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º 1
a) Teodora (A) é proprietária de uma garrafa antiga de vinho do Porto, a única que
sobra de certa colheita. Vendeu-a pelo telefone a Teodorico (B) , que ficou de vir buscá-
la no dia seguinte. De manhã, porém, vendeu-a de novo a Teodósio (C), que a levou.
Pode Teodorico (B) exigi-la a Teodósio (C)?
Alípio Noronha, rico, mora num imponente palácio lisboeta. Ali perto, costuma
parar o indigente Belmiro, um sem-abrigo. Belmiro aceita todos os trabalhos que lhe
aparecem — mas que são poucos, porque Belmiro padece de uma deficiência física
incapacitante —, é sempre extremamente bem educado para com quem passa e, uma
vez, salvou a filha de Alípio de ser atropelada, puxando-a da estrada em que caíra.
Alípio nunca o auxiliou. Certo dia, Belmiro veio pedir dinheiro a Alípio para minorar a
fome que passava. Tem Alípio a obrigação natural — no sentido dado em direito civil
— de ajudar Belmiro? Suponha que Alípio entrega €1000 a Belmiro dizendo: «Toma!
Mereces isto ou mais!» Houve aqui uma doação?
o O regime das obrigações naturais está presente no artigo 402º a 404º
do CC, indicando que a obrigação natural é toda a obrigação que se funda
num mero dever de ordem moral ou social, cujo cumprimento não é
judicialmente exigível, correspondendo a um dever de justiça
o A característica fundamental é o facto de não ser judicialmente
exigível. Depois a doutrina procura desenvolver o conceito:
Almeida Costa – dever de ordem moral deve-se aproximar de um
dever de justiça
Antunes Varela – matriz seria constituída pelo dever de justiça,
sendo o dever moral ou social específico entre duas pessoas
Menezes Cordeiro – a justiça envolve moralidade. Ou seja, combinar
ideia de moralidade a uma juridicidade fundada na justiça (afirma
haver assim uma coercibilidade diminuída)
o Ter em atenção regra do artigo 403º - não há a repetição do
individuo no caso de cumprimento (modalidade de enriquecimento sem
causa), exceto se o devedor não tiver capacidade para prestar
o Iremos aplicar às obrigações naturais, as regras civis (artigo 404º)
excetuando em caso de haver lei especial
o A doutrina indica-nos que os casos de obrigações naturais, estão
todos presentes na lei, sendo que a lista é a seguinte:
Divida prescrita – é um dever moral por si duvidoso, pois
passados 20 anos o sentir social dirá que é justo não pagar ao
abrigo da prescrição
Dividas de jogo – são obrigações desde que derivem de contrato
licito, válidos, não havendo fraude na sua execução e não haja
legislação especial em contrário.
Prestação de alimentos (495/3) –
Dever dos pais de darem aos filhos parte dos proventos por estes
angariados pelo trabalho autorizado (1895/2)
Fiança dada a incapaz
Cumprimento, pelo fiador, de divida prescrita – subcaso da divida
prescrita (636/3)
Pagamento de dividas remitidas por credores concordatários
O caso apresentado não nos remete para nenhum destes casos, então não
estamos perante uma obrigação natural (A não tem nenhuma obrigação
natural perante B). não sendo um obrigação natural, questionamos se
estamos perante uma doação:
Há o enriquecido e um outro empobrecido
Há transferência patrimonial de uma esfera para a outra
Há espirito de liberalidade no ato (este é o requisito questionável,
teremos de interpretar o caso e as falas deles)