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Turma: A1/B1 e C1

Sala: B.2.3

Lição nº

Tema: As Coisas

Sumário: Noção e classificação

1. Noção jurídica de coisa

a) Sentido corrente e amplo: entende-se por coisa tudo o que pode ser pensado,
ou concedido pelo espírito humano, ainda que não tenha existência real e
presente. Ex: a lua, o ar, uma prestação, um evento, uma ideia, um terreno, etc.

b) Sentido físico: coisa é tudo o que tem existência corpórea, ou pelo menos, é
susceptível de ser captado pelos sentidos.

c) Sentido legal: artigo 202.º do CC.

d) Coisa em sentido gramatical: significa tudo o que existe, tudo o que tem
existência;

e) Em sentido jurídico restrito: compreende somente o que pode ser objecto de


direitos;

f) Em sentido jurídico lato: é tudo o que pode ser útil a todos os homens em
geral;

g) Vulgarmente: considera-se coisa todo o ente material que é apreendido pelos


sentidos. Todas as res1 corporales. Mas nem toda a coisa em sentido material é
objecto de direito, pois que há coisas materiais, que, por falta de aptidão
jurídica, estão fora do comércio jurídico dos homens: res extra commercium.

1
É a palavra originária no léxico latino, e que corresponde à actual coisa (res).

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2. Características que as coisas devem apresentar

a) Existência autónoma ou separada (individualidade): só uma porção


delimitada de uma qualquer realidade é considerada coisa em Direito. Esta
exigência afasta do conceito de coisa realidades que fazem parte de um todo
complexo ou mais vasto e só como elementos desse todo sejam consideradas,
sendo, por isso, possível estabelecer-se, quanto a elas, relações autónomas,
como afirma Oliveira Ascensão “não é coisa uma parede do copo, mas sim o
copo todo; um tijolo usado na construção, mas sim o muro ou a casa…” Assim
é coisa, por exemplo, o prédio rústico, a corrente eléctrica, etc.

b) Possibilidade de apropriação exclusiva por alguém: não são coisas os bens


que escapam ao domínio do homem, de qualquer homem, como por exemplo e
por enquanto, os planetas, as estrelas, etc., ou os que, por falta de
possibilidade de delimitação ou captura, são necessariamente aproveitados por
todos os homens, como por exemplo, a luz solar, o ar, etc.

c) Aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas (utilidade):


toda coisa é necessariamente dotada de utilidade. Entende-se por utilidade,
neste sentido, a aptidão decerto bem, para satisfazer uma necessidade
humana, ficando assim fora da noção jurídica de coisa as realidades em relação
às quais esta qualidade não faça sentido. O homem é a medida e o critério do
relevo jurídico das coisas, por isso, não são coisas, pois para nada servem,
uma gota de água, um grão de areia, etc.

3. As coisas corpóreas. Conceito

São aquelas que existem no mundo natural, tendo consequentemente


existência física, independentemente de revestirem a natureza de matéria
(terrenos, edifícios, objectos, líquidos, gases e outros elementos materiais) ou
de energia (como a electricidade ou energia nuclear). Coisas incorpóreas são

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aquelas que têm mera existência social entre elas se incluindo os bens
intelectuais (obras literárias e artísticas, invenções e marcas).

Actualmente, no entanto, o critério de apreensão pelos sentidos não pode ser


seguido, já que muitas coisas com existência física, como gases ou a
electricidade, não são apreensíveis pelos sentidos. Por outro lado, os direitos
não podem ser vistos como coisas incorpóreas, uma vez que não se admitem
direitos sobre direitos. As coisas incorpóreas abrangem assim apenas os bens
intelectuais, objecto do Direito de Autor e da Propriedade Industrial.

4. As classificações das coisas corpóreas

No artigo 202.º, n. º 2 encontra-se a classificação de Coisas no comércio e fora do


comércio. O artigo 203.º distingue ainda as coisas em imóveis e móveis, simples e
compostas, Coisas principais, coisas acessórias e pertenças, Coisas presentes e
coisas futuras, Coisas divisíveis e coisas indivisíveis, Coisas fungíveis e coisas
infungíveis, Coisas consumíveis e coisas não consumíveis.

5. Coisas no comércio e fora do comércio

As coisas fora do comércio são aquelas que não podem ser objecto de direitos
privados como as coisas que se encontram no domínio público, artigo 95.º da
CRA, al d) e artigo 29.º, n.º 1 da Lei n.º 9/04, Lei de Terras e as que são, por
natureza, insusceptíveis de apropriação individual (o ar, os oceanos, os
planetas e as estrelas). As coisas fora do comércio não podem ser
consequentemente objecto de direitos reais.

6. Coisas móveis e coisas imóveis

As coisas corpóreas podem ser móveis ou imóveis. As coisas móveis ou são


semoventes ou simplesmente moventes, conforme se trate de objectos animados
ou de objectos inanimados, isto é, são coisas semoventes, se existe nelas o agente
da locomoção, caso dos animais; são coisas simplesmente moventes, quando
precisam de um agente externo para se movimentarem, caso da cadeira.

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WALDECK, define as coisas móveis, aquelas que, salvo a sua substância, podem
deslocar-se de um lugar para o outro, e imóveis, aquelas que salva substância, não
podem ser deslocadas. De entre estas, isto é, de entre as coisas imóveis, umas
são tais por natureza, por exemplo, as coisas do solo; outras por direito, aqui
pertencem todas as coisas que ou fazem parte dos imóveis (edifícios) ou se
encontram na coisa imóvel (edifício) por causa do uso perpétuo. Portanto, as
coisas são imóveis por sua natureza ou por disposição da lei. Por natureza, as
coisas que pertencem ao solo, ou simplesmente coisas do solo; são imóveis por
disposição da lei devido à sua aderência ou uso perpétuo das coisas imóveis. Caso
de uma porta, uma janela, uma coluna, etc.

A classificação mais importante das coisas corpóreas é a que distingue as coisas


móveis e imóveis. O regime jurídico das coisas imóveis contém assinaláveis
diferenças relativamente ao regime das coisas móveis. Como diferenças mais
relevantes ao nível do Direito Civil (a repercussão transcende muito o campo do
Direito Civil ou mesmo do Direito Privado. Ela serve, nomeadamente, e entre
outros efeitos, como vector de política fiscal, para criar tributação sobre
transacções de direitos sobre imóveis ou impostos sobre a titularidade
desses direitos), encontramos o regime de forma (os negócios jurídicos com
eficácia real sobre imóveis estão em regra sujeitos a escritura pública, artigo 875.º
do CC, para compra e venda, para a doação, artigo 947.º, n.º 1 do CC) e da
publicidade, as coisas imóveis têm a sua publicidade fundada no registo predial,
enquanto a das coisas móveis é assegurada somente pela posse. Por outro lado,
há direitos reais que só recaem sobre imóveis, como a superfície e as servidões
prediais, e outros sobre coisas móveis, como o penhor.

As designações particulares de coisas imóveis são as previstas no artigo 204.º do


CC. A técnica seguida é simples: elencam-se no artigo 204.º as coisas imóveis e
consideram-se coisas móveis, por exclusão de partes, todas as coisas não
constantes do elenco contido naquele preceito. Tudo o que não for coisa imóvel

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nos termos do artigo 204.º será considerado coisa móvel. Este preceito criou um
problema.

Dentro do seu elenco não se encontram coisas que não podem deixar de ser
imóveis. As estradas e auto-estradas, os monumentos, as fontes, os pelourinhos,
as estátuas, as pontes, etc. a fim de evitar um resultado manifestamente contrário
à teleologia do sistema, a única solução é a de considerar não taxativo o elenco
contido no artigo 204.º do CC. Assim, só podemos considerar coisas móveis,
aquelas que, não estando elencadas no artigo 204.º, não devem ser
consideradas imóveis de acordo a teleologia deste preceito.

A ideia de que as coisas imóveis são aquelas que permanecem sempre no mesmo
local e as móveis as que podem ser deslocadas ou transportadas de um sítio para
outro, hoje não serve para explicar a classificação de coisas em análise. A
susceptibilidade de deslocação de uma coisa pode existir e a coisa ser imóvel.
Assim, um leito de um rio pode ser deslocado e movido com ele o curso das águas,
que nem por isso estas deixam de ser um imóvel no sentido da lei, alínea b) do n.º
1 do artigo 204.º do CC. Uma coisa é imóvel ou móvel em face do Direito de cada
ordem jurídica.

As terras
As terras são uma subespécie dentro da espécie dos imóveis, não
representando qualquer terceira espécie que acresça à contraposição
dicotómica das coisas em imóveis e móveis.
Vide artigo 1.º, al. j), k), h) e i). Destes preceitos podemos observar que as
terras representam, deste modo, prédios rústicos, sem nenhuma construção, ou
com ela, contando que, neste último caso, a construção não afecte a natureza
rústica do imóvel.

7. Prédios rústicos e prédios urbanos

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Artigo 204.º, n.º 22 do CC. As construções que não tenham autonomia económica
não mudam a natureza do prédio rústico. Um armazém para guardar maquinaria
agrícola, sementes ou outro material da lavoura, um estábulo, um cercado para
animais, um dormitório para trabalhadores agrícolas e outras construções do
género não originam um prédio urbano. Por outro lado, não basta assentar uma
construção, mesmo com autonomia económica, sobre o solo do imóvel. O n.º 2, do
artigo 204.º fala em incorporação, o que sugere uma ligação material ao solo. O n.º
3, do mesmo artigo, acrescenta o carácter de permanência. Uma casa pré-
fabricada, assente meramente no solo, uma tenda, uma barraca de madeira, não
transforma um prédio rústico num prédio urbano.

Vários critérios têm sido apresentados para classificação de um prédio em rústico e


urbano. Menezes Cordeiro, identificou quatro: teoria do valor, teoria da afectação
económica, teoria do fraccionamento e teoria da consideração social.

a) Teoria do valor: pondera o valor relativo de uma das partes sobre a outra. Se a
construção vale mais do que o solo, o prédio é urbano, sendo rústico na
hipótese inversa. (Castro Mendes)

b) Teoria da afectação económica: pondera o fim do aproveitamento do prédio.


Se a parte urbana serve de apoio à exploração levada a cabo na parte
construída do solo, o prédio é rústico. Caso contrário, o prédio é urbano. É a
doutrina que melhor permite elucidar o sentido do artigo 204.º, n.º 2 do CC.

c) Teoria do fraccionamento:

d) Teoria da consideração social: o prédio será rústico ou urbano quando, de


acordo com as concepções dominantes na sociedade, consista essencialmente
no solo ou em construções. Menezes Cordeiro, abandonou esta teoria,

2
Logradouro é a parte adjacente ao edifício que serve de apoio a este, para pátio, jardim, parque de estacionamento
ou outro fim. O logradouro constitui uma parte de um prédio urbano, o qual pode, pois, incluir uma porção não
construída de terreno ou, pelo menos, não ocupada pelo edifício propriamente dito.

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reconhecendo que, cabe ao Direito, em última análise, determinar a natureza
rústica ou urbana de um prédio.

8. Coisas simples e coisas compostas

As coisas simples correspondem a coisas que não se podem decompor noutras


coisas, sob pena de perderem a sua identidade. Assim, um animal ou um prato
constituem uma coisa simples; e as coisas compostas, que resultam da união de
outras coisas que isoladamente possuem identidade própria, mas que em virtude
dessa união passam a ser consideradas apenas como partes componentes de
outra coisa. Um automóvel é uma coisa composta, que inclui estrutura, portas,
vidros, motor, etc. Neste caso, em virtude da incorporação, as coisas simples que
integram a coisa composta deixam de poder ser objecto de direitos reais
autónomos, só voltando a ocorrer essa possibilidade se forem separadas pelo
proprietário da coisa composta, artigo 408.º, n.º 2, in fine.

Já as universalidades de facto não correspondem a coisas, mas antes a


pluralidades de coisas móveis pertencentes a uma mesma pessoa, que por terem
um destino unitário, se admite que possam ser enquanto tal objecto de um único
negócio jurídico, artigo 206.º, n.º 1, sem prejuízo de as coisas que compõem a
universalidade poderem ser igualmente objecto de negócios individuais, artigo
206.º, n.º 2 do CC. Assim, o proprietário de uma colecção de moedas ou de uma
biblioteca pode vendê-los em conjunto, assim como pode dispor individualmente de
uma das moedas ou de um dos livros.

Por outro lado, a inclusão na universalidade de coisas da mesma categoria


pertencentes a outro proprietário, como a colocação de livro alheio na biblioteca, ou
de outra moeda na colecção, não faz perder ao dono a propriedade destes
objectos, a menos que se verifique a confusão.

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9. Coisas principais, coisas acessórias3 e pertenças4 do CC

Noção artigo 210.º do CC.

As partes integrantes não coisas, mas partes da coisa. Também as benfeitorias


não são coisas, mas melhoramento de uma coisa, não podendo ser objecto de
direitos reais. Em relação aos frutos, enquanto não são separados são
considerados como parte do imóvel, artigo 204.º, n.º 1, al. c) do CC, passando,
após a separação, a constituir objectos autónomos, em relação aos quais não se
verifica qualquer acessoriedade.

Ambas as coisas, têm autonomia jurídica, cada uma delas, nomeadamente, a


acessória, constitui uma coisa, sendo objecto de uma atribuição jurídico-real
distinta. Esta separação entre coisa principal e a coisa acessória determina que
cada uma delas esteja sujeita ao seu próprio regime jurídico.

As coisas acessórias ou pertenças são coisas móveis. A coisa principal e a coisa


acessória ou pertença são coisas distintas, sendo a segunda autónoma da
primeira, o que significa que é objecto de uma atribuição jurídico-real específica,
distinta da coisa principal.

A afectação da coisa ao uso ou ornamentação (coisa acessória ou pertença) de


uma outra deve ser feita no exercício do direito real, pelo titular cujos poderes de
gozo autorizem a afectação.

Vendida a coisa principal ou de qualquer modo transmitido o direito de propriedade


sobre ela, qual é o destino das coisas acessórias?

3
A coisa que, não obstante estar funcionalmente ligada ao serviço ou ornamentação de uma coisa principal, possa ser
usada independentemente desta, isoladamente ou com outra coisa principal.

4
A coisa que não tem valor autónomo quando desligada da coisa principal, porque não pode ser usada sem ela, é, em
rigor, uma pertença.

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Esta questão só deve ser colocada quando a coisa principal e a coisa acessória ou
pertença caibam ao mesmo proprietário. O artigo 210.º, n.º 2 do CC dá a resposta,
ou seja, o acessório não segue o principal.

10. Coisas presentes e coisas futuras

Noção artigo 211.º do CC.

Para se poder constituir um direito real é necessária a existência da coisa que é


objecto desse direito; daí que as coisas futuras não possam ser objecto de direitos
reais, mas apenas em certos casos, de direitos de crédito, artigo 399.º do CC.

Em relação aos contratos transmissivos de direitos, a lei admite que as coisas


futuras possam ser objecto de venda, artigo 880.º do CC, mas já não de doação,
artigo 942.º, n.º 1 do CC. No entanto, o artigo 408.º, n.º 2 do CC, estabelece que,
no caso de o contrato se referir a coisas futuras, a transmissão dos direitos reais
sobre as mesmas apenas ocorre quando estas são adquiridas pelo alienante, o
que implica que só neste momento o contrato adquira eficácia real.

Os direitos reais só podem incidir sobre coisas presentes. O objecto do direito real
é, por isso, sempre uma coisa presente; não sendo admitidos direitos reais sobre
coisas futuras.

11. Coisas divisíveis e coisas indivisíveis

Noção, artigo 209.º do CC.

A contrário, sempre que o fraccionamento da coisa provoque uma alteração da sua


substância, diminuição de valor, ou envolver prejuízo para o seu uso, a coisa
considerar-se-á indivisível. Para que se verifique a indivisibilidade basta assim que
se verifique apenas um desses requisitos. Como exemplo de coisas divisíveis
teremos os terrenos ou edifícios susceptíveis de divisão em fracções autónomas,
artigo 1414.º e seguintes do CC. Pelo contrário, serão indivisíveis, uma vez que a
divisão produz alteração da sua substância, as árvores e as plantas. São por sua

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vez indivisíveis por se verificar diminuição do seu valor os livros e os quadros.
Finalmente, são indivisíveis, dado que a divisão prejudica o seu uso, os automóveis
e as televisões.

Uma das hipóteses mais frequentes de divisão das coisas corresponde à situação
da comunhão nos direitos reais, dado que os co-titulares não são, em princípio,
obrigados a permanecer na indivisão, artigo 1412.º, n.º 1 do CC. A divisão da coisa
pode ser feita amigavelmente ou nos termos da lei do processo, artigo 1413.º, n.º 2
do CC.

Em consequência da inerência que caracteriza os direitos reais, a divisão da coisa


vai afectar o direito sobre ela, o qual se extingue, sendo atribuídos novos direitos
sobre as coisas resultantes da divisão. Há, porém, situações em que o direito é
indivisível pelo que permanece inalterado, independentemente da divisão que
afectou a coisa. É o que acontece com a hipoteca, artigo 696.º do CC e com as
servidões prediais, artigo 1546.º do CC.

Mesmo que a coisa seja divisível, a lei e as partes podem estabelecer limites à sua
divisibilidade. Existem limites legais à divisibilidade dos prédios rústicos, que não
podem ser fraccionados em parcelas de área inferior à unidade de cultura, artigo
1376.º, n.º 1 do CC. Em relação à comunhão de direitos reais, o artigo 1412.º do
CC, admite igualmente a possibilidade de se convencionar que a coisa
permanecerá indivisa por um prazo não superior a cinco anos, o qual pode ser
renovado, uma ou mais vezes, por nova convenção.

12. Coisas fungíveis e coisas infungíveis

As coisas fungíveis são aquelas que apenas estão determinadas pelo seu género,
qualidade e quantidade, artigo 207.º do CC. As coisas infungíveis são aquelas que
estão individualmente determinadas. Trata-se, porém, de um atributo jurídico e não
físico, dado que as mesmas coisas poderão ser fungíveis ou infungíveis consoante
o negócio em questão.

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Se não estiverem totalmente determinadas, as coisas não podem ser objecto de
direitos reais, mas apenas de direitos de crédito, razão pela qual o artigo 408.º, n.º
2 do CC, estabelece que, caso o contrato verse sobre coisa indeterminada, o
direito só se transfere quando a coisa for adquirida pelo alienante. Inversamente,
também quando alguém faz uma dação de coisas fungíveis, a propriedade das
mesmas transfere-se para o receptor dessas coisas, ficando o autor da dação
apenas com um direito de crédito a receber outro tanto do mesmo género e
qualidade, artigo 1144.º do CC, para o Mútuo e artigo 1454.º, n.º 1, in fine, para
usufruto de coisas consumíveis.

13. Coisas consumíveis e coisas não consumíveis

Noção, artigo 208.º do CC.

As coisas consumíveis colocam um problema que é a dificuldade de distinguir entre


uso e disposição da coisa, uma vez que, importando o uso regular a sua destruição
ou alienação, é manifesto que dificilmente se podem estabelecer direitos reais de
gozo limitados sobre essas coisas. Efectivamente, se o aproveitamento da coisa se
reconduz normalmente ao exercício de poderes de disposição sobre ela, haverá
que possuir um direito real de gozo pleno, ou seja, a propriedade, sobre essas
coisas, artigo 1305.º do CC. No entanto, a lei admite a possibilidade de as coisas
consumíveis serem objecto de usufruto, artigo 1451.º do CC, o qual obriga a
restituir o valor das coisas entregues ou a restituir outras do mesmo género,
qualidade ou quantidade, devendo ser prestada caução para esse efeito, artigo
1468.º al b) do CC.

Ao contrário do que sucede nas coisas consumíveis, no caso das coisas não
consumíveis incidirem direitos reais menores ou direitos pessoais de gozo sobre
coisas deterioráveis, o titular do direito não é obrigado no fim do contrato a restituir
o valor das coisas ou entregar coisas idênticas, bastando-lhe restituí-las no estado
em que se encontrarem, artigos 1452.º, n.º 1, 1038.º, al i), 1043.º, n.º 1 e 1135.º, al
i) todos do CC. Em consequência, esse titular é sujeito a obrigações específicas

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relativas ao uso da coisa para o fim que lhe é próprio e de uma forma prudente,
artigo 1452.º, n.º 1 in fine, 1038.º, al c) e d), sob pena de responder pelos danos
causados, artigos 1468.º, al b) in fine, 1044.º e 1136.º todos do CC.

14. Coisas deterioráveis e não deterioráveis

Apesar de não constar do elenco do artigo 203.º e seguintes do CC do regime


jurídico das coisas, o artigo 1452.º, prevê o usufruto de coisas consumíveis, o que
denota o relevo jurídico da classificação.

As coisas deterioráveis, ao contrário das consumíveis, não perecem ou são


alienadas com o seu uso. De um modo geral, pode dizer-se que todas as coisas se
deterioram com o tempo e o seu uso é um factor de desgaste que pode antecipar,
em maior ou menor medida, essa deterioração. Em todo o caso, as coisas
deterioráveis apresentam um desgaste superior, mais rápido, com o uso do que as
coisas não consumíveis. Uma televisão, um rádio, um automóvel, a tela de uma
pintura, uma peça de vestuário, etc., constituem exemplos de coisas deterioráveis.
Um terreno ou um edifício (prédio urbano) são exemplos de coisas não
deterioráveis ou duradouras.

15. Frutos

Noção artigo 212.º, n.º1 do CC.

Os frutos correspondem ao rendimento de um capital, sendo partes da coisa que


dela se podem destacar ou bens que ela permite adquirir, sem que a sua essência
seja afectada. A qualificação do fruto relaciona-se assim com a afectação da coisa,
nos termos em que ela é considerada.

A lei distingue entre frutos naturais e frutos civis. Consideram-se frutos naturais
todos os que provêm directamente da coisa, compreendendo não apenas os frutos
orgânicos da coisa, como frutos das árvores, a erva, os ramos, as matas, e as
próprias árvores de corte, mas também os frutos inorgânicos, como as pedras e o
minério retirado de pedreiras e minas, em que ocorre destruição da sua substância,

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mas lenta e em períodos longos, não se podendo por isso considerar que a mesma
fique prejudicada.

Já em relação aos frutos civis, estão em causa as rendas e interesses que a coisa
produz em virtude de uma relação jurídica, abrangendo assim a fruição indirecta da
coisa resultante da percepção de quantias periódicas em resultado da constituição
de um direito real (usufruto e superfície) ou pessoal de gozo (locação) sobre aquele
bem. Distingue-se ainda entre frutos a produzir, frutos pendentes, frutos separados,
frutos percebidos e frutos percipiendos.

Frutos a produzir: são aqueles que podem ser produzidos pela coisa num certo
lapso de tempo, correspondendo assim a coisas futuras;

Frutos pendentes: são aqueles que já foram produzidos pela coisa, mas que
ainda não foram separadas desta, pelo que nela se integram, pertencendo a quem
for proprietário da coisa principal;

Frutos separados: são aqueles que já se autonomizaram da coisa, quer por acção
humana, quer por factos naturais;

Frutos percebidos: são aqueles que foram separados da coisa por acção
humana, distinguindo-se neste caso ainda entre frutos estantes, se ainda se
encontrarem no património do autor da colheita, e frutos consumidos, se já foram
objecto de alienação ou destruição e;

Frutos percipiendos: são aqueles que poderiam ter sido percebidos, mas não
foram.

A lei estabelece um regime geral relativo à atribuição dos frutos. Nos termos do
artigo 213.º, n.º 1 do CC, os que têm direito aos frutos naturais até um momento
determinado ou a partir de certo momento fazem seus todos os frutos percebidos
durante a vigência do seu direito, sendo que, quanto aos frutos civis, a partilha faz-
se proporcionalmente à duração do direito, artigo 213.º, n.º 2 do CC. Mas quem

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colher prematuramente frutos naturais é obrigado a restituí-los, se vier a extinguir-
se o seu direito antes da época das colheitas, artigo 214.º do CC.

O artigo 215.º. n.º 1 do CC, estabelece que quem for obrigado por lei à restituição
de frutos percebidos tem direito a ser indemnizado das despesas de cultura,
sementes e matérias-primas e dos restantes encargos de produção e colheita,
desde que não sejam superiores ao valor desses frutos. Já quando se trate de
frutos pendentes, o que é obrigado à entrega da coisa não tem direito a qualquer
indemnização, salvo nos casos especialmente previstos na lei, artigo 215.º, n.º 2 do
CC.

16. Benfeitorias

Noção artigo 216.º

Benfeitorias necessárias, artigo 216.º, n.º 3. Se a coisa viesse a perecer ou


deteriorasse caso o melhoramento não fosse feito. Como sejam as obras de
conservação ou de reparação e o pagamento dos encargos a ela relativos, como
os impostos ou as taxas;

Benfeitorias úteis, artigo 216.º, n.º 3 B. Se não estava em causa nem a perda
nem a deterioração da coisa, mas a benfeitoria trouxe-lhe um acréscimo de valor
objectivo. Estão neste caso as obras de beneficiação, destinadas a valorizar o
objecto ou aumentar o seu rendimento, e as despesas relativas à extinção de ónus
ou encargos que incidem sobre a coisa;

Benfeitorias voluptuárias, artigo 216.º, n.º 3 C. Se não era indispensável para


evitar a perda ou deterioração da coisa e não trouxe qualquer aumento de valor a
ela. Nesta situação encontram-se os melhoramentos de luxo e as pinturas e
decorações realizadas apenas por motivos estéticos.

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As benfeitorias não são coisas, tão-pouco partes de coisas. Contudo, porque as
benfeitorias são levadas a cabo em coisas corpóreas, o legislador aproveitou este
nexo para contemplar a figura no contexto do regime jurídico daquelas. O artigo
216.º do CC, não contém, todavia, mais do que a definição legal de benfeitoria e a
classificação tradicional de benfeitorias, definindo cada um dos termos da
tripartição.

A importância particular da figura encontra-se no regime da posse, artigos 1273.º a


1275.º do CC. Quando possuidor realiza benfeitorias na coisa sem ser titular do
direito real definitivo, coloca-se o problema de saber como regular a vantagem
patrimonial obtida pelo titular. E é a esse problema que respondem os artigos
1273.º a 1275.º do CC.

Para além do regime da posse, as benfeitorias são referidas em numerosos


preceitos. Assim, no regime da locação, artigo 1046.º, 1074.º, n.º 5; no Comodato,
artigo 1138.º, na Compropriedade, artigo 1411.º, no Usufruto, artigo 1450.º, na
Colação, artigo 2115.º, na redução de liberalidades inoficiosas, artigo 2177.º, nos
legados, artigo 2269.º, todos do CC.

Não constituindo coisas, para haver benfeitorias, basta a actividade tendente ao


melhoramento da coisa, desde que não acarrete a sua deterioração. Os
melhoramentos na coisa são susceptíveis de envolver simples trabalho, trabalho e
despesas (com energia, água ou combustíveis; as despesas em causa, porém, são
as que foram realizadas no melhoramento e não no pagamento de dívidas ou
outros encargos com a coisa como impostos, taxas, etc.) ou também outras coisas,
que ficam incorporadas na coisa melhorada. Essas coisas, por sua vez, podem
passar a constituir partes integrantes da coisa incorporada ou ainda ficar numa
relação de acessoriedade ou de pertença com ela. Assim, tanto é benfeitoria a
reparação manual do motor do automóvel levada a cabo pelo possuidor com o seu
trabalho, como a mesma reparação feita num reparador e suportada pelo
possuidor.

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