demais descendentes do adotado.

CONDIÇÕES DE EXIGIBILIDADE

O alimentado só pode pedir alimentos em caso de necessidade. Se tiver bens suficientes ou


puder prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, ser-lhe-á negado esse direito. Cumpre
lembrar a lição de Silvio Rodrigues, apoiada no art. 1.695, que, “sendo as filhas maiores e válidas,
não têm direito a alimentos, a menos que provem que, por qualquer circunstância razoável, não
conseguem ganhar o bastante para viver”. A jurisprudência tem concedido a pensão alimentícia até
os 24 anos, para fins de educação.
Quanto ao alimentante, só se vê obrigado a pagar alimentos se puder fornecê-los, sem
desfalque do necessário ao seu sustento.
Vê-se, assim, que a obrigação de prestar alimentos tem por característica a condicionalidade
sendo, pois, baseada no binômio necessidade/possibilidade, sendo que alguns autores ainda
incluem, formando um trinômio, a proporcionalidade, enquanto outros preferem a razoabilidade.

ALIMENTOS E DEVER DE SUSTENTO

Os alimentos, como vimos, são regidos pelo binômio “necessidade e possibilidade”. Além
disso, trata-se de uma obrigação recíproca, isto é, bilateral.
Diferentemente, no dever de sustento, dos pais em relação aos filhos menores, a necessidade
desses últimos é presumida. Além disso, não há a característica da reciprocidade; os pais devem
sustentar os filhos menores e não estes àqueles, de modo que o dever de sustento é unilateral.
Entre cônjuges, também há o dever recíproco de sustento.

O OBJETO DA PRESTAÇÃO

Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos
da pessoa obrigada (§ 1º do art. 1.694). Portanto, o valor da prestação será arbitrado conforme o
grau de necessidade do alimentado e o nível de possibilidade do alimentante. Esse binômio é um
standard jurídico, um critério vago, genérico, de difícil definição. Não há nenhuma lei ordenando
que a pensão seja de um terço dos rendimentos do alimentante, embora esse critério seja usual.

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Quanto ao valor da prestação, os alimentos podem ser:


a) naturais ou necessários: compreende a quantia estritamente necessária à sobrevivência.
Abrange o sustento, a cura, o vestuário e a habitação. De acordo com o §2º do art.1.694: “Os
alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a necessidade resultar de culpa de
quem os pleiteia”.
b) civis ou côngruos: compreende a quantia necessária para a sobrevivência e a garantia do
status quo ante, isto é, para a manutenção da condição social. Abrange, inclusive, as verbas
necessárias à educação.
Em regra, a prestação alimentar deve ser fixada de modo compatível com a condição social do
alimentado, mas se este teve culpa pela sua situação de necessidade, ser-lhe-á devido apenas os
alimentos naturais, isto é, os indispensáveis à subsistência (§ 2º do art. 1.694).
Por outro lado, quanto à forma de pagamento, os alimentos podem ser:
a) próprios: são os pagos em espécie, isto é, mediante o fornecimento de hospedagem e
sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação, quando menor (art. 1701);
b) impróprios: são os pagos em dinheiro, em forma de pensão.
A obrigação alimentar é alternativa, porque o devedor, isto é, o alimentante, libera-se da
obrigação, escolhendo uma ou outra forma de pagamento. Em determinados casos, porém, se as
circunstâncias o exigirem, o juiz fixará a forma do cumprimento da prestação (parágrafo único do
art.1.701 do CC). Realmente, torna-se inviável a concessão de alimentos próprios em relação a cônjuges
separados. Igualmente, quando não há compatibilidade de vida harmoniosa entre as partes.

ALIMENTOS DEFINITIVOS, PROVISÓRIOS, PROVISIONAIS E TRANSITÓRIOS

Os alimentos definitivos ou regulares são os fixados em sentença já transitada em julgado.


Os alimentos provisórios são os arbitrados liminarmente pelo juiz, sem ouvir o réu, no
despacho inicial da ação de alimentos (Lei n° 5.478/68). Só é possível quando houver prova pré-
constituída do parentesco, casamento ou união estável.
Os alimentos provisionais ou ad litem são os arbitrados em tutela cautelar de alimentos.
A prestação alimentícia deverá abranger, além do que necessitar para sustento, habitação e
vestuário, as despesas para custear a demanda, isto é, despesas processuais e honorários
advocatícios. A tutela principal ou definitiva deve ser ajuizada em 30 dias, a contar da
efetivação da decisão liminar concessiva dos alimentos, sob pena de caducidade da cautelar.
A tutela cautelar de alimentos provisionais pode ser preparatória e incidental, conforme o
ajuizamento ocorra antes ou durante a ação principal. Ainda que a causa principal penda de
julgamento no Tribunal, processar-se-á no primeiro grau de jurisdição o pedido de alimentos
provisionais (parágrafo único do art.299 do CPC/2015). Anote-se, por fim, que a tutela
principal ou definitiva pode ser: a) ação de separação e anulação de casamento, b) ação de
alimentos; c) nos demais casos expressos em lei, como, por exemplo, a ação de divórcio ou a
ação de investigação de paternidade.
Cumpre, ainda, registrar, no tocante à distinção entre os alimentos provisórios e os
provisionais, uma outra corrente, que denomina provisionais os alimentos arbitrados antes da
sentença, e provisórios os devidos entre a sentença e o trânsito em julgado.
Há ainda os que consideram as expressões sinônimas.
Finalmente, os alimentos transitórios são os fixados apenas por um determinado período de
tempo e findo esse período cessa a obrigação de pagamento, pois o tempo transcorrido era
suficiente para que o alimentado se reinserisse no mercado de trabalho.

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CARACTERÍSTICAS

A obrigação alimentar, oriunda do direito de família, apresenta as seguintes características:


a) atualidade: os alimentos são pagos para a satisfação das necessidades presentes e futuras.
No Brasil, não são devidos os alimentos pretéritos, isto é, referentes às necessidades anteriores à
ação, sendo conhecida a máxima in preteritu non vivitur. Anote-se, porém, que a atualidade é uma
característica exclusiva dos alimentos de direito de família; quanto aos alimentos convencionais,
testamentários e ressarcitórios podem abranger o período anterior ao ajuizamento da ação.
Ainda no tocante aos alimentos de direito de família, cumpre ressaltar que a atualidade só é
levada em conta na ação de conhecimento, quando, então, os alimentos são devidos apenas a
partir da citação. Todavia, no tocante à ação de execução não vigora a regra de atualidade. De fato,
a execução recai sobre as prestações vencidas e vincendas, cujo pagamento já havia sido ordenado
por decisão judicial. Na prática, costuma-se designar de alimentos pretéritos essas prestações em
atraso.
b) divisibilidade: em havendo mais de um devedor, o valor da prestação alimentar deve ser
repartido entre eles, de forma proporcional às possibilidades de cada um. Não se trata de obrigação
solidária, onde cada devedor é obrigado ao pagamento de todo o débito, salvo se o alimentando for
idoso, isto é, mais de 60 anos, hipótese em que solidariedade emana da lei (art.12, da Lei nº
10.741/2003). Como se sabe, a solidariedade não se presume, devendo resultar da lei ou da
vontade das partes (art. 265).
Sendo assim, a obrigação deve ser repartida entre todos os parentes que estejam no mesmo
grau. Se, por exemplo, uma certa pessoa necessita de R$ 500,00 por mês, esse valor deverá ser
rateado entre os alimentantes. O rateio não é pro rata, mas proporcional às possibilidades de cada
um. Alguns civilistas consideram o litisconsórcio necessário, de modo que se o alimentado tem
quatro avós deverá acionar a todos, e não apenas um ou alguns, sob pena de nulidade do processo.
Essa rigorosa orientação não encontrou respaldo na jurisprudência nem no novo Código, que
enveredaram pela tese do litisconsórcio facultativo, admitindo a ação contra um só dos parentes do
mesmo grau, competindo, porém, ao magistrado, se houver requerimento de defesa, reduzir o
valor da pensão, condenando o vencido a apenas uma parte do débito.
O novo Código, porém, permite que o devedor acionado judicialmente chame os demais para
integrar a lide. Não se trata de chamamento ao processo, porque não há solidariedade entre os
devedores, nem de denunciação da lide, porque não visa resguardar o direito de regresso. Trata-se
apenas de um caso de litisconsórcio facultativo, que gera uma intervenção de terceiro sui generis.
Finalmente, se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de
suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato (art. 1.698). Da
mesma forma, nada obsta o ajuizamento da ação em face dos pais e dos avós, se os primeiros
estiverem em condições de suportar apenas parcialmente o encargo. Urge, porém, para que se
requeira os alimentos em face do parente mais remoto, a demonstração na inicial da inviabilidade
do parente mais próximo suportar o encargo.
c) irrenunciabilidade: o credor não pode abdicar do direito aos alimentos. Pode não exercer
esse direito, porém lhe é vedado renunciar (art. 1.707). O novo Código prevê os alimentos entre os
cônjuges ou companheiro juntamente com os derivados do parentesco (art. 1.694). Portanto, a
proibição da renúncia é extensiva aos cônjuges e companheiros, conforme salientamos
anteriormente, no estudo dos efeitos da dissolução da sociedade conjugal. Entretanto, o Enunciado
263 do CJF dispõe que: “O art.1.707 do Código Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz a
renúncia manifestada por ocasião do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da união estável.
A irrenunciabilidade do direito a alimentos somente é admitida enquanto subsista vínculo de Direito

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de Família”. De acordo com esse entendimento, a renúncia aos alimentos no divórcio ou dissolução
da união estável é válida, não sendo possível ao ex-cônjuge ou ex-companheiro pleitear alimentos
diante da extinção do dever de mútua assistência.
d) incessibilidade: não se pode ceder o crédito alimentar (art. 1.707). Cremos que essa
restrição refere-se apenas ao crédito atual, isto é, às prestações vincendas. Quanto às prestações
em atraso, a nosso ver, nada obsta a cessão, que pode revelar-se vantajosa ao alimentado.
e) incompensabilidade: o alimentante não pode escusar-se do pagamento dos alimentos
alegando que tem créditos a receber perante o alimentado. Os alimentos, por visarem a
subsistência da pessoa, são infensos à compensação de créditos. Nada obsta, a nosso ver, a
compensação dos alimentos em atraso, porque estes não visam garantir a subsistência da pessoa.
O art. 1.707, porém, que proíbe a compensação e a cessão, não abre qualquer exceção, de modo
que a questão encontra-se em aberto, comportando, destarte, mais de uma interpretação.
Finalmente, o pagamento antecipado das prestações alimentares é perfeitamente lícito. Se, por
exemplo, o sujeito tiver pago, no mês de janeiro, o dobro do valor da pensão, estancando-a no mês
seguinte e retomando o pagamento apenas em março, ao credor não assistirá o direito de cobrar
novamente pensão referente ao mês de fevereiro.
f) impenhorabilidade: o art.833, IV, do CPC/2015, complementa a proibição da penhora,
prevista no art. 1.707 do CC, estatuindo que as pensões destinadas ao sustento da pessoa e da sua
família, são absolutamente impenhoráveis. Esta proibição de penhora, ao meu ver, refere-se ao
valor pago mensalmente, pois conforme a jurisprudência, a penhora pode recair sobre os alimentos
atrasados, uma vez que, esta verba não se destina mais ao sustento do devedor.
g) irrepetibilidade: não se pode reaver o que se pagou para solver dívida alimentar, ainda que
a decisão judicial, que ordenou o pagamento, venha a ser modificada pelo Tribunal. O princípio da
irrepetibilidade não consta em norma expressa, mas decorre da própria natureza da obrigação, que
visa garantir a subsistência da pessoa, sendo pois, imoral a pretensão de reaver o que se pagou,
tanto é que para as execuções provisórias a lei dispensa a caução. Se, por exemplo, o agente houver
pago alimentos, por erro, a uma pessoa que supunha ser seu filho, não poderá reaver as quantias
pagas. Todavia, provando-se a má-fé do verdadeiro responsável, nada obsta se lhe ajuíze a ação in
rem verso, invocando-se o princípio da proibição do enriquecimento sem causa. Há quem entenda
que é também possível a restituição quando o ex-cônjuge oculta dolosamente o seu novo
casamento. Acrescente-se ainda que quando alguém, na ausência do indivíduo obrigado a
alimentos, por eles os prestar a quem se devem, poder-lhes-á reaver do devedor a importância,
ainda que este não ratifique o ato (art.871 do CC).
Na execução provisória da sentença de alimentos, o juiz pode dispensar a exigência de caução
(art.521, I, do CPC/2015). No CPC anterior a dispensa da caução só era possível quando o valor não
excedia a 60 (sessenta) salários mínimos. O CPC/2015, para dispensar a caução, não impõe
qualquer limite de valor.
h) impossibilidade de transação: o direito a alimentos é indisponível, logo não pode ser
suprimido ou diminuído para prevenir ou extinguir outras obrigações. O quantum debeatur e as
prestações em atraso, porém, podem ser objetos de transação, porque têm caráter disponível.
Saliente-se ainda que o art.852 do CC veda o compromisso ou arbitragem para solução de questões
de estado e de direito pessoal de família, que é o caso dos alimentos.
i) imprescritibilidade: o direito aos alimentos é insuscetível de prescrição; a qualquer tempo, a
pessoa poderá exercê-lo. Todavia, a imprescritibilidade recai apenas sobre o direito de ação, e não
sobre as prestações fixadas judicialmente. Estas, de acordo com o novo Código, prescrevem em
dois anos, a partir da data que se vencerem (art. 206, § 2º). No Código de 1916, a prescrição era de
cinco anos.
Assim, na ação de conhecimento, o autor tem direito às prestações, a partir da concessão de

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liminar, ou da sentença, porque o princípio da atualidade impede a cobrança do período anterior ao


ajuizamento da ação. Uma vez arbitrado judicialmente o valor da pensão, urge que o autor mova a
ação de execução, que também é imprescritível. Todavia, na ação de execução não vigora o
princípio da atualidade, porque este não pode sobrepor-se à coisa julgada nem servir de artifício
para o descumprimento de decisões judiciais ou de estímulo ao inadimplemento da obrigação. Em
contrapartida, a inércia do credor em mover logo a execução é sancionada pela prescrição bienal
das prestações em atraso.
Se, por exemplo, a sentença de alimentos transitar em julgado em 02-02-2003 e o credor só
executá-la em 04-05-2008, terá o direito de receber apenas os dois últimos anos referentes ao
período de 04-05-2006 a 04-05-2008.
Não se pode, porém, olvidar as causas suspensivas e interruptivas do lapso prescricional. Se, no
exemplo ministrado, o credor fosse filho do devedor, ainda sob o poder familiar no ano de 2008, nada
estaria prescrito, porque durante o poder familiar não flui a prescrição, de modo que a execução
poderia recair sobre todas as prestações vencidas e não pagas a partir da decisão judicial que fixou os
alimentos no processo de conhecimento.
j) transmissibilidade: a obrigação transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art.
1.964, conforme preceitua o art. 1.700. É claro que a responsabilidade dos herdeiros é limitada às
forças da herança (art. 1.792). Entre os herdeiros, a obrigação continua divisível, devendo a pensão
ser rateada na proporção do quinhão de cada um. Se o falecido não deixou bens, cessa para os
herdeiros a obrigação alimentar. Todavia, dispõe o art.872 do CC que: “Nas despesas do enterro,
proporcionadas aos usos locais e à condição do falecido, feitas por terceiro, podem ser cobradas da
pessoa que teria a obrigação de alimentar a que veio a falecer, ainda que esta não tenha deixado
bens”.
A questão da transmissibilidade da obrigação alimentar foi muito debatida na vigência do
Código de 1916, sobretudo, diante do art. 23 da Lei n° 6.515/77, que a considerava transmissível,
colidindo com o art. 402, que prescrevia o oposto. Uns sustentavam a revogação do art. 402; outros
mantinham a sua vigência para os alimentos decorrentes do parentesco, argumentando que o art.
23 era aplicado exclusivamente aos alimentos devidos entre cônjuges.
O novo Código consagra a transmissibilidade, em termos mais amplos do que o citado art. 23,
porque se reporta expressamente ao art. 1.694, fazendo-nos crer que os herdeiros, para fins de
alimentos, assumem o lugar do de cujus, herdando não apenas a obrigação a que este já havia sido
condenado, mas também a possibilidade de figurarem como réus de uma futura ação de alimentos
sequer ajuizada durante a vida do genuíno devedor. Esse tema, porém, não é pacífico. Subsiste
ainda uma corrente jurisprudencial proclamando a intransmissibilidade da obrigação alimentar, em
razão do seu caráter personalíssimo, de modo que a obrigação de pagar alimentos só se
transmitiria ao espólio ou herdeiros no caso de condenação prévia do autor da herança.
Cumpre, porém, registrar que a transmissibilidade da obrigação alimentar só ocorre após a
morte do devedor. Em vida, a obrigação não se transmite, sendo, pois, personalíssima, porquanto
relacionada a condições estritamente pessoais (parentesco, casamento e união estável).
Finalmente, podemos concluir que a obrigação alimentar é personalíssima, porém
transmissível após a morte do devedor, até as forças da herança. Em relação ao credor, a obrigação
de alimentos é personalíssima sem qualquer restrição, porquanto com a morte do credor, o direito
de receber os alimentos não se transmitem aos seus herdeiros, salvo no tocante ao débito em
atraso.

AÇÃO REVISIONAL E AÇÃO DE EXONERAÇÃO

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Essas ações podem ser propostas quando um fato superveniente altera a situação econômica
de uma ou de ambas as partes. Com efeito, dispõe o art.1.694 do CC: “Podem os parentes, os
cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”.
Na ação revisional, a obrigação alimentar é apenas alterada, elevando ou reduzindo o valor da
prestação. Se, por exemplo, a ex-esposa, que recebe os alimentos, ingressa num concurso público
modesto, o ex-marido pode pedir revisão para reduzir um pouco o valor da prestação; se, ao revés,
é o ex-marido que é promovido no trabalho, ela poderá pedir o aumento da pensão.
Conquanto difícil, nada obsta que o próprio devedor ingresse com ação revisional para elevar
o valor da pensão.
Por outro lado, a ação de exoneração provoca a extinção da obrigação alimentar. Urge,
portanto, que o fato novo seja daqueles que supra as dificuldades do devedor ou então elimine as
possibilidades do credor. Se, por exemplo, a ex-esposa, que recebe os alimentos, ingressar no
concurso da Magistratura, o ex-marido poderá pleitear a sua exoneração.
Ocorrerá também a exoneração nas seguintes hipóteses:
a) o credor dos alimentos contrai novo casamento, união estável ou concubinato, ou tem
algum comportamento indigno em relação ao devedor. Por exemplo: tentar matá-lo. Em todos
esses casos, o devedor deverá pleitear judicialmente a exoneração. O Enunciado 265 do CJF reza
que “na hipótese de concubinato, haverá necessidade de demonstração da assistência material
prestada pelo concubino a que o credor de alimentos se uniu”.
O parágrafo único do art.1.708 do CC dispõe que: “Com relação ao credor cessa também, o
direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor”. O Enunciado 264 do CJF
salienta que: “Na interpretação do que seja procedimento indigno do credor, apto a fazer cessar o
direito a alimentos, aplicam-se, por analogia, as hipóteses dos incisos I e II do art.1.814 do Código
Civil”. Já o Enunciado 345 do CJF destaca que: “O procedimento indigno do credor em relação ao
devedor, previsto no parágrafo único do art.178 do Código Civil, pode ensejar a exoneração ou
apenas a redução do valor da pensão alimentícia para quantia indispensável à sobrevivência do
credor”.
b) o filho atinge a maioridade civil. Nada obsta, porém, que o filho maior pleiteie novamente
os alimentos, comprovando a necessidade. O Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 358, cujo
teor é o seguinte: “O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está
sujeito a decisão judicial, mediante contraditório ainda que nos próprios autos”. Portanto, a
maioridade civil, por si só, é insuficiente para provocar a exoneração da obrigação alimentar, sendo,
pois, necessário que o devedor peticione nos autos da ação de alimentos requerendo o
cancelamento da pensão alimentícia, competindo ao filho, que agora já é maior, o ônus de prova da
persistência da necessidade, alegando, por exemplo, despesas com o estudo, instaurando-se,
destarte, o contraditório. Ao invés de peticionar nos próprios autos,o devedor, para exonerar-se,
tem também a opção de ingressar com ação autônoma de exoneração.
Cessada a obrigação alimentar não há direito de acrescer diante da falta de previsão legal. Se,
por exemplo, o pai pagar alimentos de R$ 3.000,00 (três mil reais) a três filhos, extinguindo-se a
obrigação para um deles o débito é reduzido para R$ 2.000,00 (dois mil reais), não se acrescendo
aos outros dois filhos a importância de R$ 1.000, 00 (mil reais).

ALIMENTOS E COISA JULGADA

A possibilidade de alteração ou extinção da prestação alimentar, por ação revisional e ação de

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exoneração, levou o legislador a editar a norma do art. 15 da Lei n° 5.478/68, no sentido de que a
sentença de alimentos não faz coisa julgada.
A doutrina processual tem rejeitado esse ponto de vista e afirmado que a sentença de
alimentos submete-se, sim, à coisa julgada material, mas com a cláusula rebus sic stantibus.
A coisa julgada, que é a imutabilidade dos efeitos da sentença, recai apenas sobre os
elementos da ação, isto é, sobre as partes, o pedido e a causa de pedir. A alternância de um desses
elementos faz com que a ação já não seja mais a mesma.
A ação revisional e a ação de exoneração são baseadas em uma nova causa de pedir,
diferenciando-se, destarte, da ação de alimentos, de modo que não alteram a coisa julgada, porque
esta impede a repetição de mesma ação, e não de outras similares.
Assim, podemos afirmar que a sentença de alimentos faz coisa julgada material, porque
enquanto a situação permanecer a mesma, o dispositivo da sentença não poderá ser alterado.

ALIMENTOS GRAVÍDICOS

CONCEITO E CONTEÚDO

Alimentos gravídicos são os destinados a cobrir as despesas decorrentes do período da


gravidez.
Referidos alimentos visam atender às seguintes despesas:
a) alimentação especial;
b) assistência médica e psicológica;
c) exames complementares;
d) internações;
e) partos;
f) medicamentos;
g) demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de
outras que o juiz considerar pertinentes.
Este rol, como se vê, não é taxativo, pois outras despesas pertinentes podem ser
consideradas pelo juiz.

LEGITIMIDADE ATIVA

O direito aos alimentos gravídicos é titularizado pela mulher gestante, sendo, pois, ela a parte
legítima para a propositura da sobredita ação, conforme se depreende da análise do art. 1º da Lei
n. 11.804/08, independentemente de vínculo conjugal ou união estável com o suposto pai do
nascituro.
A legitimidade passiva é exclusiva do suposto pai, não se estendendo aos avôs paternos ou
outros parentes eventuais do nascituro, cuja obrigação alimentar é sustentada na comprovação do
vínculo de parentesco e não apenas em indícios.

CRITÉRIO DE FIXAÇÃO

Os alimentos gravídicos são fixados como os outros, tendo, pois, por base o binômio
necessidade e possibilidade.
O ônus da prova da necessidade é afeto à alimentada, amparando-se, para comprovação de

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certas despesas, em exames médicos. Vale lembrar que o futuro pai não é obrigado a custear, na
íntegra, estas despesas, porque a obrigação de alimentos é divisível. A propósito, sobre o assunto,
dispõe o parágrafo único do art. 2º da Lei n. 11.804/08:
“Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte das despesas que
deverá ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também deverá ser dada
pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos.

DURABILIDADE

Em regra, os alimentos são fixados por prazo indeterminado, perdurando no tempo com a
cláusula “rebus sic stantibus”, mas os gravídicos têm duração certa, restringindo-se ao período de
gravidez, cessando, para a parturiente, tão logo sobrevenha o nascimento.
São, pois, devidos à gestante no período de vida intrauterina, desde que se comprove a
necessidade, e cessando com o nascimento, ainda que persista a necessidade. Vê-se, portanto, que
a lei deixa ao desamparo a parturiente que, após o nascimento, passa a ter complicações em razão
do parto, necessitando de verbas alimentares.
A partir do nascimento, os alimentos gravídicos têm os seguintes destinos:
a) nascimento com vida: convertem-se em pensão alimentícia em favor do menor até que
uma das partes solicite a sua revisão ou exoneração (parágrafo único do art. 6º da Lei n.
11.804/08). Caso a criança nasça no curso da ação de alimentos gravídicos, uma primeira corrente
sustenta que o processo deve ser extinto sem resolução do mérito, por perda do objeto, pois o
pressuposto dessa ação é a gravidez; outra corrente assevera que o processo deve continuar, pois
há interesse na conversão desses alimentos em favor da criança.
b) natimorto: os alimentos extinguem-se automaticamente.

BEM DE FAMÍLIA

CONCEITO

Bem de família é o destinado à residência dos cônjuges ou entidade familiar, dotado de


inalienabilidade ou impenhorabilidade.

ESPÉCIES

No Brasil, distinguem-se duas espécies de bem de família, o legal, previsto na Lei n° 8.009/90,
e o voluntário, disciplinado nos arts. 1.711 a 1.722 do CC.
Em ambos, só há a proteção se ao tempo da aquisição do bem de família, a pessoa era
solvente. O insolvente que adquire imóvel mais valioso para lá transferir sua residência familiar não
gozará da proteção em relação a essa aquisição, mas a impenhorabilidade poderá recair sobre o
imóvel anterior.
A existência de dívidas anteriores não anulam a constituição do bem de família se a pessoa
era solvente, devendo os credores anteriores garantirem a execução em relação à parcela do
patrimônio do devedor que não compõe o bem de família.

PARALELO ENTRE O BEM DE FAMÍLIA LEGAL E O BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO

O bem de família legal é instituído automaticamente, com a simples residência dos cônjuges

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ou da entidade familiar no imóvel residencial próprio, prescindindo-se de qualquer ato jurídico;


emana, portanto, diretamente da lei, e por ser matéria de ordem pública tem efeito retroativo,
aplicando-se inclusive às penhoras realizadas antes da vigência da lei 8.009/90, que instituiu a
proteção (súmula 205 do STJ).
O bem de família voluntário, ao revés, para ser instituído, além do imóvel destinar-se a
domicílio familiar, urge ainda que a sua afetação a essa finalidade ocorra mediante escritura pública
ou testamento; emana, portanto, de um ato de vontade.
O bem de família legal é instituído automaticamente com o início da moradia. O bem de
família voluntário só pode ser instituído pelo proprietário que mora no imóvel há pelo menos dois
anos.
O bem de família legal é dotado apenas de impenhorabilidade, podendo ser alienado
normalmente, independentemente de ordem judicial.
O bem de família voluntário é dotado de impenhorabilidade e inalienabilidade, podendo ser
alienado apenas mediante ordem judicial.
O bem de família legal, como logo veremos, em relação a certos tipos de dívidas, pode ser
penhorado; o bem de família voluntário só admite a penhora em relação às dívidas oriundas de
tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.
O bem de família legal não é registrado no Registro de Imóveis, ao passo que o bem de família
voluntário submete-se ao aludido registro, sendo averbada na matrícula do imóvel a sua instituição.
Referido registro tem natureza constitutiva, gerando publicidade e efeito “erga omnes”. Sobre o
bem de família legal, só é possível a sua averbação no Registro de Imóveis mediante decisão
judicial, sendo vedado ao oficial fazer essa averbação com base apenas no requerimento dos
interessados.
O bem de família legal, na hipótese de a família residir em imóvel rural, recai apenas sobre a
sede da moradia, com os respectivos bens imóveis; o bem de família voluntário pode abranger até
um terço do patrimônio líquido da família, incidindo até esse limite sobre qualquer imóvel, urbano
ou rural.
Acrescente-se, ainda, que o bem de família legal não pode recair sobre obras de arte e
adornos suntuosos; o bem de família voluntário pode abrangê-los, desde que se trate de pertenças,
isto é, que se destinem, de modo duradouro, ao uso, serviço ou aformoseamento do imóvel.

BENEFICIÁRIOS DO BEM DE FAMÍLIA

O bem de família, em suas duas modalidades, destina-se à proteção dos cônjuges ou entidade
familiar, em relação a futuros débitos.
A entidade familiar corresponde à união estável entre o homem e a mulher e à comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes (art. 226, §§ 3º e 4º da CF). de acordo com a
Constituição Federal, a família emana do casamento, união estável e dos laços de descendência. O
STF alargou o conceito de família para que ela abrangesse também a união homoafetiva, isto é,
entre pessoas do mesmo sexo, estendendo-lhe os direitos da união estável, aplicando-se-lhe
portanto as normas do bem de família.
Enquanto o bem de família voluntário só é concedido em situações que há família,
compreendida em sentido amplo para abranger a união homoafetiva, o bem de família legal,
conforme tendência jurisprudencial, visa proteger o direito à moradia, previsto no art. 6º da CF,
tanto é que a súmula 364 do STJ dispõe que “o conceito de impenhorabilidade do bem de família
abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas”.

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OBJETO

O bem de família legal, previsto na Lei n° 8.009/90, recai sobre:


a) o imóvel residencial próprio, urbano ou rural, abrangendo, as construções, plantações, as
benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional. De
acordo com a súmula 449 do STJ: “A vaga de garagem que possui matrícula própria no Registro
de Imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora”. Referida súmula, a meu ver,
encontra-se cancelada, pois com o advento da lei 12.607/2012 as vagas de garagem, no
condomínio edilício, não podem ser alienadas e gravadas livremente por seus proprietários,
mas somente em conjunto com o apartamento. O §1º do art. 1331 do CC, com nova redação
dada pela lei 12.607/2012, ressalva expressamente que os abrigos para veículos, isto é, as vagas
de garagem não poderão “ser alienadas ou alugadas a pessoas estranhas ao condomínio, salvo
autorização expressa na convenção de condomínio”, e ainda sim, desde que haja matrícula
autônoma.
b) os móveis que guarnecem a residência, desde que quitados, salvo os veículos de transporte,
obras de arte e adornos suntuosos;
c) os móveis quitados que guarnecem a residência e que sejam de propriedade do locatário, salvo
obras de arte e adornos suntuosos.

Por outro lado, o bem de família voluntário, previsto no Código Civil, pode recair sobre:
a) prédio residencial próprio, urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios. De acordo com o
STF, o imóvel residencial rural só pode abranger a pequena propriedade rural, que deve ter
entre um a quatro módulos rurais do município onde se situa o bem, compreendendo nesse
espaço a sede da moradia e seus naturais acessórios.
b) valores mobiliários devidamente individualizados no ato de instituição. Os valores mobiliários
são os títulos de investimentos de emissão de uma sociedade por ações para obter os recursos
de que necessita. Compreendem as ações, as debêntures, as partes beneficiárias, os bônus de
subscrição e outros previstos na legislação específica. Se se tratar de títulos nominativos, a sua
instituição como bem de família deverá constar dos respectivos livros de registro (§ 2º do art.
1.713). Maria Helena Diniz alarga o conceito de valores mobiliários para nele abranger qualquer
bem móvel, como créditos pecuniários, veículos automotores, aplicações financeiras, etc.

VALOR DO BEM DE FAMÍLIA

O bem de família legal não tem limite de valor, recaindo a impenhorabilidade sobre qualquer
imóvel que sirva de residência do casal ou da entidade familiar. Na hipótese de o casal, ou entidade
familiar, serem possuidores de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade
recairá sobre o de menor valor, salvo se outro imóvel tiver sido registrado como bem de família
voluntário, conforme ressalva prevista no art. 1.711 do CC. Se o casal tem vários imóveis
residenciais, o bem de família é o que serve efetivamente de residência, ainda que seja o mais
valioso.
O bem de família voluntário, por sua vez, não pode ultrapassar um terço do patrimônio
líquido existente ao tempo da instituição, compreendendo-se nesse montante o imóvel e os valores
mobiliários. Aliás, quanto aos valores mobiliários, não poderão exceder o valor do prédio instituído
em bem de família, à época de sua instituição. Para elaborar esse cálculo, extrai-se os bens
necessários ao pagamento das dívidas, sendo que a sobra é o patrimônio líquido, do qual apenas
um terço pode integrar o bem de família. É um instituto elitista, pois só beneficia as pessoas

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abastadas. A pessoa que tem um imóvel e depois adquire outro mais valioso não poderá
transformar esse último, para onde transferiu a residência, em bem de família voluntário, caso o
valor seja superior a um terço do seu patrimônio líquido. Igualmente, se o patrimônio da pessoa se
resume a um único imóvel, não há possibilidade de sobre ele instituir o bem de família voluntário.

EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE

O bem de família voluntário só pode ser penhorado em três hipóteses:


a) dívidas anteriores à sua instituição;
b) dívidas provenientes de tributos relativos ao prédio;
c) dívidas referentes às despesas de condomínio.
Nesses casos, o saldo existente será aplicado em outro prédio como bem de família, ou em
títulos de dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra
solução, a critério do juiz (parágrafo único do art. 1.715).

Por outro lado, o bem de família legal pode ser penhorado nas seguintes situações:
a) créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições
previdenciárias; créditos decorrentes do financiamento destinado à construção ou aquisição de
imóvel;
b) créditos de pensão alimentícia. Entretanto, será resguardada a meação e o direito real de
habitação do coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal. Mas se ambos
forem devedores dos alimentos, a penhora poderá recair sobre todo o imóvel e não será
preservado o direito real de habitação (Lei 13.144/2015);
c) cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do
imóvel familiar. É também possível a penhora quando se tratar de dívida de condomínio, pois trata-
se de contribuição devida em função do imóvel, isto é, obrigação “propter rem”;
d) execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou entidade
familiar. Há entendimento que a penhora só é cabível nas dívidas de interesse da família,
afastando-se a penhora do bem de família, por exemplo, nos casos de hipoteca oferecida para
garantir dívida de empresa individual de um dos membros da família;
e) por ter sido adquirido com o produto do crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens;
f) por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação, ainda que se trate
da única residência do fiador. Essa situação viola a isonomia, pois coloca o fiador em situação de
desvantagem em relação ao inquilino devedor, pois este continua com a proteção do bem de
família, basta imaginar uma locação para fins comerciais, o imóvel residencial do inquilino, onde ele
reside com a família, será impenhorável, enquanto o do fiador sujeitar-se-á à penhora.
Discute-se se fora dessas exceções legais o executado poderia oferecer voluntariamente o
bem à penhora. A meu ver, impõe-se resposta negativa, sob pena de frustrar-se, na prática, o
objetivo da lei, cujo escopo é a proteção da família, e não propriamente do devedor. Trata-se de
norma cogente, que atende aos ditames do art. 226 da CF, segundo o qual a família deve ser
protegida pelo Estado, sendo, portanto, inadmissível a renúncia à garantia legal, malgrado opiniões
em contrário que admitem a renúncia por se tratar de direito patrimonial.

PODER FAMILIAR

CONCEITO

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Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais em relação à pessoa e ao
patrimônio dos filhos menores, que não estejam emancipados, com o intuito de protegê-los.

TITULARIDADE DO PODER FAMILIAR

O poder familiar é exercido pelos pais, em conjunto e igualdade de condições. Na hipótese de


divergência, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo. O menor
púbere tem poder familiar sobre seus filhos, mas o exercerá com assistência do seu representante
legal. O menor impúbere, caso tenha filhos, não tem poder familiar; os seus pais ou tutor serão os
representantes legais dos seus filhos.
NATUREZA JURÍDICA

O poder familiar é um munus público, irrenunciável, imprescritível e indelegável, imposto


pelo Estado, aos pais, com fito de zelar pelo porvir dos filhos.

O PODER FAMILIAR QUANTO À PESSOA DOS FILHOS

Dispõe o art. 1.634 que: “Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I. dirigir-lhes a criação e educação. Compreende-se aqui o dever de subsistência material do
filho e a sua respectiva educação, sob pena de cometer os delitos de abandono material e
abandono intelectual, previstos nos arts. 244 e 246 do CP, respectivamente.
A eventual ação de alimentos será em Vara da Infância e Juventude ou Vara de Família,
conforme o menor esteja ou não na situação de risco do art. 98 do ECA, em ambas, o rito será o da
Lei 5.4768/1968. O art. 200, III, do ECA atribui legitimidade ativa ao Ministério Público para esta
ação de alimentos. É pacífico que o membro do “parquet” poderá mover esta ação quando a
criança ou adolescente encontrar-se na situação de risco do art. 98 do ECA, mas fora dessas
hipóteses o tema é polêmico, tendo o que admitem com base no art. 141 do ECA, segundo o qual é
garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
II. exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584. A separação judicial, o
divórcio e a dissolução da união estável não alteram o poder familiar, mas apenas a guarda dos filhos, que
pode ser deferida a apenas um dos genitores. Nesse caso, o outro tem o direito de tê-los em sua companhia,
exercitando o direito de visita. A prioridade, no entanto, é para a guarda compartilhada, que é exercida em
conjunto por ambos os pais. Na guarda compartilhada, fixa-se a residência do menor com um dos genitores,
mas o tempo de convívio entre o filho e o pai e a mãe é dividido de forma equilibrada pelo juiz, com vista às
condições fáticas e interesse do menor. Se não houver acordo entre os pais, o juiz concede a guarda
compartilhada, salvo se um deles declarar que não deseja a guarda ou não reunir aptidão para ser guardião.
Na guarda unilateral, apenas um dos pais detém a guarda, o outro tem apenas o direito de visita, além do
poder de supervisionar os interesses do menor, exigir informações e prestação de contas relativas à saúde e
educação do filho;
III. conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV. conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior. Desde que ambos
os pais concordem, o menor pode viajar para o exterior sem autorização judicial;
V. conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente
para outro município. Ainda que a guarda seja unilateral, o genitor que não é o guardião tem que

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concordar com a mudança de residência permanente para outro município;


VI. nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar. Trata-se da chamada tutela
testamentária. De acordo com o art. 37 do ECA, o tutor indicado por testamento ou qualquer
documento autêntico, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias, após a abertura da sucessão, requerer
ao juiz que o nomeie. O juiz só o nomeará se restar comprovado que a medida é vantajosa ao
tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la (parágrafo único do
art. 37 do ECA);
VII. representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa
idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento. Se o interesse do menor
colidir com o dos pais, o juiz, atendendo ao pedido do Ministério Público, nomeará curador especial
para representar ou assistir o menor nessa situação específica (art. 142 do ECA);
VIII. reclamá-los de quem ilegalmente os detenha. Nesse caso, ação cabível é a busca e
apreensão;
IX. exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição. Anote-se, porém, que até os 16 anos é vedado o trabalho fora do lar (art. 403 da CLT),
salvo na condição de aprendiz, desde que o menor já tenha atingido 14 anos (CF, art. 7º, XXXIII).
Para que o maior de 14 anos possa trabalhar, ele precisa cursar escola, sendo-lhe assegurado o
bolsa aprendizagem (art. 64 da lei 8.069/90). Quanto ao trabalho noturno, é vedado até os 18 anos
(CLT, art. 404).
Os pais ainda podem emancipar os filhos menores púberes. A emancipação voluntária é feita
por escritura pública dos pais. Quando faltarem os pais, isto é, no caso de tutela, a emancipação
dependerá de sentença judicial e a competência só será do juiz da Vara da Infância e Juventude nas
situações do art. 98 do ECA, conforme art. 148, parágrafo único do ECA.

O PODER FAMILIAR QUANTO AOS BENS DOS FILHOS

Os aspectos patrimoniais do poder familiar não são disciplinados no ECA, e, sim, pelo Código
Civil.
O Código passou a disciplinar esse assunto no subtítulo II do Título II, que cuida do Direito
Patrimonial. Todavia, por razões didáticas, abordaremos a matéria no capítulo pertinente ao poder
familiar.
Com efeito, dispõe art. 1.689:
“O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar:
I. são usufrutuários dos bens dos filhos;
II. têm a administração dos bens dos filhos menores sob a sua autoridade.”

O usufruto atribui aos pais a propriedade das rendas produzidas pelo patrimônio dos filhos. Trata-
se de um usufruto universal, porque recai sobre todo o patrimônio do menor; e legal, porque
estabelecido pela própria lei, prescindindo-se do registro. No Código de 1916, o viúvo, ou a viúva, com
filhos do cônjuge falecido, que se casava antes de fazer o inventário, perdia o direito a esse usufruto
(art. 225). O novo Código não repete esse dispositivo, de modo que, por esse fato, não há mais a perda
do usufruto.
Por outro lado, aos pais ainda competem administrar os bens dos filhos menores, sem
necessidade de prestar caução ou de prestar contas. Note-se que com o advento da lei
13.058/2.014, que alterou o §5º do art. 1.584, o genitor pode exigir a prestação de contas do outro
genitor em assuntos ou situações que afetem a saúde e educação do menor.

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Os pais não são remunerados por essa administração. Não podem, porém, alienar, ou gravar
de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os
limites da simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, mediante
ordem judicial (art. 1.691). Observe-se que, para alienação, basta o alvará judicial, prescindindo-se
da hasta pública. A responsabilidade dos pais pela má administração é subjetiva, só quando agirem
com culpa é que serão obrigados a indenizar as perdas e danos causadas ao filho menor.
Sempre que no exercício do poder familiar colidir o interesse dos pais com o do filho, a
requerimento deste ou do Ministério Público, o juiz lhe dará curador especial (art. 1.692).
Excluem-se do usufruto e da administração dos pais (art. 1.693):
I. os bens adquiridos pelo filho havido fora do casamento, antes do reconhecimento;
II. os valores auferidos pelo filho maior de dezesseis anos, no exercício de atividade
profissional e os bens com tais recursos adquiridos;
III. os bens deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem usufruídos, ou
administrados, pelos pais;
IV. os bens que aos filhos couberem na herança, quando os pais forem excluídos da sucessão.
Trata-se, aqui, dos bens ereptícios, que são aqueles excluídos do herdeiro indigno. Nesse e nos
outros casos, os bens serão administrados pelo outro genitor. Se este já morreu ou for incapaz, o
juiz deverá nomear um curador especial para administrar esses bens.
Igualmente, são também excluídos do usufruto, mas não da administração dos pais, os bens
deixados ao filho para fim certo e determinado, como, por exemplo, a quantia destinada a prover
os estudos do menor.

SUSPENSÃO E DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR

A suspensão e a destituição consistem na interrupção do poder familiar em face de uma


conduta grave dos pais. Dependem de decisão judicial. Decretada a destituição ou suspensão do
poder familiar, o outro genitor exercerá o munus sozinho, mas se ele já morreu ou for incapaz, o
juiz nomeará tutor ao menor.
Na verdade, a suspensão e a destituição são impostas para proteger o menor, e não tanto
para punir os pais.
Não obstante a suspensão ou destituição, uma vez cessadas as causas que motivaram essas
medidas, o genitor poderá requerer ao juiz seja reinvestido novamente no poder familiar. Se, no
entanto, a perda do poder familiar for decorrente de sentença penal condenatória, por crime
doloso sujeito à pena de reclusão cometido contra o filho, será vedada a reintegração do poder
familiar em relação a esse filho que foi vítima do crime (art. 92, II e parágrafo único do art. 93,
ambos do CP).
No período de suspensão ou destituição, o genitor perde todos direitos em relação ao filho,
inclusive o usufruto legal.
Sobre a distinção entre a suspensão e a destituição do poder familiar, podemos esclarecer o
seguinte:
a) a suspensão é reservada aos fatos menos graves; a destituição ou perda, aos mais graves;
b) a suspensão pode recair apenas sobre um dos filhos; a destituição, devido à sua gravidade,
deve estender-se a toda a prole. Este efeito extensivo da perda do poder familiar, no entanto, é
polêmico, conforme veremos adiante. Ainda sobre o art. 92, II, do CP, cumpre registrar que a
absolvição penal não impede que, na esfera extrapenal, seja decretada, pelo mesmo fato, a perda
ou suspensão do poder familiar, por força do princípio da independência das instâncias, salvo
quando a absolvição decorrer da inexistência do fato ou negativa da autoria (art. 935 do CC).

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c) a suspensão pode abranger todas ou apenas algumas prerrogativas do poder familiar; a


destituição, atinge a todas;
d) a suspensão é uma faculdade do juiz, que pode optar por outra solução; a destituição é
dever do juiz, que não pode deixar de decretá-la quando caracterizada uma das hipóteses previstas
em lei;
e) a suspensão pode ser decretada liminarmente (art. 157 do ECA); a destituição só se perfaz
com o trânsito em julgado da sentença;
f) a suspensão pode ser por tempo determinado ou indeterminado; a destituição será sempre
por tempo indeterminado.
Cumpre observar que a sentença que decretar a perda ou suspensão do poder familiar será
averbada à margem do registro de nascimento da criança ou adolescente.
Quanto às causas de suspensão, o Código as descreve genericamente. São as seguintes (art.
1.637):
a) se o pai ou mãe abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou
arruinando os bens do filho;
b) se o pai ou mãe forem condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja
pena exceda a dois anos de prisão. Note-se que a condenação penal não gera a perda do poder
familiar, salvo nos crimes de reclusão cometidos contra o próprio filho (lei 12.962/2014).
Outra causa de suspensão do poder familiar é a prática da alienação parental, prevista na lei
12.318/2.010.

EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR

A extinção do poder familiar emana diretamente da lei, prescindindo-se de qualquer


pronunciamento judicial. Nada tem a ver com a prática de conduta grave. As hipóteses estão
relacionadas à extinção da personalidade, à aquisição da capacidade e com a adoção.
Com efeito, dispõe o art. 1.635 que se extingue o poder familiar:
I. pela morte dos pais ou do filho;
II. pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único;
III. pela maioridade;
IV. pela adoção. Com a adoção, o poder familiar é transferido ao adotante. A morte do
adotante não restaura o poder familiar dos pais biológicos, devendo o juiz nomear tutor ao menor.
O art. 1.635 ainda acrescenta que a destituição do poder familiar também é causa da sua
extinção. Trata-se, a nosso ver, de inadequada inovação do Código, porque a extinção
propriamente dita é sempre definitiva, ao passo que na destituição ainda é possível o
restabelecimento do poder familiar.

TUTELA

CONCEITO

Tutela é o instituto de proteção aos menores, que não estejam sob o poder familiar dos pais,
cujo escopo é assisti-los ou representá-los, bem como lhes administrar os bens. Onde há tutela não
há poder familiar e vice-versa, um instituto exclui o outro.
Dispõe o art. 1.728 que os filhos menores são postos em tutela:

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I. com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;


II. em caso de os pais decaírem do poder familiar.
Portanto, o menor que não esteja sob o poder familiar deve necessariamente ser posto sob
tutela.

ESPÉCIES DE TUTELA

A tutela pode ser:


a) tutela testamentária: quando os pais indicam o tutor, em testamento ou documento
autêntico. Esse documento autêntico pode ser um codicilo ou escritura pública, ou instrumento
particular com firma reconhecida. Em caso de o testamento ter indicado mais de um tutor, presume-se
que a tutela foi cometida ao primeiro e que os outros lhe sucederão pela ordem de nomeação (§ 1º. do
art. 1.733). Só é válida a tutela testamentária se o progenitor nomeante estiver no exercício do poder
familiar, desde ainda que o outro progenitor, por qualquer razão, não possa também exercer o poder
familiar. O novo código não permite mais que os avós, por testamento ou outro documento, façam a
indicação do tutor;
b) tutela legítima: quando a lei indica o tutor, diante da falta de tutor nomeado pelos pais.
O art. 1.731 coloca os ascendentes em primeiro lugar e depois os colaterais até o terceiro grau; os
parentes mais próximos excluem os mais remotos; entre os colaterais do mesmo grau, os mais
velhos têm preferência sobre os mais moços. Essa ordem, porém, não é rígida e sim flexível, porque
o juiz poderá alterá-la, escolhendo o parente mais apto a exercer a tutela em benefício do menor;
c) tutela dativa: quando a nomeação recai sobre outra pessoa idônea e residente no
domicílio do menor. Só aplicável, em princípio, na falta de tutor testamentário ou legítimo. Nada
obsta, porém, que no interesse do menor, a despeito da possibilidade de tutor testamentário ou
legítimo, o juiz opte pela tutela dativa. Tal ocorre, por exemplo, quando o menor já se encontra sob
os cuidados de uma pessoa idônea.

TUTELA DOS IRMÃOS

Aos irmãos órfãos dar-se-á um só tutor (art. 1.733). O objetivo da lei é evitar a separação dos
irmãos. Na prática, essa norma não é absoluta, porque a tutela deve objetivar o interesse do
menor, de modo que os juízes acabam, às vezes, nomeando tutores diferentes para os irmãos.
IMPEDIDOS DE EXERCER A TUTELA

O art. 1.735 proíbe certas pessoas de serem tutoras. Grosso modo, são os inimigos do menor
ou de seus pais, as pessoas de mau comportamento, as pessoas que não têm a livre administração
de seus bens e aqueles que exercem função pública incompatível com a boa administração da
tutela. Quanto ao credor do menor, aparentemente pode assumir a tutela. Com efeito, preceitua o
art. 1.751 que “antes de assumir a tutela, o tutor declarará tudo que o menor lhe deva, sob pena de
não lhe poder cobrar, enquanto exerça a tutela, salvo provando que não conhecia o débito quando
a assumiu”.

ESCUSA OU DISPENSA DA TUTELA

A tutela é um munus público, razão pela qual a lei restringe as hipóteses de escusa.
Com efeito, dispõe o art. 1.736 que podem escusar-se da tutela:
I. mulheres casadas. Essa regalia, a nosso ver, fere o princípio da isonomia, porque homem e

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mulher são iguais em direitos e obrigações (art. 5º, I, da CF);


II. maiores de sessenta anos;
III. aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos. Há quem sustente que só é
possível a escusa se a pessoa tiver mais de três filhos menores, excluindo-se os maiores e
emancipados;
IV. os impossibilitados por enfermidade;
V. aqueles que habitarem longe do lugar onde se acha de exercer a tutela;
VI. aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII. militares em serviço.
O art. 1.737 acrescenta mais uma hipótese: “Quem não for parente do menor não poderá ser
obrigado a aceitar a tutela, se houver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou afim, em
condições de exercê-la.” Esses parentes ou afins são limitados ao quarto grau.
A escusa será apresentada nos dez dias subsequentes à designação, sob pena de entender-se
renunciado o direito de alegá-la; na verdade, o prazo começa a correr da ciência ou intimação da
designação. Se o motivo escusatório ocorrer depois de aceita a tutela, os dez dias contar-se-ão do
dia em que ela sobrevier (art.1.738).
Se o juiz não admitir a escusa, exercerá o nomeado a tutela, enquanto o recurso interposto
não tiver provimento, e responderá desde logo pelas perdas e danos que o menor venha a sofrer
(art. 1.739). Portanto, o referido recurso não tem efeito suspensivo.

GARANTIA DA TUTELA

O juiz, em face do novo Código, só pode condicionar o exercício da tutela à prestação de


caução, se o patrimônio do menor for de valor considerável. Ainda assim, poderá dispensá-la se o
tutor for de reconhecida idoneidade moral e econômica (parágrafo único do art. 1.745).
A caução ou garantia pode ser real (hipoteca e penhor) ou fidejussória (fiança).

A TUTELA QUANTO À PESSOA DO PUPILO

Ao tutor compete representar o pupilo até os 16 anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa
idade, nos atos em que for parte. Cabe-lhe ainda dirigir-lhe a educação, defendê-lo e prestar-lhe
alimentos, conforme os seus haveres e condição, se não houver parentes em condições de pagar a
verba alimentar. Se, porém, o menor tiver bens ele será sustentado às suas expensas, com supervisão
do tutor, que será ainda remunerado.

A TUTELA QUANTO AOS BENS DO PUPILO

Incumbe ao tutor a administração dos bens do tutelado.


O novo Código introduz a figura do protutor, que é a pessoa nomeada pelo juiz para a
fiscalização dos atos do tutor (art. 1.742). Essa nomeação é mera faculdade do juiz. Trata-se de uma
medida salutar, sobretudo, quando o tutor se tornar suspeito e o juiz quiser eliminar a dúvida antes
de destituí-lo.
O novo Código ainda admite a delegação parcial da tutela a outras pessoas físicas ou jurídicas,
mediante requerimento do tutor ao juiz, em relação aos bens e interesses administrativos que
exigem conhecimentos técnicos complexos ou então tiverem de ser realizados em lugares distantes
do domicílio do tutor (art. 1.743). Fora dessas hipóteses, a tutela é indelegável.

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Certos atos o tutor só pode praticar com autorização do juiz. São os seguintes:
I. pagar dívidas do menor;
II. aceitar herança, legado ou doações, ainda que com encargos;
III. transigir;
IV. vender-lhe os bens móveis, cuja conservação não convier, e os imóveis nos casos em que
for permitido. Quanto aos bens móveis destinados à venda, por exemplo, uma safra de café, não há
necessidade de autorização do juiz (art. 1.747, IV). Quanto à alienação dos imóveis é sempre
necessário o alvará judicial, mediante prévia avaliação e parecer do Ministério Público; todavia,
pelo novo Código não há mais necessidade de que essa venda seja feita em hasta pública;
V. propor em juízo as ações, ou nelas assistir o menor.
Em todas essas hipóteses, se o tutor praticar o ato sem autorização do juiz, este ainda poderá
ratificá-lo ulteriormente, conforme preceitua o parágrafo único do art. 1.748. Trata-se de outra
inovação, porque o ato de nulo passa a ser anulável.
Certos atos o tutor não pode praticar nem com autorização do juiz, sob pena de nulidade
absoluta. São os seguintes (art. 1.749):
I. adquirir bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor. No caso de aquisição por
interposta pessoa o ato também é nulo;
II. dispor dos bens do menor a título gratuito;
III. constituir-se cessionário de crédito ou de direito contra o menor.

Finalmente, alguns atos o tutor pode praticar sem autorização do juiz. São os seguintes:
I. receber as rendas e pensões do menor e as quantias a ele devidas;
II. fazer-lhe as despesas de subsistência e educação, bem como as de administração;
III. alienar os bens móveis destinados à venda;
IV. promover-lhe, mediante preço convencional, o arrendamento dos bens imóveis. No
regime do Código de 1916, esse arrendamento dependia de autorização judicial e hasta pública.
Por outro lado, os tutores não podem conservar em seu poder dinheiro dos tutelados, salvo a
quantia necessária para despesas ordinárias com o seu sustento, educação e administração de seus
bens (art. 1.753). O dinheiro em excesso deverá ser depositado em banco oficial, em nome do menor,
ou aplicado na aquisição de imóveis, conforme for determinado pelo juiz. Os tutores respondem pela
demora na aplicação desse dinheiro, pagando os juros legais desde o dia em que deveriam dar esse
destino.
A retirada do dinheiro depositado no banco oficial, em nome do pupilo, depende de alvará
judicial. O juiz somente poderá deferi-la, mediante as justificativas previstas no art. 1.754, dentre as
quais destacam-se as aquisições de bens imóveis e as despesas com o sustento, educação e
administração dos bens do tutelado.
Se o patrimônio do menor for de valor considerável, poderá o juiz condicionar o exercício da
tutela à prestação de caução bastante, podendo dispensá-la se o tutor for de reconhecida
idoneidade (parágrafo único do art. 1745 do CC).

DA RESPONSABILIDADE DO JUIZ, DO TUTOR E DO PROTUTOR

O tutor responde pelos prejuízos que, por culpa ou dolo, causar ao pupilo. O protutor é
solidariamente responsável. Também são devedores solidários os terceiros que concorreram para
o dano (art. 1.752 e §§ 1º e 2º). Trata-se de responsabilidade civil subjetiva, que é, portanto,
excluída na hipótese de dano causado por caso fortuito ou força maior.
Por outro lado, o juiz responde subsidiariamente pelos danos que o tutor causar ao

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patrimônio do pupilo, quando não tiver exigido garantia legal do tutor, nem o removido, quando
este se tornou suspeito (art. 1.744, II). Anote-se que a responsabilidade é subsidiária, pressupondo-
se, destarte, o exaurimento dos bens do tutor, protutor e terceiros responsáveis.
Acrescente-se, ainda, que a responsabilidade do juiz será direta e pessoal, quando não tiver
nomeado tutor, ou não o houver feito oportunamente (art. 1.744, inciso I).

REMUNERAÇÃO DO TUTOR E PROTUTOR

O tutor deve ser ressarcido das despesas efetuadas no exercício da tutela. Além disso, tem
direito a uma remuneração arbitrada pelo juiz, proporcional à importância dos bens administrados;
o Código de 1916 previa uma remuneração de no máximo 10% da renda anual do menor. Na tutela
testamentária, o valor dessa remuneração pode ser arbitrado no testamento ou documento que
nomeou o tutor. Quanto ao protutor, tem direito a uma gratificação módica arbitrada pelo juiz.
A lei exclui da remuneração apenas o tutor de menor abandonado; a nosso ver, ainda que
esse menor tenha bens, nenhuma remuneração assiste ao tutor, caso contrário, a ressalva da lei
seria inútil. Tratando-se de menor que não tem bens ou cujo patrimônio seja exíguo, a
remuneração também não será devida, malgrado o silêncio da lei.

CESSAÇÃO DA TUTELA

Cessa a condição de tutelado (art. 1.763):


I. com a maioridade ou emancipação do menor;
II. se o menor for adotado ou reconhecido pelo pai ou mãe, caindo, portanto, sob o poder
familiar. Também cessa a tutela se o menor se alistar ou for sorteado para o serviço militar,
conforme lei 8.239/91, outrossim, quando falecer.

Cessam as funções do tutor (art. 1.764):


I. ao expirar o termo, em que estava obrigado a servir. O tutor é obrigado a servir por dois
anos; expirado esse prazo, a recondução é automática, independe de despacho judicial. Todavia,
findo esse prazo, o tutor pode requerer a escusa, e, nesse caso, o juiz é obrigado a liberá-lo;
II. ao sobrevir escusa legítima. O tutor deve formular o requerimento de escusa e aguardar o
julgamento, tal qual na hipótese anterior, mas o juiz não é obrigado a deferir o requerimento de
escusa;
III. ao ser removido. A remoção ou destituição pode emanar de uma incapacidade
superveniente ou de negligência ou má administração. O pedido de remoção pode ser formulado
por qualquer interessado e pelo Ministério Público. Em caso de extrema gravidade, o juiz poderá
suspender o tutor, antes da sentença de remoção, nomeando um tutor interino (art. 762 do
CPC/2015).

DISTINÇÃO ENTRE PODER FAMILIAR E TUTELA

O poder familiar é atributo exclusivo dos pais, cuja investidura emana da lei; o tutor é
investido nas funções por decisão judicial.
O poder familiar é exercido até que o filho atinja a maioridade civil ou a emancipação; a tutela
é exercida por dois anos, embora possa ser prorrogada, por vontade do tutor.
Os pais têm usufruto e administração dos bens dos filhos menores; o tutor só os administra.
Os pais podem emancipar o filho voluntariamente, mediante escritura pública, se o menor

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tiver mais de dezesseis anos; o tutor, para emancipar o pupilo púbere, deve dirigir-se ao juiz, para
que a emancipação seja formalizada por sentença.
Os pais não prestam contas da administração dos bens dos filhos; o tutor presta de dois em
dois anos ou toda vez que o juiz determinar.
O poder familiar é exercido em conjunto, pelo pai e pela mãe, em igualdade de condições; a
tutela é unipessoal, porque somente uma pessoa pode ser nomeada tutora. Há, porém, opiniões
sustentando, acertadamente, a possibilidade de tutela conjunta, em favor de casais, quando a
nomeação não objetivar a administração dos bens do menor e sim a sua colocação em família
substituta.

CURATELA

CONCEITO

Curatela é o instituto de proteção à pessoa e ao patrimônio dos maiores incapazes.


O Código manda aplicar à curatela as normas atinentes à tutela. Assim, como esclarece Sílvio
Rodrigues, a distinção fundamental entre a tutela e a curatela consiste em que a primeira se
destina a proteger o incapaz menor, enquanto a segunda se destina a proteger o incapaz maior.

LIMITES À CURATELA

O juiz, atento ao grau de lucidez do interditando, pode amenizar os efeitos da interdição,


restringindo-a aos atos de maior relevo, à semelhança do que, por força de lei, já ocorre,
automaticamente, em relação ao pródigo.
Com efeito, dispõe o art. 1.772 do CC:
“O juiz determinará, segundo as potencialidades da pessoa, os limites da curatela,
circunscritos às restrições constantes do art. 1.782, e indicará curador”.

CURATELA PRORROGADA OU EXTENSIVA

Dispõe o art. 1.778 que a autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens dos filhos do
curatelado, observando o art. 5º.
Assim, a curatela prorrogada consiste no fato de o curador ser automaticamente o tutor dos
filhos menores do curatelado, independentemente de ato judicial nomeando-o para esse fim.

TOMADA DE DECISÃO APOIADA

Introdução

Trata-se de um instituto de proteção às pessoas capazes, mas que apresentam algum tipo de
deficiência. Elas não são colocados sob curatela, mas elas podem pleitear judicialmente a concessão
desse instituto denominado “Tomada de Decisão Apoiada”, previsto no art. 1.783-A do CC, que foi
incluído pela lei 13.146/2.015.

Conceito

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A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo
menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança,
para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos
e informações necessários para que possa exercer sua capacidade (art. 1783-A).

Legitimidade

O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com
indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo (§ 2o do
art. 1.783-A).

Peculiaridades do procedimento

Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os


apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os
compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos
direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar (§ 1o do art. 1.783-A).
Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por
equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as
pessoas que lhe prestarão apoio (§ 3o do art. 1.783-A).

Validade da decisão

A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições,
desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado (§ 4o do art. 1.783-A).
Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os
apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação
ao apoiado (§ 5o do art. 1.783-A).
Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência
de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público,
decidir sobre a questão (§ 6o do art. 1.783-A).

Destituição do apoiador

Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as obrigações
assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público
ou ao juiz (§ 7o do art. 1.783-A).
Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e
se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio (§ 8o do art. 1.783-A).

Revogação do apoio

A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo
de tomada de decisão apoiada (§ 9o do art. 1.783-A).

Renúncia do apoiador

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O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de


decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria (§
10 do art. 1.783-A).

Prestação de contas

Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições referentes à


prestação de contas na curatela (§ 11 do art. 1.783-A).

SENTENÇA

A sentença de interdição é meramente declaratória, podendo seus efeitos retroagir à data do


início da incapacidade. Não é a sentença que gera a incapacidade, sendo, portanto, incoerente o
ponto de vista dos que a consideram constitutiva.
Saliente-se, porém, que, no procedimento de interdição, não há qualquer discussão acerca da
nulidade dos atos praticados pelo incapaz. Esses não se desfazem automaticamente, isto é, com a
mera decretação da interdição. Urge que se mova a ação de nulidade ou anulação dos atos e
negócios jurídicos, propiciando a ampla defesa à parte contratante, que, por sinal, sequer participa
do procedimento de interdição.
Não obstante a regra seja a invalidade dos atos anteriores à sentença, o juiz pode preservá-
los quando a outra parte contratante demonstrar a boa-fé e o erro escusável acerca do estado
mental do interditando. Entretanto, como adverte Silvio Rodrigues, se a alienação mental era
notória, se o outro contratante dela tinha conhecimento, ou se podia, com diligência ordinária,
apurar a deficiência da outra parte, então o negócio é suscetível de anulação, pois a idéia de
proteção à boa-fé não mais se manifestará.
Acrescente-se, ainda, que, antes da interdição, a capacidade era presumida, competindo ao
autor da ação trazer as provas do estado de loucura do contratante, ao tempo da celebração do
ato.
Finalmente, a anulação dos negócios praticados pelo incapaz pode ser pleiteada ainda que
não tenha sido decretada a interdição. Tal ocorre, por exemplo, quando o interditando já faleceu
ou então se convalidou da enfermidade.

LEVANTAMENTO DE INTERDIÇÃO

O levantamento de interdição consiste no cancelamento dos efeitos da sentença, em razão da


cessação da causa que a determinou.
O pedido de levantamento poderá ser feito pelo interditando e será apensado aos autos da
interdição. O juiz nomeará perito para proceder ao exame de sanidade no interditando e após a
apresentação do laudo designará audiência de instrução e julgamento.
A sentença de levantamento da interdição será publicada na imprensa local e oficial, por três
vezes, e averbada no Registro Civil das Pessoas Naturais.
O levantamento de interdição é uma das formas de aquisição ou reaquisição da capacidade
plena.

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