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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO COMERCIAL II

2022/2023, TURMA A

Regência: Profs. Doutores António Menezes Cordeiro e Adelaide Menezes Leitão

INSOLVÊNCIA

CASO PRÁTICO N.º 9

a) A PCSA pode ser considerada em situação de insolvência?


1.
Tinha legitimidade passiva para ser considerado insolvente?
Artigo 2/1º, a) CIRE- tinha legitimidade passiva

2. Em que situações se pode ser declarado insolvente?


Há uma situação de insolvência técnica?
Pessoas singulares não tem balanço, logo não se pode aplicar critério do balanço, apenas o do
fluxo de caixa/critério da liquidez; para as pessoas coletivas é que podem ser os 2 critérios,
pois tem balanço
Critério do fluxo de caixa: quando não tem dinheiro em caixa para pagar as dividas que se vão
vencendo- tenho em caixa 100, e tenho um fornecedor a pedir 500, tenho falta de liquidez,
falta de dinheiro em caixa.
 O que é relevante é não conseguir pagar as dividas de maior importância; até pode
conseguir pagar 1 ou 2, mas se não consgue pagar mais
o Não é preciso estar incapacitado de cumprir todas, basta não conseguir
cumprir determinadas dividas que demonstram a minha falta de liquidez
o Posso não ter dinheiro em caixa, mas posso ter créditos no banco, tem um
contrato de abertura de crédito celebrado com o banco. Está em situação de
insolvência técnica? Se ainda pode recorrer ao crédito, à partida não está
insolvente
Critério do balanço: quando é que uma sociedade está insolvente com base neste critério?
 Quando o passivo é manifestamente superior ao ativo; entidade que já está em estão
vegetativo, não tem volta a dar, grande insuficiência patrimonial
 3/2º e 3/3º CIRE
 Deve atender à logica da continuidade da empresa
 Sociedade tem um grande nível de divida, e não tem bens refletíveis no balanço não
são suficientes para satisfazer o nível do passivo que tem

Neste caso prático:


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 Só havia um ativo, masuito curto
 Passivo muito elevado
 Não tinha liquidez
Logo estava em insolvência técnica de acordo com os dois critérios:
 Com o critério de fluxo de caixa, pois tinha uma divida grande e não tinha dinheiro
para pagar, não tinha liquidez
 Com o critério do balanço, pois tinha o passivo grande e não tinha ativo, só tinha um
ativo de valor muito diminuto

Outro Exemplo: tenho dividas de 100 mil aos meus fornecedores de materiais médicos. Não
tenho dinheiro em caixa, mas tenho um imóvel de 500 mil, o meu consultório. Estou
insolvente?
 O facto de ter um imóvel não significa que tenha liquidez
 Há insolvência tecnicna com base no critério do fluxo de caixa porque não tenho
dinheiro na caixa, ter o imóvel não é ter liquidez; isto apesar de ter balanço positivo,
estou insolvente segundo o critério do fluxo da caixa

3. Legitimidade ativa- quem pode requerer (não é declarar, quem declara é o tribunal) o
processo de insolvência? 18º CIRE
2 grandes lotes de pessoas que podem requerer:
 1º é o próprio devedor que pode requerer ao tribunal que declare a sua insolvência-
18º CIRE;
o há situações em que o devedor deve mesmo requerer, quando conhece da sua
insolvência até 30 dias depois, nos termos do 18/3º;
 Se não o fizer, 186º e ss do CIRE, e há insolvência culposa
 E os credores:
o 20/1º CIRE
o À partida podem todos, independentemente do montante do crédito que
tenham sobre ele
o Mas é discutível que os credores por suprimento o possam fazer:
 245/2º CSC- regra especifica para créditos por suprimento
 Socio da sociedade comercial que empresta credito à sociedade-
245/2º diz que socio não pode, pois seria contraditório
 Portanto temos um conflito normativo, 245/2º é de 86, CIRE de 2004.
Como resolvemos, regra especial anterior à regra geral do 20/1º do
CIRE: jurisprudência que 245/2º prevalece
 Logo, credor por suprimento não pode requerer a insolvência
 Assim, credor tem de provar que é credor; E provar os factos de uma das alíneas do
artigo 20/1º

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Assim, todos os credores, exceto os credores por suprimento, têm legitimidade para requerer
a insolvência, mostrando que são credores e provarem que está preenchido, para este caso, o
artigo 20/1º, alínea g.

R: Portanto, estão verificadas as 3 condições para o tribunal poder declarar a insolvência.

Eu, resumo do livro:


Responsabilidade do requerente da insolvência:
Citado para insolvência, o devedor tem o ónus de se opor- 30º, sendo que lhe cabe o ónus da
prova da sua solvência- 30/4º.
Toda a atividade produtiva pode ser paralisada num processo de insolvência, mesmo que não
subsista, então a lei impõe alguns deveres ao requerente:
 O requerente de insolvência deve deduzir uma petição inicial onde exponha os factos
que integram os pressupostos da declaração requerida- 23/1º; à qual se deve juntar os
documentos do 24º; se for outro legitimado que não os do 23º, vai-se ao 25º
 Requerente pode desistir do pedido até ser proferida sentença- 21º
 Se declarar factos falsos ou insubsistentes, o pedido não deixará de ser apreciado
liminarmente em termos positivos- 27/1º; e tudo prossegue.
 Mas pode-se alegar factos falsos conscientemente? Quais as consequências?
o 22º CIRE- Do art. 22º resulta a aplicação do regime da responsabilidade civil,
em caso de dolo, quando estiver em causa um pedido infundado de
declaração da insolvência. MENEZES CORDEIRO critica este preceito, dizendo
ser inaceitável que a lei apenas consagre responsabilidade civil em situações
de dolo, fugindo à regra geral, na qual se inclui também a negligência.
Também a nível processual esta é atendida, no regime geral da litigância de
má fé. Assim sendo, não se justifica um regime mais liberal neste âmbito. O
preceito deve assim ser alvo de interpretação integrada e incluir negligência
grosseira
o Responsabiliza nos termos do 483º CC
 Também há responsabilidade civil se o requerente agir sem q se verifique algum dos
factos referidos no artigo 20º, sendo responsável por danos morais e patrimoniais,
incluise danos emergentes e lucros cessantes

b) Em caso afirmativo, como seriam graduados os créditos sobre a massa


insolvente e sobre a insolvência?

A massa insolvente é um património autónomo composto por todo o património (bens e


direitos) do devedor à data da declaração de insolvência, bem como pelos bens e direitos que
este adquira na pendência do processo de insolvência. Diferença entre dívidas da insolvência e
dívidas da massa insolvente:
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Dívidas da insolvência- esclarece o ponto 21 do preâmbulo do DL nº 53/2004, de 18 de março,
correspondem aos créditos sobre o insolvente com fundamento anterior à data da declaração
de insolvência (art. 47º nº1 do CIRE).
Dívidas da massa insolvente- são constituídas no decurso do processo (art. 51º nº 1 e 2 do
CIRE).
Os créditos sobre a massa são primeiramente pagos em relação aos créditos sobre a
insolvência, tal como afirma o art. 172º, nº 1 do CIRE, além de que beneficiam de certas
especificidades no decurso do processo: os respetivos titulares não têm que reclamá-los no
apenso de verificação dos créditos (arts. 128º e ss. do CIRE). Créditos sobre a insolvência
dividem-se, por ordem de pagamento: Em caso de insolvência do devedor o pagamento dos
créditos será feito de acordo com a seguinte ordem: 1º) Em primeiro lugar, são pagos os
créditos garantidos, logo após o pagamento das dívidas da massa insolvente sobre o produto
da liquidação dos bens onerados com a garantia real, observada a respetiva prioridade. (738º
CC). – Crédito hipotecário no caso. 2º) Em segundo lugar, é efetuado o pagamento dos créditos
privilegiados à custa dos bens não afetos a garantias reais prevalecentes, com respeito da
prioridade que lhes caiba, e na proporção dos seus montantes, quanto aos que sejam
igualmente privilegiados. (736º CC). 3º) Em terceiro lugar, se valores ainda subsistirem, é feito
o pagamento aos credores comuns, o qual é realizado na proporção dos seus créditos, se a
massa insolvente for insuficiente para a respetiva satisfação integral. 4º) Em último lugar, são
pagos os créditos subordinados. (48º CIRE)
R:
É declarada a insolvência. O que se faz de seguida? Inicia-se o processo:
1.
1º é selecionado os créditos do devedor insolvente;
 são notificados os credores que o tribunal identifica na documentação do devedor
 Para aqueles que não são notificados, faz-se um anuncio publico a dar conta do inicio
do processo, para começar o prazo de 30 dias dos credores para reclamar créditos

2.
2º- os credores não são todos iguais.
 Há varias categorias de créditos, cada uma com regime diferente
 Então, os credores são graduados, cada um segue um regime próprio

3.
3º- identificar em que categoria estão cada um dos credores:
Existem várias categorias de créditos: 47/4º; e temos de integrar os credores em cada
categoria
 Em 1º lugar, são pagos os créditos garantidos, o credor garantido.
o Porquê? Tem uma garantia real sobre um crédito do devedor, garantia real é
garantia sobre o bem especifico (hipoteca, penhor, por exemplo), por
contraposição às garantias pessoais que é uma garantia sobre um património
(fiança, aval, por exemplo).
o Só é credor garantido para efeitos de insolvência, o credor que tem garantia
real; se tiver garantias pessoais, não é tido como credor garantido
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o Qual é o interesse do credor garantido? A totalidade do valor da liquidação
daquele bem garantido realmente é só para esse credor garantido, mais
ninguém concorre com ele nesse bem. Se não chegar para satisfazer o seu
crédito, vai concorrer com os restantes credores
 Em 2º lugar, são pagos os créditos privilegiados, o credor privilegiado.
 Em 3º lugar, aos credores comuns
o se ainda houver património suficiente para pagar a totalidade dos créditos dos
comuns depois de pagos os privilegiados e garantidos, tudo bem e paga-se, e
depois com o restante vai aos subordinados
o se não, parto de forma rateada- paga-se 50% a cada um deles, são iguais
dentro desta categoria. E deste modo, já não se vai aos subordinados, porque
em sequer havia património suficiente para satisfazer os créditos dos credores
comuns na totalidade
 Em 4º lugar, os créditos subordinados- 48º e 49º
o Se não conseguirmos integrar em nenhuma alínea do 48º e 49º, é qualificado
como credor comum
o Logo, quando qualificamos, temos primeiro de ver se é credor subordinado,
para saber se o qualificamos como subordinado ou comum
o Credor por suprimento- 48/1º, g)
o Dentro desta própria categoria, existe hierarquia (contrariamente aos comuns,
que são tratados de forma igual)
 Só se passa para a alínea seguinte se o dessa alínea foi satisfeito

NOTA: Há créditos que surgem só com o processo; que são os custos do próprio processo, os
custos honorários- dividas originadas pelo próprio processo, são as dividas da massa- são
pagos logo, mesmo antes dos credores garantidos

R ao caso concreto:
46º, 51º e 172º CIRE- primeiro pagavam-se as dividas da massa
74/4º, a) e pago nos termos do 174º do CIRE- Depois tínhamos o crédito hipotecário, que é um
crédito garantidos
Depois 744/2º CC; 39º Codigo do imposto sobre transmissão de imoveis; 47/2º Codigo do
imposto de selo- isto era um caso muito especifico, não precisamos de saber esta
especificidade
Crédito do fornecedor da venda, crédito comum pois não consegumos encaixar em nenhuma
categoria- assim, é pago nos termos do artigo 176º
Por último, o credor por suprimentos- é credito subordinado, 47/4º, b) e 48/g); pago nos
termos do rtigo 177º; e depois devemos voltar ao 48º e dizer que como se trata de um caso da
alínea g), se houvesse mais credores suborindados, este seria o ultimo a ser pago

CASO PRÁTICO N.º 10


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Há mais de seis meses que Telma e Luísa, gerentes da Rainha dos Frangos, Lda.
(RF) não promovem o pagamento de salários aos trabalhadores da empresa.
Sempre que estes se queixam, as duas amigas respondem que o Estado está
bem pior, uma vez que não entregam o IVA que têm liquidado há mais de um
ano. A situação financeira, de facto, não é famosa. Como acto desesperado, as
duas gerentes negociaram em nome da RF um contrato de abertura de crédito
com o Banco Crédulo Português (BCP), para a compra de frangos e venda dos
mesmos, assados, a € 1/kg, no afamado restaurante.

a) A calma com que Telma e Luísa estão a lidar com a situação financeira
da RF será passível de censura, caso esta última venha a ser declarada
insolvente?
R: É passível de censura este comportamento?
A sociedade já estava em dificuldade financeira, pois não eram pagos salarios à mais de 6
meses e porque não entregavam o IVA ao estado à 1 ano. Isto levanta a questão de saber se
deve declarar insolvente
Ir ao 18, 30 dias depois de …; 18/3º- presume-se que sabe da sua situação de insolvência
aquele que incumpre uma obrigação do 20/1, da alínea g). Apos os 3 meses de incumprimento,
começa a contar o prazo dos 30 dias em q se deve declarar insolvente.
Há um incumprimento do dever de declarar insolvência, insolvência culposa- 186º, resultou de
uma conduta culposa de quem administra

b) Caso a RF venha ser declarada insolvente em Janeiro de 2021, será que a


sociedade Frango Gorducho, S.A. (FG) pode compensar um crédito sobre
a RF de que é titular, emergente do fornecimento de frangos durante o
primeiro semestre de 2020, com uma dívida decorrente do fornecimento
de almoços pela RF aos trabalhadores da FG, durante setembro e
outubro de 2020? Ambos os créditos deveriam ser pagos nos 30 dias
seguintes ao fim do prazo do correspondente fornecimento.
R:
Caso de compensação- forma sucedânea do cumprimento que leva à satisfação do credor
Problema da compensação em sede de insolvência é o concurso de credores, credor que
recorre à compensação escapa ao concurso dos credores, logo sai em vantagem em relação
aos restantes credores que não tenham alguma divida perante o insolvente

99º CIRE, principio geral- pode haver, desde q os pressupostos para a compensação estivessem
preenchidos antes da declaração da insolvência. Neste caso, os requisitos verificavam-se logo
poderia haver compensação, pois o coiso foi prévio à declaração da insolvência do devedor

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c) Em caso de insolvência, o que sucede ao contrato de compra e venda
celebrado entre a RF (vendedora) e a Frango Imperial, S.A. (FI) relativo a
uma carrinha de distribuição? O contrato foi celebrado com reserva de
propriedade, mas a carrinha ainda não tinha sido entregue à FI, que, no
entanto, já pagara metade das prestações.

R: matéria dos negócios em curso


O que acontece a estes contratos?
Mas há situações especiais, 103º e ss do CIRE; primeiro deve-se ir as situações especiais, só
caso não esteja numa situação especial é que se vai ao 102º
No caso prático, enquadra-se em algum dos artigos?
 103º- não;
 104º- não, pois é preciso reserva de prop e entrega da coisa, não houve entrega;
 105º- situações q não houve entrega, não se aplica pois não houve entrega da coisa
mas o artigo pressupõe q tenha havido transmissão de prop, o q não aconteceu pois
havia clausula de reserva;
 não havendo nenhuma situação especial, vai-se ao 102º
102º CIRE- principio geral, suspende-se o contrato até o administrador da insolvência pode
decidir se se cumpre ou não o contrato, consoante o que seja mais benéfico para a massa
insolvente
 se diz que se deve cumprir, o credor fica com um crédito sobre a insolvência e deve
concorrer com os restantes credores
 se diz que recusa o cumprimento, 102/3º; não há restituições para ninguém; depois, …

d) E o que sucede ao contrato de arrendamento, celebrado entre a RF e a


Fábrica de Miúdos e Miudezas, S.A. (FMM) por 10 anos, relativo a um
armazém de que é proprietária a RF, do qual consta uma cláusula
resolutiva, em caso de insolvência de uma das partes?
R: efeitos sobre negócios em curso
109º, pois é contrato de arrendamento, dá solução especial, logo não se aplica o 102º; 109º diz
que se executa o contrato
Mas as partes estabelecerem uma clausula resolutiva em caso de insolvência, logo foge à
solução do 109º. Podem? Neste caso é norma legal injuntiva, 119/1º, o artigo diz que as partes
não podem afastar o regime, acordo feito pelas partes é invalido- 109º com 119/1º e 2º

e) Por último, pronuncie-se sobre o seguinte acordo, celebrado entre a RF e


a Piripiri, Lda. (PP), em outubro de 2020: perante uma dívida de € 20.000,
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decorrente do fornecimento de condimentos pela PP à RF, vencida em
agosto do mesmo ano, esta última comprometeu-se a pagar a quantia em
apreço em 20 prestações mensais, a partir de novembro de 2020,
acrescida de uns simpáticos juros; para garantir o cumprimento, foi
constituída hipoteca sobre a sede da RF.
R:
Pediu hipoteca sobre o bem imóvel
Este ato não é do agrado dos restantes credores da massa insolvente; com a hipoteca, fica só
adstrito ao credor da garantia real, ao invés de ser rateado por todos os credores
Este caso reclama o instituto da resolução do beneficio da massa- 120º; serve para destruir
negócios prejudicais à massa, sendo que é preciso preencher os pressupostos do 120º
Isto costuma sair sempre, estudar isto bem; questão da resolução de atos em beneficio da
massa, situações do 120 e por norma alunos não identificam bem qual é o problema

120º abrange os atos que não são abrangidos pelo 121º;


120º tem 3 req:
 Ato prejudicial à massa
 Ato praticado nos ois últimos anos antes do processo de insolvência
 Ato praticado por devedor e 3º de má fe; conhecia o processo de insolvência do
devedor ou sabia q estava em iminência

121º:
 Apenas é preciso verificar os requisitos de cada uma das alíneas; deixa de se provar o
carater prejudicial do ato e a má fé, basta preencher alguma alínea

Inicio processo de insolvência em Dezembro de 2020- No caso prático, podíamos aplicar o


121º/c), sendo q foi praticado nos 6 meses, logo podi haver resolução em beneficio da massa.
Assim, destrói retroativamente o contrato prejudicial à massa insolvente, assim volta para a
massa insolvente livre de ónus ou encargos
Processo de insolvência em maio de 2021- já tinha passado o prazo de 6 meses da alínea c),
logo não consegue pelo 121º, logo tem de ser pelo 120º.

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