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A doação encontra-se regulada no artigo 940º CC que a define como “o contrato pelo
qual uma pessoa, por espírito de liberalidade e à custa do seu património, dispõe
gratuitamente de uma coisa ou de um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do
outro contraente”.
Regra geral a doação tem caráter contratual, pelo que necessita de proposta e
aceitação. O artigo 945º nº1, determina que a proposta apenas caduca se não for aceite em
vida do doador – 945º nº1 e 969º nº2. O donatário tem assim, o tempo correspondente à vida
do doador para aceitar a proposta de doação, salvo se o doador, entretanto, a revogar – 969º
nº1.
Existência de um ato que atribua a outrem uma concreta vantagem patrimonial. Essa
atribuição patrimonial pode consistir, quer na disposição de uma coisa ou de um direito, quer
na assunção de uma obrigação. O donatário sofre um incremento no seu património no seu
património. Também a remissão de dívidas do donatário, referida no artigo 863º nº2, integra o
conceito de enriquecimento.
“à custa do seu património” – supõe uma efetiva diminuição patrimonial, sem o que
não se estará perante uma doação.
Sempre que não seja visível o espírito de liberalidade, o ato não estará em condições
de ser qualificado como doação.
3. Caraterísticas qualificativas do contrato de doação
A lei reconhece como categoria jurídica, definindo-o no artigo 940º, daí ser nominado.
E típico porque lhe estabelece um regime jurídico nos artigos 940º a 979º CC.
O artigo 947º nº1 sujeita a doação de coisas imóveis à forma de escritura pública ou
documento particular autenticado e o artigo 947º nº2 a doação de móveis à coisa escrita. Esta
última forma é dispensada, no caso de a doação de coisas móveis ser acompanhada de
tradição da coisa doada, caso em que a celebração do contrato e a sua execução ocorrem
simultaneamente.
3.4. Contrato que tanto pode ser obrigacional como real quoad effectum, isolada ou
conjuntamente
A situação mais comum é a doação ser tanto um contrato real quoad effectum como
obrigacional, na medida em que se transmite a propriedade da coisa ou a titularidade do
direito para o donatário – artigo 954º a) – ao mesmo tempo que se onera o doador com a
obrigação de entregar a coisa – artigo 954º b). Mas a doação pode ser um contrato
estritamente obrigacional, se o doador se limitar a assumir uma obrigação em benefício do
outro contraente – artigo 940º in fine e 954º c). para além disso, a doação pode ser real quoad
effectum sem gerar quaisquer obrigações, como sucederá numa doação manual de coisas
móveis.
Nele não existe qualquer contrapartida pecuniária em relação à transmissão dos bens
ou à assunção de obrigações, importando assim apenas sacrifícios económicos para uma das
partes, o doador.
3.7. Contrato que tanto pode ser de execução instantânea como periódica
4. Objeto da doação
O artigo 942º nº1, refere-nos que a doação não pode abranger bens futuros. Esta
proibição compreende-se porque, se alguém efetuasse uma doação relativamente a bens que
ainda não adquiriu, embora o contasse posteriormente fazer, poderia não estar totalmente
seguro das implicações do seu ato, e vir a arrepender-se aquando da futura aquisição do bem.
A doação implica uma diminuição do património do doador, coisa que não se verifica
se ele se limitar a prescindir de um bem que ainda não adquiriu.
Nos termos do artigo 942º nº2, a proibição da doação de bens futuros não abrange, no
entanto, o caso em que a doação incide sobre uma universalidade de facto que continue no
uso e fruição do doador, caso em que se consideram doadas, salvo estipulação em contrário,
as coisas singulares que vierem a integrar a universalidade. Efetivamente, em casos como o da
doação de uma biblioteca ou de um rebanho, o que o doador transmite é uma coisa composta
(artigo 206º), a qual, apesar de compreender um conjunto de coisas singulares, é objeto de um
destino unitário.
Temos ainda que considerar a disposição interpretativa do artigo 944º, que se refere à
doação conjunta, esclarecendo o nº1 que “a doação feita a várias pessoas conjuntamente
considera-se feita por partes iguais, sem que haja direito de acrescer entre os donatários, salvo
se o doador tiver declarado o contrário”. A lei estabelece que neste caso se deve presumir não
apenas que são iguais as partes que competem a cada um dos donatários mas também que, se
algum deles não quiser ou não puder aceitar a doação, não acresce a sua parte aos restantes,
mas antes se mantém na titularidade do doador, não vigorando assim o regime do direito de
acrescer, estabelecido em matéria testamentária.
Se o contrato de doação tiver por objeto bens imóveis, o artigo 947º nº1 determina
que ele só é válido se for celebrado por escritura pública ou documento particular autenticado.
Se a doação tiver por objeto bens imóveis, a lei exige a forma escrita, a menos que
ocorra a tradição da coisa concomitantemente ao ato – artigo 947º nº2. A dispensa de forma
escrita apenas ocorre na doação de coisas móveis acompanhada de tradição de coisa,
constituindo, porém, nesse caso a tradição uma formalidade essencial ao contrato – artigo
947º nº2 in fine - , não se podendo considerar válida a doação se esta não se verificar.
6. A formação do contrato
O donatário pode aceitar a proposta de doação enquanto o doador for vivo – artigo
945º nº1.
Uma vez emitida a aceitação, esta terá que ser declarada ao doador sob pena de não
produzir os seus efeitos – artigo 945º nº3. O contrato só se considera concluído com a receção
ou conhecimento da aceitação pelo doador – artigo 224º nº1.
Do artigo 948º nº1 resulta que a lei equipara a capacidade ativa nas doações à
capacidade contratual geral – artigo 67º - da qual são apenas excluídos os menores (122º), os
interditos (138º) e os inabilitados (152º). No âmbito da doação, a incapacidade não pode ser
suprida pelo poder paternal ou pela tutela.
Em relação à capacidade das pessoas coletivas para fazer doações, há que aplicar o
princípio da especialidade, previsto no artigo 160º.
Segundo o artigo 950º nº1, podem receber por doação todos os que não estão
especialmente inibidos de as aceita por disposição da lei, acrescentando o nº2 que a
capacidade do donatário é fixada no momento da aceitação. Há uma situação de capacidade
genérica para a receção de doações, o que bem se compreende, uma vez que esse ato é
considerado de mera administração.
Através do artigo 952º, a lei atribui ainda capacidade para receber doações aos
nascituros concebidos e não concebidos, desde que sejam filhos de pessoa determinada, viva
no momento da declaração de vontade do doador.
Em se tratando de uma doação pura, parece dever-se aplicar a regra do artigo 951º
nº2, produzindo assim a doação efeitos independentemente de aceitação, em tudo o que
aproveite ao donatário. Já se tratando de uma doação com encargos, caberá aos pais, como
representantes do nascituro, a competência para aceitar a doação, sendo, porém, necessária
autorização do MP.
O artigo 952º nº2 vem ainda determinar que na doação a nascituros presume-se que o
doador reserva para si o usufruto dos bens doados até ao nascimento do donatário.
Atualmente, os pais não têm qualquer usufruto legal sobre os bens dos filhos,
cabendo-lhe, no entanto, ainda que nascituros, representá-los e administrar os seus bens –
artigo 1878º nº1.
Parece claro que, em face do artigo 954º c), o contrato-promessa de doação tem que
ser qualificado como doação, sujeito naturalmente às mesmas regras.
A doação pode ser nula, seja porque não obedeceu à forma legal – artigo 947º, seja
porque se verifica uma situação de indisponibilidade relativa – artigo 953º.
O artigo 968º estabelece que não pode prevalecer-se da doação o herdeiro do doador
que a confirme depois da morte deste ou lhe dê voluntária execução, conhecendo o vício e o
direito à declaração da nulidade.
A confirmação prevista no artigo 968º, pode ser expressa ou tácita nos termos gerais –
artigo 217º, referindo o legislador expressamente um caso de declaração tácita que é a
voluntária execução da doação por parte do herdeiro do doador. A confirmação pressupõe,
porém, em qualquer caso o conhecimento do vício e do direito à declaração da nulidade.
Assim, se o herdeiro manifestar concordância com a doação, ou proceder voluntariamente à
execução desta, sem saber da existência do vício ou do seu direito à invocação da nulidade,
não ficará por isso impedido de a invocar a partir do momento em que dela tomou
conhecimento.
8. Efeitos da doação
8.1. Generalidades
No primeiro caso, a doação é um contrato real quoad effectum, gerando, nos termos
do artigo 408º nº1, a transmissão automática
O mandato é descrito no artigo 1157º como o contrato pelo qual alguém se obriga a
praticar um ou mais atos jurídicos por conta da outra.
Os atos jurídicos objeto do mandato são normalmente negócios jurídicos, mas podem
igualmente ser simples atos jurídicos. Tanto há mandato quando alguém encarrega outrem de
comprar ou vender um bem, arrendar um imóvel, celebrar um mútuo ou uma prestação de
serviços, como quando alguém encarrega outrem de interpelar os seus devedores ou pagar
aos seus credores.
Não basta, porém, para caraterizar o mandato que exista a obrigação de celebrar atos
jurídicos, uma vez que esta pode resultar de vários outros contratos. É ainda necessário que os
referidos atos jurídicos sejam realizados por conta do mandante.
A repercussão dos efeitos jurídicos na esfera do mandante pode, porém, ocorrer por
duas formas, consoante se trate de mandato com ou sem representação. No mandato com
representação, os atos jurídicos praticados pelo mandatário em nome do mandante produzem
os seus efeitos diretamente na esfera jurídica deste último – artigo 1178º e 258º. Já no
mandato sem representação, os atos jurídicos praticados pelo mandatário produzem os seus
efeitos na esfera jurídica deste – artigo 1180º, sendo necessário um posterior ato de
transmissão para que os direitos correspondentes possam ser adquiridos pelo mandante –
artigo 1180º nº1. Em ambos os casos existe, no entanto, uma atuação por conta do mandante,
já que, quer por via direta, quer por via indireta, vem a ser o mandante o destinatário final dos
efeitos dos atos celebrados pelo mandatário.
A lei reconhece a sua categoria e estabelece o seu regime nos artigos 1157º e
seguintes do CC
O mandato é em princípio um contrato consensual, dado que a lei não exige forma
especial. Excetua-se apenas o mandato judicial, sujeito a forma especial, nos termos do artigo
43º CPC, a qual corresponde à de instrumento público ou documento particular.
A procuração é sujeita a forma especial, atento o que se dispõe no artigo 262º nº2,
que a sujeita em princípio à forma do negócio que o procurador deva realizar. Esta disposição
tem que ser conjugada com o artigo 116º nº1 do CN, que estabelece que as procurações que
exijam internacional notarial podem ser lavradas por instrumento público, por documento
escrito e assinado pelo representado com reconhecimento presencial da letra e assinatura ou
por documento autenticado.
Quando o mandato seja associado à procuração, como sucede no mandato por
representação – artigo 1178º e ss, naturalmente que terá que ser adotada esta forma, para
que o negócio possa vir a ser celebrado validamente. Mesmo nesses casos, porém, é a
procuração e não o mandato que tem que obedecer à forma especial.