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Hipótese III.

a.)

No caso em apreço, estamos perante um caso sobre a obrigação natural. E pretende saber
se H e I poderão obrigar a organização da semana académica de Lisboa a fazer a entrega dos
prémios prometidos. Estamos, no fundo, a discutir se existe ou não uma obrigação civil de
prestar, ou visa-versa, meramente uma obrigação natural que é sujeito ao regime nos
termos dos arts 402º - 404º CC.

De acordo com o disposto do art 1245º CC, o jogo e aposta não são contratos válidos nem
constituem fonte de obrigações civis, porém, quando lícitos, são fontes de obrigações
naturais. Consagra assim a regra geral para os contratos de jogo e aposta.

Entretanto, nos termos do art 1246º CC, as competições desportivas, com relação às pessoas
que nelas tomarem parte, nascem obrigações entre si. Ou seja, a organização de semana
académica tem a obrigação de entregar os prémios prometidos, e H e I têm direito de exigir
a prestação.

(463º CC – espécie de Concursos públicos??)

b.)

Como acima referido, verificamos a validade de um contrato de jogo e aposto, enquanto que
é lícito, é uma fonte da obrigação natural.

Trata-se de um vínculo de uma obrigação natural na relação jurídica entre J e L, assim sendo,
aplica-se ao regime dos arts 402º - 404º CC. Pois, vamos verificar os requisitos de acordo
com o art 402º CC:

- é um mero dever de ordem moral ou social


- e o cumprimento não é judicialmente exigível
- Corresponde um dever de justiça

Contudo, segundo o art 403º CC, a prestação da obrigação natural não pode ser repetido se
o agente da prestação tem capacidade de fazê-lo, e ainda, é feita espontaneamente e
quando é livre de toda a coação.

Conclui-se que Luís não pode reaver essa quantia já depois da prestação desta obrigação
natural de aposta.

c.)

Temos no caso concreto uma situação de reconhecimento da dívida, segundo o art 458º/1
CC, se alguém, por simples declaração unilareral, reconhecer uma dívida, sem indicação da
respectiva causa, fica o credor dispensado de provar a relação fundamental, cuja existência
se presume até prova em contrário.
E no nº 2 do mesmo artigo, indica que o reconhecimento da dívida deve constar de
documento escrito.

Trata-se de uma inversão de ónus de prova, que fica o credor dispensado de provar a relação
fundamental da obrigação, mas, é uma presunção ilidível, que a prova em contrário
apresentado pelo devedor pode ilidir esta presunção (cfr. 342º/2 CC)

Exercício IV

a.)

Como António não pagou a segunda prestação, Bento, o credor, pretende reagir perante o
incumprimento da obrigação da prestação de A. Em fase disto, o credor Bento, tem 2
faculdades: a manutenção do contrato e a resolução do contrato. Vamos a seguir analisar os
2 caminhos:

1. Resolução do contrato

A resolução do contrato dá-se quando existe um incumprimento definitivo, ou seja, já não é


possível o devedor cumprir a prestação, portanto, resolver o contrato. A lei prevê que em 2
casos o credor pode invocar a resolução do contrato:
a. Impossibilidade culposa, nos termos do art 801º/2 do CC, tornando-se impossível a
prestação por causa imputável ao devedor, é responsável como se faltasse
culposamente ao cumprimento da obrigação. E ainda, de acordo com o nº2 do
artigo, o credor, independentemente de direito à indemnização, pode resolver o
contrato, noutro dito, restituir tudo que lhe foi prestado.
b. Incumprimento fidedigno, nos termos do art 808º/1 CC, temos 2 situações
consagradas: 1) o credor perde o interesse (em termos objectivos na apreciação) na
prestação; 2) quando o devedor não cumpre a prestação dentro do prazo adicional
que lhe foi fixado novamente para a realização da prestação. (exceção ao
incumprimento da obrigação)
Nestes casos, o credor tem a faculdade de resolver o contrato nos termos da lei (cfr. 432º
CC)

Entretanto, a lei vem estabelecer obstáculos enquanto a invocação da faculdade de


resolução do credor, nomeadamente, nos termos do art 886º CC:
Requisitos:
- transmissão da propriedade de coisa – neste caso não se verifica XX.
- feita a entrega da coisa
O vendedor não pode resolver o contrato por falta de pagamento salvo em convenção em
contrário. Mas, como não houve a transmissão da propriedade da coisa, não vamos aplicar
esta norma impeditiva da faculdade de resolução do contrato pelo credor.

E, como se trata de uma venda a prestações, vamos remeter para o art 934º CC:

- conforme ao caso em apreço, a venda da coisa a prestações


- resulta de uma cláusula da reserva da propriedade
- feita a entrega da coisa
- a falta de pagamento de uma só prestação
- a prestação em falta não exceda a 1/8 parte do preço

Verificamos cumulativamente os requisitos, não dá lugar a resolução do contrato. E ainda,


nos termos de 2ª parte do art 934º, haja ou não a reserva da propriedade, não importa a
perda do benefício do prazo (cfr. 781º CC).

2 situações enquadradas na pergunta:


1.
Portanto, se António não pagou só a segunda prestação, Bento não pode resolver o
contrato. E vai-se recorrer ao mecanismo de manutenção do contrato:
1. Segundo o art 817º, isto é, a garantia geral das obrigações. Indicando que, não sendo
a obrigação voluntariamente cumprida, tem o credor o direito de exigir judicialmente
o seu cumprimento e de executir o património do devedor. Tem, assim, a
possibilidade de invocar a realização coativa.
2. Segundo o art 804º + 806º CC, enquanto existe a mora do devedor no cumprimento
das obrigações, constitui a obrigação de reparar os danos causados ao credor e o
pagamento de correspondentes juros.
De salientar que, o devedor só fica constituído em mora depois de interpelação
admonitória de acordo com o art 805º CC, judicialmente ou extrajudicialmente.

2.

b.)

Tendo em conta que, foi estabelecido entre as partes, que a propriedade do


computador continuasse a pertencer ao MI até o pagamento integral do preço. Ou
seja, conta de uma cláusula da reserva da propriedade segundo o art 409º CC (que
impede o art 408º), assim, trata-se da transmissão da propriedade sob uma condição
suspensiva.

O art 409º/2 CC falou de coisas imóveis ou coisas móveis sujeitas a registo, só a


cláusula constante de registo é oponível a terceiros. Pelo entendimento doutrinário
do prof Antunes Varela e Pires de Lima, é oponível a 3º adquirente tbm coisas móveis
não registáveis, no seio da relatividade das obrigações. Mas, o art 1301º CC vem
exigir que, se o comprador/3º adquirente for de boa fé, o proprietário MI é obrigado
a restituir o preço ao adquirente, e depois, goza do direito de regresso contra aquele
que culposamente deu causa ao prejuízo, ou seja, o proprietário MI tem direito de
exigir a respectiva indemnização ao vendedor da coisa alheia António. (cfr. 892º CC)

(entendimento contrário – Pedro Romano Martínez e o art 435º CC)

c.)
A solução já não seria a mesma se estivesse em causa a aquisição de um automóvel.
De acordo com o art 409º/2 CC, se não se tivesse procedido ao registo da cláusula de
reserva da propriedade, não é oponível ao terceiro mesmo que consta de uma
cláusula da reserva da propriedade nos termos do art 409º CC.

Exercício VII

No caso em apreço, trata-se de um contrato consensual, cuja perfeição negocial depende de


simples consenso das partes; e um contrato real quod effectum (negócio consensual), o
momento da celebração do contrato ocorre a transferência do direito real sobre o quadro.

Como estamos a tratar um negócio consensual, é celebrado o contrato logo no momento do


acordo de vontades: proposta e aceitação. E produz-se os efeitos da transmissão da
propriedade ou de direitos reais sobre a coisa de acordo com os arts 408º + 879º CC. Aliás,
com a tradição da coisa, podemos dizer que é risco próprio/normal do contrato (cfr. 796º CC)
que nos diz: nos contratos que feita a entrega da coisa ou tem a transferência de direito real
sobre ela, o perecimento ou deterioração da coisa por causa não imputável ao alienante,
corre por conta do adquirente comprador. Neste caso, o quadro foi destruído por um
incêndio ocorrido em sua casa de Horácio, se for sem culpa de alienante Inês, Horácio tem
de suportar pelo dano causado.

Portanto, o comprador não tem razão de se recusar a pagamento do preço convencionado.


Isto é, o incumprimento culposo de Horácio na obrigação de pagar o preço convencionado.
O credor, enquanto face isto, é protegido pela garantia geral das obrigações consagrada no
art 817º CC, designadamente, pode exigir a realização coativa e executar o património do
devedor H. E ainda, exigir as indemnizações pela mora no cumprimento segundo os
dispostos nos arts 804º + 806º CC, na obrigação de reparar os danos causados ao credor
mais juros de mora correspondentes.

Pretende, agora, saber se H tem a possibilidade de invocar a alteração de


circunstância para resolução do contrato ou a modificação equitativa segundo o art
437º CC. Portanto, vamos verificar os requisitos do art:
1. as circunstâncias determinantes em que as partes fundaram a decisão de
contratar – base do negócio: 1.) é conhecida ou, pelo menos, cognoscíveis
entre as partes (base subjectiva); 2.) se lhe tivesse sido proposta a
subordinação do NJ à verificação das circunstâncias pressupostas do
lesado, a outra parte aceitasse ou devesse aceitar, procedendo da boa fé.
(base objectiva; ideia de Manuel de Andrade)
2. alteração anormal – excecionalidade à regra (Antunes Varela);
3. lesão para uma das partes
4. afetação grave aos princípios da boa fé – Será que o pagamento de um
quadro destruído por um incêndio seria um excessivo sacrifício
patrimoniais ou onerosidade económica para outra parte? o art 796º CC
não tem a onerosidade excessiva e não implica necessariamente o
desequilíbrio das prestações para ambas as partes
5. Não esteja coberto pelos riscos próprios do contrato - neste caso, estamos
a discutir o risco próprio do contrato (cfr. 796º). Não se verifica este
requisito
6. Não está em mora no momento da alteração de circunstância ocorre – H
está em mora e não realizou o pagamento no dia convencionado de trinta
dias depois

Não se verifica 2 requisitos, logo, não tem a possibilidade de resolução ou


modificação equitativa de contrato à luz do regime de alteração
superveniente de circunstâncias. E, como tal, H tem de cumprir a obrigação
de prestação de pagar o preço convencionado. \

Universidade Catolica Portuguesa


Escola de Lisboa da Faculdade de Direito
Teste de Direito das Obrigacbes (75m)
17 de abril de 2023

Adelaide prometeu vender a Bartolomeu e este prometeu comprar-lhe uma vivenda deque a
primeira proprietária, situada em aldeia do concelho da Covilhã. A promessa consta de um
documento assinado por ambas as partes, contendo o reconhecimento presencial das
assinaturas dos promitentes. Foi acordado o preço de 125.000 euros. Na data da celebração
do contrato referido, Bartolomeu entregou a Adelaide 25.000 euros, devendo os restantes
100.000 euros ser pagos em 5 prestações mensais iguais a contar da data da celebração do
contrato definitivo. o prédio foi, desde logo, entregue ao promitente-comprador.
Responda, separadamente, às questões seguintes:

a) Antes da data prevista para a celebração do contrato prometido, Adelaide vendeu o


imóvel a Cristóvão por 160.000 euros, considerando não estar vinculada pelo contrato-
promessa celebrado. Bartolomeu entende que houve um incumprimento da promessa e
pretende reagir contra Adelaide e Cristóvão. Quid iuris? (5valores)

XXXXXXXXXX
Em primeiro, temos de referir que estamos perante um contrato-promessa bilateral,
no âmbito do art 410º CC. O regime do contrato-promessa vigora o pp. de
Equiparação (410º/1, in fine CC), mas comporta 2 exceções relativa à forma e à
natureza/substância das disposições legais.

Tendo em conta que o contrato definitivo visa celebrar uma compra e venda sobre
uma vivenda (imóvel; prédio rústico); a forma exigida, nos termos do art 410º/3 CC,
verifica que se estivermos em causa um contrato: 1) oneroso; 2) de transmissão do
direito real; 3) sobre um edifício ou fração autónoma dele, já construído. Verificando
estes requisitos, o art 410º/3 vem dizer que a forma do contrato-promessa deve
contar de reconhecimento presencial das assinaturas dos ambos os promitentes (o
que verifica no enunciado) e a certificação da licença da utilização pela respetiva
entidade.

Como o promitente comprador B entregou a promitente vendedor A 25.000€, à luz


do art 441º, têm carácter de sinal e portanto aplica-se ao regime de 442º, trata-se de
um contrato-promessa sinalizado.

A, depois da celebração do contrato-promessa, vendeu o imóvel objecto da


promessa a 3º Cristóvão, trata-se de uma ilegitimidade superveniente. Como o
contrato-promessa é só dotado de eficácia obrigacional, não pode opor o direito real
adquirido pelo 3º C, ou seja, não tem lugar a execução específica (442º/3 + 830º/1
CC).

E face este incumprimento da promessa, B, pode pedir as indemnizações a A nos


termos do art 442º/2, 3 CC, nomeadamente, o dobro do sinal (50.000€); e houve a
tradição da coisa, pela indemnização atualizada (160.000€ - 125.000€ + 25.000€
=55.000€),60.000€ conclui-se a indemnização é mais vantajosa.

E, ainda, houve a tradição da coisa, B tem o direito de retenção (cfr. 755º/1/f CC)
enquanto A ainda não efetua o pagamento destas indemnizações.

E face a C, que prejudicou o crédito de A, A tem a possibilidade de pedir


indemnizações se ele age de má-fé no instituto de prejudicar o crédito de A (abuso
de direito 334º CC) e responde extracontratualmente (483º CC), segundo a
orientação da teoria da eficácia externa das obrigações de Almeida Costa.

b) Do texto do contrato-promessa consta, ainda, a certificação da licença de utilização do


imóvel. Bartolomeu faltou a celebração do contrato definitivo. Em data posterior, o anúncio
da exploração de lítio na zona implicou uma desvalorização do prédio em 50%. Em razão
deste facto, Bartolomeu quer desvincular-se do contrato-promessa. Adelaide entende que o
promitente-comprador está obrigado a promessa nos termos acordados. Quid iuris?(5
valores)

De acordo com o art 410º/3 in fine CC, que comporta uma nulidade mista por vício
de forma (220º CC), o contraente que promete transmitir o direito real (promitente
vendedor) só pode invocar a omissão destes requisitos quando demonstra a culpa da
outra parte (promitente comprador)

No caso em apreço, verificamos que o promitente vendedor, pretende invocar o


instituto de alteração superveniente de circunstâncias para o efeito de resolução ou
modificação equitativa do contrato. Como tal, temos de verificar os requisitos nos
termos do art 437º CC. Pois, agora, verificamos os requisitos essenciais:

1. Base do negócio; as circunstâncias determinantes em que as partes fundaram a


decisão de contratar é conhecida/cognoscível pela outra; e se lhe tivesse sido
proposta a subordinação do NJ à subordinação dos circunstâncias pressupostas, a
outra parte aceitasse ou devesse aceitar, procedendo da boa fé (Manuel de
Andrade)
2. Alteração anormal – basta a excepcionalidade à regra (Antunes Varela/Pires de
Lima)
3. Lesão para uma das partes
4. Afetação grave aos pp. da boa-fé – nomeadamente, a existência de onerosidade
económica excessiva e sacrifício patrimonial inaceitável pela boa fé.
5. Não esteja coberta pelos riscos próprios da boa-fé
6. Não estava em mora no momento em que a alteração de circunstâncias se
verificou

Neste caso, podemos concluir que os requisitos acima referidos não são reunidos,
porquanto, não se verifica os 1º e 6º requisitos: porque, em vez de alienar o imóvel,
o promitente comprador B ainda tem várias faculdades no exercício do direito real,
nomeadamente, de usufruir ou de arrendar o mesmo imóvel, assim, a base do
negócio não tivesse necessariamente a convicção de que o promitente comprador
vai vender o mesmo noutra mão... Portanto, não existe o base do negócio e está em
mora do cumprimento, não pode invocar a resolução ou modificação equitativa do
contrato.

!!!Face a recusa do cumprimento do promitente comprador B, A, sendo o


promitente não faltoso/vendedor, pode pedir a ação de execução específica
(442º/3 CC + 830º/1 CC) ou em alternativa, fazer o seu sinal (441º/1, 2 CC).

c) Celebrado o contrato prometido, Bartolomeu falhou o pagamento da segunda prestação,


Que direitos assistem ao vendedor? (4 valores)

Com a celebração do contrato definitivo, torna-se, agora, uma venda a prestações. E


como B falhou o pagamento de segunda prestação, pretende saber se pode existir a
possibilidade de resolução do contrato (incumprimento definitivo), ou tão só
estamos em causa a manutenção do contrato (mora do devedor).

Neste caso, com a transmissão da propriedade, e feita a sua coisa entregue, de


acordo com o art 886º CC, o vendedor não pode resolver o contrato por falta do
pagamento do preço, salvo convenção em contrário. E segundo o art 934º/2ª parte
CC, enquanto verificando os requisitos acima-referidos, e falta só uma das prestações
que não exceda 1/8 do preço, não importa tbm a perda do benefício do prazo e
afasta a aplicação do art 781º CC.

Ou seja, a manutenção do contrato/mora do devedor é o único caminho disponível.


Portanto, o credor A pode recorrer a aplicação do art 817º CC para a realização
coativa e executar o património do devedor, e ainda, à luz dos arts 804º + 806º, tem
a possibilidade de pedir as indemnizações (incluindo juros legais) pela mora do
devedor nos danos prejudicados. Só se fica constituído em mora depois de
interpelação admonitória segundo o art 805º CC.
II.
(6 valores) Em seu entender, a disciplina da gestão de negócios promove uma solidariedade
humana responsável?

...

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - A/B/C/D/E ANO LECTIVO 2021/2022


Teste de avaliação contínua Duração: 60 minutos

Responda concisamente, e com a fundamentação completa e adequada aos problemas


suscitados.

1(14 valores)

Almerinda pretende comprar certo apartamento T2 em Benfica, no edifício Prestige, que


está em fase final de construção. Neste sentido, celebrou com Celso, o construtor, um
contrato, em Janeiro, segundo o qual Almerinda se obrigava a comprar e Celso se obrigava a
vender o apartamento. Almerinda entregou a Celso €25.000, «correspondentes a 10% do
preço». Por ter partido um dedo, contudo, Almerinda não assinou o contrato, embora
estivesse presente quando Celso o fez. Celso não exibiu a licença de construção, mas
assegurou que «o processo camarário estava em curso». Nos termos do contrato, «a
escritura pública será outorgada até ao final de Março», cabendo a Celso notificar Almerinda
da data, hora e local.

Esgotado o prazo, Almerinda solicitou a Celso que agendasse a escritura, mas sem
sucesso. Celso viria a confirmar-lhe que recebeu «uma proposta irrecusável, de Onofre»,
que ofereceu o dobro do valor (€500.000) pelo T2 em causa. Celso esclareceu, ainda,
que o apartamento já tinha sido vendido e que «devolveria, naturalmente», o valor
adiantado por ocasião do contrato-promessa, «mas nada mais».

Almerinda não quer abdicar do sonho de residir no Prestige e pretende agir contra Celso e
Onofre.

Quid juris?

Está em causa um contrato-promessa bilateral, no âmbito do art 410º CC, de uma


compra e venda de imóvel. De acordo com o art 410º/1 CC, o regime do contrato-
promessa vigora o pp. de equiparação, mas comporta 2 exceções sobre a forma e a
natureza/substância.

No caso em apreço, como se trata de um contrato de c/v sobre um edifício, cai à


aplicação do regime do art 410º/3: 1.) enquanto se tratava de contrato oneroso; 2)
de transmissão de direito real; 3) sobre um edifício ou fração autónoma dela, que
está na construção. Portanto, a forma legalmente exigida neste artigo é o
reconhecimento presencial das assinaturas das partes e ainda a certificação de
licenças de construção e/ou de utilização pela respetiva entidade.
No enunciado diz que o promitente comprador A entregou a promitente vendedor C
25.000€, segundo o art 441º CC, tem o carácter do sinal e portanto, está em causa
um contrato-promessa sinalizado e aplica-se ao regime do art 442º CC.

A não assinou o contrato por ter partido um dedo, consequentemente, não se


verifica o requisito da forma nos termos do art 410º/3 para um contrato-promessa
bilateral, por isso, nulo por vício de forma de acordo com o art 220º CC. E segundo a
orientação do prof Almeida Costa, deve-se proceder à redução do negócio para o
contrato-promessa unilateral, visa a tutela do promitente-comprador nos termos do
art 293º CC. (noutra óptica, Antunes Varela defende que é aplicável a conversão do
negócio segundo o art 293º CC e o ónus de prova assim cabe ao promitente-
comprador para a validade do negócio convertido).

Noutro plano, C não exibiu a licença de construção, mas assegurar que o processo
está em curso. De acordo com art 410º/3 in fine CC, comporta o regime de nulidade
mista, que só no caso de promitente comprador demonstrar a culpa do promitente
vendedor, é que tem a possibilidade de invocar a nulidade por vício de forma neste
caso (220º CC).

De salientar que, neste caso, estamos perante a execução específica imperativa


consagrado no art 830º/3 CC, que faz remissão ao art 410º/3. Ou seja, as partes não
podem afastar a possibilidade de execução específica no caso de incumprimento
definitivo pela convenção em contrário.

Entretanto, verificamos uma ilegitimidade superveniente no caso concreto,


precisamente, a venda posterior da promessa ao 3º O. Como o contrato-promessa é
tão só dotado de eficácia obrigacional, não é possível opor-se ao direito real
adquirido pelo terceiro, portanto, não tem a possibilidade de execução específica à
luz do art 442º/3 + 830º/1,3 CC.

Face ao incumprimento da promessa, o promitente não faltoso só tem 2


possibilidades neste caso: de pedir o dobro do sinal ou a indemnização atualizada,
nos termos já uma situação de incumprimento definitivo. Segundo o art 442º CC,
pode A pedir a restituição de dobro do sinal €50.000; ou, alternativamente, pedir a
indemnização atualizada, com a tradição da coisa, pelo aumento do valor deduzido
do preço convencionado e ainda ser-lhe restituído o sinal (500.000 – 250.000 +
25.000 = 275.000€).

Pode acontece ainda a indemnização de investimento que A sofre, além das


indemnizações pelo não cumprimento do contrato (442º/4 CC).

2.(6 valores)

Gastão, fornecedor exclusivo de carne bovina do restaurante de Helena, comunicou-lhe que


vai elevar em 33% o preço de fornecimento, argumentando “a necessidade imperiosa de
atualizar o preço para fazer face à escalada de preços motivada pela guerra na Ucrânia».
Helena reconhece o aumento de custos de Gastão devido à guerra, mas sublinha que «o
fornecimento foi acordado para seis meses a preço fixo».

Helena não aceita o aumento comunicado por Gastão e pretende reagir. Quid juris?

Verificamos que H pretende agir com o instituto de alteração de circunstâncias de


acordo com o art 437º CC, e portanto, vamos analisar os requisitos essenciais do artigo:
1. A base do negócio: as circunstâncias determinantes em que as partes fundaram a
decisão de contratar é conhecida/cognoscível para a outra; e se lhe tivesse sido
proposta à subordinação do NJ à verificação das circunstâncias pressupostas, a outra
parte aceitasse ou devesse aceitar (M. Andrade)
2. Alteração anormal – excecionalidade à regra (A. Varela/ Pires de Lima); podemos
dizer que a guerra e o subsequente escalada de preço é anormal e excepcional à
regra
3. Lesão para uma das partes – lesão patrimonial que \
4. Afetação grave ao pp. da boa fé – nomeadamente, o aumento de 33% do preço de
fornecimento comporta uma onerosidade excessiva e sacrifício patrimonial de H, que
não é aceitável procedendo da boa fé, e existe grande desequilíbrio na posição
contratual.
5. Não esteja coberta pelo risco próprio do contrato, nem pelas vontades das partes,
nem pela lei, nem esteja em causa um negócio aleatório
6. Não esteja em mora quando se verifica a alteração de circunstâncias (438º CC)

Pois, concluímos que reúne todos os requisitos essenciais do artigo 437º + 438º CC, tem a
possibilidade de resolver o contrato ou modificação equitativa. Segundo o art 437º/2 CC,
requerida a resolução do contrato, a outra parte pode opor-se ao pedido e aceitar a
modificação do contrato.

Direito das Obrigações - Todas as turmas Teste de Avaliação Contínua


75 minutos

António herdou de seu pai um pequeno prédio, situado na Av. de Berna, constituído em
propriedade horizontal e composto por três frações.

A fração A encontra-se arrendada a Carlos. De acordo com o contrato de arrendamento,


que tinha a duração de 5 anos e fora celebrado em julho de 2018, Carlos obrigava-se a pagar
uma renda mensal de €500,00.

Em dezembro de 2019, António prometeu vender a Diana a fração B por €120.000. O


contrato-promessa foi celebrado por documento só assinado por António. Apesar de Diana
não ter assinado o contrato, entregou, nesse mesmo dia, a António €20,000.
Em janeiro de 2020, António enviou uma carta registada com aviso de receção a Carlos,
informando-o que tinha recorrido aos serviços de uma imobiliária para colocar à venda todo
o prédio por um milhão de euros. Carlos nada respondeu.

Em abril de 2020, António vendeu todas as frações a Eduardo por €900.000,00. Eduardo
obrigou-se a pagar os €900.000,00 em três prestações anuais de €300.000,00 cada.
Durante as negociações, António assegurara a Eduardo que poderia utilizar todas as frações
para arrendar a terceiros e deu a conhecer-lhe o contrato-promessa que tinha celebrado
com Diana. Eduardo disse a António para não se preocupar, porque o contrato-promessa era
inválido. Em maio de 2020, Eduardo fica surpreendido quando descobre que a fração A
estava arrendada a Carlos.

1 Tendo Diana descoberto a venda feita por António, que direitos terá relativamente a
António e Eduardo? (6 valores)

2. Em agosto de 2020, Eduardo notificou Carlos que deveria começar a pagar-lhe as rendas,
posto que tinha adquirido o imóvel. Que direitos terá Carlos, que sempre tinha sonhado
tornar-se proprietário da casa onde habitava, relativamente a António e Eduardo? (4 valores)

3. Eduardo pretende ser indemnizado por todos os danos que sofreu em consequência
de não poder arrendar a fração a terceiros. Tendo em consideração que as frações B e
C foram arrendadas por 1000,00 euros por mês, poderá Eduardo ser indemnizado por
todos os prejuízos decorrentes de só receber uma renda de €500,00 até julho de 2023? (4
valores)

4. Em abril de 2021, Eduardo não pagou a segunda prestação e alega que, devido à
pandemia de Covid-19, ficou sem liquidez para proceder ao referido pagamento. Eduardo
considera igualmente que esta obrigação só se pode vencer, em março de 2023, quando a
pandemia já tiver totalmente cessado. António pretende saber se Eduardo tem direito a
modificar unilateralmente o prazo de cumprimento da sua obrigação e, caso tal não seja
possível, que direitos é que lhe assistem? (6 valores)

Universidade Católica Portuguesa Escola de Lisboa da Faculdade de Direito


Teste de Direito das Obrigações

Amílcar prometeu vender a Bártolo e este prometeu comprar-lhe uma vivenda, situada nas
proximidades de Coimbra, de que o primeiro é proprietário. A promessa consta de um
documento assinado por ambas as partes, contendo o reconhecimento presencial das
assinaturas dos promitentes. Foi acordado o preço de 275.000 euros. Na data da celebração
do contrato referido, Bártolo entregou a Amílcar 35.000 euros, devendo os restantes
240.000 euros ser pagos em 10 prestações mensais iguais a contar da data da celebração do
contrato definitivo. O prédio foi, desde logo, entregue ao promitente-comprador.

Responda, separadamente, às questões seguintes:


a) Antes da data prevista para a celebração do contrato prometido, Amílcar vendeu o imóvel
a Carlos por 320.000 euros, considerando não estar vinculado pelo contrato-promessa
celebrado. Bártolo entende que houve um incumprimento da promessa e pretende reagir.
Quid iuris? (5 valores)

Em primeiro, temos de referir que estamos em causa um contrato-promessa bilateral no


âmbito do art 410º CC, e de acordo com o art 410º/1 CC, o regime do contrato-promessa
vigora o pp. de Equiparação, aplica-se as disposições legais do contrato prometido, mas
comporta 2 exceções de forma e de natureza/substância.

Neste caso, como estamos perante um contrato de c/v sobre uma vivenda, aplicamos o art
410º/3 sobre a forma do contrato-promessa, nomeadamente, num contrato oneroso de
transmissão de direito real sobre um edifício ou fração autónoma dele (já construído). Como
tal, a forma legalmente exigida é de: 1) reconhecimento presencial das assinaturas das
partes; 2) e a certificação da licença de utilização ou de construção pela respetiva entidade.

No entanto, como consagrado no art 410º/3 in fine CC, é um regime de nulidade mista, ou
seja, o promitente vendedor só pode invocar a nulidade por vício de forma (220º) quando
demonstra a omissão culposa destes requisitos do promitente comprador.

Além disso, como previsto no art 441º CC, o 35.000€ tem carácter de sinal e portanto, trata-
se de um contrato-promessa sinalizado com a aplicação do art 442º CC (+830º).

E o art 830º/3 (que faz remissão ao art 410º/3 CC) consagra a execução específica
imperativa, ou seja, as partes não podem afastar esta possibilidade pela convenção em
contrário.

Face ao incumprimento do promitente comprador, como o contrato-promessa é dotado


apenas de eficácia obrigacional, não pode opor-se o direito real adquirido pelo 3º Carlos,
trata-se de uma ilegitimidade superveniente, consequentemente, transforma-se a um
incumprimento definitivo e afasta a possibilidade de execução específica (442º/3 + 830º/1
CC)

Como tal, tem a possibilidade de Bártolo pedir a resolução do contrato e as indemnizações


nos termos do art 442º/2 CC:
1. Dobro do sinal – 70.000€
2. Indemnização atualizada – o valor atual deduzido de valor convencionado, mais a
restituição do sinal (320.000 – 275.000 + 35.000 = 85.000€), é mais vantajoso para B.

b) Bártolo faltou à celebração do contrato definitivo. Em data posterior, o anúncio


da existência de uma gravíssima contaminação nos terrenos da zona implicou
uma desvalorização do prédio em 60%. Em razão deste facto, Bártolo quer desvincular-se do
contrato-promessa. Amílcar entende que o promitente-comprador está obrigado à promessa
nos termos acordados e que, de qualquer modo, deve indemnizá-lo pelo incumprimento.
Quid iuris? (5 valores)

Face ao incumprimento de Bártolo, Amílcar tem 2 opções:


1) Pedir a execução específica nos termos do art 442º/2 + 830º/1 – ou seja, estamos a
falar a manutenção do contrato
2) Reter o sinal de 35.000€ - a resolução do contrato, segundo o prof Almeida Costa,
basta a simples mora para resolução do contrato.

Neste caso, B pretende invocar a alteração superveniente de circunstâncias à luz do art 437º
CC (e 830º/3 in fine CC, mas só para modificação) para o efeito de resolução ou modificação
equitativa do contrato. Assim, temos de verificar os requisitos nele consagrado:

1. A base do negócio é conhecida ou cognoscível para ambas as partes; se lhe tivesse


proposta a subordinação do NJ à verificação das circunstâncias pressupostas, a outra
parte aceitasse ou devesse aceitar procedendo da boa fé (M. Andrade)
2. Alteração anormal – excecionalidade à regra (A. Varela), verificamos neste caso pq
houve um desvalorização do prédio de 60%
3. Lesão para uma das partes – B
4. Afetação “gravemente” ao pp. da boa fé – existe uma onerosidade excessiva, e
manter o contrato seria manifestamente desproporcional (Almeida Costa + HSA),
entende que seria injusta a situação à luz da boa fé e sendo o núcleo entre todos os
requisitos, admite-se a possibilidade de afastar o requisito de estar em mora...
5. Não esteja coberto pelos riscos próprios do contrato
6. Não está em mora quando à verificação de alteração de circunstâncias, contudo,
neste caso, está em mora. Todavia, pela orientação do prof A. Costa e Henrique
Sousa Antunes, admite na situação em que afeta gravemente a boa fé.

Pois, concluímos que, pode fazer resolver o contrato ou, para alguém que não aceita a
orientação do prof AC + HSA, admita ainda a possibilidade de proceder uma modificação
equitativa nos termos do art 830º/3 in fine CC.

c) Celebrado o contrato prometido, Bártolo falhou o pagamento da segunda


prestação. Que direitos assistem ao vendedor? (4 valores)

Foi celebrado o contrato definitivo de compra e venda sobre o bem imóvel, e como estamos
em face uma venda a prestações, cai à aplicação do regime de 886º CC, com a transmissão
da coisa, e feita a entrega da coisa, o vendedor não pode resolver o contrato salvo
convenção em contrário. Temos de salientar ainda o art 934º CC/2ª parte, enquanto
estamos perante uma venda a prestações; e feita a sua coisa entregue; a falta de pagamento
de uma só prestação; e que não exceda 1/8 parte (no enunciado era só 1/10 e não exceda
1/8) do preço, não importa a perda do benefício do prazo. Neste caso, verificando todos os
requisitos e portanto, afasta a aplicação do art 781º CC.

II (6 valores)
Faça uma breve exposição sobre o tema da relatividade das obrigações.

A tese de relatividade das obrigações é defendida pelo prof Antunes Varela e I. Galvão Teles,
com a grande influência jurisprudencial, entende que a obrigação que resultante do contrato
só se produz efeitos inter partes, apresenta assim um relevo de carácter relativo dos direitos
de créditos.

Mas, comporta uma exceção, a situação em que há abuso de direito, o credor cujo direito de
crédito é prejudicado pode recorrer ao instituto de abuso de direito para

III (6 valores)

Faça uma breve exposição sobre o tema da admissibilidade dos negócios jurídicos unilaterais
enquanto fonte de obrigações.

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