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Tribunal de Justiça do Piauí

PJe - Processo Judicial Eletrônico

28/08/2023

Número: 0802789-14.2022.8.18.0123
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: JECC Parnaíba Anexo I UESPI
Última distribuição : 28/10/2022
Valor da causa: R$ 8.000,00
Assuntos: Inclusão Indevida em Cadastro de Inadimplentes
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DELSIANE DE MARIA SOUSA COSTA (AUTOR) ULISSES BEZERRA PIAUILINO BATISTA (ADVOGADO)
OI S.A. - EM RECUPERACAO JUDICIAL (REU) MARIO ROBERTO PEREIRA DE ARAUJO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
45685 28/08/2023 21:50 01. 0802789-14.2022.8.18.0123 - DELSIANE DE Petição
341 MARIA SOUSA COSTA x OI - RECURSO
INOMINADO
AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL – ANEXO I –
DA COMARCA DE PARNAÍBA (PI).

Ref. Proc.: 0802789-14.2022.8.18.0123

OI S/A – Em recuperação judicial, empresa de telefonia qualificada


nos autos da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS POR
NEGATIVAÇÃO INDEVIDA NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO SPC/SERASA que lhe é movida por DELSIANE DE MARIA
SOUSA COSTA, também devidamente qualificada, vem, tempestiva e
respeitosamente à presença de V. Exa., por seus advogados ao final firmados,
interpor o presente RECURSO INOMINADO em face da r. sentença, o que faz
com base nas razões anexas.

Recolhidas as despesas de preparo, conforme comprovante anexo,


requer seja recebido o presente recurso em seu duplo efeito, sendo, em seguida,
encaminhados os autos à Instância Recursal.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

de Teresina (PI) para Parnaíba (PI), 28 de agosto de 2023.

MÁRIO ROBERTO PEREIRA DE ARAÚJO


OAB/PI no 2.209

ROBERTA RIBEIRO GONÇALVES SÁ


OAB/PI n° 20.106

Assinado eletronicamente por: MARIO ROBERTO PEREIRA DE ARAUJO - 28/08/2023 21:50:12 Num. 45685341 - Pág. 1
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Número do documento: 23082821501207200000042979831
RECURSO INOMINADO

RECORRENTE: OI S/A
RECORRIDA: DELSIANE DE MARIA SOUSA COSTA

ORIGEM: JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL – ANEXO I – DA


COMARCA DE PARNAÍBA (PI)
REFERÊNCIA: 0800156-30.2022.8.18.0123

RAZÕES DO RECURSO

Eméritos julgadores,

A decisão proferida pelo Juízo do Juizado Especial Cível e Criminal da


Comarca de Parnaíba, em que pese a elevada cultura jurídica de seu subscritor,
merece ser reformada in totum. Tal sentença condenou a Demandada (Recorrente) ao
pagamento em favor da Recorrida da quantia R$ 8.000,00 (oito mil reais) a título de
indenização por danos morais.

Tal sentença, nobres Julgadores, destoa da realidade fática, não só da


constante dos autos como também de causas idênticas já julgadas, justamente porque
materializa um enriquecimento sem causa por parte da Recorrida, tendo em vista a
inexistência do dever de indenizar decorrente da absoluta ausência de ato ilícito
e de comprovação do dano.

Destarte, a decisão do juízo a quo merece ser totalmente reformada.

1) DA SINOPSE FÁTICA

Trata-se de Ação Declaratória de inexistência de débito com pedido de


indenização por danos morais proposta pela Recorrida que alegou, em síntese, haver

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sofrido prejuízos em razão de cobranças e a negativação por serviços que não
contratou.

Motivada por tais acontecimentos, a parte ajuizou a ação postulando a


condenação da Recorrente ao pagamento de indenização pelos supostos danos
morais sofridos, sem jamais especificá-los ou comprová-los, além da declaração
judicial de que não deve os valores cobrados.

Regulamente citada, a empresa Recorrente apresentou contestação ao


pedido autoral, argumentando, em síntese a ausência de cobrança indevida e o
descabimento de condenação por dano moral, ante a ausência de comprovação deles.

Isto posto, diante da realidade fática comprovada, requereu a


Recorrente que fosse a presente ação julgada inteiramente improcedente,
reconhecendo a inexistência de fundamentação fático-jurídica no tocante ao pleito
indenizatório.

Porém, apesar de demonstrada a inexistência de responsabilidade da


empresa Recorrente ao pagamento de qualquer indenização em favor da Recorrida,
o MM. Juízo de primeiro grau houve por bem julgar a demanda nos seguintes termos:

“Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO,


extinguindo o processo com resolução de mérito (CPC, art. 487, I) para
condenar a ré a pagar à autora a importância de R$ 8.000,00 (oito mil
reais) a título de danos morais, a ser acrescido de juros legais e corrigido
monetariamente a partir da data do arbitramento (art. 407 do CC e
Súmula nº 362, STJ).”

A sentença, embora diante da elevada cultura jurídica de seu subscritor,


não merece subsistir, uma vez que a ré não procedeu com elevado grau de culpa,

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tendo em vista que, conforme comprovado, a Recorrente não agiu de forma abusiva
ou ilegal.

Outrossim, ad argumentandum tantum, a indenização fixada (R$


8.000,00) encontra-se em patamar extremamente elevado sem, no entanto,
suscitar nenhum distinguish que fundamente a amplitude do dano causado,
principalmente quando se atém aos fatos alegados na demanda, que não possuem
nenhuma comprovação de sua efetividade.

2) NECESSIDADE DE REFORMA DA SENTENÇA

O cerne do Recurso aqui interposto é a discussão acerca do excesso


no valor estabelecido a título de danos morais.

Demonstrado nos autos não ter havido abusividade no dano alegado


pela Recorrida, se torna imprescindível tratar do valor da indenização diante do
princípio da eventualidade. Assim, passa-se a discorrer sobre a quantia arbitrada pelo
juízo, que se mostra deveras elevada.

O Juízo a quo fixou a condenação em R$ 8.000,00 (oito mil reais).

Os valores deferidos a tal título deveriam ter sido fixados de forma


módica, com a finalidade, não atingida, de não ocasionar um locupletamento sem
causa chancelado pelo Poder Judiciário.

Sobre esse assunto, transcrevem-se alguns acórdãos que ilustram o


posicionamento da jurisprudência pátria em não permitir o enriquecimento a partir
do instituto da responsabilidade civil:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.

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REGISTRO INDEVIDO EM ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. DEVOLUÇÃO INDEVIDA DE CHEQUE.
CONSTRANGIMENTO PREVISÍVEL. EXISTÊNCIA DE
OUTROS REGISTROS.
1. No presente pleito, considerou o Tribunal de origem, com base nos
elementos probatórios contidos nos autos, "que a questão de fato ensejadora
da presente lide, qual seja, a devolução indevida de cheque emitido pela
autora e a consequente inclusão de seu nome no Serasa, é absolutamente
clara, e sobre ela as partes não controvertem" (fls.112).
2. Consoante jurisprudência firmada nesta Corte, o dano moral decorre do
próprio ato lesivo de inscrição indevida junto aos órgãos de proteção ao
crédito, "independentemente da prova objetiva do abalo à honra e à
reputação sofrida pelo autor, que se permite, na hipótese, facilmente
presumir, gerando direito a ressarcimento". Precedentes
3. Conforme orientação pacificada nesta Corte, e adotada pelo acórdão
recorrido, "a existência de outras inscrições anteriores em cadastros de
proteção ao crédito em nome do postulante dos danos morais, não exclui
a indenização, dado o reconhecimento da existência da lesão". Contudo,
tal fato deve ser sopesado na fixação do valor reparatório. Precedentes.
4. 4. Constatado evidente exagero ou manifesta irrisão na fixação, pelas
instâncias ordinárias, do montante indenizatório do dano moral, em
flagrante violação aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade,
é possível a revisão, nesta Corte, de aludida quantificação. Precedentes.
5. Considerado os princípios retro mencionados e as
peculiaridades do caso em questão (valor do cheque
devolvido: R$167,00; período de permanência da
negativação: em torno de um mês; ocorrência de outras
inscrições), o quantum fixado pelo Tribunal a quo
(R$5.000,00) a título de danos morais mostra-se excessivo,
não se limitando a justa reparação dos prejuízos advindos
do evento danoso. Destarte, para assegurar ao lesado justa

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reparação, sem incorrer em enriquecimento indevido,
reduzo o valor indenizatório, para fixá-lo na quantia certa
de R$350,00 (trezentos e cinqüenta reais).
6. Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.
REsp 717017 / PE ; RECURSO ESPECIAL
2005/0006053-4, Ministro JORGE SCARTEZZINI (1113), T4 -
QUARTA TURMA, 3.10.2006)

APELAÇÃO CÍVEL. DANO MORAL NEGATIVAÇÃO


INDEVIDA. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
MAJORAÇÃO. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A indevida inscrição em cadastro de inadimplentes
causa dano moral in re ipsa, cuja compensação deve ser
assegurada de acordo com os princípios da razoabilidade
e proporcionalidade, os quais, no caso, autorizam a
majoração de R$ 2.000,00 para R$ 3.000,00. 2. Apelação
conhecida e parcialmente provida.

(TJPI | Apelação Cível Nº 2014.0001.009014-0 | Relator: Des.


Fernando Carvalho Mendes | 1ª Câmara Especializada Cível | Data
de Julgamento: 06/03/2018)

NO CASO EM TELA, O MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU


FUNDAMENTOU A CONDENAÇÃO EM INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS COMO FORMA DE EVITAR QUE A EMPRESA RÉ ADOTASSE
POSTURAS SEMELHANTES EM OUTROS CASOS, SEGUINDO
CLARAMENTE A TEORIA DO DESESTIMULO.

A aplicação da teoria do desestímulo é totalmente impossível nesse


caso. Como se sabe, tal teoria foi formulada para excepcionar a regra de que a

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indenização tem caráter unicamente reparatório, permitindo a majoração do valor
além da reparação, até o montante que serviria como inibidor de futuras ações
danosas.

Cumpre destacar que qualquer indenização que supere o valor do


dano configuraria “penalidade” imposta ao indenizante, o que não se coaduna com
nosso sistema constitucional, que exige, para tanto, previsão legal expressa, nos
termos do art.5º, XXXIX, da Carta da República (não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal).

Ora, a indenização – para que efetivamente seja indenização – somente


pode assumir o caráter compensatório (de um dano).

O aspecto aflitivo da indenização não encontra fundamento jurídico


válido em nosso sistema. Mesmo que se lhe atribua o pressuposto (metajurídico) de
evitar que a ação se repita, ter-se-á como consequência lógica (e, agora, jurídica) que
o quantum indenizatório supera o valor do dano. Não há causa jurídica válida que
justifique este plus. Será esta diferença configurada, claramente, como
enriquecimento sem causa.

Esta interpretação (de um plus indenizatório aflitivo/punitivo) viola


o próprio art.5º, X, da Constituição da República, que dita “são invioláveis a intimidade,
a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação”. Ou seja, a própria Carta Magna vincula a
indenização ao dano, afastando outros critérios, notadamente o punitivo. A
indenização é, pois, medida pelo dano.

Embora o “cálculo” da indenização por dano moral não seja “exato”


o valor que a ela se atribuir a título de aspecto aflitivo estará a superar o valor
ressarcitório, indo, com isso, além do dano. A indenização que superar o limite do
valor do dano imporá um plus ao indenizante, não admitido pelo art.5º, inc. X, da

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Constituição da República. A indenização não tem a função – jurídica – de punir,
mas de recompor um dano (tornar indene). A obrigação é de reparar o dano (cfr.
art.927, do Cód. Civil).

Para afastar qualquer dúvida, determina o art.944 do Código Civil,


claramente, que “A indenização mede-se pela extensão do dano”.

Assim, a indenização deve ser medida, apenas, por seu caráter


ressarcitório. O caráter “punitivo” (para além do ressarcimento, do dano) não é
critério válido. À indenização não se pode dar a função de multa ou penalidade. Esta
só por lei ou contrato (na responsabilidade contratual, que não é o caso) poderá ser
fixada. Do contrário, restará violado o princípio da legalidade, ao qual deve estar
submisso o julgador.

Na decisão discutida nesses autos, o juízo a quo estabeleceu o valor


de R$ 8.000,00 (oito mil reais) usando como parâmetro “maior o desvalor da conduta
ilícita, as condições do ofendido, a intensidade e o tempo de duração do evento danoso”. Porém,
esses critérios, com todo respeito, não justificam o quantum atribuído pela
lesão a direito extrapatrimonial, apresentando certo descomedimento que
merece reforma pela instância revisora, a fim de evitar o enriquecimento
ilícito da parte Recorrida.

Não há nos autos uma situação excepcional que justifique e


fundamente o arbitramento dos danos morais em patamar tão elevado. É
essencial a obediência aos princípios constitucionais da razoabilidade e
proporcionalidade, que permeiam não só as decisões de mérito, mas toda a atuação
jurisdicional, como um sistema de equilíbrio que veda a arbitrariedade ao atuar no
exercício de discrição, exigindo a obediência a critérios aceitáveis do ponto de vista
lógico, em sintonia com o senso normal e esperado.

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Assim, deve a indenização imposta ser substancialmente reduzida,
a fim de não configurar rematada injustiça, em obediência aos princípios de
razoabilidade e proporcionalidade, que aqui devem ser presentes.

3) DO PEDIDO

ISTO POSTO, com base na argumentação acima aduzida, requer seja


recebido e PROVIDO o presente recurso para o fim de reformar parcialmente a
sentença, reduzindo o valor da indenização a que foi condenada a Recorrente,
em obediência aos princípios constitucionais da razoabilidade e
proporcionalidade.

Nestes Termos,
Pede e espera deferimento.

Teresina (PI), 28 de agosto de 2023

MÁRIO ROBERTO PEREIRA DE ARAÚJO


Advogado OAB/PI n° 2.209

ROBERTA RIBEIRO GONÇALVES SÁ


Advogada OAB/PI n° 20.106

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