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Tribunal de Justiça do Estado do Ceará - 1º Grau

PJe - Processo Judicial Eletrônico

21/11/2023

Número: 3000912-50.2023.8.06.0016
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 21ª Unidade do Juizado Especial Cível da Comarca de Fortaleza
Última distribuição : 23/08/2023
Valor da causa: R$ 5.343,04
Assuntos: Indenização por Dano Moral, Repetição do Indébito
Nível de Sigilo: 0 (Público)
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
JOSE ROBSON BEZERRA DE SOUSA (AUTOR)
LOCALIZA RENT A CAR SA (REU)
LEONARDO FIALHO PINTO (ADVOGADO)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
67381953 23/08/2023 INICIAL Robson x LOCALIZA Petição
14:08
AO MERITÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA 21ª UNIDADE DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA
COMARCA DE FORTALEZA/CE

Art. 128: São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que a
lei local estabelecer:
I – Receber INTIMAÇÃO PESSOAL em qualquer processo e grau de jurisdição, contando-se-lhe
em DOBRO todos os prazos;
XI - representar a parte, em feito administrativo ou judicial, independentemente de mandato,
ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;(GRIFOS NOSSOS) (Lei
Complementar n° 80 de 12 de janeiro de 1994)
Art. 5°: Fica assegurado à Defensoria Pública o PRAZO EM DOBRO E INTIMAÇÃO PESSOAL
no exercício das funções institucionais, nos termos do Art. 128, I, da Lei Complementar n° 80 de 12
de janeiro de 1994.
§ 1º. A Defensoria Pública por seus Defensores, representará as partes em juízo e no exercício
das funções institucionais independentemente de procuração, praticando todos os atos do
procedimento e do processo, inclusive os recursais, ressalvados os casos para os quais a lei exija
poderes especiais.(GRIFOS NOSSOS) (Lei Complementar Estadual nº 06 de 28 de Abril de
1997)

JOSÉ ROBSON BEZERRA DE SOUSA, brasileiro, solteiro, motorista de aplicativo, CPF:


780.322.883-68, fone: (85) 98660-8645 (aplicativo “whatsapp”), endereço eletrônico:
robsondotaxi100@gmail.com, domiciliado em Fortaleza/CE e residente na Rua Professor Dias da Rocha,
181, Casa, Meireles, CEP: 60.170-310, vem à sempre honrosa presença deste nobre juízo, com acato e
respeito costumeiros, através da Defensoria Pública do Estado do Ceará, para ajuizar a presente:

AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

em desfavor de LOCALIZA RENT A CAR S.A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no
CNPJ sob o nº 16.670.085/0095-35, com endereço na Avenida da Abolição, nº 2236, Bairro Meireles,
Fortaleza/CE, CEP: 60165-080, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir apresentados:

1. DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA E DA DISPENSA DE INSTRUMENTO


FORMAL DE PROCURAÇÃO:

Inicialmente, por ser legalmente pobre, a autora requer a concessão dos benefícios da Justiça
Gratuita, com fulcro nas disposições da Lei Complementar Federal nº 80/1994, da Lei Complementar do
Estado do Ceará nº 06/1997, além de arts. 98 e 99 do CPC, notadamente para os fins previstos no art. 54,
parágrafo único, da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, em caso de eventual manejo de recurso,
na forma dos arts. 41 e ss. do aludido Diploma de Lei.

Oportuno ressaltar, outrossim, que aos membros da Defensoria Pública é conferida a


prerrogativa de praticar atos processuais independentemente de outorga de instrumento formal de procuração
pelos hipossuficientes, conforme Lei Complementar Federal nº 80/1994 e Lei Complementar do Estado do
Ceará nº 06/1997.

2. DOS FATOS:

O autor trabalha como motorista de aplicativo. No dia 17 de abril, alugou um carro junto a
promovida, tudo conforme a legislação. Ademais, ainda pagou a caução em dois cartões, no dia 15/04/2023 e
fez todos os procedimentos necessários. Contudo, após 24 horas depois da contratação, a Localiza entrou em
contato com o autor, mandou um motoqueiro na residência do autor para recolher o carro, sem informar a

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motivação, pedindo apenas que lhe acompanhasse até o depósito. O autor assim o fez, mas até o presente
momento não entendeu o motivo, passou o dia inteiro (19-08-23) na Localiza aguardando uma resposta e
informaram que não havia uma resposta da Central, sendo que apenas na quarta feira informaram que o
contrato deveria ser rescindido e o motivo seria sigiloso (ninguém sabia informar ao autor). Na rescisão,
ainda lhe cobraram uma multa referente a rescisão no valor de R$ 343,04 (trezentos e quarenta e três reais e
quatro centavos).

Nesse contexto, Indignado e sem resposta o postulante compareceu ao Procon onde permaneceu
sem nenhuma resposta referente a rescisão e a cobrança indevida da multa, sendo encaminhado diretamente
do Procon ao Juizado de competência da sua residência. Informaram apenas que o contrato teria sido
rescindido por um suposto uso inadequado do carro, não informando com exatidão do que se tratava.
Contudo o autor andou de forma legal, sem causar qualquer avaria no veículo, tomando todo cuidado
necessário, tanto que o carro foi entregue em perfeito estado. Não deve prosperar essa conduta abusiva da
promovida.

Portanto, pertinente inferir que, até o momento, o requerente, que já finalizou todos os
pagamentos junto a Localiza, continua sem saber a motivação dessa rescisão, restando-lhe buscar a
Justiça para se ver devidamente indenizado pelos danos materiais (multa cobrada indevidamente) e
danos morais que experimentou.

3) DO DIREITO

3.1. DA INCIDÊNCIA DO CDC – RECONHECIMENTO DA VULNERABILIDADE DO


CONSUMIDOR - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA:

Dúvidas não há acerca da aplicação do CDC ao caso em mesa, vez que a relação entre
requerente e requeridas é típica de consumo. O argumento encontra amparo nos arts. 2º e 3º, §2º, do retro
mencionado Diploma Legal, que assim dispõem:

“Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.

Parágrafo único. (in omissis).

Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante


remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.”

Em esclarecedor escólio, LEONARDO DE MEDEIROS GARCIA ensina que:

“Então, a chave para se identificar o que é “serviço” no código é verificar se ocorre a


prestação mediante remuneração, ainda que de forma indireta, como nos serviços
aparentemente gratuitos. Do contrário, não é considerado serviço para fins de aplicação do
CDC.” (In GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do Consumidor. Editora Impetus. 5ª
edição. Niterói-RJ. 2009. p. 28)

Os dispositivos de lei acima reproduzidos nos conduzem à inabalável conclusão de que o Sr.
José Robson Bezerra amolda-se ao conceito de consumidor, ao passo que a demandada se enquadra na
definição legal de fornecedora de serviços.

Como corolário lógico e natural, deve ser reconhecida, “in casu”, a VULNERABILIDADE do
autor, plasmada no art. 4º, I, do Código de Defesa do Consumidor, assim redigido:

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“Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção
de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

(in omissis).”

Outrossim, a inversão do ônus da prova, em sua essência e ideia, também não pode deixar de
ser aplicada. Esta técnica é uma das medidas de proteção consagradas pelo CDC em favor do consumidor.
Seus requisitos são veiculados no art. 6º, VIII, do Diploma Legal mencionado:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor,
no processo civil, quando, a critério do juiz, for VEROSSÍMIL A ALEGAÇÃO ou QUANDO FOR
ELE HIPOSSUFICIENTE, segundo as regras ordinárias de experiências;

É instrumento cuja aplicação se dá “ope judicis”, desde que, a critério do magistrado,


estejam devidamente presentes os requisitos autorizadores para tanto, independendo inclusive de
requerimento formulado pela parte.

Pois bem, acerca da verossimilhança preconizada pelo art. 6º, VIII, do Diploma
Consumerista, é juízo de probabilidade, extraído do material probatório, devendo haver, no caderno
processual, indícios de que as alegações sejam verdadeiras. Por certo, tais alegações devem ser imantadas de
sequência lógica e de plausibilidade. Na espécie, perceba, augusto juízo, o frondoso material de evidências,
ratificando robustamente os eventos esgrimidos no escorço fático.

A seu turno, a hipossuficiência deve ser analisada casuisticamente, sob a ótica de aspectos
econômicos, técnicos, jurídicos, dentre outros, dizendo respeito à impotência do consumidor (ou ao menos
enorme dificuldade) em, dentro do contexto da lide, apurar e demonstrar os fatos que o levaram a juízo e o
eventual dano sofrido. Noutro dizer, pressupõe, concretamente, uma natural dificuldade do consumidor
dentro dos parâmetros da lide, em desincumbir-se de seu encargo processual probatório. No caso em apreço,
salta aos olhos mais desarmados a hipossuficiência econômica e, porque não dizer, técnica e jurídica da
acionante, quando comparada à promovida, estabelecimento clínico bem consolidado em nossa capital.

Dessarte, conquanto sejam critérios alternativos para a inversão do “onus probandi”, cediço é
que o requerente se enquadra num e noutro, dada a verossimilhança de suas assertivas, aliada à sua evidente
hipossuficiência, razão pela qual roga pela inversão do ônus da prova, de modo que caiba à promovida
demonstrar que não agiu de modo reprovável no mercado de consumo, causando lesões materiais e morais à
Autora.

3.2. ASPECTOS DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL – FATO DO SERVIÇO –


RESPONSABILIDADE OBJETIVA:

A ordem jurídica tem, como viso principal, proteger o lícito e repreender o ilícito. Importa dizer
que, se por um lado, se empenha em tutelar a atividade do homem que se conduz conforme o direito, por
outro reprime a atividade daquele que o contraria.

Assim, válido afirmar que o sistema jurídico pátrio se destina aos atos lícitos, não deixando de
cuidar também dos ilícitos, antes de mais nada pela natural necessidade de reprimenda destes, corrigindo
seus efeitos nocivos. É para concretizar este objetivo que são estabelecidos deveres, que podem ser positivos
(obrigações de dar, de fazer…) ou negativos (não fazer, tolerar que se faça…). Algumas das “obligatios” a
todos atinge indistintamente, como no caso dos direitos absolutos, ao passo que outras atingem pessoa ou
pessoas determinadas.

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Exsurge daí a noção de dever jurídico, assim entendida como a conduta externa de uma pessoa
imposta pelo direito positivado, fruto de clamor da própria convivência social, tratando-se dessarte de
comando normativo dirigido à inteligência e à vontade dos indivíduos, de sorte que impor deveres jurídicos
importa criar obrigações.

Pois bem, a violação de um dever jurídico traduz a prática de ilícito, que tem como
consequência, amiúde, dano para outrem, gerando um novo dever jurídico, no sentido de reparar ou
compensar a lesão.

A explanação introdutória revela-se útil, pois nos dá o panorama apto à compreensão do que se
convencionou denominar responsabilidade civil, visceralmente ligada à noção de desvio de conduta,
alcançando as ações (comissivas ou omissivas) perpetradas de maneira contrária ao ordenamento jurídico e
danosas a terceiro ou terceiros. Noutras palavras, a responsabilidade civil designa o dever que o
jurisdicionado tem de reparar prejuízo provocado a outrem, decorrente da violação de um dever jurídico.

Dito isso, não olvidemos que o Código Civil veicula, em seu art. 927, “caput”, cláusula geral de
responsabilização subjetiva, abordando em seu parágrafo único a possibilidade de responsabilidade objetiva
nas situações que descreve, averbando que:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos


casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

É expressa a referência, no dispositivo legal, aos arts. 186 e 187, fonte legislativa da noção de
ato ilícito e de suas consequências na vida em sociedade, tratando o segundo preceptivo referido do ilícito
funcional (ou abuso de direito):

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

“Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.”

Vale realçar que os dispositivos acima reproduzidos se referem, prioritariamente, à


responsabilidade civil extracontratual (ou aquiliana), em que o ato ilícito não decorre de um sinalagmático.
Quando o ilícito decorre de descumprimento de acordo de vontades, incide mais precisamente o art. 389 do
CC/2002, “ipsis verbis”:

“Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.”

De toda sorte, a responsabilização civil, seja ela contratual ou extracontratual, não dispensa a
presença de alguns elementos caracterizadores, que traduzem seus requisitos: conduta ativa ou omissiva do
agente; lesão causada a terceiro ou terceiros; nexo causal entre uma e outra; e, via de regra, dolo ou culpa
(dispensados nos casos de responsabilização objetiva).

Sobre o elemento conduta, reproduzimos o ensinamento do percuciente mestre SILVIO DE


SALVO VENOSA:

“Quanto à ação ou omissão voluntária, já expusemos que mais propriamente se trata de


conduta, porque o ato ilícito pode compor-se de um único ato ou de série de atos. A conduta
ativa geralmente constitui-se em ato doloso ou imprudente, enquanto a conduta passiva é
estampada normalmente pela negligência. A conduta omissiva só ocorre quando o agente
tem o dever de agir de determinada forma e deixa de fazê-lo. E ativa a conduta do indivíduo

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que imprime velocidade excessiva a seu automóvel e provoca acidente. E omissiva a
conduta do indivíduo que deixa seu automóvel estacionado em declive, sem acionar o freio
de mão, e o deslizamento do veículo provoca dano na propriedade alheia.

A ideia original é de que a ação praticada pelo próprio agente o incumbirá de indenizar. No
entanto, na responsabilidade civil, tendo em vista o maior equilíbrio das relações sociais,
por vezes o autor do dano não será o responsável ou ao menos responsável único pela
indenização. Os empregados, por exemplo, agindo com culpa, farão com que o dever de
indenizar seja dos patrões, assim como nas demais situações do art. 932. Trata-se da
responsabilidade por fato de outrem, que se distingue da responsabilidade primária por fato
próprio.” (In VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Parte Geral. Editora Atlas. 13ª
edição. São Paulo/SP. 2013. p. 544)

Já no tocante ao nexo causal, segundo a pena de ouro de CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA:

“Para que se concretize a responsabilidade é indispensável que se estabeleça uma


interligação entre a ofensa à norma e o prejuízo sofrido, de tal modo que se possa afirmar
ter havido o dano ‘porque o agente procedeu contra o direito.” (In PEREIRA, Caio Mario
da Silva. Responsabilidade Civil. De acordo com a Constituição de 1988. Editora Forense.
5ª edição. Rio de Janeiro/RJ. 1994. p. 75)

No mesmo norte, CARLOS ROBERTO GONÇALVES consigna tratar-se de:

“Uma relação necessária entre o fato incriminado e o prejuízo. É necessário que se torne
absolutamente certo que, sem esse fato, o prejuízo não poderia ter lugar.” (In
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Editora Saraiva. 5ª edição. São
Paulo/SP. 2010. pp. 348/349)

No que tange à culpa e ao dolo, extremamente oportuno reproduzir o entendimento de


SERGIO CAVALIERI FILHO, “in verbis”:

“Tanto no dolo como na culpa há conduta voluntária do agente, só que no primeiro caso a
conduta já nasce ilícita, porquanto a vontade se dirige à concretização de um resultado
antijurídico - o dolo abrange a conduta e o efeito lesivo dele resultante -, enquanto que no
segundo a conduta nasce lícita, tornando-se ilícita na medida em que se desvia dos padrões
socialmente adequados. O juízo de desvalor no dolo incide sobre a conduta, ilícita desde a
sua origem; na culpa, incide apenas sobre o resultado. Em suma, no dolo o agente quer a
ação e o resultado, ao passo que na culpa ele só quer a ação, vindo a atingir o resultado por
desvio acidental de conduta decorrente de falta de cuidado.
Como observa o insigne Caio Mário, na culpa encontra-se também o fator inadimplemento,
porém despido da consciência da violação. A ação é voluntária, no que diz respeito à
materialidade do ato gerador das consequências danosas. Mas o agente (ao contrário do que
ocorre no dolo) não procura o dano como objetivo de sua conduta, nem procede com a
consciência da infração (Caio Mário daSilva Pereira, ob. cit., v. 1l/274).

Convém, ainda, ressaltar que não vemos nenhum fundamento para se dizer, como querem
alguns, que o dolo e a culpa civil são diferentes do dolo e da culpa penal. A rigor,
substancialmente são iguais, têm os mesmos elementos; se diferença houver, será apenas de
grau. É verdade que no Direito Civil, quando se trata dos defeitos dos negócios jurídicos,
emprega-se a palavra dolo com um sentido especial, para indicar a malícia ou manobra
fraudulenta com que uma das partes do negócio procura induzir a outra a erro. Mas isso é
apenas uma exceção que confirma a regra. Quando se cuida de ato ilícito, o conceito de
dolo é o mesmo do Direito Penal.” (In FILHO, Sergio Cavalieri. Programa de
Responsabilidade Civil. Editora Atlas. 10ª edição. São Paulo/SP. 2012. p. 32)

E, quanto ao dano (ou lesão), socorremo-nos nas ponderações de FLÁVIO TARTUCE:

“Como é notório, para que haja pagamento de indenização, além da prova de culpa ou dolo
na conduta, é necessário comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial suportado por
alguém. Em regra, não há responsabilidade civil sem dano, cabendo o ônus de sua prova ao
autor da demanda, por aplicação do art. 333, I, do CPC.

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Prevê a Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça que é possível a cumulação, em uma
mesma ação, de pedido de reparação material e moral. Assim, logo após a Constituição
Federal de 1988, que reconheceu danos morais como reparáveis, a jurisprudência passou a
admitir a cumulação dupla dos danos.

A tendência atual é de se reconhecer novos danos, ampliando o teor da súmula. Nesse


contexto, o próprio Superior Tribunal de Justiça editou, em 2009, a Súmula 387, admitindo
a cumulação dos danos estéticos com os danos morais e, obviamente, também com os
danos materiais (cumulação tripla).” (In TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil –
Volume Único. Editora Método. 4ª edição. São Paulo/SP. 2014. p. 485)

Dessa forma, feitas tais considerações, não podemos olvidar da natureza consumerista da
relação mantida entre a requerente e as acionadas. “Ipso facto”, tem lugar, também, o regramento do art. 6º,
VI, da Lei Ordinária Federal nº 8.078/90, aplicável pela interlocução das fontes de direito, gizando que:

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

(in omissis)

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,


coletivos e difusos;

(in omissis)” (grifos nossos)

Em verdade, a situação explanada no bosquejo fático revela inegável acidente de consumo,


defluente das censuráveis atitudes tomadas pelos prepostos da parte ré, desembocando não só em gastos por
parte da requerente, sem a devida contrapartida, como também em sísmico abalo em sua paz e seu sossego.

Ocorreu o que a doutrina denomina de fato do serviço, em que o defeito transborda a esfera
do dito serviço em si mesmo considerado, atingindo não só o patrimônio, mas também a incolumidade física/
psíquica da consumidora, e cuja responsabilização civil é de natureza objetiva, nos termos do art. 14,
“caput”, do CDC, assim redigido:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.

(in omissis).” (grifos nossos)

Dessarte, não há motivo para maiores perquirições acerca do elemento culpa. A conduta
adotada pela requerida na espécie, através de seus prepostos, foi abastosamente narrada nas linhas pretéritas.
As lesões, tanto de ordem moral quanto material, são incontestes (e serão melhor explicitadas no
tópico seguinte), ao passo que o liame causal entre a ação/omissão da requerida e os danos sofridos pelo Sr.
José Robson de Sousa Bezerra salta aos olhos mais desarmados.

3.3. DOS DANOS OCASIONADOS – DANOS MORAIS E MATERIAIS –


POSSIBILIDADE DE PEDIDO CONJUNTO:

A possibilidade de pedido cumulado de reparação por danos morais e materiais extrai-se, antes
de tudo, do próprio texto da “Lex Legum”, por força da previsão de lavra do constituinte originário,
plasmada no art. 5º, incisos V e X:

“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por


dano material, moral ou à imagem;

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X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;”

Comentando o núper-citado inciso V, o festejado professor ALEXANDRE DE MORAES


assaca que:

“A Constituição Federal prevê o direito de indenização por dano material, moral e à


imagem, consagrando ao ofendido a total reparabilidade, em virtude dos prejuízos sofridos.
A norma pretende a reparação da ordem jurídica lesada, seja pelo ressarcimento econômico,
seja por outros meios, por exemplo, o direito de resposta.

O art. 5º, V, não permite qualquer dúvida sobre a reparação por dano moral, e a
cumulatividade dessa com a indenização por danos materiais.” (In MORAES,
Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. 3ª edição.
Edit. Atlas S.A. São Paulo. 2003. Pág. 209. Grifos nossos)

Dano patrimonial (ou material) é aquele suscetível de avaliação pecuniária. Em outras


palavras, é aquele que incide sobre interesses de natureza material ou econômica e, portanto, reflete-se no
patrimônio do lesado. Pode-se afirmar, então, que em danos dessa natureza, o fato aviltante representa a
lesão de interesses de ordem material, e sua quantificação não traz maiores tormentos, posto que corresponde
ao prejuízo pecuniário sofrido pela parte.

No caso em apreço a postulante pagou o valor de R$ 343,04 (trezentos e quarenta e três


reais e quatro centavos), devido a multa de rescisão do contrato realizado com a empresa ré
LOCALIZA, porém não deu causa a esse ocorrido, não havendo motivos para ter sido cobrado pela
multa em questão. A RESTITUIÇÃO do valor exposto é direito do autor, devendo ser resguardado e
atendido integralmente.

Noutro giro, o dano moral, que na lição sucinta de SILVIO DE SALVO VENOSA, “é o
prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima.” (In Direito Civil – Responsabilidade
Civil. 3ª ed. Edit. Atlas S.A. São Paulo. 2003. Pág. 33), também se faz sentir. O professor ANTÔNIO
CHAVES, citado por CLAYTON REIS, ensina que:

“Dano moral é a dor resultante da violação de um bem juridicamente tutelado, sem


repercussão patrimonial. Seja a dor física – dor-sensação, como a denomina Carpenter -,
nascida de uma lesão material; seja a dor moral – dor-sentimento – de causa material.” (In
REIS, Clayton. Dano Moral. Editora Forense. 4ª edição. Rio de Janeiro-RJ. 1998. pp.
05/06)

Vale realçar que em situações como esta a lesão imaterial independe de específica e clara
demonstração, decorrendo do próprio fato da violação, como expressão do desenvolvimento da
responsabilidade objetiva. Quer dizer, por envolver lesão ao íntimo das pessoas, dispensa a necessidade de
prova, conformando-se a ordem jurídica com o a demonstração do comportamento comissivo ou omissivo do
lesante. Não é outra a conclusão que se pode extrair do entendimento pacífico do Superior Tribunal de
Justiça consubstanciado na ementa do Resp 745.807, publicado no DJ de 26.02.2007, p. 584, vejamos:

“Dano moral. Devolução indevida de cheque. Prova do dano moral. Valor. Precedentes da
Corte.
(...)
2. Já assentou a Corte que não é necessário provar o dano moral, mas, apenas, o fato
que o ocasionou.
3. O valor somente deve ser revisto quando absurdo ou insignificante, o que não ocorre
neste feito.
4. Recurso especial não conhecido. (grifos nossos)

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Em outra ocasião, o colendo Tribunal Federal registrou que:

“Não há falar em prova do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o
sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam.” (STJ, Terceira Turma, REsp nº 318.099⁄SP,
Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. em 06.12.2001, DJ 08.04.2002, p.211)

Tal se dá porque as regras de experiência comum, subministradas pela observação do que


ordinariamente acontece, indicam, seguramente, que os fatos de que tratam aos autos causaram ao autor,
intuitivamente, dor psíquica característica de dano moral, porquanto frustradas suas expectativas de utilizar
do automóvel alugado. Ademais, o carro foi retirado de sua casa, passando o autor por forte constrangimento
, tendo peregrinado por vários dias na Localiza atrás de uma explicação.

No que pertine ao valor da compensação do dano moral, dado o caráter da imaterialidade,


segue a regra do arbitramento, servindo o pedido inicial da parte autora apenas como balizamento ao
magistrado, o qual tomará como parâmetro os princípios constitucionais da razoabilidade e
proporcionalidade. O certo é que o valor estipulado deve “... ser suficiente para desestimular aquele que
causou o dano, no sentido de que não venha a provocá-lo novamente” (STJ, Segunda Turma, REsp. nº
334781/PR, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, j. em 03/05/2005, DJ 13/06/2005 p. 225).

Com efeito, a indenização por danos morais possui ínsita a função do desestímulo, bem
delineada pelo e. TJ paulista:

“EMENTA: A reparação do dano moral tem também natureza punitiva, aflitiva para o
ofensor, com o que tem a importante função, entre outros efeitos, de evitar que se repitam
situações semelhantes. A teoria do valor de desestímulos na reparação de danos morais
insere-se na missão preventiva da sanção civil, que defende não só o interesse privado
da vítima mas também visa a devolução do equilíbrio às relações privadas, realizando-
se assim, a função inibidora da teoria da responsabilidade civil” (Apelação com revisão
n. 477.907-0/3, Araraquara. Apelante: Usina Maringá S/A Indústria e comércio, Apelada:
Aparecida Donizeti Angelo Delfim. Grifos nossos)

Assim, é razoável a condenação da parte adversa a compensar os danos morais sofridos


pelo requerente, em valor não inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), capaz de, a um só tempo,
amenizar a dor experimentada pelo autor, e ao mesmo tempo punir a requerida, servindo-lhe de
exemplo para que, doravante, evite conduzir-se de modo tão desidioso no mercado de consumo.

4. DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, a promovente requer à ponderada sabedoria deste juízo:

(a) a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, especialmente para os fins previstos no art.
54, parágrafo único, da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, em caso de eventual manejo de
recurso, na forma dos arts. 41 e ss. do aludido Diploma de Lei;

(b) que promova e declare a inversão do ônus da prova;

(c) que determine a citação da promovida, cientificando-a de que dispõe de prazo até a data da
audiência de instrução e julgamento para respostar, querendo, sob pena de revelia, além de intimá-la para
participar da audiência de conciliação, ora pendente de aprazamento, alertando expressamente a adversa de
que seu não comparecimento importa igualmente em revelia; e

(d) no mérito, que acolha integralmente os pedidos formulados, no sentido de condenar a


promovida a: (d.1) indenizar a requerente pelos danos materiais ocasionados, em valor equivalente a R$
343,04 (trezentos e quarenta e três reais e quatro centavos).; e (d.2) compensar a postulante pelos graves
danos morais causados, em quantia não inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

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Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente
depoimento pessoal da parte contrária, por seu representante, sob pena de confesso, documentos,
testemunhas, e tudo o mais que se fizer necessário para que se alcance a verdade real.

Dá à causa o valor de R$ 5.343,04 (cinco mil trezentos e quarenta e três reais e quatro
centavos).
São os termos em que pede e espera deferimento.

Fortaleza/CE, 18 de agosto de 2023.

DÉBORA MASCHIO
DEFENSORA PÚBLICA

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