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Tribunal

PJe - Processo Judicial Eletrônico

06/09/2023

Número: 8003972-75.2020.8.05.0113.1.EDCiv
Classe: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: Quarta Câmara Cível
Órgão julgador: Desa. Heloísa Pinto de Freitas Vieira Graddi
Última distribuição : 21/06/2023
Valor da causa: R$ 56.631,60
Processo referência: 8003972-75.2020.8.05.0113
Assuntos: Contratos Bancários, Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
BANCO PAN S.A. (EMBARGANTE) ENY BITTENCOURT (ADVOGADO)
MARIA AUGUSTA DE MIRANDA SILVA (EMBARGADO) LEANDRO ALVES COELHO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
49982 30/08/2023 23:17 Acórdão Acórdão
621
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
Quarta Câmara Cível

Processo: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CÍVEL n. 8003972-75.2020.8.05.0113.1. ED Civ


Órgão Julgador: Quarta Câmara Cível
EMBARGANTE: BANCO PAN S.A.
Advogado(s): ENY BITTENCOURT
EMBARGADO: MARIA AUGUSTA DE MIRANDA SILVA
Advogado(s):LEANDRO ALVES COELHO

**

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO.


QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA. ANÁLISE. POSSIBILIDADE.
ACOLHIMENTO PARCIAL.
I – Os embargos de declaração são admitidos nas hipóteses expressamente
previstas no art. 1.022 do CPC, isto é, quando há obscuridade, contradição,
omissão ou erro material no julgado.
II – As matérias de ordem públicas devem ser conhecidas ex officio, razão pela
qual podem ser apreciadas na via aclaratória.
III – O acórdão embargado apresentou fundamentação correlata, suficiente e
clara no sentido de que, no caso de responsabilidade extracontratual, à
indenização por dano moral devem acrescer os juros de mora, a contar da data
do evento danoso, inexistindo, portanto, vício a ser sanado neste quesito.
IV – Considerando que a correção monetária apenas recompõe o valor da
moeda, sem significar acréscimo patrimonial do credor ou penalidade imposta
ao devedor, admissível é a sua incidência sobre o valor que foi creditado na
conta corrente da Embargada, a título de empréstimo, e que será objeto de
compensação, questão de ordem pública que pode ser conhecida pela via dos
aclaratórios.
EMBARGOS ACOLHIDOS EM PARTE

ACORDÃO

Assinado eletronicamente por: HELOISA PINTO DE FREITAS VIEIRA GRADDI - 30/08/2023 23:17:45 Num. 49982621 - Pág. 1
https://pje2g.tjba.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23083023174544000000100485870
Número do documento: 23083023174544000000100485870
Vistos, relatados e discutidos os Embargos de Declaração nº 8003972-
75.2020.8.05.0113.1 opostos na Apelação nº 8003972-75.2020.8.05.0113, em que
figuram como Embargante o BANCO PAN S.A. e como Embargada MARIA
AUGUSTA DE MIRANDA SILVA.

ACORDAM os Senhores Desembargadores componentes da Turma Julgadora da


Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, por
unanimidade, em ACOLHER EM PARTE OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
pelas razões que integram o voto condutor.

Sala das Sessões,

HELOISA Pinto de Freitas Vieira GRADDI


RELATORA

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
QUARTA CÂMARA CÍVEL

DECISÃO PROCLAMADA

Conhecido e provido em parte Por Unanimidade


Salvador, 21 de Agosto de 2023.

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
Quarta Câmara Cível

Assinado eletronicamente por: HELOISA PINTO DE FREITAS VIEIRA GRADDI - 30/08/2023 23:17:45 Num. 49982621 - Pág. 2
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Processo: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CÍVEL n. 8003972-75.2020.8.05.0113.1. ED Civ
Órgão Julgador: Quarta Câmara Cível
EMBARGANTE: BANCO PAN S.A.
Advogado(s): ENY BITTENCOURT
EMBARGADO: MARIA AUGUSTA DE MIRANDA SILVA
Advogado(s): LEANDRO ALVES COELHO

**

RELATÓRIO

O BANCO PAN S.A. opõe embargos de declaração contra o acórdão que não
conheceu do recurso adesivo interposto pelo Banco do Brasil S/A, negou provimento à
apelação interposta por si contra MARIA AUGUSTA DE MIRANDA SILVA e, de ofício,
reformou em parte a sentença.

Sustenta que o acórdão é omisso, sob a alegação de que a Turma Julgadora deixou
de observar o conteúdo do artigo 405 do Código Civil e do Enunciado nº 362 do
Superior Tribunal de Justiça.

Afirma, ainda, que a sentença deixou de fixar os parâmetros da compensação dos


valores disponibilizados em conta bancária em favor da demandante com o quantum
debeatur e acrescenta que a omissão pode ser suprida nesta Instância, por se tratar
de matéria de ordem pública.

Requer o acolhimento dos aclaratórios, com efeitos infringentes.

A parte Embargada requer a rejeição do recurso (ID 46832859).

Recurso apto a julgamento, encaminho os autos à Secretaria, com este relatório, em


atendimento às regras insertas nos artigos 931 do Código de Processo Civil e 167, 1ª
parte, do Regimento Interno desta Corte, para a inclusão em pauta.

Salvador, de agosto de 2023

HELOISA Pinto de Freitas Vieira GRADDI


RELATORA

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Quarta Câmara Cível

Processo: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CÍVEL n. 8003972-75.2020.8.05.0113.1. ED Civ


Órgão Julgador: Quarta Câmara Cível
EMBARGANTE: BANCO PAN S.A.
Advogado(s): ENY BITTENCOURT
EMBARGADO: MARIA AUGUSTA DE MIRANDA SILVA
Advogado(s): LEANDRO ALVES COELHO

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VOTO

Na hipótese, constata-se a presença dos requisitos de admissibilidade do recurso,


razão do seu conhecimento.

Os embargos de declaração são admitidos nas hipóteses expressamente previstas no


artigo 1.022 do Código de Processo Civil, isto é, quando há obscuridade, contradição,
omissão ou erro material no julgado, in litteris:

“Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão


judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o
juiz de ofício ou a requerimento;
III - corrigir erro material.”

Evidencia-se, assim, que os aclaratórios visam apenas garantir a inteligibilidade, a


inteireza e a harmonia lógica da decisão, nos exatos termos do referido dispositivo
legal.

Diante da alegação da parte Embargante, de que há omissão no decisum embargado,

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Número do documento: 23083023174544000000100485870
impõe-se, de logo, esclarecer o que consiste o vício da omissão que possibilita a
oposição dos aclaratórios.

Lecionando sobre a omissão, LUIZ GUILHERME MARINONI, SERGIO CRUZ


ARENHART e DANIEL MITIDIERO esclarecem:

“A omissão representa a falta de manifestação expressa sobre algum ponto


ou questão sobre a qual devia se pronunciar o juiz de oficio ou a
requerimento. (...) Assim, é omissa a decisão que deixa de se pronunciar
sobre argumento formulado pela parte capaz de alterar o conteúdo da
decisão judicial.”
(in Curso de Processo Civil – Vol 2, 2ª edição, 2016, Editora RT, pag. 550)

Ademais, registre-se que as matérias de ordem pública, porque podem ser conhecidas
por petição simples, também poderão por meio de embargos de declaração.

De logo, saliente-se que, em relação aos encargos de mora da indenização por dano
moral, o acórdão embargado apresentou fundamentação correlata, suficiente e clara
no sentido de que, no caso de responsabilidade extracontratual, devem acrescer os
juros de mora, a contar da data do evento danoso, inexistindo, portanto, vício a ser
sanado.

Confira-se:

“Em relação ao termo inicial do computo dos encargos moratórios, é cediço


que, no caso de responsabilidade extracontratual, ao valor da indenização
por dano moral devem acrescer os juros de mora, a contar da data do
evento danoso, e correção monetária, desde a data do seu arbitramento.

Neste sentido, confira-se recente julgado da Corte Superior de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO


ADMINISTRATIVO 3/STJ. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. EVENTO DANOSO. CORREÇÃO
MONETÁRIA. ACÓRDÃO NO MESMO SENTIDO DA JURISPRUDÊNCIA
DO STJ. PRECEDENTES. SÚMULA 568/STJ. AGRAVO INTERNO NÃO
PROVIDO.
Esta Corte Superior possui entendimento no sentido de que em se tratando

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de condenação para reparação de danos morais em sede responsabilidade
extracontratual, efetivamente, os juros de mora devem incidir a partir do
evento danoso.
Ademais, o Superior Tribunal de Justiça possui interativa jurisprudência no
sentido de que a correção monetária, nos casos de indenização por danos
morais, deve incidir a partir da data do arbitramento.
Assim, o acórdão de origem julgou a causa em consonância com o
entendimento desta Corte de Justiça no que tange aos termos iniciais dos
juros de mora e da correção monetária, fixados, respectivamente, a partir
do evento danoso (Súmula 54/STJ) e da publicação do acórdão (Súmula
362/STJ).
Agravo interno não provido.”
(STJ, AgInt no AREsp 1366803/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/05/2019, DJe 28/05/2019)

No caso em análise, a sentença fixou, equivocadamente, o termo a quo de


incidência de juros de mora a data do seu arbitramento, devendo, portanto,
ser reformada neste quesito.”

Em relação ao índice de correção monetária e juros de mora a incidir sobre o valor


creditado a título de mútuo em conta bancária da Embargada, objeto da compensação,
é pertinente a manifestação desta Corte, por se tratar de matéria de ordem pública não
definida no Juízo de origem.

Sabe-se que a correção monetária constitui forma de recompor o valor da moeda, em


decorrência das perdas sofridas, e não significa acréscimo patrimonial auferido pelo
credor, tampouco penalidade imposta ao devedor. Apenas preserva o poder aquisitivo
decorrente da desvalorização pelo transcurso do tempo.

Sendo assim, o valor que foi creditado na conta corrente da Embargada, a título de
empréstimo, e por ela utilizado, deverá ser corrigido monetariamente, com o mesmo
índice a ser aplicado na correção do montante que será devolvido pelo Banco
Embargante.

Todavia, não incidirão juros de mora, como pretendido pelo Embargante.

Considerando que os juros moratórios significam penalidade por atraso, a Embargada


não pode ser punida por demora na devolução de algo que não contratou ou pediu,
além do que a determinação para devolver, ou não, dependia do julgamento final da
ação. Isto é, inexiste mora a ser penalizada.

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Número do documento: 23083023174544000000100485870
Por conseguinte, deve ser acolhida, em parte, a irresignação do Embargante, tão
somente para determinar a incidência de correção monetária sobre o valor que foi
creditado na conta corrente da Embargada.

Nestes termos, ACOLHO EM PARTE OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

É o voto.

Sala das Sessões,

HELOISA Pinto de Freitas Vieira GRADDI


RELATORA

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Número do documento: 23083023174544000000100485870

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