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Contrato de Promessa

O contrato de promessa, está definido no nº1 do 410.º, de modo que é um contrato pelo qual as
partes se obrigam a celebrar um outro contrato. As partes designam-se de promitentes. Temos
um contrato de promessa e um contrato prometido ou definitivo. Quando os promitentes cumprem
ou pretendem cumprir designam-se de promitentes fiéis, quando não cumprem designam-se de
promitentes faltosos. Muitas vezes não é possível celebrar de imediato um contrato definitivo, ou
porque é necessário escritura publica etc. – assim permite-se que as partes fiquem vinculadas ate
reunir todas as condições para celebrar o contrato definitivo. Quem celebra um contrato de
promessa pode voltar atras, com as consequências do incumprimento. Temos os Contrato de
promessa formais e Contratos de promessa consensuais: Os contratos de promessa formais tem
de seguir uma determinada forma (413.º do CC). Nos contratos de promessa consensuais não se
exige nenhuma forma para um contrato de promessa. Temos ainda os Contratos de promessa
mono vinculativos e contratos de promessa bivinculativas: Nos contratos mono vinculativos um dos
promitentes fica obrigado a contratar, a celebrar o contrato definitivo. Nos contratos bivinculativos
ambos os promitentes se obrigam a celebrar o contrato definitivo. Contrato de promessa com
eficácia meramente obrigacional e Contrato de promessa com eficácia real: O contrato de
promessa com eficácia meramente obrigacional só produz efeitos inter partes. O contrato de
promessa com eficácia real, que está previsto no artigo 413.º do CC, é oponível a terceiros.

• Forma do contrato de promessa


O nº 1 do 410.º do CC manda aplicar ao contrato de promessa o regime do contrato definitivo de
acordo com o Princípio da equiparação. Existe desde logo uma exceção quanto á forma, não se
aplica o princípio da equiparação quanto á forma, isto é, a forma do contrato de promessa não
segue a forma do contrato definitivo. A regra é a da liberdade de forma, prevista n artigo 219.º do
CC, a menos que o contrato de promessa se enquadre no n.º 2 do artigo 410.º do CC. Se se
enquadrar nessa previsão, aí será necessária uma forma especial, isto é, se a lei exigir uma forma
especial para a celebração do contrato definitivo, o contrato de promessa terá de ser celebrado
por documento escrito e assinado pela parte ou pelas partes que se vinculam. O nº 3 não tem
haver com a forma, mas com as formalidades. As formalidades aplicam-se perante um contrato de
promessa oneroso, de transmissão de direito sobre edifício e edifício a construir, em construção
ou construído. Se estes pressupostos tiverem preenchidos, terão de respeitar as formalidades que
são o reconhecimento das assinaturas dos promitentes e certificação da licença de construção ou
de utilização.

• Diferença entre 440.º e 441.º


O 441.º diz respeito a contratos de promessa de compra e venda, se não for um contrato de
compra e venda aplicamos o 440.º do CC. Nunca aplicamos estes dois artigos em conjunto. O que
diz o artigo 441.º do CC é que toda a quantia integre presume-se que tenha caracter de sinal, no
entanto em outros contratos de promessa que não sejam de compra e venda não se presume
que tenha caracter de sinal. O sinal tem várias funções: (1) serve de confirmação da celebração do
contrato de promessa; (2) um sinal de antecipação de cumprimento; (3) tem função de clausula
penal que é uma clausula acessória (previsto nos 809.º e ss. do CC) onde as partes preveem
antecipadamente o que vai ocorrer em caso de incumprimento, ou seja, estipulam o montante da
indeminização em caso de incumprimento á luz do artigo 442.º do CC.
• Artigo 442.º do CC
Até 1980 previa que se foi entregue uma quantia a título de sinal, e o promitente vendedor não
celebra o contrato definitivo, este estaria obrigado a entregar ao promitente comprador fiel o dobro
do sinal, ou seja, vai ter de entregar a quantia que recebeu mais outro tanto a título de
indeminização. Se quem faltou for o promitente comprador, neste caso o promitente comprador
fica sem o sinal integre que fica na esfera jurídica do promitente vendedor a título de indeminização.
No entanto existe atualmente o chamado valor atualizado da coisa, que é um direito que assiste
apenas ao promitente comprador fiel, e que pressupõe que (1) haja sinal, (2) tradição da coisa
(sinónimo de entrega da coisa) e que (3) haja valorização do bem. Calcula-se o valor atualizado da
seguinte forma: valor atual – valor convencionado + restituição do sinal. Isto permite que o
promitente comprador fiel possa escolher entre o sinal ou o valor atualizado da coisa. O que prevê
também o 442.º do CC é que quando o promitente comprador fiel optar pelo valor atualizado da
coisa, o promitente vendedor faltoso tem um meio de defesa para evitar o pagamento desta
indeminização a que chamamos de exceção de cumprimento, em que o promitente vendedor
faltoso se oferece para cumprir e assim evitar o pagamento de uma indeminização superior
(previsto no 442.º n.º 3 2º parte do CC).
Situações em que o promitente não se pode oferecer para cumprir (âmbito do 808.º do CC):
1. haverá incumprimento definitivo se o promitente comprador fiel fizer a prova de perda de
interesse objetiva do cumprimento do contrato num prazo posterior ao
estabelecido/previsto.
2. Aquela em que os promitentes tinham um prazo para cumprir o contrato efetivo, e o
promitente vendedor não comparece na escritura e entrou em mora/ em atraso no
cumprimento. O promitente comprador decide estabelecer um novo prazo/ um prazo
suplementar, prazo esse que o promitente vendedor volta a incumprir. Aqui já esta em
incumprimento definitivo, e não pode socorrer-se da exceção do cumprimento.

Existe um problema que se prende com saber a partir de que momento podemos acionar os
mecanismos do artigo 442.º do CC. Se podemos acionar, havendo um mero atraso no
cumprimento e existe outra posição + jurisprudencial segundo a qual só podemos acionar os
mecanismos do 442.º do CC quando houver um incumprimento definitivo do contrato de promessa.
A decisão que parece mais plausível é a posição defendida pelo Prof. Antunes Varela porque este
considera que se tivéssemos de aguardar pelo incumprimento definitivo não existia qualquer
especificidade entre o regime do artigo 442.º e o regime da responsabilidade contratual, se tivermos
de aguardar pelo incumprimento definitivo o meio de defesa do promitente do vendedor que se
encontra previsto no 808.º do CC, nunca poderia ser utilizado porque o promitente comprador já
estava em incumprimento definitivo. A jurisprudência chega a um resultado oposto, porque
considera que se hoje em dia não existe contratos de promessa com tradição da coisa, não existe
possibilidade de pedir o valor atualizado da coisa, e como não existe valor atualizado da coisa não
existe mecanismos de defesa do promitente vendedor faltoso.
Ainda no artigo 443.º n.º 3 do CC, temos uma situação de incumprimento do contrato definitivo,
temos dois caminhos: (1) resolução tacita do contrato 442.º do CC; ou (2) então não se pretendo
resolver tacitamente o contrato porque há interesse no contrato definitivo recorre-se á execução
especifica. Quando houver tradição da coisa e o promitente comprador exigir uma indeminização
seja ela o dobro do sinal ou o valor atualizado da coisa, ele tem uma garantia que é o direito de
retenção que é uma garantia real que garante a satisfação do seu crédito – ou seja pode reter a
coisa para garantir o pagamento da indeminização e para obtenção da satisfação do seu crédito
pode executar a coisa retida. Está previsto no artigo 755.º n.º 1 alínea f) do CC.
A execução especifica está prevista no artigo 830.º do CC e o n.º 1 desse mesmo artigo refere o
que é a execução especifica onde é celebrado por via judicial o contrato definitivo. O n.º 2 refere
que a execução especifica pode ser afastada se existir sinal, mas isto é uma presunção ilidível que
não constitui uma contradição com o artigo 442.º n.º 3 1º parte do CC. Nos termos do n.º 3 do
830.º do CC a execução especifica não pode ser afastada – é imperativa - quando tivermos no
âmbito de um contrato de promessa á luz do artigo 410.º n.º 3 (contrato de promessa onerosos
sobre edifício a construir, em construção, construído)

• Artigo 755.º n.º 1 alínea f) do CC


Muita atenção na aplicação do direito de retenção – Artigo 755.º n.º 1 alínea f) – porque na prática
o promitente comprador só poderá exercer sobre o bem o direito de retenção se for consumidor
final. Este artigo tem sido muito criticado pela doutrina, pela possível inconstitucionalidade desta
norma, mas o motivo é muito simples é que o direito de retenção prevalece sobre um direito
efetivo.

• Artigo 413.º do CC
No caso de contratos de promessa com eficácia real, á luz do artigo 413.º do CC, pode o promitente
comprador ter um direito real de aquisição que é oponível a terceiros, isto é, ele pode seguir o
bem onde ele se encontrar. Se eventualmente perante este tipo de contratos, o promitente
vendedor vender o bem a terceiro, este terceiro adquirente tem conhecimento do registo e da
existência de um direito real de aquisição, de modo que o promitente comprador se tiver interesse
nesta compra - intenta uma ação de execução especifica contra o terceiro adquirente que está
claramente de má-fé.

Pacto de Preferência
Quando se exerce o direito de preferência, exerce-se em relação a um terceiro. O preferente
que prefere nas mesmas condições oferecidas por um terceiro. Exercer o direito de preferência
é sobre/em relação a alguém, em relação a um terceiro. O pacto de preferência é um contrato
unilateral, uma vez que o preferente não se obriga a preferir, apenas aceita. Temos duas
modalidades de preferências, a Preferência legal que deriva da lei, e que tem sempre eficácia real,
e as Preferências convencionais que derivam de um pacto de preferência, ou seja, de um contrato
entre o obrigado á preferência e o preferente, contrato que poderá ou não ter eficácia real.
Os artigos 414.º e ss. aplicam-se apenas ás preferências convencionais, e com as devidas adaptações,
às preferências legais.

• Artigo 415.º do CC
Este quanto á forma manda aplicar a forma do 410.º n.º 2 do CC, sendo a regra a liberdade de
forma, mas se a lei exigir para o pacto definitivo uma forma especial de acordo com o 410.º n.º 2
o pacto de preferência terá de ser celebrado por documento escrito e assinado pela parte que se
vincula, isto é, pelo obrigado á preferência uma vez tratar-se de um contrato unilateral. Teremos
de aplicar as formalidades do n.º 3 do 410.º do CC, quando se trate de uma fração autónoma? Não,
porque o 415.º do CC apena remete para o n.º 2 do 410.º do CC, por razões históricas, mas também
por razoes práticas e logicas, e não para o n.º 3.
O pacto de preferência pode ter eficácia real. Se pudermos atribuir eficácia real devemos seguir a
regra do 421.º do CC que nos remete para o 413.º do CC. O que significa que só podemos atribuir
eficácia real se (1) estiver em causa um bem imóvel ou movel sujeito a registo, (2) se existir uma
clausula expressa a atribuir eficácia real ao pacto, (3) é necessário registo, (4) e escritura publica
ou documento particular.

• Artigo 420.º do CC
Não é permitida a transmissão nem mortis causa nem em vida das obrigações do obrigado á
preferência dos direitos do preferente.

• Quanto á Execução do Pacto Preferência


Artigo 416.º do CC (obrigações para o obrigado á preferência celebrar o pacto definitivo)
Se o obrigado á preferência tiver decidido celebrar o pacto definitivo, nos termos do 416.º do CC,
ele tem várias obrigações perante o preferente: (1) Tem de comunicar ao preferente que pretende
celebrar o pacto definitivo, se for uma compra e venda, terá de comunicar o seu projeto do
contrato; (2) Tem de comunicar as clausulas essências do projeto do contrato; (3) Coloca-se a
questão se deve comunicar ao preferente a identidade do terceiro.

• Regime do Pacto de preferência


Existem 3 problemas, que se encontram no 417.º a 419.º do CC.

• Problema que o 417.º do CC resolve:


Alguém tem um direito de preferência em relação a uma fração autónoma, e o obrigado á
preferência decide vender a um terceiro aquela fração autónoma juntamente com mais 6. Como
vou preferir, qual é a solução? O preferente mantém o seu direito de preferência sobre a sua
fração se se puder desintegrar a fração do todo. Se o obrigado a preferência fizer a prova que a
desintegração daquela fração em relação as restantes é difícil/ traz prejuízos graves então o
preferente se quiser exercer o seu direito de preferência terá de exercer sobre o todo.

• Problema que o 418.º do CC resolve:


Temos um terceiro que está interessado, mas esse terceiro em vez de oferecer uma quantia
pecuniária oferece uma prestação infungível. A Paula Rego está interessada na fração, e oferece
em vez de 100.000.00€ um retrato sobre essa determinada fração. Como se resolve? Se é um
terceiro que oferece uma prestação infungível, o preferente pode manter o sue direito de
preferência desde que a prestação infungível seja convertível em dinheiro. Se a prestação
infungível oferecida pelo terceiro, não for convertível em dinheiro, o preferente perde o seu
direito de preferência a menos que o preferente faça a prova que o obrigado á preferência e o
terceiro optaram por uma prestação infungível e não convertível para afastar o direito de
preferência – nesse caso cabe ao tribunal fixar um valor para que o preferente mantenha o seu
direito.

• Problema que o 419.º do CC resolve:


Situações em que temos mais do que um preferente em igualdade de circunstâncias, de modo
que existe um conflito entre os preferentes por mais do que um querer exercer o seu direito de
preferência. Como se resolve? Se mais do que um existir, abre-se uma licitação e quem der mais
prefere. Se temos 3 arrendatários interessados em comprar o mesmo prédio, exerce o direito
de preferência aquele que oferecer mais.

• Violação do pacto de preferência que valem também para a violação de


preferências legais
O obrigado á preferência incumpre com a sua obrigação, em várias situações:
(1) Não comunica o projeto definitivo, viola o 416.º do CC; (2) Embora tenha comunicado o projeto
definitivo, não comunicou alguma cláusula essencial do projeto, violação do 416.º do CC; (3)
Comunica o projeto, as cláusulas essências do projeto, mas não aguarda pela resposta do
preferente e celebra com terceiro o pacto definitivo;
Estas situações dão lugar a uma violação do pacto de preferência, mas também a uma violação
de preferências legais

Gestão de Negócios
Cada vez menos utilizada hoje em dia, por causa da facilidade de comunicação entre as pessoas.
De forma que só será utilizada em casos muitos urgentes, onde não existe a possibilidade de
comunicação a tempo. O regime da gestão de negócios está previsto nos artigos 464.º e ss. do
CC.

• Artigo 464.º do CC
Pela análise do artigo 464.º do CC, conseguimos retirar os pressupostos da gestão de negócios:
(1) Assumir/Tomar a direção de um negócio alheio. (2) Sem autorização, sem habilitação jurídica,
sem habilitação legal, sem habilitação convencional. (3) O gestor deve agir no interesse e por
conta do dono. O que significa que o gestor deverá agir como agiria o dono naquela situação, isto
é, de forma razoável. Agir no interesse do dono, é ser útil ao dono e não mais do que isso.

• Regra
o gestor de negócios é altruísta, o gestor de negócios não tem direito a uma indeminização, a
menos que o gestor de negócios esteja no âmbito de uma atividade profissional onde tem direito
a uma remuneração (exceção do 470.º do CC).
Temos 3 critérios para aferir o interesse do dono:
(1) Utilidade. Se o gestor de negócios agir no sentido de ser útil ao dono, então está a agir
no interesse do dono; (2) Bom pai de família. Se o gestor de negócios agir como bom
pai de família, agir como qualquer pessoa nas mesmas situações agiria, então está a agir
no interesse do dono; (3) (Expressamente previsto na alínea a) do 465.º do CC) Vontade
real ou presumível do dono. Se o gestor agir de acordo com a vontade real ou
presumível do dono ele age no interesse do dono.
Se estes 3 requisitos do 464.º do CC estiverem cumpridos, haverá gestão de negócios.

• Classificações da gestão de negócios


• Gestão de negócios representativa e não representativa
Esta distinção só tem interesse prático se o gestor no âmbito da gestão de negócios (1) celebrar
negócios jurídicos com terceiro no interesse do dono, e se esses (2) negócios jurídicos celebrados
ainda estiverem a produzir efeitos. (Ex. celebrei um contrato com o empreiteiro, paguei tudo ao
empreiteiro, deixou de haver relação e não tem qualquer interesse esta distinção) Gestão de
negócios representativa (distinção encontra-se prevista no 471.º do CC) – aquela em que o gestor
quando celebra o negócio jurídico com terceiro atua no interesse e por conta do dono, mas
também em nome do dono (dai o nome “representativa”). Gestão de negócios não representativa
(distinção encontra-se prevista no 471.º do CC) – aquela em que o gestor quando celebra o negócio
jurídico com terceiro age no interesse e por conta do dono, mas em nome próprio.

• Gestão de negócios matérias, jurídica e mista


Gestão de negócios materiais - Aquela em que o gestor apenas pratica atos materiais
Gestão de negócios jurídica – aquela em que o gestor no âmbito da gestão de negócios celebra
negócios jurídicos por conta do dono
Gestão de negócios mista – aquela em que o gestor no âmbito da gestão de negócios tanto
praticas atos materiais como negócios jurídicos.

• Gestão de negócios simples e Gestão de negócios conexa


Gestão de negócios simples - aquela que visa/ em que o gestor apenas procura ser útil ao dono,
de modo que na gestão simples o interesse é exclusivo do dono
Gestão de negócios conexa - Aquela em que existe uma utilidade tanto para o dono como para
o gestor.

• Efeitos da Gestão de Negócios


Em relação ao gestor
Se a vontade for contraria a lei, a ordem publica, aos bons costumes o gestor já não precisa de
respeitar a vontade. O que ele tem de fazer?
- Deve agir quando a vontade e o interesse coincidem;
- Quando o interesse e a vontade não coincidem não devia agir;
• Interpretação da aliena a) do 465.º do CC
a. Posição do Prof. Antunes Varela
Quando o interesse e vontade não coincidem, sendo a vontade contraria a lei, a ordem publica e
aos bons costumes, o gestor pode desrespeitar a vontade do dono, agindo no interesse do dono.
b. Posição do prof. Menezes Cordeiro
Faz a distinção entre uma vontade positiva e uma vontade. Para este, se a vontade do dono for
negativa e contraria á lei, ordem publica e bons costumes, o gestor deve respeitar a vontade do
dono. Se agisse era considerado uma gestão culposa, porque pratica um facto ilícito, sendo
responsável onde se aplica os artigos 483.º e ss. (responsabilidade por factos ilícitos). Se a vontade
do dono for positiva, for no sentido de agir contra a lei, neste caso para o Prof. o gestor deve
desrespeitar essa vontade. É na vontade negativa que se encontra toda a distinção entre estas
duas teorias. Para o Prof. Antunes Varela o gestor independentemente da vontade ser positiva ou
negativa, o gestor pode sempre desrespeitar a vontade; enquanto que para o Prof. Menezes
Cordeiro existe uma gestão culposa, se o gestor desrespeitar a vontade do dono no caso da
vontade do dono ser negativa.
c. Prof. Menezes Leitão
Existe para este, várias situações em que o gestor pode desrespeitar a vontade do dono. Pode
desrespeitar a vontade do dono quando: (1) estão em causa deveres do dono reconhecidos por
sentença transitada em julgado (o dono foi condenado e não cumpre). Neste caso o gestor pode
cumprir e desrespeitar a vontade do dono, porque o dono já foi condenado; (2) estiver em causa
deveres do dono, alvo de uma providencia cautelar (Ex. O dono foi condenado a pagar alimentos
aos filhos menores, no âmbito de uma providencia cautelar, e não cumpre. Neste caso poderá o
gestor pode desrespeitar a vontade e não pagar); (3) estiver em causa deveres administrativos e
fiscais do dono com privilégio de execução previa;
Para alem da obrigação do gestor prevista na alínea a) existe outras várias obrigações do gestor
presentes na alínea b) e ss. do artigo 465.º do CC. Se houver violação da alínea a) a gestão é
culposa (aquela que o gestor não devia ter agido, agiu com culpa); se houver violação das alíneas
b) e ss. a gestão de negócios é irregular. Mesmo que a gestão seja irregular, pode eventualmente
o dono não ter possibilidade de exigir nenhuma indeminização.

• Em relação ao dono do negócio


O dono do negócio tem direitos correspondentes às obrigações do gestor. Existe um sinalagma
entre os direitos do dono e as obrigações do gestor. Para alem destes direitos, o dono pode aprovar
ou não aprovar a gestão de negócios (469.º do CC). A aprovação de uma gestão de negócios
tem dois efeitos:
(1) efeito constitutivo, porque se o dono aprovar a gestão de negócios obriga-se a reembolsar o
gestor de todas as despesas que este tenha tido no âmbito da sua gestão de negócios (Ex. A
gestora no âmbito da gestão de negócios teve a arranjar o telhado, onde teve algumas despesas
em material. Se o dono aprovar a gestão, terá de reembolsar as despesas que o gestor teve com
o material – constitui-se a favor do gestor um direito);
(2) efeito extintivo porque com a aprovação da gestão de negócios extingue-se qualquer direito
do dono a uma indeminização por danos;
Se a aprovação, for de uma gestão de negócios regular, esta aprovação tem um mero efeito
declarativo. Porque mesmo que a gestão não seja aprovada, uma vez que ela é regular o gestor
terá sempre direito ao reembolso das despesas e o dono nunca terá direito a exigir uma
indeminização. Se o dono não aprovar, caberá ao gestor provar a regularidade da gestão. Se este
provar que cumpriu com as suas obrigações, então não será obrigado a indemnizar o dono e terá
direito ao reembolso das despesas.
Se a gestão de negócios for irregular, nada impede de o dono a aprovar e neste caso a aprovação
terá um efeito constitutivo, ou seja, com a aprovação de uma gestão irregular o gestor adquire o
direito ao reembolso das despesas (quando não teria sem a aprovação) e não estará obrigado a
indemnizar o dono (quando estaria obrigado a indemnizar sem a aprovação desta). Se o dono não
aprovar, caberá ao gestor provar a regularidade da gestão. Se este provar que cumpriu com as
suas obrigações, então não será obrigado a indemnizar o dono e terá direito ao reembolso das
despesas. Se o dono não aprovar, e essa gestão for irregular, o gestor não terá direto ao reembolso
das despesas e poderá vir a ter que indemnizar o dono dos danos sofridos por este último por
incumprimento das obrigações previstas nas alíneas b) e ss. do artigo 465.º do CC.
Mas vamos ter que procurar uma solução em defesa do reembolso de despesas do gestor, porque
embora não fosse regular ele teve despesas. Como vamos resolver? Se o gestor não tem direito
através do regime da gestão de negócios, qual será o instituto que permitirá defender o gestor?
Através do instituto do enriquecimento sem causa (463.º e ss. do CC), o gestor poderá ser
reembolsado numa parte ou na totalidade das despesas de acordo com o cálculo do
enriquecimento e do empobrecimento.
O dono para alem de puder aprovar ou não aprovar, pode ratificar ou não ratificar o negócio
jurídico celebrado, no âmbito de uma gestão representativa (471.º do CC) que manda-nos aplicar
as regras da representação sem poderes (268.º do CC). Também poderá o dono aceitar ou não
aceitar os efeitos do negócio jurídico celebrado pelo gestor com um terceiro no âmbito de uma
gestão não representativa, aplicando-se aqui as regras do mandato sem representação para o qual
nos remete o artigo 471.º do CC. O dono pode aprovar ou não aprovar no seu todo. O dono
ratifica ou não ratifica o negócio jurídico. O dono aceita ou não aceita os efeitos jurídicos do
respetivo negócio.

• Efeitos da gestão de negócios em relação a terceiros


Se estes negócios, que ainda estão a produzir efeitos, forem celebrados no âmbito de uma gestão
representativa, aplicam-se as regras da representação sem poderes (471.º que nos remete para o
artigo 268.º do CC). O gestor quando celebra o negócio jurídico com terceiro diz que está a agir
em nome de outra pessoa – no âmbito de uma gestão representativa. Á luz do 268.º do CC
existem duas possibilidades para o dono do negócio:

• Gestão representativa
- Ratifica o negócio jurídico celebrado entre o gestor e o terceiro, chamando a si os efeitos jurídicos
desse negócio. Passamos a ter um negócio entre dono e terceiro. Se não ratificar o negócio jurídico
é ineficaz em relação ao dono, ou seja, aquele negócio não produz efeitos na esfera jurídica do
dono; em relação ao gestor, o negócio é também ineficaz, porque o gestor celebrou o negócio
em nome do dono. – Negócio totalmente ineficaz em relação a ambos, conforme também consta
do artigo 260.º do CC. A única hipótese que o terceiro possui, em caso de não ratificação do
contrato, é o instituto do enriquecimento sem causa, devido ao negócio jurídico ser ineficaz e ser
celebrado no âmbito de uma gestão representativa.

• Gestão não representativa


Gestão não representativa é aquela em que o gestor celebra um negócio em nome próprio, mas
por conta do dono e em nome do dono. Aplicamos aqui as regras do mandato sem representação
(1180.º do CC por remissão do artigo 471.º do CC). O negócio jurídico celebrado no âmbito de uma
gestão não representativa, produz imediatamente efeitos na esfera jurídica do gestor e do terceiro.
Celebra um negócio em nome próprio. O gestor vai transferir (1180.º do CC) os efeitos jurídicos do
negócio para a esfera jurídica do dono, que pode aceitar ou não aceitar essa transferência. Se
aceitar passamos a ter um negócio jurídico a produzir efeitos entre o dono e terceiro. Se o dono
não aceitar a transferência, o contrato continuará (em princípio) a produzir efeitos na esfera jurídica
gestor-terceiro.

Enriquecimento sem causa


O enriquecimento sem causa parte da ideia de uma deslocação patrimonial sem causa. O que se
pretende através deste instituto, é destruir a deslocação patrimonial sem causa que é injusta. A 1º
dificuldade é a de saber qual é a parte justa e qual é a parte injusta da deslocação patrimonial. O
objetivo é destruir aquela parte da deslocação patrimonial que não tem justificação, que não se
justifica. A 2º dificuldade é a de saber qual a razão que leva a necessidade desta figura do
enriquecimento causa, e o porquê de não podemos partir para a responsabilidade civil, já que
destruímos a deslocação patrimonial através da responsabilidade civil. Esta figura surge quando
houve uma deslocação patrimonial sem culpa, onde já não podemos aplicar a responsabilidade civil
que tem como requisito a culpa.
Quando é que estamos perante um enriquecimento sem causa? Quando não á nenhum
fundamento para a deslocação.

• Pressupostos do Enriquecimento sem causa (473.º do CC)


(1) Um enriquecimento (vantagem patrimonial que pode assumir variadas formas: constituição de
um direito, não extinção de um direito que se iria extinguir, extinção de uma obrigação etc.);
(2) Um empobrecimento (desvantagem patrimonial, que é o inverso do enriquecimento:
constituição de uma obrigação, extinção de um direito, etc.);
(3) Falta de causa do enriquecimento (não pode haver nenhuma justificação, isto é, nenhuma
cobertura legal, nenhuma cobertura convencional);
(4) Nexo causal/ Ligação entre o enriquecimento e o empobrecimento (Temos 3 posições: (A)
Existe quem defenda que esta ligação tem de ser direta, não podendo existir aqui a interferência
de um terceiro; (B) Existe ainda quem defenda que não precisa de ser uma relação direta, podendo
ser indireta, mas tendo de ser necessária; (C) Teoria do conteúdo da destinação dos direitos:
Outros defendem que não interessa se a relação é direta ou indireta, necessária ou não necessária,
o que importa é que qualquer direito subjetivo compreende um certo numero de vantagens,
vantagens que estão destinadas ao seu titular. E, portanto, se houver desvio de vantagens, existe
enriquecimento sem causa);

• Enriquecimento
Vamos distinguir entre o enriquecimento abstrato e enriquecimento concreto, e dentro deste último
distinguimos entre enriquecimento concreto objetivo e enriquecimento concreto subjetivo.

Enriquecimento abstrato – É uma deslocação patrimonial encarada em si mesmo. Valor da coisa


que é o objeto do enriquecimento.
Enriquecimento concreto – implica que se olhe para os efeitos/repercussões da deslocação
patrimonial no património do enriquecido. Aqui tempos uma subdivisão:
A. Enriquecimento concreto objetivo – Vamos procurar avaliar a diferença no património do
enriquecido antes e depois do enriquecimento
B. Enriquecimento concreto subjetivo – Não utilizamos duas situações reais (como estava o
património antes e na atualidade). Aqui é a diferença entre uma situação real e uma situação
hipotética, em que situação é que o enriquecido estaria se não fosse aquele
enriquecimento.
• Empobrecimento
Vamos distinguir entre o empobrecimento abstrato e empobrecimento concreto, e dentro deste
último distinguimos entre empobrecimento concreto objetivo e empobrecimento concreto
subjetivo.
Empobrecimento abstrato – É o valor da deslocação patrimonial encarada em si mesma. Coincide
com o enriquecimento.
Empobrecimento concreto -
Empobrecimento concreto objetivo – Vamos aferir/avaliar a diferença do património do
empobrecido antes e depois do empobrecimento.
Empobrecimento concreto subjetivo – Situação em que o empobrecido estaria, não fosse o
empobrecimento.

• Restituição do Enriquecimento sem Causa


Existem 3 teorias em relação á restituição do enriquecimento sem causa:
(1) Teoria do duplo limite. Quanto á enriquecimento sem causa deve-se restituir todo o
enriquecimento concreto objetivo até ao limite do empobrecimento concreto objetivo. Os
dois limites são: Não podemos restituir mais do que o enriquecimento nem podemos
restituir mais do que empobrecimento. Esta em certa medida está consagrada no artigo
479.º do CC. Esta teoria não resolve todas as situações, como é exemplo das casas do
algarve.
(2) Teoria segundo a qual deve restituir-se todo o enriquecimento concreto objetivo até ao
limite do empobrecimento abstrato (Valor da deslocação encarado em si mesmo).
(3) Síntese das duas teorias. Teoria segundo a qual deve-se restituir todo o enriquecimento
até ao limite do empobrecimento concreto objetivo ou do empobrecimento abstrato se
este for superior. O empobrecimento abstrato é superior ao empobrecimento concreto
objetivo, quando estamos perante a figura do desvio de direitos. Esta teoria resolve todas
as situações e é aquela que devemos seguir.
O que se restitui é o enriquecimento sem causa, e não a totalidade do enriquecimento.
• Situações em que existe um conflito entre responsabilidade civil e enriquecimento sem
causa:
(1) Se a indeminização por responsabilidade civil for superior á restituição por enriquecimento sem
causa – vamos seguir o regime da responsabilidade civil;
(2) Se a indeminização por responsabilidade civil for igual á restituição por enriquecimento sem
causa – dada a regra da subsidiariedade do enriquecimento sem causa vamos seguir o regime da
responsabilidade civil;
(3) Se a indeminização por responsabilidade civil for inferior á restituição por enriquecimento sem
causa – o empobrecido pode optar pelo enriquecimento sem causa;
Quando é que uma indeminização por responsabilidade civil é inferior a uma restituição por
enriquecimento sem causa? Quando estamos perante desvio de direitos, isto é, de danos abstratos
porque na Responsabilidade Civil apenas se indemnizam danos concretos e não danos abstratos,
enquanto no Enriquecimento sem causa podemos restituir até ao limite de um
dano/empobrecimento abstrato.

Responsabilidade Civil Extracontratual


A responsabilidade civil subdivide-se numa responsabilidade contratual e extracontratual /
obrigacional. Subdivide-se ainda entre responsabilidade objetiva (aquela que não assenta na culpa) e
responsabilidade subjetiva (aquela que assenta na culpa).
Na responsabilidade extracontratual temos 3 modalidades de responsabilidade:
(1) Responsabilidade civil por factos ilícitos (implica sempre culpa – responsabilidade subjetiva);
(2) Responsabilidade civil pelo risco prevista no 499.º e ss. do CC (não depende de culpa-
responsabilidade objetiva);
(3) Responsabilidade por facto lícito danoso/ ou pelo sacrifício (não depende de culpa –
responsabilidade objetiva).

• Responsabilidade civil por factos ilícitos (483.º e ss. do CC)


O 483.º do CC é aquele que prevê os pressupostos da responsabilidade civil por factos ilícitos. Os
pressupostos são: (1) facto; (2) Ilícito; (3) dano; (4) nexo causal entre o facto e o dano; e a (5) culpa.
O facto terá de ser ilícito e o dano terá de ser com culpa.
O facto é um ato voluntário, que pode ser positivo ou negativo, ou seja, pode estar em causa uma
ação ou uma omissão. Para alem do facto é necessário que este seja ilícito, que haja um delito. O
483.º do CC prevê uma clausula geral de imputação delitual, ou seja, nesta norma haverá ilicitude
quando houver uma de duas coisas: violação de direitos de outrem que se entendem como direitos
absolutos; ou violação de uma norma que vise a proteção de interesses alheios. O 484.º, 485 e
486.º do CC temos delitos específicos. O 484.º do CC prevê um delito específico que tem haver
com a ofensa do crédito ou do bom nome. O 485.º prevê um delito específico que tem haver
com conselhos, recomendações ou informações. O 486.º prevê um delito específico que é o delito
omissivo.
Este facto ilícito terá que ser imputável ao agente, porque se não houver imputabilidade não á
culpa. Para que haja imputabilidade é necessário que o agente tenha duas qualidades: seja livre para
praticar atos voluntários; e tenha discernimento para também praticar atos voluntários. Este tem,
portanto, de ter uma vontade autónoma, para existir imputabilidade e culpa. Esta imputabilidade está
prevista no 488.º do CC, pelo que o agente não é inimputável se se tiver colocado culposamente
nessa situação (Ex. A bebeu imenso, conduziu com uma elevada taxa de álcool e atropelou alguém
– é imputável). Esta norma faz ainda uma referência aos menores, e á luz do direito civil presume-
se a inimputabilidade dos menores de 7 anos (presunções ilidíveis).
Se o agente for imputável, age com culpa e dentro da culpa temos de um lado o dolo e de outro
a mera culpa. Esta distinção entre dolo e negligencia consciente é importante por causa do artigo
494.º do CC onde a indeminização devida por aquele que haja com mera culpa pode ser reduzida,
pode ser inferior ao valor do dano.
Esta culpa nos termos do 487.º do CC terá de ser provada pelo lesado, salvo três situações
excecionais em que está prevista uma presunção de culpa:
- 491.º do CC; 492.º do CC; 493.º do CC
Relativamente ao nexo causal (ligação entre o facto e o dano, a o facto tem de ser a causa daquele
dano) este está previsto no artigo 563.º do CC. Existem várias teorias relativamente a este nexo
causal, mas a teoria que aplicamos e que retiramos do 563.º do CC é a teoria da causalidade
adequada, isto é procuramos saber se aquele facto é a causa razoável do dano. As outras teorias
serão mais importantes a nível de direito criminal, e não ao nível de direito civil.
Relativamente ao dano (sem dano não existe responsabilidade civil), fazem-se várias distinções:
(1) dano patrimonial (é avaliado pecuniariamente) e dano moral (será compensado e apenas
indemnizam-se nos termos do artigo 466.º do CC, aqueles que pela sua gravidade mereçam a
tutela do direito). Dano patrimonial indemniza-se, enquanto dano moral compensa-se.
(2) danos emergentes (uma vantagem que já existe) e lucros cessantes (impede a concretização
de uma vantagem futura).
(3) danos presentes e danos futuros (não é um dano hipotético, é aquele que existiria se não
houvesse o facto)
A indemnização por estes danos, a regra é a do 462.º do CC, de colocar o lesado na situação em
que ele estaria se não fosse o dano. Só passaremos para uma indemnização pecuniária nos termos
do 566.º do CC se a indemnização em espécie for impossível, demasiadamente onerosa (Ex. A
mata um galgo afegão do seu vizinho, e para uma reconstrução natural tem de encontrar um
outro galgo afegão. Se terá de ir ao Afeganistão para encontrar outro galgo afegão) ou se não
reparar integralmente o dano.
Quanto ao cálculo da indemnização pecuniária, aplicamos a teoria da diferença, ou seja, calculamos
o valor do dano e depois deduzimos os ganhos do lesado, ou então deduzimos a contribuição do
lesado para o seu próprio dano (o artigo 570.º do CC aplica-se a este último caso e é fundamental).
O lesado pode ser negligente ou agir também com culpa, e aí deduzimos a sua contribuição e
aplicamos o regime do 570.º do CC em ligação com o 571.º do CC quando quem contribui não foi
o lesado, mas uma pessoa a mando dele - equipara-se á culpa do lesado.
São estes os pressupostos da responsabilidade por factos ilícitos
Se foram várias pessoas que em conjunto provocaram um dano, então entre elas haverá uma
responsabilidade solidária (490.º e 497.º do CC). O lesado pode pedir a indemnização a qualquer um
dos intervenientes, podendo esse depois pedir o direito de regresso.
Quanto a prazos de prescrição, constam no 498.º do CC, de modo que existe um prazo de 3 anos
a contar do conhecimento do direito á indemnização e este prazo de 3 anos está integrado num
prazo de 20 anos a contar do facto danoso (309.º do CC)
Nos termos do 487.º do CC caberá ao lesado fazer a prova da culpa do dano do lesante. Mas
existem 3 exceções, três casos em que se presume a culpa do agente:
491.º do CC - Relaciona-se com a responsabilidade daqueles que estão obrigados a vigiar outrem.
Presume-se a sua culpa quando aquele que ele vigiou provoca um dano a terceiro. Se B provocar
um dano a si próprio voltamos para o artigo 483.º e 487.º do CC, tendo os pais de B fazer a prova
da culpa de A nos termos do 487.º do CC. Existe uma parte da norma muito importante, quanto
á possibilidade de A excluir a sua responsabilidade. Este pode excluir a sua responsabilidade de duas
formas: fazendo a prova que vigiou corretamente ou então mesmo que não tenha vigiado
corretamente, pode invocar a causa virtual
492.º do CC - Está em causa a vigilância dos edifícios. Se o edifício ruir presume-se a culpa daquele
que estava obrigado a vigiá-lo a menos que ele faça a prova que vigiou corretamente, ou que
invoque a causa virtual.
493.º do CC - Este aplica-se a várias situações: vigilância de coisas moveis e imóveis, vigiar animais
e vigiar atividade perigosas. Este artigo não se aplica a acidentes de viação, porque a jurisprudência
considera que se aplicássemos esta presunção, á culpa nos acidentes de viação, os
proprietários/condutores quase nunca conseguiriam afastar a presunção. Nestes casos aplicamos o
regime geral do 483.º e 487.º do CC. Quanto a animais o esquema é o mesmo da alínea a). O A
afasta a presunção e culpa provando que vigiou corretamente o animal ou então mesmo que não
tenha vigiado corretamente, invocando uma causa virtual (mesmo que tivesse vigiado corretamente
a lesão teria sofrido aquele dano).
Regra: prova da culpa. Exceções: 491.º, 492.º e 493.º do CC
• Responsabilidade pelo Risco
Aqui existe tipicidade. Casos de imputação objetiva que obedece a uma regra de tipicidade de
acordo com o artigo 483.º n.º 2 do CC. Só haverá obrigação de indemnizar, indepventedemnete
da culpa, nos casos previstos. Quais as imputações objetivas contempladas?
(1) Responsabilidade objetiva do comitente pelos atos do seu comissário (500.º do CC) - Para
que o comitente responda pelo seu comissário é necessário que (1) haja uma relação de comissão,
e esta relação de comissão implica (2) uma escolha do comissário feita pelo comitente; (3) que o
comissário (a pessoa escolhida) esteja a agir por conta do comitente; (4) que exista uma relação
de subordinação do comissário em relação ao comitente, que não significa que tenha de existir um
contrato de trabalho entre eles. É necessário que surgem danos imputáveis ao comissário, danos
no exercício da sua função (se for fora não aplicamos o artigo 500.º do CC). Podes existir uma
imputação subjetiva ou objetiva, o que importa é que tenha causado danos no exercício da sua
tarefa - se isso acontecer o comitente responde por ele, indemniza o lesado e depois verá se
pode ou não exercer um direito de regresso em relação ao comissário (Ex. A pede ao seu filho
para distribuir uns jornais. Este decide fazer um desvio para fazer um passeio na Boavista com a
namorada. Atropela uma senhora de idade - A não responde pelo seu filho que causou um dano a
uma senhora de idade, como não está subordinado a A não responde por ele)
(2) Responsabilidade objetiva do estado e de outras pessoas coletivas (501.º do CC) - No fundo
o Estado responde pelos seus, quando estiver no âmbito de uma gestão privada e não no âmbito
de uma gestão publica. Existe relativamente a este artigo, legislação avulsa que é bastante exigente
para o Estado (vai ser colocada no Moodle a legislação avulsa).
(3) Responsabilidade objetiva pelos danos causados por animais (502.º do CC) - Já falamos dela
no 493.º do CC. Se tivermos o caso de um animal que causou um dano começamos sempre pelo
artigo 493.º do CC, se não houver culpa tentamos enquadrar o caso numa imputação objetiva.
Esse responsável objetivamente pelo seu animal, quando este causar um dano sem culpa do dono/
do vigilante. A expressão “perigo especial que envolva a sua utilização” dá a ideia de que só se é
responsável pelo animal se este envolver um perigo especial - mas qualquer animal envolve um
perigo especial do animal, de modo que se este causar um dano a terceiro é porque é do animal
fazer aquilo. O seu vigilante responde por ele, porque considera-se que qualquer animal envolve o
perigo de um animal. Mas existe um problema, porque tanto o artigo 493.º como o 502.º do CC,
pressupõe que exista um dono para esse animal. Se alguém for atacado por um cão abandonado,
vai agir contra quem? Contra o Estado que tem a obrigação de recolher os animais abandonados,
no âmbito do 483.º do CC.
(4) Responsabilidade objetiva por acidentes de viação (503.º e ss. Do CC) - Aqui temos várias
normas. No 503.º do CC os pressupostos estão no:
- n.º 1 e o responsável por regra será (1) aquele que tem a direção efetiva do veículo e; (2) utiliza
o veículo no seu próprio interesse (utilizar não é sinónimo de conduzir). Só existe interesse quando
não existe comissão. O que significa ter a direção refervia do veículo? Significa gozar das vantagens
do veículo, ter um poder sobre o veículo. Utilizar no próprio interesse, visa desde logo, afastar
desta responsabilidade objetiva o comissário (que conduz um veículo no interesse do comitente)
significa que esteja a ser utilizado pelo detentor que possui um interesse económico ou moral.
Quando existem empréstimos a jurisprudência faz uma distinção em empréstimo de curta duração
(onde considera que o proprietário continua a ter a direção efetiva do veículo) e de media/longa
duração (onde considera que o proprietário perde a direção efetiva do veículo). Ter a direção
efetiva do veículo não é sinónimo de ser proprietário, porque A pode ter um carro (ser
proprietário) e ter o seguro naqueles que tem a direção efetiva do veículo, como é exemplo
aqueles que possuem filhos;
- n.º 3 do 503.º do CC presume a culpa do comissário, de modo que o comissário terá de afastar
esta presunção de culpa, e volta a ser o comitente a responder nos termos do n.º 1 do 503.º do
CC. Pode vir a ser o comissário a responder sozinho nos termos do 483.º ou do 503.º n.º 1 do CC.
Responde sozinho e objetivamente, nos termos do 503.º n.º 1 do CC, quando não está no exercício
das suas funções. Se agir com culpa, responde sozinho nos termos do 483.º do CC. Se o comissário
estiver no exercício das suas funções e não conseguir afastar a presunção de culpa do n.º 3 do
503.º do CC, então haverá uma responsabilidade solidaria entre o comitente (que responde nos
termos do 503.º n.º 1 do CC) e o comissário (que responde por culpa). Quem são os beneficiários?
- A regra esta no artigo 504.º do CC que faz uma distinção entre transportes gratuitos e transportes
onerosos. Transportes onerosos - se o dito veículo for responsável objetivamente e se o
passageiro estava no âmbito de um contrato oneroso e sofreu danos, o passageiro tem direito a
uma indemnização pelos danos sofridos pela própria pessoa e pelos danos nas coisas por ela
transportadas, uma vez que agiu sem culpa. Transportes gratuitos - aqui o passageiro tem apenas
direito aos danos pessoais;
- O 505.º do CC prevê 3 situações em que se afasta a responsabilidade objetiva por acidentes de
viação (503.º do CC). Se o acidente for imputável ao lesado, o que tem a direção efetiva do veículo
não responde. Se o acidente for (…). Tudo aquilo que acontecer ao condutor ou ao veículo, não
é uma causa de força maior, mas sim um risco, porque conduzir é um risco permitido. Tem de
ser uma causa de força maior estranha (fora) ao funcionamento do veículo;
- O 506.º do CC relaciona-se com a colisão de veículos sem culpa de nenhum deles (só será causa
de exclusão se um dos condutores agiu com culpa) onde se pretende apurar quem é que responde
por que, quando ambos são responsáveis objetivamente pela colisão. Existem 3 formas de resolver
a situação: como não existe culpa podemos considerar que cada um dos condutores fica com os
seus próprios danos, mas por exemplo se existe uma colisão entre um camião e o veiculo ligeiro
não existe uma justiça; esta teoria anterior não era muito justa, pelo que criou-se outra teoria onde
cada um responde pelos danos do outro; existe uma terceira teoria, que é a que aplicamos, onde
tem de se verificar a situação de risco para cada um dos veículos, qual a contribuição para o risco
de cada um dos veículos para depois proceder-se a uma repartição do dano na medida da
proporção do risco.
- O 507.º do CC tem haver com responsabilidade solidária;
- O 508.º do CC é importante porque temos limites máximos de indemnização, onde a
indemnização devida pode ser inferior ao dano (á semelhança do 494.º do CC);
(5) Responsabilidade objetiva por danos causados por instalações de energia elétrica ou gás (509.º
do CC) - Relaciona-se com a instalação e energia elétrica ou gás, onde qualquer dano causado por
estas instalações será imputado aquele que terá a direção efetiva da instalação e a utilizar no seu
próprio interesse, a menos que invoque uma causa de força maior. Os danos causados por estas
instalações, tem também limites á indemnização (510.º do CC que remete para o artigo 508.º do
CC) a razão de ser é a responsabilidade objetiva sem culpa e os motivos são os mesmos do 508.º
do CC.

• Responsabilidade pelo facto lícito danoso (sacrifico)


O facto é lícito, mas causou um dano, e haverá a obrigação da indemnização. Não existe
propriamente um capítulo de responsabilidade por facto lícito danoso. O Estado de necessidade
permite afastar a ilicitude não deixando o agente de responder pelos danos. Temos de ter atenção
ao nexo causal em matéria de responsabilidade pelo sacrifico, porque aqui temos de procurar a
norma que habilita a agir (estado de necessidades legitima defesa) e os danos que essa norma
permite praticar são aqueles que vão ser suportados pelo sacrifico. Se houver danos que
extravasam a permissão da norma, então partir daqui já haverá uma imputação delitual/subjetiva.

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