Você está na página 1de 5

TROCA ou Permuta

⮚ Noção: Consiste em um contrato que tem por objeto a transferência recíproca da


propriedade de coisas ou outros direitos entre os contratantes.
⮚ Regime aplicável:
o Não está regulada no CC. Surge no Código Comercial, mas no CC se
considerou que estava a cair em desuso.
o Portanto, o regime a ela aplicável é o do Art 939°, CC referente a
Compra e venda, com exceção das normas que não pressuponham uma
contrapartida pecuniária da alienação.
⮚ Exemplo: caso em que uma troca ou permuta acompanha uma compra e venda,
situação em que as partes convencionam uma contraprestação que em parte é
composta por uma coisa e em parte por quantia pecuniária. Como uma compra e
venda de automóvel em que comprador dá um carro de retoma. É uma troca em
parte por que contrapartida é um automóvel, mas se dá também uma quantia
pecuniária. Há várias posições, mas a da prof é que se trata de um contrato misto
de C e V e de troca. A cada uma das prestações haveria regras respetivas.

DOAÇÃO

⮚ Noção: Art 940°/1, CC. Contrato em que uma pessoa por espírito de liberalidade
e à custa de seu património, dispõe gratuitamente de uma coisa ou direito ou
assume uma obrigação em benefício do outro contraente.
o Doação em Portugal é um contrato que em função do princípio invito
beneficium non datur (ninguém pode ser beneficiado contra sua
vontade).
o Assim, salvo uma exceção (doações puras a incapazes – negócio jurídico
unilateral), em regra é um contrato, pressupondo proposta e aceitação.

⮚ Elementos constitutivos (são 3, caso prático: sempre começar por verificá-los).


o Atribuição patrimonial geradora de enriquecimento: disposição de
coisa ou direito, assunção de obrigação – mencionadas no artigo -, mas
também, por exemplo, remissão de dívidas do art 963° e sgts.
o Diminuição do patrimônio do doador (“empobrecimento do doador”
deve existir): não inclui a prestação de serviços gratuita (ex: ofereci para
fazer flores para o carro da queima de um amigo), também não inclui
comodato (ex: emprestei minha caneta, mas ela assim vai continuar na
minha propriedade).
o Espírito de liberalidade: atribuir o benefício a outrem por generosidade
ou espontaneidade. Este elemento não se presume, deve ser provado.
⮚ Não há doação (Art 940°/2):
o na renúncia a direitos: renúncia não implica que haja pessoa do outro
lado, nem uma liberalidade, mas tão somente a estabilização ou definição
de uma determinada situação.
o no repúdio de herança/legado: como por exemplo, o filho não quer
receber a herança (não há nenhuma vontade de beneficiar outrem por
altruísmo).
o nos donativos conformes aos usos sociais (que tem animus solvendi –
ânimo de que se estar a cumprir o que é devido, e não animus donandi).
Ex: dar um presente de casamento, uma gorjeta no restaurante.

Características do Contrato de Doação:

1. Contrato nominado e típico: lei lhe dá um nome e define um regime legal.


2. Contrato primordialmente formal
3. Contrato primordialmente consensual: consensual quanto à constituição do
contrato (normalmente não é necessária a entrega da coisa para a perfeição do
contrato – princípio da consensualidade).
4. Quanto aos efeitos pode ser real ou obrigacional: na noção dissemos que
consiste na transmissão de uma coisa ou de um direito, ou assunção de uma
dívida, então pode ter apenas direitos obrigacionais (exs: pai dá carro para o
filho, ou pai assume obrigação de pagar prestações de um carro no nome do
filho).
5. Contrato gratuito
6. Contrato não-sinalagmático: por ser gratuito.
7. Contrato que tanto pode ser de execução instantânea como periódica (Art
943°)

OBS [Art 941°]: também é doação a doação remuneratória. É considerada doação a


liberalidade remuneratória de serviços recebidos pelo doador que não tenham a natureza
de dívida exigível. Essa liberalidade tem a ver com por exemplo um médico que atende
sem cobrar a um paciente, mesmo que por exemplo, este paciente deixe um valor
simbólico por sua vontade. Lei entende que isto não é o pagamento de um preço, e vê o
ato como uma doação.

Objeto da doação (Art 942°):


o N°1: a doação não pode abranger bens futuros (aqueles que ainda não
pertencem à esfera jurídica do doador). Quer se proteger o próprio
doador contra sua precipitação, por não haver contrapartida econômica,
diferente da compra e venda.
o N°2: Se a doação incidir sobre uma universalidade de facto
(biblioteca, rebanho...) que continue no uso e fruição do doador,
consideram-se doadas, salvo declaração em contrário, as coisas
singulares que venham de futuro a integrar a universalidade. Duas
vicissitudes no contrato de Doação

A) [Art 956°/CC] – Doação de coisa alheia: é nula, mas o doador não pode opor a
nulidade ao donatário de boa-fé.
Na venda de bens alheios além da nulidade são geradas obrigações de
indemnização. Contudo, aqui isso não acontece, o doador só responde pelo
prejuízo causado ao donatário quando este esteja de boa fé e siga algum dos
requisitos do n° 2 do Art 956° do CC:
▪ Assumiu expressamente a obrigação de indemnizar o prejuízo
▪ O doador agiu dolosamente
▪ A doação tem caráter remuneratório
▪ A doação ser onerosa ou modal (impõe encargo, não é pura)

Em termos de responsabilidade, há uma responsabilidade menor do doador de


coisa alheia do que na venda de coisa alheia.

B) [Art 957°/CC] – Ónus ou vícios do direito ou da coisa doada: nesses casos o


doador não responde pelos ónus ou limitações do direito transmitido, nem pelos
vícios da coisa, exceto quando se tiver responsabilizado expressamente ou agido
dolosamente. A doação é sempre (havendo ou não responsabilidade), contudo,
anulável em qualquer caso, a requerimento do donatário de boa-fé (quem
recebe).

Estipulações Acessórias

[Art 960°/CC] – Cláusula de Reversão (Clause de Retour): é uma cláusula de retorno


do bem ao património do doador. Há uma condição resolutiva da doação: do doador
sobreviver ao donatário.

Ex: dou um imóvel a alguém, meu sobrinho, mas ele morre antes de mim – então eu
acautelo estabelecendo cláusula de reversão, para que se donatário morrer antes do
doador o bem volte para a esfera jurídica do doador.

Ex2: posso também estabelecer que haja reversão só se o doador sobreviver ao


donatário e a seus descendentes 🡪 se nada for convencionado acerca de quando ocorre a
reversão, o que se entende é esse caso, preservando o bem em determinada linha
familiar.
N°3: cláusula de reversão vai precisar ser registada se respeitar a imóveis ou móveis
sujeitos a registo, para ser oponível a terceiros.

[Art 961°] – Efeitos da Reversão: os bens doados que pela cláusula de reversão
regressem ao património do doador passam livres dos encargos que lhes tenham sido
impostos enquanto estiveram em poder do donatário ou de terceiros a quem tenham sido
transmitidos.

[Art 963°/CC] – Cláusulas Modais: são encargos para o donatário.

OBS: ressalva – o encargo posto na doação ao donatário nunca pode ser demasiado
oneroso, pois se não ficará descaracterizado o ato de doação. Não podemos ter uma
doação que não haja enriquecimento do donatário, nem uma que haja quase um
sinalagma entre o tio que dá a quinta e a sobrinha que fica a lá a trabalhar e pagar
alimentos ao tio durante a vida toda dele sendo ele jovem.

Modo é uma restrição imposta ao beneficiário da liberalidade que o obriga à realização


de determinada prestação, no interesse do autor da liberalidade, de terceiro ou do
próprio beneficiário.

Revogação da Doação

Apesar da ideia do pacta sunt servanda que os contratos são para cumprir e irrevogáveis
por vontade unilateral de uma das partes, na doação que levará a disposições
patrimoniais muito relevantes para uma pessoa, também não é possível extinguir o
contrato por resolução.

Por isso o legislador veio a permitir a extinção da doação através da revogação:

▪ Art 970° - por ingratidão do donatário. A única possibilidade é através dessa


ingratidão. Única salvaguarda que o doador tem é essa.
▪ Art 977° - Impossibilidade de renúncia antecipada: doador não pode
antecipadamente renunciar a seu direito de revogar a doação por ingratidão do
donatário.
▪ Art 974° - A doação pode ser revogada por ingratidão quando o donatário se
torne incapaz, por indignidade, de suceder ao doador, ou quando se verifique
alguma das ocorrências que justificam a deserdação.
▪ Ingratidão tem sentido técnico: somente os casos de indignidade sucessória
ou deserdação para o direito testamentário. Não é o sentido corrente da palavra,
não é por exemplo a sobrinha ter parado de falar com o tio, isso seria somente
ingratidão social e não jurídica.
▪ Indignidade Sucessória – Art 2134°: se donatário é condenado por matar ou
caluniar ou doador, se é responsável por dolosa ou coativamente induzir a
mudança testamentária pelo doador, ou se dolosamente modificou o testamento
ou subtraiu antes ou depois do doador-sucessor morrer. Enquanto não houver
condenação não há indignidade sucessória. Aqui situações são limitadíssimas.
▪ Deserdação – Art 2166°: Aqui situações são um pouco mais amplas. Implica
condenação pela condenação do donatário por algum crime doloso contra pessoa
bens ou honra do doador/seu cônjuge/descendente/ascendente/adotado/adotante
se o crime tem pena superior a seis meses de prisão. Ou ter sido condenado por
calúnia ou falso testemunho contra alguma dessas pessoas, ou se o donatário
sem justa causa recusou ao doador ou seu cônjuge devidos alimentos (lembre do
exemplo da sobrinha que para de pagar alimentos ao tio, pode ser alvo de ação
de revogação)...

Exclusão da revogação – Art 975°: Se for feita para casamento, se for remuneratória,
se doador tiver perdoado o donatário.

Prazo e Legitimidade para ação – Art 976°: Não pode ser proposta nem depois da
morte do donatário, nem pelos herdeiros do doador (salvo no caso do homicídio).
Caduca ao fim de um ano desde o facto que lhe deu causa ou de conhecimento do fato
pelo doador. Lembrando que o fato é a “condenação em...”. É uma decisão pessoal do
doador. Se ele intentar a ação e depois morrer (estando pendente), esta é transmissível
aos herdeiros do doador.

Efeitos da Revogação – Art 978°: retrotraem-se à data da propositura da ação. Se


liberalidade vier a ser revogada os bens devem ser devolvidos ao doador ou herdeiros no
estado em que se encontravam. Se tiverem sido alienados a terceiro e por algum motivo
não puderem ser restituídos em espécie, vai entregar o valor que tinham ao tempo em
que foram alienados ou a impossibilidade se verificou.

Efeitos em Relação a Terceiros – Art 879°: não afeta terceiros que tenham adquirido
antes da demanda direitos reais sobre os bens doados, sem prejuízo das regras relativas
a registo (tem que ter registado os sujeitos a isso). Contudo, apesar de prevalecerem os
terceiros, nesse caso o donatário vai ter de indemnizar o doador.

Você também pode gostar