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Casos - Direito Penal - apontamentos

Direito Penal I (Universidade de Lisboa)

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Materiais de trabalho
Casos sobre <Teoria da Justiça=

1. Depois de analisar o acórdão do caso Perinçek vs. Switzerland e tendo presente o


filme Denial – Negação, determine se, ponderando as conceções contratualistas abaixo
indicadas, fará sentido a incriminação que naquele acórdão se discute:

- John Locke (ler, em especial, pp. 35-39 e 71-74);


- Jean-Jacques Rousseau (ler, em especial, livro I, cap. V, pp. 19-20); e
- Immanuel Kant (ler, em especial as pp. 75-88 e 174-181).

Como tínhamos visto na aula passada, a negação pura de um facto histórico não cabe na
letra do artigo 240º nº2, porque não teve como consequência difamar, incitar à violência,
ameaçar, ou seja, acaba por não preencher nenhuma das alíneas do artigo, sendo assim
este tipo de comportamento, pelo menos no nosso ordenamento, não poderia culminar na
pena de prisão indicada.
A qualificação de um facto como crime depende do que se entende como restrição
legítima pelo Estado de direitos fundamentais através das penas. E, segundo várias
teorias, a legitimidade da restrição de direitos depende das vantagens racionais
decorrentes da proteção de bens indispensáveis pelo Estado.
Isto leva-nos a pensar se se pode realmente identificar um interesse legítimo a proteger?
Tendo em conta o acórdão em estudo, situação em que o Perinçek foi condenado pela
Suíça devido à negação do genocídio arménio, o TEDH entendeu que a decisão da justiça
suíça não tinha sido obtida por via de um bom equilíbrio entre o direito à liberdade de
expressão do réu (10.º CEDH) e o direito à dignidade do povo arménio (8.º, direito à vida
privada), por considerar que o orador não exprimiu ódio ou desprezo para com os
arménios, não incitou a qualquer ódio, não os estigmatizou nem sequer quando os
qualificou como grupo.
Sem esquecer que a dignidade da pessoa humana é um interesse autonomamente
protegido pelo direito e pelo direito penal devido aos pilares basilares do estado de direito
democrático, e tendo em conta as construções analisadas, pode-se concluir, então, que
segundo o pensamento de Locke, não fará sentido a incriminação disposta, pois na
medida em que o poder legislativo é um poder supremo, nunca poderá ser exercido de
maneira totalmente arbitrária. Outra razão seria a não verificação do comportamento de
incitação à violência exigido na letra da lei para que pudesse ocorrer a condenação. Ainda
na consideração deste pensador, o Estado ao ser caraterizado como o guardião dos
interesses individuais acaba por oferecer proteção à liberdade de expressão do réu.
Perspetiva individualista 3 tradição liberal: não haver lugar a tutela de bem jurídico supra
individuais 3 segurança rodoviária, ambiente, saúde publica.
liberdades de cunho individual 3 não haveria espaço para a letra do 240º CP

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Pelo contrário, se formos pelo pensamento de Rousseau, quando fala numa associação de
indivíduos como fator de desenvolvimento através da vontade coletiva, leva-nos a crer
que o interesse coletivo é condição da realização de cada um, na medida em que um
interesse separado dos outros todos, seria sempre um interesse privado. Ou seja, aplicado
ao caso, o povo arménio tem um peso maior, tendendo-se a defender a sua
dignidade/honra e integridade histórica face à liberdade de expressão de apenas um
particular, evitando a ofensa a esta vontade coletiva, da qual depende a igualdade dos
direitos e o desenvolvimento individual do povo.
- Pessoas no estado natural, soa naturalmente boas. Ideia de que os homens isolados não
se conseguem organizar. Individualidade pura e simples não permite a realização plena.
Permite que através da coletividade se alcance a realização dos interesses individuais.
- ideia da vontade da maioria (arbitrariedade no que tange à incriminação)
Relativamente ao pensamento de Kant, a questão é mais controversa, pois há um conflito
de interesses segundo as suas construções. O autor socorre-se da moralidade como
fundamento para a racionalidade, dando legitimidade a qualquer restrição da nossa
liberdade justificada na medida da articulação entre a liberdade de um com a liberdade
dos outros. Tem-se que a punição imposta por um tribunal nunca poderá ser aplicada
meramente como um meio de promover um outro bem a favor do próprio criminoso ou
da sociedade, pois necessita de ser somente aplicada ao próprio, àquele que cometeu o
crime (Periçek). Em justificação disto, defende que <é melhor que um homem morra do
que pereça um povo inteiro= o que nos leva a fatores explícitos de que, a partir do
momento em que alguém inflige um comportamento indevido a uma outra pessoa/povo,
está a aplicá-lo a si mesmo (paradoxo), segundo o princípio da igualdade em
conformidade com o da retaliação/retribuição. Desta forma, poder-se-ia arranjar
argumentos para que o povo arménio visse os seus interesses salvaguardados.
- se a moral é a moral de todos, racional e idêntica para todos, tem consequências no
pensamento de Kant em matéria penal. Se alguém subtrai algo a outra pessoa, é como se
subtraísse a si mesmo. O dano que se causa a outrem ou como se tivesse a causar a si
mesmo.
- Princípio da retribuição 3 o dano causado deve ser retribuído pelo estado ao individuo
criminoso (legitimidade)
Por outro lado, e tendo em conta a coexistência de liberdades, o direito representa um
<conjunto de condições em que o arbítrio de cada um se concilia com o arbítrio de todos,
numa lei universal para todos=. E, por conseguinte, qualquer um poderá ser livre enquanto
alguém não prejudicar a sua liberdade mediante uma ação externa, ainda que esse alguém
esteja totalmente indiferente a isso ou que quisesse mesmo violá-la. A lei universal age
externamente de modo que o livre uso do arbítrio do Periçek possa, então, coexistir com
a liberdade dos outros, do povo arménio, de acordo com uma lei universal. Através de
Kant e associando ao caso, a lei universal vem impor uma obrigação, mas não exige que
o próprio deva restringir a sua liberdade a essas condições (de coexistir) em função dessa
obrigação. Portanto, nesta perspetiva, mais facilmente, o político estaria a ver a sua
liberdade de expressão protegida, pois não se vê obrigado a restringir-se em detrimento
da dignidade do povo arménio.

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- vontade do estado/ideia de força e de poder que legitima a forma de punição do estado


Teoria da justiça 3 conclusões diferentes do ponto de vista da legitimidade do poder
punitivo do estado

2. À luz dos ensinamentos de Jonh Rawls e de Martha Nussbaum:


i) Chegar-se-ia a conclusão idêntica quanto à legitimidade da incriminação do
tipo de ilícito p. e p. (previsto e punido) no artigo 387.º do CP?
ii) Fará sentido a incriminação da ajuda à imigração (não autorizada) por
motivos económicos?

- John Rawls (ler pp. 37-40 e Parte II, capítulo III, pp. 108 e ss.); e
- Martha Nussbaum (ler pp. 69-95).

Pensamento de Rawls:
O objetivo é demonstrar que, tomadas em conjunto, as condições previstas impõem
limites significativos aos princípios da justiça aceitáveis. Na escolha destes princípios
ninguém deve ser beneficiado ou prejudicado pela fortuna natural ou pelas circunstancias
sociais; não deve ser possível traçar princípios em função da situação própria de cada um;
assegurar que as inclinações e aspirações particulares, e as conceções de cada um sobre
o seu próprio interesse não afetem os princípios adotados; exclui-se o conhecimento dos
acasos que afastam os homens uns dos outros e permitem que se deixem guiar pelo
preconceito.
Na posição original, todos gozam dos mesmos direitos no processo para a escolha dos
princípios, apresentar propostas e submeter 3 o objetivo é representar a igualdade entre
os seres humanos enquanto sujeitos morais e capazes do sentido da justiça.
Posição original como o produto de um raciocínio hipotético 3 representa a tentativa de
acomodar numa única estrutura as condições filosóficas razoáveis aplicáveis aos
princípios e os nossos juízos ponderados sobre a justiça.
Certos princípios da justiça são justificados porque seriam objeto de acordo numa
situação inicial de igualdade (situação hipotética).
Posição original 3 mecanismo de exposição que resume o significado das condições e
ajuda a extrair as consequências; noção intuitiva que incita ao próprio desenvolvimento
A racionalidade de interesses permite escolher os princípios de justiça, justificando a
subordinação ao estado. O princípio da liberdade designa o máximo de direitos para
todos e o princípio da diferença afirma que as diferenças entre pessoas são legítimas,
mas na redistribuição de riqueza só se justificam quando transbordem em benefício dos
mais fracos.

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As restrições na liberdade de direitos baseiam-se nos princípios de justiça que permitem


organizar mais racionalmente a sociedade. A subordinação do cidadão ao Estado é
justificada pela escolha voluntária com base nos princípios de justiça.
- constrói uma nova linha condutora: individualismo 3 assenta todo o seu pensamento
(se as minorias não são consideradas, as diferenças culturais, se as necessidades
individuais impostas pela diferença não é considerado 3 quando estamos na posição
original vamos legislar de acordo com os princípios da diferença e liberdade para os
indivíduos).
Na posição original não sabemos quem somos nem quem seremos.
Na posição original quem decide? A pessoa.
O que se escolhe? A organização da sociedade (justiça).
Que conhecimentos tem o individuo que escolhe no momento que escolhe? Não têm 3
véu da ignorância (não tem conhecimentos nenhuns).
Qual a motivação de quem decide? Desejo.
- animais: 387º CP 3 a incriminação está legitimada ou não? - não há espaço para
reconhecer a legitimidade na incriminação contra animais.
Não reconhece proteção aos animais; proteção a necessidades especiais; gravidez não
planeada
- imigração: véu da ignorância não atende à diferença; legitima

Pensamento de Martha:
Faz uma capabilities aproach, ou seja, as capacidades humanas vão determinar qual a
escolha justa. Apresenta 3 problemas 3 pessoas com dificuldades e deficiência; a
nacionalidade; e outras espécies.
Defende que só há uma restrição racional de direitos se a contrapartida for o progresso
das capacidades de cada ser humano, de forma a viver a vida dignamente.
Fala em princípios de justiça mais diversificados e inclusivos - redefine o contrato social
e inclui as pessoas com menos capacidades e os próprios animais em que a restrição de
direitos através das penas deve ancorar na realização de interesses tidos como
fundamentais.
O direito penal que protege as capacidades não é retributivo, mas reintegrativo, justificado
pelo melhor desenvolvimento, tanto da personalidade das vítimas como dos próprios
agentes.
Só é criminoso o comportamento que mereça uma pena;
Deve estudar-se quais as condições necessárias para se dar as melhores condições.
- Rawls não toma em linha de conta o contexto. O princípio da legalidade com o véu da
ignorância não atende às diferenças. É necessário olhar para o contexto, individuo, grupos
e diferentes capacidades dos indivíduos.
- imigração: ser capaz de se mover em segurança

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Casos sobre o conceito material de crime – questão jurídica (Dignidade Penal vs.
Carências de Tutela Penal)

Caso: <A ver navios=


3. António foi acusado pelo Ministério Público (MP) do cometimento do crime de
deserção, p. e p. nos termos do disposto nos artigos 133.º e 134.º do Decreto-Lei n.º 33.252,
de 20 de novembro de 1943 (Código Penal e Disciplinar da Marinha Mercante - CPDMM),
por se ter recusado a embarcar, sem justificação, no navio de marinha mercante "Águas
Santas", em que estava matriculado com a categoria profissional de pescador. Este navio era
propriedade da empresa de pesca "Pesca tudo, SA", e estava, na altura, atracado no Porto de
Pesca de Aveiro, devendo iniciar a viagem nesse mesmo dia.
Deve António ser condenado pelos factos constantes da Acusação do MP?
Na resposta, analise os Acórdãos constantes da Dropbox

O acórdão trata de uma situação em que o marinheiro não compareceu no local do


embarque, o que acabou por prejudicar o negócio. Neste caso, admitia-se, inicialmente, a
aplicação de uma pena de prisão. Contudo, o TC várias vezes disse que estas normas eram
inconstitucionais e veio utilizar argumentos da proporcionalidade, pois os tipos de danos
produzidos não eram proporcionalmente adequados à aplicação de uma sanção penal. E,
a ideia de que isto tinha natureza de direito laboral, sendo que o direito penal não poderia
intervir numa área em que os conflitos se resolveriam através de outro tipo de
relacionamento jurídico resultante da DUDH.
São relações entre privados em que se justifica o direito intervir, mas em que não se afete
diretamente os bens essenciais da liberdade. Os fundamentos do estado não estão a ser
diretamente colocados em causa de modo que não se justificaria a intervenção do poder
punitivo do estado.
Veio dizer-se que estas normas eram inconstitucionais, porque violavam o artigo 2º
respeitante ao Estado de direito democrático e o artigo 18º nº2 CRP relativo ao princípio
da proporcionalidade (necessário adequação e natureza da matéria das relações jurídicas),
sendo que a incriminação não seria necessária para assegurar a mobilidade da navegação,
dai não poder ter a cobertura do direito penal.
Houve quem entendesse que não era uma relação meramente laboral, pois havia um
prejuízo patrimonial intenso do armador e que pela dimensão do prejuízo, que até afetaria
terceiros, justificando, então, a intervenção do direito penal.
Este acórdão quis, de certa forma, corrigir a ideia da fundamentação apenas na
subsidiariedade do direito penal na necessidade da pena.
O direito dos fundamentos do poder do estado não estavam a ser postos em causa pela
incriminação, através da aplicação destas normas incriminadoras, pelo menos na parte em

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que não há adstrição direta do tripulante à manutenção, segurança e equipamento do


navio.
Concluindo, o TC entendeu que o artigo 132º CPDMM relativo ao <tripulante que, não
havendo motivo justificado, deixar partir o navio para o mar sem embarcar e, bem assim,
aquele que sem autorização superior abandonar o serviço de bordo durante cinco ou
mais dias consecutivos= é inconstitucional, pois viola o artigo 2º e 18º nº2 da CRP, pelo
menos na parte em que estabelece punição para o tripulando que sem motivo justificado,
deixe partir o navio para o mar sem embarcar, quando o próprio não desempenhe funções
diretamente relacionadas com a manutenção, segurança e equipagem do navio.
Porquê? Porque o próprio artigo 18º nº2 CRP refere-nos que a lei só poderá restringir
liberdades nos casos expressamente previstos, devendo essas restrições limitar-se ao
necessário para salvaguardar outros interesses constitucionalmente protegidos. Ora, no
caso, não me parece que um mero pescador, como indicado, vá trazer um prejuízo
justificável de pena, para a segurança e manutenção do navio. Assim, não deve ser
condenado.
- Identificar/Problema jurídico: conceito material de crime 3 dois conceitos
fundamentais:
• Dignidade penal/merecimento de tutela penal 3 verificar se a incriminação em
concreto é digna de estar no código penal (interesse fundamental que o pode
proteger)
• Princípio da carência de tutela penal/da necessidade ou da proporcionalidade em
sentido amplo 3 18º nº2 CRP
Princípio da estadualidade 3 DP é o monopólio do Estado
18º nº2 CRP 3 saber se estamos a retirar liberdade a alguém para dar liberdade (liberdade
penal)
Dignidade penal: só é crime as condutas ou omissões que afetem bens jurídicos → não
é um valor absoluto (conceito material de crime)
A CRP é a fonte primeira dos bens jurídico-penais.
Carência de tutela penal: a tutela de bens jurídicos pelo DP é meramente subsidiária
1- Existe algum bem jurídico, interesse fundamental, relação de dupla
complementariedade com a CRP, tutelado?
2- Bem jurídico digno de tutela penal? É necessária tutela através do DP? Não há
outro ramo que tutela?

Figueiredo-Dias: a função do direito penal é sempre uma função de tutela subsidiária de


bens jurídicos. Bem jurídico no âmbito do conceito material de crime 3 função critica do
bem jurídico.
- Excurso, apelo à doutrina e jurisprudência: Há um bem jurídico tutelado na
incriminação? 3 não. Então o problema não está do lado da carência (não seria já
necessário analisar o lado da proporcionalidade)

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Acórdão 634/93 3 linha dominante de analise do TC sobre este problema: princípio da


subsidiariedade do direito penal 3 principio da máxima restrição das penas que não estava
observado, porque ele não tinha uma posição dominante para a segurança do navio.
Existe um bem jurídico que é digno de ser tutelado: segurança do navio (mesmo estando
em causa um simples pescador), não havia era necessidade de intervenção penal.
MFP: densificou a argumentação, focando o problema na proporcionalidade da
intervenção. Há uma natureza meramente contratual, não é posta em causa a segurança
do navio com a ausência do tripulante (não cria perigo para nenhum bem jurídico
identificado).
Haveria ilegitimidade com a intervenção penal 3 não há nada/nenhum interesse para
proteger.
Questão situa-se no lado da dignidade penal
- Apresentar conclusões: princípio da subsidiariedade; necessidade da pena (18º nº2)
Existe um bem jurídico digno de tutela penal ou será o preceito incriminador
constitucional? Não.

Caso: <Incesto=
4. Suponha que um grupo de Deputados à Assembleia da República elabora uma
proposta de lei que criminaliza o incesto nos termos seguintes:

«Dos crimes contra a família, os sentimentos religiosos e o respeito devido aos mortos

Artigo 247.º - A
Incesto entre parentes
1. Quem praticar ato sexual com um parente em linha descendente será punido
com pena de prisão até 3 anos ou com multa.
2. Quem praticar ato sexual com um parente em linha ascendente será punido
com pena de prisão até 2 anos ou com multa
3. Os irmãos de sangue que pratiquem relações sexuais entre eles devem ser
punidos nos termos referidos no número anterior.
4. Os descendestes e os irmãos não são punidos se, no momento da prática do
facto, tiverem 18 anos.»
Quid iuris?
Na resposta, analise o Acórdão do TEDH <Caso Stübing v. Germany= disponível na Dropbox

- IDENTIFICAR O PROBLEMA JURÍDICO:

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1.Dignidade penal: verificar se a incriminação em concreto é digna de estar no código


penal (interesse fundamental que o pode proteger). Só é crime as condutas ou omissões
que afetem bens jurídicos: não é um valor absoluto (conceito material de crime).
→O bem jurídico é um instrumento de legitimação do direito punitivo. Apesar de toda a
discussão à volta do conceito, tem sempre na sua linha de raciocínio a ideia de um
interesse ou uma necessidade intersubjetiva que carece de ser protegida, ou até a ideia de
um dano objetivo.
A incriminação por incesto pode considerar-se digna de proteção penal, até porque
encontramos um interesse a proteger, que é aquilo que sempre se considerou ser o âmbito
familiar, onde se tem por pré-determinado que irmãos, pessoas do mesmo sangue, não
têm qualquer tipo de proximidade como os casais normais, que não devem ter relações
sexuais. Tenta-se proteger, de certa forma, o valor, o significado de família. Mas por outro
lado, a autonomia sexual.

2.Carência de dignidade penal: existe algum bem jurídico digno de tutela penal? É
necessária tutela através do DP? Não há outro ramo que tutela? (18º nº2 CRP - saber se
estamos a retirar liberdade a alguém para dar liberdade 3 liberdade penal)
→O problema do caso encontra-se do lado da carência de dignidade, porque este valor de
família acaba por não ter de ser tutelado pelo direito penal, porque há outro ramo que se
pode ocupar desta questão, como o direito da família onde se defende estes ideais. Ou
seja, no fundo, não cabe na letra do artigo 18º nº2 CRP, pois iria estar-se a retirar liberdade
a alguém que praticou incesto para dar liberdade a quem? À sociedade, só porque isso
não será ideologicamente/tipicamente correto?

- APELO À DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA:


Há um bem jurídico tutelado na incriminação?
Acórdão Stubing vs. Germany:
No acórdão, o irmão foi condenado por conjunção carnal entre parentes e a irmã foi
declarada inimputável devido a distúrbios de personalidade. No caso, viu-se que está
ausente a violência para a instauração da dependência de um em relação ao outro. O
incesto é desenvolvido no fundo de um ambiente familiar já degradado, do qual os
protagonistas são vítimas.
O TC alemão veio a ser chamado para decidir acerca da constitucionalidade de artigos
relativos ao direito fundamental da autodeterminação sexual; sobre o princípio da
igualdade e a proibição de discriminação, a partir do momento em que a sanção criminal
prevista parece uma consequência jurídica desproporcional.
O direito alemão pune esta conduta, mas, também nesta situação, em que os irmãos atuam
livres de coação e de modo consentido, sendo plenamente responsáveis. O TC alemão
tomou posição e considerou punível pois os fins prosseguidos por uma norma penal não
podem deduzir-se a partir da teoria jurídico-penal do bem jurídico. Contudo, incorre num

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discurso contraditório e procura fundamentar a sua decisão na proteção de bens jurídicos


protegidos pela incriminação (família, saúde genética). A opinião do juiz presente veio
manifestar-se nos seguintes pontos:
• A autodeterminação sexual é um bem que está a ser invocado inadequadamente
no caso de incesto, compreendido como uma relação entre adultos conscientes, na
qual não há supressão da autonomia de alguém
• A incriminação do incesto não é compatível com o princípio da proporcionalidade
pois as considerações sobre as preocupações genéticas não são objetivos válidos
de tutela penal pois não cabe tutelar um conceito tao vago e um padrão moral
comum
• Uma convicção social, cultural e historicamente fundada acerca do merecimento
de punição do incesto é sinónimo de uma moral dominante, e, portanto, não deve
ser esse o argumento para adotar uma criminalização
A perplexidade do acórdão diz respeito à questão fundamental de saber se a relação sexual
entre parentes ofende um bem jurídico, individual ou coletivo.
Durante todo o acórdão, o TEDH chama a atenção para questões essenciais a ter em
consideração para a apreciação do caso, como o facto de os dois parceiros não terem
crescido juntos, o que acaba por não se traduzir numa intenção incestuosa. Conclui que
os tribunais nacionais dos estados membros possuem a sua margem de apreciação nos
casos relativos ao incesto, por ser uma questão sensível à moral de cada Estado. No final,
vê-se que não considera que haja uma violação ao artigo 8º da CEDH, porque qualquer
pessoa terá direito ao respeito da sua vida privada e familiar.

- CONCLUSÕES:
O incesto, mais do que uma questão jurídica é uma questão moral, que incide sobre
aspetos religiosos/crenças ou até de vivência social/cultural. Desta forma, e tendo em
conta a forma como o artigo está escrito (forma igual ao artigo 173º do código alemão) e
o acórdão analisado, Portugal terá uma margem de apreciação individual sobre a
legislação que quer implementar sobre esta matéria, desde que não viole o artigo 8º da
CEDH.
Tendo em conta o princípio da subsidiariedade do direito penal, e da necessidade da pena
(18º nº2), o incesto deve ser tutelado pelo direito da família, porque não vejo a quem vou
estar a atribuir a liberdade penal para retirar essa liberdade às partes que estão a incorrer
nesse ato que é o incesto. No fundo, apesar de haver um interesse em que o incesto não
ocorra, não é um interesse suficiente para legitimar o poder punitivo do Estado.
-- AULA:
Acórdão assintomática numa orientação que retrata a vida de um casal (2 irmãos que não
cresceram juntos) 3 não criaram laços familiares normais.

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Problema jurídico central: teoria do bem jurídico (saber se a teoria do bem jurídico e saber
se em cada norma incriminadora se encontra um bem a tutelar, tem ou não tem
rendimento?)
Explorar a dignidade penal (há ou não um bem jurídico? Deve ou não ser a base para
apurar existência de dignidade penal?)
O conceito material de crime (validade) é construído com base em 4 etapas conclusivas
1- bem jurídico (elemento limitador da validade das normas incriminadoras – não é
um critério absoluto) 3 momento de controlo, mas não o único para apreciar a
validade da norma
Para a doutrina e o TC 3 bem jurídico é um princípio constitucional implícito
TC alemão veio dizer que a teoria do bem jurídico não tem rendimento 3 problema de
definição (o que é isso do bem jurídico? Fonte?) e de democracia (penalistas não podem
estar acima do legislador penal).
Argumentos do TC alemão: a norma em concreto protege a autodeterminação sexual;
saúde publica (fruto da relação tendencialmente seria crianças portadoras de
deficiências); família (confusão no plano familiar e social).
O juiz vem contrariar cada um dos argumentos do tribunal:
- sempre foi uma relação consensual (nunca teve em causa a autodeterminação): questão
de prova; invocar norma do incesto para tutelar a autodeterminação dos irmãos não parece
uma norma incontornável para o tutelar. Não é necessário
- saúde publica: elemento eugénico; se o fruto das relações podem ter problemas de
relações e não deviam nascer (prostitutas, adultério, primos) 3 argumento em prol do não
direito à vida
- família: da CRP retirar da estrutura social uma organização da família 3 significa se
calhar que relações sexuais fora do casamento devem ser igualmente proibidas
incriminando o adultério.
8º CEDH 3 a moral pode justificar a ingerência das autoridades. Mas, que moral?
Incesto é uma afronta moral.
É o ato sexual entre irmãos que esta a ser proibido 3 estado não tem legitimidade para
ingerir nas preferências e praticas sexuais das pessoas.
Figueiredo Dias 3 constrói a legitimidade do poder punitivo do estado com base na teoria
do bem jurídica e identifica 3 funções essenciais no quadro do DP:
1- funçao imanente
2- função critica que ajuda, enquanto padrão crítico, apreciar se uma norma penal é
legitima ou não 3 existe sempre uma relação de analogia penal entre a norma
incriminadora e a CRP
3- k
Artigo 9º CRP 3 tarefas fundamentais do estado  24º

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Não havia nem se quer um bem jurídico de tutela penal, ou ainda assim ver a família a
ser tutelada por força da própria CRP, a conclusão seria tem bem jurídico de tutela penal,
mas não há carência de tutela penal (18º nº2 3 necessidade da pena).

Caso: <Enriquecimento=
5. Aprecie a constitucionalidade da seguinte norma penal incriminadora aprovada por
um grupo de deputados à AR:
<Art. XX
Enriquecimento injustificado
Quem por si ou por interposta pessoa, singular ou coletiva, possuir ou detiver património
incompatível com os seus rendimentos e bens declarados ou que devam ser declarados é
punido com pena de prisão até 3 anos.=

Sabendo que o conceito material de crime é um conceito incorporado pela ideia de que
existem, num estado de direito democrático, limites constitucionais à eleição de certas
condutas como crimes que ultrapassam a vontade de maiorias conjunturais e do poder
político, …
- IDENTIFICAR O PROBLEMA JURÍDICO:
1.Dignidade penal: verificar se a incriminação em concreto é digna de estar no código
penal (interesse fundamental que o pode proteger). Só é crime as condutas ou omissões
que afetem bens jurídicos: não é um valor absoluto (conceito material de crime).
→É difícil dizer que a incriminação por enriquecimento ilícito tem dignidade penal, mas
na medida em que se considere que existe um interesse digno em proteger o fundamento
de Estado de direito democrático (2º CRP), talvez se possa dizer que existe um interesse
em punir crimes contra o Estado.

2.Carência de dignidade penal: existe algum bem jurídico digno de tutela penal? É
necessária tutela através do DP? Não há outro ramo que tutela? (18º nº2 CRP - saber se
estamos a retirar liberdade a alguém para dar liberdade 3 liberdade penal).
O objetivo essencial do direito penal é promover a conservação de bens jurídicos da maior
dignidade e, nessa medida, a liberdade da pessoa humana. Desta forma, a imposição de
penas e medidas de segurança implica uma restrição de direitos fundamentais como o
direito à liberdade e o direito de propriedade (18º nº2 CRP) 3 uma tal restrição só é
admissível se visar proteger outros direitos fundamentais.
O direito penal enquanto direito de proteção cumpre uma função de última ratio. Só se
justifica que intervenha para proteger bens jurídicos e se não for possível o recurso a
outras medidas de política social igualmente eficazes, mas menos violentas do que as
sanções criminais 3 princípio da subsidiariedade.

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→ O problema do caso concreto encontra-se do lado da carência penal, onde não se vê


fundamento para que este bem jurídico tão incerto possa estar coberto de tutela penal,
porque viola o princípio constitucional visado no artigo 18º nº2 CRP.

- APELO À DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA:


Há um bem jurídico tutelado na incriminação?
No acórdão 179, fala-se no enriquecimento ilícito e, concluiu-se que grande maioria dos
Estados não admite a criminalização deste enriquecimento, seja porque o consideram
desnecessário dentro dos instrumentos de combate à corrupção, seja porque têm
dificuldades em sustentá-lo à luz do princípio da presunção de inocência.
Figueiredo Dias: <um bem jurídico político-criminalmente tutelável existe ali – e só ali
– onde se encontre refletido num valor jurídico-constitucionalmente reconhecido=.
A questão do acórdão 377 (enriquecimento injustificado) já tinha vindo a ser objeto de
fiscalização preventiva no acórdão 179, tendo o TC se pronunciado pela
inconstitucionalidade das normas requeridas. A inconstitucionalidade assentou em 3
fundamentos essenciais:
1- Indefinição do bem jurídico protegido
2- Indeterminação da ação ou omissão concretamente proibida
3- Violação do princípio da presunção de inocência
A solução encontrada para superar as dificuldades na definição do bem jurídico pela
incriminação é suscetível de violar o 18º nº2 da CRP. Viu-se que não é claro que a
incriminação incida sobre condutas, parecendo antes incidir sobre situações de facto, e o
direito penal deve incidir sobre e punir condutas ou omissões e nunca estados ou situações
de facto (violação do princípio da legalidade penal 3 29º CRP).
Por outras palavras, o conteúdo ilícito da norma incriminadora consiste na discrepância
entre o património e os rendimentos e bens legítimos do agente e, em coerência com esse
pressuposto, constitui elemento do tipo legal a ausência de determinação da origem lícita
do património.
Tem-se que ou o crime ganha autonomia nos crimes fiscais e padece das dificuldades
assinaladas ou não se distingue de outros, inexistindo razão substancial para a sua
manutenção, o que violaria o princípio da proporcionalidade na vertente da necessidade.
Entendeu o legislador dever prosseguir este bem jurídico, caraterizado como sendo um
bem de primeira grandeza através da previsão típica de uma infração que decorre
objetivamente da reunião de 2 elementos: a aquisição, posse ou detenção de património;
e incompatibilidade entre o património e os rendimentos e bens declarados.
Contudo, não se vê que articulação possa existir entre o tipo criminal do artigo 335º A e
a preservação do valor constitucional do Estado de direito democrático (2º). O tipo
preenche-se com a verificação da incompatibilidade entre o <património tido= e o <sujeito
a declaração=. Ora, no que ao cidadão comum diz respeito, não se vê como pode a
ocorrência desta incompatibilidade ser por si só ofensiva dos interesses fundamentais do
estado ou da confiança nas instituições e no mercado.

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TC voltou a pronunciar-se pela inconstitucionalidade.


Figueiredo Dias: <Daqui decorre que toda a norma incriminatória na base da qual não
seja suscetível de se divisar um bem jurídico-penal claramente definido é nula, porque
materialmente inconstitucional=.

- CONCLUSÕES:
Numa área com a sensibilidade do Direito penal, onde estão em risco valores máximos
da ordem jurídica num estado de direito como a liberdade, não pode subsistir dúvida sobre
a incriminação de condutas.
O alvo de censura, ou seja, o comportamento típico que está a ser punido e que se
considera apto a lesar o bem jurídico valioso que se quis proteger, confunde-se com a
existência de uma incompatibilidade entre o património tido e o sujeito a declaração.
O principio da proporcionalidade quando aplicado a medidas de política legislativa que
se limitam a decisões de novas incriminações exige que não basta que o bem jurídico
protegido pelo novo tipo criminal se mostre digno de tutela penal; é ainda necessário que
esse mesmo bem se revele da tutela penal carente.
A indeterminação que permanece na construção típica do crime não permite concluir que
se prossegue um bem jurídico digno de tutela penal, nos mesmos termos em que tal
impossibilidade se verifica quanto ao crime do 335ºA. A expansão do direito penal para
domínios inovadores abrange novos valores e suscita questões sobre a relação desses
novos valores sociais e o poder punitivo do Estado.
-- AULA:
Princípio da dignidade humana  princípio de culpa (não pode ser presumida)
Bem jurídico 3 transparência das fontes de rendimento.
(2012) Enriquecimento ilícito 3 pode ser lícito, mas não foi declarado.
Não se consegue identificar um bem jurídico. Os bens jurídicos devem ser sólidos e
materiais. Todos os tipos incriminadores têm um conjunto de elementos
identificáveis. (ex: 131º)
As pessoas têm o dever de declarar o património, e em função disso pagar impostos para
garantir a redistribuição da riqueza é evidente. Não se pode punir alguém criminalmente
só porque não declarou o rendimento, e sem provas.
O bem jurídico enquanto padrão critico esmorce-se.
Verificar se há um bem jurídico:
- o que deve ser protegido com a incriminação;
- quem deve ser protegido com a incriminação;
- contra que deve ser protegido com a incriminação.
 9º CRP e norma concreta dos direitos e garantias

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Os fins são nobres, mas o que se retira da norma não materializa o bem.
Exigência de determinabilidade dos tipos 3 quando o legislador reduz a escrito
identifique os elementos. Não havia conduta, o princípio da necessidade estava em crise.
Princípio da presunção de inocência do arguido (o MP tem de fazer prova do que pretende
acusar 3 não há em processo penal lugar à inversão do ónus da prova 3 32º nº2 CRP). O
silencio do arguido não pode valer como prova (não autoincriminação).
Violação frontal do 18º nº2 CRP 3 não há se quer um bem jurídico de tutela penal.

Questão criminológica – Criminologia


Caso: <Aisha e Faruk=

Face ao caso concreto indicar exemplo de cada uma das abordagens metodológicas.
Ana:
Partindo do pressuposto que a Ana tem essa mutação genética:
• Construção lombrosiana (perspetiva individual) 3 o homem criminoso é um
homem menos desenvolvido que tem caraterísticas físicas distintivas
(determinismo biológico)
• Psicologia criminal moderna (Eysenck)
Se existe esta mutação as consequências hao-de ser a atenuação penal.
• Merton 3 vai buscar a tese de Durckeim → equilíbrio das estruturas: sociedade
que se pauta pela harmonia (forma de crescimento); ou sociedade marcada pela
anomia 3 gera o crime do ponto de vista sociológico. A sociedade anómica tem
sérios problemas, onde há um determinismo sociológico (as pessoas são levadas
pela própria sociedade a cometer crimes) 3 gera um certo alheamento
Selin e Cohen 3 criticas à construção: vivencia em sociedade é o resultado da interação
social.
5 formas de adaptação social
Ana foi violentada durante a infância e vê a entrada como uma escapatória (conjunto de
ideais novos) 3 quer romper com a própria estrutura cultural → REBELIÃO (forma como
o ordenamento reage)
((Direito penal do inimigo 3 com os ataques terroristas, chegou-se à conclusão que são
inimigas do estado, e devem ser tratadas pelo estado como tal. Autor Jakobs: não devem
beneficiar dos direitos/garantias processuais da generalidade das pessoas que prevaricam
3 deu a legitimação de fenómenos como Guatanam (tratadas como inimigas)).
4º nº11 Lei combate ao terrorismo 3 ela estava em Lisboa (território nacional) 3
justificação de antecipação que não há conexão geográfica/temporal com a criação do
dano

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Labelling 3 ideia de rótulo: assume a conotação desviante que o rotulo lhe dá 3 acaba por
gerar um processo de desvio secundário (pratica um conjunto de crimes que gravita em
torno do rótulo).
Becker 3 A sociedade tem os criminosos que quer, porque faz opções. Tem de ponderar
bem, através de instâncias formais de controlo, o que criminaliza e o que não criminaliza.
Se a Ana passou a atuar com o rotulo que lhe deu 3 pode ter assumido, e procurado formas
de escape. Desintegração da comunidade:
• Como acontecimento individual
• Como acontecimento social
• Fenómenos comunicacionais
Bruno:
Há uma fuga dos que são os valores sociais 3 droga/álcool
Formas de integração de Merton 3 via da inovação através do crime (passa da estrutura
social para a cultural).
Sutherland: crime pressupõe fenómenos de aprendizagem por contacto, pela associação
diferencial, com padrões de comportamento criminoso e não criminoso, envolvendo
todos os mecanismos presentes em todo o tipo de aprendizagem. Crimes que ele aprendeu
dentro da própria estrutura familiar.
Comportamento reiterado, proximidade com o tipo, assimilação com forma de atuação
→ aprende-se (associação a esses valores)
Justifica/enquadra o comportamento de Bruno mas tendencialmente levaria a uma
punição 3 se é um comportamento aprendido, se não há forma de determinismo pode-se
romper com ele.
Gohfman 3 as pessoas desempenham papeis; ideia de que há um papel a desempenhar e
atua de acordo com ele podem explicar porque se assumam certos comportamentos.
Atuação sobre o ofensor/agente 3 justiça restaurativa (Braithwaite) 3 ideia de que se
pode gerar uma vergonha reintegrativa (emoção de conotação negativa relativamente a
qual tentamos fugir). É provocada e surge perante os pares. Provocação de algo que o
sistema quer (arrependimento).
Encara os maus tratos com normalidade devido ao que sofreu na infância.
• Crime como acontecimento individual
• Crime como acontecimento social
• Fenómeno significativo e comunicacional

Questão jurídica – fins das penas e das medidas de segurança


Caso: <Cães e Chicotes=

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Imagine que Alberto é condenado pelo crime de maus tratos a animais de companhia
– por bater frequentemente com um chiquote no seu cão, para que este lhe obedecesse – e
que o tribunal fundamenta a agravação da pena na personalidade associal do agente.
É respeitado o artigo 40º CP? E, pode o tribunal invocar alguma análise criminológica?

A criminologia fundamenta tipos incriminadores no ordenamento, assentando num


método tripartido em que: o crime ou é perspetivado como algo individual; ou é
percebido como acontecimento social; ou é um fenómeno significativo e comunicacional.
No caso, parece-me importante ter em consideração o crime como fenómeno individual,
na medida em que a psicologia criminal vem explicar a prática de crimes no psiquismo
de uma pessoa.
Seguindo a teria psicodinâmica de Freud, os problemas na infância e o crime estão
relacionados com a fraqueza do ego, ou seja, fala em sentimentos de culpa como o motivo
3 a condenação exterior é aliviadora da autocondenação interior. Como dizia Eysenk a
extroversão, neurotismo e psicotismo levam a um menor controlo do comportamento.
Nas teorias cognitivas, segundo Piaget os comportamentos antissociais estariam
relacionados com a incapacidade de atingir os estádios superiores dos níveis de
desenvolvimento moral da personalidade, onde o crime se relaciona com a impulsividade
e falta de autocontrole, associada à ideia do prazer imediato ser mais valorizado que as
consequências dos atos, a longo prazo.
Fonagy defende que o crime está associado à falta de controlo de si mesmo, pois este
controlo pressupõe a capacidade de representações mentais positivas próprias e dos
outros.
A análise da personalidade orienta-se por modelos de processamento da informação
social pelos indivíduos que permitem compreender que indivíduos agressivos
desenvolvem perceções limitadas das situações, não conseguindo alcançar meios
alternativos à violência.
- Técnicas de mentalização: ideia de que todas as formas destrocidas que são apreendidas
na infância podem ser reconstruídas através do incutir novas linhas de orientação (mudar
a própria apreensão dos valores).
Hirschi: comportamento convencional (socialmente aceite) 3 4 vetores que têm de se
verificar no desenvolvimento da pessoa: ligação com a família/amigos; empenho no
futuro/carreira/sucesso; crenças/objetivos; envolvimento com as estruturas sociais.
Existira então conformidade ao sistema convencional. Quando os 4 elementos são fracos
o efeito é o comportamento criminoso. Há uma forma de reação à consequência desta
fraqueza. Pode levar ao agravamento da pena.
Interacionismo simbólico 3 Mead: se a reagirmos à nossa interpretação do que está a
acontecer, pode levar à atenuação de penas.
40º - visão preventiva. Proteção de bens jurídicas (prevenção geral positiva 3 reafirma
a validade da norma); reintegração do agente na sociedade (prevenção especial positiva

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3 influir sobre o agente de modo tal que não volte a cometer crimes; ressocializar o agente;
dar novas ferramentas para optar por comportamentos conforme à norma; voltar a
reeducar). O estado não pode desistir dos seus cidadãos, deve tentar reeducar aquela
pessoa.
2 finalidades: proteção de bens jurídicas; ressocialização do agente
Prevenção especial como fim exclusivo da pena? 3 uma visão monista dos fins das penas
não é aceitável, em face do 40º e da CRP porque o legislador faz apelo à prevenção geral
e especial. 3 até porque violaria o principio da necessidade da pena (18º nº2 CRP). As
penas também estão obrigadas a observar o princípio da intervenção mínima. E viola o
princípio da culpa (juízo de censura individual 3 40º nº2; principio da dignidade (1º),
liberdade (27º) e igualdade(13º)). Não pode haver pena sem culpa.
A culpa é pressuposto e limite inultrapassável da pena, ou seja, a pena não pode
ultrapassar a medida de culpa, que não serve para fundamentar o poder penal do Estado,
mas para o limitar (nº2).
FD: culpa é pressuposto da pena 3 as penas são construídas com base na moldura da
prevenção. Quando se constrói o quanto de pena, primeiro considera-se as prevenções
gerais com limite máximo e mínimo de pena, e depois olhar para a prevenção especial
(focados na quantidade de reeducação que o agente em concreto necessita) com limite
máximo e mínimo. A culpa também é limite inultrapassável 3 ainda que as necessidades
de prevenção estejam acima, a culpa é limite. 3 72º CP (dá orientações ao julgador)
MFP: culpa é fundamento da pena 3 as penas são construídas com base na moldura da
culpa (33º, 35º e 37º). A culpa é que justifica a aplicação da pena. Em função da culpa,
determinar o máximo e mínimo de pena e depois tomar em linha de conta a prevenção
geral e especial. A prevenção especial é que funciona como limite de pena.
A sentença baseou-se unicamente na prevenção especial 3 viola o 40º nº1 porque as
finalidades das penas não são monistas; viola o 18º nº2; construção que não toma em
linha de conta o princípio da culpa (basilar em matéria de fins das penas 3 não pode haver
pena sem culpa).
A função da culpa no sistema punitivo reside numa incondicional proibição do excesso
(71º CP).
No 40º cabe uma perspetiva e satisfação do interesse geral da comunidade e a
consideração de um nível de desvalor da ação e de uma exigibilidade média de um outro
comportamento a quem viola uma norma. Ou seja, a culpabilidade opera condicionando
critérios de necessidade a partir da consideração do merecimento da conduta do agente.

Caso: <Tragédia em Vila Rica=


1-Deveria o tribunal determinar alguma consequência jurídico-penal a Américo? (conceções
da criminologia)

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Através das conceções da criminologia já conhecidas, reconhece-se uma deficiência


individuo, explicada através das teorias psicodinâmicas e cognitivas.
Segundo Eysenck, apesar de continuar a ter um pendor determinístico, a junção da
extroversão, neurotismo e psicotismo levam a um menor controlo do comportamento. Já
para Hirschi o crime está relacionado com a impulsividade e falta de autocontrole
associada à incapacidade de diferir a gratificação ambicionada pela ação. Há uma
incapacidade de pensar a gratificação a longo prazo, beneficiando a satisfação pessoal
que o momento presente lhes proporciona. Através de Gibbs, pode ser ver que existem
distorções cognitivas que desvalorizam a responsabilidade pelo próprio comportamento
e distorcem o reconhecimento da autoria. Existe uma falta de controle de si mesmo.
Intervenção que neutralize os episódios psicóticos.
António Damásio: neurobiologia 3 determinação da responsabilidade político-penal; a
lesão do lobolo frontal pode determinar o comportamento do agente.
Fonagy: técnicas de mentalização
As penas só podem ser aplicadas se o agente é suscetível de culpa 3 sofre um surto
psicótico (20º CP 3 inimputabilidade em razão de anomalia psíquica). Para todos os
efeitos não é suscetível de culpa.
40 nº2 e o pressuposto da culpa → não há culpa, não se pode aplicar pena.
No nosso ordenamento, a par das penas também são consequências jurídicas do crime as
medidas de segurança. As medidas de segurança têm um pressuposto que é perigosidade.
Se não há perigosidade no caso, não há pressuposto.
Cominação de pena exige que o facto seja típico (agente, conduta, objeto, resultado);
ilícito (não existem causas de justificação); culposo (não há capacidade de culpa no caso
3 20º).
Nas medidas é igual, mas necessita de perigosidade (91º nº1 CP).
A cominação de uma pena depende da prática de um facto: típico, ilícito, culposo (40º
nº2 3 não havia culpa)
Perigosidade do agente?
Lei de saúde mental (lei nº36/98) 3 12º e 29º (internamento compulsivo de inimputável)
= não é a resposta típica do direito penal
Finalidades das medidas de segurança → para além dos pressupostos (facto típico, ilícito
e existência de perigosidade), é preciso ver o que se visa com aquela medida de
segurança? 3 à luz do artigo 40º nº1 (quer as penas quer as medidas de segurança visam
a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente).
Nas medidas de segurança, o que surge primeiro? Tratamento do agente ou a reinserção
do agente? Prevenção especial ou geral? 3 necessidade de prevenção especial (FD): o
quanto de tratamento é necessário para aquele agente que não é suscetível de culpa
recuperar. Necessidade de prevenção geral: proteger os bens jurídicos 3 1º socialização
do agente em concreto; (ATC): em regra a função primária é a prevenção geral (proteção

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do ordenamento), necessidade de tratamento do agente + se tivermos perante um


deliquente (crimes reiterados) então aí a ordem das finalidades tem de ser outra porque a
necessidade de tratamento faz sentido de forma primaria (em função da tipologia do
agente).
Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso (18º nº2 CRP):
• Princípio da adequação ou idoneidade (adequado de forma a obstar violação do
bem jurídico)
• Princípio da necessidade (ideia de que o DP só pode intervir quando for
absolutamente incontornável/necessário para tutelar um bem jurídico)
• Princípio da proporcionalidade em sentido estrito (a justa medida da pena é aferida
em abstrato, mas também em concreto)

2-A mesma historia com a alteração de que durante o surto de A, as 3 vítimas mortais
decidem matá-lo, A defende-se praticando 3 homicídios em legítima defesa (32º CP) –
deveria o tribunal determinar consequência jurídico-penal a A?

Poder-se-ia perspetivar o crime como um fenómeno social, ou seja, a deficiência parte do


contexto social. Para Mead o crime é resultado de uma interação da sociedade com a
pessoa, os comportamentos sociais são resultado da interação entre a sociedade e o
individuo, em que a sociedade determina a construção das conceções de si mesmo e a
construção de significados 3 interacionismo. A compreensão dos fenómenos de interação
e de resposta do individuo ao meio está subjacente às teorias de aprendizagem dos
comportamentos criminosos e à construção de si mesmo e da personalidade delinquente.
Através de Sutherland o crime explica-se pela intensidade, frequência e precocidade de
certos contatos sociais. Criminalidade é aprendizagem de modelos de conduta,
compreendendo técnicas e orientação de conceções que conformam a conduta
delinquente.
A continua a ser inimputável devido à anomalia psíquica (20º).
Ilicitude: 31º nº2 a) 3 não é ilícito o facto praticado em legítima defesa. 32º - não se deve
aplicar nem pena nem medida de segurança.
O facto é típico, mas não ilícito (91º nº1 CP). Ponderar aplicação do regime legal
constante da Lei de saúde mental.
210º CP
Aplica-se a pena e a medida de segurança (mas esta primeiro para ele estar ciente do que
do porquê da prisão).
O sistema das consequências jurídicas é dualista (40º).
FD: entende que o sistema é tendencialmente monistas (penas a imputáveis, medidas de
segurança a inimputáveis) 3 ideia do vicariato na execução (99º e 98º nº5).

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Caso: <Se beber…=


1.Imagine que A é condenado a uma pena de prisão efetiva de 6 meses de prisão. Pronuncie-
se sobre a pena aplicada, justificando a resposta à luz do 137º, 40º e 70º a 72º CP.

As penas só podem ser aplicadas se o agente é suscetível de culpa. À luz do artigo 40º
nº2 CP, a medida de culpa é o limite da pena.
No artigo 40º cabe uma perspetiva de satisfação do interesse geral da comunidade ou de
uma necessidade objetiva de proteger bens, como também a consideração de um nível de
desvalor da ação e de uma exigibilidade de um outro comportamento a quem viola a
norma.
137º nº2 3 violação de regras de cuidado; com grau de ilicitude mais agudo e intenso
Artigo 71º CP nº2 3 materializa o modo como a culpa deve ser analisada. (não é taxativo)
MFP: culpa é a moldura (fundamenta a pena) = 3 a 5 anos; a prevenção restringe
Penas
• Principais (tipos de ilícito) 3 prisão ou multa
• Alternativas 3 quando legislador identifica que no caso se pode aplicar <ou= uma
pena <ou= outra
• Acessórias 3 só podem ser aplicadas se e quando o legislador tiver aplicado uma
pena principal (não são de aplicação automática 3 30º nº4 CRP e 65º CP)
• Substitutivas 3 aplicada em vez da sanção principal que tenha sido determinada
no caso

Resolução:
1- Problema jurídico
- Discussão de saber quais os fins das penas (retribuição e prevenção)
- Articular os fins para efeitos de determinação da medida concreta do crime (70º
e 71º)
2- Doutrina e jurisprudência
3- Conclusões

Ideia de pena como castigo 3 supranatural (não é compatível com o EDD)


Beccaria 3 princípio da necessidade (iluminismo)
Prevenção geral negativa 3 fazer dele exemplo (toma a pessoa como meio e não como
fim) 3 Kant: toda a pessoa deve ser um fim em si mesmo.
MFP: fins reais das penas 3 as pessoas precisam de retribuição (necessidade psicológica)
que tem de ser racionalizado através do princípio da culpa (construído a partir da
dignidade da pessoa humana 1º, igualdade 13º e liberdade 27º) e da necessidade da pena
(18º nº2 CRP).

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Analisar a medida de 6 meses aplicada 3 analise do regime do 71º CP: saber quais sãos
os critérios para a determinação da medida concreta da pena (prevenção (FD); culpa
(MFP) - sempre que se exclui a culpa não há responsabilidade jurídico-penal. 17º, 33º
nº2, 35º e 37º. Chegados ao 40º a pena não pode ter outro fundamento senão a culpa.
Determinação da medida concreta da pena (FD) 3 3 passos:
• Tipo (137º nº2)
• Quantidade de pena (FD: modelo preventivo-geral; MFP: modelo da culpa
limitada pela prevenção) 3 71º
• Escolha
71º nº2 alíneas (orientações gerais): grau de culpa do agente elevado; grau de ilicitude, o
modo de execução deste e a gravidade das suas consequências elevados. Medida de pena
errada quanto aos 6 meses.

2. Suponha que A foi condenada numa pena de 4 anos e 8 meses de prisão e que o mesmo
requereu a suspensão da sua execução (50º ss CP), tendo o tribunal rejeitado devido à
<necessidade de defesa do ordenamento jurídico=.

Artigo 18º nº2 CRP 3 dada a máxima restrição das penas, mesmo que cheguemos a
conclusão que é necessário no caso aplicar uma pena, ainda assim, o julgador deve
proferir uma pena não privativa da liberdade (70º, 45º nº1, 50º nº1, 58º nº1 e 60º nº2).
Finalidade de prevenção geral e especial não estão apenas previstas no artigo 40º
Discute-se se a pena de prisão, enquanto pena principal, pode ser substituída por outra?
Pena principal: pena de prisão
Pena substitutiva: suspensão da execução da pena de prisão
• Suspensão simples (50º) 3 focados na forma de prevenção especial; juízo de
prognose favorável quanto ao futuro comportamento do agente (ideia de que ele
não vai reincidir)
• Suspensão sujeita a condições (51º e 57º) 3 sujeito a conjunto de deveres
• Suspensão acompanhada do regime de prova (53º) 3 elaboração de um plano de
reinserção social
Evitar que a pena seja cumprida dentro de um estabelecimento prisional.
As exigências do 50º relacionam-se com a necessidade de prevenção especial 3 o agente
está inserido na sociedade. A necessidade de reinserção social é muito baixa. A pena
funciona muito mais como forma de advertência (prevenção geral negativa).
O julgador rejeita a pena substitutiva pela necessidade de defesa do ordenamento
(prevenção geral 3 necessidade de proteção de bens jurídicos) 3 leva-nos a pensar que a
pessoa é utilizada como exemplo (meio). Uma fundamentação pensada estritamente em
moldes de prevenção geral é inconstitucional (MFP: não toma em linha de conta o
princípio da culpa).

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É correto rejeitar a substituição da prisão pelo cumprimento em liberdade, mas não


com este fundamento, porque não toma em linha de conta as circunstâncias do agente,
a culpa e juízo de censura ética que se dirige ao agente.
Deve privar-se o agente da liberdade, porque o cumprimento da pena só por si não vai
pela necessidade da defesa do ordenamento. Não se vê como reeducar o agente pelo artigo
50º (suspensão simples).

3. Considere que A foi condenado numa pena de prisão efetiva de 4 anos e 8 meses e que,
decorridos 6 meses do cumprimento da pena, lhe foi negada a liberdade condicional por
<não mostrar arrependimento=.

Regime da liberdade condicional (artigos 61º ss)


Incidente de execução da pena 3 liberdade antes do cumprimento integral da pena
Demanda a concordância do condenado (61º nº1) e o cumprimento mínimo de 6 meses
de prisão efetiva (nº2).
Pode ter lugar em diferentes momentos da execução da pena (61º nº2, 3 e 4)
Artigo 61º nº2 3 pressupostos materiais de concessão:
a) juízo de prognose favorável sobre o comportamento futuro do condenado em liberdade
(prevenção especial de socialização) 3 juízo de excarceração (se há probabilidade intensa
da sociedade suportar o risco de rescindência ou não)
b) averiguação autónoma das exigências de prevenção geral positiva
Será que na dimensão de prevenção especial de socialização (nº2) poderíamos incluir aí
o arrependimento? 3 dimensão moral intensa, de precessão individual desejável. O
contexto dentro de um estabelecimento prisional não é favorável ao arrependimento
(relação íntima entre prevenção especial e arrependimento).
Mas, não pode ser condicionante excludente da liberdade condicional, porque é uma
vertente moral, e interna 3 não pode condicionar uma aplicação legal e objetiva dessa
liberdade.
Desenvolver procedimentos que provoquem o arrependimento e mostrem o seu valor 3
através de processos restaurativos (confrontados com as consequências dos seus atos e
com as vítimas, têm a dimensão dos seus atos).
61º nº2 3 não foi ainda executada metade da pena de prisão 3 não poderia haver lugar a
liberdade condicional
Nem as finalidades de prevenção geral ou especial parecem ser compatíveis com a
demanda de alteração da atitude interior no sentido de arrependimento para efeitos de
concessão da liberdade condicional.

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Questão jurídica (conceito material de crime)


Caso: <Atos homossexuais=
O direito penal deve estar desprovido de qualquer caráter moral, pois ao legislador falta
em absoluto a legitimidade para punir condutas não lesivas de bens jurídicos, apenas em
nome da imoralidade. A este propósito fala-se na necessidade de destruição, no cerne do
direito penal, de todo o dogmatismo moral, ou seja, da exigência de que se não punam
condutas que, embora moralmente censuráveis, ou não, põem em causa os restantes
membros da comunidade.
A forma como o artigo está escrito poderá estar a confundir moral com direito e dessa
forma a violar o artigo 13º da CRP, o princípio da igualdade.
MFP: as normas penais que apenas expressam ou validam considerações morais de uma
sociedade não podem ser tuteladas pelo Direito Penal, pois não basta o mero desvalor
moral para que o comportamento seja incriminado, e ofende a proibição de discriminação
em razão da orientação sexual que emana do princípio constitucional penal do artigo 13º
CRP.
Roxin sustenta que a proteção de normas éticas só se justificaria, no EDD, para evitar
efeitos danosos para a sociedade. O problema da necessidade de proteção devido à
importância para a sociedade do efeito visado antecede, ou substitui uma discussão
abstrata sobre se as próprias normas éticas são bens jurídicos.
Falta carência de proteção penal do bem jurídico (princípio da necessidade da pena) pois
trata-se de um mero valor moral sem expressão num bem jurídico determinado.
---
- Bem jurídico:
171º - aparentemente tutela um bem jurídico (crimes contra a autodeterminação sexual).
Há dignidade penal
Artigo 9º CRP 3 tarefas fundamentais do estado (a proteção da autodeterminação faz parte
3 alínea b))  26º nº1 CRP
O legislador é mais exigente para aumentar o grau de ilicitude do facto quando o ato é
homossexual. No nº2 agrava a ilicitude do facto, e que o ato homossexual, só por si, é
mais gravosa.
O problema coloca-se na carência de tutela penal do bem jurídico (princípio da
necessidade da pena 3 18º nº2 CRP). É uma dimensão altamente subjetiva. Como
materializar isto à luz da racionalidade que a CRP impõe? 3 ao punir de forma mais grave,
estamos a ditar que quem tem uma orientação homossexual está sempre tramado, porque
vai ser punido de forma mais grave. A CRP não permite isto 3 proíbe a discriminação
pela orientação sexual (13º princípio da igualdade)
- Doutrina:
Pensamento de FD (função crítica):
1º - identificar/situar o problema jurídico:

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Conceito material de crime 3 dignidade penal vs. carência de tutela penal (18º nº2)
Existe dignidade penal (bem jurídico 3 autodeterminação)
2º - apelo à doutrina e à jurisprudência:
A norma tutela um bem jurídico.
Encontra-se na CRP o referente material que há-de inspirar o legislador penal caso a caso.
Tira-se liberdade (à livre expressão da sexualidade) para dar liberdade (autodeterminação
sexual)?
Artigo 13º - discriminação em funçao da orientação sexual que levaria a uma maior
punição em função da opção/imposição natural. Principio negativo de controlo de
intervenção penal.
Teoria do bem jurídico 3 funções:
• Orientação para o interprete
• Orientação crítica

MFP: 4 etapas conclusivas


1º bem jurídico 3 elemento de controlo extrínseco; manifestação da subsistência da
estrutura social; identifica-se um bem jurídico tutelado
2º princípios 3 violação do princípio da igualdade penal: tem de haver mediação da pena
pela culpa.
Princípio da igualdade (13º - orientação sexual) + princípio da culpa 3 porque este é uma
emanação da dignidade da pessoa humana (1º CRP); não pode ser punida de forma mais
grave em função da sua orientação sexual.
18º nº2 3 necessidade da pena (estava violado pois não há necessidade de mais pena em
função da orientação)
3º princípios do DP e o argumento criminológico
4º interpretação do 40º CP
- Conclusão:
Existe um bem jurídico digno de tutela penal, e existe carência de tutela penal, mas os
termos em que foi efetivada revelam-se inconstitucionais, por violação do princípio da
igualdade (13º CRP

Caso <Aborto=
Aprecie a constitucionalidade do 142º nº1 e) CP
117º nº3 CRP 3 titulares de cargos políticos (única obrigação de criminalização que se
retira da CRP) → significa que à luz da CRP não há obrigatoriedade de criminalização,
exceto quanto a isto.

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Há ou não tutela penal? – Existe bem jurídico?


140º ss 3 apenas quando ocorreu nidação: não constitui aborto típico nem os métodos
impeditivos (pilula do dia seguinte ou dio) nem atos de interrupção de gravidez.
142º - modelo das indicações (não basta que a mulher tenha sido violada para que possa
abortar na ultima semana de gravidez 3 há uma questão material) vs modelo de prazos (o
aborto poderia ser realizado até a semana x sem mais 3 não é isto que acontece, existe um
conjunto de comandos legais/pressupostos)
Artigo 2º CEDH 3 não há tutela dirigida diretamente à vida interuterina; não confere ao
embrião uma proteção expressa/literal
Jurisprudência: caso Boso v. Itália (5.9.2002)
288/98 3 antecedeu o 1º referendo (ganhou o <não= ao aborto) 3 não vinculativo
617/2006 3 antecedeu o 2º referendo (ganhou o <sim= ao aborto) 3 não vinculativo
75/2020 3 pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade
Em todos os acórdãos reconheceu-se um bem jurídico a tutelar: a vida humana
interuterina.
O problema da constitucionalidade deste artigo gravita em torno do problema da
carência penal.
Há bem jurídico. E carência de tutela penal?
Tendencialmente não existem obrigações constitucionais de criminalização.
A solução que viemos a ter poderia entender-se que estaria a violar o princípio da
proibição da insuficiente subjetiva da proteção da vida interuterina. Valor de eficiência
equivalente ou superior ao DP. Este entendimento parte do pressuposto que existe
obrigação constitucional de incriminação.
Só há 1 3 117º nº3 (respeita à responsabilização dos cargos políticos).
A criminalização da IVG não observa o princípio da subsidiariedade, da necessidade r da
proporcionalidade ou proibição do excesso (18º nº2 CRP) quanto à sua eficácia. A
incriminação penal não é eficaz para tutelar o bem juridio vida interuterina.
No princípio da adequação, a criminalização da IVG teria efeitos criminógenos. <cifra
negra= 3 estimava-se um número muito elevado de abortos clandestinos. A incriminação
não se verificava eficaz ara evitar o aborto.
Interrupção até às 10 semanas, com apoio médico, para ser legalmente exercida 3 menos
intrusiva e mais eficaz para a proteção. Cria-se dentro do sistema de saúde respostas mais
ajustadas às necessidades das mulheres e das famílias. Não se pode dizer que o artigo,
nesta redação, que quaisquer abortos fiquem legais.
No que respeita ao bem jurídico vida, nem todas as suas dimensões são protegidas da
mesma forma cabal pelo legislador (ex: 135º; 136º CP). Embora o legislador reconheça
dignidade penal a um bem jurídico, não o tutela sempre da mesma forma, nem o tutela

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sempre nas suas manifestações → princípio da fragmentariedade do Direito Penal.


Duplo grau deste princípio.
Falta o princípio da necessidade da pena, existem alternativas à penalização da conduta
como o planeamento familiar em vez de perseguição penal do aborto.
(artigos 202º ss 3 o bem jurídico só é tutelado pelo DP quanto a crimes dolosos; os crimes
quanto à propriedade não comportam a forma negligente 3 deve ser tutela pela via civil;
na vertente penal ficam reservados os comportamentos mais graves que não podem ser
tutelados por outra via. O DP só protege os bens que são dignos de tutela penal, contudo,
não se protegem todas as agressões contra o bem jurídico, só as mais graves).

Caso <O bar vale tudo=


Pode ser imputado a algum dos agentes o crime do 169º CP?

BEM JURÍDICO: dignidade penal


Saber se estamos perante um comportamento proibido que é digno de intervenção penal.
Saber se existe um bem jurídico digno de tutela penal.
Do lado dos arguidos ver a fundamentação que levam ao tribunal para arguirem a
inconstitucionalidade do preceito? 3 condicionamento da consciência pessoal e liberdade
de escolher a profissão; violação do 18º nº2 3 necessidade penal (haveria outras formas
de tutelar o bem jurídico); violação de exigência de lei certa (os tipos devem ser descritos
de forma rigorosa e detalhada para apreender o desvalor da ação e bom jurídico tutelado)
e principio da legalidade; bem jurídico é principio constitucional implícito (não há
possibilidade de materializar um bem jurídico tutelado)
FD: partir do bem jurídico enquanto padrão critico, olha-se para a letra do 169º nº1 e
tentar identificar um bem jurídico 3 não se consegue.
9 diretrizes de Roxin: a dignidade da pessoa humana é um princípio abstrato que não
consegue ter materialização suficiente para fundamentar o sentido proibido da norma
penal. 3 inconstitucionalidade

1- Leis penais arbitrárias, fundadas em razões ideológicas ou contrárias a direitos


fundamentais não protegem bens jurídicos;
2- Comportamentos imorais ou reprováveis não fundamentam por si só a lesão a
bens jurídicos;
3- Ofensa da dignidade humana não é lesão de um bem jurídico;
4- A proteção de sentimentos apenas pode corresponder à proteção de um bem
jurídico quando pressuponha uma ameaça real;
5- A autolesão consciente e responsável da própria pessoa por ela mesma (e o auxílio
que lhe seja prestado) não é uma lesão do bem jurídico (de outrem);
6- O auxílio que seja prestado à pessoa no caso do § anterior não é uma lesão do bem
jurídico (de outrem);
7- Normas penais predominantemente simbólicas não protegem bens jurídicos;

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8- Crenças e tabus não são bens jurídicos;


9- Objetos de tutela abstratos de difícil apreensão não podem ser tidos como bens
jurídicos.
DOUTRINA: Bem jurídico tutelado?
3 MFP (Ac. TC 144/2004): autonomia para a dignidade
3 Reis Alves: interesse geral da sociedade na preservação da moralidade sexual e do
ganho honesto, propondo inserção em <Dos crimes contra a vida em sociedade=
3 Paulo Mota Pinto (Ac. TC 196/2004): exploração de uma pessoa por outra, uma
espécie de usura ou enriquecimento ilegítimo fundado no comércio do corpo de outrem
por parte do agente
3 Paulo Pinto de Albuquerque: liberdade sexual da pessoa que se dedica à prostituição
3 IFL: liberdade sexual
3 ASD: sentimento geral de pudor e de moralidade
3 Anabela Miranda Rodrigues: artigo 169º nº1 3 moral sexual; artigo 169º nº2 3
liberdade de autodeterminação sexual da pessoa

MFP: a partir das 4 etapas conclusivas 3 importa o bem jurídico (constrói-o a partir da
dignidade da pessoa humana); os princípios (necessidade da pena lato sensu); e o
argumento criminológico (nos estudos que existem, as mulheres e homens que se
prostituem fazem por necessidade e não por escolha, são explorados e espancados, e o
ordenamento jurídico não pode tolerar esses comportamentos).
CONCLUSÕES:
C, D, F, E e G não seriam suscetíveis de responsabilidade jurídico-penal – não
exploram o outro como o artigo 169º proíbe. Dúbio poderia ser o G, que vive do amor da
prostituta e que recebe o dinheiro que lhe dá, mas face à forma da hipótese, não faz com
que o seu comportamento potencie à prática do ato descrito.
A e B 3 discussão responsabilidade jurídico-penal 3 em 98 retirou-se a exigência de
exploração da situação de abandono ou da necessidade económica (era necessário que o
MP fizesse prova disso, o que era muito difícil). A partir daqui havia uma presunção
legal que gerou problemas (há que fazer uma interpretação restritiva da norma porque
senão era inconstitucional 3 ex: a viúva endinheirada que tem atos sexuais por diversão
gerava responsabilidade por parte dos proprietários do bar). Veio-se admitir uma
contraprova.
3 De acordo com a jurisprudência fixada do TC (MFP) 3 artigo 169º nº1 relativamente
a F e C; e 169º nº 2 d) eventualmente quanto a D, mas não quanto a E, que não se
prostituía, sendo que depois ainda seria de discutir se existiria apenas um crime de
lenocínio (concurso de normas/unidade de lei) ou tantos crimes de lenocínio quantas as
pessoas exploradas (concurso efetivo);

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3 Paulo Pinto de Albuquerque: admite aplicação do 169º nº1, mas exige interpretação
constitucional restritiva com prova adicional do elemento típico implícito da <exploração
da necessidade económica e social= da vítima prostituta;
3 Seguindo FD + AMR + MJA + CA + Ac. TC 134/2020: 169º nº1 será inconstitucional,
pelo que só o artigo 169º nº2 poderia operar, eventualmente quanto a D.
Portanto, no caso de F e C 3 169º nº1, não pode gerar responsabilidade. No caso de D 3
a fragilidade económica pode caber na letra do 169º nº1
Seguindo a linha de que o artigo é inconstitucional, A e B não poderiam ser
responsabilizados quanto a ninguém, exceto quanto a D partindo do pressuposto que ela
era explorada (155º nº1 b) 3 vulnerabilidade).

Caso <(Des)Governos=
Pode o Governo:
1. Alterar o valor da coima prevista no artigo 81º nº6 a) CEstrada?
Princípio da legalidade: reserva de lei
Artigo 165º nº1 alínea c) CRP 3 a contraordenação corresponde a um ramo de direito
sancionatório público diferente do direito penal (tem natureza não penal). O artigo 165º
não tem aplicação.
Alínea d) 3 regime geral de punição de infrações disciplinares, e regime geral de atos
ilícitos (legislar em matéria contraordenacional, apenas e só, quanto ao regime geral 3 DL
433/82)
As contraordenações estão sujeitas ao princípio da legalidade (artigo 2º). Necessidade de
resposta do estado de disciplinar certos comportamentos na vida em sociedade.
Contraordenações não são formalmente direito penal 3 só existe reserva quanto ao regime
geral. E, portanto, desde que o Governo legisle dentro dos parâmetros gerais, pode fazê-
lo de modo próprio 3 desnecessária lei de autorização legislativa (17 nº1 RGIMOS); se
legislar fora desse âmbito, já precisa de autorização da AR.

2. Reduzir o limite máximo da pena aplicável ao crime no 137º nº2 CP para 4


anos? (penas principais)
3. Reduzir o prazo máximo de duração da pena acessória de proibição de conduzir
prevista no 69º CP? (penas acessórias)

Princípio da legalidade 3 artigo 165º nº1 c) CRP (reserva de lei)


O Governo pretende atenuar as penas, faz sentido discutir o artigo 165º?
O que funda o princípio da legalidade? Qual o fundamento da reserva de lei? 3 Na vertente
externa, o princípio da legalidade radica no EDD (artigo 29º - autolimitação do Estado
perante os cidadãos). Do lado da exigência de lei, o fundamento da reserva é a segurança
jurídica dos cidadãos.

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FD: se a razão de ser da reserva de lei é a segurança dos cidadãos (princípio democrático),
então ela opera quando o Estado pretende abolir com direitos, liberdade e garantias.
Porém, quando diminui as penas o fundamento da reserva de lei não é operante. Logo,
neste caso, não seria necessária a reserva de lei, mas o que impede que o governo legisle
é a organização do EDD (a separação de poderes).
TC: acórdãos 56/84 e 173/85 3 sustenta que a competência da AR se exerce pela positiva
quando se definem os crimes, mas também pela negativa quando se atenua a moldura
penal, quando se descriminaliza. Porque consideram que seria ilógico e perigoso uma
outra solução. Não haveria segurança jurídica se se alterasse a linha de alteração de quem
representa o cidadão (ameaça o EDD).
4. Revogar o nº7 do 101º CP?
Uma medida de segurança não privativa da liberdade está sujeita ao princípio da
legalidade?
Artigo 29º CRP 3 da conjugação do nº1 e 3 retira-se: o comportamento penalmente
relevante só o pode ser desde que exista lei que o preveja (nº1); não há pena/crime sem
lei (nº3) → princípio da conexão: o comportamento definido pelo legislador que
corresponde a uma pena.
A conexão entre crime e pena não fica absolutamente delimitado nessa concreta relação
crime/pena. Está também relacionado com a dimensão comportamento, crime e medida
de segurança, porque também é pensada como reação de um comportamento penal.
É conexionada pelo próprio legislador, e não com total arbítrio pelo intérprete. O
princípio da legalidade abrange todas as medidas de segurança e em especial à exigência
de reserva de lei. (Sousa e Brito; MFP)

5. Criar, através de DL, uma nova causa de justificação que exclua a ilicitude do
facto nos casos em que o homicídio negligente seja praticado no exercício da
condução de veículos?

FD: a reserva de lei abrange o tipo de ilícito e tipo de culpa, já não os tipos justificadores
nem os tipos de desculpa 3 não fariam parte da reserva, então o Governo poderia legislar
de modo próprio.
Importa saber se as causas de exclusão de ilicitude (30º ss CP) estão submetidas à
reserva de lei, ou podem ser criadas/concebidas pelo intérprete? 3 distinção entre:
• Direitos geral
• Direito excecional
MFP: se adotássemos uma perspetiva simplista, os tipos justificadores não estão
formalmente submetidos ao princípio da reserva de lei, porque não estão a comprometer
as expetativas dos destinatários das normas. Não demanda um controlo direto por via do
princípio da representatividade (fora do âmbito do 165º nº1 c) CRP).
Entende que as causas de justificação devem ser perspetivadas como um problema de
conflitos de direitos e se o que está em causa é uma delimitação de direitos, uma nova
causa de justificação pode abolir com essa delimitação.

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Comprime-se a tutela do bem jurídico se alagarmos as causas de justificação 3 pode


alterar a lógica da delimitação.
→Sempre que a causa de justificação/desculpa surge no ordenamento como
novidade/exceção que não tem apoio em nenhuma norma, essa nova norma/causa de
justificação na verdade surge como exceção 3 não se pode fazer raciocínios analógicos,
então, a reserva opera = Governo só legisla por via de autorização.
→A contrario, se a norma corresponde à materialização normativa de um principio
que já existia, ou realojamento normativo de uma orientação, então não é uma exceção
e já se poderia fazer analogia para o direito penal, então, a reserva de lei não opera =
Governo pode legislar ele próprio
No caso, é uma novidade/exceção, não se pode fazer analogia, portanto a reserva opera
(Governo precisa de autorização).
Ex: no caso da ação direta, a reserva não opera, porque se pode fazer raciocínios
analógicos (31º CP).

Caso <Património=

O legislador utiliza por diversas vezes as expressões <valor elevado=, <valor


consideravelmente elevado= e <valor diminuto=. É o que sucede nos 204º nº1 a) e nº2 a) ou
218º nº2 a CP. As normas em referência observam o princípio da legalidade?

Problema: normas penais em branco

Norma incompleta que remete parte da sua concretização para uma norma integradora
(fontes de menor hierarquia). Em última análise, não é o legislador penal que está a
legislar 3 violando a exigência de lei escrita.
Exigência de lei escrita e exigência de lei certa (princípio da tipicidade e cognoscibilidade
do tipo penal):
Exemplo: artigo 131º CP 3 agente; conduta; objeto da ação; resultado (e entre a
conduta e o resultado tem de haver um nexo de imputação objetiva) = tutela de um bem
jurídico → princípios da tipicidade (determinabilidade dos tipos). Contém o desvalor
da ação e o desvalor do resultado.
O princípio da tipicidade não impede existência de normas penais em branco, e não dita
a inconstitucionalidade de qualquer uma. Exige sim que a norma penal contenha todos
os elementos que componham o desvalor da ação que identifiquem o bem jurídico e
definem o sentido da ilicitude.
A distinção depende de saber se a função da norma penal é estabelecer direta e
materialmente a fronteira entre o proibido e o permitido ou apenas sinalizar que um certo
efeito material, dependente da obediência à regulação legal devido à natureza ou grau de
risco da atividade, é o conteúdo fundamental da proibição.

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Na norma penal em branco, o crime não é totalmente definido pela AR, o que viola o 165º
CRP. Levanta problemas quanto à tipicidade, uma vez que a definição do comportamento
criminoso tem de ser expressa (29º nº3 CRP). Quando há cisão pode estar em causa o
caráter certo da lei, que deixa o destinatário insuficientemente orientado.
A norma penal em branco será compatível com o princípio da legalidade se os critérios
essenciais de ilicitude estiverem na norma e não na norma complementar. Requisitos:
• Estar claro qual é o bem jurídico protegido
• Estar claro qual é o desvalor da ação (comportamento proibido)
• Estar claro qual é o desvalor do resultado (resultado que se pretende evitar)
= norma penal em branco é constitucional.
Problema: normas penais em branco (preceito incriminador que está incompleto porque
remetem parte da sua concretização para uma outra fonte)
• norma penal em branco em sentido amplo (quando qualquer remissão do preceito
para outra norma seja no mesmo diploma legal) ou;
• norma penal em branco em sentido estrito (remissão do preceito para outra norma
complementar ou integradora que podem nem ter natureza normativa, com valor
inferior à norma penal).
Nem todas as normas penais em branco são inconstitucionais.
O que importa para aferir da constitucionalidade de uma norma em branco, é olhar para
o tipo penal e determinar se é ou não possível compreender o sentido da conduta proibida
para orientar suficientemente os destinatários no sentido do proibido e tomar consciência
da ilicitude.
O princípio da conexão está respeitado? 3 FD: sim, porque nada na CRP obriga (29º nº1
e 3) a que esteja na mesma norma, do ponto de vista formal, a previsão e a estatuição que
lhe corresponde.
Corolário em questão: lege scripta e certa 3 reserva de lei e princípio da tipicidade
Artigo 202º a), b) e c) - unidade de conta 3 102 euros (norma integradora/complementar)
2 possibilidades  relacionando com o caso:
1- a norma complementar ou integradora acrescenta algum pressuposto de
punibilidade que não resulte já da sancionadora? – será que utiliza critérios
autónomos/novos de ilicitude (desvalores e bem jurídico)?
Identificar o agente (quem), conduta (subtrair), objeto da ação (coisa movel ou animal
alheios), resultado, bem jurídico (propriedade)
O recurso à norma integradora não acrescenta nenhum critério autónomo de ilicitude,
porque o mínimo que deve constar da norma incriminadora. A norma incriminadora
contém a essência do proibido.
Ac 427/95 3 critério da concretização técnica, informativa e não inovadora. A norma
complementar contém uma concretização meramente técnica.

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Ac 232/02 3 conclui no mesmo sentido. Identifica o desvalor da ação e o bem jurídico


As normas observam o princípio da legalidade (reserva de lei) e determinabilidade do
tipo (princípio da tipicidade 3 lei certa; descrever o conteúdo).

CASO <Infrações=

Será o artigo 277º conforme o princípio da legalidade?

O artigo é considerado, por alguns autores, como norma penal em branco e, devido a tal,
inconstitucional.
MFP: entende que pode ser uma norma formalmente penal em branco por ser remissiva,
mas, o que se pretende com este tipo de normas é que certas atividades perigosas devem
ver respeitadas as normas técnicas vigentes. O cerne do proibido é o cumprimento de
certas normas técnicas. Artigo não é norma penal em branco porque o proibido está
explicado, que é a violação da norma técnica, não sendo a norma técnica que tem o
conteúdo do proibido.
TC: há casos em que a remissão não interfere com a previsibilidade e com a segurança
jurídicas, mas apenas cumpre o papel de orientar o intérprete segundo critérios objetivos
da verificação do comportamento proibido.
Acórdão 115/2008: os autores alegavam: as normas mencionadas são normas penais em
branco, porque remetem, na sua previsão, para fonte não normativa, para regras técnicas.
A remissão é incompatível com o princípio nullum crimen, nulla poena sine lege stripta
(29º nº 1 e 3, da CRP). As normas constantes do 277º nº 1, alíneas a) e b), in fine, do CP,
no segmento em que remetem a sua integração para as regras técnicas, violam o princípio
da legalidade e princípio da reserva de lei formal (29° n° 1, e 165° n° 1 c) CRP) 4 a regra
técnica infringida interfere materialmente na delimitação do ilícito típico, matéria
reservada ao império da lei formal.
MP alega: a remissão para regras técnicas, pela norma incriminadora, de parte da
concretização da previsão legal referente aos pressupostos da punibilidade coloca, antes,
um problema de constitucionalidade por confronto com o princípio da tipicidade penal
(29º, n.º 1 CRP). O princípio da tipicidade implica que a lei especifique suficientemente
os factos que constituem o tipo legal de crime e que efetue a necessária conexão entre o
crime e o tipo de pena que lhe corresponde. É um princípio que constitui uma garantia de
certeza e de segurança na determinação das condutas humanas que relevam do direito
criminal. No artigo 277º, o tipo legal encontra-se fixado na lei penal de forma já
suficientemente precisa, visto que a remissão se reporta a regras técnicas de carácter
profissional que necessariamente deverão ser do conhecimento dos destinatários da
norma.
Um dos problemas das normas penais em branco está relacionado com o princípio da
legalidade e da culpa, porque não é possível orientar o comportamento olhando para a
norma. Neste caso, não havia um problema de cognoscibilidade subjetiva, pois eles
tinham o dever de conhecer a norma técnica. As normas técnicas têm de ser conhecidas,
pelo que a remissão para normas que o agente tinha obrigação de conhecer, no domínio

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da sua atividade profissional, não é inconstitucional nem viola o princípio da tipicidade e


da legalidade, respeitando também o princípio da culpa.

Problema: Normas penais em branco vs princípio da legalidade


Corolários: lei escrita e certa
2 possibilidades  relacionando com o caso:
2- sempre que a remissão torna imprevisível o conteúdo da proibição para os
destinatários da norma, haverá violação das exigências de segurança jurídica
(reserva de lei) e de determinabilidade/cognoscibilidade dos tipos (lei certa)
Para alguns autores, o facto ser um crime de perigo concreto, faz com que se salve a sua
constitucionalidade.
As normas técnicas destinam-se às pessoas da área. Portanto, do ponto de vista da técnica
legislativa, desde que sejam garantidos os princípios mínimos, nada obsta a que essas
regras estejam fora do código penal e, devem.
No artigo 277º o que é que se pretende assegurar? - Que certas atividades perigosas
possam ser permitidas, se, e quando, respeitem as regras técnicas. Ou seja, o cerne do
proibido do artigo 277º é o cumprimento das próprias regras técnicas (crime de
desobediência).
A norma remete, por razões técnicas, para outra norma, a concretização dos critérios
previstos, mas não é este que prevê o conteúdo da permissão e muito menos da proibição
que aquela delimita 3 consiste apenas na aplicação de conhecimentos técnicos. A
remissão é admissível porque é feita para uma instância normativa que não estabelece
nenhum critério autónomo de ilicitude, apenas concretizando o critério legal através da
aplicação de conhecimentos técnicos.
Sendo assim, não é a natureza de crime concreto ou abstrato que transforma a norma
constitucional ou não, o problema é o cerne do proibido que está lá identificado.
O problema prende-se com a imprevisibilidade do conteúdo da previsão devido à
remissão que é feita para a norma integradora.
O artigo 277º é conforme o princípio da legalidade.

CASO <Dependências=

1.Serão conformes ao princípio da legalidade os artigos 26.º e 71.º do Decreto-Lei nº15/93,


de 22 de janeiro, na redação original?

Acórdão 427/95: o TC não julga inconstitucional a norma do 4º nº1 DL 192/89, relativa


aos aditivos alimentares por considerar que a remissão em causa apenas executa o
conteúdo da norma remissiva, não formulando um critério autónomo de ilicitude. A
norma suscitou problema a nível da violação do princípio da legalidade (29º nº1 CRP e

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165º nº1 c) CRP), e conclui-se que não haveria violação porque a norma remissiva não
era uma norma em branco que delegasse na portaria o poder de definir o conteúdo da
incriminação; os critérios de ilícito penal (desvalor da ação e do resultado) e a
identificação do bem jurídico tutelado encontravam-se nas normas 24º nº1 a) e 82º nº2 a)
DL 28/84 aprovados mediante autorização legislativa da AR; a norma do 4º nº1 remete
por razões técnicas compreensíveis para uma portaria a concretização dos critérios de
admissibilidade de aditivos alimentares, mas não é a portaria que prevê o conteúdo da
permissão e muito menos da proibição, consiste apenas na aplicação de conhecimentos
técnicos mutáveis.
O TC considera que a norma não será inconstitucional, se a norma incriminadora
remissiva não deixar a descoberto nenhum elemento essencial para compreensão da
conduta proibida ou para o controlo da incriminação.
Acórdão 534/98: critérios do valor probatório da remissão 3 o TC entende que esta
remissão feita para a portaria deve valer como um critério de prova pericial, ou seja, o
valor fixado na portaria corresponde ao que é necessário para o consumidor deter na sua
posse durante 10 dias, que resulta de uma orientação científica que determinam essa
média. Mas, mediante contraprova a presunção da portaria pode ser afastada → princípio
da liberdade e apreciação de prova (127º CPP), isto é, o julgador é livre de apreciar e
decidir o peso da prova. No que respeita à prova pericial ela tem um valor reforçado
(163º CPP).
Artigo 26º nº3  71º c) 3 limites máximos de dose
Problema: normas penais em branco – a densificação do artigo 26º resulta de uma
portaria da qual remete para o artigo 71º c)
No 26º percebe-se quem é o agente, conduta, bem jurídico (desvalor da ação e do
resultado) 3 há acesso ao cerne do proibido (conteúdo do ilícito para orientar a
consciência ética).
Mas, na verdade as doses que a pessoa tem em seu poder podem variar, com implicações
importantes: natureza do que se tem e, a quantidade que se pode deter que delimita a
fronteira entre o proibido e o permitido, consta de uma portaria.
A remissão feita para a portaria tem um valor probatório. Presume-se subtraída à livre
apreciação do julgador, as quantidades, a não ser que se faça prova em contrário. A
remissão funciona como critério de legitimação, pois o TC abre a porta para a
possibilidade de as normas complementares terem valor equivalente à prova pericial, e
valor interpretativo em que as normas penais em branco deixam de ser
absolutas/imperativas, porque a aplicação do 26º pode ser afastada mediante contraprova
que está na portaria.
A remissão de valor probatório é válida, mas pode ser afastada mediante contraprova.
Estes artigos são conformes o princípio da legalidade.

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2. António é detido com uma quantidade de heroína superior à legalmente fixada para
consumo durante 10 dias. Pode António ser condenado nos termos do disposto no artigo
2.º da Lei n.º 30/2000, de 29 de novembro, atento o disposto no artigo 28.ºda mesma Lei?

Problema: princípio da legalidade 3 interpretação (lei restrita e reserva de lei)


Condicionamento do intérprete (29º nº3 CRP e 1º nº3 CP) 3 MFP: devemos aferir se
estamos perante analogia proibida ou interpretação permitida. Toda a interpretação
implica raciocínios analógicos
Artigo 2º - consumo de droga consubstancia uma contraordenação (tipifica até 10 dias).
Artigo 40º - tipificação do consumo como crime
O agente, neste caso, tem uma quantidade superior à dos 10 dias, e o que tem é para
consumo próprio.
E quem tem por mais dias? Aplica-se o 40º? E o 28º que o revoga?
Sugestões: ao reduzir o artigo 28º (redução teleológica), expande-se o âmbito da
proibição; se se pune o menos, pune-se o mais
Possibilidades de solução para os casos em que a quantidade é superior ao necessário
para 10 dias de consumo (ou quando não se prove a intenção de distribuição/tráfico):
1º - não punição, porque há um vazio legislativo carente de cominação punitiva, o que
gera não punibilidade do agente 3 só se pune consumo até 10 dias para consumo (2º); o
consumo do 40º foi revogado, não se faz prova que é para tráfico, portanto não se pune.
-- no limite o agente não é punido, por ausência de solução legal.
2º - interpretação restritiva do 28º e, portanto, quer a detenção, quer a aquisição de
droga não convertidas em contraordenação, são punidas pelo crime de consumo (40º
nº2) 3 ac 8/2008; TC 587/2014 3 como o artigo 28º revogou o artigo 40º, exceto quanto
ao cultivo, e como o artigo 2º só tipifica a droga que é detida para consumo até 10 dias,
toda a detenção que exceda o que é necessário para os 10 dias, mas em que não se faz
prova de que é para tráfico, a revogação não pode ser operante, porque teríamos um vazio
legal que não pode existir. O que está em causa é regular algo que pode ter resultado de
um lapso do legislador, e faz-se uma redução teleológica do artigo 28º.
-- linha do STJ: redução teleológica da norma revogatória do 28º, ao restringir este
âmbito, alarga o âmbito do artigo 40º, que mantém o facto punível. O 2º ao delimitar
como contraordenação os 10 dias (base factual do ilícito que só abarca os 10 dias),
fazendo uma interpretação restritiva de forma a afastar o 2º e aplicando o 40º nº2, não
viola o p. legalidade e tipicidade porque a redução do 28º e aplicação do 40º levaria a que
o legislador tivesse tipificado como contraordenação o consumo no 2º e nada mais. Se se
reduz o âmbito da revogação, expandimos o âmbito da incriminação.
3º - punição pela contraordenação nos termos do 2º nº2 (MFP) 3 se se pune o menos,
pune-se o mais (consumo para mais de 10 dias)

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-- aplica os 3 índices de interpretação. Se o consumo de droga já está tipificado como


contraordenação e se as detenções para drogas necessárias já estão tipificadas, a lógica
deve ser: se já punimos o menos, deve punir-se o mais.
MFP: as palavras são constitutivas das ideias, mas temos de nos conter nas palavras que
estão no texto constitutivo 3 o limite da interpretação permitida é o sentido
comunicacional do texto.
Castanheira Neves: Critérios
• Condição legal (norma positivada no ordenamento);
• Determinação dogmática dos tipos penais (tipos devem ser construídos pelo
legislador de modo que se possa apreender o sentido axiológico do texto);
• Adequação sistemática (interpretação do caso, deve poder ser generalizada para
outros casos sem gerar incoerência no sistema);
• Garantia do cumprimento do nulo crimen sine lege (garantia institucional,
materializada por via da jurisprudência que garante a unidade do direito 3 STJ)
MFP: o controlo da interpretação em CN só ocorre no 3º e 4º critério, porque o que está
materializado é um controlo jurisprudencial; é uma inspiração platónica porque as ideias
jurídicas não são moldadas pelas palavras, são indiciadas.
Desta forma, MFP (Kauffman) propõe que se tome em linha de conta três índices
essenciais:
1- O sentido possível das palavras (sentido comunicacional/comum que as palavras
encerram, fixado de acordo com o sentido do texto atual);
2- Comparação dos exemplos da norma com o caso concreto (raciocínios analógicos
3 correspondência para apreender a essência do proibido da norma);
3- Sempre que o intérprete seja confrontado com resultados possíveis de
interpretação diferentes isto significa que pode estar aqui uma inovação do
intérprete (sempre que tem mais do que uma opção permitida já estamos no campo
da analogia proibida).
4º - punição pelo crime de tráfico 21º e 25º porque o consumo e tráfico são tipos
alternativos 3 aplique-se tráfico (ac 292/2003, com voto de vencida MFP)
-- sendo tipos alternativos, ou o agente é punido por consumo ou por tráfico; se não pode
ser incriminado pelo consumo porque ultrapassa os 10 dias, então aciona-se o tipo
alternativo, e é incriminado por tráfico (não está violado princípio da proibição do excesso
porque a pessoa já tem a posse) + MFP: esta solução permite punir como traficante aquele
que é mero consumidor, o que contende com principio da culpa e da necessidade da pena
pois faz-se uma presunção de culpa inilidível porque não se admite contraprova.

CASO <Balão a voar=

Pode ser imputado a Beatriz o tipo de furto de uso de veículo, p. e p. no artigo 208.º do CP?

Problema de legalidade: lege scripta e stricta (reserva de lei e interpretação)

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Teoria do bem jurídico 3 funções:


1- Orientação para o intérprete (função imanente)
2- Orientação crítica (padrão crítica 3 função transcendente/transistemática)
3- Orientação para o legislador (deve ser político-criminalmente orientado 3 função
intrasistemática)

Bem jurídico:
PPA: propriedade de meios de transporte; FC: uso ou mera posse 3 furtum usus
MFP: 3 índices essenciais para apurar a interpretação permitida: sentido possível das
palavras (sentido comunicativo); comparação dos exemplos da norma com o caso
concreto (apreender a essência do proibido); eventual inovação do intérprete (sempre que
exista mais do que uma opção interpretativa)
Automóveis ou outros veículos motorizados (motor de propulsão ou outra força geradora
de possibilidade de transporte) 3 a rolote e carros de bois não cabe aqui (só por si);
autocaravana cabe.
O balão de ar quente, hoje, é uma forma de transporte meramente lúdica.
FC: inclui no objeto da ação deste tipo, também o balão de ar quente, por interpretação
extensiva.
O balão de ar quente é considerado para todos os tipos uma aeronave 3 meio de transporte
aéreo, portanto, cabe na letra. E, se todos os elementos do tipo estivessem preenchidos,
poderia imputar-se o tipo de crime ao agente.
Problema: o agente não cumpre os termos de autorização 3 contudo, desde que haja uma
autorização expressa, tácita ou presumida, pode afastar-se a aplicação do tipo do artigo.
Só na total ausência de autorização é que o artigo 208º CP opera. Pois, se for além do
tempo da autorização será um problema de incumprimento contratual resolvido à luz do
direito civil.

CASO <A conta=

1. Pode ser imputado a Afonso algum dos tipos de burla, p. e p. nos artigos 217.º a 222.º CP?

Bem jurídico tutelado: património


Tipo objetivo preenchido?
- Artigo 220º nº1 a) 3 consumo imediato de alimentos ou bebidas cujo consumo supõe o
pagamento de um preço que o agente se nega/recusa a pagar;
- Modalidade da conduta? 3 divergência
Sentido comunicacional do artigo 217º só é plenamente compreendido se tomarmos o
elemento histórico. A burla exigia um artificio fraudulento (nasceram 2 linhas
dogmáticas diferentes sobre a interpretação do que era artificio fraudulento: atos materiais
de misasene (?) (criar no outro o erro ou engano através de uma visão falsa da realidade);
particular astúcia/habilidade (mentira qualificada)

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MFP: olhar para o limite que é dado pelo texto legal 3 na letra do 217º nº1 está em causa
a exigência de mizacene e isso no caso concreto não existe.
Se é esse o sentido comunicacional da astúcia que aqui está, significa que este crime que
só pode ser consumado por via da conduta descrita (provocando erro no outro), tem de
ser astucioso, ou seja, implica comportamentos por ação. Portanto, nunca a omissão pode
caber na burla do artigo 217º.
Aproveitou-se de um erro que não foi gerado por ele 3 a omissão não cabe no sentido
comunicacional do texto do 217º
Almeida Costa: distingue a conduta 3 fala na mentira qualificada 3 o sentido
comunicacional que gera no outro que vai ser pago o final (atos concludentes); por
omissão (a situação de erro é gerado pela vitima)
MFP: aplicação do artigo 220º nº1 a) CP 3 no sentido comunicacional da norma, não se
exige a tal provocação de erro através de factos que provocou, significa que o legislador
inclui aqui as omissões.

2. Resposta seria a mesma se, numa pequena bomba de gasolina, Afonso solicitar o
abastecimento do veículo com combustível ao funcionário e este, depois de atestar o veículo,
desejar <Boa viagem= a Afonso por julgar, erroneamente, que a conta já se encontra
liquidada, abandonando Afonso o local sem efetuar o pagamento?

Verificar o sentido comunicacional da norma:


• A não se fez servir de bebidas ou alimentos 3 a gasolina não é um produto
alimentar
• A <bomba de gasolina= não pode ser considerada análogo ao hotel.
• Não foi utilizado meio de transporte, nem se paga um preço para entrar no
<recinto= da <bomba de gasolina= (condutas alternativas)
Analogia? 3 o sentido que se retira do artigo 220º não permite considerar a aplicação da
norma, no nosso caso, pois se o fizéssemos estávamos no âmbito da analogia proibida 3
situação em que era o legislador que dava uma nova possibilidade normativa para o 220º.
Portanto, não se pode aplicar o 220º.
E aplica-se o 217º? 3 se for necessária os atis atos materiais de mizacene o comportamento
não cabe ali.
Caso <everythingcrazy.com=
António acedeu, a partir do seu computador na sua residência, ao site
everythingcrazy.com e clicou na fotografia <002.jpg=, ampliou-a e visualizou uma criança do
sexo feminino, despida e exibindo o seu órgão sexual. Em seguida, fez download da fotografia
<015.jpg=, de outra criança de idêntico sexo, igualmente despida e a praticar ato sexual com
um homem.

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Pode ser imputado a António o crime de pornografia de menores, p. e p. no artigo 176.º


do CP, com a agravação prevista no artigo 177.º do CP?

Problema: lege scripta e stricta (interpretação)


Função de orientação para o intérprete (função imanente) 3 olhando para a letra do artigo
176º CP percebe-se que o bem jurídico tutelado é a autodeterminação dos menores.
MFP: 3 índices essenciais para apurar a interpretação permitida
• Sentido possível e previsível das palavras 3 A clica, amplia e visualiza: cabe na
letra do artigo? Discutir se este comportamento consubstancia o lato de aceder? 3
em termos semânticos, aceder significa ter acesso a informação
independentemente da sua fonte, não estamos condicionados pelo facto de a fonte
ser digital. O comportamento do agente cabe no sentido normal previsível das
palavras vertidas na norma do 175º nº6

<Espetáculo= pornográfico: a ideia de espetáculo envolve a ideia de performance artística;


assistência até virtual. O agente visualizou a fotografia 3 não cabe na letra da lei.
Aplicação do 176º nº1 c) 3 fez download 3 significado: descarregar e, portanto, ao
descarregar/transferir, o valor semântico é claramente face à descrição típica do artigo a
de importar, ou seja, trazer para o seu PC a fotografia que está identificada no texto.
Sentido comunicacional do texto 3 transferir o ficheiro corresponde a ideia de importar
do servidor para o dispositivo informático.
A pratica duas condutas:
1- clica, amplia e visualiza a fotografia – 176º nº5 CP;
2- faz download da fotografia – 176º nº1 c) CP
Agravação pelo 177º nº1 c) CP 3 pessoa vulnerável em razão da idade

Casos sobre o princípio da legalidade – corolário: lei prévia


Caso: <A pistola=
Em 10.11, Aníbal empresta a Bento, seu amigo de longa data, uma pistola que este lhe
pediu a fim de matar Célia, que ambos detestam. Bento executa o crime em 16.11. No dia
12.11 entra em vigor uma lei que determina que os homicídios em que participem, a qualquer
título, duas ou mais pessoas, passam a ser punidos com pena de prisão de 10 a 20 anos.
Qual a pena aplicável a Aníbal e a Bento?

Problema: exigência de lei prévia; determinação do tempus delicti (3º CP)


Determinar qual o momento da prática do facto para ver qual a lei aplicar sem violar o
princípio da não retroatividade desfavorável.

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2 princípios fundamentais estruturantes:


• princípio da proibição da irretroatividade da lei penal mais gravosa (29º nº1, 3 e
4º I parte CRP; 1º nº1 CP);
• princípio da aplicação retroativa da lei penal mais favorável (29º nº4 II parte CRP)

Nos casos de comparticipação criminosa (132º) é preciso olhar para o momento em que
a conduta de cada um dos comparticipantes é praticada 3 cristaliza o tempus delicti (3º
CP). Deu a arma dia 10.11(tempus delicti de A); disparou dia 16.11 (tempus delicti de B)
Avaliação do desvalor do seu próprio comportamento cristaliza-se no dia em que entrega
a arma. O agente só consegue controlar o momento da conduta.
Determinação do momento da prática do facto nos casos de comparticipação criminosa 3
artigo 3º CP: determina qual o critério com base no qual se fixa o tempus delicti 3 o que
releva é o momento da conduta (ação ou omissão).
É no momento em que o agente atua que a lei exerce a função conformadora da
consciência da ilicitude. É a lei que vigora nesse momento que conforma a ilicitude do
agente (princípio da culpa e da segurança jurídica).
Qual a lei aplicável? 3 convocar os princípios aplicáveis e fundamentar a ratio desses
princípios: o princípio geral é a proibição da irretroatividade da lei penal mais gravosa
(29º nº4 I parte).
Do lado da previsão legal (proibição), esta opção radica no princípio da culpa porque o
juízo de censura representa o limite da responsabilidade (se não fosse assim a liberdade
de determinação do agente estava a ser violada; e frustraria a segurança jurídica).
Do lado das consequências jurídicas, este princípio fundamenta-se na questão da
segurança jurídica.
Lei que vigora no momento da prática do facto (29º nº1, 3 e 4 I CRP; 1º nº1, 2º nº1 CP):
• A: cúmplice material 3 tempus delicti dia 10.11, aplica-se a LA
• B: autor material 3 tempus declicti dia 16.11, aplica-se LN

Caso: <Dr. Jivago=


Leonor, menor e filha de Manuela e Nuno, adoeceu gravemente no dia 01.10. Os pais
conduziram-na imediatamente ao hospital mais próximo, onde foi entregue aos cuidados do
médico de serviço, Dr. Jivago. Jivago viu nesta situação uma excelente oportunidade para se
vingar de Nuno, seu antigo rival e marido de Manuela, a sua amada, pelo que logo omite os
cuidados médicos de que Leonor necessitava. Leonor morre no dia 01.11.
Qual a sanção penal aplicável a Jivago, tendo em conta que no dia 15.10 tinha entrado em
vigor uma alteração legislativa que agravou em 5 anos a pena prevista para o homicídio?

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Problema: exigência de lei prévia; determinação do tempus deliciti nos casos de condutas
omissivas
Tempus delicti (3º CP) 3 conduta omissiva (o agente em vez de forma diligente realizar
os cuidados necessários, omite esse comportamento)
Equiparação da ação à omissão 3 10º nº1 CP; o que é decisivo para o legislador é a prática
da ação adequada a evitar o resultado.
Começou a prática da omissão no dia 1.10, e a LN entrou no dia 15.10, sendo que o
resultado foi no dia 1.11
Para determinar o tempus delicti relevante será o último momento em que o agente ainda
poderia praticar a ação imposta ou ação adequada a evitar o resultado. Essa possibilidade
ocorre em qualquer momento neste ato de dia 1.10 a dia 1.11 3 teve oportunidade para se
orientar ao abrigo da LA e ao abrigo da LN. Decidiu-se pela não prática da ação adequada
a evitar o resultado quando podia e devia.
Crime instantâneo 3 tem-se por consumado, logo que se dá o ataque ao bem jurídico (só
temos 1 decisão de omitir a conduta: crime de homicídio, 131º CP)
Lei que vigora no momento da prática do facto (29º nº1, 3 e 4 I parte CRP; 1º e 2º nº1
CP): 3º CP 3 <no caso de omissão, o facto considera-se praticado no momento em que o
agente deveria ter atuado, independentemente em que o resultado típico se tenha
produzido=. Sendo um crime continuado existe dificuldade em determinar o momento
concreto da prática do facto, portanto, pois é irrelevante o momento do resultado (morte).
O momento decisivo será aquele em que os cuidados médicos que ele tinha de ter
praticado converteram a sua conduta adequada a produzir a morte. Sendo assim, a LN
entrou 5 dias depois de ela estar no hospital, por esta lógica, a conduta omissiva tornou-
se apta a produzir a morte já na última semana de vida da jovem, onde a LN já estava em
vigor.
Sendo assim, se a LN mais grave entra em vigor antes do momento da conduta omissiva
apta a produzir o resultado, aplicar-se-á esta lei ao agente (1º nº1, 2º nº1 CP e 29º nº2
CRP).

Caso: <Sadismo q.b.=


Movido por ódio sádico, Rómulo sequestra Hersília durante uma semana (de 10.11 a 16.11),
desferindo vários estalos e pontapés ao longo do cativeiro.
1. Imagine que no dia 15.11 entra em vigor uma lei que altera o artigo 158.º, n.º 1 do
CP, fixando a pena máxima em 5 anos de prisão, e o n.º 2, fixando a pena máxima em 12
anos de prisão. Quid iuris?

Problema: determinação do tempus delicti (3º CP) no caso de crime permanente ou


duradouro

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No dia 10.11 o crime de sequestro está consumado, e o ataque ao bem jurídico permanece
(158º CP 3 momento da provação da liberdade se deu).
158º nº2 3 há condutas/formas de execução do crime, que contêm maior desvalor da ação;
a privação do bem jurídico que está em crise é mais atacado 3 legislador agrava a moldura
penal (grau de ilicitude é maior).
O sequestro perdurou por mais de 2 dias, ao abrigo da LA até perdurou por 16 dias, mas
ao abrigo da LN perdurou só 1 dia.
Crime permanente ou duradouro 3 o agente tem um processo decisório (decide
cometer um crime 3 sequestro) e o ataque ao bem jurídico (consumação do crime) vai
perdurar no tempo (horas, dias, anos) por vontade do agente (é o agente que tem o poder
de decidir fazer cessar o estado anti-jurídico). A cada segundo dá-se uma renovação do
ataque ao bem jurídico, e uma renovação da verificação dos elementos do tipo.
≠ Crimes continuados (30º nº2 e 3 CP) 3 realização pluri do mesmo tipo de crime, ou
de vários tipos que protejam o mesmo bem jurídico; há vários processos decisórios,
decide praticar o mesmo crime contra várias pessoas, ou vários tipos diferentes que
protejam o mesmo bem jurídico; regime especial no 79º CP.
Se durante a consumação do crime permanente se dá uma alteração legislativa, quid iuris?
MFP, FD e TC: poder-se-á aplicar LN, se e quando, a totalidade dos pressupostos do tipo
se verifiquem ao abrigo da LN. A totalidade dos pressupostos do tipo base (158º nº1)
ocorrem ao abrigo de ambas as leis. O problema esta na situação modificativa agravante
(158º nº1 a)) preenche-se parcialmente ao abrigo da LN (só 1 dia). Ou seja, o pressuposto
não se abrange na íntegra na LN.
Desvalor intrínseco maior 3 qualificar o sequestro ao abrigo da LA, porque o sequestro
só ocorre ao abrigo da LN durante 1 dia. Então, aplica-se a LA 3 158º nº2 a)
Doutrina
ASD: aplica sempre a LA, mas com base em pressupostos diferentes. LA é a lei do
momento da ação (conformadora da consciência da ilicitude) e diz que a LN deve ser
encarada como uma lei desfavorável. Aplica o 29º nº4 parte final, a contrario CRP,
aplica o princípio para a frente. Na dúvida, faz acionar (32º nº2 CRP)
TQB: aplica a LA de forma ultra-ativa, por ser a lei do tempus da consumação (lei que
esta em vigor no momento em que o agente orienta a consciência para a ilicitude) 3 29º
nº4 I parte CRP + 18º nº2 CRP + 2º nº1 CP). Aplica o 29º nº4 II parte CRP + 2º nº4
(materializa a aplicação retroativa da lei penal mais favorável) 3 aplica o mesmo princípio
por analogia, não proibida.

2. Suponha agora que a alteração operada no dia 15.11 confere nova redação à alínea a)
do n.º 2 do artigo 158.º do CP nos termos seguintes: «For precedida ou acompanhada de
ofensa à integridade física simples;». Quid iuris?

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Problema: permuta das circunstâncias modificativas agravantes


O pressuposto, em vez de ser o sequestro perdurar por mais de 2 dias, agora é o de ser
acompanhado por ofensas à integridade física simples.
Sucessão de leis penais
• Em sentido amplo: mutação do que deve ou não deve ser tipificado como crime
(o facto era crime e deixa de ser, vv.)
• Em sentido estrito: o facto continua a ser tipificado como crime, só que dá-se
alteração da pena, da previsão legal ou as duas em simultâneo.

Tempus delicti ocorre entre 10 e 16 (3º CP)


Há um novo pressuposto 3 necessidade de verificar se a totalidade dos pressupostos se
verificam abrigo da LN? No caso, ocorre. Assim sendo, pode-se considerar que ao abrigo
da LN também eles foram praticados.
LN também é a lei do tempus deliciti, e ao seu abrigo estão preenchidos todos os
pressupostos.

Caso: <Se beber...=


António conduz o seu automóvel na madrugada do dia 01.01 com uma taxa de álcool no
sangue de 1,2 g/l (art. 292.º, n.º 1 do CP).
Admita que, em 15.01, a entidade com competência para o efeito altera o art. 292.º, n.º 1,
fixando em 1,3 g/l a TAS e, simultaneamente, confere nova redação ao art. 81.º, n.º 6, alínea
b) do CE, nos termos seguintes:
«6 - Quem infringir o disposto no n.º 1 é sancionado com coima de:
a) (…)
b) (euro) 500 a (euro) 2500, se a taxa for igual ou superior a 0,8 g/l e inferior a 1,3 g/l ou,
sendo impossível a quantificação daquela taxa, o condutor for considerado influenciado pelo
álcool em relatório médico ou ainda se conduzir sob influência de substâncias psicotrópicas.»
1. Qual a lei aplicável a António caso fosse julgado em 16.02?

Problema: sucessão de leis em sentido amplo vs. descriminalização ou sucessão de leis


em sentido estrito com continuidade normativo-típico; determinar o tempus delicti
Momento da prática do facto (critério unilateral da conduta 3 3º CP) 3 dia 1.01
Lei que vigora no momento da prática do facto (29º nº4 I parte CRP, 1º e 2º nº1 CP)
Houve uma descriminalização 3 2º nº2 CP  29º nº4 II parte CRP
De facto, estamos perante uma descriminalização. Sempre que o crivo do legislador muda
de tal forma que a proibição deixa de pertencer ao elenco normativo do quadro jurídico

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penal, o legislador deve fazer com que essa descriminalização aproveite a todos quer haja
ou não trânsito em julgado (29º nº4 II parte CRP) 3 princípio da intangibilidade do caso
julgado cede aqui (2º nº2 CP 3 situação de descriminalização e 283º).
Se se dá uma descriminalização, o legislador deixa de reconhecer dignidade, e carência
de tutela penal 3 a necessidade da incriminação desapareceu. Esta mudança significativa
deve aproveitar a todos os agentes, segundo o princípio da igualdade.
Do ponto de vista da prevenção geral positiva, o motivo da incriminação desapareceu
para todos os efeitos.
Sucessão de leis em sentido amplo: o facto deixou de ser crime e passou a ser tipificado
como contraordenação. Quando o facto deixa de ser crime e passa a ser contraordenação
há uma descontinuidade do ilícito, no sentido em que a orientação do legislador mudou.
Pelo crime, o agente já não pode ser punido, e pela contraordenação pode?
ATC + ASD: quando há descriminalização, não havendo regime transitório, o agente não
é suscetível de responsabilidade criminal nem contraordenacional dado o princípio da
irretroatividade dos tipos contraordenacionais desfavoráveis ou mais gravosos. Ou seja,
quando não existe disposição transitória que determine a retroatividade, aquela lei não
pode ser aplicada, e o agente não pode ser punido (2º e 3º lei 433/82 3 princípio da
legalidade e exigência de lei prévia; regra é que os tipos contraordenacionais só valem
para o futuro).
- Na ausência de regime transitório, pura e simplesmente não punir o agente esvazia de
conteúdo útil o princípio da segurança jurídica e da igualdade.
Ac. TRE 11.07.2013: 2º nº2 CP que trata da lei despenalizadora, é a norma que regula as
situações de conversão de crime em contraordenação, atenta a diferente natureza
qualitativa do ilícito. A utilização alternativa do 2º nº4 que prevê aplicação de lei penal
favorável, pressuporia que a contraordenação se confrontasse com o crime numa relação
de grau ou de quantidade, o que não se verifica. Se a conduta do agente já não constitui
crime no momento de aplicação da lei, se ainda não era contraordenação no momento da
sua prática, e se inexiste norma transitória que trate a sucessão, impõe-se fazer operar a
lei descriminalizadora, conforme o 2º nº2 CRP e 29º nº4 CRP. Mas, independentemente
da ocorrência desta sucessão de leis no tempo, e da relevância dos factos omitidos na
sentença agora (e por causa dela) ao nível da ilicitude, as concretas circunstâncias da falta
de carta de condução válida sempre seriam necessárias à decisão condenatória, por
indispensáveis a uma conscienciosa aferição do grau de culpa e à determinação da pena.
Cumpriria diferenciar, também ao nível da culpa, entre o condutor que não possui título
válido porque nunca obteve carta de condução, e aquele que apenas deixou caducar sem
renovação.
Sucessão de leis penais em sentido estrito (com continuidade normativo-típica) 3 29º
nº4 CRP e 2º nº4 CP?
MFP: do ponto de vista instrumental, há uma sucessão lógica entre estas duas formas de
punição. Para além de sucessão de leis em sentido amplo, há uma sucessão de leis em
sentido estrito ou próprio, porque estes dois ilícitos apesar de distintos (autonomia
sancionatória), os tipos contraordenacionais são ainda herança histórica das

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contravenções. Existe sucessão não no plano formal, mas no plano estritamente


instrumental 3 o agente deve ser punido pela contraordenação (princípio da segurança
jurídica e legalidade). Aplica o artigo 2º nº4 CP por analogia, porque a situação é
materialmente equivalente.
Lei nº 25/2006; 26/2006 e 20/2006 3 diplomas que revogaram as contraordenações, mas
determinaram que os novos tipos que passavam a ser criados, teriam todos aplicação
retroativa.
FD: deve-se punir pela contraordenação para não se frustrarem as expetativas dos
cidadãos quanto à não punição.

2. Caso António fosse julgado e condenado a pena de multa em 02.01, poderia


beneficiar da alteração legislativa enunciada?

Tempus declicti (3º CP) 3 dia 1.01


Lei que vigora no momento da prática do facto (29º nº4 I parte CRP, 1º e 2º nº1 CP)
Descriminalização:
• O facto deixou de ser crime e passou a ser tipificado como contraordenação (2º
nº2 CP)
• ATC + ASD: não havendo regime transitório, o agente não é suscetível de
responsabilidade criminal nem contraordenacional dado o princípio da
irretroatividade dos tipos contraordenacionais desfavoráveis ou mais gravosos.
Será que ocorre verdadeira sucessão de leis penais (29º nº4 CRP e 2º nº4 CP)?
• Posição de MFP

Caso: <Troika=
Suponha que, em virtude de fuga massiva de capitais portugueses para o estrangeiro notada desde
meados de 2016, é aprovada legislação de emergência, que pune com pena de prisão até 8 anos tais
condutas, regime que entra em vigor no dia 01.07.2016. Porque a situação se agrava, estando iminente
novo colapso financeiro e intervenção da troika, a pena é agravada para 12 anos de prisão a partir de
31.08.2016, mas em 15.10.2016 é atenuada para 10 anos de prisão. No dia 31.12.2016, a legislação é
revogada, voltando os factos a ser punidos com pena de prisão até 3 anos ou multa até 360 dias.
Imagine que Eduarda praticou a conduta proibida em referência no dia 06.10.2016, sendo julgada
hoje. Qui iuris?

Problema: princípio da legalidade (lei prévia) 3 leis de emergência (sucessão de leis em


sentido próprio com continuidade normativo típica) vs. lei temporária
Artigo 3º CP 3 momento da prática do facto: dia 6.10.2016

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Lei que vigora no momento da prática do facto (29º nº1, 3 e 4 CRP; 1º nº1 e 2 CP): é a
lei que pune até 12 anos (LN 2)
Lei temporária em sentido estrito/lei de emergência vigora num determinado período
de tempo, numa situação de crise/excecional fundada na fuga massiva de capitais para o
estrangeiro.
Tem por objeto a agravação da moldura penal abstratamente aplicável a este tipo de
ilícito. Não definem o prazo da sua vigência. Radica em razoes de ordem material e por
isso não estaria convocado o problema da constitucionalidade de leis temporárias em
sentido amplo.
As leis de emergência são as leis que face a determinado circunstancialismo anormal
vêm penalizar, criminalizar determinadas condutas que até aí não eram consideradas
crime, ou vêm efetivamente agravar a responsabilidade penal por determinado facto que
até aí já era crime, mas em que esse agravamento se deve tao só a situações ou
circunstâncias anormais que reclamam a situação de emergência.
Estão subtraídas ao princípio da retroatividade de lei penal mais favorável (in melius) 3
contudo, só pode ser convocado quando estiverem em causa sucessão de leis em sentido
estrito ou próprio (mesma natureza e versam sobre o mesmo âmbito e objeto) = se as leis
se sucedem com a mesma natureza, âmbito e objeto, no nosso caso, o crivo do legislador
não se está a alterar para os factos que são praticados, porque isso mantém-se.
Quando a lei de emergência desaparece o que lhe sucede é de natureza, âmbito e
objeto diferente, portanto não há uma verdadeira sucessão de leis em sentido estrito.
Por isso, não está em causa o princípio da aplicação in melius dessa nova lei. O eventual
problema da constitucionalidade destas leis, não existe.
O legislador estipula que aquele regime legal vai vigorar não só na vigência da lei em
concreto, mas também depois da lei cessar a sua vigência, sendo que se continua a aplicar
porque os factos que tiverem ocorrido ao abrigo desta lei, serão sempre punidos por ela
de forma ultra ativa. 2º nº3 CP 3 continua a ser julgado pela lei do tempus delicti
Ressalva-se no 2º nº3 CP, que continua a ser punido o facto criminoso praticado durante
o período de vigência de uma lei de emergência. Significa que, não obstante no momento
do julgamento a lei já não estar em vigor por já ter caducado ou já ter sido revogada, deve
continuar a ser punido pelo facto que praticou durante esse período em que a lei estava
efetivamente em vigor.
A retroatividade da lei penal de conteúdo mais favorável não abrange as leis de
emergência (2º nº3 CP 3 caso de ultra-atividade). A doutrina a que o preceito se refere
considera que a lei posterior que descriminaliza a conduta não inclui entre os seus
elementos típicos a situação de crise ou excecional, havendo uma alteração essencial no
ilícito típico, entre as duas leis temporalmente sucessivas, mas não sucessivas segundo
critérios jurídicos = a lei que caduca está em vigor para o passado.
Portanto, não há uma verdadeira sucessão de leis, e E será julgada nos termos da lei
prevista para a situação de emergência.

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Isto visto, importa ver que no âmbito dessa emergência, após o momento da prática do
facto veio-se a atenuar a pena até 10 anos (LN 3), ou seja, uma lei penal posterior mais
favorável (opera dentro dos quadros da lei de emergência 3 mesma natureza, âmbito e
objeto 3 há sucessão de lei penal em sentido estrito ou próprio), e, nos termos dos artigos
2º nº2 e o 2º nº4 CP e 29º nº4 II parte CRP, aplica-se esta lei (LN 3) salvaguardando a
segurança jurídica e necessidade da pena.
Leis intermédias 3 LN3 (entra em vigor depois do TD e cessou a vigência antes do
momento do julgamento) 3 não tem contacto factual com o TD do agente. Ainda assim,
podem ser convocadas e aplicadas no caso se com elas podermos alcançar o cumprimento
de um comando constitucional (29º nº4 CRP 3 lei mais favorável).

Caso: <Tiago decide furtar=


Tiago praticou um furto qualificado em 05.02, por subtrair um relógio de bolso no valor de
1.600,00€. A qualificação devia-se à circunstância de a coisa móvel furtada pertencer a um
membro de órgão de soberania. Imagine que, em 06.04, entra em vigor uma lei nova, que
retira do elenco das qualificações a pertença da coisa móvel furtada a órgão de soberania,
mas introduz uma qualificação para coisas furtadas de valor superior a 1500,00€.
Quid iuris se Tiago for julgado em 07.11?

Problema: lei prévia; continuidade normativa típica; sucessão de leis penais com permuta
de elementos modificativos agravantes do tipo base, sendo necessário apurar se será ou
não sucessão de leis penais em sentido estrito
Alteração da factualidade qualificativa do furto.
Momento da prática do facto (tempus deliciti) 3 5.02
Para aferir se há sucessão de leis penais em sentido estrito há 2 pressupostos:
• devem ser leis penais;
• leis penais sucessivas hão de poder fundamentar a decisão nos mesmos casos,
ainda que de forma diversa.
Critérios para aferir da sucessão em sentido estrito ou próprio:
- Teoria do facto concreto: prius punible, posterius punible, ergo punible 3 para haver
sucessão de leis em sentido estrito, e poder aplicar LN basta que o facto seja subsumível
à LA e à LN (não protege a segurança jurídica e função de orientação de previsibilidade);
- Teoria da continuidade do ilícito: tem 2 variantes
• desde que o critério decisivo a tomar em linha de conta, que é próprio bem
jurídico, se verifica ao abrigo das duas leis, então há sucessão de leis e aplica-se
a LN, mesmo que a descrição típica fosse outra completamente diferente
(identidade do núcleo do ilícito 3 bem jurídico);
• continuidade do tipo de ilícito 3 identidade do bem jurídico (identidade
teleológica) + identidade da factualidade típica (identidade/plano formal). Há um

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duplo pressuposto 3 se faltar um, o agente não pode ser punido (qualquer mínima
alteração gera desconformidade e impossibilidade de aplicação da LN).

- Teoria da identidade ou da continuidade normativo-típica: MFP e ATC 3 a base


essencial para saber se há sucessão de leis em sentido estrito, é o tipo legal (descrição
típica que o legislador oferece). A continuidade reporta-se ao facto concreto 3 verificar
se já estava descrito no tipo ou não.
Na hipótese, quando T pratica o crime, não estava ainda descrito o tipo, ao abrigo da LA,
o valor da coisa era atípico, não estava descrito pelo legislador na norma como
circunstância agravante. Para todos os efeitos, o valor da coisa era tipicamente irrelevante
quanto T praticou o furto. Do ponto de vista, normativo, essa circunstância no caso
concreto era irrelevante, e portanto, não poderia ser considerada naquele momento em
concreto.
Quando há permuta de elementos modificativos agravantes que qualificam o tipo base do
furto, não há uma relação de semelhança. Portanto, não há identidade entre a LA e a LN,
sendo assim, não há continuidade normativo-típica, não há sucessão de leis. É como se
se tivesse promovido a uma descriminalização parcial.
Não se pode convocar outra circunstância qualificativa, e a solução é aplicar o crime de
furto simples, artigo 203º CP (2º nº4 CP).

Caso: <Domínio do animal=


No dia 13.11.2015, Carlão conduz na autoestrada o seu novo descapotável, acompanhado
de Valentina, sua namorada.
De modo a exibir à companheira aquilo a que chama o <domínio do animal=, Carlão efetua
perigosíssimas ultrapassagens, violando grosseiramente as regras da circulação rodoviária e
colocando em perigo a vida dos outros automobilistas.
Em 20.11.2015, entra em vigor uma lei que altera o artigo 291.º, n.º 1, suprimindo o trecho
<e criar deste modo perigo para a vida ou para a integridade física de outrem, ou para bens
patrimoniais alheios de valor elevado=.
A mesma lei diminui ainda o limite máximo da pena abstratamente aplicável para 2 anos de
prisão (mantendo a pena de multa como alternativa).
Carlão é julgado no dia 21.11.2015.
1. Quid iuris?

Problema: exigência de lei prévia; sucessão de LP em sentido estrito com passagem de


crime perigo concreto a crime de perigo abstrato
Tempus declicti (3º): critério unilateral 3 13.11
Sucessão de leis em sentido estrito ou próprio 3 pressupostos:

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• Devem ser leis penais


• As leis penais sucessivas hão de poder fundamentar a decisão nos mesmos casos,
ainda que de forma diversa
• Teoria da continuidade normativo-típica
Estamos perante uma situação em que o crime era concreto, pois além da ação perigosa
faz parte um evento de perigo, e passou a ser um crime abstrato, em que o perigo é motivo
da incriminação. Ou seja, dá-se um alargamento da incriminação ou antecipação da tutela
penal, em que se agrava o tipo, pois há condutas que não caberiam no tipo criminal e
passam a caber.
Atenuação da pena e alteração da factualidade típica
Nos crimes de perigo em geral, a consumação do crime basta-se com a mera colocação
em perigo do bem jurídico. A forma como esse perigo é criado é diferente. Nos crimes
concretos, o perigo faz parte do tipo. Nos crimes abstratos, o perigo não faz parte do tipo,
mas é o motivo da incriminação.
No caso, o crime era de perigo concreto, e deixando de exigir que se crie perigo concreto,
o legislador passa a presumir o perigo (antecipa a proteção de bem jurídico), passando a
ser crime abstrato.
MFP: deve-se aplicar sempre a LA, porque a LN funciona como lei mais severa, na
medida em que o perigo passa a ser presumido, antecipa-se a tutela e dispensa-se a prova
do perigo.
Contudo, a LN que transforma o crime, atenua também a moldura penal. Por esse motivo,
considera que se aplique a LN que se apresenta concretamente mais favorável ao agente
no plano da pena por força da aplicação do princípio da retroatividade da lei mais
favorável (29º nº4 II parte CRP e 2º nº4 I CP, caso de atenuação da responsabilidade).
Quid iuris se LA é de perigo abstrato, e a LN é de perigo concreto, com a mesma pena?
ATC: aplica-se o 2º nº2 CP, não há continuação normativo-típica, trata-se de
despenalização. Assim, o agente não é suscetível de responsabilidade jurídico-penal;
noutra edição: mantém-se responsabilidade jurídico-penal e aplica-se a lei que contém a
pena menos grave, porque quem tem dolo (conhece e quer) de que os bens são perigosos
para a saúde, também tem, necessariamente, dolo quanto à circunstância dos bens serem
impróprios para consumo.
MFP: aplica-se a LN, porque há uma continuidade normativo-típica. Os crimes de perigo
abstrato são mais abrangentes porque já comportam todas as formas de criação de perigo
para o bem jurídico. Quando passa a crime concreto o pressuposto já está descrito na
norma.

2. Suponha que agora que a alteração legislativa ocorre nos termos seguintes: a inserção
sistemática do artigo 291.º do CP é alterada, passando a constar de outro capítulo do
CP e a tutelar outro bem jurídico, mantendo-se inalterada a redação da norma penal
incriminadora. Quid iuris?

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Problema: sucessão de lei penal (continuidade normativo-típica)


A alteração sistemática/modificação do bem tutelado, só por si, não revela
descontinuidade normativo-típica, porque o ponto de referência é o tipo legal.
Do ponto de vista da segurança jurídica, tudo está alcançado quer ao abrigo da LA, quer
ao abrigo da LN. Sendo assim, o agente pode ser julgado ao abrigo da LN.

4 - Caso <A continuação=


Simão praticou três furtos simples, puníveis com pena de prisão até 3 anos, em 01.02.2016,
01.03.2016 e 01.04.2016, e um furto qualificado, punível com pena de prisão até 5 anos, em
01.06.2016.
a) Imagine que, em 01.02.2017, entrou em vigor uma Lei que agravou para 7 anos a
pena aplicável ao furto qualificado. Qual a sanção aplicável a Simão, se julgado em
01.04.2018 e condenado por um só crime continuado, ao abrigo dos art.s 30.º, n.º 2,
e 79.º, n.º 1, do CP?

Regime do 30º nº2 e 3 CP, e 79º CP


Crime continuado 3 há unidade da ação no sentido em que o agente tem uma renovação
do processo decisório cada vez que pratica um novo tipo de furto (crime não é o mesmo).
Há uma intenção criminosa continuada no tempo (repete-se em função de uma mesma
solicitação exterior 3 30º nº2 CP).
Exigência de lei prévia; sucessão de leis penais em sentido estrito
O agente praticou 3 crimes de furto simples, e depois 1 crime de furto qualificado 3
praticados ao abrigo da LA (3º CP 3 tempus delicti).
Qual a lei aplicável? LA ou LN? (1º nº1, 2º nº1 CP, 29º nº1 e 4 I CRP)
Aplica-se a LA, por referência ao crime de furto qualificado (conduta mais grave).
O legislador entende que se o crime é repetido (30º nº2) nos quadros de uma mesma
solicitação podem diminuir a culpa do agente → 79º - manda aplicar a pena mais grave
que integra a continuação, porque o crime continuado e o seu regime consubstanciam
uma figura atenuante da responsabilidade jurídico penal. O regime do 30º nº2  79º vem
decidir que em vez de somar as penas todas, pela logica de atenuação, puna-se de acordo
com a pena que corresponde ao crime mais grave que integra essa continuação. Neste
caso, o crime mais grave é o qualificado, foi praticado a 1.06 quando estava em vigor a
LA.
Ao comparar com o 77º ( 30º nº1, com uma única conduta consegue lesar 3 ou 4 bens
jurídicos) 3 regras da punição do concurso.

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b) E se essa lei tivesse entrado em vigor em 01.05.2016?

LN entra antes do último crime de furto qualificado (TD 3 3º CP).


Não faz sentido ir aplicar a LA neste caso, porque o regime do crime continuado já ele
próprio um regime atenuado da responsabilidade. Não faz sentido beneficiar o agente
duplamente. A aplicação da LA corresponderia um duplo favorecimento sobre a lei
agravante.
Aplica-se a LN, por referência ao crime de furto qualificado.
MFP: nada obsta que punamos o agente com a LN se for a lei do TD. Só não seria assim
(aplicação da LN), se e quando a aplicação individualizada das regras do concurso de
crimes que manda ir somando os vários crimes, levarem a uma pena inferior aquela que
resultaria da aplicação da pena da LN que entraria em vigor.
Concurso de crimes especial 3 revela menor grau de censurabilidade/culpa do agente
(contexto da mesma solicitação exterior), faz sentido que a pena aplicar seja inferior da
que resultaria do 30º nº1 e 77º.
30º nº3 3 homicídios (vida, liberdade e autodeterminação sexual estão fora do âmbito
deste regime do crime continuado)

5 - Caso <A condenação=


Em 01.06.2009, Adérito é condenado pela prática de um crime de ofensa à integridade física
grave, nos termos do art. 144.º, alínea a) do CP, numa pena de 8 anos de prisão, iniciando o
cumprimento da pena na mesma data.
1. No dia 01.06.2010 a pena abstratamente aplicável ao crime em referência passa a ser
de até 8 anos de prisão. Quid iuris?

Problema: exigência de lei prévia e sucessão de leis penais em sentido estrito com
atenuação da pena
Quando o agente iniciou o cumprimento da pena vigorava a LA e em momento posterior
entra LN que atenua a responsabilidade jurídico penal.
A LN entra em vigor no momento em que já se deu o transito em julgado da sentença
condenatória.
29º nº4 II CRP 3 manda aplicar a lei penal de conteúdo mais favorável (2º nº2 CP 3
descriminalização: cessa aplicação de lei e efeitos penais que perdurassem, se cumpre
pena que deixa de o ser, o agente deve ser posto em liberdade).
Saber se tem por limite o caso julgado por causa do princípio da intangibilidade do caso
julgado (2º, e 282º nº3 CRP 3 serve para proteger o agente e não o prejudicar) → aplicação
do artigo 2º nº4 CP 3 o facto não deixa de estar tipificado na lei como crime (atenuação
da moldura penal).

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Quando se dá alteração legislativa, em que há atenuação da pena, se o agente já foi julgado


e já cumpriu o máximo de pena que a LN vem estipular, a orientação do 2º nº4 II CP é
libertação ex ofício (p. igualdade, 13º CRP).
Trata-se de sucessão de leis penais em sentido estrito ou próprio, no sentido da atenuação
da responsabilidade (2º nº4 CP).
Fica ressalvado o caso julgado?
Ac. TC 240/97 3 inconstitucionalidade da restrição
Ac. TC 644/98 3 não inconstitucionalidade da restrição
Pode-se aplicar 2º nº4 II CP no caso? 3 sim.

E quando ainda não cumpriu a pena máxima da LN? 3 artigo 371º-A do Código Processo
Penal (se ele ainda não atingiu o máximo de pena previsto ao abrigo da LN, o agente
pode: requerer abertura da audiência; quando se requer a reabertura da audiência tenta-
se que seja de novo levado a cabo a operação de determinação da medida concreta da
pena 3 à luz da LN, de acordo com a sua orientação, aplicar o regime do 71º nº2 CP.
Ac. 164/2008 e 210/2010
Pode-se reapreciar também a espécie de pena? Substituição da pena por suspensão?
E o prazo que se dispõe? Geral de 10 dias (105º CPP), ou a própria LN fixa um prazo
para a abertura (MFP, segurança jurídica).

2. Suponha agora, que logo que tomou conhecimento da condenação ocorrida em


01.06.2009, Adérito fugiu do país, furtando-se ao cumprimento da pena. Em
01.06.2018, o artigo 122.º do CP é alterado e o prazo de prescrição das penas
superiores a 5 anos e inferiores a 10 anos passa a ser de 20 anos. Adérito regressa a
Portugal em 2025 e é detido pelas autoridades competentes para efeitos de
cumprimento de pena. Quid iuris?

O objeto da questão aprende-se com as leis processuais materiais (prescrição do


procedimento/pena; crimes de natureza semi-pública e pública) 3 olhar para o regime do
artigo 5º CPP; 29º nº4 CRP e 2º nº4 CP
Princípio da aplicabilidade imediata da lei nova 3 5º nº1 CPP
A passagem de um crime de natureza dos crimes ou prescrição do procedimento criminal,
seria regulado pela LN = visão simplista.
Normas materialmente penais 3 p. irretroatividade? 3 29º nº4 II CRP e 2º nº4 CP? (normas
processuais penais materiais)
Normas processuais penais 3 p. aplicação imediata (5º CPP) (normas processuais penais
formais)

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219º CRP 3 o MP logo que tome noticia da prática do crime, deve instaurar o inquérito
(p. oficiosidade 3 48º CPP). Em regra, basta que o MP tome conhecimento da prática do
crime para que possa instaurar o competente procedimento criminal 3 vale para os crimes
de natureza pública.
Nos crimes de natureza semi-público, o princípio da oficiosidade fica condicionando
pela apresentação o direito de queixa pelo titular (113º CP  212º), sob pena do MP
não poder dar início. A partir do momento em que receba a queixa pode acusar, investigar
Crimes de natureza particular 3 as restrições a iniciativa do MP são mais intensas;
necessário que titular se queixe, se constitua como assistente, e terá de deduzir acusação
particular, para que o MP leve o caso a julgamento.
Quando o legislador nada refere, o crime é público (131º ss CP; 152º nada dispõe sobre
condições de procedimento). Quando depende de queixa, natureza semi-pública; 203º nº3
ou 212º nº3. Tem natureza particular quando o legislador determina que o procedimento
depende de acusação particular (regime do 188º CP).
No caso do aumento do prazo prescricional: ao aumentar o prazo da prescrição, o
legislador confere mais dignidade ao bem jurídico (necessidade de intensificar a punição)
3 acarreta um dever de autolimitação perante o direito que cria (29º CRP), e, assim se
justifica a aplicação da LA.
Quando o crime tinha natureza particular/semi-público e passa a público 3 deixa de
depender de queixa, e passa o MP a poder iniciar o processo (mais ampla a intervenção
estadual), aplica-se a LA.
Se for ao contrário, crime tinha natureza pública e passa a natureza semi-
público/particular, as possibilidades de intervenção estadual, na esfera de liberdade do
destinatário da norma, afunilam-se (restrição à iniciativa do MP 3 necessidade de
apresentação de queixa) e a LN é mais favorável, então aplica-se.
Se foge do país, e quando regressa o prazo prescricional que vigorava na prática do
momento do facto já foi ultrapassado, a LN que aumenta o prazo é desfavorável e não se
pode aplicar retroativamente. (alarga as margens de perseguição penal 3 contende com
direitos, liberdades e garantias)
p. dignidade humana (2º CP) e a autolimitação do estado ao direito que cria; necessidade
penal e p. igualdade impõe aplicação da lei do tempus delicti (3º CP).

Caso: <Inconstitucionalidades=
No dia 25.06 entra em vigor a Lei Y que revoga a alínea a) do artigo 144.º do CP.
Em 28.06, Daniel agride violentamente Edgar, ficando este cego de um olho em resultado
da agressão.
1. Daniel é julgado em 30.06, e condenado a uma pena de multa, nos termos do artigo
143.º do CP. Já depois de 30.06, a Lei Y é declarada inconstitucional. Quais os efeitos
desta declaração? A situação de Daniel sofre alguma alteração?

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Problema: exigência de lei prévia; 282º nº1 e 3 CRP 3 pode-se aplicar lei inconstitucional
quando é mais favorável ao agente com força obrigatória geral
Em regra, o problema está regulado na CRP, mas há dois casos que ainda não houve
transito em julgado, que não há regulação.
O agente tem por TD a lei Y, que é declarada inconstitucional em momento posterior ao
julgamento.
282º nº1 3 a norma declarada inconstitucionalidade produz efeitos ex tunc, é eliminada
do ordenamento, e não vai produzir quaisquer efeitos, e não pode ser aplicada pelos
tribunais (3º nº3 e 204º CRP), repristinação da norma anterior.
Exceção ao nº1 - 282º nº3 I CRP 3 ficam ressalvados os casos julgados ( p.
intangibilidade do caso julgado, por razões de certeza e segurança jurídica)
Exceção da exceção 3 282º nº3 II CRP 3 o p. intangibilidade não se aplica porque a lei
inconstitucional é menos favorável ao agente (o caso julgado não fica ressalvado e aplica-
se a lei repristinada, porque mais favorável).
No caso, aplica-se a exceção do 282º nº3 I CRP 3 os casos julgados ficam ressalvados
donde a situação de D não se alteraria se caso julgado se tivesse verificado (p.
intangibilidade). Caso respondido diretamente pelo legislador constitucional.

2. Em 30.06 a Lei Y é declarada inconstitucional. Daniel é julgado em 30.07. Qual a lei


aplicável?

Problema: exigência de lei previa, leis penais inconstitucionais


A lei do TD é declarada inconstitucional antes do julgamento e repristinada a lei menos
favorável. Qual a lei aplicável no julgamento?
O 282º não dá resposta porque todo ele está construído para a existência de caso julgado.
É para estes casos que se convoca a doutrina (lei Y, de conteúdo mais favorável, julgada
inconstitucional entre o momento da prática do facto (3º CP) e a audiência de
julgamento):
Rui Pereira 3 há uma tensão entre o 204º que impede os tribunais de aplicar normas
inconstitucionais e o regime do 29º nº4 II CRP que determina aplicação retroativa de leis
penais de conteúdo favorável. A validade das normas precede lógica e valorativamente à
aplicação da lei penal mais favorável. Reconhece também que o legislador legisla de uma
forma até mais favorável, mas induziu os destinatários da noma em erro porque lhes criou
expetativas jurídicas de acordo com o TD de forma mais favorável e quando vem a
declarar a inconstitucionalidade, não podem beneficiar. O problema deve ser
perspetivado como ignorância de lei penal que é válida 3 foi a lei do TD que orientou a
consciência ética dos cidadãos. A solução é aplicação da lei repristinada (282º nº1) mas,
fazendo acionar o regime do erro do 16º e 17º CP porque para todos os efeitos, o

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destinatário da norma foi induzido em erro pelo legislador (falta de consciência da


ilicitude) 3 3 pressupostos: que o agente conheça a norma incriminadora; necessário que
a norma declarada inconstitucional seja anterior a prática do facto e ainda não tenha sido
declarada inconstitucional; necessário que o agente ignore a inconstitucionalidade da lei.
Jurisprudência (TC ac. 56/84) 3 repristina-se a LA (282º nº1), mas é aplicada até a
moldura máxima da lei declarada inconstitucional (282º nº4 CRP) 3 aplica-se a LA com
o montante de pena máximo da LN.
JM 3 aplica-se a lei repristinada até o limite da lei que foi declarada inconstitucional
(alinhou o seu pensamento com a jurisprudência)
MFP 3 fundamentos do 29º nº4 CRP; 13º + 18º nº2 e 2º CRP; critica da aplicação do 16º
e 17º; enquanto não há declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral,
a confiança na validade da norma persiste. Se atendermos aos fundamentos do 29º nº4
percebe-se que são, desde logo, o p. igualdade, p. necessidade da pena e a própria
vinculação do estado ao direito que cria (EDD - 2ºCRP), e confiança. Promove, com base
nestes princípios, uma dupla analogia, com o 29º nº4 II CRP (lei mais favorável) e com
o 282º nº3 II CRP (faz ceder o princípio da intangibilidade do caso julgado quando esteja
em causa um regime mais favorável). A lógica é a mesma, prevalência do princípio da
aplicabilidade da lei mais favorável que tem papel na revogação do próprio caso julgado.
Aplicação direta que foi declarada inconstitucional.

Casos sobre o âmbito de validade espacial da lei penal (cf. artigos 4.º a 7.º do CP),
Lei do Mandado de Detenção Europeu (LMDE) e Lei de Cooperação Judiciária
Internacional em Matéria Penal (LCJIMP)

Caso: <Carta armadilhada=


Bernardo ruma a França, onde conhece Pierre, francês, com quem <monta um negócio= que
não corre bem. Entretanto, Pierre passa a residir em Portugal, deixando todas as dívidas a
Bernardo. Bernardo decide vingar-se. Envia uma carta armadilhada a Pierre, para o matar.
Porém, a carta é desativada pelas autoridades francesas. Bernardo foge para Portugal,
escapando à justiça francesa.
Determine se a lei penal portuguesa pode ser aplicada a Bernardo. Na resposta, considere
o artigo 131.º do CP.

Identificar o locus delicti 3 artigo 7º CP define o que se entende por facto praticado em
território português, através do critério da ubiquidade, segundo a qual basta que um dos
dois elementos essenciais do tipo (ação e resultado) se tenha verificado em território
português para que a lei penal portuguesa se possa aplicar, como emanação da soberania
através do seu poder punitivo.

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Locus delicti 3 7º CP, opera o critério da ubiquidade para evitar lacunas de punibilidade.
O legislador pretende abarcar o máximo de conexões possíveis. 3 território português (era
em PT que a bomba deveria ter explodido)
Aplicando o 7º nº2 CP, deve-se aplicar o 4º a), o princípio da territorialidade (5º CRP).
Aplique-se a lei portuguesa
A partir do momento em que se define que o lugar é PT (aplicação do 4º CP)
Se for praticada fora do território (aplicação do 5º e 6º CP).

Caso: <Suicídio assistido=


António decide morrer. Solicita ajuda ao seu amigo Bento para o suicídio que pretende
empreender. Ambos rumam à Alemanha, onde o auxílio ao suicídio não é crime, ao contrário
do que sucede em Portugal (artigo 135.º, n.º 1 do CP). A morte de António ocorre em
Hamburgo, de acordo com o planeado. Bento regressa a Portugal e é detido no aeroporto
Humberto Delgado.
Quid iuris?

Identificar o locus delicti 3 artigo 7º nº1 CP define o que se entende por facto praticado
em território português, através do critério da ubiquidade, segundo a qual basta que um
dos dois elementos essenciais do tipo (ação e resultado) se tenha verificado em território
português para que a lei penal portuguesa se possa aplicar, como emanação da soberania
através do seu poder punitivo.
O locus delicti (7º CP) deu-se fora do território português. Não se consegue aplicar
diretamente a lei portuguesa, pelo princípio da territorialidade (4º CP).
Verificar se se pode aplicar o artigo 5º e 6º CP (reservados a factos integralmente
praticados fora do território português): artigo 5º nº1 b) 3 extensão do princípio da
nacionalidade (mais abrangente que a e)); evitar a fraude à lei penal (requisitos estão
preenchidos)
ATC: requisito implícito 3 demanda que a fraude seja preordenada do agente: se não se
desloca ao estrangeiro propositadamente para a prática do crime, a alínea não se pode
aplicar 3 interpretação redutora (redução do âmbito de aplicação da alínea b))
A consciência para a ilicitude do facto que é praticado e formado ao abrigo da lei
portuguesa.
Ponderar a aplicação do 6º nº1 (agente ainda não foi julgado pela lei estrangeira 3 p. in
bis idem) e nº3 3 será de aplicar a lei portuguesa (em caso algum se poderia aplicar a lei
alemã, ainda que mais favorável), proteção do princípio da nacionalidade.

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Se a pessoa reside no estrangeiro não lhe podemos exigir que oriente a sua consciência
ética pela lei portuguesa.

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