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Contratos I – resumos

Secção 3 Do contrato de doação

1. Noção e aspetos gerais

A doação encontra-se regulada no artigo 940º CC que a define como “o contrato pelo
qual uma pessoa, por espírito de liberalidade e à custa do seu património, dispõe
gratuitamente de uma coisa ou de um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do
outro contraente”.

O nosso direito qualificou expressamente a doação como um contrato.

Regra geral a doação tem caráter contratual, pelo que necessita de proposta e
aceitação. O artigo 945º nº1, determina que a proposta apenas caduca se não for aceite em
vida do doador – 945º nº1 e 969º nº2. O donatário tem assim, o tempo correspondente à vida
do doador para aceitar a proposta de doação, salvo se o doador, entretanto, a revogar – 969º
nº1.

2. Elementos constitutivos do contrato de doação

2.2. Atribuição patrimonial geradora de enriquecimento

Existência de um ato que atribua a outrem uma concreta vantagem patrimonial. Essa
atribuição patrimonial pode consistir, quer na disposição de uma coisa ou de um direito, quer
na assunção de uma obrigação. O donatário sofre um incremento no seu património no seu
património. Também a remissão de dívidas do donatário, referida no artigo 863º nº2, integra o
conceito de enriquecimento.

Essencial é apenas que se verifique uma valorização do património do beneficiário,


seja qual for a forma por que se opere essa valorização.

2.3. Diminuição do património do doador

“à custa do seu património” – supõe uma efetiva diminuição patrimonial, sem o que
não se estará perante uma doação.

2.4. Espírito de liberalidade

Exista a intenção de atribuir o correspondente benefício a outrem por simples


generosidade ou espontaneidade, e não em qualquer outra intenção como, por exemplo, o
cumprimento de um dever.

O doador deve através do seu ato pretender beneficiar o donatário, podendo, no


entanto, esse fim concorrer com outros intuitos ou expetativas, embora estes sejam
considerados meros motivos do ato e, por isso, irrelevantes.

O espírito de liberalidade assim consiste no fim direto de atribuir um benefício ao


donatário, provocando o seu enriquecimento, e que a doutrina tem identificado como a causa
jurídica da doação.

Sempre que não seja visível o espírito de liberalidade, o ato não estará em condições
de ser qualificado como doação.
3. Caraterísticas qualificativas do contrato de doação

3.1. Contrato nominado e típico

A lei reconhece como categoria jurídica, definindo-o no artigo 940º, daí ser nominado.
E típico porque lhe estabelece um regime jurídico nos artigos 940º a 979º CC.

3.2. Contrato primordialmente formal

O artigo 947º nº1 sujeita a doação de coisas imóveis à forma de escritura pública ou
documento particular autenticado e o artigo 947º nº2 a doação de móveis à coisa escrita. Esta
última forma é dispensada, no caso de a doação de coisas móveis ser acompanhada de
tradição da coisa doada, caso em que a celebração do contrato e a sua execução ocorrem
simultaneamente.

3.3. Contrato primordialmente consensual

A lei prevê expressamente a existência de uma obrigação de entrega por parte do


doador – artigo 945º b) – o que significa que não associa a constituição do contrato à entrega
da coisa, admitindo a sua vigência antes de a coisa ser entregue.

3.4. Contrato que tanto pode ser obrigacional como real quoad effectum, isolada ou
conjuntamente

A situação mais comum é a doação ser tanto um contrato real quoad effectum como
obrigacional, na medida em que se transmite a propriedade da coisa ou a titularidade do
direito para o donatário – artigo 954º a) – ao mesmo tempo que se onera o doador com a
obrigação de entregar a coisa – artigo 954º b). Mas a doação pode ser um contrato
estritamente obrigacional, se o doador se limitar a assumir uma obrigação em benefício do
outro contraente – artigo 940º in fine e 954º c). para além disso, a doação pode ser real quoad
effectum sem gerar quaisquer obrigações, como sucederá numa doação manual de coisas
móveis.

3.5. Contrato gratuito

Nele não existe qualquer contrapartida pecuniária em relação à transmissão dos bens
ou à assunção de obrigações, importando assim apenas sacrifícios económicos para uma das
partes, o doador.

3.6. Contrato não sinalagmático

Só faz surgir obrigações para uma das partes

3.7. Contrato que tanto pode ser de execução instantânea como periódica

É normalmente de execução instantânea, uma vez que a atribuição patrimonial do


doador não tem, em princípio, o seu conteúdo e extensão delimitado em função do tempo. No
artigo 943º, a lei admite, porém, a possibilidade a doação abranger prestações periódicas, caso
em que naturalmente estaremos perante um contrato de execução periódica.

4. Objeto da doação
O artigo 942º nº1, refere-nos que a doação não pode abranger bens futuros. Esta
proibição compreende-se porque, se alguém efetuasse uma doação relativamente a bens que
ainda não adquiriu, embora o contasse posteriormente fazer, poderia não estar totalmente
seguro das implicações do seu ato, e vir a arrepender-se aquando da futura aquisição do bem.

A doação implica uma diminuição do património do doador, coisa que não se verifica
se ele se limitar a prescindir de um bem que ainda não adquiriu.

Nos termos do artigo 942º nº2, a proibição da doação de bens futuros não abrange, no
entanto, o caso em que a doação incide sobre uma universalidade de facto que continue no
uso e fruição do doador, caso em que se consideram doadas, salvo estipulação em contrário,
as coisas singulares que vierem a integrar a universalidade. Efetivamente, em casos como o da
doação de uma biblioteca ou de um rebanho, o que o doador transmite é uma coisa composta
(artigo 206º), a qual, apesar de compreender um conjunto de coisas singulares, é objeto de um
destino unitário.

Uma outra regulação do objeto da doação é a disposição do artigo 943º, que


determina que “a doação que tiver por objeto prestações periódicas extingue-se por morte do
doador”. Há neste caso a oferta de um direito de crédito correspondente a obrigações
duradoura periódicas. A lei determina que a doação de prestações periódicas se extinga por
morte do doador. Para Pires de Lima e Antunes Varela, esta disposição deve ter-se como
imperativa.

Temos ainda que considerar a disposição interpretativa do artigo 944º, que se refere à
doação conjunta, esclarecendo o nº1 que “a doação feita a várias pessoas conjuntamente
considera-se feita por partes iguais, sem que haja direito de acrescer entre os donatários, salvo
se o doador tiver declarado o contrário”. A lei estabelece que neste caso se deve presumir não
apenas que são iguais as partes que competem a cada um dos donatários mas também que, se
algum deles não quiser ou não puder aceitar a doação, não acresce a sua parte aos restantes,
mas antes se mantém na titularidade do doador, não vigorando assim o regime do direito de
acrescer, estabelecido em matéria testamentária.

5. Forma do contrato de doação

A doação é um contrato normalmente sujeito a forma especial, sendo


consequentemente nulo se não respeitar essa forma – artigo 220º.

Se o contrato de doação tiver por objeto bens imóveis, o artigo 947º nº1 determina
que ele só é válido se for celebrado por escritura pública ou documento particular autenticado.

Se a doação tiver por objeto bens imóveis, a lei exige a forma escrita, a menos que
ocorra a tradição da coisa concomitantemente ao ato – artigo 947º nº2. A dispensa de forma
escrita apenas ocorre na doação de coisas móveis acompanhada de tradição de coisa,
constituindo, porém, nesse caso a tradição uma formalidade essencial ao contrato – artigo
947º nº2 in fine - , não se podendo considerar válida a doação se esta não se verificar.

A exigência de forma especial ou da formalidade da tradição da coisa justifica-se pela


necessidade de assegurar a seriedade da intenção do doador, evitando assim que um contrato
que lhe impõe um sacrifício patrimonial possa resultar de declarações precipitadas.

6. A formação do contrato

6.1. Processo de formação do contrato de doação


A lei admite que a doação seja celebrada, quer entre presentes, quer entre ausentes.
No entanto, neste último caso a proposta da doação não caduca pelo decurso dos prazos
fixados no artigo 228º, apenas se verificando essa caducidade se não for aceite em vida do
doador – artigo 945º nº1.

Em consequência dessa solução, o recetor de uma proposta de doação, não tem o


ónus de a aceitar logo, podendo vir a fazê-lo muito mais tarde, inclusivamente anos depois de
a proposta ter sido formulada. No entanto, enquanto a proposta de doação não for aceite o
doador pode proceder à sua revogação – artigo 969º.

O donatário pode aceitar a proposta de doação enquanto o doador for vivo – artigo
945º nº1.

Uma vez emitida a aceitação, esta terá que ser declarada ao doador sob pena de não
produzir os seus efeitos – artigo 945º nº3. O contrato só se considera concluído com a receção
ou conhecimento da aceitação pelo doador – artigo 224º nº1.

O artigo 696º nº1, impõe que a revogação da proposta da doação observe as


formalidades desta.

Se se tiver verificado a tradição da coisa móvel para o donatário, ou do seu título


representativo, a receção por este do objeto doado é considerada como aceitação, não sendo
assim necessária a prática de mais qualquer ato. Já em caso de doação pura feita a incapaz –
artigo 951º nº2 – ou a nascituro – artigo 952º - o contrato produzirá efeitos mesmo sem a
aceitação.

6.2. Capacidade ativa e passiva para o contrato de doação

A lei prevê regras especiais em relação à capacidade para efetuar doações –


capacidade ativa – ou para receber doações – capacidade passiva – reguladas nos artigos 948º
e ss.

a) capacidade ativa para as doações

Do artigo 948º nº1 resulta que a lei equipara a capacidade ativa nas doações à
capacidade contratual geral – artigo 67º - da qual são apenas excluídos os menores (122º), os
interditos (138º) e os inabilitados (152º). No âmbito da doação, a incapacidade não pode ser
suprida pelo poder paternal ou pela tutela.

A capacidade é regulada pelo estado em que o doador se encontrar ao tempo da


declaração negocial – 948º nº2. Efetivamente, sabendo-se que a proposta de doação apenas
caduca se não for aceita em vida do doador – 969º - podem ocorrer alterações na capacidade
do doador entre o momento em que faz a declaração negocial e aquele em que o contrato
vem a ser concluído.

Em relação à capacidade das pessoas coletivas para fazer doações, há que aplicar o
princípio da especialidade, previsto no artigo 160º.

Assim, se a realização de liberalidades se encontrar entre os fins da pessoa coletiva,


como por exemplo, no caso de uma fundação ser instituída com fins de beneficência, esta
poderá naturalmente fazer doações. Já no caso das pessoas coletivas com fim económico
interessado, como na hipótese das sociedades (980º) parece que a realização de liberalidades
se apresentará como contrária ao seu fim específico que é a repartição de lucros entre os
sócios. Já uma sociedade comercial a lógica será que as liberalidades que possam ser
consideradas usuais, segundo as circunstâncias da época e as condições da própria sociedade
não são havidas como contrárias ao fim desta.

b) capacidade passiva para as doações

Segundo o artigo 950º nº1, podem receber por doação todos os que não estão
especialmente inibidos de as aceita por disposição da lei, acrescentando o nº2 que a
capacidade do donatário é fixada no momento da aceitação. Há uma situação de capacidade
genérica para a receção de doações, o que bem se compreende, uma vez que esse ato é
considerado de mera administração.

Em função de a receção da doação apenas poder beneficiar o donatário, a lei afastou-


se do regime geral estabelecido para o suprimento da incapacidade em relação a este ato.
Assim, em relação às doações puras (ou seja, aquelas que não têm encargos) feitas a incapazes
vem a lei estabelecer que elas produzem efeitos independentemente de aceitação em tudo o
que aproveitar ao donatário – artigo 951º nº2.

Já em relação às doações com encargos, mantém-se a necessidade de aceitação, pelo


que a realização deste tipo de doação exige a intervenção dos representantes legais do
donatário, para aceitarem a doação em nome deste – artigo 951º nº1.

Através do artigo 952º, a lei atribui ainda capacidade para receber doações aos
nascituros concebidos e não concebidos, desde que sejam filhos de pessoa determinada, viva
no momento da declaração de vontade do doador.

Em se tratando de uma doação pura, parece dever-se aplicar a regra do artigo 951º
nº2, produzindo assim a doação efeitos independentemente de aceitação, em tudo o que
aproveite ao donatário. Já se tratando de uma doação com encargos, caberá aos pais, como
representantes do nascituro, a competência para aceitar a doação, sendo, porém, necessária
autorização do MP.

O artigo 952º nº2 vem ainda determinar que na doação a nascituros presume-se que o
doador reserva para si o usufruto dos bens doados até ao nascimento do donatário.

Atualmente, os pais não têm qualquer usufruto legal sobre os bens dos filhos,
cabendo-lhe, no entanto, ainda que nascituros, representá-los e administrar os seus bens –
artigo 1878º nº1.

6.3. O mandato para doar

A lei proíbe também a atribuição por mandato da faculdade de escolha do donatário


ou da designação do objeto da doação, o que se compreende em virtude de a doação
pressupor uma relação direta entre o espírito de liberalidade daquele que sacrifica o seu
património e o que vem a ser enriquecido por essa via.

Pelo mesmo motivo não se admite a atribuição ao mandatário da faculdade de


escolher por sua iniciativa o objeto da doação.

O mandato para doar deve assim incluir a designação da pessoa do donatário e o


objeto da doação, sendo considerado um mandato especial, por força do artigo 1159º nº1.

6.4. O contrato-promessa de doação


Para alguns autores, não seria este um negócio admissível em virtude de, por um lado
se pôr em causa o requisito de espontaneidade, que se considera dever presidir à doação e,
por outro lado, a ser admissível o negócio, ele valeria logo como doação – artigo 954º c) -, não
sendo consequentemente, um verdadeiro contrato-promessa, além de que a promessa de
doação poderia pôr em causa a proibição da doação de bens futuros – artigo 942º. A resposta
da maioria da doutrina tem sido, porém, no sentido da admissibilidade do negócio, por se
considerar que, além de a figura se encontrar expressamente prevista em Códigos
estrangeiros, o requisito da espontaneidade não é posto em causa, uma vez que o contrato-
promessa de doação é espontânea, participando o contrato definitivo por arrastamento da
mesma caraterística.

Antunes Varela sustenta não apenas o caráter vinculativo do contrato-promessa de


doação, mas também que a execução da promessa, não sendo uma segunda doação, participa
da primeira. A seu ver, no exemplo da promessa de doação do imóvel, haverá que distinguir
entre a doação do crédito à celebração do contrato prometido e a doação do imóvel em si.

Parece claro que, em face do artigo 954º c), o contrato-promessa de doação tem que
ser qualificado como doação, sujeito naturalmente às mesmas regras.

Reconhecida a admissibilidade do contrato-promessa de doação, há que esclarecer


qual a respetiva forma. Se a promessa respeitar à doação de um imóvel, a transmissão deste
terá quê ser concretizada por escritura pública ou documento particular autenticado, nos
termos do artigo 947º nº1, pelo que o contrato-promessa de doação terá que ser realizado por
escrito, nos termos do artigo 410º nº2 CC. Se a promessa de doação respeitar a outros direitos,
também parece que deverá ser exigida a forma escrita, dado que o artigo 947º nº2 o exige
para toda e qualquer doação que não seja realizada mediante a tradição da coisa.

7. Invalidade e confirmação da doação

A doação pode ser nula, seja porque não obedeceu à forma legal – artigo 947º, seja
porque se verifica uma situação de indisponibilidade relativa – artigo 953º.

O artigo 968º estabelece que não pode prevalecer-se da doação o herdeiro do doador
que a confirme depois da morte deste ou lhe dê voluntária execução, conhecendo o vício e o
direito à declaração da nulidade.

A confirmação prevista no artigo 968º, pode ser expressa ou tácita nos termos gerais –
artigo 217º, referindo o legislador expressamente um caso de declaração tácita que é a
voluntária execução da doação por parte do herdeiro do doador. A confirmação pressupõe,
porém, em qualquer caso o conhecimento do vício e do direito à declaração da nulidade.
Assim, se o herdeiro manifestar concordância com a doação, ou proceder voluntariamente à
execução desta, sem saber da existência do vício ou do seu direito à invocação da nulidade,
não ficará por isso impedido de a invocar a partir do momento em que dela tomou
conhecimento.

8. Efeitos da doação

8.1. Generalidades

O artigo 954º indica os efeitos da doação:

o A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito


o A obrigação de entregar a coisa
o A assunção da obrigação, quando for esse o objeto do contrato

No primeiro caso, a doação é um contrato real quoad effectum, gerando, nos termos
do artigo 408º nº1, a transmissão automática

Secção 2 Do contrato de mandato


1. Generalidades. Nota histórica

O mandato é descrito no artigo 1157º como o contrato pelo qual alguém se obriga a
praticar um ou mais atos jurídicos por conta da outra.

2. Elementos essenciais do contrato de mandato

2.1. Obrigação de praticar um ou mais atos jurídicos

O mandato assume a obrigação de praticar atos jurídicos. Não é, portanto, mandato, o


contrato no qual a obrigação assumida tenha por conteúdo atos materiais ou intelectuais,
estando-se neste caso perante a prestação de serviços atípica – artigo 1154º.

Os atos jurídicos objeto do mandato são normalmente negócios jurídicos, mas podem
igualmente ser simples atos jurídicos. Tanto há mandato quando alguém encarrega outrem de
comprar ou vender um bem, arrendar um imóvel, celebrar um mútuo ou uma prestação de
serviços, como quando alguém encarrega outrem de interpelar os seus devedores ou pagar
aos seus credores.

2.2. Atuação do mandatário por conta do mandante

Não basta, porém, para caraterizar o mandato que exista a obrigação de celebrar atos
jurídicos, uma vez que esta pode resultar de vários outros contratos. É ainda necessário que os
referidos atos jurídicos sejam realizados por conta do mandante.

A repercussão dos efeitos jurídicos na esfera do mandante pode, porém, ocorrer por
duas formas, consoante se trate de mandato com ou sem representação. No mandato com
representação, os atos jurídicos praticados pelo mandatário em nome do mandante produzem
os seus efeitos diretamente na esfera jurídica deste último – artigo 1178º e 258º. Já no
mandato sem representação, os atos jurídicos praticados pelo mandatário produzem os seus
efeitos na esfera jurídica deste – artigo 1180º, sendo necessário um posterior ato de
transmissão para que os direitos correspondentes possam ser adquiridos pelo mandante –
artigo 1180º nº1. Em ambos os casos existe, no entanto, uma atuação por conta do mandante,
já que, quer por via direta, quer por via indireta, vem a ser o mandante o destinatário final dos
efeitos dos atos celebrados pelo mandatário.

3. Caraterísticas qualificativas do contrato de mandato

3.1. Contrato nominado e típico

A lei reconhece a sua categoria e estabelece o seu regime nos artigos 1157º e
seguintes do CC

3.2. Contrato primordialmente não formal


A lei não exige forma especial. Apenas o mandato judicial é sujeito a uma forma
especial, nos termos do artigo 43º CPC. No entanto, a procuração é sujeita a forma especial,
atento o que se dispõe no artigo 262º nº2, o que implica que quando o mandato seja
associado à procuração – artigo 1178º e seguintes, pelo menos esta terá que revestir forma
especial. Já o mandato sem representação (artigo 1180º e ss) não é sujeito a forma especial.

3.3. Contrato que tanto pode ser gratuito como oneroso

O atual CC vem estabelecer uma presunção de gratuitidade do mandato – artigo 1158º


nº1. Essa presunção é, no entanto, limitada às situações em que o mandato não tem por
objeto atos que o mandatário pratique por profissão, já que no caso contrário vigora a
presunção inversa. Presume-se oneroso o mandato que envolva atos que o mandatário
pratique por profissão e presume-se gratuito o mandato estranho à atividade profissional do
mandatário. Ambas as presunções são, no entanto, ilidíveis por prova em contrário – artigo
350º nº2. No mandato comercial, pelo contrário, o artigo 232º CComercial parece consagrar
injuntivamente a regra da onerosidade, não se limitando a derrogar a presunção de
gratuitidade que vigora no âmbito civil.

Em caso de onerosidade do mandato, a retribuição é estabelecida, em primeiro lugar,


com base no acordo das partes. Se faltar este, aplicar-se-ão as tarifas profissionais. Na falta
destas, a situação será regulada pelos usos e, apenas se mais nenhum critério for aplicável,
haverá que recorrer aos juízos de equidade – artigo 1158º nº2.

3.4. contrato sinalagmático ou sinalagmático imperfeito

Consoante constitua um mandato oneroso ou gratuito.

O mandato oneroso é um contrato sinalagmático, na medida em que gera obrigações


recíprocas para ambas as partes. A obrigação do mandante em pagar a retribuição devida –
artigo 1167º b), encontra-se em correspetividade com a obrigação do mandatário em executar
o mandato – artigo 1161º a).

Já o mandato gratuito é um contrato sinalagmático imperfeito. Efetivamente, apesar


de gerar obrigações tanto para o mandante (1167º a), c) e d)) como para o mandatário
(1161º), a verdade é que as obrigações do mandante não se encontram num nexo de
correspetividade com as obrigações do mandatário, tendo por fundamento factos acidentais,
distintos da obrigação de executar o mandato.

4. Forma do contrato de mandato

O mandato é em princípio um contrato consensual, dado que a lei não exige forma
especial. Excetua-se apenas o mandato judicial, sujeito a forma especial, nos termos do artigo
43º CPC, a qual corresponde à de instrumento público ou documento particular.

A procuração é sujeita a forma especial, atento o que se dispõe no artigo 262º nº2,
que a sujeita em princípio à forma do negócio que o procurador deva realizar. Esta disposição
tem que ser conjugada com o artigo 116º nº1 do CN, que estabelece que as procurações que
exijam internacional notarial podem ser lavradas por instrumento público, por documento
escrito e assinado pelo representado com reconhecimento presencial da letra e assinatura ou
por documento autenticado.
Quando o mandato seja associado à procuração, como sucede no mandato por
representação – artigo 1178º e ss, naturalmente que terá que ser adotada esta forma, para
que o negócio possa vir a ser celebrado validamente. Mesmo nesses casos, porém, é a
procuração e não o mandato que tem que obedecer à forma especial.

Já o mandato sem representação – artigo 1180º e ss – não é sujeito a forma especial.


Tem-se, porém, entendido que terá que obedecer à forma do contrato-promessa – artigo 410º
nº2, para que a obrigação de transferir os bens por parte do mandatário – artigo 1181º nº1 –
possa ser sujeita à execução específica prevista no artigo 830º.

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