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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCEL CANDIDO e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado

em 10/06/2021 às 12:04 , sob o número 10019423420218260319.


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AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DO FORO DA COMARCA DE LENÇÓIS PAULISTA,


SP

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001942-34.2021.8.26.0319 e código 90362F0.
Ação declaratória de nulidade c.c. danos materiais e morais
Processo nº.

RAFAEL GERACINDO, brasileiro, divorciado, aposentado, sem e-mail a


declarar, portador do RG nº 19.667.001-9, inscrito no CPF nº 055.634.068-06, residente na Rua
Romeu Breda, 582, Grajau, na cidade de Lençóis Paulista, SP, CEP. 18.683-802, por seus
advogados que abaixo subscrevem, procuração anexa, vem perante Vossa Excelência, com o
maior e absoluto respeito, propor a presente
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO c.c.
RESSARCIMENTO MATERIAL e INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
com pedido de tutela de urgência,
em face do BANCO CETELEM S/A., empresa inscrita junto ao CNPJ sob o nº.
00.558.456/0001-71, com sede na Rua Alameda Rio Negro, 161, 17º Andar, Alphaville
Industrial, Barueri – SP, CEP 06454-000, pelos fundamentos de fato e de direito que passa a
expor:
DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA
GRATUITA
Inicialmente, cumpre obtemperar que a parte Requerente é pobre em conformidade
com os ditames legais, de maneira que não tem condições de arcar com as custas judiciais sem
que venha comprometer seu sustento bem como o da sua própria família.
Comprovando seu estado de miserabilidade vem o Requerente, juntar comprovante
de pagamento INSS (Doc. 01 – Histórico de crédito), no importe líquido de R$ 920,80
(Novecentos e vinte reais e oitenta centavos).
Em sendo assim, amparado pelo princípio constitucional do acesso ao poder
judiciário entabulado no inciso LXXIV, do art. 5º da Constituição Federal, bem como o art. 98
e seguintes do Código de Processo Civil e pela Lei 1.050/60, tem a parte Requerente direito de
ver o seu caso apreciado.
O princípio da isonomia também lhe garante tal súplica.
Por esta razão, REQUER que lhe seja concedida a JUSTIÇA GRATUITA.
DOS FATOS
O Requerente, como visto, é pessoa idosa e percebe benefício previdenciário. Nesta
condição recebe diversas ligações com o intuito de oferecimento de crédito facilitado, inclusive

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da Requerida, que realiza diversas ligações ao Requerente, informando que o mesmo tem
valores de crédito a receber.
Ocorre que a empresa Requerida, vem realizando desconto referente a cartão de

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crédito consignado do benefício do Requerente, sem o seu consentimento, apesar de ter
recebido o cartão, não se recorda de ter solicitado, muito menos realizou o desbloqueio do
mesmo, contudo o Requerente vem sofrendo descontos em seu benefício (Doc. 01 – Histórico
de crédito), com a denominação “217 Empréstimo consignado sobre a RCM”.
Em análise do extrato de empréstimo (Doc. 02 - Extrato de empréstimo
consignado), observa-se que a Requerida lhe impôs um contrato nº 97-813258410/16, conforme
documento anexo.
O Requerente não se recorda de tal solicitação, para recebimento de cartão, muito
menos de ter autorizado ou assinado qualquer tipo de documento autorizando os referidos
descontos, tanto é que sequer o Requerente desbloqueou o cartão.
A rigor, cuida-se de operação consumada de forma abusiva, mediante emboscada e
aproveitamento de seu estado de hipossuficiência e vulnerabilidade, próprios da senilidade do
Requerente.
O Requerente, diante da abusividade, diante do envio do cartão de credito
consignado, bem como os descontos indevidos a esse título, impossível a manutenção dos
descontos no benefício do Requerente, sob pena de considerar enriquecimento ilícito por parte
da Requerida.
DO DIREITO
Da tutela de urgência
A tutela de urgência será concedida quando presentes os elementos que evidenciem
a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo (CPC.,
art. 300).
Diante dos fatos narrados, torna-se imprescindível que o Requerente, consumidor
nos termos da lei, não sofra novos descontos a título de EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC,
(Reserva de Margem para Cartão de Crédito) em seu benefício previdenciário, visto que ele não
contratou/solicitou a emissão de cartão de crédito junto à Instituição Financeira Requerida, e se
caso haja algum contrato assinado pelo Requerente, esse foi assinado sem lhe informar os
termos e condições, o que resulta não restar alternativa senão requerer a TUTELA DE
URGÊNCIA.
Ademais, a Legislação Consumerista (CDC., O art. 84) autoriza o juiz a conceder a
tutela de urgência liminarmente, e mais, “sendo relevante o fundamento da demanda” deve o
Juiz impor uma multa diária para que não haja por parte do prestador dúvidas em cumprir
imediatamente o designo judicial (CDC., art. 84, §4º).
No presente caso, estão presentes os requisitos e pressupostos para a concessão da
tutela requerida, existindo prova inequívoca e verossimilhança das alegações, visto que a
instituição financeira Requerida vem realizando descontos indevidos no benefício do
Requerente, a título de RMC, a mais de 3 (três) anos, considerando os valores pagos, com a

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devida incidência de correção monetária (correção índice do TJSP), já foi descontado do


benefício do Requerente em R$ 1.965,14 (um mil, novecentos e sessenta e cinco reais e quatorze
centavos) (Doc. 04 - Planilha de débito), sendo que o seu limite de crédito é de apenas R$
800,80 (oitocentos reais e oitenta centavos).

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O fumus boni iuris caracteriza-se pela juntada dos documentos fornecidos pelo
Instituto Nacional do Seguro Social – Extrato em anexo, que confirma o vínculo jurídico entre
as partes e os descontos indevidos a título de EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC. Evidenciado,
igualmente, está o periculum in mora, eis que a demora no resultado desta querela, trará
prejuízos ao Requerente, que, como já mencionado vem sofrendo todos os meses descontos
realizados a mais de 3 (três) anos pela Requerida. A antecipação dos efeitos da tutela deve ser
concedida se estiverem presentes a verossimilhança das alegações do Requerente e o risco de
dano irreparável ou de difícil reparação.
Neste diapasão, mostra-se inquestionável a concessão da tutela, para impedir que
seja cobrada mensalidade abusiva, esse é o entendimento atualizado de nosso Tribunal:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO DE DÉBITO. FATO
NEGATIVO. TUTELA DE URGÊNCIA. DESCONTO DE RMC. MULTA
DIÁRIA. Dos elementos constantes dos autos infere-se a presença dos
requisitos autorizados da concessão da tutela de urgência. O valor da
multa diária (R$ 500,00, limitada a R$ 15.000,00), não é exorbitante ou
excessivo, considerando o porte da Instituição Financeira demandada e o bem
jurídico tutelado (verba de natureza alimentar). R. decisão mantida. Recurso
não provido. (TJ-SP, 2267320-54.2020.8.26.0000, Relator: Roberto Mac
Cracken, Data de Julgamento: 17/11/2020, 22ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 17/11/2020) grifamos
Já a reversibilidade da medida também é evidente, uma vez que a Requerida, se
vencedora na lide, poderá efetuar novos descontos, quando assim ficar definido nesta lide, por
definitivo.
Da existência da relação de consumo e aplicação do Código de Defesa do
Consumidor
É indiscutível a caracterização de relação de consumo entre as partes, apresentando-
se a Requerida como prestadoras de serviços e, portanto, fornecedora (CDC., art. 3º), e o
Requerente como consumidor, (CDC., art. 2º).
Tratando-se de relação de consumo, dever ser aplicados ao presente caso os
princípios norteadores do Código de Defesa do Consumidor a fim de equilibrar a relação
existente e como forma de facilitar a defesa do consumidor, que é a parte vulnerável na relação
de consumo.
A Súmula n° 297 do STJ é conclusiva quando diz que “o Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.
Como direito básico do consumidor, como meio de facilitação de sua defesa, o
consumidor terá direito a inversão do ônus da prova, a seu favor, quando for vulnerável ou
alegação for verossímil, requisitos devidamente observados no presente caso (CDC., art. 6º,

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inc. VIII)
Da exibição dos documentos
Deverá a Requerida apresentar o contrato, áudios e demais documentos que

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comprove a relação jurídica entre as partes, da mesma forma deverá apresentar a autorização
de desbloqueio do cartão, sendo imperioso que a Requerida apresente extrato de utilização do
cartão de crédito consignado, sendo estas documentações comuns as partes (CPC. art. 399, inc.
III).
Da ausência de manifestação de vontade na contratação de cartão de crédito
Conforme informado alhures, o Requerente em nenhum momento demonstrou a sua
vontade em realizar a contratação do cartão de crédito consignado, até porque a finalidade do
cartão de crédito, É SUPRIR NECESSIDADE TRANSITÓRIA, e jamais ser definido como
ad eternum.
Assim, tomamos como conclusão que em um primeiro momento, estamos diante da
inexistência de relação jurídica com a Requerida, sendo que, algumas instituiçoes financeiras,
para avolumar seus ganhos, usar de expedientes ardilosos (ex: informações
dúbias/enganosas/insuficientes) para ludibriar consumidores, maiormente os vulneráveis, não
causaria espanto o aparecimento de algum tipo de escrito autorizando a emissão do tal Cartão
de Crédito RMC pela instituição financeira demandada, sendo contrários ao princípio da Boa-
fé Objetiva (CC., art. 422) e dos princípios consumeristas, tais como, da Informação e
Transparência (CDC., art. 4º, caput e inc. IV).
E ainda que se desse de ombros para tudo isso, mesmo assim a nulidade de virtual
contratação persistiria, à evidência de que a sistemática de reserva de margem consignável
vinculada ao cartão de crédito só serve à instituição financeira, como garantia dos recebimentos
relacionados ao cartão, consubstanciando OBRIGAÇÃO EXAGERADAMENTE
DESVANTAJOSA ao consumidor (CDC., art. 51, inc. IV).
Na remota hipótese de terem enviado o cartão como forma de empréstimo
consignado, a contratação de um empréstimo não poderá durar sem um prazo para a sua
quitação, apesar da autorização legislativa para tal desconto (Lei 10.820/03), o cartão de crédito
não poderá ser utilizado como uma forma de burlar a margem consignável do empréstimo
consignado.
Nesse sentido:
Ação de obrigação de fazer c.c repetição do indébito e indenização por danos
morais. Autor que se dirigiu à instituição financeira, com intuito de obter
empréstimo consignado, mas lhe foi disponibilizado cartão de crédito –
reserva de margem consignável – com liberação de valor em conta corrente.
A partir de então, passaram-se aos descontos em folha de pagamento do valor
mínimo, contudo sem realizar qualquer cobrança acerca do principal,
uma vez ausente prova nesse sentido e que incumbia ao Réu. Contrato
estabelecido que pereniza a dívida e deve ser reputado nulo, com apoio
no artigo 51, inciso IV, do CDC. Devolução dos valores cobrados que não
pode ser admitida, uma vez que disponibilizado crédito à Autora, que deverá

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ser devolvido, obedecidas as condições de um empréstimo consignado,


segundo as taxas médias da época da contratação. Dano moral caracterizado
e arbitrado em R$ 3.000,00, que se mostra razoável para a hipótese dos autos.
Sucumbência mantida conforme estabelecida na r. sentença. Recursos não

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providos.” (TJ-SP 10011492720178260484 SP 1001149-27.2017.8.26.0484,
Relator: João Pazine Neto, Data de Julgamento: 03/04/2018, 37ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 06/04/2018) grifamos
Ademais, a contratação da via adotada pela Requerida, extrapola o limite do
razoável.
CONTRATO. CARTÃO DE CRÉDITO COM RMC (RESERVA DE
MARGEM CONSIGNADA). APOSENTADORIA. CLIENTE COM
MARGEM DE EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS ESGOTADA.
LIBERAÇÃO DE CRÉDITO DESPROPORCIONAL À CAPACIDADE DE
PAGAMENTO DO APOSENTADO, COM IMPOSIÇÃO DO SAQUE
MEDIANTE CARTÃO DE CRÉDITO E COM EXIGÊNCIA DA
TOTALIDADE DO VALOR EMPRESTADO, DE UMA ÚNICA VEZ, NA
FATURA SEGUINTE. BURLA DO TETO DE DESCONTOS MENSAIS
PREVISTOS EM LEI. DÍVIDA QUE SE TORNOU IMPAGÁVEL.
ABUSIVIDADE. 1. A autora firmou contrato que acreditava ser de
empréstimo consignado, contrato esse vinculado diretamente a cartão de
crédito. 2. O cliente procura por empréstimo, e é levado a contratar cartão de
crédito, porque o valor do suposto mútuo só pode ser sacado por meio desse
cartão. Qualquer saque resulta em novo empréstimo, realizado por meio de
cédula de crédito bancário. 3. Essa operação, que se remunera por meio de
RMC (reserva de margem consignável) torna quase impossível quitar o
débito contraído. A dívida é cobrada integralmente logo no período
seguinte ao do saque, o que torna o limite de crédito desproporcional à
capacidade de pagamento do cliente. 4. O cliente é obrigado a utilizar-se
do cartão de crédito para sacar o dinheiro depositado pelo banco em sua conta,
dando brecha para que o credor lance o valor sacado na fatura seguinte do
cartão de crédito, tornando impagável a dívida (já que a RMC quita apenas os
encargos e "rola" o principal para a próxima fatura, para servir de base para a
cobrança de novos encargos, numa ciranda sem fim). 5. A forma de
cobrança é nitidamente abusiva, seja por escravizar o consumidor a uma
dívida que o acompanha ao túmulo; seja por descumprir a previsão de
emissão de cédula de crédito para formalização de saques com o cartão
de crédito; seja por veicular um "empréstimo" sem termo final e sem
desconto de parcelas (prevista apenas a amortização dos encargos,
mediante RMC). 6. A abusividade foi reconhecida em Ação Civil Pública
movida pela Defensoria da União do Maranhão. 7. Cabe reconhecer a
ilegalidade do contrato em análise nos autos. Porém, tendo a autora se valido
do dinheiro "emprestado", quantias descontadas a título de RMC devem
servir para amortizar o débito (consideradas em dobro). 8. Não vingam,
entretanto, as pretensões de declaração de inexistência do débito, de liberação
do RMC, de repetição do indébito e de reparação por danos morais. Afinal, a

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autora sacou as mencionadas importâncias, cabendo arcar com o pagamento


do crédito usufruído. 9. Deverá o banco, contudo, recalcular a forma de
pagamento dos valores sacados, de maneira que tenham como limite as taxas
de juros pactuadas, mas que o crédito seja parcelado em tantas parcelas fixas

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quanto bastem para a quitação da dívida, respeitado, como valor das parcelas,
o percentual de 5% sobre o valor líquido da aposentadoria do autor. 10.
Recurso parcialmente provido. (TJ-SP 10015259420168260145 SP 1001525-
94.2016.8.26.0145, Relator: Melo Colombi, Data de Julgamento: 05/10/2017,
14ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 09/10/2017) grifamos
Dessa forma, não resta outra alternativa a não ser a decretação da inexistência de
relação jurídica para contratação de cartão de crédito consignado, declarando nulo de pleno
direito, convertendo assim em empréstimo consignado, devendo os valores devidamente pagos,
serem abatidos para o pagamento do saldo devedor, restando saldo credor, deverá o Requerente
ser ressarcida nos termos da fundamentação a seguir (danos materiais) para o presente caso,
tanto por falta de declaração de vontade em realizar a contratação de cartão, tanto pela falta dos
princípios da boa-fé e da informação e transparência.
Dos danos materiais
O Requerente, vem sofrendo descontos em seu benefício a aproximadamente de 5
(cinco) anos, sendo a forma contratada, totalmente contrária ao seu interesse, agindo a
Requerida com total má-fé.
Contudo, conforme já explanado anteriormente, o cartão se quer foi desbloqueado
pelo Requerente e não foram realizadas compras.
Desta feita, claro nos configura que o Requerente está no prejuízo, pois, sem o seu
consentimento está diante de uma dívida sem fim.
Assim, diante da presente situação, podemos afirmar que o Requerente sofrera um
dano material, pois está pagando por um cartão o qual não foi solicitado, não foi desbloqueado
e que nunca terá um fim, desvirtuando completamente a função do cartão.
Toda vez que um indivíduo causar danos a outrem, seja o citado dano de qualquer
ordem, deve o causador, ressarcir aquele que sofreu o dano em questão (CF., art. 5º, inc. V e X,
cc. CPC, art. 927).
Como podemos verificar nos dispositivos legais acima citados, a Requerida causou
danos de ordem material face o Requerente, cobrando por uma dívida a qual não teve a intenção
de contrair, agindo com total má-fé, dissimulando a real intenção do contrato.
Assim, demonstrada a abusividade da Requerida, bem como a violação aos
princípios consumeristas, em especial o da boa-fé; de rigor a imposição da devolução dos
valores pagos indevidamente em dobro (CDC. art. 42, Parágrafo único).
O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou sobre o tema:
“A pretensão de devolução de valores pagos a maior, em virtude do expurgo
de parcelas judicialmente declaradas ilegais, é cabível em virtude do princípio
que veda o enriquecimento sem causa, prescindindo de discussão a respeito

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de erro no pagamento.” (STJ – Resp. 200.267 – RS – 4ª Turma – Min. Rel.


Sálvio de Figueiredo Teixeira – DJ 03.10.2000; DJe 20.11.2000)
Assim sendo, como dito oportunamente, o Requerente pagou valor extremamente

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superior ao pactuado e ainda encontra-se com a dívida elevada, não podendo o contrato
permanecer sem um termo final.
Estando configurado o dano material experimentado pelo Requerente, o pedido,
assim como os demais, deve ser julgado TOTALMENTE PROCEDENTE, o que desde já se
requer, com a restituição do que foi pago além do devido em dobro, nos termos da legislação
consumerista.
DO DANO MORAL
O dano moral foi configurado diante de várias práticas abusivas da empresa
Requerida e diante das condições de constrangimento vivenciadas pelo Requerente resultantes
do negócio jurídico firmado entre as partes.
Assim, como práticas que efetivaram o dano moral a ser indenizado, devemos ter
como norte a quebra do princípio da boa-fé objetiva, que decorrentes deste princípio, a
empresa Requerida deixou de observar várias obrigações, não prestando a devida informação,
bem como não lhe foi solicitado os referidos cartões.
O envio de cartão de crédito enviado sem a solicitação do consumidor é considerado
prática abusiva (CDC. Art. 39, inc. III), bem como já foi determinado pelo STJ, no enunciado
da súmula 532:
“Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia
e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável
e sujeito à aplicação de multa administrativa.”
Ademais, podemos citar a não observação dos critérios mínimos para a concessão
do crédito, a falta de informação, a retenção do salário, a mácula na contratação na contramão
do princípio da função social do contrato e do equilíbrio econômico do contrato, fatos estes que
resultaram no superendividamento da parte consumidora.
Cumpre ainda tecer um breve comentário quanto aos critérios a serem observados
para o arbitramento do dano moral.
a) Função Compensatória:
O primeiro aspecto a ser observado é o dano sofrido em razão da violação de seus
direitos de personalidade.
Desta forma, o quantum condenatório a título de dano moral, deve ser medido pelo
sofrimento da vítima, o qual não solicitou o cartão, o que por si só gera dano in re ipsa.
Não podemos deixar de destacar que a Requerida vem realizando os descontos a
aproximadamente 5 (cinco) anos conforme Doc. 01.
Diante da abusividade perpetrada pela Requerida, o Requerente teve seu tempo
consumido para resolver o seu problema, deixando até mesmo de realizar seus afazeres em seu
lar, desprendendo tempo para buscar seus contratos, dentre outros.

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Tempo esse que poderia ser dirigido para outras atividades, assim vem sendo
decidido por nosso Tribunal, o qual adota a Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor, de
Marcos Dessaube, o qual já foi homenageada pelo C. Superior Tribunal de Justiça (REsp
1737412/SE), in verbis:

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“caracteriza-se quando o consumidor, diante de uma situação de mau
atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas competências
— de uma atividade necessária ou por ele preferida — para tentar resolver
um problema criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado,
de natureza irrecuperável”.
b) Função Punitiva
Como forma de punir o ofensor, o dano moral deve ser medido também pela
capacidade econômica das partes e o quanto ele vem se beneficiando com práticas similares,
devendo o agente lesante ser punido a fim de demonstrar que o ilícito praticado não será
tolerado pela sociedade e consequentemente pelo judiciário.
Neste sentido, vale ressaltar que a empresa cresce em velocidade recorde,
alcançando lucros exorbitantes a cada ano que passa.
Não se contesta em nenhum momento o fato de a Requerida ter sucesso e evolução
financeira a cada ano que passa, desde que seu crescimento ocorra através de meios lícitos e
dentro da lei, o que notoriamente não vem ocorrendo, no caso do Requerente enviou cartão sem
a sua autorização.
Neste ponto, também vale fazermos uma consideração ao público alvo da
instituição financeira e sistemática utilizada pela Requerida em seus contratos.
Isto porque a concessão do cartão de crédito é somente para aposentados e
pensionistas, que comparecem em muitas vezes em prepostos da Requerida, a fim,
exclusivamente de realizar o empréstimo e sai do local com uma dívida eterna de cartão de
crédito consignado.
Não podemos deixar de destacar que o Requerente não realizou o desbloqueio, bem
como não fez a utilização do cartão, caso a Requerida comprove o recebimento de valores, estes
não foram sacados com a utilização do cartão.
“Contrato bancário – Cartão de crédito – Empréstimo celebrado com reserva
de margem consignável (RMC) – Manifesta onerosidade ao consumidor –
Desrespeito ao CDC – Ausência de prova de utilização do cartão de
crédito e de informação ao consumidor – Possibilidade de cancelamento
do cartão – Dívida declarada inexigível – Decisão reformada neste tema –
Necessidade de readequação do quantum disponibilizado ao mutuário em
parcelas fixas – Dano moral não configurado – Recurso parcialmente
provido.” (TJ-SP, 1000792-69.2019.8.26.0357, Relator: Souza Lopes, Data
de Julgamento: 09/07/2020, 17ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 10/07/2020) grifamos
Trata-se em uma verdadeira manobra para "driblar" os limites impostos aos
empréstimos consignados.

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Desta forma, a empresa cresce em velocidade recorde às custas de operações


desastrosas, que colocam em risco a vida e outros princípios fundamentais de milhares de
consumidores, como o Requerente, evidenciando um dano social que devendo ser extirpado das
relações de consumo.

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Assim, deverá o juízo observar os critérios econômicos e o grau de culpa da
Requerida para o devido quantum a ser arbitrado.
c) Função Preventiva/Caráter Pedagógico
Como forma de intimidar e desestimular a instituição financeira a realizar futuras
violações, o dano moral deve ser arbitrado de forma que crie no agressor um sentimento de
desestímulo e intimidação em realizar novas operações iguais.
Considerando que a Requerida é uma empresa nacional, líder no mercado em que
atua e está diretamente causando um dano social a um grupo de pessoas
HIPERVULNERÁVEIS, somente uma condenação proporcional aos seus ganhos induzirá a
empresa a cessar a prática dos ilícitos relatados.
São milhares os casos semelhantes a este narrado no presente caso, porém a
instituição financeira segue a cometer ilícitos na mesma proporção que eleva seus ganhos,
enriquecendo-se ilicitamente às custas daqueles que mais necessitam, o que continuará a ocorrer
caso não seja condenada em valores proporcionais ao grave ilícito praticado.
Portanto, a condenação a título de dano moral deve observar os critérios e
observações supramencionadas, seguindo, assim, os parâmetros fixados no julgado acima e o
caso concreto, deixando como sugestão a condenação em R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
a) O benefício da Assistência Judiciaria Gratuita, por ser juridicamente pobre, nos
moldes da Lei nº 1.060/50 e nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil;
b) A concessão da Tutela de Urgência, em caráter liminar, para que os valores sejam
suspensos a sua cobrança, até o final do processo, expedindo ofício ao INSS, para que a medida
seja cumprida, sob pena de multa nos termos da fundamentação;
c) Citação da Requerida, para que tome conhecimento do inteiro teor da pretensão
e, no prazo legal, apresente contestação se assim desejar, ocorrendo nas penalizações da
confissão e revelia;
d) O reconhecimento da relação de consumo, recebendo o Requerente os benefícios
da legislação consumerista;
e) A apresentação dos documentos que originaram a relação jurídica (se houver), a
comprovação de desbloqueio do cartão, extrato de utilização, bem como as ligações realizadas
ao Requerente;
f) A confirmação da Tutela de Urgência, com o julgamento dos pedidos
TOTALMENTE PROCEDENTES, declarando a inexistência de relação de consumo quanto
ao cartão de crédito consignado, declarando assim o contrato nulo, convertendo assim em

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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCEL CANDIDO e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 10/06/2021 às 12:04 , sob o número 10019423420218260319.
fls. 10

empréstimo consignado, com prazo final para pagamento, devendo os valores pagos a maior, a
título de danos materiais, serem restituídos nos termos da fundamentação de forma em dobro,
bem como a aplicação dos danos morais nos termos da fundamentação;

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001942-34.2021.8.26.0319 e código 90362F0.
g) A condenação da Requerida nas custas e honorários advocatícios, nos termos do
art. 85 do Código de Processo Civil;
h) Nos termos do art. 334, § 4º, demonstra o Requerente o DESINTERESSE na
audiência de conciliação.
Protesta por provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em
especial pela produção de prova documental que se faz juntada aos autos, além da juntada de
novos documentos e demais meios que se fizerem necessários.
Requer-se, outrossim, de acordo com o art. 272, § 2º, do Código de Processo Civil,
sejam todas as publicações e intimações veiculadas exclusivamente em nome do patrono do
Requerente, Dr. Marcel Cândido, inscrito na OAB/SP sob nº 348.452, endereço eletrônico
advmarcelc@adv.oabsp.org.br e Dr. Alex Sandro Barbosa Rodrigues, inscrito na OAB/SP
sob nº 336.702, endereço eletrônico asrodrigues@adv.oabsp.org.br, ambos com endereço
profissional na Comarca de Lençóis Paulista, SP, sob pena de nulidade.
Dá-se à causa o valor de R$ 21.965,14 (vinte e um mil, novecentos e sessenta e
cinco reais e quatorze centavos).
Termos em que,
pede deferimento.

Lençóis Paulista, SP, 10 de junho de 2021.

Alex Sandro Barbosa Rodrigues Marcel Cândido


OAB/SP 336.702 OAB/SP 348.452

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