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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

PJe - Processo Judicial Eletrônico

08/04/2024

Número: 5010548-36.2023.8.13.0525
Classe: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 3ª Vara Cível da Comarca de Pouso Alegre
Última distribuição : 06/07/2023
Valor da causa: R$ 20.000,00
Assuntos: Contratos Bancários
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
SEBASTIAO APARECIDO CANDIDO (AUTOR)
ANDREZA MONALIZA PEREIRA (ADVOGADO)
BANCO MASTER S/A (RÉU/RÉ)
JULIA BRANDAO PEREIRA DE SIQUEIRA (ADVOGADO)
NAYANNE VINNIE NOVAIS BRITTO (ADVOGADO)
NATHALIA SATZKE BARRETO (ADVOGADO)

Documentos
Id. Data da Assinatura Documento Tipo
9857401102 06/07/2023 13:50 Petição Inicial Petição Inicial
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO
DA VARA _ CÍVEL DA COMARCA DE POUSO ALEGRE/MG

(...) Verificada a fraude na contratação realizada com


a utilização dos dados do autor, imperiosa a
declaração de nulidade do ato. 3. É cabível a
condenação em indenização por danos morais da
instituição financeira, ante a situação vexatória a
que foi submetido o requerente, em decorrência do
contrato fraudulento levado a efeito por terceiros,
(...). (TJ-MG - AC: 10024123490898001 Belo
Horizonte, Relator: José Arthur Filho, Data de
Julgamento: 16/05/2017, Câmaras Cíveis / 9ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 07/06/2017).

SEBASTIÃO APARECIDO CÂNDIDO, brasileiro, casado,


aposentado, portador(a) do CPF nº 06339417604, RG nº MG 549766,
expedido pelo PC MG, residente e domiciliado(a) a Rua Viçosa, 69, CS Bairro
São João, Município Pouso Alegre/MG, CEP 37550.424, Estado Minas
Gerais, através de sua procuradora que a esta subscreve (procuração em
anexo), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, ajuizar a
presente

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES C/C INDENIZAÇÃO POR


DANO MORAL, COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA ANTECIPADA

Em face de BANCO MASTER S.A., (antigo Banco


Máxima), inscrito no CNPJ sob o nº 33.923.798/0002-83, com sede na Av.
Brigadeiro Faria Lima nº 3.477, Torre B – 5º Andar Itaim Bibi – São Paulo/SP,
CEP: 04538-133, em razão dos fatos e direito a seguir aduzidos, pelos
fundamentos fáticos e jurídicos a seguir expostos.

1. PRELIMINARMENTE

1.1 DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Número do documento: 23070613500011500009853489421


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23070613500011500009853489421
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Inicialmente, cumpre destacar que a Requerente é
aposentada com benefício líquido no valor de R$ 732,30 (setecentos e trinta
e dois reais e trinta centavos), conforme extrato de pagamento em anexo.
Além das despesas da residência, sendo alimentação, conta de energia, conta
de abastecimento de água, por ser idoso, possui gastos com consultas e
medicamentos de forma que não possui renda suficiente para arcar com as
custas judiciais sem prejuízo ao seu sustento próprio e familiar, sendo,
portanto, presumida a sua pobreza na forma da lei.

BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO R$ 1320,00

Empréstimos - R$ 455,70

Empréstimo Rmc - R$ 66,00

Empréstimo Rcc - R$ 66,00

Líquido: R$ 732,30

Para tal benefício o autor junta declaração de


hipossuficiência, bem como comprovante de despesas, demonstrando a
inviabilidade de pagamento das custas judicias sem comprometer sua
subsistência, conforme clara redação do Art. 99 Código de Processo Civil.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser


formulado na petição inicial, na contestação, na
petição para ingresso de terceiro no processo ou em
recurso.
§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da
parte na instância, o pedido poderá ser formulado por
petição simples, nos autos do próprio processo, e não
suspenderá seu curso.
§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se
houver nos autos elementos que evidenciem a falta
dos pressupostos legais para a concessão de
gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido,
determinar à parte a comprovação do preenchimento
dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de
insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa
natural.

Número do documento: 23070613500011500009853489421


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Igualmente, faz-se imprescindível reforçar e
esclarecer que, diante da ausência de critérios objetivos para o
deferimento da justiça gratuita, se tem entendido que seja razoável a
adoção de alguns parâmetros dispostos na legislação como, por exemplo,
o artigo 790, §3º, da CLT, o qual preceitua que:

§ 3o É facultado aos juízes, órgãos julgadores e


presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer
instância conceder, a requerimento ou de ofício, o
benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a
traslados e instrumentos, àqueles que perceberem
salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do
limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social. (Redação dada pela Lei nº 13.467,
de 2017).

Destarte, o indeferimento do benefício da justiça


gratuita, a nosso ver, deve ocorrer quando verificar que a parte aufere um
salário superior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social, que corresponde à
importância de R$ 732,30 (setecentos e trinta e dois reais e trinta
centavos).
De acordo com a jurisprudência do e. TJMG:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - JUSTIÇA GRATUITA -


DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA
- PRESUNÇÃO RELATIVA DE
VERACIDADE. 1. Da declaração de pobreza, firmada
pelo requerente do benefício, emana a presunção
relativa de hipossuficiência, sendo que, nos termos do
art. 99, §2º, do CPC/15; 2. O indeferimento da justiça
gratuita somente pode ser indeferida quando houver
prova nos autos de que a renda da parte é superior a
40% do teto do Regime Geral de Previdência Social -
RGPS, previsto no art. 790, § 3º da CLT, que constitui
critério objetivo aplicável por analogia nos processos
que tramitam na justiça estadual; 3. (...) (TJMG -
Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.17.098430-6/001,
Relator(a): Des.(a) Renato Dresch, 4ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 05/04/0018, publicação da súmula
em 09/04/2018). (destaquei).

À luz de tais considerações, tendo em vista que o


requerente aufere quantia inferior a 40% (quarenta por cento) do limite

Número do documento: 23070613500011500009853489421


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máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, o
pugnamos pela concessão do benefício da gratuidade de justiça, nos
termos do artigo 98 e seguintes do CPC.

Cabe destacar que o a lei não exige atestada


miserabilidade da requerente, sendo suficiente a "insuficiência de
recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorários
advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de


necessidade, nem tampouco se fala em renda familiar
ou faturamento máximos. É possível que uma pessoa
natural, mesmo com boa renda mensal, seja
merecedora do benefício, e que também o seja aquela
sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não
dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos
mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não
se pode exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito
tenha que comprometer significativamente sua renda,
ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os
para angariar recursos e custear o
processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed.
Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

"Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é


necessário que a parte seja pobre ou necessitada para
que possa beneficiar-se da gratuidade da justiça.
Basta que não tenha recursos suficientes para pagar
as custas, as despesas e os honorários do processo.
Mesmo que a pessoa tenha patrimônio suficiente, se
estes bens não têm liquidez para adimplir com essas
despesas, há direito à gratuidade." (MARINONI, Luiz
Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO,
Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. 3ª
ed. Revista dos Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 98)

Arrima-se, a jurisprudência do Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, no seguinte espeque:

APELAÇÃO CÍVEL - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA -


REQUISITOS PREENCHIDOS - ART. 99, §3º, DO
NCPC - PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DA

Número do documento: 23070613500011500009853489421


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DECLARAÇÃO DE POBREZA - AUSÊNCIA DE
PROVAS EM CONTRÁRIO - CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO PRETENDIDO - RECURSO A QUE SE DÁ
PROVIMENTO. Não sendo demonstrada, de forma
inequívoca, a capacidade financeira do apelante para
custear o processo, sem prejuízo de sua subsistência
e de sua família, inexistindo nos autos elementos de
prova suficientes para afastar a presunção de
veracidade da declaração de pobreza por ele
apresentada, deve lhe ser deferido o benefício da
justiça gratuita, nos termos do art. 99, §3º, do NCPC.
(TJMG - AC 1.0693.17.004277-6/001 MG, Rel.: Des.
José de Carvalho Barbosa, Julg.: 25/01/18, 13ª
Câmara Cível, Pub.: 02/02/2018).

AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE


SEGURANÇA PREVENTIVO - TRANSPORTE
INTERMUNICIPAL SEM AUTORIZAÇÃO -
APREENSÃO DO VEÍCULO - NÃO DEMONSTRAÇÃO
- AUSÊNCIA DE REQUISITOS AUTORIZADORES DA
CONCESSÃO DA LIMINAR - MANUTENÇÃO DA
DECISÃO - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA -
DECLARAÇÃO DE POBREZA - PRESUNÇÃO DE
VERACIDADE - APLICAÇÃO DO ART. 99,§2º DO
CPC/2015 - DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA - ART.
5º LXXIV CONSTITUIÇÃO FEDERAL - CONCESSÃO
DO BENEFÍCIO - POSSIBILIDADE – […] 3- A
declaração de hipossuficiência constitui início de
prova de que a parte não tem condições de arcar com
as custas e despesas processuais, gozando de
presunção relativa de veracidade. 4- Inexistindo, nos
autos, elementos que ilidam a presunção de
veracidade da declaração de pobreza, o benefício deve
ser concedido. Exegese do art. 99, §2º do CPC/2015.
(TJMG – AI 1.0000.17.050051-6/001 MG, Rel.: Desª.
Sandra Fonseca, Julgamento: 05/12/2017, 6ª
Câmara Cível, Publicação: 14/12/2017).

Note-se que as custas processuais não se restringem


àquelas que são pagas quando da distribuição da Ação. Durante o curso
do processo são necessários adiantamentos das despesas dos atos a
serem realizados. Tudo isso por conta da parte Autora (Art. 82, da Lei Nº.
13.105/2015).

Número do documento: 23070613500011500009853489421


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O Voto proferido pelo Eminente Desembargador
Rabello Filho, integrante do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná sumariza o papel do Magistrado diante do Princípio
constitucional de acesso à Justiça:

[…] Aliás, abro aqui um parêntese - por não resistir


aos gritos de minha consciência, principaliter a
propósito de meu papel social de magistrado, e aí
dentro, claro, meu dever de atuar também visando a
larguear, ao invés de estreitar, cada vez mais, o
pórtico que vai dar na Justiça, cidadela última e
supina do cidadão; é, a olhos vistos, o prazeroso
cumprimento do dever que tem o Estado-juiz de
sempre fazer brilhar o excelso princípio constitucional
do acesso à justiça (CF, art. 5.º , inc. XXXV ), de longe
valor muito e muito superior num Estado Social e
Democrático de Direito. Mal-arranjada tapeação
seria, ao cidadão, verdadeiro dono do Poder (CF , art.
1.º e § único), em que se insere o Judiciário (CF , art.
2.º ), se lhe fosse dada apenas a mera possibilidade
de ir ao Judiciário, mas do mesmo passo lhe fosse
exigido pagamento de valor que lhe é insuportável; de
tola construção retórica não passaria o princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional, na medida
em que ao jurisdicionado estaria sendo concedida
nada mais do que meia-justiça, se tanto […]. (TJPR,
AI n. 175.920-0, 8ª C.C, Rel. Rabello Filho, Julg.:
13/10/2005).

O posicionamento supra elencado, não se limita ao


Ínclito Desembargador Rabello Filho, tampouco perfila-se apenas ao e.
TJPR; mas, encontra, também, arrimo, no viés seguido pelo Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ante o louvável e
vanguardista voto do Emente Desembargador José Luís Palma Bisson,
integrante da 36ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de
São Paulo, no Agravo de Instrumento Nº.: 1.001.412-0/0, o qual se pede
vénia para transcrever:

ACÓRDÃO - Vistos, relatados e discutidos estes


autos, os desembargadores desta turma julgadora da
Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça, de
conformidade com o relatório e o voto do relator, que
ficam fazendo parte integrante deste julgado, nesta

Número do documento: 23070613500011500009853489421


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data, deram provimento ao recurso, por votação
unânime. – VOTO Nº.: 5902 - Ementa: Agravo de
instrumento acidente de veículo ação de indenização
decisão que nega os benefícios de gratuidade ao
autor, por não ter provado que menino pobre é e por
não ter peticionado por intermédio de advogado
integrante do convênio OAB/PGE inconformismo do
demandante faz jus aos benefícios da gratuidade de
Justiça menino filho de marceneiro morto depois de
atropelado na volta a pé do trabalho e que habitava
castelo só de nome na periferia, sinais de evidente
pobreza reforçados pelo fato de estar pedindo aquele
sua pensão de comer, de apenas um salário mínimo,
assim demonstrando, para quem quer e consegue ver
nas aplainadas entrelinhas da sua vida, que o que
nela tem de sobra é a fome não saciada dos pobres a
circunstância de estar a parte pobre contando com
defensor particular, longe de constituir um sinal de
riqueza capaz de abalar os de evidente pobreza, antes
revela um gesto de pureza do causídico; ademais,
onde está escrito que pobre que se preza deve
procurar somente os advogados dos pobres para
defendê-lo? Quiçá no livro grosso dos preconceitos…
recurso provido. – O menor impúbere Isaias Gilberto
Rodrigues Garcia, filho de marceneiro que morreu
depois de ser atropelado por uma motocicleta na volta
a pé do trabalho, fez-se representado pela mãe
solteira e desempregada e por advogado que esta
escolheu, para requerer em juízo, contra Rodrigo da
Silva Messias, o autor do atropelamento fatal, pensão
de um salário mínimo mais indenização do dano
moral que sofreu (fls. 13/19). Pediu gratuidade para
demandar, mas esta lhe foi negada por não ter
provado que menino pobre é e por não ter peticionado
por intermédio de advogado integrante do convênio
OAB/PGE (fls. 20) . Inconforma-se com isso, tirando
o presente agravo de instrumento e dizendo que
bastava, para ter sido havido como pobre, declarar-se
tal; argumenta, ainda, que a sua pobreza avulta a
partir da pequeneza da pensão pedida e da
circunstância de habitar conjunto habitacional de
periferia, quase uma favela. De plano antecipei-lhe a
pretensão recursal (fls. 31 e V) , nem tomando o
cuidado, ora vejo, de fundamentar a antecipação. A

Número do documento: 23070613500011500009853489421


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Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo
provimento do recurso (fls. 34/37). É o relatório. Que
sorte a sua, menino, depois do azar de perder o pai e
ter sido vitimado por um filho de coração duro ou sem
ele –, com o indeferimento da gratuidade que você
perseguia. Um dedo de sorte apenas, é verdade, mas
de sorte rara, que a loteria do distribuidor, perversa
por natureza, não costuma proporcionar. Fez caber a
mim, com efeito, filho de marceneiro como você, a
missão de reavaliar a sua fortuna. Aquela para mim
maior, aliás, pelo meu pai por Deus ainda vivente e
trabalhador legada, olha-me agora. É uma plaina
manual feita por ele em pau-brasil, e que,
aparentemente enfeitando o meu gabinete de
trabalho, a rigor diuturnamente avisa quem sou, de
onde vim e com que cuidado extremo, cuidado de
artesão marceneiro, devo tratar as pessoas que me
vêm a julgamento disfarçados de autos processuais,
tantos são os que nestes vêem apenas papel repetido.
Desde esses dias, que você menino
desafortunadamente não terá, eu hauri a certeza de
que os marceneiros não são ricos não, de dinheiro ao
menos. São os marceneiros nesta terra até hoje,
menino saiba, como aquele José, pai do menino Deus,
que até o julgador singular deveria saber quem é. O
seu pai, menino, desses marceneiros era. Foi
atropelado na volta a pé do trabalho, o que, nesses
dias em que qualquer um é motorizado, já é sinal de
pobreza bastante. E se tornava para descansar em
casa posta no Conjunto Habitacional Monte Castelo,
no castelo somente em nome habitava, sinal de
pobreza exuberante. Claro como a luz, igualmente, é
o fato de que você, menino, no pedir pensão de apenas
um salário mínimo, pede não mais que para comer.
Logo, para quem quer e consegue ver nas aplainadas
entrelinhas da sua vida, o que você nela tem de sobra,
menino, é a fome não saciada dos pobres. Por
conseguinte um deles é, e não deixa de sê-lo, saiba
mais uma vez, nem por estar contando com defensor
particular. O ser filho de marceneiro me ensinou
inclusive a não ver nesse detalhe um sinal de riqueza
do cliente; antes e ao revés a nele divisar um gesto de
pureza do causídico. Tantas, deveras, foram as
causas pobres que patrocinei quando advogava, em

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troca quase sempre de nada, ou, em certa feita, como
me lembro com a boca cheia d'água, de um prato de
alvas balas de coco, verba honorária em riqueza
jamais superada pelo lúdico e inesquecível prazer que
me proporcionou. Ademais, onde está escrito que
pobre que se preza deve procurar somente os
advogados dos pobres para defendê-lo? Quiçá no livro
grosso dos preconceitos… Enfim, menino, tudo isso é
para dizer que você merece sim a gratuidade, em
razão da pobreza que, no seu caso, grita a plenos
pulmões para quem quer e consegue ouvir. Fica este
seu agravo de instrumento então provido; mantida
fica, agora com ares de definitiva, a antecipação da
tutela recursal. É como marceneiro voto.”
(TJ-SP - AI 1.001.412-0/0 - 36ª Câmara de Direito
Privado - Seção de Direito Privado – Origem: 2ª Vara
Cível da Comarca de Marília-SP - Processo: 25124/05
- Agravante: Isaías Gilberto Rodrigues Garcia -
Agravado: Rodrigo da Silva Messias - Rep.: Elisângela
Andreia Rodrigues - Int.: Ezequiel Augusto Garcia -
Julg.: 19/01/2006 - Rel. Des. Palma Bisson)

Dessa forma, com fulcro nos art. 98 e 99 do Código


de Processo Civil, sob as penas da lei e de acordo com o artigo 4º da Lei
1060/50, com a redação introduzida pela lei 7510/86, requer desde já,
concessão dos benefícios da GRATUIDADE DE JUSTIÇA, para exercer o
seu direito constitucional de submeter ao Judiciário lesão e ameaça de
lesão aos seus direitos.

1.2 DO DESINTERESSE DA AUDIÊNCIA CONCILIATÓRIA (art. 331, §


4º, I CPC)

A parte Autora manifesta desinteresse na Audiência


conciliatória, requerendo desde já sua retirada da pauta.

Menciona também que no prazo do artigo 335, I do CPC


irá apresentar sua réplica, caso haja a contestação da parte Ré.

Ademais, observa-se que presente demanda se insere


entre aquelas em que, por sua natureza ou parte(s), é público, notório e
incontestável, que a tentativa de solução amigável do litígio costuma ser
infrutífera.

Número do documento: 23070613500011500009853489421


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Sendo assim, pode-se afirmar que a designação
audiências de conciliação e/ou instrução e julgamento não se mostram
compatíveis com os princípios da informalidade, celeridade, economia
processual e simplicidade, todos, previstos no art. 2º da Lei nº. 9.099/95,
e nem com o princípio constitucional da eficiência. Bom lembrar, ainda,
que por força do advento do NCPC, tal procedimento encontra-se, do
mesmo modo, em conflito com os princípios da adequação e cooperação.

2. DOS FUNDAMENTOS FÁTICOS

ESTA CAUSA VERSA SOBRE EMPRÉSTIMO


CONSIGNADO NÃO CONTRATADO, onde a Requerente pleiteia
Liminarmente; a Suspensão dos Descontos Programados no seu
benefício, a Declaração de Inexistência de Vínculo Contratual, a
Devolução dos Valores Descontados em Dobro até a suspensão, bem
como a Condenação do Requerido Danos Morais por todos os transtornos
ocasionados a Requerente.
O autor é aposentado, com 74 anos de idade,
possuindo problemas de saúde (câncer), e diante das dificuldades
financeiras foi ao INSS ver o porquê estava recebendo tão pouco da
aposentadoria.

Pois bem, a parte autora percebeu que tinha um


desconto em seu benefício previdenciário a título de CARTÃO DE
CRÉDITO (RCC), conforme também se comprova com os referidos
documentos anexos.

Ocorre que o autor não contratou o referido produto


de cartão de crédito, não recebeu o cartão e se quer utilizou para
compras.

Número do documento: 23070613500011500009853489421


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FOI QUANDO O AUTOR FICOU DESESPERADO!

Ora Excelência! Importante salientar e será


facilmente comprovado durante toda a instrução processual, o autor
jamais pisou em alguma Agência do Requerido ou com ele celebrou
qualquer contrato!

Além do mais, isso lhe causou enorme transtorno


financeiro em sua conta, pois o autor tem outras despesas que precisa
honrar, e qualquer desconto no seu benefício lhe prejudica e muito uma
vez que ela já tem a sua aposentadoria comprometida junto a Farmácias,
Supermercados etc. e isso tem lhe causado enorme constrangimento,
pois com medo de não conseguir honrar com os seus compromissos, se
viu obrigada a se humilhar aos comerciantes locais informando que
talvez não seria possível saldar algumas dívidas devido aos
descontos programados que passariam a ser debitados em seu
benefício.
Além do mais Excelência, a IRRESPONSABILIDADE,
ARBITRARIEDADE e DESRESPEITO COM O CONSUMIDOR por parte do
Banco Requerido, tem lhe causado um aniquilamento físico, mental,
social e financeiro ao autor, pois, como dito alhures, a REQUERENTE
NÃO ASSINOU NENHUM CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO
COM O REQUERIDO, ALIÁS, SEQUER O CONHECE.

O desconto está comprometendo o limite do autor


bem como impedindo e bloqueando sua margem consignável para caso
haja necessidade em contratar outro empréstimo.

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Como pode se comprovar acima, a cliente está tendo
a reserva e margem comprometida, porém o autor NÃO CONTRATOU o
empréstimo consignado.

Portanto, requer sejam cessados tais descontos,


declarando a inexistência do débito, e a devolução em dobro dos valores
descontados e a cominação da reparação por dano moral em patamar
suficiente, pelo dano sofrido pelo requerente, por seu caráter educativo e
pedagógico do instituto e ainda que seja também arbitrado em seu
caráter punitivo, levando-se em conta também a continuidade da
conduta da requerida, o que configura-se em abuso de direito e
desrespeito ao consumidor e ainda pelo caráter alimentar das verbas que
o requerente ficou privado de usufruir.

Considerando que a parte autora se sente lesada com


o ocorrido, tendo em vista a suposta fraude ocorrida e o Requerido
indevidamente iniciou os descontos no benefício; considerando ainda
todos os prejuízos morais e materiais que teve e tem com o ocorrido, não
resta alternativa a mesma a não ser ajuizar a presente ação, objetivando
constituir o Réu na obrigação de restituir o valor descontado
indevidamente, bem como indenizar o requerente pelos danos morais que
enfrentou com apresente situação.

A cobrança das parcelas compromete a renda


alimentar do aposentado que hoje recebe R$ 732,30 (setecentos e trinta
e dois reais e trinta centavos), ou seja, menos de um salário-mínimo.

A cobrança, estabelecida contratualmente de forma


unilateral, ensejou débito que, à evidência, não corresponde à
contraprestação, desrespeitando, portanto, a natureza da avença.

Requer assim, com fundamento nos termos do Artigo


39, I, do Código do Direito do Consumidor, combinado com o Artigo 51
do mesmo Diploma Consumerista , ao Final a PROCEDÊNCIA DA LIDE
para que seja DECLARADA a Nulidade da Cobrança imposta pelo Banco
Réu com relação à exigência unilateral de todos os descontos da reserva
de margem consignável do CARTÃO DE CRÉDITO RCC, cujo valor
REQUER SEJA RESTITUÍDO ao final, com juros e correção monetária
desde a data do Contrato (data que a Cobrança indevida e unilateral foi
imposta e acrescida ao Financiamento).

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O direito da Autora é legalmente amparado pela Carta
Magna de 1988, pela Lei n° 4.595/64, pelo Decreto-lei n° 22.626/33, art.
1°, pela Lei Federal n° 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor; pela
Lei Federal n° 10.820/2003 e pela jurisprudência de nossos EE.
Tribunais, bem como pela doutrina emanada pelos nossos
jurisconsultos.

3- DO DIREITO:

3.1 DO DESRESPEITO ÀS NORMAS CONSTITUCIONAIS RELATIVAS


À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DE PROTEÇÃO AO
CONSUMIDOR E PESSOA IDOSA

As ofensas e os vícios apontados na “FALSA” relação


contratual entre a parte Requerente e o Banco Requerido ultrapassam o
campo das normas regulamentares que se mostram inobservadas por
este. Muito mais, atingem frontalmente diversas normas constitucionais,
se não veja.

A primeira norma constitucional a ser apontada como


objeto de ofensa por ato do Réu é a dignidade da pessoa humana
consagrada no Art. 1º, III, da nossa Constituição Federal, essencialmente
no campo relacionado à pessoa idosa que possui maior relevância.

3.2 DA NÃO OBSERVÂNCIA AOS DISPOSITIVOS NORMATIVOS


REGULAMENTARES DO EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM FOLHA DE
PAGAMENTO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO E A INEXISTÊNCIA
DE RELAÇÃO CONTRATUAL

Como se não bastasse, verifica-se o desrespeito às


normas específicas pertinentes ao contrato de empréstimo consignado,
nos moldes do caso apresentado.

O contrato de empréstimo consignado é, hoje, um dos


instrumentos de concessão de crédito mais utilizado por indivíduos que
percebem benefício previdenciário, seja pelo seu fácil acesso e quitação,
seja pelo número de instituições financeiras credenciadas para o
oferecimento deste serviço.

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Os idosos e rurícolas são os principais contratantes
dentre os diversos indivíduos que utilizam este serviço, em especial pela
própria característica do serviço social de previdência, que visa
especialmente à inclusão e garantia destas classes na sociedade.

A importância destas classes é acompanhada


pela necessidade de maior atenção e fiscalização do poder público no
exercício da atividade financeira por parte das instituições habilitadas
para tanto.
Mesmo frente a este fator, o número de fraudes e
crimes cometidos no uso do contrato de empréstimo consignado é
enorme, sendo um dos principais problemas encontrados entre a classe
idosa e os rurícolas. O beneficiário se tornou um alvo de indivíduos que
buscam o enriquecimento ilícito através de contrato criminoso e
inexistente em nome da vítima.
A situação das fraudes e crimes contra idosos e
rurícolas mostrou-se tão preocupante que, em 16 de maio de 2008 –
Publicado no DOU em 19 de maio de 2008, o INSS editou a INSTRUÇÃO
NORMATIVA INSS/PRES Nº 28, que;

“Estabelece critérios e procedimentos operacionais


relativos à consignação de descontos para
pagamento de empréstimos e cartão de crédito,
contraídos nos benefícios da Previdência Social”.

Referida Instrução Normativa não permite mais que


os contratos sejam firmados fora das agências bancárias e que as
contas favorecidas não sejam aquelas de titularidade do contratante, o
que diminuiu, com certeza, o número de “golpes” até então facilitados.
Esta atitude do Poder Público mostra seriedade do problema enfrentado.

Como foi narrado anteriormente, o Autor SE QUER


SABIA DA EXISTÊNCIA DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA, portanto, jamais
ingressou na referida instituição bancária/ré com a finalidade de firmar
contrato de empréstimo consignado, ou mesmo assinou qualquer
documento apresentado por funcionário da instituição, especialmente na
sede ou filial da empresa ré.

E assim se afirmar – ingressar na instituição – pelo


fato de que é exigência legal para a validade do contrato em discussão,

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conforme preceitua o Art. 4º, I da IN/INSS/PRES Nº 28, de 16 de maio de
2008, veja;

“Art. 4º A contratação de operações de crédito


consignado só poderá ocorrer, desde que:
I – a operação financeira tenha sido realizada na
própria instituição financeira ou por meio do
correspondente bancário a ela vinculada, na forma
da Resolução Conselho Monetário Nacional nº
3.110, de 31 de julho de 2003, sendo a primeira
responsável pelos atos praticados em seu nome; e
II – [...]”

Não obstante, o Art. 3º, III da mesma IN/INSS/PRES


Nº 28, de 16 de maio de 2008, salienta que nesse tipo de contratação, é
indispensável que haja autorização de forma expressa, por escrito ou por
meio eletrônico e em caráter irrevogável e irretratável, não sendo aceita
contratação por telefone e nem por gravação de voz, se não veja;

Art. 3º [...]
III- a autorização seja dada de forma expressa, por
escrito ou por meio eletrônico e em caráter
irrevogável e irretratável, não sendo aceita
autorização dada por telefone e nem a
gravação de voz reconhecida como meio de
prova de ocorrência. (grifo nosso)

Por tanto Excelência, a identificação do beneficiário é


requisito essencial para a validade da consignação, onde sua
inobservância produz a nulidade do contrato.

Havendo a referida ofensa, acompanhada de fraude,


demonstra-se a inexistência da relação contratual, uma vez que decorre
de situação criminosa.

Além disso, o acordo deve ser instruído mediante


contrato firmado e assinado com apresentação do documento de

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identidade e/ou Carteira Nacional de Habilitação - CNH, e Cadastro de
Pessoa Física - CPF, junto com a autorização de consignação assinada,
prevista no convênio conforme prevê o inciso II do mesmo Artigo, veja;

“II - mediante contrato firmado e assinado com


apresentação do documento de identidade e/ou
Carteira Nacional de Habilitação - CNH, e
Cadastro de Pessoa Física - CPF, junto com a
autorização de consignação assinada, prevista
no convênio; e [...]” (grifo nosso)

Ressalta-se ainda a impossibilidade de


autorização por telefone, onde a gravação de voz funcione como
prova do ato, conforme estabelece o Art. 1º, VI, § 7º da IN/INSS/DC
121/2005.

De todos os lados há inobservância das regras


relativas à consignação, regulamentada pelas duas instruções
normativas citadas. Muito mais que inobservância o polo ativo foi vítima
de possível fraude, podendo, inclusive, ser caracterizada a existência de
crime de estelionato (Art. 171 do CP), não sendo o objeto de análise desta
demanda.

Portanto, resta inexistente o débito alegado pelo


Requerido, já que proveniente de fraude, onde a parte requerente sequer
autorizou a consignação nas parcelas de seu benefício, muito menos
assinou qualquer contrato de empréstimo com a empresa ré.

Logo, fica claro que a requerida incidiu em falha na


prestação dos serviços no ERRO SUBASTANCIAL de cobrar uma
parcela de empréstimo não solicitados pelo autor, do que decorreram
danos à esfera moral e patrimonial da parte requerente.

Preenchidos, portanto, os pressupostos da


responsabilidade civil, conforme dicção do art. 186 e 927, do Código Civil,
e art. 5º, X, da Constituição Federal.

Importa destacar, de início, que a disponibilização


de cobrança de um contrato sem a solicitação do autor, tal qual

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ocorrido no caso em tela, configura manifesto ato ilícito, consoante art.
39 e seus incisos do CDC.

Ora Excelência, não poderia a requerida, à revelia


do requerente, descontar parcelas de um contrato não solicitado, isso
configura ERRO SUBSTÂNCIAL.

Ademais, para a constituição de EMPRÉSTIMOS e


Reserva de Margem Consignável (RMC E RCC ) requer autorização
expressa do aposentado, por escrito ou por meio eletrônico, nos termos
do que dispõe o Art. 3º, III, da Instrução Normativa INSS n. 28/2008,
alterada pela Instrução Normativa INSS n. 39/2009, in verbais:

Art. 3º Os titulares de benefícios de


aposentadoria e pensão por morte, pagos pela
Previdência Social, poderão autorizar o desconto no
respectivo benefício dos valores referentes ao
pagamento de empréstimo pessoal e cartões de
crédito concedidos por instituições financeiras,
desde que: (...)
III - a autorização seja dada de forma expressa,
por escrito ou por meio eletrônico e em caráter
irrevogável e irretratável, não sendo aceita
autorização dada por telefone e nem a gravação de
voz reconhecida como meio de prova de ocorrência.
(grifou-se)

Ratifica-se, Excelência, que o requerente nunca


pretendeu formalizar nenhum contrato de RCC com a instituição
requerida, tanto é que o cartão nunca chegou a seu endereço, o que só
poderia ter ocorrido com o desbloqueio, o que nem mesmo chegou a
acontecer.

As informações prestadas a parte requerente foram


viciadas, enganando o requerido.

Por esse motivo, reservou o que não lhe é devido,


pelo que deve ser declarada a inexistência de qualquer reserva em
desfavor da parte autora em relação ao banco requerido, o que se requer
se dê por sentença.
Ausente à informação clara ao consumidor quanto
ao comprometimento da margem consignável, deve-se reputar que a RCC
constituída padece de ilegalidade e de inexistência de contratação.

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Entretanto, ainda que não contratado os cartões de
crédito consignável, vale tecer algumas considerações a respeito de tal
modalidade de empréstimo, a qual por si só é abusiva, tendo em vista que
impõe ao consumidor ônus excessivo, pois o desconto não abate qualquer
valor, pois não houve saque, nem desbloqueio, nem mesmo o cartão, o
dinheiro descontado foi usado pela requerida esse tempo todo sem
contratar a operação.
Assim, ainda que a requerida tivesse informado o
consumidor de forma clara os termos dos empréstimos do cartão de
crédito consignado (o que não aconteceu), tal prática se configuraria
abusiva pela manifesta vantagem excessiva, nos termos do art. 39, V, do
CDC, in verbis:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos
ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (...)
V - exigir do consumidor vantagem
manifestamente excessiva;
Além do mais, foram praticados acima dos limites
estabelecidos na Instrução Normativa INSS/PRES, nº 28, de
16/05/2008, in verbis:
Art. 15. Os titulares dos benefícios
previdenciários de aposentadoria e pensão por
morte, pagos pela Previdência Social, poderão
constituir RMC para utilização de cartão de
crédito, de acordo com os seguintes critérios,
observado no que couber o disposto no art. 58
desta Instrução Normativa:
I - a constituição de RMC somente poderá
ocorrer após a solicitação formal firmada pelo
titular do benefício, por escrito ou por meio
eletrônico, sendo vedada à instituição financeira:
emitir cartão de crédito adicional ou derivado; e
cobrar taxa de manutenção ou anuidade;

Diante do exposto, verifica-se que o requerente foi


enganado pela instituição financeira, que contratou um empréstimo
consignado em 36 parcelas e o mesmo já foi quitado a mais de 50 meses
e vem sendo descontado até a presente data, o autor não contratou o
“cartão”, em flagrante afronta ao artigo 6º, inciso III, do Código de Defesa
do consumidor, que assim estabelece:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


III - a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição,

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qualidade e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
(grifou-se):

O Tribunal de Justiça de São Paulo tem


enfrentado severamente essa conduta das instituições financeiras:

Contrato bancário. Ação declaratória c.c. repetição de


indébito e reparação por danos morais. Contratação de
cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RMC) de forma fraudulenta. Falha na
prestação do serviço. Dano moral configurado.
Montante da reparação arbitrado com razoabilidade. O
autor comprovou nos autos que a assinatura lançada
no contrato acostado pelo réu é falsa. Assim, o contrato
de RMC é fraudulento. O autor sofreu abalo em sua
paz de espírito ao saber que fora vítima de fraude em
contrato de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RMC). O abalo moral decorre do próprio
fato danoso, uma vez que o autor suportou descontos
em seu benefício previdenciário, vinha sendo cobrado
por empréstimo não contraído, não sendo possível
considerar como sendo meros dissabores os
transtornos por ele sofridos. O valor da reparação
fixado em R$10.000,00, atende aos anseios
reparatório e punitivo, e ao caráter profilático e
pedagógico da medida, à luz da razoabilidade. Dano
material. Montante a ser restituído. Repetição simples
do indébito. Ausência de má-fé ou culpa grave. Os
descontos efetuados no benefício do autor devem ser
restituídos de forma simples, uma vez que não restou
caracterizada a má-fé do réu nos autos. O réu não
sabia que havia sido vítima de eventual fraude. Logo,
fica afastada também a hipótese de culpa grave.
Apelação do autor provida em parte e, não provida a do
réu.
(TJ-SP - AC: 10055578220208260152 SP 1005557-
82.2020.8.26.0152, Relator: Sandra Galhardo Esteves,
Data de Julgamento: 25/08/2021, 12ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 25/08/2021)

E ainda:

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AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – Cartão de
crédito com reserva de margem consignada (RMC) -
Sentença de parcial procedência – Irresignação de
ambas as partes – Tendo em vista o desconhecimento
da dívida pela autora, que alega a inocorrência de
contratação, cabia ao réu comprovar a origem do
débito, ônus do qual não se desincumbiu – Danos
morais configurados, diante das circunstâncias do
caso concreto - Montante indenizatório fixado pelo
douto juízo a quo, de R$ 5.000,00, que não comporta
alteração, conforme precedentes deste E. Tribunal -
Termo inicial dos juros de mora que deve corresponder
à data do evento danoso, nos termos da súmula 54 do
STJ - Sucumbência integral do réu, consoante a
inteligência da súmula 326 do STJ - Sentença
parcialmente – Recurso da autora parcialmente
provido e recurso do réu desprovido.

(TJ-SP - AC: 10006099020218260531 SP 1000609-


90.2021.8.26.0531, Relator: Marco Fábio Morsello,
Data de Julgamento: 31/08/2022, 11ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 31/08/2022)

No julgamento da Apelação Cível n. 2014.024999-7 de


Blumenau/SC o Eminente Relator Des. Domingos Paludo concluiu:

“Entendo que se caracterizou como ilegal a reserva,


pois considero ter havido venda casada do produto
cartão de crédito, uma vez que o interesse do autor
era contratar a obtenção de empréstimo bancário,
nunca o fornecimento de cartão de crédito, tanto é
assim que o banco réu sequer prova que ele foi
efetivamente utilizado, não obstante possa ter sido
eventualmente disponibilizado.”

O Tribunal de Justiça de São Paulo não destoa:

“INDENIZAÇÃO – DANO MORAL – Hipótese em que


o autor sofreu reserva de crédito consignado em
seu benefício previdenciário, por conta de emissão
de cartão de crédito não solicitado, o que lhe
impediu de adquirir empréstimo junto a CEF –

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Degravação apresentada pelo réu que não é
suficiente para provar a aquiescência do autor,
nem que lhe foi informado sobre a reserva de
crédito consignado – Desnecessidade de prova do
abalo moral sofrido – sentença mantida – recurso
desprovido”. (TJSP – Apelação nº.7.283.959-5 –
Comarca de São Paulo – 23ª Câmara de Direito
Privado – Relator Rizzato Nunes – Voto nº. 11.670
– V.U – Data do Julgamento 17.06.2009).

O direito à indenização por abalo moral vem


expresso na Constituição Federal como um dos direitos individuais, nos
termos do artigo 5º, inciso V e X:

V – É assegurado direito de resposta proporcional


ao agravo, além de indenização por dano material,
moral ou à imagem.

X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a


honra e a imagem das pessoas, assegurado o direto
à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.

Nos termos do art. 186 do Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Complementa o art. 927 do Código Civil que:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e


187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.

Não obstante que se aplique o Código de Defesa do


Consumidor ao presente caso, a responsabilidade da instituição
financeira é objetiva, de modo que não se deve perquirir acerca de sua
culpa.

Importa, isso, admitir que também na


responsabilidade objetiva teremos uma conduta
ilícita, o dano e o nexo causal. Só não será
necessário o elemento culpa, razão pela qual fala-

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se em responsabilidade independentemente de
culpa. Esta pode ou não existir, mas será sempre
irrelevante para a configuração do dever de
indenizar. (FILHO, Sergio Cavalieri, Programa de
Responsabilidade Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas,
2007. p. 126).

Confere a Lei 8.078/90, diante do acontecido


narrado acima, que o requerente possui direito de receber não só a
quantia paga, mas o dobro de seu valor, conforme artigo 42, parágrafo
único, no qual diz, in verbis:

“O consumidor cobrado em quantia indevida tem


direito à repetição do indébito, por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de
engano justificável."

O requerido deve responder pela lisura em suas


cobranças, tomando para tanto, todas as medidas cabíveis para evitar
prejuízos ao consumidor.
É notória a falha de procedimento do requerido a
contratar o cartão sem autorização do requerente, portanto, a requerida
deve assumir pelos danos decorridos e, ainda, ser a rigor penalizada a
fim de não reincidir sobre os mesmos erros com outros clientes.

Embora tal prática seja recente, por algumas


empresas do ramo financeiro, diversos tribunais já têm constatado a
abusividade existente em tal modalidade de empréstimo:

RESPONSABILIDADE CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO


DE REVISÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO. SIMULAÇÃO. CONTRATO DE
CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. VÍCIO.
ABUSIVIDADE. DANOS MORAIS. IN RE IPSA.
PROVIMENTO. I - Afigura-se ilegal conduta de
instituição financeira que, via consignação em
folha, procede a descontos variáveis e por prazo
indefinido nos vencimentos de consumidor, que
acreditou ter apenas contratado empréstimo para
pagamento por prazo determinado e em parcelas
fixas, e não cartão de crédito consignado com prazo
indeterminado; II - o dano moral não exige prova, a

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lesão é ipsa re, bastando, tão-somente, a
demonstração do ilícito, detentor de potencialidade
lesiva; III - [...] a oferta de reserva de margem
consignável (RMC), na prática configura-se um
empréstimo impagável. Nesta modalidade de
empréstimo, disponibiliza-se ao consumidor um
cartão de crédito de fácil acesso, ficando reservado
certo percentual, dentro do qual poderão ser
realizados contratos de empréstimos. 5. O
consumidor firma o negócio jurídico acreditando
tratar-se de um contrato de empréstimo
consignado, com pagamento em parcelas fixas e
por tempo determinado, no entanto, efetuou a
contratação de um cartão de crédito, de onde foi
realizado um saque imediato e cobrado sobre o
valor sacado, juros e encargos bem acima dos
praticados na modalidade de empréstimo
consignado, gerando assim, descontos por prazo
indeterminado. 6. É vedado ao fornecedor de
produtos ou serviços, dentre outras práticas
abusivas, exigir do consumidor vantagem
manifestamente excessiva, como no caso dos
autos, com o desconto do valor mínimo diretamente
nos vencimentos ou proventos do consumidor,
correspondente apenas aos juros e encargos de
refinanciamento do valor total da dívida, o que gera
lucro exorbitante à instituição financeira e torna a
dívida impagável. [...] declarou resolvido o contrato
celebrado, em face do seu adimplemento integral,
condenando ainda a instituição financeira a
restituir ao autor o valor de R$ 2.242,11, referentes
às parcelas descontadas a mais, com atualização
monetária e juros de mora. [...] (Recurso 0010075-
49.2013.811.0006, Turma Recursal Cível e
Criminal de Caxias, Rel. Juiz Paulo Afonso Vieira
Gomes, j. 16.10.2014); IV - o dever de lealdade
imposto aos contraentes deve ser especialmente
observado nos contratos de adesão, em que não há
margem à discussão das cláusulas impostas aos
consumidores aderentes, obrigando o fornecedor a
um destacado dever de probidade e boa-fé; V -
apelação provida.

(TJ-MA - APL: 0436332014 MA 0027424-

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10.2013.8.10.0001, Relator: CLEONES
CARVALHO CUNHA, Data de Julgamento:
14/05/2015, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 18/05/2015)

Importante notar que o público-alvo da requerida,


em geral, é formado por pessoas idosas, com baixo poder aquisitivo,
pouquíssimo conhecimento de cláusulas e mal conseguem assinar, muito
menos ler, por isso acreditam na boa fé da requerida em informar sobre
a contração no ato do atendimento.

Ademais, ainda que os consumidores da requerida


sejam informados da forma de pagamento do empréstimo, a prática em
questão se trata nitidamente de exigência de vantagem manifestamente
excessiva, enriquecimento ilícito.

A situação, Excelência, causou prejuízo moral e


material ao requerente, dano este indenizável, o que se pleiteia e seja
reconhecido.

Isso porque, da análise da situação fática, verifica-


se que a culpa adveio exclusivamente da conduta da requerida, posto que
em ato infundado, ocasionou os danos ora reclamados, gerando
manifesta e excessiva vantagem para empresa requerida.

Evidente a desvirtuação do contrato firmado entre


as partes, bem como a falha na conduta da ré, que afirma que a parte
realizou a contratação do cartão de crédito consignado, porém passou a
realizar os descontos sem o envio e desbloqueio do cartão.

Em recentes decisões proferidas pelo TJ/PR, restou


reconhecida a conduta ilegal praticada pela requerida em casos de igual
semelhança.

RECURSO INOMINADO. INDENIZATÓRIA.


CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
CONTRATAÇÃO EM CONJUNTO COM
EMPRÉSTIMO. AVERBAÇÃO DE RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). CONTRATO QUE
NÃO PREVÊ A RESERVA E NÃO INDICA SEU
PERCENTUAL. AVERBAÇÃO DE RESERVA DE 5%
SEM LASTRO CONTRATUAL. OFENSA AO
DIREITO DE INFORMAÇÃO DO CONSUMIDOR.
RESERVA QUE SE REPUTA ILEGAL.
CONSUMIDOR QUE SE VÊ IMPEDIDO DE

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CONTRATAR EMPRÉSTIMO DIANTE DA
AUSÊNCIA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. DANO
MORAL CONFIGURADO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
DA CONSUMIDORA. INEXISTÊNCIA. SENTENÇA
REFORMADA. RECURSO PROVIDO. Ante o
exposto, esta Turma Recursal resolve, por
unanimidade de votos, CONHECER E DAR
PROVIMENTO ao recurs (TJ-PR - RI:

001180617201581600240 PR 0011806-
17.2015.8.16.0024/0 (Acórdão), Relator: Manuela
Tallão Benke, Data de Julgamento: 13/05/2016,
2ª Turma Recursal, Data de Publicação:
23/05/2016)

(grifou-se)

AÇÃO DECLARATÓRIA E INDENIZATÓRIA -


CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO -
RECLAMANTE ALEGA AUSÊNCIA DE
CONTRATAÇÃO - RESERVA DE MARGEM
CONSIGNÁVEL - DESCONTOS EFETUADOS A
TÍTULO DE -EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC -
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
CONTRATAÇÃO DO EMPRÉSTIMO - REPETIÇÃO
EM DOBRO DOS DESCONTOS INDEVIDOS -
DEVER DE INFORMAÇÃO NÃO OBSERVADO -
DANOS MORAIS - DEVIDOS - QUANTUM FIXADO
EM R$ 10.000,00 - VALOR CONSIDERADO
ADEQUADO E COADUNA COM PRECEDENTES
DESTA TURMA RECURSAL - SENTENÇA
REFORMADA. Recurso conhecido e provido,
resolve esta Turma Recursal, por maioria de votos,
conhecer dos recursos e, no mérito, dar-
provimento ao recurso do autor, nos exatos termos
do vot (TJ-PR - RI: 003550835201481600210 PR
0035508-35.2014.8.16.0021/0 (Acórdão), Relator:
Marco VinÃcius Schiebel, Data de Julgamento:
16/11/2015, 2ª Turma Recursal, Data de
Publicação: 19/11/2015)

(grifou-se)

Por fim, oportuno reiterar:

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"A indenização por danos morais deve ser fixada
com ponderação, levando-se em conta o abalo
experimentado, o ato que o gerou [...]; não podendo
ser exorbitante, a ponto de gerar enriquecimento,
nem irrisória, dando azo à reincidência" (TJSC, AC
n. 2006.013619-0, rel. Des. Fernando Carioni, j.
em 3-8-2006).

No presente caso, sem qualquer dúvida, temos uma


relação de consumo e, por consequência, deve ser absolutamente regido
pelos artigos 2º e 3º do Código Brasileiro de Proteção e Defesa do
Consumidor em conformidade com todos os postulados da Teoria Geral
do Direito do Consumidor.

Há de ressaltar também, que a Requerente é parte


hipossuficiente em relação ao demandado, chamando atenção ainda ao
princípio da vulnerabilidade prevista no inciso I do Art. 4º do CDC, uma
vez que o consumidor é a parte mais fraca na relação de consumo e
necessita de proteção.

Assim sendo, não resta outra opção a não ser a


aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a inversão do ônus da
prova nos termos do Art 6º VIII do CDC no sentido de que, o
Requerido deverá depositar em juízo o suposto contrato de
empréstimo firmado pela parte Requerente (via original) sob pena da
defesa dos interesses autorais restarem prejudicados. (grifo nosso

4- DO VALOR DO DESESTÍMULO

A Teoria do Valor do Desestímulo é um instituto


consolidado no direito pátrio que preconiza que, devido ao cometimento
de uma conduta lesiva, seja ela no âmbito do direito moral ou material,
o agente venha a ser responsabilizado não só pelo ressarcimento ou
compensação de sua conduta, bem como deverá ser compelido ao
pagamento de soma a ser arbitrada pelo magistrado a título de punição,
para que sua conduta não venha a ser tornar repetitiva, servindo assim
de exemplo a toda sociedade, para que a mesma também não venha a
dar ensejo à mesma ou similar conduta lesiva.

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Dessa forma, tem-se solidificado entendimento de
que, nos casos como o em apreço, deve – se determinar o valor da
compensação dos danos morais aplicando-se o binômio valor do
desestímulo e valor compensatório, o primeiro tendo intuito punitivo ao
lesante e o segundo de compensação ao lesado, nisso está
consubstanciada a Teoria do Valor do Desestímulo.

Evidentemente que, tal binômio, procura sempre


ser razoável e moderado, e que se funda no prudente e livre arbítrio dos
magistrados. Contudo, a aplicação da referida Teoria deve ser consoante
à capacidade e poder econômico do agressor sob pena de se esvaziar de
sentido a Teoria e, por consequência, sua aplicação.

Nesse sentido a jurisprudência;

"CIVIL - CDC - DANOS MORAIS COMPROVADOS -


RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
PRESTADORA DE SERVIÇOS DE
TELECOMUNICAÇÕES - INDENIZAÇÃO DEVIDA -
VALOR FIXADO DENTRO DOS PARAMÊNTROS
DETERMINADOS PELA DOUTRINA E
JURISPRUDÊNCIA, A SABER: COMPENSAÇÃO E
PREVENÇÃO. I - Restando patentes os danos
morais sofridos e o nexo causal entre a lesão e a
conduta negligente da instituição prestadora de
serviços, esta tem responsabilidade civil objetiva na
reparação dos mesmos, conforme determina a lei
nº. 8.078/90 (CDC). II - correta é a fixação de
indenização por danos morais que leva em conta os
parâmetros assentados pela doutrina e pela
jurisprudência, mormente os que dizem respeito à
compensação pela dor sofrida e à prevenção, este
com caráter educativo a fim de evitar a repetição do
evento danoso; III - Recurso conhecido e improvido.
Sentença mantida". (Ac. 1ª Turma Recursal dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, na
Ap. Cív. 20020110581572, j. 12.08.03).

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APELAÇÃO : 0016239-85.2011.8.26.0037

COMARCA : ARARAQUARA

APELANTE(S): FUNDO DE INVESTIMENTO EM


DIREITOS

CREDITÓRIOS DA INDÚSTRIA EXODUS I

APELADO(S) : BETHANIA GOMES DE SOUZA

JUIZ (A) : CARLOS EDUARDO ZANINI MACIEL

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL.


Cessão de crédito. Protesto de duplicata.
Apontamento indevido do nome da autora nos
órgãos de proteção ao crédito.

Responsabilidade objetiva do réu. Fortuito interno.


Súmula 479 do STJ. Dano moral in re ipsa.
Indenização devida que deve ser mantida. Teoria do
desestímulo. Sentença mantida. RECURSOS
DESPROVIDOS.

APELAÇÃO. Ação declaratória cumulada com


pedido de reparação de danos morais e materiais.
Sentença de parcial procedência. Contrato
bancário. Empréstimo consignado em cartão de
crédito. Reserva de Margem Consignável – RMC e
Reserva Cartão Consignado - RCC. Autor nega ter
aderido aos serviços. Efetiva contratação não
comprovada. Contratos declarados inexistentes,
com afastamento dos pleitos indenizatórios, ao
fundamento de que não houve descontos, mas
mera reserva de margem. Análise conjunta da
documentação apresentada que aponta o
contrário. Valores indevidamente descontados que
devem ser devolvidos. Supostos contratos firmados
em 2018 e 2022. Valores indevidamente
descontados que devem ser restituídos, observados
os critérios previstos no Recurso Repetitivo a
respeito – EAREsp 676.608 (paradigma), com

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restituição, de forma dobrada, apenas dos valores
descontados após 30/03/2021. Danos morais.
Realização de descontos, no benefício
previdenciário do autor, de valores relativos ao
contrato. Medida que importou na redução de
verba de natureza alimentar. Danos morais
caracterizados. Dever de indenizar. Dano moral in
re ipsa. Precedentes. Verba indenizatória fixada
em R$ 10.000,00 (dez mil reais). Sentença
reformada. Ação julgada parcialmente procedente
em maior extensão. Sucumbência recíproca
afastada. Verba honorária fixada em 10% do valor
atualizado da condenação. Honorários recursais.
Art. 85, § 11, CPC inaplicável no caso concreto.
Recurso parcialmente provido.

(TJ-SP - AC: 10089974920228260077 Birigüi,


Relator: Décio Rodrigues, Data de Julgamento:
17/04/2023, 21ª Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 17/04/2023)

Assim, requer seja o Requerido compelido ao


pagamento de quantia a ser arbitrada por Vossa Excelência, a título de
desestímulo à prática de novas condutas lesivas, servindo ainda de
exemplo à educar toda a sociedade e demais prestadores ou fornecedores
de produtos e serviços, em valor não inferior à vinte salários mínimos
vigente.

5- DA CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA

Notória a necessidade de concessão de tutela de


evidência, tendo em vista o preenchimento de todos os seus requisitos,
uma vez que é demonstrada prova inequívoca, geradora de
verossimilhança das alegações, bem como o perigo de dano grave ou de
difícil reparação (Art. 300 do CPC).

De tão patente, a demonstração do preenchimento


dos requisitos não comporta maiores esforços.

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O preenchimento do primeiro pressuposto prova
inequívoca, já foi excessivamente demonstrado no decorrer de toda esta
petição, ademais todo o alegado pode ser comprovado de plano, pela via
documental, sem necessidade de qualquer dilação probatória.

Os Referidos documentos demonstram a data em


que foi AVERBADO o empréstimo não solicitado na sua
APOSENTADORIA em (07/12/2023), bem como a programação do
desconto no seu benefício, veja;

Tal pressuposto se encontra evidenciado por toda a


documentação apresentada em anexo, sendo que estes descontos
indevidos vêm prejudicando o requerente.

Observa-se ainda, no presente caso, agressão


frontal a direitos e garantias fundamentais assegurados pela
Constituição Federal, o que, por si só, já justifica o reconhecimento da
verossimilhança. Além disso, o direito do Requerente encontra respaldo
na jurisprudência consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça e dos
Tribunais de Justiça.

Já no tocante ao segundo requisito, perigo de dano


grave ou de difícil reparação, esse se mostra também atendido, uma vez
que, havendo os descontos em decorrência do “FALSO EMPRÉSTIMO”
junto a empresa requerida, o Requerente terá sua renda mensal

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excessivamente diminuída, passando por situação financeira difícil,
sendo necessária a vedação de possíveis descontos.

Desse modo, na tentativa de salvaguardar sua


condição digna, somente a concessão de um provimento antecipado que
vise a impedir a efetivação de descontos em seu benefício pela requerida
poderá evitar maiores percalços tanto para ele como para toda a sua
família.

DESCONTO PROGRAMADO NO BENEFÍCIO DA


REQURENTE PELO BANCO:

MAXIMA S.A. (doc. anexo)::

Diante disso, uma vez comprovado os requisitos


ensejadores da medida pretendida, SEJA CONCEDIDA A

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ANTECIPAÇÃO DE TUTELA determinado que o Requerido cesse
imediatamente os descontos programados no benefício da parte
Requerente em razão do “EMPRÉSTIMO CONSIGNADO” não
autorizado em sua conta intimando-o imediatamente para cumprir
essa decisão sob pena de, não o fazendo, ser arbitrada MULTA de R$
300,00 (trezentos reais) por dia de descumprimento limitada a R$
20.000,00 (vinte mil reais) contados a partir da intimação da decisão
liminar!

6 -DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA:

A Súmula n° 297 do STJ é conclusiva quando diz que:

“o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras”.

No julgamento do REsp: 57974 RS 1994/0038615-


0, o ministro Ruy Rosado, afirmou no que tange aos bancos:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE
CARTÃO DE CRÉDITO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL
DOS JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.
AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO. SÚMULAS 5 E 7 DO
STJ. REVISÃO DO PACTO. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO. POSSIBILIDADE NA FORMA SIMPLES.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1.(...). 2. A
submissão das instituições financeiras ao CDC e a
possibilidade de revisão judicial do contrato são
reconhecidas pela reiterada jurisprudência do STJ
(Súmula 297). 3. A jurisprudência iterativa da
Terceira e Quarta Turma orienta-se no "sentido de
admitir, em tese, a repetição de indébito na forma
simples, independentemente da prova do erro,
ficando relegado às instâncias ordinárias o cálculo
do montante, a ser apurado, se houver" (AgRg no
REsp 749830/RS, Rel. Min. Fernando Gonçalves,
DJU de 05.09.2005) 4. Agravo regimental a que se
nega provimento. (STJ - AgRg no Ag: 1404888 SC
2011/0043690-3, Relator: Ministra MARIA ISABEL

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GALLOTTI, Data de Julgamento: 04/11/2014, T4 -
QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
10/11/2014)

(grifo nosso)

"está submetido às disposições do CDC, não por ser


fornecedor de um produto, mas porque presta um
serviço consumido pelo cliente, que é o consumidor
final desses serviços. (...) nas relações bancárias há
difusa utilização de contratos de massa e onde,
com mais evidência, surge a desigualdade de forças
e a vulnerabilidade do usuário".

Sendo assim, o Código de Defesa do Consumidor, artigo 6º, VII,

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII - a


facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com
a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

Diante do exposto, tem o requerente o direito à


inversão do ônus da prova, dada a sua hipossuficiência, considerando
que a parte se encontra em situação de impotência/inferioridade na
relação de consumo, ou seja, está em desvantagem em relação ao
fornecedor.

7 – DO ERRO SUBSTANCIAL - JULGAMENTO DO IRDR


1.0000.20.602263-4/001 – TEMA 73 E A UTILIZAÇÃO DA TAXA MÉDIA
DE MERCADO COMO FUNDAMENTAÇÃO PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Excelência, no caso do cartão de crédito RMC/RCC, decidiu o


Tribunal de Justiça de Minas Gerais, utilizando como uma de suas bases o
site do Banco Central, conforme se verifica nas fontes extraídas diretamente
do julgamento do IRDR, pela aplicação da taxa de juros fornecida
diretamente no site da instituição financeira mencionada acima conforme se
vê na imagem a seguir:

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Assim levando em consideração o exposto acima ficou decido as
seguintes teses:

1 – Deve ser anulado o contrato de cartão de crédito consignado


gerador das consignações em folha de pagamento, se assim pedido pelo
consumidor, quando configurado erro substancial;

2 – Se o consumidor, pretendia, de fato contratar um empréstimo


consignado e, induzido a erro pelo banco, contratou o cartão de crédito
consignado, em havendo pedido nesse sentido e em possuindo o consumidor
margem consignável para suportar o empréstimo consignado, cabe converter
o contrato em contrato de empréstimo consignado, ficando o banco obrigado
a aplicar a taxa média, indicada pelo Banco Central, para contratações da
espécie, na época em que firmada a avença.

3 - Se o consumidor não possui mais margem consignável para


suportar o empréstimo consignado, cabe converter, assim mesmo, o contrato
de cartão de crédito consignado em contrato de empréstimo consignado, com
aplicação da taxa de juros aplicada, à época da contratação, para
empréstimos dessa natureza (que era o contrato visado pelo consumidor),
prorrogando-se a dívida, que deverá respeitar a ordem cronológica dos
empréstimos já assumidos, de modo a que, assim que houver margem
consignável disponível, se passe então a cobrá-la.

4 - Se a parte consumidora, que foi induzida a erro (questão fática a


ser examinada em caso concreto), pede na ação apenas que seja substituída
a taxa de juros do cartão de crédito consignado pela taxa média divulgada
pelo Banco Central do Brasil para "as operações de crédito com recursos
livres - Pessoas físicas - Crédito pessoal consignado para trabalhadores do
setor público", deve o pedido ser acolhido, mas somente em relação aos
empréstimos obtidos por meio do cartão de crédito consignado.

5 - Não se deve reduzir a taxa de juros para o pagamento das faturas


referentes ao uso regular do cartão de crédito como tal, que consiste nas
compras efetuadas à vista e de forma parcelada.

6 - Examinado o caso concreto, se a prova dos autos indicar que


a instituição financeira impingiu ao consumidor um contrato de cartão
de crédito consignado ou se a referida instituição omitiu informações
relevantes e induziu realmente o consumidor a erro, fica evidenciado o
dano moral.

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7 - Para se reconhecer a ocorrência do erro substancial, não é
pressuposto que a parte não tenha feito uso do cartão de crédito como tal,
isto é, na função compras.

8 - Os valores descontados em conta bancária do consumidor, na


hipótese de conversão do contrato de cartão de crédito consignado em
contrato de empréstimo consignado, deverão ser compensados com o saldo
devedor, quando este passar a ser pago, devendo sobre os valores de tais
descontos incidir correção monetária desde a data de cada desconto e juros
de mora desde a citação da parte ré na ação.

9 - Na hipótese de rescisão do contrato de cartão de crédito


consignado firmado pela parte sem sua conversão em empréstimo
consignado, os valores descontados em conta bancária do consumidor
deverão ser devolvidos pela instituição financeira, incidindo sobre tais
valores correção monetária desde a data de cada desconto e juros de mora
desde a citação da parte ré na ação, ao passo que o valor do capital
emprestado deverá ser devolvido pelo consumidor, mas apenas com correção
monetária desde o depósito em sua conta.

10 - O erro substancial, quando da contratação do cartão de crédito


consignado em detrimento da contratação de empréstimo consignado, deve
ser avaliado pelo julgador de acordo com as particularidades do caso
concreto, bem como as eventuais repercussões sobre o direito de repetição
do indébito e de reparação por danos morais.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL POR VÍCIO


C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO - VÍCIO DE CONSENTIMENTO -
EMPRÉSTIMO PESSOAL - ERRO SUBSTANCIAL -
PACTUAÇÃO INVÁLIDA - DESCONTOS EM FOLHA DE
PAGAMENTO - RESTITUIÇÃO DOS VALORES - REPARAÇÃO
POR DANO MORAL - PREJUÍZO CONFIGURADO -
INDENIZAÇÃO - CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO. - A força
obrigatória dos Contratos cede às máculas que recaem sobre a
manifestação volitiva, que têm o condão de tornar nulo ou
anulável o negócio jurídico, o que ocorre nas hipóteses de erro,
dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude - Quando
comprovadamente realizada com vício de consentimento, a
Avença é passível de anulação - As pessoas jurídicas
prestadoras de serviços respondem, objetivamente, por
prejuízos decorrentes de falha na consecução de suas
atividades, por se tratar de responsabilidade oriunda do risco
do empreendimento - As cobranças de parcelas, mediante
consignações mensais em folha de pagamento, com base em

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inválida e anulada contratação de Empréstimo Pessoal/Cartão
de Crédito, autorizam a restituição dos respectivos valores -
Essas condutas ilegais atentam contra o Sistema de Proteção
ao Consumidor e materializam práticas abusivas e
deflagradoras de dano moral - No arbitramento do valor
indenizatório devem ser observados os critérios de
proporcionalidade e razoabilidade, em sintonia com o ato lesivo
e as suas repercussões.

(TJ-MG - AC: 10000205299902001 MG, Relator: Roberto


Vasconcellos, Data de Julgamento: 11/02/2021, Câmaras
Cíveis / 17ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 12/02/2021)

Com a falha na prestação de serviço do réu, fica


presente o ERRO SUBSTANCIAL que gera o DANO MORAL tendo em
vista o autor não ter autorizado contratação de produto RCC.

8- DOS DANOS MORAIS:

Diante dos fatos acima relatados, mostra-se


patente a configuração dos “danos morais” sofridos pelo requerente.
A moral é reconhecida como bem jurídico,
recebendo dos mais diversos diplomas legais a devida proteção,
inclusive amparada pelo art. 5º, inc. V, da Carta Magna / 1988:

“Art. 5º (omissis)

V – é assegurado o direito de resposta,


proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem;”

Outrossim, o art. 186 e o art. 927, do Código Civil


de 2002, assim estabelecem:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

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“Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e
187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.”

Também, o Código de Proteção e Defesa do


Consumidor, no seu art. 6º, protege a integridade moral dos
consumidores:

“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:


VI – a efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos.”

O ato trata-se, pois, de dano moral puro,


perfeitamente passível de ser indenizado, conforme revelam as ementas
que se seguem:

“Em sede de dano moral, irrelevante a prova de


repercussão econômica ou sócio-política,
exsurgindo o dever de reparar tão somente a mágoa
causada injustamente, sem reflexo no patrimônio
da vítima, competindo ao juiz graduá-lo, de acordo
com a intensidade do sofrimento causado”
(RJTAMG 53/178).

“Ementa: DANO MORAL PURO.


CARACTERIZAÇÃO. Sobrevindo em razão de ato
ilícito, perturbação nas relações psíquicas, na
tranquilidade, nos sentimentos e nos afetos de uma
pessoa, configura-se o dano moral, passível de
indenização. Recurso Especial conhecido e
provido” (RSTJ 34/284). (Grifos nossos).

Portanto, diante da hodierna jurisprudência que


se assemelha ao caso em baila, ampara o requerente, na melhor forma
de direito, e como ponderação, sua pretensão a fim de que seja o
requerido condenado a lhe pagar, a título de indenização por danos
morais, os valores de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

DOS PEDIDOS:

Diante do Exposto, requer:

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a) Seja concedida prioridade de tramitação, tendo em vista o
requerente ser pessoa idosa, conforme prova no documento de
identidade em anexo, nos termos do artigo 1.048 do Novo Código
de Processo Civil.
b) A concessão tutela provisória de urgência antecipada, para que a
requerida se abstenha de RESERVAR MARGEM CONSIGNÁVEL
(RCC) e EMPRÉSTIMO SOBRE A RCC do requerente, sob pena de
MULTA de R$ 300,00 (trezentos reais) por dia de
descumprimento limitada a R$ 20.000,00 (vinte mil reais)
contados a partir da intimação da decisão liminar!

c) A citação da requerida, por AR, na pessoa de seu representante


legal, para, querendo, oferecer resposta, no prazo legal, sob pena
de revelia e confissão;

d) Seja julgada procedente a presente ação, declarando a inexistência


dos descontos de EMPRÉSTIMO CONSIGNADO DA RCC (cartão de
crédito), igualmente a RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL
(RCC), tendo em vista a não contratação, e que vem sendo
descontado as parcelas de forma indevida, sendo a requerida
condenada a restituir em dobro os descontos realizados
mensalmente nos últimos anos, a título de empréstimo sobre a
RCC;

e) Seja a requerida intimada para trazer aos autos o contrato


original de empréstimo que comprove a contratação de
empréstimo consignado na modalidade cartão de crédito
(RCC), bem como faturas emitidas no período, comprovante de
desbloqueio e entrega do cartão;

f) Na remota hipótese de comprovação do cartão de crédito


consignado (RCC) via apresentação de contrato devidamente
assinada pela parte autora, requer, alternativamente ao pedido
acima, seja realizada a readequação/conversão do empréstimo de
cartão de crédito consignado (RCC) para empréstimo consignado,
sendo os valores já pagos a título de RCC utilizados para amortizar
o saldo devedor, o qual deverá ser feito com base no valor liberado
(negociado) ao requerente, desprezando-se o saldo devedor atual,
ou seja, não deverá ser considerado para o cálculo o valor acrescido
de juros e encargos CONFORME IRDR TEMA 73;

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g) Seja o banco requerido condenado ao pagamento de indenização a
título de danos morais causados ao requerente em razão da
conduta desleal, falta de transparência, boa-fé, abusividade e
hipossuficiência da parte requerente, no valor de R$ 20.000,00
(vinte mil reais);

h) Concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita ao


requerente, por ser hipossuficiente, nos termos da Lei e declaração
anexa, tendo o autor uma renda líquida de R$ 732,30 (setecentos
e trinta e dois reais e trinta centavos);

i) Seja procedida a instrução do processo com a inversão do ônus da


prova, nos termos do artigo 6º, inciso VIII, do CDC;

j) A repetição do indébito, nos termos do artigo 42, parágrafo único,


da Lei 8.078/90, Código de Defesa do Consumidor, condenando o
requerido a ressarcir em dobro o que cobrou indevidamente.

k) A condenação, do requerido ao pagamento de honorários


advocatícios no importe de 20% sobre o valor da condenação, bem
como nas demais despesas sucumbenciais nos termos do artigo 85
do NCPC;

l) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito


permitidas, especialmente pela documentação que segue acostada,
novas juntadas, depoimento pessoal se necessário, e outras que se
fizerem necessárias no decorrer da lide.

m) Requer que seja a requerida compelida ao pagamento de


quantia a ser arbitrada por Vossa Excelência, a título de
desestímulo.

DA DISPENSA DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

O autor REQUER A DISPENSA da audiência de Conciliação prevista no


artigo 334, caput do NCPC , nesta fase preliminar da Ação Judicial , tendo
em vista as infrutíferas tentativas extrajudiciais de composição,
considerando, ainda, que deve ser INSTAURADO O CONTRADITÓRIO,
fato que nada impede ou impedirá as partes postularem a homologação
de acordos extrajudiciais ou requererem, em conjunto e a qualquer
tempo, designação de audiência conciliatória.

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Protesta-se provar todo o alegado, por meio de todas as provas lícitas, em
especial a documental;

Dá-se a causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil e quinhentos e dez


reais)

Nesses termos,

Pede deferimento.

Pouso Alegre/MG, 3 de julho de 2023.

ANDREZA MONALIZA PEREIRA KREPE

OAB/MG 176.672

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