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CONCEITO DE FAMÍLIA
Com a Constituição Federal de 1988, surgiu um novo conceito de direito de família. Este, até
então, limitava-se à união, pelo casamento, entre o homem e a mulher.
A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado e, hoje, é oriunda não apenas
do casamento, mas também da união estável entre o homem e a mulher e da comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes (art. 226 e §§ 3º e 4º da CF). Essa última entidade
familiar é chamada família monoparental ou unilinear.
A família deve ser protegida pelo Estado (art. 226, caput, da CF). Este concretiza essa
proteção editando leis cogentes, que lhe assegurem a harmonia, organização e o bem-estar das
pessoas.
No Brasil, não prevalece a concepção segundo a qual a família é dotada de personalidade
jurídica, tanto é que o Código não a inclui no rol das pessoas jurídicas (art. 41). Ademais, não há lei
atribuindo-lhe personalidade jurídica.
Família homoafetiva: é a derivada da união de pessoas do mesmo sexo. O STF, com base no
princípio da isonomia e na proibição do preconceito, equiparou a família homoafetiva à união estável.
Isso significa que as ações devem tramitar em vara de família, reconhecendo-se aos companheiros o
direito aos alimentos, à sucessão e à meação dos bens. Uma primeira corrente, porém, nega a
possibilidade da conversão em casamento, pois a diversidade de sexo é requisito de existência do
matrimônio. Uma segunda admite, porquanto, o Código Civil não prevê a diversidade de sexos como
requisito essencial ao casamento. Prevalece a corrente que admite a conversão em casamento e
também o casamento direto entre pessoas do mesmo sexo, porquanto a Excelsa Corte estendeu à
união homoafetiva todos os direitos da união estável.
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CASAMENTO
CONCEITO
Casamento é o vínculo entre duas pessoas, firmado perante o Estado, com o intuito de
constituição de uma família.
A satisfação sexual e a prole comum são apenas consequências do casamento, e, por isso, não
devem integrar o seu conceito.
Atualmente, no Brasil, a jurisprudência dominante admite o casamento entre pessoas do
mesmo sexo e, por isso, a diversidade de sexos não é mais requisito de existência do casamento.
São, pois, dois os requisitos de existência do casamento:
a) consentimento;
b) celebração.
É a vida sob o mesmo teto. O domicílio será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro
podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua
profissão, ou a interesses particulares relevantes (art.1.569).
A fixação do domicílio, como se vê, segue o princípio da isonomia, não sendo mais uma
imposição do marido. Em caso de divergência, o juiz fixará o domicílio. A moradia em casas
diferentes, que é admitida na união estável (súmula 382 do STF), não pode ser convencionada no
pacto antenupcial, sob pena de nulidade dessa cláusula, por violar art.1.566, II, do CC, que consagra
o princípio do domicílio conjugal.
PROCESSO DE HABILITAÇÃO
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1.531), cuja eficácia será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o certificado (art.
1.532). Note-se que o casamento não precisa realizar-se no local da habilitação ou da residência de
um ou ambos os nubentes. Após o decurso desse prazo, que é decadencial, o casamento só poderá
ser realizado se houver renovação do processo da habilitação.
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representante legal, começa a correr do casamento; para o menor, flui a partir da data em que
completar 16 anos (art. 1.550, I, do CC). O Ministério Público não pode mover a ação anulatória,
pois a nulidade é relativa.
Quanto à união estável do menor de 16 anos, para uma corrente, também é anulável, diante
da isonomia com o casamento; outra preconiza pela validade, pois não se pode fazer analogia em
normas restritivas de direito.
Por outro lado, a pessoa com deficiência mental ou intelectual que já atingiu a idade núbil
poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente, caso consiga, ou, em caso
negativo, através de seu responsável ou curador, conforme §2º do art. 1.550 do Código Civil,
incluído pela lei 13.146/2.015. Portanto, a pessoa com deficiência mental ou intelectual também
desfruta de capacidade matrimonial, ainda que não consiga exprimir, de modo inequívoco, o seu
consentimento. Assim, o surdo-mudo, que não puder externar diretamente a vontade, também
poderá se casar e, nesse caso, a vontade será manifestada por meio de seu responsável ou curador.
Quanto ao pródigo, pode se casar sem autorização do representante legal, pois é plenamente capaz
para a prática de atos extrapatrimoniais, que é o caso do casamento, mas para escolher o regime
de bens necessitará de assistência do seu representante legal, pois este ato é patrimonial; sem a
assistência, o seu casamento será no regime da comunhão parcial.
Cumpre acrescentar que o inciso I do art. 1.548 do Código Civil, que considerava nulo o
casamento contraído pelo enfermo mental sem o necessário discernimento, foi expressamente
revogado pela lei 13.146/2.015. Por consequência, seu casamento será válido, desde que tenha
expressado sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador e, caso essa
formalidade não tenha ocorrido, o casamento não será nulo, mas apenas anulável.
Finalmente, no Código de 1916, as hipóteses de incapacidade matrimonial eram consideradas
impedimentos relativos ou dirimentes privados.
IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS
Vimos que o impedimento é a falta de legitimação para se casar com certa pessoa.
Os impedimentos absolutamente dirimentes, previstos no art. 1.521, têm por objetivo: a)
impedir o casamento incestuoso (incs. I a V); b) preservar a monogamia (inc. VI); c) evitar o
casamento motivado pelo homicídio.
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IV) os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até terceiro grau inclusive. Os
irmãos são colaterais de segundo grau. Podem ser bilaterais ou germanos, quando têm o mesmo
pai e a mesma mãe, e unilaterais, quando só um dos progenitores é o mesmo. Os colaterais de
terceiro grau são os tios e sobrinhos e o enlace entre eles é chamado de casamento avuncular.
Admite-se, porém, o casamento entre tio e sobrinha ou tia e sobrinho, se eles requererem no
processo de habilitação o exame médico pré-nupcial; o juiz então nomeará dois médicos para
examinar o problema referente à sanidade da eventual prole; se os médicos descartarem qualquer
problema de eugenia, o casamento poderá ser realizado (art. 2.º do Dec.-lei 3.200/41). Sem esse
exame médico, porém, o casamento será nulo. O Decreto-Lei nº 3.200/1941 é lei especial, tendo
sido recepcionado pelo Código Civil, que é lei geral. Há, porém, quem proclame a revogação do
Decreto-Lei nº 3.200/1941, pois o Código Civil regulou toda a matéria. Quanto aos primos-irmãos,
não há qualquer impedimento, podendo o casamento realizar-se livremente, independentemente
de exame médico;
V) o adotado com o filho do adotante. A adoção atribui ao adotado a condição de filho. O filho do
adotante é tido como irmão do adotado, de modo que o impedimento justifica-se também pelo inciso
IV. Na verdade, o inciso V era desnecessário, porque no novo Código só há adoção plena;
VI) as pessoas casadas. A bigamia é crime (CP, art. 235). Na verdade, não se trata
propriamente de um impedimento e sim de incapacidade matrimonial, porque à pessoa casada é
vedado o casamento com qualquer outra pessoa. O Código atual comete o mesmo erro do anterior,
pois deveria ter dito que não podem se casar as pessoas vinculadas matrimonialmente. Com efeito,
o separado judicialmente não está mais casado; no entanto, é vedado-lhe o casamento, porque se
encontra ainda vinculado matrimonialmente. A rigor, a hipótese não é de impedimento e sim de
incapacidade matrimonial, porquanto ao casado ou separado judicialmente é vedado o casamento
com qualquer pessoa. O princípio da monogamia, consistente na proibição do casamento de
pessoas casadas, se for violado caracteriza crime de bigamia (art.235 do CP), além da nulidade
absoluta do segundo casamento. Carlos Dias Motta observa que pessoa casada que mantenha
relacionamento extraconjugal ou até mesmo constitua outra família não viola diretamente o
princípio da monogamia, pois não terá havido celebração de segundo casamento. É proibida a
poligamia (homem que se casa com várias mulheres) e a poliandria (mulher que se casa com vários
homens). Se o primeiro casamento vier a ser anulado ou extinto pela morte de um dos cônjuges,
ainda assim o segundo continuará nulo, porque se realizou quando havia o impedimento
matrimonial. Mas há entendimento no sentido de que, diante da anulação do primeiro casamento,
o segundo passaria a ser válido, tendo em vista a ausência de bigamia. Quanto ao ausente
declarado por sentença, é um caso de morte presumida, dissolvendo-se o seu matrimônio,
autorizando o casamento de seu cônjuge sem precisar divorciar-se previamente (§1º do art.1.571
do CC). O casamento religioso sem registro civil é mera união estável, admitindo-se o casamento do
companheiro ou companheira com outra pessoa.
VII) o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra
o seu consorte. O casamento gera uma presunção de conivência no crime de homicídio. Ainda que
o cônjuge nada tenha a ver com o homicídio, impõe-se o impedimento. Não há prazo para que o
impedimento desapareça, logo persistiria o impedimento pelo resto da vida. É lícito o casamento na
hipótese de absolvição, ainda que por insuficiência de provas, ou extinção da punibilidade antes do
trânsito em julgado da condenação, outrossim, quando tratar-se de homicídio culposo. Quanto à
anistia, graça, indulto e prescrição executória se extinguirem a punibilidade após o trânsito em
julgado da condenação, não afastam o impedimento matrimonial. O simples fato de existir um
processo-crime em andamento não inviabiliza o matrimônio; a lei exige condenação definitiva;
antes disso, milita em prol do acusado o princípio da presunção da inocência. O impedimento deve
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O Código de 1916 não permitia o casamento do cônjuge adúltero com o seu corréu, por tal
condenado. O novo Código não repete esse impedimento, viabilizando o enlace matrimonial entre
eles. Aliás, o delito de adultério acabou sendo revogado pela Lei n. 11.106/2005.
CAUSAS SUSPENSIVAS
As causas suspensivas são as que obstam a celebração do casamento, mas quando infringidas
não anulam o ato. Trata-se do chamado casamento irregular. No código anterior figuravam no rol
dos impedimentos. Na doutrina, recebiam o nome de impedimentos precautórios ou proibitivos ou
meramente impedientes.
O casamento celebrado com infringência dessas causas suspensivas não é nulo nem anulável.
É válido, apesar de irregular, impondo-lhe, porém, o regime da separação obrigatória de bens (art.
1.641, I).
Essas causas suspensivas da celebração do casamento encontram-se no art. 1.523. Assim, não
devem casar:
I) o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos
bens do casal e dar partilha aos herdeiros. O objetivo da lei é evitar a confusão de patrimônios. A
violação dessa norma gera dupla sanção: regime da separação obrigatória de bens do segundo
casamento e hipoteca legal em favor dos filhos sobre os imóveis do pai ou mãe que passar a outras
núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior (art. 1.489, II, do CC). É permitido aos
nubentes solicitar ao juiz a realização do casamento, provando-se a inexistência de prejuízo ao filho
do leito anterior. Tal ocorre, por exemplo, quando o falecido não deixou bens a inventariar
(inventário negativo).
II) a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou anulado, até dez meses depois
do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal. O objetivo da lei é evitar a turbatio
sanguinis, isto é, um conflito de paternidade, tendo em vista que a presunção de paternidade, nos
moldes do art. 1.597, pode militar em favor de ambos, isto é, do atual marido e do marido morto.
Afasta-se essa causa suspensiva, provando-se, perante o juiz, o nascimento de filho, ou a inexistência de
gravidez, na fluência do prazo (parágrafo único do art. 1.523).
III) o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do
casal. Trata-se de inovação da lei, cujo objetivo é também evitar a confusão de patrimônios. O
divórcio pode realizar-se sem partilha, mas o casamento do divorciado sem que se tenha feito a partilha
dos bens ensejará o regime da separação obrigatória de bens.
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isso não é mais possível. Todavia, com a cessação da tutela ou curatela, desde que as contas
estejam saldadas, o casamento pode realizar-se, independentemente de alvará judicial.
CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO
A autoridade celebrante de casamento é o juiz de paz ou, conforme veremos, uma autoridade
eclesiástica.
Entretanto, os brasileiros, no exterior, devem se casar perante as respectivas autoridades ou
perante os cônsules brasileiros.
Os estrangeiros residentes no Brasil ainda têm a opção de se casarem perante as autoridades
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.
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De acordo com o art. 98, inciso II, da Constituição Federal a União, o Distrito Federal, os
Territórios e os Estados devem criar a justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos
pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma
da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo
de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras
previstas na legislação.
Esta norma constitucional ainda carece de regulamentação legal. No Estado de São Paulo o
juiz de paz é nomeado pelo Secretário da Justiça, exercendo função não remunerada (Decreto-lei nº
13.375/47 e art. 891 da Constituição Estadual).
De acordo com o art.1.533 do CC é função do juiz de paz a fixação do dia, hora e local para a
celebração do casamento.
Operou-se, contudo, a revogação tácita deste art.1.533 do CC, pois, de acordo com o §7º do
art. 67 da Lei 6015/73, incluído pela Lei nº 14.382/2022, celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e
lugar solicitados pelos nubentes e designados pelo oficial de registro civil das pessoas naturais.
Ou seja, o dia, hora e local da cerimônia serão solicitamos pelos nubentes, mas designados
pelo oficial de registro civil e não pelo juiz de paz.
O casamento pode realizar-se em qualquer dia, inclusive aos domingos e feriados.
O casamento pode realizar-se fora do cartório, a pedido dos contraentes, se o oficial de
registro civil concordar.
Todavia, em caso de moléstia grave de um dos nubentes, a autoridade celebrante é obrigada
a realizar o casamento na residência do contraente, ainda que à noite, se for urgente (art. 1.539).
A solenidade realizar-se-á com toda publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos duas
testemunhas, parentes ou não dos contraentes.
As portas devem permanecer abertas durante toda a cerimônia e qualquer pessoa poderá ter
acesso ao local.
O casamento por procuração, também exige cerimônia pública.
A celebração do casamento poderá ser realizada, a requerimento dos nubentes, em meio
eletrônico, por sistema de videoconferência em que se possa verificar a livre manifestação da
vontade dos contraentes (§8º do art. 67 da Lei 6.015/73, incluído ela Lei nº 14.382, de 2022).
É importante destacar que, no casamento por videoconferência, deverá também ser
garantida a publicidade do ato.
O Código exige quatro testemunhas apenas em duas hipóteses:
a) casamento celebrado em edifício particular (§1º do art. 1.534 do CC). Todavia, o casamento
celebrado por autoridade eclesiástica, apesar de ser em edifício particular, exige apenas duas
testemunhas (art. 72 da Lei nº 6.015/1973).
b) se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever (§2º do art. 1.534 do CC).
c) A Corregedoria Geral do Estado de São Paulo, porém, entende que o casamento celebrado
em edifício particular só exige quatro testemunhas se algum dos contraentes não souber ou não
puder escrever.
O presidente do ato, após ouvir dos nubentes ou procurador com poderes especiais a
afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o
casamento, nestes termos:
“De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por
marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”.
O posterior registro do ato, no cartório de registro civil das pessoas naturais, é meramente
declaratório, servindo como meio de prova do casamento, cujo aperfeiçoamento ocorrera antes.
Assim é a autoridade competente que declara os nubentes casados ao pronunciar a fórmula
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sacramental acima.
O arrependimento de qualquer dos contraentes, após a pronúncia dessa fórmula
sacramental, é inócuo, pois o casamento já se constituiu.
Se a autoridade celebrante morrer antes de pronunciar a fórmula sacramental, o casamento é
reputado inexistente, não se formou, ainda que os nubentes já tivessem afirmado o propósito de se
casarem.
Com efeito, sobre o exato momento da constituição do matrimônio, dispõe o art. 1.514 do
CC:
“O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o
juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados”.
Quanto ao registro do casamento tem finalidade apenas probatória, e não constitutiva, pois o
casamento existe antes mesmo desse registro.
A celebração do casamento, dispõe o art. 1.538, será imediatamente suspensa se algum dos
contraentes:
I) recusar a solene afirmação de sua vontade;
II) declarar que não é livre e espontânea;
III) manifestar-se arrependido.
Ao nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do
ato, ainda que de brincadeira, não será admitido a retratar-se no mesmo dia; a cerimônia nesse
caso só poderá reiniciar-se 24 horas depois ou dentro de um prazo razoável para reflexão
(parágrafo único do art. 1.538 do CC), mas não há necessidade de nova habilitação.
O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes
especiais (art. 1.542). A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias (§ 3º) O casamento
celebrado após esse prazo é tido como inexistente. O estrangeiro também pode se casar por
procuração, ainda que a lei de seu país proíba esse casamento (art.7º, §1º, da LINDB). Só por
instrumento público se poderá revogar o mandato (§ 4º). A revogação do mandato não necessita
chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o
outro contraente tivesse ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos.
A procuração deve, é claro, indicar o nome da pessoa com quem o mandante vai se casar,
outrossim, constar o regime de bens, caso contrário será o da comunhão parcial a não ser que em
pacto antenupcial tenha sido escolhido outro regime. O Código não exige fundamentação para o
casamento realizar-se por procuração. É irrelevante o sexo do procurador. Pontes de Miranda
admite que ambos os nubentes se casem por procuração, por intermédio de procurador único.
Data venia, é necessário um procurador para cada um, porque o código usa a expressão “o outro
contraente” (§ 1º do art. 1.542). Para Maria Helena Diniz é inadmissível que ambos os nubentes se
façam representar por mandatários, já que, sem a presença de um deles, o ato nupcial perde os
caracteres cerimoniais peculiares. Data venia, não há qualquer óbice legal para que ambos sejam
representados por procuradores. No casamento nuncupativo, só poderá fazer-se representar por
procurador o nubente que não estiver em iminente risco de vida (§ 2º do art. 1.542).
Quanto ao casamento realizado por procuração após a morte do mandante, o Código é
omisso, mas prevalece a corrente que é inexistente, diante da extinção ex vi legis do mandato e da
consequente ausência de consentimento, sendo inaplicável o art. 689 do CC que considera válido os
atos praticados de boa-fé pelo mandatário que ignorava a morte do mandante, pois essa norma é
restrita aos atos patrimoniais, não se aplica ao casamento, afastando-se também a incidência do
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art.1.550, V, do CC, que considera o casamento apenas anulável quando celebrado por procurador
cuja procuração estava revogada, tendo em vista que a morte não é causa de revogação do
mandato e sim de extinção (art.682 do CC).
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testemunhas negar o cumprimento dos requisitos do art.1.541 do CC o juiz não poderá reconhecer
a existência do casamento.
Após o trânsito em julgado da sentença favorável, o juiz mandará registrá-la no livro de
Registro dos Casamentos. O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao
estado dos cônjuges, à data da celebração, ainda que o enfermo já tenha morrido.
Se o enfermo se convalescer e puder ratificar o casamento, ele mesmo deverá fazê-lo na
presença da autoridade judiciária e do oficial do registro, nesse mesmo prazo de 10 dias, sendo
que, nesse caso, não há necessidade do comparecimento das testemunhas, nem de novo
casamento. Se ele se convalesce, mas não ratifica o casamento, este será tido como inexistente. Se,
por outro lado, ele se convalescer somente após a transcrição no Registro Civil da sentença, não há
necessidade de nova ratificação do casamento.
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impede o contraente de se casar com outra pessoa, sendo inviável o ajuizamento de ação de
invalidade de casamento religioso enquanto não houver o registro civil. Note-se que enquanto no
casamento puramente civil o registro é meramente declaratório, prescindindo-se de sua ocorrência
para que o casamento possa existir, no casamento religioso de efeito civil, o registro é constitutivo,
embora retroativo a data da celebração, pois sem este registro o casamento ainda não existe.
No Estado de São Paulo, as Normas da Corregedoria Geral de Justiça exigem o
reconhecimento de firma da assinatura da autoridade eclesiástica celebrante. Quanto à
competência, no âmbito da associação religiosa, para que a autoridade eclesiástica celebre
casamento, a comprovação dessa atribuição deve ser feita pelos próprios contraentes se o oficial
do Registro Civil exigir essa prova. Nada obsta também que o oficial do registro exija que os
contraentes comprovem a constituição regular da entidade religiosa.
A competência para o registro do casamento religioso é do oficial do Registro Civil das
Pessoas Naturais do local em que se processou a habilitação. O registro é feito no livro B- Auxiliar
no prazo de 24 horas a contar da entrada do requerimento do registro (art. 33, III e 73, §2º ambos
da Lei nº 6.015/1973).
CASAMENTO INEXISTENTE
No Brasil a diversidade de sexos não é mais requisito para a existência do casamento, pois se
admite casamento de pessoas do mesmo sexo.
Faltando um desses requisitos, o casamento é tido como inexistente. Se, porém, estiver
registrado, o cancelamento do registro só pode ocorrer mediante ordem judicial. Se não chegou a
ser registrado, o ato inexistente deve ser simplesmente ignorado.
O cancelamento do registro do casamento inexistente, a nosso ver, prescinde de ação judicial,
podendo operar-se administrativamente, por simples despacho judicial, a não ser que a inexistência
dependa da produção de provas, quando então será necessária a ação declaratória de inexistência
de ato jurídico. Essa ação é imprescritível.
NULIDADE E INEXISTÊNCIA
Diz-se nulo o casamento que, embora reúna os requisitos necessários à sua existência,
formou-se defeituosamente, infringindo os preceitos legais.
As diferenças são nítidas.
Com efeito, o reconhecimento da inexistência dispensa ação judicial, bastando um simples
despacho judicial, salvo as hipóteses em que a inexistência dependa de dilação probatória. O
reconhecimento da nulidade exige ação judicial.
O casamento nulo pode ser declarado putativo se um ou ambos os cônjuges estiverem de
boa-fé. No casamento inexistente, não há falar-se em putatividade.
No casamento inexistente, os pseudocônjuges podem contrair matrimônio mesmo sem
declaração de inexistência do pseudomatrimônio anterior. No casamento nulo, urge que se decrete
a nulidade primeiro para só depois se habilitar ao novo casamento. Silvio Rodrigues sustenta,
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CASAMENTO NULO
CASAMENTO ANULÁVEL
CASAMENTO PUTATIVO
Casamento putativo é o nulo ou anulável, mas que produz efeitos válidos em homenagem à
boa-fé de um ou ambos os cônjuges. Se apenas um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o
casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão; se ambos estavam de boa-fé, a
putatividade estende-se a ambos.
Boa-fé é a crença na validade do matrimônio, em razão do desconhecimento da causa impeditiva
do enlace matrimonial. Exemplo: irmão se casa com irmã, ignorando que são parentes. O direito
canônico, além da boa-fé, exigia que o erro fosse escusável; código brasileiro contenta-se com a boa-fé.
O STF reconheceu a putatividade no erro de direito, num casamento entre genro e sogra, que,
embora cientes do vínculo de afinidade, desconheciam o impedimento matrimonial. O tema não é
pacífico. Contra a putatividade no erro de direito, pronuncia-se Clóvis Beviláqua argumentando que
ninguém pode alegar ignorância da lei. Somos favoráveis à putatividade, porque o intuito do
matrimônio não foi o de violar a lei, mas sim cumpri-la.
O reconhecimento da putatividade pressupõe a decretação da nulidade ou anulabilidade do
casamento. A putatividade deve ser requerida na petição inicial da ação de nulidade ou
anulabilidade do casamento. Tem sido admitido também o requerimento no curso da ação. O juiz,
porém, não pode reconhecê-la de ofício, por força do princípio da inércia da jurisdição, malgrado a
existência de opiniões em contrário. Não arguida a putatividade na ação de nulidade ou anulação
de casamento, nada obsta que o cônjuge de boa-fé, filhos ou terceiros, movam ação autônoma
visando o seu reconhecimento. Acrescente-se, ainda, que para o reconhecimento da putatividade,
basta a boa-fé ao tempo da celebração, não obstante a opinião de Coelho da Rocha que exige a
boa-fé durante toda a vida conjugal.
Quanto aos efeitos da putatividade em relação aos cônjuges, variam conforme um ou ambos
estejam de boa-fé.
Se ambos estão de boa-fé, não obstante a decretação da nulidade ou anulabilidade do
matrimônio, este ainda produz os seguintes efeitos:
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cônjuge de boa-fé beneficia-se do regime de bens; o de má-fé, não. Assim, por exemplo, no
regime da comunhão universal, o cônjuge de boa-fé terá direito à metade dos bens que o
outro tinha antes de se casar, mas este não terá direito à metade daquele. No regime de
comunhão parcial, o que o cônjuge de má-fé adquiriu onerosamente durante o casamento
comunica-se para o de boa-fé, mas as aquisições onerosas deste não se comunicam àquele;
as doações feitas em contemplação do casamento passam a pertencer exclusivamente ao
cônjuge de boa-fé; o de má-fé as perde;
o cônjuge de boa-fé pode manter o nome de casado; o de má-fé, não;
o cônjuge de boa-fé tem direito à pensão alimentícia; o de má-fé, não;
se a nulidade for decretada após a morte de um dos cônjuges, o de boa-fé herdará do outro;
o de má-fé, não;
o cônjuge menor de boa-fé continua emancipado; para o menor de má-fé, cessa a
emancipação;
o cônjuge de má-fé deve cumprir as promessas feitas no contrato antenupcial; o de boa-fé,
não.
O art. 1.561 do CC diz que os efeitos da putatividade perduram até o dia da sentença
anulatória. A expressão dia da sentença, para alguns autores é interpretada como sendo o trânsito
em julgado. Vê-se que para o cônjuge de boa-fé a sentença anulatória tem eficácia ex nunc,
mantendo-se até então a validade do casamento; para o de má-fé, a eficácia da sentença é ex tunc,
pois se retira os efeitos do casamento desde o momento de sua celebração. Quanto aos filhos, os
efeitos subsistem sempre, quer haja boa-fé ou má-fé dos cônjuges. Mas, a nosso ver, alguns efeitos
permanecem após o trânsito em julgado da sentença, tais como: a) o direito de usar o nome; b) a
emancipação; c) a pensão alimentícia etc. Entendimento diverso esvaziaria a importância da
putatividade. Aliás, como ensina Cahali, não há limitação de tempo para o direito de alimentos.
Por outro lado, cumpre acrescentar que a putatividade pode também beneficiar terceiros que
tenham adquirido bens na suposição de um casamento válido. Se bem que, independentemente da
putatividade dos cônjuges, o negócio pode ser considerado válido, bastando a boa-fé do terceiro,
invocando-se, para justificar esse ponto de vista, a teoria da aparência.
Registra-se, ainda, que se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os
seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.
Finalmente, no casamento inexistente, em regra, não há putatividade, porque é um nada
jurídico. Se, porém, estiver registrado, há quem admita a putatividade em benefício da prole
comum. Nesse sentido: Sílvio Venosa. Data venia, não há previsão legal para estender a
putatividade ao ato inexistente. Quantos aos filhos, seus direitos são os mesmos, quer haja ou não
casamento, tornando-se irrelevante, em relação a eles, o reconhecimento da putatividade.
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CASAMENTO FIDUCIÁRIO
DEVERES CONJUGAIS
INTRODUÇÃO
fidelidade recíproca;
vida em comum, no domicílio conjugal;
mútua assistência;
sustento, guarda e educação dos filhos;
respeito e consideração mútuos.
DEVER DE COABITAÇÃO
É nulo o pacto entre os cônjuges na parte em que o casal se desobriga mutuamente do débito
sexual conjugal ou de morar juntos.
Anote-se ainda que o domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e
outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de
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Dispõe o art. 1.647 que nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no
regime da separação absoluta (convencional ou obrigatória):
I. alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis. Ainda que se trate de um compromisso de
compra e venda, torna-se de rigor a autorização do cônjuge. Aliás, preceitua o art. 462 que o
contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais do contrato
a ser celebrado. É nula a cláusula do pacto antenupcial que autoriza o cônjuge a alienar ou
hipotecar imóveis, comuns ou particulares seus, sem a autorização do outro consorte. Porém, no
regime da participação final dos aquestos o pacto antenupcial pode autorizar o cônjuge a alienar
seus imóveis particulares sem a anuência do outro (art.1.656). Por outro lado, dispõe o art.978 do
CC que: “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o
regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus
real”. O dispositivo em análise é muito claro ao se referir ao empresário individual, mas alguns
civilistas interpretam como se a referência fosse à sociedade empresária. Ora, a sociedade para
alienar bens não precisa da autorização do cônjuge de sócio, isto é evidente, de modo que o art.978
quis referir-se ao empresário individual.
II. pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos. Assim, nas ações reais
imobiliárias, o autor deve estar autorizado por seu cônjuge (art. 73, caput, do CPC/2015). Ambos os
cônjuges serão necessariamente citados para as ações que versem sobre direitos reais imobiliários
(§ 1º do art. 73 do CPC/2015). Tratando-se de penhora que recaia sobre bem imóvel, o outro
cônjuge precisa ser intimado deste ato. Quanto às ações pessoais sobre imóveis, como a de
despejo, consignação de pagamento, renovatória de locação e outros, aciona-se apenas o cônjuge
que figura no contrato.
III. prestar fiança ou aval. A novidade do Código é a exigência da outorga do cônjuge para o
outro prestar o aval. No Código de 1916, discutia-se se a fiança prestada sem a outorga do cônjuge
era nula ou anulável. O novo Código considera o ato apenas anulável, dirimindo a antiga
controvérsia, de modo que o juiz não pode mais decretar de ofício a nulidade (art. 1.649).
Referentemente ao aval prestado sem outorga do cônjuge, uma parcela da doutrina não o
considera anulável, malgrado a clareza do art. 1.649 do Código Civil, mas apenas inoponível ao
cônjuge que não esboçou o consentimento ao sobredito ato cambiário. A propósito, dispõe o
Enunciado 114 do CJF: “O aval não pode ser anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o
inciso III do art.1.647 apenas caracteriza a inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu”.
Como a lei geral não revoga a especial, é razoável também o entendimento de que a outorga do
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cônjuge para o aval só seria aplicável aos títulos de créditos atípicos (art.887 e seguintes do CC),
dispensando-se essa exigência em relação aos títulos de créditos regidos por leis especiais (cheque,
duplicata, letra de câmbio e nota promissória). “Pelos títulos de dívida de qualquer natureza,
firmados por um só dos cônjuges, ainda que casados pelo regime de comunhão universal, somente
responderão os bens particulares do signatário e os comuns até o limite de sua meação” (art.3º da
Lei 4.121/1962 – Estatuto da Mulher Casada). “As dívidas contraídas no exercício da administração
obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro em razão do
proveito que houver auferido” (§1º do art. 1.663). Presume-se que as dívidas de qualquer natureza
são contraídas em benefício da família, competindo ao cônjuge o ônus de prova em sentido
contrário.
IV. fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar
futura meação. São válidas, mesmo sem a autorização do outro cônjuge, as seguintes doações: (a)
as doações remuneratórias de dinheiro ou outro bem móvel, que são as feitas em pagamento de
serviços prestados e não cobrados; (b) as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou
estabelecerem economia separada (parágrafo único do art. 1.647). Essas doações propter nuptiae,
em benefício do filho ou filha, para alguns autores, pode abranger até bens imóveis, devendo o
bem doado sair da meação do doador, não podendo invadir a legítima dos demais herdeiros. O
Código de 1916 também considerava válidas as doações de pequeno valor, mas o Código atual não
repete essa regra; todavia, as pequenas doações também dispensam a autorização do cônjuge,
segundo a doutrina dominante.
O art.3º da Lei nº 8.245/1991 exige autorização do cônjuge para que o outro consorte celebre
contrato de locação predial urbana, na qualidade de locador, por prazo igual ou superior a dez
anos. Mas há quem defenda que essa autorização do cônjuge locador é dispensada se o casamento
for no regime da separação absoluta de bens (convencional ou obrigatória).
Em todas essas hipóteses, cabe ao juiz suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue
sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la (art. 1.648). Assim, admite-se o suprimento
judicial em duas hipóteses: (a) recusa injusta do outro cônjuge; (b) impossibilidade de o outro
cônjuge conceder a autorização em razão de doença mental, ausência do lar etc. No caso de o ato
ter sido praticado com autorização judicial, o Código de 1916 preceituava que sobre os bens
particulares do cônjuge discordante não poderia recair qualquer execução. O novo Código não
reproduz essa ressalva, mas ainda mostra-se razoável a isenção de qualquer responsabilidade sobre
os bens particulares do cônjuge que se recusou à outorga, porque ninguém pode ser compelido a
contrair uma obrigação.
A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária, tornará anulável, e não nulo,
o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de
terminada a sociedade conjugal (art. 1.649). A ação anulatória dos atos praticados sem outorga, ou
consentimento do outro cônjuge, ou sem suprimento judicial, só poderá ser proposta pelo cônjuge
a quem cabia concedê-la, ou por seus herdeiros (art. 1.650). O prazo, como vimos, é de até 2 anos
após o término da sociedade conjugal. Anulada a venda, o bem volve o patrimônio do casal. O
terceiro prejudicado não pode propor essa ação, mas na hipótese de a sentença anular o ato, ele
terá direito regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros (art.
1.646).
A autorização do cônjuge deve ter a mesma forma que o ato praticado e constará, sempre
que se possa, do próprio instrumento (art. 220). Se este exige instrumento público, a autorização
também seguirá essa forma. Se o ato é daqueles que não dependem de instrumento público, a
autorização poderá ser dada por instrumento particular.
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CONCEITO
Regime de bens é o estatuto que rege os interesses patrimoniais dos cônjuges durante o
casamento.
O regime de bens é uma das consequências jurídicas do casamento. Não existe casamento
sem regime de bens.
ESPÉCIES
comunhão parcial;
comunhão universal;
participação final nos aquestos;
separação de bens.
O regime de participação final nos aquestos é uma novidade do Código, que, por sua vez,
deixou de fazer menção ao regime dotal.
Dispõe, porém, o art. 2.039 que o regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do
Código Civil anterior é o por ele estabelecido.
PACTO ANTENUPCIAL
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Os pactos antenupciais não terão efeito perante terceiros senão depois de registrados, em
livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges (art. 1.657). Antes do
registro, o pacto só é válido entre os nubentes; após o registro há uma presunção de que todos o
conhecem. Se o nubente é empresário, o pacto antenupcial, além de registrado no Registro de
Imóveis, deverá ser arquivado, para valer perante terceiro, no Registro Público de Empresas
Mercantis (art.979 do CC).
REGIMES LEGAIS
I. comunhão parcial de bens. Esse regime vigora quando não houver pacto antenupcial ou
então quando este for nulo ou ineficaz (art.1.640);
II. separação legal ou obrigatória, nas hipóteses do art. 1.641.
PRINCÍPIOS
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cogentes, à moral e aos bons costumes, sob pena de nulidade das respectivas cláusulas (art. 1.655).
Assim, é nula a cláusula que autoriza o cônjuge a ser fiador ou avalista ou a alienar imóveis sem
autorização do outro. Todavia, no regime de participação final nos aquestos, poder-se-á
convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares (art. 1.656). Igualmente, é
nula a estipulação do regime da comunhão nas hipóteses de separação legal ou obrigatória
previstas no art. 1.641.
O princípio da isonomia, de índole constitucional (CF, art. 5°, I), repercute sobre o regime de
bens, porque não se pode, em situações pertinentes a ambos os sexos, conceder certos direitos a
um dos cônjuges e negar ao outro.
O princípio da indivisibilidade consiste na exigência de um único regime de bens para ambos
os cônjuges. Abre-se uma exceção a esse princípio na separação-remédio, conforme preceitua o §
3º do art. 1.572.
O princípio da imediata vigência do regime de bens é o que prevê que ele começa a vigorar na
data do casamento, conforme §1º do art.1.639 do CC. Por força de lei, o regime de bens não pode
se iniciar antes nem depois da data do casamento.
O princípio da mutabilidade justificada consiste na possibilidade de se alterar o regime de
bens na vigência do casamento.
O regime de bens pode ser alterado em quatro hipóteses. A primeira encontra-se no art. 7º, §
5º, da LINDB, que permite ao estrangeiro, no ato de sua naturalização, optar pelo regime da
comunhão parcial.
A segunda encontra-se no § 3º do art. 1.572, que cuida da separação-remédio, quando,
então, defere-se ao cônjuge enfermo, casado na comunhão universal, e que não houver pedido a
separação, a propriedade exclusiva dos bens por ele adquiridos antes do casamento.
A terceira exceção encontra-se no § 2º do art. 1.639: “É admissível alteração do regime de
bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a
procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.” Trata-se de interessante
inovação do legislador. Na união estável é possível a alteração, a qualquer tempo, do regime de
bens, inclusive com efeito retroativo, mediante simples acordo escrito entre os companheiros,
prescindindo-se de decisão judicial. Em relação aos casamentos celebrados sob a égide do Código
de 1916, uma primeira corrente, baseada no art. 2.039 do Código Civil, nega a possibilidade de
alteração judicial do regime de bens, enquanto outra viabiliza a mudança do regime, por ordem
judicial, permitindo acertadamente a aplicação do § 2o do art. 1.639 do Código Civil, pois o art.
2.039, que manda aplicar o Código de 1916 aos casamentos celebrados sob sua vigência, diz
respeito ao conteúdo do regime, isto é, ao seu plano de existência e validade, ao passo que a
alteração situa-se no plano de eficácia, ademais não há falar-se em ofensa ao direito adquirido
quando ambos os cônjuges querem a mudança.
Em relação a terceiros, a alteração do regime de bens produzirá efeitos ex nunc, ressalvando-
se assim os direitos de terceiros constituídos antes da mudança. Nas relações entre cônjuges, a
sentença homologatória da alteração do regime terá efeito ex tunc, retroagindo à data do
casamento, segundo a opinião dominante, salvo se os consortes no pedido de alteração
requereram expressamente o efeito ex nunc. A meu ver, no silêncio, o efeito é ex nunc, salvo se a
mudança for para a comunhão universal.
A alteração do regime de bens, para atingir terceiros e ter eficácia erga omnes, precisa ser
averbada no Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges (art.1657 do CC e arts. 167, I, n.12 e
167, II, n.1, 5 e 14 da Lei nº 6.015/1973); se um dos cônjuges for empresário é mister a averbação
no Registro Público das Empresas Mercantis (arts. 979 e 980 do CC). Sobre a possibilidade de
alteração judicial do regime da separação legal, a posição majoritária responde negativamente, pois
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nesse caso o regime da separação obrigatória é uma imposição legal de ordem pública, de modo
que a sua alteração implicaria em fraude à lei. A meu ver, a mudança do regime é possível, pois a lei
não a proíbe, competindo ao juiz aferir se ela trará algum prejuízo ao cônjuge que a lei quis
proteger. Entre os cônjuges, a alteração do regime passa a valer a partir do trânsito em julgado da
sentença prolatada em processo de jurisdição voluntária, mas perante terceiros a eficácia é só a
partir da averbação da sentença no Registro de Imóveis.
Quanto à retroatividade ou não da mudança de regime, vai depender da vontade dos
cônjuges que se quiserem poderão conceder efeito ex tunc, tanto é que o §2º do art.1.639 manda
ressalvar os direitos de terceiros, sinal que autorizou a retroatividade sob a condição de não
prejudicar terceiros. Se o novo regime é o da comunhão universal, a retroatividade emana da lei, do
próprio regime, que prevê a comunicação de todos os bens. A mudança para os demais regimes, no
entanto, no silêncio do requerimento sobre a vigência da modificação, a meu ver terá efeito ex
nunc a partir do trânsito em julgado da sentença, mas a posição dominante sustenta que o efeito é
ex tunc.
A última hipótese de alteração do regime de bens ocorre quando o pacto antenupcial elege o
regime da separação com a cláusula de que se transformará em comunhão parcial ou universal na
hipótese de nascimento de filho. O STF, acertadamente, considerou válida a sobredita cláusula,
com base no princípio da autonomia da vontade. Cremos, porém, que é ilegal, por contrariar os fins
do casamento, além de imoral, e, portanto, nula, a cláusula que prevê a transformação do regime
da comunhão em separação, na hipótese de nascimento de filho.
Dispõe o art. 1.687 que “estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a
administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá alienar ou gravar de ônus real”.
O regime da separação pode ser legal e convencional. O primeiro é imposto por lei, nos casos
do art. 1.641; o segundo por pacto antenupcial.
No regime de separação, cada cônjuge conserva-se na propriedade, posse e administração
dos bens adquiridos antes e durante o casamento, recebendo sozinho as rendas e frutos produzidos
pelos bens que lhe pertence. Há, pois, dois patrimônios distintos, o do marido e o da mulher.
Qualquer dos cônjuges pode sem autorização do outro alienar ou gravar de ônus real os bens
imóveis, pleitear como autor ou réu acerca desses bens ou direitos, prestar fiança ou aval e fazer
doação dos bens comuns ou dos que possa integrar a futura meação (art.1.647). Quanto às dívidas,
anteriores ou posteriores ao casamento, também não se comunicam, cabendo ao cônjuge
prejudicado, em caso de penhora de seus bens próprios, interpor embargos de terceiro (art. 674,
§2º, do CPC/2015). Excepcionalmente as dívidas que um cônjuge fizer sem a autorização do outro a
este comunicará. Tal ocorre quando a dívida houver sido contraída para as despesas do casal (arts.
1.643 e 1.688 do CC).
Para a alienação dos bens, ainda que imóveis, não há necessidade de autorização do cônjuge.
O Código de 1916 exigia essa autorização em relação aos bens imóveis.
Dispõe o art. 1.688 que ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do
casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário
no pacto antenupcial. Assim, a contribuição é proporcional ao valor de seus bens e aos rendimentos
do seu trabalho. Assim, pode ocorrer de a mulher ter de contribuir com importância superior à do
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marido.
No regime de separação convencional, discute-se se há ou não a comunicação dos aquestos,
isto é, dos bens adquiridos pelo esforço de ambos os cônjuges. Uma primeira corrente diz que não,
aplicando a máxima pacta sunt servanda. Outra corrente diz que sim, aplicando-se o princípio da
proibição do enriquecimento sem causa. A nosso ver, deve haver sim a comunicação dos aquestos,
a não ser que haja no pacto uma cláusula expressa de não-comunicação desses bens, mas há
opiniões ordenando a repartição dos aquestos, a despeito da existência de cláusula expressa em
sentido contrário.
No Código de 1916, o regime de separação convencional podia ser absoluto e relativo. A
separação absoluta ou pura ocorria quando o pacto continha cláusula expressa de não
comunicabilidade dos bens adquiridos durante o casamento. A separação relativa ou imprópria
ocorria quando o pacto elegia o regime da separação, mas silenciava sobre a comunicação ou não
dos adquiridos durante o matrimônio. Neste último caso, esses bens comunicavam-se,
independentemente de esforço comum, por força do art. 259, que mandava aplicar, no silêncio do
pacto, os princípios da comunhão parcial. Era um verdadeiro embuste, porque a separação relativa
era idêntica ao regime da comunhão parcial de bens.
O novo Código não repete o art. 259, de modo que basta que o pacto eleja o regime de
separação para que não se opere a comunicação dos bens adquiridos durante o casamento. Com o
advento do Código Civil de 2002, a separação convencional pura ou absoluta continua sendo aquela
que há a incomunicabilidade de todos os bens adquiridos durante o casamento, inclusive os frutos
e rendimentos, ao passo que a separação limitada ou relativa é a que não se comunicam os bens
adquiridos durante o matrimônio, mas cujo pacto ordena a comunicação dos frutos, e rendimentos
desses bens. No silêncio do pacto, os frutos e os bens não se comunicam no regime da separação.
Passemos agora à análise do regime da separação legal ou obrigatória.
Dispõe o art. 1.641 que é obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I. das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento. Essas causas encontram-se no art. 1.523. Mediante ordem judicial admite-se o
afastamento dessas causas suspensivas, conforme proclama o parágrafo único do art. 1.523;
daí, então, o casamento poderá realizar-se em qualquer regime;
II. da pessoa maior de setenta anos. O Código não faz mais distinção entre o homem e a
mulher, fixando uma idade só para ambos. Basta que um dos nubentes seja maior de
setenta anos para que o regime seja o da separação obrigatória. Em matéria de regime de
bens, aplica-se a lei vigente ao tempo da celebração do matrimônio (art.2.039 do CC). Aliás,
entendimento diverso violaria o direito adquirido e o ato jurídico perfeito. Antes da Lei nº
12.344, de 9 de dezembro de 2010, era obrigatório o regime da separação de bens no
casamento da pessoa maior de 60 anos, mas a partir da aludida lei ampliou-se a idade para
70 anos. Sob o argumento de violação do princípio da dignidade da pessoa humana, a jurista
Maria Berenice Dias sustenta a inconstitucionalidade do preceito em análise, que, segundo
ela, discrimina o idoso, tratando-o como se fosse incapaz, restringindo ainda a liberdade de
afeto. Anote-se, outrossim, que não é razoável se impor o regime da separação obrigatória
de bens quando o casamento houver sido precedido por união estável iniciada antes dos
setenta anos.
III. de todos que dependerem, para casar, de suprimento judicial. Assim, dependem de
autorização judicial: (a) o casamento do menor que atingiu a idade núbil, mas que não
obteve a autorização do representante legal. O menor que já atingiu a idade núbil pode
contrair casamento em qualquer regime, desde que autorizado pelo representante legal;
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Não obstante a omissão da Súmula 377 em relação à exigência do esforço comum, o próprio
STF houve por bem explicitá-la, em diversos recursos extraordinários, no sentido de que a
comunicabilidade depende da prova da existência do esforço comum.
O art. 259 do Código de 1916 dispunha que: “Embora o regime não seja o da comunhão de
bens, prevalecerão, no silêncio do contrato, os princípios dela, quanto à comunicação dos
adquiridos na constância do casamento.”
O novo Código, como vimos, não repete essa regra. Portanto, a comunicabilidade pressupõe a
existência do esforço e recurso comuns para a aquisição dos bens. Aliás, esse já era o entendimento
dominante, porque o art. 259 referia-se a “no silêncio do contrato”, sendo certo que na separação
legal não há contrato. Assim, os bens adquiridos por um só dos cônjuges, sem o esforço do outro, a
rigor, não se devem comunicar.
Cumpre observar que o intuito do legislador, ao estipular a separação obrigatória, é a
proteção do cônjuge. Mas, como adverte Sílvio Rodrigues, em muitos casos, a disposição da lei, ao
invés de beneficiar, prejudica a pessoa que se visa proteger.
Finalmente, nas hipóteses do regime de separação legal, é nulo o pacto antenupcial que
estabelece regime diverso, mas nada obsta a estipulação de pacto antenupcial para tornar ainda
mais rígido os termos da separação, prevendo, por exemplo, a incomunicabilidade dos aquestos.
No regime da separação obrigatória e da comunhão universal, os cônjuges não poderão
contratar sociedade entre si ou com terceiros (art.977 do CC). Já na separação convencional é
facultado aos cônjuges contratar sociedade entre si ou com terceiros, sendo que o pacto
antenupcial ainda poderá prever a comunicação de alguns bens e conferir ao cônjuge a
administração dos bens particulares do outro. Na separação legal ou obrigatória é proibido ao
cônjuge fazer doações ao seu consorte, sendo ainda nula a cláusula que concede ao cônjuge a
administração dos bens particulares do outro ou que mande comunicar os bens incomunicáveis; na
separação convencional, admite-se que um faça doação ao outro antes do casamento (doações
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Nos termos do art.39 da Lei 9.610/98, “os direitos patrimoniais do autor, excetuados os
rendimentos resultantes de sua exploração, não se comunicam, seja o regime de comunhão parcial
ou universal, salvo pacto antenupcial em contrário”.
Acrescente-se, ainda, que no Código de 1916 eram excluídos da comunhão os rendimentos
dos bens de filhos anteriores ao matrimônio a que tinha direito qualquer dos cônjuges em
consequência do pátrio poder. Como se sabe, o pai e a mãe, enquanto no exercício do poder
familiar, são usufrutuários dos bens dos filhos. Não nos parece correto o outro cônjuge fruir
também do usufruto, porque este tem caráter personalíssimo, sendo, pois, intransmissível. Assim,
malgrado a omissão do legislador, cremos que esse usufruto é excluído da comunhão.
I. os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome
de um dos cônjuges. No regime da comunhão parcial, presumem-se adquiridos na
constância do casamento os bens móveis, quando não se provar que o foram em data
anterior (art.1.662). Para se precaver dessa presunção e garantir a incomunicabilidade é de
boa cautela especificar no pacto antenupcial os bens móveis de cada cônjuge.
II. os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso do trabalho ou despesa
anterior. Exemplos: jogo, aposta, loteria, acessões etc.
III. os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
IV. as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
V. os frutos dos bens comuns, ou particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do
casamento, ou pendentes ao tempo em que cessar a comunhão.
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As dívidas, contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e
em benefícios destes, não obrigam os bens comuns (art. 1.666). Assim, por essas dívidas, não se
admite a penhora de bens do casal.
Os bens da comunhão respondem, porém, pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela
mulher para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de
imposição legal (art. 1.664).
O regime da comunhão universal implica comunicação entre os cônjuges dos bens anteriores
ou posteriores ao casamento, e das dívidas anteriores que recaem sobre esses bens. Aliás, a
comunicabilidade é extensiva à herança e doação. Trata-se, a rigor, de um meio de aquisição da
propriedade. Referido regime faz surgir a mancomunhão ou propriedade de duas mãos, que gera o
condomínio de todos os bens. Nesse regime, os cônjuges não podem contratar sociedade entre si
ou com terceiros (art.977).
Aludido regime depende de pacto antenupcial. Foi o regime legal, no Brasil, até o advento da
Lei n° 6.515/77, que o substituiu pela comunhão parcial.
Nem tudo, porém, comunica-se. Com efeito, dispõe o art. 1668 que são excluídos da
comunhão:
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A incomunicabilidade dos bens acima não se estende aos frutos: estes são comunicáveis,
quando se percebam ou vençam durante o casamento (art. 1.669), sendo que cada cônjuge tem
direito à metade ideal dos frutos (civis, naturais ou industriais).
No tocante à administração dos bens, aplica-se a comunhão universal as normas da
comunhão parcial (art.1.670).
Finalmente, dispõe o art. 1.671 que “extinta a comunhão, e efetuada a divisão do ativo e do
passivo, cessará a responsabilidade de cada um dos cônjuges para com os credores do outro”.
Assim, extingue-se a comunhão universal com a dissolução da sociedade conjugal pela morte de um
dos cônjuges, sentença de nulidade ou anulação do casamento, pela separação e pelo divórcio.
Porém, o estado de indivisão dos bens só cessa quando sobrevém a partilha.
No regime de participação final nos aquestos, introduzido pelo novo Código, cada cônjuge
possui o seu patrimônio próprio durante o casamento, com a livre administração dos seus bens,
mas com a dissolução da sociedade conjugal passa a ter direito à metade dos bens que o outro
adquiriu a título oneroso durante o casamento.
Trata-se de um regime híbrido, porque, durante o casamento, vigora a separação de bens,
(com expectativa de direito à meação) mas com a dissolução da sociedade conjugal transforma-se
num regime similar à comunhão parcial, dividindo-se meio a meio o que adquiriram onerosamente.
Trata-se de um regime interessante para cônjuges que exerçam atividade empresarial ou que tenha
considerável patrimônio, conferindo-lhes maior liberdade no mundo negocial.
Conquanto cada cônjuge conserve a administração dos bens particulares anteriores e os
adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento, a alienação ou oneração dos imóveis
depende da outorga do outro. Todavia, quanto aos bens particulares, que são os incomunicáveis,
compreendendo, além de outros, os anteriores ao casamento e os sub-rogados em seu lugar, o
pacto antenupcial pode dispensar, para a alienação, a necessidade de outorga do outro cônjuge
(art. 1.656).
Em relação aos bens móveis, a alienação prescinde da anuência do outro cônjuge (parágrafo
único do art. 1.673), não obstante a presunção de terem sido adquiridos na constância do
casamento.
Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aquestos,
excluindo-se da comunhão:
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Note-se que, nos termos do art.1.647, IV do CC, é necessária a autorização do cônjuge para fazer
doação de bens comuns, ou dos que possam integrar a futura meação, salvo doação remuneratória
e doações feitas aos filhos quando casarem ou se estabelecerem com economia própria. A
avaliação é pelo valor do bem ao tempo da dissolução da sociedade conjugal. Anote-se, porém, que
o bem, se ainda não prescreveu a ação, poderá ser reivindicado pelo cônjuge prejudicado ou por
seus herdeiros, tendo em vista a anulabilidade dessa doação (art.1.675). Há uma opção para o
cônjuge ou seus herdeiros prejudicados, anular a doação, reivindicando o bem, no prazo de dois
anos, contado do término da sociedade conjugal (art.1.649 do CC).
c) o valor dos bens alienados em detrimento da meação, se não houver preferência do
cônjuge lesado, ou de seus herdeiros, de os reivindicar (art. 1.676).
d) as dívidas posteriores ao casamento, contraídas por um dos cônjuges, que tenham
revertido em proveito do outro (art. 1.677). Pelas dívidas contraídas por um dos cônjuges, de
natureza pessoal, isto é, que não beneficiaram o outro, somente o cônjuge que os contraiu
responderá, e, no caso de morte deste, os seus herdeiros só responderão até as forças da herança.
Se as dívidas pessoais do cônjuge devedor forem superior à sua meação, ainda assim o outro
cônjuge não terá qualquer responsabilidade (art.1.686).
e) os frutos dos bens incomunicáveis de cada cônjuge.
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partilhados, podendo, então, ser penhorados pelos credores o direito à meação cabente ao cônjuge
devedor.
IV) Na dissolução do regime de bens por separação judicial ou por divórcio, verificar-se-á o
montante dos aquestos à data em que cessou a convivência (art.1.683). Não se comunicam
portanto os bens adquiridos durante a separação de fato do casal.
O regime de participação final nos aquestos, na vigência do matrimônio, assemelha-se ao
regime de separação de bens. Mas há algumas diferenças. Com efeito, no regime de separação
absoluta, o cônjuge, no silêncio do pacto, pode alienar bens imóveis particulares sem a anuência do
outro; no regime de participação final nos aquestos, essa alienação sem a anuência, no silêncio do
pacto, não é cabível; urge a autorização expressa no pacto. No regime de separação absoluta, os
bens móveis e imóveis pertencem exclusivamente ao cônjuge adquirente; no regime de
participação final nos aquestos apenas os bens imóveis são de propriedade do cônjuge em cujo
nome constar no registro, e o outro tem um direito de crédito correspondente à ½ do valor desses
bens; quanto aos bens móveis em face de terceiros, presumem-se do domínio do cônjuge devedor,
salvo se o bem for de uso pessoal do outro (art. 1.680), entre os cônjuges os bens móveis durante o
casamento pertence ao cônjuge que os adquiriu (art.1.673).
O regime de participação final nos aquestos, com a dissolução da sociedade conjugal por
separação judicial, divórcio ou morte, assemelha-se ao regime de comunhão parcial. Todavia,
distinguem-se nitidamente. Com efeito, na comunhão parcial, os cônjuges são condôminos dos
bens móveis e imóveis adquiridos a título oneroso por qualquer deles; na participação final nos
aquestos, serão condôminos apenas em relação aos bens, móveis ou imóveis, adquiridos pelo
trabalho conjunto (art. 1.679). Mas quanto aos demais imóveis, são de propriedade do cônjuge em
cujo nome constar no Registro de Imóveis, cabendo ao outro apenas um crédito sobre a metade do
valor do bem, e os demais bens móveis pertencem ao cônjuge que os adquiriu.
DIVÓRCIO
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parcela doutrinária, que argumentava tratar-se de uma ingerência do poder público na vida
particular.
O divórcio é um direito potestativo e incondicionado.
Potestativo, porque uma vez requerido o outro cônjuge não pode se opor ao pedido, deve
sujeitar-se à vontade do outro.
Incondicionado, porque a Constituição Federal não impõe condições para se pleitear o
divórcio, sendo possível divorciar-se sem fazer a partilha dos bens ou ainda que esteja em débito
com a obrigação alimentar.
DIVÓRCIO CONSENSUAL
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não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de homologado o divórcio, na forma
estabelecida nos arts. 647 a 658 do CPC.
II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges. É preciso uma cláusula que
defina a questão dos alimentos entre os cônjuges, isto é, que esclareça se haverá ou não
pagamento de alimentos e, em caso positivo, especificar o valor.
III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas. Em regra, a guarda
deve ser compartilhada. Esta cláusula sobre a guarda é a única que o juiz pode modificar para
disciplinar de forma diversa da vontade dos cônjuges, decidindo por equidade, atento ao princípio
do melhor interesse da criança. As demais cláusulas, quando abusivas, o juiz pode anular, mas não
modificá-las.
IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos. É obrigatória a fixação do valor de
dever de sustento dos filhos menores.
Basta um advogado para ambos os cônjuges, que também deverão assinar a petição inicial.
Note-se que não há previsão para a audiência de tentativa de conciliação do casal. O citado artigo
731 não faz menção ao nome do cônjuge, mas é bom que a petição inicial defina esta questão. É
direito do cônjuge continuar usando o nome de casado, pois se trata de um dos aspectos de sua
personalidade, mas também tem a opção de renunciar a esse direito. No silêncio da petição,
mantém-se o nome de casado, porquanto não se pode presumir a renúncia.
Quanto à participação do Ministério Público, só será necessária se houver interesse de
menores ou incapazes (art. 721 do CPC).
Por outro lado, consoante dispõe o art. 733 do CPC, o divórcio consensual, não havendo
nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura
pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731.
A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de
registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras (§1o
do art. 731 do CPC).
O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado
ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial (§ 2o do art. 731
do CPC).
Os requisitos essenciais à lavratura da escritura pública são:
a) inexistência de filhos menores ou incapazes. Se os filhos menores forem emancipados, a
escritura pública pode ser lavrada. Há quem entenda que seria cabível o divórcio extrajudicial desde
que solvida judicialmente as questões atinentes aos filhos menores ou incapazes sobre alimentos,
guarda e direito de visita.
b) Presença de advogado ou defensor público. O tabelião não pode indicar o advogado.
c) Cláusula descrevendo os bens comuns ou então declaração expressa da inexistência de
bens comuns.
d) Cláusula contendo a partilha dos bens comuns. Nada obsta seja a partilha realizada em
outro momento, mediante declaração expressa das partes nesse sentido.
e) Cláusula sobre o nome do cônjuge.
f) Cláusula definindo a pensão alimentícia. As partes podem fixar, ou não, uma pensão. O
destino desta pensão pode ser o cônjuge e também os filhos maiores.
Uma vez lavrada a escritura pública, a eventual nulidade deve ser pleiteada judicialmente.
Não há sigilo nas escrituras de separação ou divórcio extrajudicial.
O tabelião poderá negar-se a lavrar a escritura pública de divórcio, conforme ensina Maria
Helena Diniz, se houver fundados indícios de prejuízo a um dos cônjuges ou em caso de dúvidas
sobre a declaração de vontade, fundamentando a recusa por escrito (Resolução nº 35/2007 do CNJ
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– arts.42, 43 e 46).
Cumpre observar que em havendo filhos menores ou incapazes do casal a separação
consensual ou amigável só poderá ser pleiteada judicialmente. Assim, o tabelião do Cartório de
Notas não precisa tentar conciliar o casal, pois esta exigência não consta da lei. Não há também a
participação do Ministério Público. Admite-se a representação dos cônjuges através de
procuradores com poderes especiais (Resolução nº 35 do CNJ). Ademais, o Código Civil admite
casamento por procuração, logo nada obsta a separação ou o divórcio por procuração. É, no
entanto, necessária uma procuração por instrumento público que mencione a finalidade específica
do ato.
O divórcio extrajudicial pode ser providenciado em qualquer Cartório de Notas, pois a
competência para lavratura de atos notariais é livre, não se submetendo aos critérios de
competência processual do Código de Processo Civil.
A escritura pública de divórcio é irretratável, mas pode ser anulada judicialmente, em 4
(quatro) anos (art.178 do CC), por incapacidade ou por vício resultante de erro, dolo, coação,
estado de perigo, lesão ou fraude contra credores (art.171 do CC). Não cabe ação rescisória.
DIVÓRCIO IMPOSITIVO
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DIVÓRCIO CONSULAR
DIVÓRCIO LITIGIOSO
O divórcio litigioso ocorre quando um dos cônjuges não quer divorciar-se ou então se
encontra em local incerto e não sabido. O processo adotará o rito dos artigos 693 a 699 do
CPC/2015.
Basicamente, o procedimento dos processos contenciosos de divórcio deve observar os
seguintes atos:
a) petição inicial;
b) citação pessoal do réu para comparecer à audiência de conciliação e mediação. O mandado
de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar desacompanhado de
cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito de examinar seu conteúdo a qualquer tempo (§
1o do art. 695 do CPC). Assim, o réu não recebe a contrafé (cópia da petição inicial). O objetivo é
evitar conflito entre os cônjuges. É discutível a constitucionalidade da supressão da contrafé, pois
viola o princípio da ampla defesa. A citação ocorrerá com antecedência mínima de 15 (quinze) dias
da data designada para a audiência (§ 2o do art. 695 do CPC).
c) audiência de mediação e conciliação. Esta audiência poderá dividir-se em tantas sessões
quantas sejam necessárias para viabilizar a solução consensual, sem prejuízo de providências
jurisdicionais para evitar o perecimento do direito (art. 696 do CPC). Na audiência, as partes
deverão estar acompanhadas de seus advogados ou de defensores públicos (§ 4o do art. 695 do
CPC). Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a solução consensual da
controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento
para a mediação e conciliação. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do
processo enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a atendimento
multidisciplinar (art. 694, caput e parágrafo único do CPC). Esta audiência de conciliação e
mediação não visa reconciliar o casal, mas sim a solução amigável da lide, isto é, a conversão em
divórcio consensual, de modo que nada obsta que nesta audiência a parte esteja representada por
procurador com poderes especiais. Tanto não visa a reconciliação do casal que esta audiência não é
realizada no divórcio consensual.
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EFEITOS DO DIVÓRCIO
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GUARDA
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equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos
filhos. Este convívio é a forma de exercício da guarda compartilhada, distinguindo-se do direito de
visita. Aliás, na guarda compartilhada não há falar-se em direito de visita em prol dos genitores,
pois ambos desfrutam da guarda. Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de
convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar (§3º do
art.1.584).
Note-se que, na guarda alternada, o menor reside em ambos os lares, ostentando, pois, dupla
residência, ao passo que, na guarda compartilhada, o menor reside, tão somente, no lar de um dos
genitores. Ambas, no entanto, têm um ponto comum, que é a eliminação do direito de visita,
porquanto o convívio entre os pais e o filho revela-se de forma contínua.
Em contrapartida, na guarda unilateral, defere-se ao genitor que não a detém apenas o
direito de visita, que é o contato espaçado no tempo, em regra, quinzenal, aos sábados e domingos,
ao passo que, na guarda compartilhada, o convívio se verifica em diversos horários da semana,
fixando-se, no acordo, os diversos encontros entre o genitor e o filho (exemplo: almoço com o filho
em determinados dias da semana).
Referentemente à guarda que melhor atende aos três princípios constitucionais referidos
anteriormente, a doutrina moderna revela uniformidade de vistas ao apontar a compartilhada,
porque aproxima pai e filho, fortificando-se os laços afetivos, contribuindo para o aperfeiçoamento
da personalidade do menor.
Quanto à guarda unilateral, deve ser reservada para as hipóteses em que, por alguma razão
plausível, não for possível a guarda compartilhada, conforme se dessume do § 2° do art. 1584 do
CC, que lhe confere caráter subsidiário. Com efeito, dispõe o referido dispositivo legal: “Quando
não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os
genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor”. Assim, a guarda unilateral só
é deferida em três hipóteses. A primeira é o acordo entre os genitores. A segunda ocorre quando
um deles não se encontra apto a exercer o poder familiar. A terceira se verifica quando um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor. Note-se que, com o advento
desse §2º, introduzido pela lei 13.058/2.014, em não havendo acordo nem declinação expressa da
guarda, esta será atribuída a ambos os genitores de forma compartilhada.
No tocante à guarda alternada, não deve ser aplicada, sequer é prevista em lei, porquanto o
menor que a ela se submete não tem um lar, expondo-se assim ao risco da perda de um referencial
de vida.
Por outro lado, na guarda compartilhada, a responsabilidade é conjunta do pai e da mãe,
conforme reza a 2ª parte do § 1º do art. 1583, de modo que ambos são responsáveis pelos danos
que os filhos menores, por dolo ou culpa, causarem a terceiros ainda que ao tempo do evento
estivesse em poder de apenas um deles, ao passo que, na guarda unilateral, somente responde o
genitor em cuja companhia se encontrava o menor ao tempo do ato lesivo (art. 932, I, do CC).
Quantos aos alimentos, são devidos também na guarda compartilhada, porque a ampliação
do convívio com o filho menor não elimina o dever de contribuir para o seu sustento.
A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para exercê-la e,
objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores:
a) afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar;
b) saúde e segurança;
c) educação.
Vê-se, portanto, que não se trata da melhor condição financeira e sim o melhor afeto e
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UNIÃO ESTÁVEL
INTRODUÇÃO
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CONCEITO
Contrato de namoro
O contrato de namoro é nulo quando a situação fática for de união estável, pois representa
fraude à lei de ordem pública e ainda gera enriquecimento indevido a um dos contratantes.
Namoro qualificado
O chamado “namoro qualificado”, que é o fato de namorados morarem juntos, mas sem o
“animus maritatis”, isto é, sem o fim de constituir família, não constitui união estável, pois o fim de
constituir família exige efetivo compartilhamento de vida, com irrestrito apoio moral e material
entre os companheiros.
Vê-se assim que é possível conviver sob o mesmo teto sem que haja união estável e, por outro
lado, caracterizar-se a união estável sem que haja a convivência sob o mesmo teto.
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Dispõe o art. 1.724 que “as relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres
de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos”.
Quanto ao dever de fidelidade, não consta expressamente na lei e, diante disso, uma corrente
sustenta que não há este dever na união estável, ao passo que outra, mais correta, defende que a
fidelidade encontra-se embutida no dever de lealdade.
O plenário do STF, por seis votos a cinco, decidiu, com base no princípio da monogamia e na
consagração do dever de fidelidade, que uniões estáveis simultâneas não podem ser reconhecidas.
Assim, de acordo com a Excelsa Corte, a declaração judicial de união estável é impedimento
ao reconhecimento de uma outra união paralelamente estabelecida por um dos companheiros
durante o mesmo período (RE 1.045.273).
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CONCUBINATO PUTATIVO
O concubinato putativo é o que produz efeitos de união estável pelo fato de um dos
concubinos desconhecer a situação impeditiva.
Assim, se houver boa-fé, isto é, desconhecimento do parentesco ou do casamento do outro,
aplica-se, por analogia, as normas que regem o casamento putativo, atribuindo os efeitos de união
estável.
A união estável foi reconhecida pela Constituição Federal como entidade familiar, deixando de
ser, portanto, uma simples sociedade de fato.
Uma primeira corrente, defendida por Maria Helena Diniz, apregoa a posição de
superioridade do casamento, com base no §3º do art.226 da CF, que prevê que a lei deve facilitar a
conversão da união estável em casamento, sinalizando assim que este é fonte geradora de mais
direitos, caso contrário a referida conversão não teria razão de ser.
Uma outra corrente, dominante, com base no princípio da isonomia, equipara a união estável
ao casamento, concedendo aos companheiros todos os direitos dos cônjuges.
Segundo Maria Berenice Dias inexiste hierarquia entre os dois institutos, o texto
constitucional lhes confere especial proteção do Estado, sendo ambos fontes geradoras de família
do mesmo valor jurídico, sem qualquer adjetivação discriminatória, de modo que onde a lei se
refere a cônjuge, é necessário ler-se cônjuge ou companheiro.
Esta última orientação preconiza que os direitos que a lei prevê para o casamento também se
aplicam à união estável, mas as restrições não, pois não se pode fazer analogia em normas
restritivas de direitos.
Assim, em relação às causas suspensivas do casamento não inibem a caracterização da união
estável (§ 2º do art. 1.723).
Nessas hipóteses, o casamento é válido, mas no regime da separação de bens.
A união estável, no entanto, no silêncio, será no regime da comunhão parcial.
Igualmente, o menor que se casa com alvará judicial incidirá no regime da separação
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A escritura pública, que deverá ser assinada por ambos os companheiros, deverá constar:
a) a descrição dos bens;
b) a partilha dos bens comuns, mas, se não houver acordo entre os companheiros, a partilha
poderá ser feita depois;
c) o valor pensão alimentícia entre os companheiros ou a eventual renúncia.
A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de
registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras (§1º
do art. 733 do CPC).
O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado
ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial (§ 2º do art. 733 do
CPC).
Em não havendo consenso entre os companheiros, outrossim, quando não houver nascituro
ou filhos incapazes, conforme art. 733 do CPC, a dissolução terá que ser feita através de ação
judicial.
Passo agora à análise do distrato por escritura particular, que indubitavelmente é possível,
cingindo-se a discussão apenas em saber se servirá por si só como prova da dissolução da união
estável ou apenas como começo de prova para uma eventual ação de dissolução de união estável.
Há duas interpretações.
Primeira, é possível, com base na autonomia da vontade, comprovar por si a dissolução, pois
se a união estável pode ser constituída por escritura particular, não há razão para se vedar a
dissolução por este meio.
Em amparo a está exegese, o art. 219 do CC dispõe que as “declarações constantes de
documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários”.
Segunda, a escritura particular, conquanto possível, não comprovará, por si só, a dissolução
da união estável, pois o art. 733 do CPC faz menção à escritura pública, exigindo ainda a
participação de advogado, além de outros requisitos, conferindo assim ao ato formalidades
especiais, que se revelam incompatíveis com a escritura particular.
A ação de reconhecimento de união estável visa obter a declaração judicial da sua existência.
A ação de dissolução de união estável, por sua vez, almeja a declaração judicial de sua
extinção.
Em ambas as ações, a legitimidade ativa é do companheiro ou companheira.
Quanto ao credor, em face do caráter íntimo e pessoal destas ações, não desfruta de
legitimidade ativa.
Em caso de morte, será possível ao companheiro supérstite propor ação de reconhecimento
ou dissolução de união estável “post mortem”, em face dos herdeiros e do cônjuge, em
litisconsórcio necessário, e, se houver cumulação com partilha de bens ou petição de herança, o
espólio também deverá figurar no polo passivo.
Se o companheiro ou companheira falecer sem propor a ação de reconhecimento ou
dissolução de união estável, os herdeiros terão legitimidade para propô-las, mas, caso haja
cumulação com partilha de bens ou petição de herança, o espólio deverá também ser adicionado ao
no polo ativo.
De acordo com o art. 53, I, do CPC/2015, o foro competente para a ação de reconhecimento
ou dissolução de união estável é o:
a) do domicílio do guardião de filho incapaz;
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REGIME DE BENS
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Entretanto, outra corrente reputa anulável as alienações de imóveis feitas sem outorga do
companheiro. Ainda que se considere o negócio como válido, o companheiro lesado terá direito de
indenização contra o outro companheiro, pelo prejuízo advindo da alienação, preservando-se os
interesses do adquirente de boa-fé, em homenagem à segurança dos negócios jurídicos.
Por outro lado, o Código ressalva aos conviventes a opção por outro regime, mediante
contrato escrito de convivência, que pode ser por escritura pública ou particular.
Entretanto, o prestigiado jurista Carlos Roberto Gonçalves, assevera que o contrato de união
estável não pode abranger bens anteriores ao início da convivência, visto que essa convenção
escrita não é equivalente ao pacto antenupcial; por isso apenas mediante escritura pública de
doação de bens, imóveis ou móveis valiosos, poderia um convivente estipular sua comunhão.
Ora, este ponto de vista, na prática, torna inócuo o regime da comunhão universal, sendo
certo que não há qualquer empecilho legal para a abrangência de bens anteriores.
ALIMENTOS
Os companheiros podem pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de
modo compatível com a sua condição social, inclusive, para atender às necessidades de sua
educação (art. 1.694).
Na separação judicial litigiosa, o cônjuge declarado culpado, sofre alteração no seu direito aos
alimentos.
O parágrafo único do art.1.704 do CC dispõe: “Se o cônjuge declarado culpado vier a
necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o
trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à
sobrevivência”.
Creio que essa regra deve ser estendida à união estável, isto é, o companheiro declarado
culpado não terá direito aos alimentos, salvo na hipótese do parágrafo único do art. 1.704.
Com efeito, a Constituição de 1988 ordena que a lei facilite a conversão da união estável em
casamento.
Fere assim o espírito Constitucional a concessão ao companheiro de vantagens não atribuídas
ao cônjuge, porque desmotivaria a conversão acima mencionada.
Assim, se no casamento a declaração de culpa influi na obrigação alimentar, com maior razão
quando se tratar de união estável.
Por outro lado, o casamento, união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de
prestar alimentos (art. 1.708).
Cessa também se tiver procedimento indigno em relação ao devedor (parágrafo único do art.
1.708).
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Mas o casamento, união estável ou concubinato do devedor não gera a extinção da obrigação
de prestar alimentos.
Finalmente, alguns civilistas sustentam que os alimentos provisórios, isto é, concedidos
liminarmente, só são admissíveis quando houver documento comprobatório da união estável.
Outros, ao revés, acertadamente, asseveram que, em não havendo documento, o juiz deve marcar
uma audiência de justificação prévia, decidindo, em seguida, sobre a liminar.
DIREITOS SUCESSÓRIOS
NOME
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Quanto à união estável com pessoa casada, mas separada de fato, não é registrável no
registro civil, salvo quando houver sentença declaratória de reconhecimento de união estável,
transitada em julgado (art. 94-A da Lei 6.015/73).
Por consequência, na referida hipótese, o uso do sobrenome do companheiro só será possível
quando houver sentença declaratória de reconhecimento de união estável, transitada em julgado.
Igualmente, a união estável formalizada apenas por escritura particular, por falta de previsão
legal, conforme se pode observar do disposto no 94-A da Lei 6.015/73, também não é passível de
ser registrada no registro civil, circunstância que também impede a inclusão do sobrenome do
companheiro.
Por outro lado, a alteração posterior ao registro civil da união estável, para se incluir ou
excluir o sobrenome do companheiro ou companheira, poderá ser requerida pessoalmente, a
qualquer tempo, perante o oficial de registro civil, independentemente de autorização judicial,
averbando-a nos assentos de nascimento e de união estável (art. 57, “caput”, c/c seu § 2º, da Lei
6.015/73).
O requerimento deve ser feito pessoalmente, vedando-se a representação por procurador,
ainda que munido de poderes especiais.
A lei não exige, para a inclusão do sobrenome, o consentimento do companheiro, de tal sorte
que se trata de um direito potestativo incondicionado.
Assim como no casamento, o companheiro poderá, a qualquer tempo, requerer pessoalmente
ao oficial do registro civil:
a) a inclusão ou exclusão de sobrenome do companheiro, na constância da união estável;
b) a exclusão de sobrenome do ex-companheiro, após a dissolução da união estável.
O § 3º-A do art. 57 da LRP reza, porém, que:
“O retorno ao nome de solteiro ou de solteira do companheiro ou da companheira será
realizado por meio da averbação da extinção de união estável em seu registro”.
O dispositivo acima deve ser freado pela interpretação restritiva, pois, numa exegese literal,
fere a real vontade do legislador, que é a permitir que, na união estável, seja possível a alteração do
sobrenome, nas mesmas hipóteses previstas para as pessoas casadas, conforme consta
expressamente no § 2º do art. 57 da LRP.
Por consequência, o retorno ao nome de solteiro ou de solteira do companheiro ou da
companheira pode ser feito na constância da união estável, por força do art. 57, II, da Lei 6.015/73,
que concede este direito às pessoas casadas.
Outrossim, por isonomia ao casamento, após a dissolução da união estável, é ainda possível se
manter o sobrenome do companheiro ou companheira, em função do § 2º do art.1.571 do CC que,
no divórcio, defere esta prerrogativa ao ex-cônjuge, o que é reafirmado pelo art. 57, III, da Lei
6.015/73.
Assim, o citado §3º-A do art. 57 da LRP só é aplicável ao companheiro que se manifestar
expressamente pela exclusão do sobrenome do outro.
Ou seja, a averbação da extinção de união estável no registro civil não é causa automática de
exclusão do sobrenome do companheiro ou companheira, sob pena de violação do princípio da
isonomia e do §2º do art. 57 da LRP, que, nas mesmas hipóteses previstas para as pessoas casadas,
permite a alteração do sobrenome do companheiro ou companheira.
Por fim, no concubinato, não será possível se adotar o sobrenome do concubino, pois a lei só
se refere à união estável; ademais, o concubinato não pode ser registrado no registro civil.
ADOÇÃO CONJUNTA
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A união estável, desde que não haja impedimento legal para o matrimônio, poderá ser
convertida em casamento, ainda que não esteja registrada no registro civil das pessoas naturais.
Há, destarte, impedimento legal para casamento, vedando-se, por consequência, a conversão,
ainda que a união estável tenha sido reconhecida por sentença, nas seguintes situações:
a) união estável com pessoa casada, que esteja separada de fato.
b) união estável com pessoa separada judicialmente.
c) união estável com pessoa separada extrajudicialmente.
Quanto ao concubinato, adulterino ou incestuoso, não poderá obviamente ser convertido em
casamento.
A conversão da união estável em casamento deverá ser requerida pelos companheiros
perante o oficial de registro civil de pessoas naturais de sua residência (art. 70-A da Lei 6.015/73,
incluído pela Lei 14.382/2022).
Operou-se assim a revogação tácita do art. 1726 do CC que, para a conversão da união estável
em casamento, exigia decisão judicial.
Aliás, esta exigência de decisão judicial era inconstitucional, pois, em vez de facilitar,
dificultava a conversão, violando o art. 226, §3º da CF.
Em caso de requerimento de conversão de união estável por mandato, a procuração deverá
ser pública e com prazo máximo de 30 (trinta) dias (§2º do art. 70-A).
Recebido o requerimento, será iniciado o processo de habilitação sob o mesmo rito previsto
para o casamento, e deverá constar dos proclamas que se trata de conversão de união estável em
casamento (§1º do art. 70-A).
Se estiver em termos o pedido, será lavrado o assento da conversão da união estável em
casamento, independentemente de autorização judicial, prescindindo o ato da celebração do
matrimônio (§3º do art. 70-A).
Quanto ao falecimento da parte no curso do processo de habilitação, não impedirá a lavratura
do assento de conversão de união estável em casamento (§7º do art. 70-A).
Não constará do assento de casamento convertido a partir da união estável a data do início ou
o período de duração desta, salvo no caso de prévio procedimento de certificação eletrônica de
união estável realizado perante oficial de registro civil (§6º do art. 70-A).
Assim, salvo na hipótese de prévio procedimento de certificação eletrônica de união estável,
realizado perante oficial de registro civil, não se atribui efeito retroativo à conversão, mas a
retroatividade poderá ser pleiteado em ação judicial específica.
O assento da conversão da união estável em casamento será lavrado no Livro B, sem a
indicação da data e das testemunhas da celebração, do nome do presidente do ato e das
assinaturas dos companheiros e das testemunhas, anotando-se no respectivo termo que se trata de
conversão de união estável em casamento (§4º do art. 70-A).
A conversão da união estável dependerá da superação dos impedimentos legais para o
casamento, sujeitando-se à adoção do regime patrimonial de bens, na forma dos preceitos da lei
civil (§5º-A do art. 70-A).
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A Lei nº 9.278/96 atribuiu a competência às Varas de Família, onde houver, para as ações
sobre união estável.
Todavia, o art. 125 da CF atribui aos Estados-membros a competência para disciplinar a sua
organização judiciária.
A lei federal deve restringir-se à fixação das comarcas competentes.
Portanto, a Lei nº 9.278/96, em seu art. 9º, que atribui a competência às Varas de Família,
padece de inconstitucionalidade, porque usurpou a competência legislativa dos Estados-membros.
De qualquer maneira, a competência é sim das varas de família, mas não com base na Lei nº
9.278/96, mas com base no art. 226, § 3º, da Constituição Federal, que reconheceu na união estável
uma entidade familiar.
Portanto, a legislação estadual, sob pena de inconstitucionalidade, deve amoldar-se à
Constituição para atribuir a competência às Varas de Família, onde houver, assegurado-se o segredo
de justiça.
POSSIBILIDADE DE REGISTRO
O registro da união estável será feito no Livro E do registro civil de pessoas naturais do local
da residência dos companheiros.
Só será, entretanto, possível o referido registro no Livro E, nos termos do art. 94-A da Lei
6.015/73, quando houver:
a) sentença declaratória de reconhecimento de união estável, transitada em julgado.
b) termo declaratório de união estável, formalizado perante o oficial de registro civil.
c) escritura pública declaratória de união estável.
Não poderá, entretanto, ser promovido o registro, no Livro E:
a) união estável de pessoa casada, que esteja separada de fato, ainda que formalizada por
escritura pública, pois, nesse caso, a lei só admite o registro se a declaração da união estável
decorrer de sentença judicial transitada em julgado (§1º do art. 94-A da Lei 6.015/73).
b) união estável formalizada por escritura particular ou termo extrajudicial, lavrados no Brasil.
No tocante à união estável de pessoas separadas judicialmente ou extrajudicialmente, podem
ser registradas no aludido no Livro E (§1º do art. 94-A da Lei 6.015/73).
A união estável formalizada no exterior, ainda que através de termos extrajudiciais e
instrumentos particulares, também poderá ser levada a registro no Livro E do registro civil de
pessoas naturais em que qualquer dos companheiros tem ou tenha tido sua última residência no
território nacional, desde que ao menos um dos companheiros seja brasileiro (§2º do art. 94-A da
Lei 6.015/73).
Aludido registro só será possível se os documentos estiverem legalizados ou apostilados e
acompanhados de tradução juramentada (§3º do art. 94-A da Lei 6.015/73).
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2º da LINDB).
Anote-se, porém, que o direito de habitação cessa quando o seu titular contrair nova união ou
se casar, conforme parágrafo único do art. 7º da lei 9.278/96.
A segunda proclama a sua revogação, porque o Código disciplinou todos os assuntos versados
pela Lei n° 9.278/96, omitindo apenas o direito de habitação, sinal de que quis eliminá-lo.
Ademais, o artigo 2.043 do CC, quanto às leis especiais, ressalvou apenas a vigência das
disposições de natureza processual, administrativa e penal, revogando implicitamente as normas de
direito civil.
A jurisprudência admite o direito de habitação, com base na isonomia, porquanto o cônjuge
desfruta também desse direito.
Só haverá, porém, direito de habitação do imóvel destinado à residência do casal em duas
situações:
a) imóvel comum, ou seja, pertencente a ambos os companheiros;
b) imóvel que pertencia exclusivamente ao companheiro falecido.
Quanto ao imóvel também pertencente a outra pessoa, em condomínio com um ou ambos os
companheiros, não pode ser objeto de direito real de habitação, sob pena de injustificável afronta
ao direito de propriedade.
USUFRUTO VIDUAL
ESTADO CIVIL
A união estável gera consequências jurídicas e por isso alguns autores sustentam que se trata
de um novo estado civil.
Outros, ao revés asseveram que a lei não a define como estado civil.
Ora, trata-se de um novo estado civil, qualificando-se como “companheiro” ou união estável,
e no caso de morte do companheiro, será tido como viúvo.
Como o STF proclamou a isonomia com o casamento, não resta dúvida que a união estável é
sim um estado civil, entendimento que se consolida com o advento da Lei 14.382/2022, que passou
a admitir o seu registro no registro civil das pessoas naturais.
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Uma corrente aplica esta presunção à união estável, com base no princípio da isonomia,
dispensando a ação de investigação de paternidade quando o companheiro falecido deixar a
companheira grávida, desde que haja prova documental da união estável, podendo, nesse caso, o
filho ser registrado no nome do companheiro morto.
Outra corrente não aceita esta presunção na união estável, pois é uma norma específica do
casamento.
Em não havendo patrimônio comum a partilhar, uma corrente sustenta que a companheira
deve ser remunerada pelos serviços rurais e domésticos que ela prestou durante o tempo de
convivência, evitando-se assim o enriquecimento ilícito daquele que se aproveitou do seu trabalho
e dedicação.
Outra corrente lhe nega este direito, visto que ela já é beneficiária da verba alimentar.
No concubinato, tendo em vista que não há direito aos alimentos, uma corrente sustenta que
a concubina poderia pleitear a indenização pelos serviços domésticos, com base na proibição do
enriquecimento sem causa.
PARENTESCO
ESPÉCIES DE PARENTESCO
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CONTAGEM DE GRAUS
AFINIDADE
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estável, persistindo, portanto, o impedimento matrimonial (§2º do art.1.595). Não existe, por
exemplo, ex-sogra ou ex-nora, porque, não obstante o divórcio, o vínculo continua. Se o sujeito
contrair novo casamento, desfrutará de duas sogras.
Na linha colateral, a afinidade desaparece com a dissolução do casamento pela morte,
divórcio, nulidade ou anulação. De cunhados passam a ser ex-cunhados, sendo perfeitamente lícito
o casamento entre eles. A mera separação judicial, porém, não tem o condão de romper o vínculo
de afinidade, de modo que o concubinato com a cunhada será tido como incestuoso e não se
revestirá da proteção legal. Com a nulidade ou anulação do casamento, extingue-se, como vimos, a
afinidade, inclusive a em linha reta, salvo na hipótese de boa-fé de um ou ambos os cônjuges
(casamento putativo).
FILIAÇÃO
CONCEITO
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deverá ser feito no nome daquele marido que a mulher indicar, competindo ao outro mover ação
judicial para reverter essa situação.
III. os filhos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido. Diz-se
homóloga a inseminação artificial realizada com sêmen e óvulo dos próprios cônjuges. Sobre o
assunto, ainda dispõe o Enunciado 106 do CJF: “Para que seja presumida a paternidade do marido
falecido, será obrigatório que a mulher, ao se submeter a uma das técnicas de reprodução assistida
com o material genético do falecido, esteja na condição de viúva, sendo obrigatório, ainda que haja
autorização escrita do marido para que se utilize seu material genético após sua morte”. Sem essa
autorização, os embriões devem ser eliminados, pois não se pode presumir que alguém queira ser
pai após a morte.
IV. os filhos havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários,
decorrentes da concepção artificial homóloga. Embriões excedentários são aqueles ainda não
introduzidos no útero materno. O Enunciado 107 do CJF dispõe que: “Finda a sociedade conjugal,
na forma do art.1.571, a regra do inciso IV somente poderá ser aplicada se houver autorização
prévia, por escrito, dos ex-cônjuges, para a utilização dos embriões excedentários, só podendo ser
revogada até o início do procedimento de implantação desses embriões”.
V. os filhos havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização
do marido. Heteróloga é a inseminação artificial em que o material genético, masculino ou
feminino, ou ambos, é oriundo de um terceiro. Para alguns autores, a presunção de paternidade,
nesse caso, é absoluta para o marido que anuiu no projeto de reprodução assistida heteróloga. Na
verdade, a presunção pode ser afastada se se provar a existência de dolo ou fraude. A autorização
do marido, para que se leve a efeito a inseminação artificial, só pode ser revogada até o momento
da inseminação. Feita a inseminação, a autorização é irrevogável diante da proibição do venire
contra factum proprium. A presunção de paternidade existe mesmo após a morte do marido. Por
analogia à adoção, não há qualquer vínculo entre a criança e o doador do material genético, salvo
quanto aos impedimentos matrimoniais.
A ação negatória de paternidade tem o objetivo de desfazer a presunção pater is est, que, em
relação ao marido é relativa (juris tantum), mas em relação a terceiros a presunção é absoluta, pois
a legitimidade para impugnar a paternidade é exclusiva do marido.
Cabe ao marido o direito de propô-la, mas se este for incapaz, a meu ver, a ação poderá ser
ajuizada por seu curador, porque o novo Código, ao contrário do anterior, não usa a expressão “cabe
privativamente ao marido”, limitando-se a dizer “cabe ao marido”. Portanto, o marido poderá propô-la
pessoalmente ou fazendo-se representar por seu curador.
Se o marido falecer antes do ajuizamento da ação, seus herdeiros não poderão propô-la.
Trata-se de ação personalíssima. Todavia, se o falecimento ocorrer após o ajuizamento da ação, os
herdeiros têm o direito de prosseguir na ação (parágrafo único do art. 1.601). Anote-se, ainda, que
se o nascimento do filho ocorrer depois de trezentos dias, a contar do falecimento do marido, não
há falar-se em presunção de paternidade, de modo que, nesse caso, os herdeiros podem impugnar
a paternidade, tendo em vista a nulidade absoluta do registro de nascimento, salvo na hipótese de
embriões excedentários decorrentes de concepção artificial homóloga, prevista no art. 1.597, IV.
No novo Código, a ação negatória de paternidade é imprescritível (art. 1.601). No Código de
1916, o prazo variava entre dois a três meses, conforme o marido se encontrasse ausente ou
presente durante o nascimento (art. 178, §§ 3º e 4º).
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O Código não limita os fundamentos da ação negatória. Esta pode basear-se numa infinidade
de fatos, ao contrário do Código de 1916, que restringia os fundamentos da ação às hipóteses de o
marido, no período da concepção, encontrar-se fisicamente impossibilitado de coabitar com a
mulher ou legalmente separado dela. Não obstante o sistema incondicionado do novo Código, o
art. 1.599 preceitua que a prova da impotência para gerar, à época da concepção, ilide a presunção
de paternidade. Trata-se de dispositivo inócuo, porque a ação negatória pode basear-se noutros
fundamentos. O art. 1.600 ressalva, porém, que não basta o adultério da mulher, ainda que
confessado, para ilidir a presunção legal de paternidade.
A ação é movida em face do presumido filho. Se este for incapaz, será representado ou
assistido por sua mãe, conforme a incapacidade seja absoluta ou relativa.
O foro competente é o domicílio do réu, em Varas de Família, onde houver.
O rito é o especial, previstos nos arts. 693 a 699 do CPC/2015. O Ministério Público deverá
participar do processo como custos legis, salvo se não houver interesse de incapaz (art. 698 do
CPC/2015).
Na contestação, torna-se inadmissível o reconhecimento do pedido, porque a lide é sobre
direito indisponível.
Se a ação não for contestada, ainda assim torna-se inviável o julgamento antecipado da lide,
porque o ônus da prova compete ao autor, não se presumindo verdadeiros os fatos narrados na
inicial. O julgamento antecipado da lide só é possível quando os fatos estiverem devidamente
comprovados por documento.
Na hipótese de procedência da ação, a sentença, conquanto desconstitutiva, retroage à data
da concepção do indigitado filho, desfazendo-se a presunção de paternidade. A sentença é
averbada à margem do registro de nascimento (art.29, §1º, da Lei 6.015/73).
Note-se, ainda, que, no novo Código, as presunções de paternidade são sempre relativas.
Todas elas podem ser impugnadas pela ação negatória de paternidade.
O art. 339 do Código de 1916 considerava absoluta a presunção de paternidade do filho nascido
antes dos cento e oitenta dias, a contar do início da convivência conjugal, se o marido, antes de casar,
tinha ciência da gravidez da mulher e assistiu a lavratura do termo de nascimento do filho, sem contestar
a paternidade. Em ambos os códigos, não há presunção de paternidade em relação aos filhos nascidos
antes de decorridos os cento e oitenta dias. Mas, no Código de 1916, se o marido presenciasse o
reconhecimento do filho em seu nome a presunção de paternidade passava a ser absoluta. No novo
código, a presunção é relativa, ilidível ainda que ele assista à lavratura do termo de nascimento do filho,
sem contestar a paternidade.
ADOÇÃO À BRASILEIRA
Adoção à brasileira é o fato de registrar filho alheio como próprio. Não configura erro ou falsidade
no registro, logo não pode ser anulada, pois o vínculo de filiação se formou pela via afetiva, de modo que
o registro civil retrata a verdade afetiva. Não obstante o caráter criminoso do fato (art.242 do CP), o
vínculo de filiação afetiva não pode ser rompido nem mesmo pelo rompimento da convivência, pois a
paternidade é irrenunciável.
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da criança e na dignidade da pessoa humana, segundo o qual pai é o que exerce tal função, mesmo
que não haja vínculo de sangue.
Os fundamentos legais da filiação sociafetiva são:
a) A amplitude da expressão “outra origem”, prevista no art.1.593 do CC, que abrange não só
a adoção como também outros vínculos distintos da consaguinidade. Com efeito, reza o citado
dispositivo legal: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consaguinidade ou outra
origem”.
b) O conceito de posse do estado de filho, que a rigor é a filiação socioafetiva, admitida como
prova da filiação no art.1.605, II, do CC. A posse do estado de filho funda-se no vínculo de
afetividade, num ato de vontade que predomina sobre a filiação biológica. Ao autor da ação de
investigação de paternidade, conforme ensina Maria Berenice Dias, “não basta provar que o réu é o
seu pai biológico, pois para poder ser reconhecido o estado de filiação é necessário comprovar que
não desfruta do estado de filiação afetiva”. Assim, a existência do vínculo afetivo do autor com
outrem inviabiliza o reconhecimento da filiação biológica. Todavia, o direito de conhecer a origem
genética, a própria ascendência, é um direito fundamental, um direito da personalidade. Trata-se
de um direito individual, personalíssimo, e não significa necessariamente direito a filiação. Seu
exercício não significa inserção em relação de família”. Modernamente, distingue-se o pai do
genitor. O primeiro é o que cria caracterizando-se pelo vínculo afetivo; o segundo, apenas gera,
caracterizando-se pelo vínculo biológico.
CONCEITO
O reconhecimento é o ato que faz nascer o parentesco jurídico entre pais e filhos. Filho não
reconhecido não é filho perante a lei.
ESPÉCIES
De conformidade com o art. 1.609, o reconhecimento dos filhos pode ser feito das seguintes
formas:
I. no registro de nascimento. É a chamada perfilhação. Esse reconhecimento é feito no ato da
lavratura do assento de nascimento. Se a mulher for casada, o marido não precisa comparecer ao
ato, porque a paternidade é presumida. Basta o comparecimento dela, munida da certidão de
casamento, para que o filho seja também registrado em nome dele. A não ser, é claro, quanto aos
filhos nascidos antes dos cento e oitenta dias a contar do início da convivência conjugal. Nesse caso,
urge que o marido compareça, por si ou por procurador especial, para que o reconhecimento possa
ser concretizado. Após a lavratura do registro, não é lavrado outro registro, de modo que as outras
formas de reconhecimento geram averbações no registro, mas a certidão de nascimento, para
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evitar descriminação, não faz menção ao reconhecimento posterior, simplesmente nela constará os
dados de filiação que faltavam.
II. por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório. Assim, após a
lavratura do assento de nascimento, o reconhecimento ainda pode ser feito por escritura pública
ou particular, que será averbada no Registro de Nascimento (art. 29, § 1º, d, da Lei nº. 6.015/75).
Todavia, a certidão de nascimento não poderá fazer qualquer menção a esse fato, para evitar
discriminação, de modo que esse documento será idêntico ao expedido no caso de perfilhação. O
documento particular deve visar especificamente o reconhecimento, ainda que em uma simples
declaração, ou missiva. Uma parcela da doutrina rejeita o reconhecimento feito incidentalmente
em escrito particular. Quanto à escritura pública, não precisa ser específica a esse fim, podendo o
reconhecimento ser feito incidentalmente, por exemplo, numa escritura de compra e venda e até
mesmo em pacto antenupcial.
III. por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. Qualquer espécie de testamento,
público, particular, cerrado, militar, marítimo ou aeronáutico, presta-se ao reconhecimento, ainda
que contenha outras disposições. Quanto ao codicilo, a meu ver, é meio hábil para o
reconhecimento, porque se trata de um escrito particular, amoldando-se a hipótese no inciso
anterior;
IV. por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja
sido objeto único e principal do ato que o contém. Como se vê, em qualquer tipo de procedimento
judicial, o reconhecimento pode ser levado a efeito, mediante manifestação expressa e direta, isto
é, na presença do juiz. Urge que o juiz esteja presente nesse ato, sob pena de nulidade.
A propósito dos alimentos, admite-se que na ação de investigação de paternidade sejam
fixados liminarmente desde que se cumule expressamente a ação de investigação com o pedido de
alimentos e haja indícios de paternidade. A recusa em realizar o exame de DNA gera presunção de
paternidade, autorizando-se a fixação dos alimentos provisórios.
Além dessas formas de reconhecimento, estatuídas no art. 1.609, a lei ainda prevê outras
duas.
Com efeito, o art. 26 da Lei nº. 8.069/90 admite que o reconhecimento possa ser feito em
qualquer documento público. E, por sua vez, o art. 2º da Lei nº 8.560/92, instituiu o chamado
reconhecimento judicial oficioso ou investigação oficiosa, feito em procedimento de jurisdição
voluntária. Assim, em registro de nascimento de menor apenas com a maternidade estabelecida, o
oficial do registro civil indagará da mãe a qualificação do suposto pai, comunicando o fato ao juiz
corregedor. Este, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada e mandará em
qualquer caso notificar o suposto pai, independentemente do estado civil, para que se manifeste
sobre a paternidade que lhe é atribuída. No caso de este confirmar expressamente a paternidade,
será lavrado termo de reconhecimento e remetida a certidão ao oficial do registro, para a devida
averbação. Se, ao revés, o suposto pai não atender no prazo de trinta dias a notificação judicial ou
negar a paternidade, o juiz remeterá os autos ao representante do Ministério Público para que
intente, havendo elementos suficientes, a ação de investigação de paternidade, atuando como
substituto processual, defendendo em nome próprio interesse alheio. Há quem defenda a
inconstitucionalidade da legitimidade ativa do Ministério Público, pois a ação de investigação de
paternidade é personalíssima, sendo vedada ao membro do parquet o exercício da advocacia. Na
hipótese de a mãe se negar a fornecer ao oficial a qualificação do suposto pai, ainda assim, o oficial
deverá remeter a certidão de nascimento ao juiz. Este deverá instaurar, da mesma forma, o
procedimento administrativo, porque o direito da criança à paternidade é indisponível. Conquanto
o procedimento seja apenas administrativo, visando o reconhecimento voluntário, e não o forçado,
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nada obsta, desde que as partes concordem, a realização de provas, como, por exemplo, o exame
DNA. Se, não obstante, o resultado positivo do DNA, o suposto pai, ainda assim negar-se ao
reconhecimento, o juiz não poderá prolatar sentença, porque não se trata de uma ação judicial. O
magistrado, em todas as hipóteses de o suposto pai recusar-se ao reconhecimento, deverá remeter
os autos ao Ministério Público, para que este analise a possibilidade de se propor a ação
investigatória de paternidade. Se o suposto pai já morreu, o procedimento investigatório de
jurisdição voluntária pode ser dirigido aos seus sucessores e se estes reconhecerem
espontaneamente a paternidade, diante da ausência de conflito de interesses e da economia
processual.
Eis aí as formas de reconhecimento de filhos. Qualquer outro meio não surtirá o efeito
almejado, mas servirá de prova para o ajuizamento de uma ação de investigação de paternidade.
Assim, por exemplos, não é admissível o reconhecimento feito através de gravação; na certidão de
batismo etc. Aliás, o art. 3º da Lei n° 8.560/92 veda expressamente o reconhecimento de filho na
ata de casamento, mas essa proibição não foi repetida pelo Código Civil e por isso para alguns
autores a redação não persiste. Outro sustentam a persistência da vedação, pois sendo o Código
Civil uma lei geral não tem o condão de revogar as leis especiais.
Anote-se, ainda, que a lei admite o reconhecimento do nascituro (parágrafo único do art.
1.609 e art. 26, parágrafo único da Lei nº. 8.069/90). Trata-se, porém, de um ato condicional, que
só surtirá efeito se a criança nascer viva.
Quanto ao reconhecimento de filho póstumo, os dispositivos acima também o autorizam,
desde que o filho tenha deixado descendentes. Nesse caso, alguns juristas exigem para o
reconhecimento o consentimento dos descendentes, embora esse requisito não conste no
parágrafo único do art.1.609.
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isonomia.
CARACTERÍSTICAS
INVESTIGAÇÃO DE PARENTALIDADE
A) POSIÇÃO DA DOUTRINA
A investigação de parentalidade é o gênero indicativo das diversas ações que versam sobre
vínculos paternos filiais. Dentre essas ações merecem destaque:
a) Ação de investigação de paternidade: quando suposto filho não tem pai no registro ou tem
mas não mantém com este qualquer vínculo afetivo. Referida ação produz efeitos registrais à
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B) POSIÇÃO DO STF
Este acórdão do Plenário do STF vincula todos os juízes e tribunais do país, que doravante
terão que decidir dessa forma, conforme art. 927, V, do CPC.
Com fundamento nesta histórica decisão da Excelsa Corte, o Conselho Nacional de Justiça
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A ação de investigação de paternidade pode ser proposta por qualquer filho, ainda que
menor ou incapaz, mas, nesse caso, deverá ser assistido ou representado pelo representante legal.
O nascituro também pode propor essa ação, representado por sua mãe (art. 26 do Estatuto da
Criança e do Adolescente e parágrafo único do art. 1.609).
Igualmente, o Ministério Público também pode ajuizá-la, na qualidade de legitimado
extraordinário, se o indigitado filho for menor ou incapaz, por força da Lei n° 8.560/92. Trata-se de
uma legitimidade concorrente, porque o suposto filho também poderá ajuizar a sobredita ação. Se
ambos, isto é, o Ministério Público e o menor, moverem as ações, haverá litispendência, devendo
ser extinta, porque é subsidiária, a ação movida pelo Ministério Público (art.485, V, do CPC/2015).
Creio, por outro lado, que deva ser aplicado à legitimidade ativa, o disposto no art. 1.606, porque
a ação de investigação de paternidade é uma espécie de ação de prova de filiação. Assim, a ação de
investigação compete ao filho, enquanto viver. Se ele for capaz, a legitimidade ativa é exclusiva;
ninguém mais poderá propor essa ação, nem mesmo depois da sua morte. Mas, se a morte ocorrer no
curso da ação, seus herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado extinto o processo, por exemplo,
por desistência da ação ou outra forma de extinção sem resolução do mérito (parágrafo único do
art.1.606).
Se, ao revés, ele morrer menor ou incapaz, o direito à propositura da ação transmitirá aos
seus herdeiros (art. 1.606). Essa norma ameniza o caráter personalíssimo da aludida ação. Cumpre
salientar a opinião de diversos civilistas que atribuem legitimidade ativa aos herdeiros para buscar o
reconhecimento da ascendência, mesmo que a ação investigatória de paternidade não tenha sido
proposta quando o suposto filho estava vivo. Já se admitiu ação investigatória avoenga, proposta
pelos netos em face do avô.
No pólo passivo da referida ação deve figurar o indigitado pai, ainda que casado. Se este for
morto, a ação deve ser ajuizada em face de seus herdeiros. Se não houver quaisquer herdeiros, o
Município ou Distrito Federal, figurará como réu, mas enquanto não sobrevier o trânsito em julgado
da sentença de vacância, a ação deve ser movida, a meu ver, em face da herança jacente. Saliente-
se, contudo, que qualquer pessoa que tenha justo interesse, moral ou econômico, como é o caso
do cônjuge e filhos do réu, pode contestar a ação de investigação de paternidade, ou maternidade
(art.1.615 do CC).
A ação de investigação de paternidade é imprescritível e deve ser proposta no domicílio do
réu, mas quando se pleitear também os alimentos, o foro competente passa a ser o do domicílio do
autor (Súmula nº 1 do STJ). Se a ação investigatória de paternidade for cumulada com petição de
herança, o foro competente, antes da partilha, é o local do inventário; após a partilha, o foro do
domicílio de qualquer herdeiro. O foro competente é o domicílio do autor quando houver
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b1) o suposto pai é ausente civil, estando, pois, representado no processo pelo curador de
ausentes ou herdeiros, conforme a fase que se encontra o processo de ausência.
b2) o suposto pai é ausente processual citado fictamente (por edital ou hora certa), estando
representado no processo por curador especial, cuja função é exercida pela Defensoria Pública (art.
72 do CPC).
b3) o suposto pai, após ter sido citado pessoalmente, constituindo advogado, se ausenta no
curso do processo, passando a ter paradeiro ignorado. Nesse caso, creio que, além de se intimar
pessoalmente o parente consanguíneo mais próximo para realizar o exame DNA, é preciso também
intimar o suposto pai por edital para que compareça na data e local designados para a feitura do
exame.
Interpretação diversa, no sentido de o texto legal se referir apenas ao ausente civil, premiaria
o ausente processual, à medida não se presumiria a paternidade pela não realização do exame
DNA, frustrando assim os objetivos da lei, além de estimular a tomada de paradeiro ignorado.
Para finalizar, o dispositivo legal em análise, por isonomia, também deve ser aplicado à ação
de investigação de maternidade.
De acordo com o Supremo Tribunal Federal, não fazem coisa julgada as ações de investigação
de paternidade decididas sem a realização do exame DNA.
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ALIMENTOS
CONCEITO
Alimentos são prestações periódicas, em dinheiro ou em espécie, pagas por uma pessoa a
outra, para a satisfação das necessidades da vida.
FONTES
ALIMENTANTE E ALIMENTADO
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que os recebe.
Os parentes, que podem ser chamados a pagar alimentos, uns aos outros, são os
ascendentes, descendentes e irmãos, tanto unilaterais como germanos. Anote-se que os colaterais
de terceiro e de quarto graus, conquanto herdeiros, não são obrigados aos alimentos. Os afins não
são obrigados a prestar alimentos
Além dos parentes, os cônjuges ou companheiros também podem pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem.
Quanto ao nascituro, desde que haja a certeza sobre a paternidade, pode pleitear alimentos,
porque seus direitos são assegurados desde a concepção.
Em relação ao cônjuge, ainda que vivendo sob o mesmo teto, pode pleitear alimentos do
outro, provando que este não coopera com as despesas necessárias.
Na adoção, o filho adotivo não pode pleitear alimentos do pai biológico, pois a adoção
extingue o vínculo com a família de sangue, mas em contrapartida poderá reclamar alimentos do
adotante e dos demais ascendentes do adotante; o adotante pode pedir alimentos ao adotado e
aos demais descendentes do adotado.
CONDIÇÕES DE EXIGIBILIDADE
Os alimentos, como vimos, são regidos pelo binômio “necessidade e possibilidade”. Além
disso, trata-se de uma obrigação recíproca, isto é, bilateral.
Diferentemente, no dever de sustento, dos pais em relação aos filhos menores, a necessidade
desses últimos é presumida. Além disso, não há a característica da reciprocidade; os pais devem
sustentar os filhos menores e não estes àqueles, de modo que o dever de sustento é unilateral.
Entre cônjuges, também há o dever recíproco de sustento.
O OBJETO DA PRESTAÇÃO
Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos
da pessoa obrigada (§ 1º do art. 1.694). Portanto, o valor da prestação será arbitrado conforme o
grau de necessidade do alimentado e o nível de possibilidade do alimentante. Esse binômio é um
standard jurídico, um critério vago, genérico, de difícil definição. Não há nenhuma lei ordenando
que a pensão seja de um terço dos rendimentos do alimentante, embora esse critério seja usual.
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CARACTERÍSTICAS
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de Família”. De acordo com esse entendimento, a renúncia aos alimentos no divórcio ou dissolução
da união estável é válida, não sendo possível ao ex-cônjuge ou ex-companheiro pleitear alimentos
diante da extinção do dever de mútua assistência.
d) incessibilidade: não se pode ceder o crédito alimentar (art. 1.707). Cremos que essa
restrição refere-se apenas ao crédito atual, isto é, às prestações vincendas. Quanto às prestações
em atraso, a nosso ver, nada obsta a cessão, que pode revelar-se vantajosa ao alimentado.
e) incompensabilidade: o alimentante não pode escusar-se do pagamento dos alimentos
alegando que tem créditos a receber perante o alimentado. Os alimentos, por visarem a
subsistência da pessoa, são infensos à compensação de créditos. Nada obsta, a nosso ver, a
compensação dos alimentos em atraso, porque estes não visam garantir a subsistência da pessoa.
O art. 1.707, porém, que proíbe a compensação e a cessão, não abre qualquer exceção, de modo
que a questão encontra-se em aberto, comportando, destarte, mais de uma interpretação.
Finalmente, o pagamento antecipado das prestações alimentares é perfeitamente lícito. Se, por
exemplo, o sujeito tiver pago, no mês de janeiro, o dobro do valor da pensão, estancando-a no mês
seguinte e retomando o pagamento apenas em março, ao credor não assistirá o direito de cobrar
novamente pensão referente ao mês de fevereiro.
f) impenhorabilidade: o art.833, IV, do CPC/2015, complementa a proibição da penhora,
prevista no art. 1.707 do CC, estatuindo que as pensões destinadas ao sustento da pessoa e da sua
família, são absolutamente impenhoráveis. Esta proibição de penhora, ao meu ver, refere-se ao
valor pago mensalmente, pois conforme a jurisprudência, a penhora pode recair sobre os alimentos
atrasados, uma vez que, esta verba não se destina mais ao sustento do devedor.
g) irrepetibilidade: não se pode reaver o que se pagou para solver dívida alimentar, ainda que
a decisão judicial, que ordenou o pagamento, venha a ser modificada pelo Tribunal. O princípio da
irrepetibilidade não consta em norma expressa, mas decorre da própria natureza da obrigação, que
visa garantir a subsistência da pessoa, sendo pois, imoral a pretensão de reaver o que se pagou,
tanto é que para as execuções provisórias a lei dispensa a caução. Se, por exemplo, o agente houver
pago alimentos, por erro, a uma pessoa que supunha ser seu filho, não poderá reaver as quantias
pagas. Todavia, provando-se a má-fé do verdadeiro responsável, nada obsta se lhe ajuíze a ação in
rem verso, invocando-se o princípio da proibição do enriquecimento sem causa. Há quem entenda
que é também possível a restituição quando o ex-cônjuge oculta dolosamente o seu novo
casamento. Acrescente-se ainda que quando alguém, na ausência do indivíduo obrigado a
alimentos, por eles os prestar a quem se devem, poder-lhes-á reaver do devedor a importância,
ainda que este não ratifique o ato (art.871 do CC).
Na execução provisória da sentença de alimentos, o juiz pode dispensar a exigência de caução
(art.521, I, do CPC/2015). No CPC anterior a dispensa da caução só era possível quando o valor não
excedia a 60 (sessenta) salários mínimos. O CPC/2015, para dispensar a caução, não impõe
qualquer limite de valor.
h) impossibilidade de transação: o direito a alimentos é indisponível, logo não pode ser
suprimido ou diminuído para prevenir ou extinguir outras obrigações. O quantum debeatur e as
prestações em atraso, porém, podem ser objetos de transação, porque têm caráter disponível.
Saliente-se ainda que o art.852 do CC veda o compromisso ou arbitragem para solução de questões
de estado e de direito pessoal de família, que é o caso dos alimentos.
i) imprescritibilidade: o direito aos alimentos é insuscetível de prescrição; a qualquer tempo, a
pessoa poderá exercê-lo. Todavia, a imprescritibilidade recai apenas sobre o direito de ação, e não
sobre as prestações fixadas judicialmente. Estas, de acordo com o novo Código, prescrevem em
dois anos, a partir da data que se vencerem (art. 206, § 2º). No Código de 1916, a prescrição era de
cinco anos.
Assim, na ação de conhecimento, o autor tem direito às prestações, a partir da concessão de
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Essas ações podem ser propostas quando um fato superveniente altera a situação econômica
de uma ou de ambas as partes. Com efeito, dispõe o art.1.694 do CC: “Podem os parentes, os
cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”.
Na ação revisional, a obrigação alimentar é apenas alterada, elevando ou reduzindo o valor da
prestação. Se, por exemplo, a ex-esposa, que recebe os alimentos, ingressa num concurso público
modesto, o ex-marido pode pedir revisão para reduzir um pouco o valor da prestação; se, ao revés,
é o ex-marido que é promovido no trabalho, ela poderá pedir o aumento da pensão.
Conquanto difícil, nada obsta que o próprio devedor ingresse com ação revisional para elevar
o valor da pensão.
Por outro lado, a ação de exoneração provoca a extinção da obrigação alimentar. Urge,
portanto, que o fato novo seja daqueles que supra as dificuldades do devedor ou então elimine as
possibilidades do credor. Se, por exemplo, a ex-esposa, que recebe os alimentos, ingressar no
concurso da Magistratura, o ex-marido poderá pleitear a sua exoneração.
Ocorrerá também a exoneração nas seguintes hipóteses:
a) o credor dos alimentos contrai novo casamento, união estável ou concubinato, ou tem
algum comportamento indigno em relação ao devedor. Por exemplo: tentar matá-lo. Em todos
esses casos, o devedor deverá pleitear judicialmente a exoneração. O Enunciado 265 do CJF reza
que “na hipótese de concubinato, haverá necessidade de demonstração da assistência material
prestada pelo concubino a que o credor de alimentos se uniu”.
O parágrafo único do art.1.708 do CC dispõe que: “Com relação ao credor cessa também, o
direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor”. O Enunciado 264 do CJF
salienta que: “Na interpretação do que seja procedimento indigno do credor, apto a fazer cessar o
direito a alimentos, aplicam-se, por analogia, as hipóteses dos incisos I e II do art.1.814 do Código
Civil”. Já o Enunciado 345 do CJF destaca que: “O procedimento indigno do credor em relação ao
devedor, previsto no parágrafo único do art.178 do Código Civil, pode ensejar a exoneração ou
apenas a redução do valor da pensão alimentícia para quantia indispensável à sobrevivência do
credor”.
b) o filho atinge a maioridade civil. Nada obsta, porém, que o filho maior pleiteie novamente
os alimentos, comprovando a necessidade. O Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 358, cujo
teor é o seguinte: “O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está
sujeito a decisão judicial, mediante contraditório ainda que nos próprios autos”. Portanto, a
maioridade civil, por si só, é insuficiente para provocar a exoneração da obrigação alimentar, sendo,
pois, necessário que o devedor peticione nos autos da ação de alimentos requerendo o
cancelamento da pensão alimentícia, competindo ao filho, que agora já é maior, o ônus de prova da
persistência da necessidade, alegando, por exemplo, despesas com o estudo, instaurando-se,
destarte, o contraditório. Ao invés de peticionar nos próprios autos,o devedor, para exonerar-se,
tem também a opção de ingressar com ação autônoma de exoneração.
Cessada a obrigação alimentar não há direito de acrescer diante da falta de previsão legal. Se,
por exemplo, o pai pagar alimentos de R$ 3.000,00 (três mil reais) a três filhos, extinguindo-se a
obrigação para um deles o débito é reduzido para R$ 2.000,00 (dois mil reais), não se acrescendo
aos outros dois filhos a importância de R$ 1.000, 00 (mil reais).
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exoneração, levou o legislador a editar a norma do art. 15 da Lei n° 5.478/68, no sentido de que a
sentença de alimentos não faz coisa julgada.
A doutrina processual tem rejeitado esse ponto de vista e afirmado que a sentença de
alimentos submete-se, sim, à coisa julgada material, mas com a cláusula rebus sic stantibus.
A coisa julgada, que é a imutabilidade dos efeitos da sentença, recai apenas sobre os
elementos da ação, isto é, sobre as partes, o pedido e a causa de pedir. A alternância de um desses
elementos faz com que a ação já não seja mais a mesma.
A ação revisional e a ação de exoneração são baseadas em uma nova causa de pedir,
diferenciando-se, destarte, da ação de alimentos, de modo que não alteram a coisa julgada, porque
esta impede a repetição de mesma ação, e não de outras similares.
Assim, podemos afirmar que a sentença de alimentos faz coisa julgada material, porque
enquanto a situação permanecer a mesma, o dispositivo da sentença não poderá ser alterado.
ALIMENTOS GRAVÍDICOS
CONCEITO E CONTEÚDO
LEGITIMIDADE ATIVA
O direito aos alimentos gravídicos é titularizado pela mulher gestante, sendo, pois, ela a parte
legítima para a propositura da sobredita ação, conforme se depreende da análise do art. 1º da Lei
n. 11.804/08, independentemente de vínculo conjugal ou união estável com o suposto pai do
nascituro.
A legitimidade passiva é exclusiva do suposto pai, não se estendendo aos avôs paternos ou
outros parentes eventuais do nascituro, cuja obrigação alimentar é sustentada na comprovação do
vínculo de parentesco e não apenas em indícios.
CRITÉRIO DE FIXAÇÃO
Os alimentos gravídicos são fixados como os outros, tendo, pois, por base o binômio
necessidade e possibilidade.
O ônus da prova da necessidade é afeto à alimentada, amparando-se, para comprovação de
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certas despesas, em exames médicos. Vale lembrar que o futuro pai não é obrigado a custear, na
íntegra, estas despesas, porque a obrigação de alimentos é divisível. A propósito, sobre o assunto,
dispõe o parágrafo único do art. 2º da Lei n. 11.804/08:
“Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte das despesas que
deverá ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também deverá ser dada
pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos.
DURABILIDADE
Em regra, os alimentos são fixados por prazo indeterminado, perdurando no tempo com a
cláusula “rebus sic stantibus”, mas os gravídicos têm duração certa, restringindo-se ao período de
gravidez, cessando, para a parturiente, tão logo sobrevenha o nascimento.
São, pois, devidos à gestante no período de vida intrauterina, desde que se comprove a
necessidade, e cessando com o nascimento, ainda que persista a necessidade. Vê-se, portanto, que
a lei deixa ao desamparo a parturiente que, após o nascimento, passa a ter complicações em razão
do parto, necessitando de verbas alimentares.
A partir do nascimento, os alimentos gravídicos têm os seguintes destinos:
a) nascimento com vida: convertem-se em pensão alimentícia em favor do menor até que
uma das partes solicite a sua revisão ou exoneração (parágrafo único do art. 6º da Lei n.
11.804/08). Caso a criança nasça no curso da ação de alimentos gravídicos, uma primeira corrente
sustenta que o processo deve ser extinto sem resolução do mérito, por perda do objeto, pois o
pressuposto dessa ação é a gravidez; outra corrente assevera que o processo deve continuar, pois
há interesse na conversão desses alimentos em favor da criança.
b) natimorto: os alimentos extinguem-se automaticamente.
BEM DE FAMÍLIA
CONCEITO
ESPÉCIES
No Brasil, distinguem-se duas espécies de bem de família, o legal, previsto na Lei n° 8.009/90,
e o voluntário, disciplinado nos arts. 1.711 a 1.722 do CC.
Em ambos, só há a proteção se ao tempo da aquisição do bem de família, a pessoa era
solvente. O insolvente que adquire imóvel mais valioso para lá transferir sua residência familiar não
gozará da proteção em relação a essa aquisição, mas a impenhorabilidade poderá recair sobre o
imóvel anterior.
A existência de dívidas anteriores não anulam a constituição do bem de família se a pessoa
era solvente, devendo os credores anteriores garantirem a execução em relação à parcela do
patrimônio do devedor que não compõe o bem de família.
O bem de família legal é instituído automaticamente, com a simples residência dos cônjuges
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O bem de família, em suas duas modalidades, destina-se à proteção dos cônjuges ou entidade
familiar, em relação a futuros débitos.
A entidade familiar corresponde à união estável entre o homem e a mulher e à comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes (art. 226, §§ 3º e 4º da CF). de acordo com a
Constituição Federal, a família emana do casamento, união estável e dos laços de descendência. O
STF alargou o conceito de família para que ela abrangesse também a união homoafetiva, isto é,
entre pessoas do mesmo sexo, estendendo-lhe os direitos da união estável, aplicando-se-lhe
portanto as normas do bem de família.
Enquanto o bem de família voluntário só é concedido em situações que há família,
compreendida em sentido amplo para abranger a união homoafetiva, o bem de família legal,
conforme tendência jurisprudencial, visa proteger o direito à moradia, previsto no art. 6º da CF,
tanto é que a súmula 364 do STJ dispõe que “o conceito de impenhorabilidade do bem de família
abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas”.
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OBJETO
Por outro lado, o bem de família voluntário, previsto no Código Civil, pode recair sobre:
a) prédio residencial próprio, urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios. De acordo com o
STF, o imóvel residencial rural só pode abranger a pequena propriedade rural, que deve ter
entre um a quatro módulos rurais do município onde se situa o bem, compreendendo nesse
espaço a sede da moradia e seus naturais acessórios.
b) valores mobiliários devidamente individualizados no ato de instituição. Os valores mobiliários
são os títulos de investimentos de emissão de uma sociedade por ações para obter os recursos
de que necessita. Compreendem as ações, as debêntures, as partes beneficiárias, os bônus de
subscrição e outros previstos na legislação específica. Se se tratar de títulos nominativos, a sua
instituição como bem de família deverá constar dos respectivos livros de registro (§ 2º do art.
1.713). Maria Helena Diniz alarga o conceito de valores mobiliários para nele abranger qualquer
bem móvel, como créditos pecuniários, veículos automotores, aplicações financeiras, etc.
O bem de família legal não tem limite de valor, recaindo a impenhorabilidade sobre qualquer
imóvel que sirva de residência do casal ou da entidade familiar. Na hipótese de o casal, ou entidade
familiar, serem possuidores de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade
recairá sobre o de menor valor, salvo se outro imóvel tiver sido registrado como bem de família
voluntário, conforme ressalva prevista no art. 1.711 do CC. Se o casal tem vários imóveis
residenciais, o bem de família é o que serve efetivamente de residência, ainda que seja o mais
valioso.
O bem de família voluntário, por sua vez, não pode ultrapassar um terço do patrimônio
líquido existente ao tempo da instituição, compreendendo-se nesse montante o imóvel e os valores
mobiliários. Aliás, quanto aos valores mobiliários, não poderão exceder o valor do prédio instituído
em bem de família, à época de sua instituição. Para elaborar esse cálculo, extrai-se os bens
necessários ao pagamento das dívidas, sendo que a sobra é o patrimônio líquido, do qual apenas
um terço pode integrar o bem de família. É um instituto elitista, pois só beneficia as pessoas
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abastadas. A pessoa que tem um imóvel e depois adquire outro mais valioso não poderá
transformar esse último, para onde transferiu a residência, em bem de família voluntário, caso o
valor seja superior a um terço do seu patrimônio líquido. Igualmente, se o patrimônio da pessoa se
resume a um único imóvel, não há possibilidade de sobre ele instituir o bem de família voluntário.
EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE
Por outro lado, o bem de família legal pode ser penhorado nas seguintes situações:
a) créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições
previdenciárias; créditos decorrentes do financiamento destinado à construção ou aquisição de
imóvel;
b) créditos de pensão alimentícia. Entretanto, será resguardada a meação e o direito real de
habitação do coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal. Mas se ambos
forem devedores dos alimentos, a penhora poderá recair sobre todo o imóvel e não será
preservado o direito real de habitação (Lei 13.144/2015);
c) cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do
imóvel familiar. É também possível a penhora quando se tratar de dívida de condomínio, pois trata-
se de contribuição devida em função do imóvel, isto é, obrigação “propter rem”;
d) execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou entidade
familiar. Há entendimento que a penhora só é cabível nas dívidas de interesse da família,
afastando-se a penhora do bem de família, por exemplo, nos casos de hipoteca oferecida para
garantir dívida de empresa individual de um dos membros da família;
e) por ter sido adquirido com o produto do crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens;
f) por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação, ainda que se trate
da única residência do fiador. Essa situação viola a isonomia, pois coloca o fiador em situação de
desvantagem em relação ao inquilino devedor, pois este continua com a proteção do bem de
família, basta imaginar uma locação para fins comerciais, o imóvel residencial do inquilino, onde ele
reside com a família, será impenhorável, enquanto o do fiador sujeitar-se-á à penhora.
Discute-se se fora dessas exceções legais o executado poderia oferecer voluntariamente o
bem à penhora. A meu ver, impõe-se resposta negativa, sob pena de frustrar-se, na prática, o
objetivo da lei, cujo escopo é a proteção da família, e não propriamente do devedor. Trata-se de
norma cogente, que atende aos ditames do art. 226 da CF, segundo o qual a família deve ser
protegida pelo Estado, sendo, portanto, inadmissível a renúncia à garantia legal, malgrado opiniões
em contrário que admitem a renúncia por se tratar de direito patrimonial.
PODER FAMILIAR
CONCEITO
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Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais em relação à pessoa e ao
patrimônio dos filhos menores, que não estejam emancipados, com o intuito de protegê-los.
Dispõe o art. 1.634 que: “Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I. dirigir-lhes a criação e educação. Compreende-se aqui o dever de subsistência material do
filho e a sua respectiva educação, sob pena de cometer os delitos de abandono material e
abandono intelectual, previstos nos arts. 244 e 246 do CP, respectivamente.
A eventual ação de alimentos será em Vara da Infância e Juventude ou Vara de Família,
conforme o menor esteja ou não na situação de risco do art. 98 do ECA, em ambas, o rito será o da
Lei 5.4768/1968. O art. 200, III, do ECA atribui legitimidade ativa ao Ministério Público para esta
ação de alimentos. É pacífico que o membro do “parquet” poderá mover esta ação quando a
criança ou adolescente encontrar-se na situação de risco do art. 98 do ECA, mas fora dessas
hipóteses o tema é polêmico, tendo o que admitem com base no art. 141 do ECA, segundo o qual é
garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
II. exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584. A separação judicial, o
divórcio e a dissolução da união estável não alteram o poder familiar, mas apenas a guarda dos filhos, que
pode ser deferida a apenas um dos genitores. Nesse caso, o outro tem o direito de tê-los em sua companhia,
exercitando o direito de visita. A prioridade, no entanto, é para a guarda compartilhada, que é exercida em
conjunto por ambos os pais. Na guarda compartilhada, fixa-se a residência do menor com um dos genitores,
mas o tempo de convívio entre o filho e o pai e a mãe é dividido de forma equilibrada pelo juiz, com vista às
condições fáticas e interesse do menor. Se não houver acordo entre os pais, o juiz concede a guarda
compartilhada, salvo se um deles declarar que não deseja a guarda ou não reunir aptidão para ser guardião.
Na guarda unilateral, apenas um dos pais detém a guarda, o outro tem apenas o direito de visita, além do
poder de supervisionar os interesses do menor, exigir informações e prestação de contas relativas à saúde e
educação do filho;
III. conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV. conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior. Desde que ambos
os pais concordem, o menor pode viajar para o exterior sem autorização judicial;
V. conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente
para outro município. Ainda que a guarda seja unilateral, o genitor que não é o guardião tem que
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Os aspectos patrimoniais do poder familiar não são disciplinados no ECA, e, sim, pelo Código
Civil.
O Código passou a disciplinar esse assunto no subtítulo II do Título II, que cuida do Direito
Patrimonial. Todavia, por razões didáticas, abordaremos a matéria no capítulo pertinente ao poder
familiar.
Com efeito, dispõe art. 1.689:
“O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar:
I. são usufrutuários dos bens dos filhos;
II. têm a administração dos bens dos filhos menores sob a sua autoridade.”
O usufruto atribui aos pais a propriedade das rendas produzidas pelo patrimônio dos filhos. Trata-
se de um usufruto universal, porque recai sobre todo o patrimônio do menor; e legal, porque
estabelecido pela própria lei, prescindindo-se do registro. No Código de 1916, o viúvo, ou a viúva, com
filhos do cônjuge falecido, que se casava antes de fazer o inventário, perdia o direito a esse usufruto
(art. 225). O novo Código não repete esse dispositivo, de modo que, por esse fato, não há mais a perda
do usufruto.
Por outro lado, aos pais ainda competem administrar os bens dos filhos menores, sem
necessidade de prestar caução ou de prestar contas. Note-se que com o advento da lei
13.058/2.014, que alterou o §5º do art. 1.584, o genitor pode exigir a prestação de contas do outro
genitor em assuntos ou situações que afetem a saúde e educação do menor.
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Os pais não são remunerados por essa administração. Não podem, porém, alienar, ou gravar
de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os
limites da simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, mediante
ordem judicial (art. 1.691). Observe-se que, para alienação, basta o alvará judicial, prescindindo-se
da hasta pública. A responsabilidade dos pais pela má administração é subjetiva, só quando agirem
com culpa é que serão obrigados a indenizar as perdas e danos causadas ao filho menor.
Sempre que no exercício do poder familiar colidir o interesse dos pais com o do filho, a
requerimento deste ou do Ministério Público, o juiz lhe dará curador especial (art. 1.692).
Excluem-se do usufruto e da administração dos pais (art. 1.693):
I. os bens adquiridos pelo filho havido fora do casamento, antes do reconhecimento;
II. os valores auferidos pelo filho maior de dezesseis anos, no exercício de atividade
profissional e os bens com tais recursos adquiridos;
III. os bens deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem usufruídos, ou
administrados, pelos pais;
IV. os bens que aos filhos couberem na herança, quando os pais forem excluídos da sucessão.
Trata-se, aqui, dos bens ereptícios, que são aqueles excluídos do herdeiro indigno. Nesse e nos
outros casos, os bens serão administrados pelo outro genitor. Se este já morreu ou for incapaz, o
juiz deverá nomear um curador especial para administrar esses bens.
Igualmente, são também excluídos do usufruto, mas não da administração dos pais, os bens
deixados ao filho para fim certo e determinado, como, por exemplo, a quantia destinada a prover
os estudos do menor.
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TUTELA
CONCEITO
Tutela é o instituto de proteção aos menores, que não estejam sob o poder familiar dos pais,
cujo escopo é assisti-los ou representá-los, bem como lhes administrar os bens. Onde há tutela não
há poder familiar e vice-versa, um instituto exclui o outro.
Dispõe o art. 1.728 que os filhos menores são postos em tutela:
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ESPÉCIES DE TUTELA
Aos irmãos órfãos dar-se-á um só tutor (art. 1.733). O objetivo da lei é evitar a separação dos
irmãos. Na prática, essa norma não é absoluta, porque a tutela deve objetivar o interesse do
menor, de modo que os juízes acabam, às vezes, nomeando tutores diferentes para os irmãos.
IMPEDIDOS DE EXERCER A TUTELA
O art. 1.735 proíbe certas pessoas de serem tutoras. Grosso modo, são os inimigos do menor
ou de seus pais, as pessoas de mau comportamento, as pessoas que não têm a livre administração
de seus bens e aqueles que exercem função pública incompatível com a boa administração da
tutela. Quanto ao credor do menor, aparentemente pode assumir a tutela. Com efeito, preceitua o
art. 1.751 que “antes de assumir a tutela, o tutor declarará tudo que o menor lhe deva, sob pena de
não lhe poder cobrar, enquanto exerça a tutela, salvo provando que não conhecia o débito quando
a assumiu”.
A tutela é um munus público, razão pela qual a lei restringe as hipóteses de escusa.
Com efeito, dispõe o art. 1.736 que podem escusar-se da tutela:
I. mulheres casadas. Essa regalia, a nosso ver, fere o princípio da isonomia, porque homem e
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GARANTIA DA TUTELA
Ao tutor compete representar o pupilo até os 16 anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa
idade, nos atos em que for parte. Cabe-lhe ainda dirigir-lhe a educação, defendê-lo e prestar-lhe
alimentos, conforme os seus haveres e condição, se não houver parentes em condições de pagar a
verba alimentar. Se, porém, o menor tiver bens ele será sustentado às suas expensas, com supervisão
do tutor, que será ainda remunerado.
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Certos atos o tutor só pode praticar com autorização do juiz. São os seguintes:
I. pagar dívidas do menor;
II. aceitar herança, legado ou doações, ainda que com encargos;
III. transigir;
IV. vender-lhe os bens móveis, cuja conservação não convier, e os imóveis nos casos em que
for permitido. Quanto aos bens móveis destinados à venda, por exemplo, uma safra de café, não há
necessidade de autorização do juiz (art. 1.747, IV). Quanto à alienação dos imóveis é sempre
necessário o alvará judicial, mediante prévia avaliação e parecer do Ministério Público; todavia,
pelo novo Código não há mais necessidade de que essa venda seja feita em hasta pública;
V. propor em juízo as ações, ou nelas assistir o menor.
Em todas essas hipóteses, se o tutor praticar o ato sem autorização do juiz, este ainda poderá
ratificá-lo ulteriormente, conforme preceitua o parágrafo único do art. 1.748. Trata-se de outra
inovação, porque o ato de nulo passa a ser anulável.
Certos atos o tutor não pode praticar nem com autorização do juiz, sob pena de nulidade
absoluta. São os seguintes (art. 1.749):
I. adquirir bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor. No caso de aquisição por
interposta pessoa o ato também é nulo;
II. dispor dos bens do menor a título gratuito;
III. constituir-se cessionário de crédito ou de direito contra o menor.
Finalmente, alguns atos o tutor pode praticar sem autorização do juiz. São os seguintes:
I. receber as rendas e pensões do menor e as quantias a ele devidas;
II. fazer-lhe as despesas de subsistência e educação, bem como as de administração;
III. alienar os bens móveis destinados à venda;
IV. promover-lhe, mediante preço convencional, o arrendamento dos bens imóveis. No
regime do Código de 1916, esse arrendamento dependia de autorização judicial e hasta pública.
Por outro lado, os tutores não podem conservar em seu poder dinheiro dos tutelados, salvo a
quantia necessária para despesas ordinárias com o seu sustento, educação e administração de seus
bens (art. 1.753). O dinheiro em excesso deverá ser depositado em banco oficial, em nome do menor,
ou aplicado na aquisição de imóveis, conforme for determinado pelo juiz. Os tutores respondem pela
demora na aplicação desse dinheiro, pagando os juros legais desde o dia em que deveriam dar esse
destino.
A retirada do dinheiro depositado no banco oficial, em nome do pupilo, depende de alvará
judicial. O juiz somente poderá deferi-la, mediante as justificativas previstas no art. 1.754, dentre as
quais destacam-se as aquisições de bens imóveis e as despesas com o sustento, educação e
administração dos bens do tutelado.
Se o patrimônio do menor for de valor considerável, poderá o juiz condicionar o exercício da
tutela à prestação de caução bastante, podendo dispensá-la se o tutor for de reconhecida
idoneidade (parágrafo único do art. 1745 do CC).
O tutor responde pelos prejuízos que, por culpa ou dolo, causar ao pupilo. O protutor é
solidariamente responsável. Também são devedores solidários os terceiros que concorreram para
o dano (art. 1.752 e §§ 1º e 2º). Trata-se de responsabilidade civil subjetiva, que é, portanto,
excluída na hipótese de dano causado por caso fortuito ou força maior.
Por outro lado, o juiz responde subsidiariamente pelos danos que o tutor causar ao
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patrimônio do pupilo, quando não tiver exigido garantia legal do tutor, nem o removido, quando
este se tornou suspeito (art. 1.744, II). Anote-se que a responsabilidade é subsidiária, pressupondo-
se, destarte, o exaurimento dos bens do tutor, protutor e terceiros responsáveis.
Acrescente-se, ainda, que a responsabilidade do juiz será direta e pessoal, quando não tiver
nomeado tutor, ou não o houver feito oportunamente (art. 1.744, inciso I).
O tutor deve ser ressarcido das despesas efetuadas no exercício da tutela. Além disso, tem
direito a uma remuneração arbitrada pelo juiz, proporcional à importância dos bens administrados;
o Código de 1916 previa uma remuneração de no máximo 10% da renda anual do menor. Na tutela
testamentária, o valor dessa remuneração pode ser arbitrado no testamento ou documento que
nomeou o tutor. Quanto ao protutor, tem direito a uma gratificação módica arbitrada pelo juiz.
A lei exclui da remuneração apenas o tutor de menor abandonado; a nosso ver, ainda que
esse menor tenha bens, nenhuma remuneração assiste ao tutor, caso contrário, a ressalva da lei
seria inútil. Tratando-se de menor que não tem bens ou cujo patrimônio seja exíguo, a
remuneração também não será devida, malgrado o silêncio da lei.
CESSAÇÃO DA TUTELA
O poder familiar é atributo exclusivo dos pais, cuja investidura emana da lei; o tutor é
investido nas funções por decisão judicial.
O poder familiar é exercido até que o filho atinja a maioridade civil ou a emancipação; a tutela
é exercida por dois anos, embora possa ser prorrogada, por vontade do tutor.
Os pais têm usufruto e administração dos bens dos filhos menores; o tutor só os administra.
Os pais podem emancipar o filho voluntariamente, mediante escritura pública, se o menor
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tiver mais de dezesseis anos; o tutor, para emancipar o pupilo púbere, deve dirigir-se ao juiz, para
que a emancipação seja formalizada por sentença.
Os pais não prestam contas da administração dos bens dos filhos; o tutor presta de dois em
dois anos ou toda vez que o juiz determinar.
O poder familiar é exercido em conjunto, pelo pai e pela mãe, em igualdade de condições; a
tutela é unipessoal, porque somente uma pessoa pode ser nomeada tutora. Há, porém, opiniões
sustentando, acertadamente, a possibilidade de tutela conjunta, em favor de casais, quando a
nomeação não objetivar a administração dos bens do menor e sim a sua colocação em família
substituta.
CURATELA
CONCEITO
LIMITES À CURATELA
Dispõe o art. 1.778 que a autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens dos filhos do
curatelado, observando o art. 5º.
Assim, a curatela prorrogada consiste no fato de o curador ser automaticamente o tutor dos
filhos menores do curatelado, independentemente de ato judicial nomeando-o para esse fim.
Introdução
Trata-se de um instituto de proteção às pessoas capazes, mas que apresentam algum tipo de
deficiência. Elas não são colocados sob curatela, mas elas podem pleitear judicialmente a concessão
desse instituto denominado “Tomada de Decisão Apoiada”, previsto no art. 1.783-A do CC, que foi
incluído pela lei 13.146/2.015.
Conceito
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A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo
menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança,
para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos
e informações necessários para que possa exercer sua capacidade (art. 1783-A).
Legitimidade
O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com
indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo (§ 2o do
art. 1.783-A).
Peculiaridades do procedimento
Validade da decisão
A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições,
desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado (§ 4o do art. 1.783-A).
Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os
apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação
ao apoiado (§ 5o do art. 1.783-A).
Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência
de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público,
decidir sobre a questão (§ 6o do art. 1.783-A).
Destituição do apoiador
Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as obrigações
assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público
ou ao juiz (§ 7o do art. 1.783-A).
Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e
se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio (§ 8o do art. 1.783-A).
Revogação do apoio
A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo
de tomada de decisão apoiada (§ 9o do art. 1.783-A).
Renúncia do apoiador
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Prestação de contas
SENTENÇA
LEVANTAMENTO DE INTERDIÇÃO
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