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25/05/2023
Número: 1005824-50.2022.8.11.0007
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA
Órgão julgador: JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL DE ALTA FLORESTA
Última distribuição : 30/08/2022
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Infração Administrativa
Nível de Sigilo: 0 (Público)
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
DAYANE BRUCHMAM MARTINS PASIANI (REQUERENTE)
CARLOS EDUARDO BARBOSA DE LIMA (ADVOGADO(A))
DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO (REQUERIDO)
DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRANSITO DE MATO GROSSO -DETRAN
(REQUERIDO)
ESTADO DE MATO GROSSO (REQUERIDO)
Documentos
Id. Data da Movimento Documento Tipo
Assinatura
118596499 24/05/2023 18:12 Expedição de Outros documentosJuntada de Sentença Sentença
Projeto de sentençaExpedição de Outros
documentosJulgado procedente o pedido
ESTADO DE MATO GROSSO
PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL, CRIMINAL E DA FAZENDA PÚBLICA DE ALTA
FLORESTA
Vistos.
Trata-se de julgamento antecipado da lide com base no art. 355, II, do vigente Código de
Processo Civil.
I – Preliminares
Não há propriamente lide em desfavor do Estado de Mato Grosso, sendo que os pedidos são
todos de competência do DETRAN/MT, órgão com autonomia administrativa e financeira
responsável pelas transferências almejadas pela autora.
Conforme se observa nos autos, não houve designação de audiência de conciliação para a
presente demanda, razão pela qual desnecessária a justificativa apresentada.
c) Da Inépcia da Inicial
Alega o requerido DETRAN/MT que a inicial é inepta, apontando que a autora padece de
interesse processual.
Desse modo, verifica-se que a ausência de interesse processual não implica no reconhecimento
da inépcia da inicial (artigo 330, I, do CPC), mas sim no seu indeferimento, nos termos do artigo
330, III, do CPC.
II – Mérito
Trata-se de Ação Ordinária com Pedido de Tutela Antecipada para Transferência de Pontos da
Carteira de Motorista, movida por DAYANE BRUCHMAM MARTINS PASIANI em desfavor de
DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DE MATO GROSSO – DETRAN/MT e do
ESTADO DE MATO GROSSO.
A autora alega ser proprietária dos veículos com as placas RAR9F70 e ECVOE54, que detém
diversos negócios pelo país, de modo que necessita de terceiros para atividades laborativas.
Aduz que, em consulta ao seu prontuário da Carteira Nacional de Habilitação - CNH, se deparou
com 06 autos de infração de trânsito que não foram cometidos por ela, mas sim pelo Sr. Antônio
Carlos Pasiani.
Sustenta que apresentou formulário de identificação indicando como condutor o Sr. Antônio
Carlos Pasiani CNH 02442680387, devidamente preenchido, todavia, devido a iminência de ser
deflagrado um processo administrativo por constar no prontuário da autora 44 pontos, que
culminaria na suspensão do seu direito de dirigir, busca-se a tutela jurisdicional para reconhecer
a sua ilegitimidade perante as infrações cometidas pelo Sr. Antônio e, consequentemente, a
exclusão dos pontos do seu prontuário resultantes destas infrações.
A tutela de urgência foi deferida, suspendendo os efeitos dos autos de infração e trânsito:
S026044408, 1O1143267, S026044408, 1J7674437, 1J7727497 e 1J8192597 exclusivamente
em relação à CNH da parte autora (Id. 94031453).
Em contestação o Estado de Mato Grosso defendeu não deter legitimidade para figurar no polo
passivo da demanda, uma vez que os pedidos requeridos possuem providências de competência
exclusiva do DETRAN/MT. Pugna pelo reconhecimento da sua ilegitimidade passiva ad
causam (Id. 96934045).
Por sua vez, o DETRAN/MT alegou que os requerimentos juntados pela autora, assinados pelo
suposto infrator condutor, por si só, não demonstram a plena vontade e reconhecimento do
mesmo, devendo ele integrar a lide. Afirma que o pedido para transferência de pontuação possui
prazo decadencial de trinta dias a partir da notificação de autuação para requerer e que não há,
nos autos, demonstração de que os mesmos foram protocolados junto aos entes de trânsito
responsáveis. Aduz que a autora não demonstra erro ou ilicitude da Autarquia, bem como recusa
injustificada para que impedisse a mesma de transferir os pontos de sua habilitação para outrem.
Argumenta ser duvidoso que as infrações de trânsito contidas nos autos de infração, objetos
Em análise aos fatos e documentos carreados aos autos, restaram demonstrados, pelos
documentos juntados em Id. 93874625/93874629/93874632/ 93874634/93874637/93874637 o
real condutor dos veículos placas RAR9F70 e ECVOE54, o qual, inclusive, assinou todos os
formulários de identificação de condutor infrator em conjunto com a autora/proprietária, o que
demonstra que reconhece como sua a responsabilidade pelos eventos, não havendo necessidade
de incluí-lo ao feito.
Ademais, a Corte Superior já firmou entendimento de que a preclusão do prazo para informar o
real condutor do veículo é meramente administrativa, pois "a verdade dos fatos a que chegou o
Judiciário é suficiente para afastar a presunção jurídica de autoria (e, consequentemente, de
responsabilidade) criada na esfera administrativa" (AgRg no Ag 1370626/DF, Relator Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 27/04/2011).
Com efeito, a proprietária do automóvel tem o direito de buscar a via judicial a fim de
demonstrar que não foi a responsável pelas infrações de trânsito, não podendo o Poder
Judiciário eximir-se de apreciar tal pleito, sob pena de desconsiderar o preceito constitucional
estampado no art. 5º, XXXV, da Carta Magna.
Ademais, seria um contrassenso ter as multas o caráter pedagógico e punitivo, e ser aplicada em
desfavor da pessoa que não praticou as transgressões ao direito de trânsito que lhe foram
atribuídas, o que também vai de encontro com o que dispõe o artigo 257, § 3º, do CTB que
estabelece a responsabilização exclusiva do CONDUTOR pelas infrações cometidas na
direção do veículo:
Desse modo, deve ser julgado procedente o pedido da autora para determinar que seja realizada
a transferência das infrações contidas nos autos S026044408, 1O1143267, S026044408,
1J7674437, 1J7727497 e 1J8192597 e dos pontos delas decorrentes ao condutor/infrator e,
consequentemente, seja excluído do prontuário da CNH da autora os pontos provenientes dos
referidos autos de infração, devendo a autarquia tomar as providências cabíveis para
cumprimento da determinação judicial.
III – Dispositivo
Transitado em julgado e se nada for requerido, remetam-se os autos ao arquivo, com as cautelas
e anotações necessárias.
Intimem-se.
Submeto o presente projeto de sentença à homologação do Juiz Togado, para que surta seus
efeitos legais. (Art. 40 da Lei 9.099/95).
Vistos.
Com fulcro no artigo 40 da Lei n.º 9.099/95, HOMOLOGO sentença/decisão proferida pela d.
Juíza Leiga, nos seus precisos termos, para que produza seus jurídicos e legais efeitos.
Cumpra-se.