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TJBA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

21/06/2021

Número: 8000431-86.2021.8.05.0052
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 1ª V DOS FEITOS DE REL DE CONS CIV E COMERCIAIS DE CASA NOVA
Última distribuição : 19/04/2021
Valor da causa: R$ 2.810,43
Assuntos: Empréstimo consignado
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MARIA ANGELICA PASSOS DE OLIVEIRA (AUTOR) PABLO RICARDO PASSOS OLIVEIRA (ADVOGADO)
BANCO BMG SA (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
11359 21/06/2021 13:32 875505-01dw-maria angelica - contestacao Contestação
7691
EXMO. JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DOS FEITOS DE REL. DE CONS. CIV. E COMERCIAIS
DA COMARCA DE CASA NOVA - BA

RESUMO FÁTICO

Conheça mais sobre o


Bmg Card:
 Não Reconhecimento da Modalidade
Cartão de Crédito Legalidade do Contrato
Firmado Inexistência de Ato Ilícito Ausência do
Dever de Indenizar Inexistência de Conduta
Antijurídica do Réu

https://youtu.be/e_CyIWJgG1U

Autor: MARIA ANGELICA PASSOS OLIVEIRA


Processo nº 8000431-86.2021.8.05.0052

BANCO BMG S.A., instituição financeira, inscrita no CNPJ/MF sob o nº


61.186.680/0001-74, já qualificada nos autos, em face de MARIA ANGELICA PASSOS
OLIVEIRA, pessoa física inscrita no CPF sob o nº 389.114.505-53, por seus advogados,
que subscrevem a presente (atos/procuração em anexo), vem à presença de V. Exa., nos
autos da AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RCM) E INEXISTÊNCIA DE DÉBITO COM
PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA CUMULADA COM RESTITUIÇÃO DE
VALORES EM DOBRO E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, apresentar sua
CONTESTAÇÃO, pelas razões a seguir aduzidas:

1. PRELIMINARMENTE
1.1. IMPUGNAÇÃO À ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Com o advento do Código de Processo Civil/2015, a gratuidade de justiça


passou a ser regulada exclusivamente pelos artigos 98 a 102 do atual diploma
processual. O primeiro artigo já estabelece as pessoas a quem se destina o benefício.
Senão vejamos:

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Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira,
com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.

Logo, o benefício da justiça gratuita é direito que deve socorrer tão


somente aqueles que realmente necessitam, aqueles que de fato não tem condições de
arcar com as despesas processuais.

A possibilidade de indeferimento, por sua vez, é prevista no art. 99, § 2º,


que estabelece que “o juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos
elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de
gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos”.

À luz de tais considerações preliminares, conclui-se que o indeferimento


da gratuidade requerida pela parte autora é de rigor, uma vez que este não comprovou
cabalmente fazer jus ao benefício.

Isto porque, o requerimento de gratuidade foi feito de forma genérica,


ao passo que o seu contracheque juntado (12/2020 – fl. 24), demonstra que a parte
autora aufere mensalmente valor líquido estimado em R$ 2.288,67, muito longe da
realidade de quem necessita do benefício da gratuidade.

Em tal hipótese, não prevalece a presunção de pobreza. A conclusão é


inevitável: há uma discrepância entre o que a parte autora declarou e o que aparenta
ser, em termos socioeconômicos. Por conta disso, cumpria a parte autora fazer prova
mais robusta de sua alegada hipossuficiência econômica. Mais incisivamente, deveria
ter apresentado cópias de suas últimas declarações de imposto de renda, extratos
bancários, entre outros documentos, o que não ocorreu.

Deste modo, não havendo demonstração convincente da necessidade


econômica da parte autora, a concessão de justiça gratuita mostra-se incabível, razão
pela qual requer o BMG, desde já, que seja indeferido o benefício pretendido.

1.2. AUSÊNCIA DE REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA

Sustenta a parte Autora, em sua petição inicial, a necessidade de


provimento de tutela de urgência, fundamentando seu pedido na suposta probabilidade
do direito alegado, demonstrado na documentação por ela apresentada, e no perigo do

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dano, em razão de estar sendo descontado indevidamente em seu contracheque valores
para pagamento de cartão de crédito não reconhecido

Contudo, diversamente do pretendido pela parte autora, o pedido de


tutela urgência não é suscetível de concessão, haja vista que, diferentemente do que
alega, não foram preenchidos os requisitos previstos no art. 300, do CPC.

O primeiro requisito previsto é perigo de dano. No caso dos autos não é


possível vislumbrar qualquer urgência, receio de dano irreparável ou de difícil
reparação, que justifique a pretensão da parte autora, principalmente ao considerar a
demora no ajuizamento da ação, em relação ao período que alega ter celebrado o
contrato, qual seja 30/10/2019, bem como o início da realização dos descontos
impugnados, ocorrido em 03/01/2020.

No que diz respeito a probabilidade do direito, segundo requisito


processualmente previsto, melhor sorte não assiste à parte autora. Isso porque, deixou
de trazer aos autos prova inequívoca, capaz de demonstrar a verossimilhança de suas
alegações. Mais do que isso, considerando as provas e argumentos do BMG ao longo da
presente peça de defesa, inexiste plausibilidade para a pretensão pretendida pela parte
autora.

Portanto, as meras alegações trazidas pela parte autora, desvinculadas


de qualquer comprovação, não são suficientes para a concessão da tutela de urgência.

Isto posto e em face de todo o expendido, requer seja indeferido o pedido


de tutela de urgência, haja vista o não atendimento de ao menos um dos requisitos
elencados pelo art. 300, do CPC, quanto mais, a satisfação cumulada de todos as
condições exigíveis ao acolhimento da antecipação.

1.3. DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

É de se registrar a obrigatoriedade de se atribuir a toda causa um valor


certo, ainda que não tenha a mesma um conteúdo econômico, consoante disposto no
art. 291, do CPC.

Com efeito, quando do ajuizamento de uma ação, deve a parte autora


estimar de antemão o proveito econômico que visa obter, atribuindo à causa valor
equivalente à sua pretensão, incluindo tanto os danos morais, quanto materiais.

Destaque-se que o valor da causa tem expressiva importância não


somente no presente caso, mas de forma geral, uma vez que traz uma série de reflexos

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para a relação processual, não podendo ser fixado de forma arbitrária e em desatenção
aos parâmetros previstos em lei.

Desse modo, e tomando por base os dados constantes na própria petição


inicial, tem-se que o valor da causa deve incluir os montantes:(i) do pedido de devolução
em dobro dos valores pagos; (ii) do pedido de restituição simples dos valores pagos; e
(iii) do pedido de indenização pelos danos morais supostamente sofridos.

A parte autora, entretanto, atribuiu à causa a importância de R$ 2.810,43


(dois mil, oitocentos e dez reais e quarenta e três centavos). Logo, ao fixar o referido
valor, nota-se que atuou em dissonância com o que dispõe o art. 292 do CPC.

Resta, pois, indiscutivelmente evidenciado o equívoco cometido quando


da valoração da causa da demanda, uma vez que deve expressar o proveito econômico
efetivamente postulado. Assim sendo, é inadmissível o valor atribuído à causa pela parte
autora, por não ter equivalência às pretensões veiculadas em juízo.

Diante do exposto, requer o BMG o acolhimento de sua impugnação e


que seja intimada a parte autora à corrigir o valor da causa, nos termos do §3º, art. 292
do CPC, para fazer constar o valor do proveito econômico que busca alcançar com a
presente demanda. Caso assim não o faça, pugna pela extinção do feito sem julgamento
do mérito, nos moldes do inciso I, art. 485, CPC.

2. MÉRITO
2.1. DO PRODUTO CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO - DIFERENÇA ENTRE CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO X CARTÃO DE CRÉDITO CONVENCIONAL X EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO

Inicialmente cabe esclarecer que, dentre os produtos bancários do Banco


BMG está o cartão de crédito consignado, que é ofertado para aposentados e
pensionistas do INSS, servidores públicos estaduais e municipais e militares.

Para melhor elucidação da questão envolvendo as numerações atreladas


ao contrato de cartão de crédito, é importante destacar que tal modalidade possui as
seguintes características, a saber:

i) número de contrato,
ii) número de cartão (plástico),
iii) número de matrícula,
iv) código de adesão (ADE),

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v) código de reserva de margem (RMC).

Nesse sentido, é possível identificar na documentação que segue


acostada à presente manifestação, que a parte autora firmou junto ao Banco Réu o (i)
cartão de crédito nº 5259 1200 0505 6119, vinculado à (ii) matrícula 1520358935. Ainda,
referido negócio possui (iii) o código de adesão (ADE) nº 58460815, que originou o (iv)
código de reserva de margem (RMC) nº 15630746. Observe-se que o código de reserva
de margem (RMC) n.º 15630746, apesar de constar no extrato do benefício como
número de contrato, referido número trata-se de numeração interna do INSS, gerado
por aquele órgão, possibilitando o desconto para o contrato. Logo, o código de reserva
de margem perante o INSS serve, exclusivamente, para identificação interna perante o
órgão

Trata-se de um cartão de crédito que, a escolha do cliente, pode ser


utilizado para compras e saques de valores, aceito em diversos estabelecimentos
comerciais.

O cartão de crédito consignado – tal como qualquer outro cartão de


crédito – tem duas finalidades: (i) instrumento de meio de pagamento para uso regular
em compras e (ii) obtenção de saque, seja ele autorizado (no ato da contratação) ou
complementar (posterior a contratação do cartão).

O cartão de crédito consignado é mais vantajoso aos seus clientes, se


comparado aos cartões de crédito convencionais existentes no mercado. As taxas
ofertadas nesta modalidade são bem mais baixas do que as propostas pelos cartões de
crédito convencionais, por serem fixadas junto ao órgão pagador dos consumidores.

Ainda nesta perspectiva, o cartão de crédito consignado consiste em um


serviço financeiro, tendo como diferencial em relação aos demais cartões de crédito
existentes no mercado, a possibilidade legal de o valor mínimo da fatura ser descontado
mensalmente na folha de pagamento do contratante. Imediatamente ao aderir ao
cartão de crédito consignado, os clientes tomam ciência de que 5% da sua margem
consignável será averbada para garantir o desconto mínimo da fatura de seu cartão,
conforme disposto na Lei nº 10.820/2003 e IN INSS/PRES nº 28/2008.

Além do pagamento mínimo da fatura, que ocorre todo mês através dos
descontos diretamente em contracheque, ao contratante é facultado o pagamento
parcial ou integral das faturas enviadas a sua residência ou emitidas diretamente através
do internet banking ou call center do BMG. Lembrando que, caso não haja o pagamento
do saldo residual da fatura do mês, o referido montante será atualizado e cobrado na
fatura seguinte, como qualquer outro cartão de crédito convencional, apenas com a

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diferença da aplicação de taxas bem inferiores a modalidade convencional e encargos
bancários autorizados pelo BACEN.

A Lei 10.820/2003 prevê expressamente a possibilidade da realização de


descontos em folha de pagamento, tanto para empregados regidos pela CLT, como para
aposentados e pensionistas do INSS, determinando que o procedimento para a
consignação seria regido em regulamento próprio. Igualmente, a Resolução nº
1.305/2009 do Conselho Nacional de Previdência Social prevê a possibilidade de reserva
de margem consignável para operações com cartão de crédito em benefícios
previdenciários, assim como a Lei Federal nº 8.213, em seu artigo 115, inc. VI. Por sua
vez, a regulamentação própria do INSS prevê, através da IN INSS/PRES 28/2008 que o
limite de consignação para o cartão de crédito é de até 5% dos vencimentos dos
aposentados e pensionistas. A referida margem (5%) é exclusiva para consignação de
cartão de crédito, não se confundindo com o limite de 30% para a contratação de
empréstimos consignados, modalidade contratual diversa da que está sendo discutida
nos autos.

Por fim, apenas a título de esclarecimento, faz-se necessário distinguir o


empréstimo do cartão de crédito consignado. O objetivo do empréstimo é a obtenção
de um crédito a ser pago em prestações fixas e sucessivas estabelecidas previamente
no momento da contratação, enquanto no cartão de crédito, o objetivo primordial é a
sua utilização em compras, sendo facultado o uso para saques autorizado ou
complementar, onde o valor da fatura dependerá exclusivamente da utilização do
cartão.

Sobre o tema, dispões o I. Desembargador do Tribunal de Justiça do


Maranhão Marcelo Carvalho Silva. Vejamos:

“A operação de cartão de crédito consignado difere do


empréstimo consignado. Por expressa disposição contratual, o
titular autoriza o banco a deduzir, quando do recebimento da
sua remuneração, na folha de pagamento, a quantia
correspondente ao pagamento mínimo da fatura, a qual é
repassada pelo órgão pagador do contratante à administradora
do cartão de crédito. O restante da fatura deve ser pago
voluntariamente, na data do vencimento, sob pena da
administradora ficar autorizada a financiar o saldo devedor
remanescente. A partir daí, esse saldo devedor fica sujeito ao
referido desconto mínimo mensal, feito diretamente na conta
do beneficiário por ocasião do pagamento pelo seu órgão
pagador, até que haja a quitação da dívida”.

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Superadas as explicações gerais a respeito do produto, o BMG passa a
demonstrar que não assiste razão a parte autora em sua alegação de desconhecimento
da modalidade de crédito consignado contratada, visto ter anuído com os termos
contratuais apresentados no momento da formalização.

2.2. DO CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CELEBRADO ENTRE AS PARTES/DEVER DE


TRANSPARÊNCIA - AUSÊNCIA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO

A parte autora ajuizou a ação, alegando ter celebrado com o BMG


contrato de empréstimo consignado e, consequentemente, confrontando as cobranças
feitas a título de cartão de crédito, supostamente não contratado.

Ocorre, Excelência, que a parte autora contratou cartão de crédito


consignado, conforme se depreende nos documentos anexos.

A parte autora é pensionista, recebendo seu benefício pelo INSS, e nessa


condição celebrou contrato de cartão de crédito com o Banco BMG, no dia 30/10/2019.

Na oportunidade, a parte autora assinou o “Termo de Adesão Cartão de


Crédito Consignado Banco BMG e Autorização para Desconto em folha de Pagamento”
(documento 1), onde consta de forma expressa, desde seu título, que a contratação
realizada é de um cartão de crédito consignado, assim como, de forma clara e expressa,
todas as características do referido cartão, incluindo a taxa contratual máxima e o Custo
Total Efetivo - CET.

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No contrato fica claro, ainda, que o limite consignável em seu holerite,
para pagamento da fatura do cartão de crédito, respeitando o valor do benefício
recebido pela parte autora e a margem disponível, é de 5,00%, conforme cláusula “II -
CARACTERÍSTICAS DO CARTÃO DE CRÉDITO ”.

Logo, não se trata de contratação de empréstimo, mas sim de cartão de


crédito consignado.

Oportuno demonstrar, ainda, que quando da celebração do contrato, a


parte autora constituiu autorização expressa para a Reserva de Margem Consignável
em seu benefício, seguindo os ditames legais e as Instruções Normativas do INSS,
conforme cláusula “VI - CLÁUSULAS E CONDIÇÕES ESPECIAIS APLICÁVEIS AO CARTÃO
DE CRÉDITO CONSIGNADO”.

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Cabe ressaltar ainda que, a Reserva de Margem Consignável (RMC) e os
descontos diretamente em folha de pagamento possuem previsão legal. Com efeito, o
art. 6º da Lei nº 10.820/03, com redação dada pela Lei nº 13.172/2015, assim preconiza:

“Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do


Regime Geral de Previdência Social poderão autorizar o
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS a proceder aos
descontos referidos no art.1o e autorizar, de forma irrevogável
e irretratável, que a instituição financeira na qual recebam
seus benefícios retenha, para fins de amortização, valores
referentes ao pagamento mensal de empréstimos,
financiamentos, cartões de crédito e operações de
arrendamento mercantil por ela concedidos, quando previstos
em contrato, nas condições estabelecidas em regulamento,
observadas as normas editadas pelo INSS.”

Vê-se, Excelência, que o contrato é bem redigido e todas as informações


constam de forma expressa, clara e legível nos termos do que impõe o Código de
Defesa do Consumidor, especialmente a respeito das taxas de juros cobradas pelo
BMG, que repise-se, são estipuladas por Instrução Normativa do INSS.

Por evidente, inverídica a alegação da parte autora, constante da petição


inicial, de que as taxas de juros praticadas seriam exorbitantes, haja vista que os
percentuais são estabelecidos pelo órgão pagador da parte autora.

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Observe, ainda, que a previsão contratual da forma de pagamento vem
escrita em negrito, dando destaque aos seus termos, cumprindo exatamente o que
determina o Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 54, §3°.

Nesse sentido, a parte autora não obteve êxito em demonstrar a ausência


de validade da contratação. No caso dos autos não se verifica quaisquer das hipóteses
previstas no artigo 138 e seguintes, do Código Civil capaz de ensejar o vício de
consentimento, quais sejam erro, dolo ou coação, o que afasta de plano a nulidade.

Portanto, as estipulações contratuais, no que tange aos encargos


pactuados, estão em consonância com as legislações que regem o produto cartão de
crédito consignado e foram ajustadas dentro do espírito de livre negociação entre as
partes, que deve ser respeitada e cumprida em face do princípio pacta sunt servanda.

Não obstante, o BMG cumpriu fielmente as regras previstas no Código de


Defesa do Consumidor, quanto às informações sobre a contratação realizada.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos
e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade, tributos incidentes e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não
obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade
de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar
a compreensão de seu sentido e alcance.

Não há, desta forma, qualquer conduta ilícita praticada pelo banco réu
ou vícios de validade capazes de ensejar a anulação do contrato, devendo o mesmo ser
mantido tal como celebrado, em atenção ao princípio do pacta sunt servanda.

É certo que o contrato sub judice, livremente pactuado entre as partes, é


um ato jurídico perfeito e, como tal, deve ser fielmente obedecido dentro do sagrado
princípio da “força obrigatória do contrato”.

Assim, diante da regularidade da contratação e da ausência de vício de


consentimento, os pedidos autorais devem ser julgados improcedentes.

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2.3. DISPONIBILIZAÇÃO DO VALOR DO SAQUE

A parte autora solicitou a realização de mais 1 saque complementar,


conforme comprovantes ora anexados.

Data do saque Valor do saque Forma de pagamento Banco Agência Conta

11/11/2019 2.809,15 TED 237 3680 752371


Saques complementares

Logo, diversamente do que alega a parte autora, os valores descontados


em sua folha de pagamento decorrem exclusivamente da utilização do cartão de crédito
consignado para a realização de saques, inexistindo irregularidade na conduta do BMG,
razão pela qual os pedidos devem ser julgados improcedentes.

2.4. DA REDUÇÃO DO VALOR DA DÍVIDA APÓS DESCONTO DO VALOR MÍNIMO

Demonstrada a completa legalidade da contratação do cartão de crédito


consignado, bem como a ciência da parte autora em relação ao tipo de contrato firmado
com o BMG, cumpre ao réu demonstrar a devida redução do valor da dívida através do
desconto do valor mínimo previsto nas faturas, direto em sua folha de pagamento.

Diversamente das alegações da parte autora, os descontos realizados


pelo BMG são em montante maior do que os encargos cobrados. Conforme as faturas
ora trazidas, verifica-se que a dívida da parte autora reduz mês a mês. O valor do débito
poderá aumentar, contudo, se houver novas utilizações do cartão em saques ou
compras.

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O art. 21-A, da atual redação da IN nº 28/2008, dispõe que deve constar
do contrato, o “Termo de Consentimento Esclarecido do Cartão de Crédito Consignado”
com as informações de pagamento das despesas realizadas com o cartão de crédito.
Veja-se:

“(...)

f) Sendo utilizado o limite parcial ou total de meu cartão de


crédito, para saques ou compras, em uma única transação, o
saldo devedor do cartão será liquidado ao final de até (número
de meses), contados a partir da data do primeiro desconto em
folha, desde que:

1. eu não realize outras transações de qualquer natureza,


durante todo o período de amortização projetado a partir da
última utilização;

2. não ocorra a redução/perda da minha margem consignável


de cartão;

3. os descontos através da consignação ocorram mensalmente,


sem interrupção até o total da dívida;

4. eu não realize qualquer pagamento espontâneo via fatura;


e

5. não haja alteração da taxa dos juros remuneratórios;”

Evidente, portanto, que no cartão de crédito consignado, a amortização


do débito e a “fixação de parcelas” para a quitação somente pode ser calculada se o
cliente não se enquadrar nas hipóteses acima listas. Caso, por exemplo, o cliente faça
pagamentos parciais da fatura, além do mínimo que é descontado em folha, por
evidente que a amortização será mais rápida. Em contrapartida, se houver novas
utilizações em saques e/ou compras, ocorrerá a novação da dívida, com a necessária
alteração do prazo para quitação.

Observe que, mesmo antes da inovação legislativa, os contratos do BMG


já dispunham de tal explicação aos seus clientes:

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Deste modo, mantendo-se o saldo devedor como originalmente
contratado e não ocorrendo nenhuma das hipóteses acima elencadas (suspensão de
desconto, redução de margem ou alteração da taxa de juros), os descontos em folha de
pagamento do mínimo da fatura, autorizados pela parte autora, abatem a dívida até que
se alcance sua total liquidação, no prazo indicado no contrato.

Logo, não merece procedência a alegação de suposta dívida infindável,


tampouco de abatimento somente da taxa de juros, já que esta é consideravelmente
menor do que os 5% (cinco por cento) consignáveis para cartão de crédito.

Cumpre ressaltar, ainda, que a parte autora poderia pagar o valor integral
da fatura, ou, tão somente, anuir com o desconto automático do valor mínimo previsto.
Contudo, ao não proceder com o pagamento total da fatura, o saldo remanescente de
cada mês sofre a incidência de encargos, acrescentados à fatura do mês subsequente,
nos termos do autorizado pelo BACEN e conforme previsão contratual, de modo que
não há que se falar em progressão abusiva da dívida.

Diante do exposto, requer o BMG a improcedência dos pedidos da


exordial, principalmente diante da inexistência de abusividade do desconto em folha de
pagamento.

2.5. IMPOSSIBILIDADE DE LIBERAÇÃO DA MARGEM

Conforme já ilustrado, o BMG ao realizar o contrato de cartão de crédito


consignado seguiu todas as normas de proteção ao consumidor, assim como aos
ditames da Lei nº 10.820/2003 e IN 28/2008.

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Número do documento: 21062113321624700000110433153
No contrato ficou expresso que, de forma livre, consciente, irrevogável e
irretratável, a parte autorizou sua fonte pagadora a realizar os descontos relacionados
ao cartão de crédito em folha de pagamento, havendo, portanto, no momento da
contratação a reserva da margem consignável (RMC) para utilização de cartão de
crédito.

A reserva de margem consignável não é prática abusiva ou ilegal.

No presente caso a parte autora ajuizou ação contendo pedido exclusão


da margem consignada para operação do cartão de crédito consignado, sem avaliar
sua possibilidade ou, ainda, o impacto financeiro em seu desfavor.

O Autor contratou o cartão de crédito consignado e, por livre e


espontânea vontade, não pagou sua dívida integral, aquiescendo com o abatimento
somente do mínimo da fatura através de desconto em folha de pagamento, permitindo
que permanecesse o débito em aberto com o BMG.

Ademais, não havendo quitação integral da dívida, a liberação da


margem consignável será prejudicial, não só ao BMG, que terá sua garantia mitigada
ou até mesmo desconstituída, mas também a parte autora, que provavelmente
contrairá novas dívidas em razão da suposta existência de mais saldo livre a consignar.

Não há dúvidas de que a liberação da margem consignada permitirá a


contração de outros empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e operações de
arrendamento mercantil com outras instituições financeiras o que acarretará a parte
autora o indesejável superendividamento.

Impedir superendividamento pessoal e não ultrapassar as condições


financeiras do consumidor é fundamental, portanto, não se deve permitir, em hipótese
alguma, a exclusão da reserva de margem consignável antes do trânsito em julgado da
presente ação, sob pena de enormes prejuízos a ele.

Não bastassem os prejuízos em potencial, existe o fato de a parte autora


estar em débito com o BMG, o que impede a liberação da margem, nos termos do que
prevê o artigo 17-A, § 2º, da IN 28/2008, que obriga à instituição financeira à liberação
somente após a quitação do débito.

Relativamente ao tema, foi recomendado pelo I Fórum de Debates da


Magistratura Maranhense, a manutenção do bloqueio da margem consignável, evitando
novas contratações de operações de créditos e visando afastar o superendividamento:

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Número do documento: 21062113321624700000110433153
Enunciado n. 4 - Na decisão judicial que deferir a liminar para a
suspensão dos descontos deverá constar a necessidade de
manutenção do bloqueio da margem consignável.

Assim, diante de um cenário de prejuízos múltiplos, em especial do


superendividamento da parte autora, da legalidade e validade da reserva da margem
consignável, requer o BMG seja julgado improcedente o pedido de liberação da margem
consignável para cartão de crédito, até a quitação do débito, objeto do contrato
questionado nos autos.

2.6. INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR/INEXISTÊNCIA DO DANO MORAL/VALOR


DE EVENTUAL DANO MORAL

Sem prejuízo da questão a respeito da validade do negócio jurídico


entabulado pelas partes, consistente na disponibilização/utilização de cartão de crédito
consignado, é relevante ressaltar que, se porventura fosse possível considerar as
alegadas cobranças (e respectivos descontos) como supostos atos ilícitos – o que só se
em conta do princípio da eventualidade – ainda assim a improcedência do pedido far-
se-ia imperiosa. Isso porque, indiscutivelmente, não há provas nos autos que possam
demonstrar a existência de qualquer abalo à imagem da parte autora, decorrente das
referidas cobranças/descontos.

As afirmações contidas na inicial não condizem com a realidade dos fatos,


não existindo quaisquer provas de conduta lesiva causada pelo BMG. Ao contrário, certo
está que o BMG agiu na mais estrita legalidade, cumprindo estritamente o disposto na
Lei Federal nº 10.820/2003 e Instrução Normativa INSS/PRES nº 28/2008.

Nesse sentido, é importante ressaltar que, para se chegar à configuração


do dever de indenizar por dano moral, não será suficiente ao ofendido alegar sua dor.
Entre os elementos essenciais à caracterização da responsabilidade civil por dano moral
e do consequente dever de indenizar, há de se incluir, necessariamente, a ilicitude da
conduta do agente, sendo certo que, para que se configure o ato ilícito, será
imprescindível que haja: a) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência; b) ocorrência de um dano
patrimonial ou moral e c) nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do
agente. Nesse sentido são os artigos 186 e 927, do Código Civil.

Não há nos autos qualquer prova de que o BMG tenha praticado ato
lesivo à parte autora ou contrário à lei, às disposições da Instrução Normativa do INSS e
a qualquer cláusula contratual.

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Vale dizer, no presente caso, não se vislumbra o dano moral alegado pela
parte autora, porquanto para sua configuração não bastam meras alegações, deve ser
comprovado, ao menos, a existência de fato que pudesse (ainda que potencialmente)
colocar a suposta vítima em situação de risco de constrangimento ou vexame. Ou, ainda,
que a fizesse se deparar com situação de afronta moral ou psicológica.

Por fim, deve ser rechaçada a aplicação da Súmula 532, do Superior


Tribunal de Justiça, pois, como exaustivamente demonstrado, a parte autora não apenas
autorizou a emissão de cartão de crédito, através da assinatura do contrato, como fez
uso deste na realização de saques.

Dessa forma, o BMG requer a Vossa Excelência seja julgado


IMPROCEDENTE o pedido de indenização por danos morais, eis que inexistente qualquer
ato ilícito praticado pela Instituição Financeira.

Todavia, acaso não seja este o entendimento de V.Exa. acerca dos fatos,
o que definitivamente não se tem como crível, vale destacar, no tocante a uma possível
fixação da indenização por dano moral, o qual por sua própria natureza não pode ser
efetivamente medido, que sejam respeitados os critérios de proporcionalidade e de
razoabilidade, sob pena de ofensa ao art. 5º, V, da Constituição Federal.

2.7. INEXISTÊNCIA DE DANOS MATERIAIS - INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 42 DO CDC


- IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO EM DOBRO

Dentre os pedidos formulados pela parte autora, está o de devolução dos


valores supostamente descontados indevidamente em seus vencimentos.

Tal pedido jamais poderá prosperar, uma vez que a parte autora realizou
a contratação, sem qualquer vício, e realizou saques mediante a utilização do cartão de
crédito, portanto, não sofreu desconto de valores. Logo, não há que se falar em
restituição de dano material, posto que este não se efetivou.

A hipótese de procedência do pedido acarretaria, sem qualquer dúvida,


o enriquecimento ilícito da parte autora.

Não bastasse isso, o Autor não trouxe aos autos provas do seu suposto
prejuízo.

É cediço que o dano material se caracteriza pela superveniência à parte


supostamente lesada de prejuízos econômica e financeiramente mensuráveis, cabendo,

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assim, o arbitramento de indenização ao possível causador do dano, de modo a reparar,
na exata proporção, a perda advinda.

Na situação em apreço, não há prova de nenhum prejuízo à parte autora,


ao revés, tendo-se demonstrado a clara legalidade da conduta do BMG, insubsistente
qualquer decisão neste sentido.

Assim, diante dos argumentos acima apresentados, verifica-se que deve


ser julgado improcedente o pedido de devolução de valores considerados indevidos,
ainda mais em dobro, mormente porque o parágrafo único do art. 42 é inaplicável ao
caso, pois a regra do referido artigo preceitua que “(...) o consumidor cobrado em
quantia indevida, tem direito a repetição do indébito (...)”. Ou seja, se não há ilegalidade
na conduta, nem cobrança indevida, não há o que ser devolvido, muito menos em
dobro.

É inaplicável à hipótese, portanto, o parágrafo único, do art. 42, porque


nunca houve o pagamento indevido ou em duplicidade, uma vez que os valores pagos a
título de cartão de crédito consignado são devidos, haja vista a próprio Autor reconhecer
a disponibilização de valores a título de saques em sua conta bancária, ainda que
entenda como empréstimo.

Da mesma forma, tendo em vista os descontos lastreados em contrato,


inexistiu má-fé do BMG a ensejar a devolução em dobro. Sobre o tema, vem decidindo
o STJ:

Direito civil. Plano de saúde. Reajuste por mudança de faixa


etária. Restituição em dobro com base no CDC. Impossibilidade.
I - A jurisprudência das Turmas que compõem a Segunda Seção
do STJ é firme no sentido de que a repetição em dobro do
indébito, prevista no art. 42, parágrafo único, do CDC,
pressupõe tanto a existência de pagamento indevido quanto a
má-fé do credor.
II - No caso, a iniciativa da empresa ré de reajustar as
prestações do seguro saúde, com base na alteração da faixa
etária, encontra-se amparada em cláusula contratual -
presumidamente aceita pelas partes -, que até ser declarada
nula, gozava de presunção de legalidade, não havendo razão,
portanto, para se concluir que a conduta da administradora do
plano de saúde foi motivada por má-fé.
Recurso Especial provido. (STJ. REsp 871825/RJ. Terceira
Turma. Rel. Ministro Sidinei Beneti. DJe 23/08/2010)

Inexiste, portanto, a configuração de má-fé do BMG capaz de ensejar a


devolução em dobro, como pretende a parte autora.

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Assim sendo, não há valor cobrado que possa ser considerado indevido,
o que impede o surgimento do direito subjetivo do Autor à sua repetição.

Diante do exposto, o BMG vem requerer seja afastada a incidência da


norma prevista no art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, tendo
em vista a regular prestação dos serviços, o que desconfigura a repetição de indébito,
devendo ser JULGADO TOTALMENTE IMPROCEDENTE o pedido de devolução de valores,
ainda mais em dobro, assim como o pedido de quitação do contrato, nos termos do art.
487, I do Código de Processo Civil.

2.8. IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O que se pode depreender com algum esforço, é que a parte autora


pretende anular o negócio jurídico celebrado, substituindo-o por outro, que,
alegadamente, corresponderia a uma (real) vontade dos contratantes ao tempo da
celebração do contrato.

De acordo com o que preceitua o Código de Processo Civil (art. 373, I),
constitui ônus da parte autora a efetiva comprovação dos fatos constitutivos de seu
pretenso direito, cabendo ao BMG, de sua parte, a produção de prova desconstitutiva
do direito alegado pela parte demandante (CPC, art. 373, II).

A Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) criou o instituto da


“inversão do ônus da prova”, pelo qual se prescreveu a “possibilidade” (e não regra,
diga-se bem) da alteração dos ditames processuais atinentes à distribuição do ônus
probatórios, de modo que, em hipóteses nas quais se veja o consumidor de produtos
e/ou serviços totalmente impossibilitado – seja economicamente, seja tecnicamente –
de produzir as provas necessárias a comprovação do alegado direito que entende lhe
assistir, reste determinada, pelo Judiciário, a inversão de tal encargo à empresa
demandada (CDC, art. 6º VIII).

Portanto, fica fácil perceber que, mesmo existindo a possibilidade de o


juiz inverter o ônus da prova quando tal privilégio é requerido, só pode fazê-lo se
estiverem presentes os pressupostos do CDC (art. 6°, VIII), o que, sem dúvida, não ocorre
nesta hipótese.

Com efeito, o primeiro requisito, a hipossuficiência, somente estaria


caracterizada se a parte autora comprovasse sua incapacidade técnica e financeira
para produzir determinada prova - o que não é o caso, podendo requerer e produzir
qualquer prova sem qualquer ônus financeiro.

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Já no tocante ao segundo requisito, a verossimilhança, também não se
encontra presente por não haver nos autos conjunto probatório que possa confirmar a
narrativa inicial ou a real repercussão do fato na vida da parte autora, sendo impossível
para o BMG a produção de prova negativa nesse sentido, e, portanto, incabível, no
caso, a inversão do ônus da prova.

Ainda nesse diapasão, entende-se que a inversão do ônus da prova não é


medida cabível em todos os processos em que o litígio gira em torno de relações de
consumo, cabendo a análise minuciosa entre as alegações e as provas que parte
hipossuficiente é capaz de trazer ao processo.

O eg. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro pacificou o


entendimento por meio de súmula. In verbis:

Súmula TJ nº 330 - “Os princípios facilitadores da defesa do


consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus da
prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo,
prova mínima do fato constitutivo do alegado direito.“
(Referência: Processo Administrativo nº 0053831
70.2014.8.19.0000 - julgamento em 04/05/2015 - Relator: Des.
Jesse Torres. Votação por maioria)

Assim, tendo em vista a inexistência no caso concreto dos requisitos para


a sua aplicação, bem como a total ausência de produção, pela parte autora, de prova
constitutiva de seu pretenso direito (CPC, art. 373, I), descabida e desnecessária a
pretensão de inversão do ônus da prova.

2.9. COMPENSAÇÃO ATUALIZADA/RESTITUIÇÃO DOS VALORES DISPONIBILIZADOS -


RECONVENÇÃO/ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

A parte autora alega não ter realizado o saque/compras com o cartão de


crédito, e sim empréstimo consignado junto ao BMG. No entanto, confessa o
recebimento do valor correspondente ao saque realizado, sem, contudo, esclarecer qual
foi a destinação dada a tal quantia, nem mesmo declara se pretende consigná-la em
juízo.

É incontroverso o fato de que a parte autora recebeu a quantia através


cartão de crédito consignado contratado, conforme comprovante de operação acostado
aos autos (vide doc. 3). Da mesma, forma, uma vez questionada a contratação pela parte
autora e requerida a devolução dos valores descontados em sua folha de pagamento,
surge para o BMG o direito de reaver os valores a ela disponibilizados, sob pena de

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configuração do enriquecimento ilícito, conforme dispõem os artigos 884 e 885, do
Código Civil.

No mesmo sentido, argumentando apenas em razão do princípio da


eventualidade, acaso V. Exa. entenda pela condenação indenizatória do BMG, o que não
se espera, vê-se a imperiosidade de compensação com os valores disponibilizados a
parte autora, nos termos do artigo 368, do Código Civil.

Portanto, de rigor a aceitação da compensação, vez que a parte autora


recebeu o proveito econômico da operação de saque/compras mediante o uso do
cartão de crédito, conforme narrado nesta contestação.

O valor deve ser corrigido, nos mesmos termos da eventual condenação


a título de dano material, já que o valor esteve à disposição da parte autora, servindo a
correção para recompensar o Banco BMG.

Assim, caso não se entenda pela regularidade da contratação do cartão


de crédito consignado, requer o BMG seja determinada a devolução do valor do saque
pela parte autora e, no caso de se concluir pela procedência dos pedidos autorais, a
compensação entre a quantia atualizada dos saques e a condenação.

3. PEDIDOS

Ante o exposto requer-se, preliminarmente:


1) Seja indeferido o pedido de gratuidade da justiça.

2) Seja acolhida a preliminar de impugnação do valor da causa.

Caso sejam superadas as preliminares, requer-se, no mérito:


1) Seja a presente ação julgada IMPROCEDENTE em todos os seus
termos, condenando-se a Autora por litigância de má-fé, em razão da
vasta utilização do cartão em saques , e ao pagamento do ônus da
sucumbência respectivo, inclusive de honorários advocatícios.

2) O indeferimento do pedido de tutela de urgência.

3) Seja a presente ação julgada IMPROCEDENTE em todos os seus


termos, bem como em razão da efetiva comprovação de que não houve
a realização de saque mediante a utilização do cartão de crédito, razão

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pela qual não se verificou o suposto dano material alegado pela autora,
que a mesma seja condenada por litigância de má-fé e ao pagamento das
verbas de sucumbência, inclusive honorários advocatícios.

Provará o alegado por todos os meios em direito admitidos, requerendo,


desde já, a juntada do contrato e documentos referentes à contratação.

Por fim, que todas as intimações/notificações sejam realizadas em nome


da advogada FLAVIA ALMEIDA MOURA DI LATELLA, OAB/MG sob o nº 109.730, com
endereço eletrônico controladoria@mtostes.com.br, com endereço comercial na RUA
SERGIPE, nº 1167 , 3° andar, Savassi, CEP 30130-174, na Cidade de BELO HORIZONTE,
Estado de Minas Gerais, sob pena de nulidade do ato de comunicação.

Nestes termos,
Pede deferimento.
BELO HORIZONTE (MG), 18 de junho de 2021

FLAVIA ALMEIDA MOURA DI LATELLA


OAB/MG 109.730

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